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Por Juan Andrade — Cabo Frio, RJ


Wellington Monteiro ajudou a parar Ronaldinho Gaúcho na final do Mundial de Clubes de 2006 — Foto: TORU YAMANAKA / AFP

Já se passaram mais de 11 anos. Mas tudo que o Internacional viveu na memorável temporada de 2006 é lembrado minuciosamente por Wellington Monteiro. Desde a negociação que o tirou do Caxias-RS à comemoração do título mundial em cima do Barcelona.

Aos 39 anos e com uma empolgação evidente, o volante criado no Bangu-RJ conta com orgulho, saudade e muito bom humor as histórias dos bastidores daquele caneco colorado no Japão.

Wellington (terceiro em pé da direita para a esquerda) foi titular no título mundial do Inter em 2006 — Foto: Daniel Boucinha/Divulgação

- Depois do jogo, não parecia que a gente era campeão mundial. A ficha só foi cair quando nós voltamos para Porto Alegre, e o avião passou por cima do Beira-Rio. Aí a gente viu aquele mar vermelho na cidade. Uma coisa linda - conta o ex-colorado ainda em atividade no futebol.

Do título mundial, Wellington Monteiro ainda recorda, por exemplo, a "trollada" do ex-volante Perdigão ao segurança japonês no hotel, o "temor" do atacante Michel com o Barcelona, além da importância do ídolo colorado Fernandão e a profecia de Adriano Gabiru, autor do gol da vitória por 1 a 0 em cima dos catalães. (Confira abaixo como foi o título mundial do Inter em 2006).

Relembre a conquista do Internacional em 2006 sobre o Barcelona no Japão

Relembre a conquista do Internacional em 2006 sobre o Barcelona no Japão

- Rapaz, você imagina a reação do torcedor quando saiu o Fernandão e entrou o Gabiru no jogo? O Adriano Gabiru tinha avisado antes: "Se eu entrar, eu vou fazer o gol, querem ver só?". Não deu outra (risos). Eu lembro que na volta para Porto Alegre, quando a gente estava no caminhão dos bombeiros, a gente só via cartazes "Perdoa, Gabiru" - recorda o volante, aos risos.

Criado nas categorias de base do Bangu-RJ, Wellington Monteiro rodou por Cruzeiro, Vasco, Juventude e Caxias até chegar ao Internacional em abril de 2006. Rapidamente conquistou a confiança do técnico Abel Braga e passou a ser utilizado frequentemente durante a temporada e até na campanha do título da Libertadores diante do São Paulo.

Tanto que, no fim daquele ano, foi titular do clube na semifinal contra o Al Ahly, do Egito, e na decisão contra o Barcelona, em Yokohama, no dia 17 de dezembro. O volante, inclusive, conta como ajudou a frear o grande craque do Barça àquela altura: Ronaldinho Gaúcho.

Aos 39 anos, Wellington Monteiro estava recentemente atuando pelo União Beltrão, do Paraná — Foto: Arquivo Pessoal

- A única coisa que eu aprendi com esse fenômeno ai naquele jogo é que não pode mexer com craque. Tinha que deixar ele à vontade, bater um papo no campo, perguntar qual o perfume que ele estava usando e tal (risos). Eu te falo isso porque foi verdade mesmo. Aquele "miguézinho", né? Só para deixar o cara quieto - lembra o veterano.

Wellington Monteiro deixou o Internacional em 2008 após uma série de desentendimentos com a direção do clube, principalmente por não ter sido liberado para Villarreal, da Espanha, e para o Sochaux, da França. Acabou rodando por Fluminense, Goiás, Linense-SP, Audax-RJ, Guarani e, mais recentemente, pelo modesto União Beltrão-PR.

Morador de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, ainda não pensa na aposentadoria, apesar de em 2014 ter interrompido a carreira após uma lesão no joelho no Audax-RJ. Para o ano que vem, ainda não tem o rumo definido, mas garante que seguirá nos gramados antes de se preparar para o futuro fora das quatro linhas.

Wellington lembra que Gabiru adiantou que faria gol na decisão contra o Barcelona se entrasse em campo — Foto: Divulgação / Internacional

- Por enquanto, ainda não paro. Sou um cara que se cuida. Enquanto eu tiver saúde, vou manter essa chama acesa pelo futebol. Na verdade, ela nunca vai apagar. Mas só vou parar quando o meu corpo pedir, não me deixar mais jogar bola. Vou até os 42 anos. De repente vou até passar - conta o veterano.

Confira o bate-papo com Wellington Monteiro, campeão do mundo pelo Inter:

Chegada ao Inter

- Na realidade, o Abel me queria desde a época que ele estava no Botafogo. Mas acabou não dando certo e até hoje eu não sei o que aconteceu. Aí o presidente do Inter, que já me queria desde 2004, me contratou em 2016.

Chapéu no Grêmio?

- O mais engraçado é que eu tinha trabalhado com o Mano Menezes no Caxias-RS. Ele foi para o Grêmio e me pediu. Só que o Inter entrou na parada. Aí eu comecei a colocar na balança o melhor time, quem estava disputando as melhores coisas, porque eu queria aumentar a minha vida profissional. Ai escolhi ir para o Inter.

Wellington (o sétimo em pé da direita para a esquerda) participou do caneco da Libertadores, em 2006 — Foto: Internacional/Divulgação

Início promissor

- No Inter eu tive que começar tudo do zero, vamos dizer assim. O grupo já estava pronto, tive que me enquadrar com eles para poder pegar um pouco mais de confiança. Eu assinei por apenas seis meses, mas, depois de 4 jogos, eu renovei por 4 anos. O Abel me inscreveu na Libertadores. Era um sonho nosso conquistar a Libertadores e, por incrível que pareça, tivemos o privilégio de ser campeões.

Família Inter

- Uma coisa que eu guardo daquela época é que era uma grande família que nós fizemos na época. Porque hoje em dia é muito difícil ter isso, uma família em um clube. Às vezes acontece muito a questão da vaidade, da prepotência, que acaba prevalecendo. Mas naquele time, poxa, não tinha isso. Eram 31, 32 jogadores da mesma linhagem. É uma coisa que eu guardo.

Wellington Monteiro guarda recordação ao lado de Guiñazu em 2007 — Foto: Arquivo Pessoal

Michel "assustado"

- Eu estava concentrado com o Michel, o atacante. A gente estava no Japão e, quando você chega lá, é difícil para dormir por conta do fuso horário. A gente tava no quarto, e o Michel falou assim: "Monteiro, você viu o Barcelona? Meteram 4 no America-MEX. E agora, cara?" (risos). E eu falei para ele "Michel, não viemos à toa. Viemos fazer história. Viemos para sair mais vivos do que quando chegamos".

"Trollada" de Perdigão

- Na saída do quarto a gente tinha que passar por um corredor que era enorme. Nós saímos para jantar, e ficava um segurança sentado na cadeira no meio do corredor e um outro no canto. Quando passamos em frente a esse do meio, o segurança japonês levantou para cumprimentar "Hi". Mas, quando voltamos do jantar, ele fez a mesma coisa. Só que eu estava junto com o Perdigão. E o Perdigão já perguntou "Você viu isso, Monteiro?". Rapaz, ele ficou passando uma porção de vezes no corredor só para o cara ficar levantando e falando "Hi, Hi, Hi" (risos).

Wellington Monteiro lembra a importância de Fernandão para aquele título mundial — Foto: (Jefferson Bernardes/Vipcomm Divulgação

Susto de Perdigão

- O Perdigão é o cara mais figura que eu já encontrei no futebol. Ele aproveitou muito aquela época. Tivemos umas aulas sobre cultura japonesa. E o professor avisou para gente não falar alto, porque o japonês se assusta rápido, né. Aí você imagina o Perdigão? Chegamos no Japão e fomos para o hotel. Chegando lá, a primeira coisa que o Perdigão fez foi sair gritando "Meu Deus, que hotel é esse?". Foi aquela coisa (risos).

Fernandão inigualável

- Eu me lembro que, um dia antes da final, o Abel fez uma reunião para falar algumas coisas. Mas ai veio o Fernandão. Rapaz, líder igual ao Fernandão não vai ter igual. Lembro que ele pediu para toda a comissão técnica sair da sala, inclusive o Abel. Ele estudou todos os jogadores do Barcelona e disse "Só quem vai jogar é o Puyol. O resto a gente vai marcar até dizer chega, nem que a gente saia sangrando. Vamos ser taticamente perfeitos. Nós só vamos sair de lá amanhã campeão". E, por incrível que pareça, ele saiu para dar entrada de quem durante o jogo? Adriano Gabiru (risos).

Profecia de Gabiru?

- Rapaz, você imagina a reação do torcedor quando saiu o Fernandão e entrou o Gabiru? O Adriano Gabiru tinha falado assim para a gente: "Se eu entrar, eu vou entrar e vou fazer o gol, querem ver só?". Não deu outra (risos). Eu lembro que na volta para Porto Alegre, quando a gente estava no caminhão dos bombeiros, a gente só via cartazes "Perdoa, Gabiru".

Wellington Monteiro ao lado do genro Júlio Lopes e Neto, sobrevivente da tragédia da Chape na Colômbia — Foto: Reprodução/Facebook

Marcação cerrada em R10

- O Abel passou uma instrução para a gente fechar a diagonal do Ronaldinho, porque ele jogava muito pela esquerda. Ele ia bater muito de frente com o Ceará. Nessa que ele cortava, quem pegava era eu. Eu e o Ceará tivemos a missão de pará-lo e não deixar ele lançar e muito menos jogar. E, graças a Deus, deu certo (risos).

Saída do Inter

- Na realidade, eu saí do Inter por uma série de situações. Eu não era para ter saído, mas eu não culpo ninguém. Só que tinha um cara na diretoria na época que não batia muito comigo. Eu tive a oportunidade de ir para o Villarreal (Espanha) e para o Sochaux (da França), mas esse cara não me liberou. Eu reclamei muito na época, mas é claro que não teve briga. Era a minha chance de ir para a Europa. Mas depois eu segui a vida.

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