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Por Redação do ge — Doha, Catar


Olivier Giroud pode despertar as mais diversas opiniões de quem acompanha sua trajetória no futebol europeu e na seleção francesa. Há quem considere o atacante supervalorizado, um centroavante limitado que por vezes esteve no lugar certo na hora certa. Outros o veem subestimado, sem a devida importância que merece após colocar no currículo gigantes como Arsenal, Chelsea e Milan. O fato é que a Copa do Mundo de 2022 pode ser um marco para colocar Giroud como um dos grandes da história da França.

O homem-gol de Didier Deschamps marcou quatro gols nos cinco jogos em que esteve em campo com a França nesta Copa do Mundo - menos apenas que Mbappé e Messi, artilheiros do torneio. Foi peça importante na campanha que levou os Bleus à final, mantendo vivo o sonho de ser bicampeão mundial. E ainda se tornou o maior artilheiro da história da seleção. Desfechos inesperados meses antes de a bola rolar no Catar.

- Este recorde me lembra os anos que passaram. Onze anos com a França com muitas boas lembranças e algumas não tão boas. Acho que o mais importante é dar um bom exemplo aos jovens jogadores, mostrar-lhes que mesmo que o caminho não seja simples, eles podem trilhá-lo - disse Giroud em entrevista coletiva durante o Mundial.

Confira os gols de Olivier Giroud, da França, pela Copa do Mundo 2022

Confira os gols de Olivier Giroud, da França, pela Copa do Mundo 2022

Do jejum ao recorde

Giroud já tem em sua galeria pessoal a medalha de campeão do mundo. Em 2018, era ele o centroavante titular da França, escolhido para começar seis das sete partidas do time, com exceção da estreia. Mas, apesar do papel visto como chave para o time de Didier Deschamps, ele deixou a Rússia sem balançar as redes uma vez sequer em 546 minutos.

Aquele jejum deixou o centroavante marcado: apesar de ter levantado o troféu com os companheiros, ele enfrentou críticas e dúvidas sobre sua real qualidade - considerado, muitas vezes, privilegiado por Deschamps. E, entre a glória e o dessabor, Giroud fechou um ciclo para abrir o outro, já de olho no Catar.

A Copa do Mundo do Catar é a terceira de Giroud, aquela em que mais brilhou — Foto: AFP

Como teria 36 anos no Mundial de 2022, o atacante viveu um momento de dúvidas: ainda teria espaço no time de Didier Deschamps na próxima Copa? O técnico respondeu imediatamente: seguiu convocando Giroud para compromissos pela Liga das Nações e eliminatórias para a Eurocopa e o mantendo como titular na maioria dos jogos.

Apesar das críticas, Giroud manteve o espaço na França até o começo de 2021, quando um fato novo - e até inesperado - surgiu. Às vésperas da Eurocopa, adiada para 2021 por conta da pandemia de Covid-19, a Federação Francesa e o técnico decidiram dar o braço a torcer e, depois de seis anos, abrir espaço novamente para Karim Benzema, que vinha voando no Real Madrid.

Benzema chegou com moral e foi escalado como titular de Deschamps, mantido no time mesmo sem marcar nos primeiros jogos. A Giroud sobrou o banco de reservas, com oportunidades espaçadas: na Eurocopa, por exemplo, só foi usado em duas partidas, em um total de 40 minutos. No mata-mata, nem entrou em campo.

Giroud se tornou reserva de Benzema e perdeu espaço na França ao logo do ciclo — Foto: AFP

Aos poucos, sua relevância para o time foi diminuindo às vésperas da Copa do Mundo - um contraste com o bom momento vivido pelo atacante no Milan, para onde se transferiu logo após a Eurocopa. Na convocação para os duelos em maio deste ano, chegou a ficar fora da lista de Deschamps, que preferiu chamar nomes com Nkunku e Ben Yedder como alternativas a Benzema. O risco de ficar fora do Mundial no fim do ano era concreto.

Em setembro, nos últimos testes da França antes da Copa, Giroud ganhou uma nova chance: Benzema sofreu com problemas físicos e não foi convocado por Deschamps para duelos pela Liga das Nações contra Dinamarca e Áustria. O atacante do Milan foi chamado, ganhou espaço como titular e não decepcionou, dando uma assistência e marcando um gol contra os austríacos.

Meses depois, com a possibilidade de cada seleção levar até 26 atletas para a Copa do Mundo, seu nome foi incluído por Deschamps na lista final: Giroud teria a chance de disputar sua terceira Copa do Mundo.

Giroud chegou à Copa do Mundo como possível terceira opção — Foto: AFP

Estar no grupo, talvez, já fosse honra suficiente para o centroavante de 36 anos, que provavelmente não teria mais o papel central que lhe foi dado em 2018. Porém, o acaso levou Giroud novamente a um dos postos de protagonista do time de Deschamps. Primeiro, o jovem Nkunku - artilheiro do Campeonato Alemão - foi cortado depois de sofrer uma lesão em treinamento da França já no Catar. Quatro dias depois, na véspera da abertura, Benzema deixou a concentração por um problema físico.

Assim, Giroud saiu do posto de provável terceira opção para homem-gol da França para o centroavante titular de Deschamps. Jogando ao lado de Mbappé, Dembélé e Griezmann - assim como em muitos jogos de 2018 - ele conseguiu logo de cara afastar o incômodo jejum, no qual só havia sentido o gol de fazer gol em Copa do Mundo uma vez, em 2014.

Após o jejum em 2018, Giroud ficará marcado na Copa de 2022 por recorde na França — Foto: AFP

Na estreia, marcou duas vezes na goleada sobre a Austrália e igualou Thierry Henry como maior artilheiro da história da seleção francesa. Passou em branco contra a Dinamarca, mas voltou a balançar as redes contra Polônia e Inglaterra, se isolando no posto de maior goleador da França em todos os tempos, com 53 gols em 119 jogos. Chega a sua segunda decisão de Copa, na qual deve ser titular, com quatro gols em cinco partidas em 2022 - e com muito mais respeito de analistas e fãs.

- Eu não estava jogando no nível mais alto aos 20 anos, então se isso pode servir de exemplo, de que tudo é possível, é ótimo. Mostra que não se pode ter tudo de imediato, como os jovens querem agora, que a resiliência e a paciência são fundamentais - comentou Giroud.

Aos 32 min do 2º tempo - gol de cabeça de Olivier Giroud da França contra a Inglaterra

Aos 32 min do 2º tempo - gol de cabeça de Olivier Giroud da França contra a Inglaterra

A trajetória de Giroud foi exaltada pelo técnico Didier Deschamps, que fez questão de enaltecer a serenidade de seu atacante para superar as críticas após 2018.

– Ele passou por tempos difíceis, mas hoje foi recompensado. Ele foi abatido e criticado várias vezes, mas ele tem esta capacidade mental, nada lhe foi simplesmente entregue (...). Olivier está por perto desde o início, mesmo antes de eu assumir o comando da equipe (2012). Parabéns a ele e à sua longevidade, e também a seus companheiros de equipe, que lhe permitiram marcar todos esses gols.

Artilharia histórica da França:

  1. Giroud 53 gols em 119 jogos
  2. Henry 51 gols em 123 jogos
  3. Griezmann: 42 gols em 116 jogos
  4. Platini: 41 gols em 72 jogos
  5. Benzema: 37 jogos em 97 jogos

A França enfrentará a Argentina na grande decisão da Copa do Mundo de 2022, no Estádio de Lusail, no domingo, às 12h (de Brasília). O ge, a TV Globo e o sportv transmitem o duelo ao vivo.

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