Um dos zagueiros mais técnicos que o futebol brasileiro produziu nas últimas décadas, Juan se despede do futebol neste sábado, aos 40 anos. A expectativa é que participe de alguns minutos do jogo contra o Cruzeiro, às 21h (de Brasília), no Maracanã. Se entrar em campo, completará sua 834º partida como profissional, 79 delas com a camisa da Seleção. Outras 331 vestido de rubro-negro.

• Na regressiva para o adeus, Juan põe último contato com a torcida como prioridade: "Noite especial"

Foram poucas torcidas, aliás, que tiveram o privilégio de torcer por Juan. Além do Flamengo, ele só defendeu o Internacional no Brasil. Também jogou por Bayer Leverkusen, da Alemanha, e Roma, da Itália, em 10 anos de Europa. Selecionamos 10 momentos marcantes da carreira de mais de duas décadas de sucesso do zagueiro, que dá adeus aos gramados.

O pequeno Juan ainda era só um garoto em 1988, tinha 9 anos quando foi entrevistado pela primeira vez, pelo saudoso repórter Marcelo Rezende, e revelava sua idolatria por Zico. O jovem herdou o amor pelo clube dos pais e foi batizado duas vezes no mesmo dia: na igreja e no Maracanã, levado aos três anos para ver Flamengo x América.

Juan foi lançado por Joel Santana aos 17 anos, em 1996, mas o primeiro gol ocorreu somente no ano seguinte. Em 24 de abril de 1997, o zagueiro foi decisivo na classificação do Flamengo para a semifinal da Copa do Brasil. No Maracanã, ele substituiu Junior Baiano e marcou o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Internacional. O Rubro-Negro ainda passou pelo Palmeiras, mas perdeu o título na decisão para o Grêmio.

Na campanha do título da Copa Mercosul de 1999, foram dois duelos espetaculares na final, e Juan teve papel fundamental. Já titular absoluto na época, o zagueiro marcou o primeiro gol da vitória por 4 a 3 sobre o Palmeiras no Maracanã, no jogo de ida. Na partida de volta, no antigo Estádio Palestra Itália, o Rubro-Negro arrancou o empate por 3 a 3 e garantiu a inédita conquista internacional para o clube.

Mas o gol mais importante pelo Flamengo, na opinião do próprio zagueiro, aconteceu dois anos depois. O time, que fazia péssima campanha no Campeonato Brasileiro de 2001, chegou à última rodada com risco real de rebaixamento e precisando desesperadamente vencer o Palmeiras em Juiz de Fora (MG). E conseguiu graças a Juan, que abriu o placar da suada vitória por 2 a 0. O Rubro-Negro terminou apenas dois pontos à frente do Z-4.

A primeira convocação veio em 2001, com Emerson Leão. Juan ainda foi testado por Felipão em seguida, mas ficou fora da lista final para Copa de 2002. Ganhou sequência com Parreira e firmou-se de vez na Copa América de 2004. Titular, converteu o último pênalti na decisão contra a Argentina, em seu primeiro título pelo Brasil.

Foram 10 anos, 79 jogos, duas Copas do Mundo como titular e sete gols pela seleção brasileira. O mais importante no Mundial de 2010, na África do Sul. De cabeça, o zagueiro marcou na vitória por 3 a 0 sobre o Chile, nas oitavas de final. Ao todo, disputou 10 jogos em Copas e ficou duas vezes nas quartas de final.

Foram 10 anos de Europa, entre o Bayer Leverkusen, da Alemanha, e a Roma, da Itália. Além de seus botes precisos e roubadas de bola, Juan fez fama no Velho Continente como zagueiro-artilheiro: foram 26 gols no futebol europeu. No vídeo acima, Juan garantiu a vitória por 1 a 0 sobre o Bari, pelo Campeonato Italiano de 2010/2011.

Depois de voltar ao Brasil, Juan defendeu o Internacional e enfrentou o Flamengo pela primeira vez na carreira na oitava rodada do Campeonato Brasileiro de 2013. E foi dele o gol da vitória por 1 a 0, nos acréscimos, no Estádio Centenário, em Caxias do Sul (RS). O zagueiro não comemorou em respeito ao clube que o revelou e admitiu ter sido uma sensação muito estranha.

Cria da Gávea, Juan quase sempre teve o carinho dos rubro-negros. Em um curto período, no entanto, a relação ficou estremecida, quando o zagueiro retornou ao Brasil para defender o Internacional, em 2012. Na época, jogador e dirigentes trocaram farpas públicas. Juan disse que não foi prestigiado, e o então diretor Zinho rebateu. A paz foi selada em 2016, na volta ao clube:

– Nem precisava de apresentação. Eu me sinto em casa aqui. Metade da minha vida futebolística eu passei aqui. É estranho ser apresentado ou reapresentado pelo seu clube de coração.

Juan disputou apenas cinco minutos do jogo contra o Madureira, mas o título carioca de 2019 terá um lugar marcado em sua memória. Após grave lesão no ano passado – ruptura total do tendão de Aquiles –, ele se esforçou para se recuperar e se despedir em campo. Como homenagem, levantou o troféu do estadual, domingo passado, no Maracanã, mesmo sem entrar em campo. Foi a única vez que ergueu o caneco como capitão rubro-negro.

Para quem quiser ver e rever, disponibilizamos também o perfil de Juan feito pelo repórter Tino Marcos, antes da Copa do Mundo de 2010, para o "Jornal Nacional".