TIMES

Por Guilherme Marçal — Rio de Janeiro


Pouca gente esperava a Croácia na final da Copa do Mundo de 2018. Não que faltasse qualidade ao time, mas o vice-campeonato - a melhor colocação da seleção até hoje - foi considerado surpreendente até mesmo por Davor Suker, artilheiro croata da campanha do terceiro lugar em 1998.

Mas, agora, em 2022, o que os comandados de Zlatko Dalic podem render? O ge preparou análise da trajetória croata entre os ciclos para os Mundiais de Rússia e Catar. Confira e dê seu palpite: até onde vai a Croácia nesta Copa?

Ciclos: melhor pré-2018, mais competitivo em 2022

O percurso da Croácia até a Copa da Rússia, na frieza dos números, respaldou a bela campanha naquele Mundial. Em 43 partidas jogadas entre o fim da Copa 2014 e o início da de 2018, o time obteve 25 vitórias e um aproveitamento interessante de quase 66%.

Zlatko Dalic (dir.) abraça Modric em 2018: técnico assumiu em 2017 e está no cargo até hoje — Foto: Carl Recine/Reuters

O técnico Zlatko Dalic não pegou todo aquele processo. Ele assumiu em outubro de 2017 e, até a Copa 2018, esteve na beira de campo em apenas sete partidas - quatro vitórias, um empate e duas derrotas. Chegou à Rússia com aproveitamento de 61,9% no cartel.

Comparativo de ciclos da Croácia pré-Copas de 2018 e 2022

Jogos (amistosos) Vitórias Empates Derrotas Aprov.
Pré-Copa 2018 43 (17) 25 10 8 65,9%
Pré-Copa 2022 49 (11) 24 11 14 56,5%

O detalhe do ciclo até 2018 é que ainda não existia a Liga das Nações, fundada naquele ano, após a Copa do Mundo. A competição nivela as seleções em Ligas A, B, C e D, sendo A a de melhor coeficiente na UEFA - justamente a categoria na qual foi enquadrada a Croácia .

No trajeto de Dalic e seus jogadores até 2022, 16 desses 49 jogos foram válidos pela Liga das Nações, com enfrentamentos contra equipes do calibre de Espanha, Inglaterra, Portugal e França, por exemplo. Com esse acréscimo relevante de competitividade, fica desleal dizer que a Croácia caiu de rendimento (56,5%). O número de amistosos - seis a mais em 2014-2018 que em 2018-2022 - também sugere que os croatas estão mais preparados hoje para grandes jogos.

Medalhões e zaga renovada

Nos 49 jogos sob comando de Dalic após os aprendizados da final da Copa contra a França, em 2018, houve muitos testes e renovação de nomes, sobretudo no setor defensivo. Os destaques do time, no entanto, seguem os conhecidos Modric, Perisic e Kovacic.

Principais jogadores da Croácia no ciclo pós-Copa 2018

Jogador Jogos Gols Assistências
Modric 42 9 7
Perisic 43 11 8
Kramaric 36 10 6
Kovacic 38 2 2
Brozovic 36 1 2

Modric impressiona pela classe. Maestro da Croácia e do Real Madrid, vive uma das melhores fases da carreira aos 37 anos. Ao longo da campanha para a Copa do Catar, participou diretamente de 16 gols. Em 2018, foi eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa, mas há quem diga que o momento atual é ainda melhor. O que virá em 2022?

Modric durante o jogo entre Dinamarca e Croácia, pela Liga das Nações — Foto: Getty Images

Artilheiro do período pré-Copa do Catar, Perisic é ponta esquerda e atua pelo Tottenham. Está com 33 anos, mas ainda consegue ser consistente. Kramaric é centroavante do Hoffenheim e pode atuar em qualquer setor do ataque - anotou dez gols no ciclo. Kovacic costuma ser titular no Chelsea e dá vitalidade ao setor de meio-campo. Brozovic, da Inter de Milão, atua à frente da zaga e se encarrega da saída de bola qualificada.

O setor de defesa teve muitas mudanças, conforme é possível notar no campinho abaixo, que opõe a seleção atual (na parte de cima) com o time que jogou a final da Copa de 2018, diante da França.

Croácia Copa 2022 x Croácia Copa 2018 — Foto: Infoesporte/ge

No miolo de zaga, os veteranos Lovren e Vida, ambos de 33 anos, foram titulares na decisão da Rússia e continuam na convocação de 2022, mas agora só há espaço para um deles. O jovem Gvardiol, de 20 anos e valor de mercado de € 60 milhões (segundo o site Transfermarkt), assumiu de vez a posição de zagueiro canhoto. Na estreia diante de Marrocos, Lovren deve começar ao lado do defensor do RB Leipzig, com Vida no banco.

Gvardiol em ação pelo RB Leipzig: zagueiro de 20 anos é titular da seleção croata — Foto: Getty Images

Nas laterais, Strinic e Vrsaljko jogaram contra a França, hoje estão na casa dos 30 e sequer foram lembrados por Dalic este ano. Juranovic, lateral-direito de 27 anos do Celtic, e Sosa, ala-esquerdo de 24 anos do Stuttgart, renovam o fôlego pelos flancos.

Médias de idade do time:
Croácia da final da Copa 2018 - 29,5 anos
Croácia da Copa 2022 - 28,6 anos

O goleiro Subasic, por sua vez, teve destaque em 2018 ao defender quatro pênaltis em duas disputas de penais pelas quais a Croácia passou até chegar à final. Atualmente com 38 anos, ele cedeu lugar a Livakovic, do Dínamo Zagreb, de 27 anos.

No cômputo geral, a média de idade da equipe titular caiu um ano - de 29,5 para 28,6 em 2022. No entanto, na defesa, a diferença é mais acentuada. Os cinco defensores prováveis da estreia croata têm média de 26,2 anos. Em 2018, a linha de zaga e o goleiro tinham 29,9 anos, em média. Dalic rejuvenesceu a defesa para equilibrar setores e dar mais vigor físico à equipe, já que manteve os veteranos de meio e ataque, tecnicamente os mais capazes do time.

O zagueiro Lovren, do Zenit, aprova as escolhas do treinador.

Lovren, ex-zagueiro do Liverpool, fechou a Copa 2018 como titular e deve iniciar jogando em 2022 — Foto: Andrew Yates/Reuters

- A Croácia tem tudo. Agora, temos que apresentar o que sabemos em campo. Gosto dessa combinação de jogadores experientes, veteranos, e jovens vorazes. Todos nós queremos jogar no mais alto nível. E quando acreditamos em nós mesmos como time, tudo é possível - afirmou.

Na opinião de Kramaric, responsável por substituir o goleador já aposentado Mandzukic, a Croácia terá de contar com nova dose de "sorte" e ter pés no chão para desafiar os prognósticos mais uma vez.

Kramaric comemora gol da Croácia com Modric — Foto: Foto: REUTERS/Ahmed Yosri

- Esta é minha segunda Copa do Mundo. Estamos todos motivados, unidos e preparados, mas também precisamos de um pouco de sorte. Temos qualidade e podemos repetir o resultado da Rússia, mas seria estupidez garantir isso. É importante que a gente passe de fase, e depois a gente vê o que acontece - disse o atacante.

Mais do ge