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Por Lorena Ortega* — São Paulo


A equipe brasileira de saltos das Olimpíadas de Paris 2024, já classificada, ainda não foi convocada, mas uma presença é quase certa: a do campeão olímpico Rodrigo Pessoa, medalhista de ouro em Atenas 2004 montando o já legendário cavalo Baloubet du Rouet. Em busca da vaga para sua oitava participação em Jogos Olímpicos e em plena preparação para o evento, Rodrigo não esconde o encantamento com a nova montaria, Major Tom, e com a sorte de ter dois cavalos de enorme qualidade ao longo da carreira.

– Participo mais uma vez com um cavalo que realmente tem um potencial, um alto potencial. Isso adiciona um pouco mais de pressão - disse o campeão olímpico.

Entrevista com Rodrigo Pessoa

Entrevista com Rodrigo Pessoa

Além de elasticidade, potência, respeito e controle, a principal característica que Rodrigo busca na sua montaria é inteligência, fator em comum entre Baloubet du Rouet, seu parceiro icônico, e Major Tom, o novo cavalo, comprado há quatro anos, quando tinha 7 anos, pelo investidor que oferta os cavalos ao Rodrigo.

- É um cavalo que demorou um pouquinho mais a chegar agora ao nível superior. O Baloubet chegou nesse nível prematuramente, com 9 anos ele já estava em grandes competições. O Major demorou um pouquinho mais, mas ele é um cavalo que eu acho que pode nos dar títulos importantes e ser um bom representante pelo Brasil com certeza.

Rodrigo Pessoa e Major Tom — Foto: Divulgação Rodrigo Pessoa

Foi um negócio um tanto arriscado. Na época, devido às restrições sanitárias da pandemia do novo coronavírus, que começou no início de 2020, Rodrigo não pôde provar o cavalo. A decisão da aquisição foi tomada a partir de instruções e recomendações de outros cavaleiros que, apesar de serem muito experientes, tinham apenas uma opinião visual. Hoje o Warmblood Belga tem 11 anos e vem confirmando um grande talento.

- O exame veterinário aconteceu, mas eu não pude experimentar o cavalo. É um grande risco. O proprietário investiu muito dinheiro para comprar esse cavalo. A parte técnica eu não pude falar para o proprietário que eu tinha um bom sentimento, a gente foi pelas recomendações de outros cavalheiros. Ele fez bem, hoje o cavalo vale dez vezes mais do que valia quando a gente comprou - comentou o cavaleiro.

Assista ao trailer do documentário "Baloubet: drama e glória de um gladiador"

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Segundo Rodrigo, Major Tom é um cavalo fácil de lidar.

- É um cavalo que tem muito sangue, por isso, é melhor para ele poder competir mais, mais dias seguidos, assim vai sempre ficar mais calmo e melhorar ao longo da competição. Isso é um positivo para ele. É um cavalo que tem muita energia, então ao longo dos dias ele vai queimando energia e vai ficando melhor. Então, está tudo indicando que a gente pode ter um bom desempenho - disse Pessoa, que já sabe como tranquilizar o cavalo: – É um pouco ansioso, mas a gente já está com ele há quatro anos agora, já sabe como lidar, a gente sabe das coisas que ele gosta e que não gosta. Nós estamos juntando muita informação sobre ele, conseguimos deixá-lo num modo bem relaxado na hora da prova.

Segundo Pessoa, por mais que seja difícil comparar cavalos, Baloubet e Major têm muitas aptidões similares de inteligência e elasticidade. Por outro lado, o atleta acredita que o novo animal tenha um pouco mais de respeito do que seu antigo companheiro.

- Todo cavalo é diferente, nenhum é igual. Mas são animais de alta qualidade, que é difícil você conseguir um, e agora estou tendo a oportunidade de ter um segundo cavalo de qualidade. É realmente muita sorte.

Rodrigo Pessoa Baloubet du Rouet Atenas 2004 — Foto: Getty Images

Mas, com a experiência de quem passou por uma grande decepção em Sydney 2000, ressalva:

- Acho que ele está numa fase boa para ter um desempenho bom, mas não deixa de ser um animal e a gente sabe que tudo pode acontecer a qualquer momento.

Naquele ano, Baloubet, que se aposentou em 2006 e morreu em 2017 aos 28 anos, refugou três vezes em sua última passagem pela pista. Como resultado, houve a desclassificação do conjunto favorito ao ouro em Sydney - ouro este que viria quatro anos depois.

Rodrigo Pessoa em 2000 — Foto: Reprodução

Se a refugada dos Jogos Olímpicos de Sydney ainda passa pela cabeça? Sim. O atleta comentou que é uma ferida que nunca se fecha, não entende o porquê e vai ser assim sempre.

– Foi realmente de uma brutalidade muito forte, ser favorito assim e perder o título da maneira que foi. A verdade é que de vez em quando eu penso nesse momento com uma certa incompreensão.

Preparação para Paris

Desde o início do ano, Rodrigo e os outros cavaleiros da equipe de salto estão treinando os cavalos para os Jogos, que serão entre julho e agosto na capital francesa. Metade da preparação já foi feita com a participação em provas para colocar o animal em atividade logo no começo de 2024.

Major Tom, o cavalo de Rodrigo Pessoa em Paris — Foto: Divulgação Rodrigo Pessoa

- Estamos começando a aumentar mais a intensidade das competições e no final de junho, julho, damos início à última preparação. Seguimos num programa muito estrito e as coisas estão caminhando positivamente.

Quanto à rotina, justamente em vésperas de competições importantes como Olimpíadas, o atleta diz que sempre mantém o que já costuma fazer no dia a dia. O mesmo se aplica aos cavalos. Por serem animais de costume e terem seus próprios hábitos, o ideal é não mudar a frequência dos treinos.

– Muitas vezes é o cavalo que te diz “estou precisando de mais, estou precisando de menos", então a gente tem que estar sempre muito alerta ao cavalo.

Apesar de ser o mais experiente do grupo, Pessoa entende a grandiosidade dos Jogos Olímpicos. O cavaleiro estreou nas Olimpíadas de Barcelona 1992, aos 19 anos, e esteve quase todas desde então, ficando fora apenas da Rio 2016. Além do ouro individual nos saltos em 2004, tem dois bronzes por equipe, em Atlanta 1996 e Sydney 2000. Agora, sonha com uma nova medalha aos 51 anos.

– Eu acho que uma Olimpíada é sempre especial na vida de um atleta. Particularmente para mim, agora que eu sei que estou chegando no final, é a última, talvez, ou a penúltima, não sei... Mas é aproveitar todos os momentos e tentar ter o melhor desempenho possível.

* Estagiário sob a supervisão de Lydia Gismondi

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