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Por GloboEsporte.com — Anapa, Rússia

Andreas Christensen cursou todo o trajeto esperado de uma jovem promessa. Revelado pela equipe dinamarquesa Brondby, foi contratado aos 17 anos pelo Chelsea, frequentou as divisões de base do clube, foi emprestado a um time menor europeu antes de voltar, um ano depois, e roubar a vaga de David Luiz no time titular do gigante inglês.

– Ele tem que trabalhar muito. Se não, vai continuar vendo os jogos do banco, ou da arquibancada – disse o treinador do Chelsea, Antonio Conte, em novembro de 2017 sobre o zagueiro brasileiro, que tinha acabado de perder a vaga no time titular para o dinamarquês.

David Luiz assiste partida do Chelsea da arquibancada, enquanto Christensen é titular — Foto: Reprodução

Com 22 anos, Christensen segue em notória ascensão na carreira. Agora, não só como titular de uma seleção que disputa as oitavas de final de uma Copa do Mundo, mas como peça fundamental da equipe. E com os elogios do chefe.

– Ele é um grande talento no Chelsea. Aprendeu muito na última temporada na Inglaterra. Ser duro e estável é o que faz um jogador ser de alto nível, e ele tem transferido isso para a seleção. Andreas tem uma boa velocidade e é muito bom com a bola, e isso é parte importante de nosso jogo – disse Age Hareide, técnico da Dinamarca na Copa.

Barrando o David Luiz

O zagueiro brasileiro vivia o auge de sua volta por cima na carreira. Depois de ser um dos rostos principais do Brasil no 7 a 1 de 2014, e ser vendido do Chelsea para o PSG no mesmo ano, David Luiz voltou ao clube inglês em 2016 para ser titular na conquista da Premier League daquela temporada.

Azpilicueta, Cahill e David Luiz formaram a defesa titular do Chelsea na conquista da Premier League em 2016/17 — Foto: Getty Images

Em 2017 David Luiz começou como titular, mas logo no clássico contra o Manchester United, em 5 de novembro, não foi nem escalado. Assistiu, das cadeiras, ao jovem dinamarquês Christensen ganhar a posição na vitória por 1 a 0 em Stamford Bridge.

– É muito simples. O treinador tem que tomar a melhor decisão para o time e hoje a melhor decisão para o time era jogar com Christensen e ter, no banco, (Ethan) Ampadu – disse Conte ao fim do jogo.

Depois disso, foram dois jogos na reserva, até que uma série de lesões no joelho praticamente encerraram a temporada do brasileiro. Christensen, por outro lado, se estabeleceu no time e passou a ser um “intruso” recorrente no trio defensivo Azpilicueta, Rudiger e Cahill.

Christensen marca Gabriel Jesus — Foto: Reuters

Tudo isso em sua primeira temporada como profissional no Chelsea. Antes, Christensen havia jogado apenas um ano de futebol profissional no Borussia Monchengladbach, da Alemanha. O jornal inglês “The Telegraph” destaca o dinamarquês como o único jovem da base do Chelsea nos últimos anos a dar certo no time principal depois de ser emprestado para amadurecimento.

Protagonismo na Dinamarca

Se em seu clube Christensen vem se destacando aos poucos, na seleção dinamarquesa ele já é protagonista. Ganhou a posição de zagueiro titular momentos antes da Copa, depois da lesão de Andreas Bjelland.

Antes de ser efetivado como zagueiro, Christensen fazia improvisos na lateral da Dinamarca. Foi jogando por ali que marcou o primeiro gol de seu país na vitória por 5 a 1 contra a Irlanda, fora de casa, na partida decisiva da repescagem europeia para a Copa do Mundo.

Christensen faz 1x0 para a Dinamarca contra a Irlanda em repescagm para a Copa de 2018, em Dublin — Foto: Mike Hewitt/Getty Images

Já na Rússia, a grande preocupação da imprensa dinamarquesa era o entrosamento de Christensen com o capitão Simon Kjaer, zagueiro mais experiente do grupo e titular absoluto.

– Nossa cooperação nunca foi ruim, e quanto mais treinamos juntos, melhor jogamos. Ele me entende cada vez melhor, e eu entendo ele melhor também – disse Kjaer antes da estreia na Copa.

– Eles vão bem quando jogam juntos. Com Andreas Christensen temos velocidade na defesa e isso é importante – disse o técnico Hareide antes do jogo contra o Peru.

– Christensen tem um bom pé direito. Ele está jogando mais pela esquerda, mas pode jogar com a direita, e eu tenho certeza que eles vão lidar bem com isso – completou o treinador.

Andreas Christensen treina pela Dinamarca — Foto: Filippo MONTEFORTE / AFP

Deu certo. Com apenas um gol sofrido na fase de grupos, em um pênalti marcado com auxílio do VAR no jogo contra a Austrália, a dupla Kjaer e Christensen se firmou.

Contra a França, precisando de apenas um empate para se classificar, o treinador Age Hareide acreditou na habilidade de Christensen e improvisou o zagueiro como volante. A boa atuação rendeu novos elogios.

– Eu gosto de ver ele como volante, o que chamamos de camisa 6. No Chelsea ele joga na zaga, e é mais difícil jogar no meio de campo do que na zaga, mas ele pode fazer isso. Ele pode se desenvolver na função, eu acredito – disse o técnico depois do empate em 0 a 0 com os franceses.

Tendo enfrentado atacantes como Paolo Guerrero e Antoine Griezmann na primeira fase, Christensen agora se prepara para segurar Luka Modric e companhia nas oitavas de final da Copa, contra a Croácia.

Christensen ganha dividida com Thomas Lemar em jogo contra a França — Foto: Clive Rose/Getty Images

O zagueiro ainda está longe de ser o principal nome de um elenco que conta com o meia Christian Eriksen, do Tottenham, o atacante Yurary Poulsen, do RB Leipzig, ou o goleiro Kasper Schmeichel, do Leicester.

Mas se mantiver a boa média na defesa, pode entrar para a história de seu país e pelo menos igualar a melhor campanha dinamarquesa em mundiais: as quartas-de-final, na França, em 1998.

A Dinamarca pega a Croácia pelas oitavas de final em Nizhny Novgorod às 15h (de Brasília) do domingo.

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