TIMES

Por Thaís Contarin — Uberlândia, MG


Daniela Alves era uma das jogadoras que defendia a Seleção Brasileira quando Marta chegou ao time. Juntas, elas estiveram presentes em momentos muito marcantes da história do futebol feminino do país: foram campeãs dos Jogos Pan-Americanos de 2007, vice-campeãs da Copa do Mundo no mesmo ano e ainda conquistaram a medalha de prata nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, e Pequim, em 2008.

Em entrevista ao ge, a ex-jogadora que segue no meio do futebol feminino como treinadora falou sobre a influência de Marta, sobre as seleções que chegam em alta para essa Copa do Mundo e relembrou momentos da edição de 2007 do torneio.

Daniela Alves treina o Uberlândia Esporte — Foto: Welton Neves/UEC

Marta e seleção brasileira

Daniela Alves treina a equipe feminina do Uberlândia, no Triângulo Mineiro, desde o ano passado. O time é o atual campeão do Interior de Minas Gerais e chegou às quartas de final da Série A3 do Brasileiro de 2023 na primeira participação no campeonato.

Durante a disputa da competição, Dani Alves contou com a lateral-esquerda Daíse, que é prima de Marta, no elenco. Em um dos jogos do Brasileiro, o Uberlândia teve torcida especial da jogadora eleita seis vezes a melhor do mundo.

Marta acompanha jogo do Uberlândia na Série A3 do Brasileiro feminino no aeroporto

Marta acompanha jogo do Uberlândia na Série A3 do Brasileiro feminino no aeroporto

Agora, será a vez de Dani Alves torcer pela antiga companheira de seleção brasileira. Para ela, a camisa dez do Brasil tem tudo para ser decisiva na última Copa do Mundo que vai disputar.

– Ela cresceu muito com essa troca de experiências com atletas que, quando ela começou, já vinham jogando. Isso ajudou muito no crescimento dela como pessoa e como atleta. Eu vejo a Marta como uma pessoa que vai ser decisiva. Não sei se ela vai sair jogando, se ela vai começar no banco, se vai jogar 90 minutos... Quando a gente vai tendo mais tempo de carreira, a gente vai perdendo a parte física – comenta.

Ela, além de ser experiente, quer fechar esse ciclo de forma bem positiva. E as outras atletas também estão jogando para coroar essa carreira dela. Então, é mais um incentivo para buscar essa medalha de ouro. Eu vejo a Marta muito decisiva nessa Copa do Mundo, vai passar muitas coisas positivas para as jovens.
— Daniela Alves, ex-jogadora da seleção brasileira

Da esquerda para a direita: Renata Costa, Aline Pellegrino, Marta, Daniela Alves, Kelly Silva e Cristiane — Foto: Arquivo pessoal

Daniela Alves acredita que a mescla entre experiência e juventude pode ser a mistura ideal para o Brasil chegar longe na Copa do Mundo de 2023, que começa nesta quinta-feira.

– Esse time chega com renovações. Com atletas jovens, mas que sabem da sua importância e que são protagonistas nas suas equipes sejam nacionais ou internacionais. Tem uma mescla com atletas experientes e isso vai ajudar bastante – analisa.

"Essas atletas jovens são mais corajosas, arriscam mais, tentam mais, tem o um contra um muito bom. Eu digo a eu digo a Kerolin, a Ary Borges... E vem com a Debinha, que é uma atleta experiente e que se destaca muito na sua equipe americana"

Kerolin em ação pelo Brasil — Foto: Andrew Boyers/Reuters

LEIA MAIS:

O Brasil estreia na competição no dia 24 de julho contra o Panamá, que disputará uma Copa do Mundo feminina pela primeira vez na história do país. Além da seleção estreante, o Brasil também terá pela frente na primeira fase França e Jamaica. Para Dani Alves, o Brasil tem chances de garantir a primeira colocação do Grupo F.

– Eu acho que a seleção tem grandes chances de classificar em primeiro. Tem a França, que é outra seleção muito forte. A Jamaica, que é uma seleção africana, com certeza tem jogadoras velocistas e muito fortes fisicamente, mas aí é jogar com inteligência e tentar colocar seu jogo. O Panamá é estreante, então teoricamente seria o mais fácil.

Dani Alves confia que time de Pia Sundhage seja primeiro colocado do grupo — Foto: Thais Magalhães/CBF

– O Brasil tem chances de classificar em primeiro e fazer bons jogos para chegar bem na próxima fase, porque geralmente as equipes vão crescendo dentro da competição – compeltou.

Seleções em alta

Brasil, Inglaterra, Alemanha, Portugal. Não existe uma seleção favorita à conquista do título na visão de Daniela Alves. No entanto, a treinadora cita equipes que chegam em alta e também aposta em algumas surpresas nessa edição.

– Eu sempre digo, antes como atleta e hoje como treinadora, que o jogo é jogado. Às vezes tem alguma equipe que no papel tem a melhor do mundo, a melhor zagueira, a melhor volante, mas o jogo é dentro do campo. Então, eu não costumo dizer que tal seleção é favorita ou que vai ser campeã. Óbvio que existem aquelas com atletas com mais qualidade há um tempo, que evoluíram em sua competição nacional.

" Não tem muito como frisar, mas eu acho que Alemanha vem bem, a Inglaterra vem bem. Apesar de ter perdido algumas atletas e sua treinadora, é uma seleção forte. Portugal está surgindo aí, tem uma competição nacional que evoluiu bastante. Os Estados Unidos tem seu favoritismo de sempre. O Brasil vem muito forte também, com um tempo maior de trabalho antes da estreia. Eu acho que a gente vai ter muita surpresa porque tem muitas seleções estreantes. E estreia é estreia independentemente de qual seleção seja.

Inglaterra venceu a última edição da Eurocopa feminina — Foto: Steven Paston/PA Images via Getty Images

Copa de 2007 e ciclo de 2004 a 2008

Daniela Alves foi jogadora da seleção brasileira entre 1999 e 2009. Para ela, o Brasil viveu um grande momento em campo entre 2004 e 2008, quando chegou na decisão de duas Olimpíadas, dos Jogos Pan-Americanos e da Copa do Mundo.

– Acho que foram anos em que a seleção foi para a final de tudo o que disputou. Tinha uma diferença: a gente já jogava há bastante tempo juntas, já nos conhecíamos em campo. O entrosamento é primordial em um jogo coletivo. Eram atletas de muita qualidade e que se entendiam dentro de campo – relembra.

Seleção feminina comemora gol diante dos EUA no Pan-Americano de 2007 — Foto: CBF

Em 2007, a goleada por 4 a 0 na semifinal da Copa do Mundo contra os Estados Unidos pareceu um roteiro perfeito, mas a derrota na final contra a Alemanha foi doída e carregada de frustração.

– A semifinal contra os Estados Unidos foi um jogaço. Eu acho que vi as americanas contando as jogadoras em campo como se a gente tivesse jogadoras a mais. Foi uma pena a gente não ter ganhado, porque jogamos muito mais do que a seleção adversária (na final). A gente se impôs dentro de campo, mas sempre tinha a trave para nos impedir, a goleira fazendo defesas absurdas, pênaltis não dados... Fatores que foram muito decisivos no resultado. Mas essa seleção era muito forte, de muita qualidade – recorda.

Futebol feminino no Brasil

Como treinadora, Daniela Alves já tem uma lista de trabalhos importantes. Antes de chegar à Uberlândia, ela foi treinadora das categorias de base do Corinthians desde o início do projeto, em 2019. Em 2021, ela comandou o time na campanha da conquista do primeiro título da equipe no Brasileiro sub-16 e iniciou a temporada de 2022 como treinadora do sub-17. A ex-jogadora também já foi auxiliar da seleção brasileira feminina sub-20.

– Hoje você vê muito mais meninas praticando. Quando alguém vê alguma garota fazendo algo extraordinário, eles procuram o contato ou enviam para alguém que está relacionado ao futebol feminino. Hoje não fica mais escondido. As pessoas olham e falam “Que legal!”. Sempre tem alguém que vai ajudar essa menina a ser descoberta e a base está em evolução – avalia.

Daniela Alves no comando do Uberlândia Esporte — Foto: Rodrigo Carvalho/Uberlândia

Dani vê a evolução da modalidade do país de forma muito positiva, mas destaca que o crescimento em locais fora da região Sudeste ainda precisa acontecer.

– Infelizmente o futebol adulto ainda está muito centralizado no Sudeste. É necessário que as Federações melhorem seus campeonatos para que essas meninas não tenham que se deslocar de tão longe para realizar seus sonhos aqui. Hoje o Campeonato Brasileiro é muito forte, o Paulista sempre foi muito forte, e isso alimenta as seleções de base (sub-20, sub-17 e sub-15).

Está se pensando para baixo, mas a gente precisa que não centralize no Sudeste. Tem muitas meninas boas em outras regiões, mas não tem competição e elas acabam ingressando no futebol adulto. Mas vem em uma crescente, tem muitas praticando e elas não estão passando despercebidas.
— finaliza.

Daniela Alves, técnica do Uberlândia — Foto: Rodrigo Carvalho/UEC

📲 Confira as notícias do esporte no ge Triângulo
📲 Siga o ge no Instagram e no Facebook

MAIS ESPORTE: veja os vídeos do ge Triângulo e da TV Integração

Mais do ge