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Após depressão por doping, Daynara de Paula está pronta para Olimpíadas

Conheça a história da nadadora que deu as primeiras braçadas em Jacareí, no Vale do Paraíba, e agora participa das Olimpíadas

Por Jacareí, SP

Se para muitos a vida é feita de momentos, para a nadadora Daynara de Paula ela é marcada por segundos. Promessa da natação feminina brasileira, a jovem atleta de Jacareí, no interior de São Paulo, tem alcançado grandes feitos com menos de um minuto. Um dos mais recentes e importantes foi o índice para disputar as Olimpíadas de 2012. Nos 100 metros borboleta da seletiva para o Mundial de Xangai, em 2011, Daynara cravou 58,56 segundos e atingiu o índice necessário para ir a Londres.

Veloz nas piscinas, Daynara também se mostra apressada fora delas. Aos 22 anos, essa é a segunda Olimpíadas que a atleta participa. Em 2008, nos Jogos Olímpicos de Pequim, Daynara disputou a competição quando ainda tinha 18 anos. A conquista não veio naquela ocasião, mas desta vez a experiência pode ajudar...

Daynara de Paula natação Pan-Americano (Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM)Daynara de Paula ficou com a medalha de prata nos 100 metros borboleta dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011 (Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM)

- Estou com mais bagagem e confiança para esta Olimpíada. Em 2009, fui finalista no Mundial de Natação em Roma. Agora, vou brigar para chegar à final e conseguir uma vaga no pódio - declarou a atleta, que hoje defende o Flamengo (RJ).

A experiência é algo que pode ajudá-la na conquista da medalha olímpica, mas o talento e a dedicação também são fatores que podem fazer a diferença. Duas qualidades que ela mostra ter há muito tempo...

As primeiras braçadas

Daynara é natural de Presidente Figueiredo, em Manaus (AM). Ainda com três meses, mudou-se para Jacareí devido à transferência de emprego do pai, José Ferreira de Paula. O gosto por esportes despontou logo cedo, mas foi após um susto que a natação cruzou o caminho da menina manauara.

Quando tinha 4 anos, Daynara foi com a família passear em Santa Branca (SP), na casa de amigos. A residência contava com uma piscina, que naquele dia estava com água imprópria para nadar. Empecilho não para Daynara, que aproveitou um momento de distração dos parentes e pulou na piscina. O desespero tomou conta de todos!

- Pensei que minha filha não sairia com vida da piscina. Foi um susto muito grande. Depois disso, decidi que a colocaria na natação. Eu não pensava que ela se tornaria uma nadadora. Queria apenas que aprendesse a nadar - relembra a mãe da atleta, Joanita de Paula.

Sem grandes pretensões, Joanita esperou Daynara quase completar 8 anos para matriculá-la nas aulas de natação do Trianon Clube, de Jacareí. Quando Daynara ganhou intimidade com as águas, as competições eram só uma questão de tempo.

Dedicação total

O primeiro campeonato disputado por Daynara foi o Aberto de Natação Peixinhos & Golfinhos, realizado pelo SESI e com apoio da TV Vanguarda, afiliada Rede Globo no Vale do Paraíba. No primeiro ano de disputa, ficou com a segunda colocação. Já no ano seguinte, faturou três troféus.

- Tenho guardado até hoje esses prêmios. Foi durante o Peixinhos & Golfinhos que conheci a Fabíola Molina, quem eu mais admiro na natação. Ela é um exemplo de atleta e continua sendo a minha rainha - afirma.

Para continuar subindo nos pódios, Daynara esbanjava dedicação. Os treinos com os professores Marcelo Rocha e Davi Camargo, do Trianon, aconteciam todos os dias. Para disputar as competições, ela também contava com o esforço da mãe, que usava um talento que tinha para bancar as viagens da filha.

daynara de paula mundial de natação 50m borboleta (Foto: Satiro Sodré / AGIF)Ao ver o talento da filha, mãe de Daynara de Paula
sabia que a natação era o caminho da filha
(Foto: Satiro Sodré / AGIF)

- Eu sabia fazer tortas, salgados e marmitex. Comecei a fazer isso para vender e ter dinheiro para pagar as despesas da Daynara. Foi um esforço que valeu muito a pena - afirmou Joanita.

As viagens foram bancadas pela mãe durante algum tempo. O esforço das duas foi recompensado anos depois. Com bons resultados nas piscinas, Daynara conseguiu patrocínio. O incentivo a mais resultou em novas conquistas.

Medalhas como de campeã paulista, brasileira e sul-americana nas categorias juvenis foram penduradas no pescoço de Daynara. Ao mesmo tempo em que as vitórias a faziam sonhar cada vez mais alto, o sonho de disputar uma Olimpíada parecia mais perto.

Jogos Olímpicos de Pequim

Foi em 2008 que o sonho se tornou realidade. Aos 18 anos, ainda desconhecida por muitos, a jovem nadadora conquistou o índice olímpico para a Olimpíada da China na última seletiva brasileira, o Troféu Maria Lenk, no Rio de Janeiro. Ao nadar os 100 metros borboleta em 59,30 segundos, alcançou a vaga olímpica.

A conquista veio acompanhada de uma sensação ainda desconhecida por Daynara.

- Foi uma felicidade enorme ter conquistado esta vaga. Além de mim, minha família comemorou muito. Essa Olimpíada foi uma experiência muito boa. Sem dúvida, é um dos momentos mais marcantes da minha carreira.

Em Pequim, a atleta não passou da fase eliminatória. Nos 100 metros borboleta, ficou em 34º lugar geral da bateria. Apesar da eliminação precoce, a nadadora afirma ter aprendido e amadurecido com esta experiência.

Daynara de Paula natação Pan-Americano (Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM)Nadadora afirma que sonhava com a Olimpíadas desde a infância (Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM)

Doping: a ‘prova’ mais difícil

A maturidade adquirida nas competições, principalmente em Pequim, ajudou Daynara de Paula a enfrentar o momento mais crítico da carreira. Durante os Jogos Sul-Americanos de Medellín (Colômbia), em 2010, foi flagrada no exame antidoping por ter usado a substância furosemida, que ajuda a perder peso e consegue inibir a presença de outras substâncias proibidas no corpo.

Daynara garante não saber de que forma usou a substância, mas, mesmo assim, teve que enfrentar seis meses de suspensão. Como não poderia ser diferente, o período não traz boas recordações à nadadora.

A depressão e o medo de perder as conquistas atingiram Daynara. Remédios, principalmente os feitos em farmácias de manipulação, passaram a ser evitados pela atleta desde então.

Fico muito nervosa. Quando ela está nadando, fico somente rezando"
Joanita de Paula, mãe de Daynara

Hoje, ela enxerga essa experiência como um aprendizado. Mesmo durante o tempo em que ficou afastada, diz que o sonho da medalha olímpica nunca morreu. E, atualmente, ele parece mais vivo do que nunca.

Expectativas na Terra da Rainha

Para Daynara, chegar aos Jogos Olímpicos de Londres é a conquista de um objetivo. Após garantir a vaga, intensificou os treinos para não desapontar os brasileiros e uma torcedora em especial - a mãe Joanita de Paula.

Esbanjando felicidade, Joanita não vê a hora de assistir... ou melhor, apenas torcer pela filha nas piscinas de Londres.

- Eu não gosto de assistir ela competindo. Fico muito nervosa. Quando ela está nadando, fico somente rezando.

Depois de precisar das marmitex de Joanita para conseguir as primeiras conquistas, Daynara agora conta com as orações da mãe para realizar o maior sonho - colocar a medalha de ouro olímpica no peito e estender a bandeira do Brasil no lugar mais alto do pódio.

Daynara de Paula natação Pan-Americano (Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM)Daynara fez parte da equipe brasileira que ficou com a prata no revezamento 4x100 metros nos Jogos Pan-Americanos de 2011 (Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM)