Forum Democratico

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Pubblicazione dell’Associazione per l’Interscambio Culturale Italia Brasile Anita e Giuseppe Garibaldi • Nº 103-104 Ano XI - Março / Abril 11 - R$ 10,00 PODE SER ABERTO PELA ECT

HISTÓRIA ITALIANA

ENTREVISTA

Os principais acontecimentos de 2002.

Adonai Lacruz e o Instituto Terra: Em se plantando tudo dá.

E M A I S : : T U R I S M O • L I T E R AT U R A • G A S T R O N O M I A • A R T E S P L Á S T I C A S • F O T O G R A F I A


O INCA-CGIL tutela gratuitamente os trabalhadores e aposentados italianos e brasileiros e suas famílias. RIO DE JANEIRO Av. Rio Branco, 257 sala 1414 20040-009 - Rio de Janeiro - RJ Telefax: 0xx-21-2262-2934 e 2544-4110

INCA INCA CGIL

SÃO PAULO (Coordenação) Rua Dr. Alfredo Elis, 68 01322-050 - São Paulo - SP Telefax: 0xx-11-2289-1820 e 3171-0236 Rua Itapura,300 cj. 608 03.310-000 - São Paulo- SP

“Patronato” da maior Confederação Sindical Italiana, a CGIL

PORTO ALEGRE Rua dos Andradas. 1234 cj. 2309 90020-100 - Porto Alegre - RS Telefax: 0xx-51-3228-0394 e 3224-1718 BELO HORIZONTE Rua Curitiba, 705 - 7º andar 30170-120 - Belo Horizonte - MG Telefax: 0xx-31 3272-9910

http:\\www.incabrasil.org.br

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S E G U N D A

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S E X T A ,

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forum

NOSSA CAPA

D E M O C R A T I C O

A n o

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N

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agenda cultural

M a r ç o / A b r i l

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às compras

05 Tudo que acontece está aqui.

15 Sugestões imperdíveis.

06

16

editorial

06 Revolução árabe.

2 0 1 1

encarte

16 “Acciaio”, di Silvia Avallone.

Andrea Lanzi

08

comunità

08 Partito Democratico: Iniziativa a Caracas del coordinamento continentale. 08 Comites Rio de Janeiro appoggia BRASITALIA. 08 Congiuntura Italia. 08 Marco Lucchesi eletto nella ABL. 09 Congiuntura Brasile.

10

gastronomia

10 Pizza. Para quem gosta de uma boa redonda.

12

turismo

12 Destino: Itabira, Minas Gerais. Itabira não é apenas uma fotografia na parede.

20

Italia

Emigrazione 20 Giorgio Veneziani: “Nunca pensei em voltar atrás”. Marisa Oliveira

Storia italiana 22 2002. Liberamente tratto dal libro “Patria 1978-2008” di Enrico Deaglio.

28

Brasil

28 Entrevista com Adonai Lacruz, do Instituto Terra - Em se plantando tudo dá. Marisa Oliveira

32

cultura

Fotografia 32 “As Brumas de Paranapiacaba”, ensaio de Jorge Sato.

Marisa Oliveira

14

cultura

Artes Plásticas 36 Umberto Malaquias, uma explosão de cores.

Literatura

Ivan Alves Filho

14 “HITCH-22”, de Christopher Hitchens e “Mário de Andrade - Seus contos preferidos”, organização e apresentação de Luiz Ruffato.

Reflexão 38 Zero de bendição. Luis Maffei

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www.forumdemocratico.org.br

Dal Corriere della Sera


expediente

La rivista Forum Democratico è una pubblicazione dell’Associazione per l’interscambio culturale Italia Brasile Anita e Giuseppe Garibaldi. Comitato di redazione Giorgio Veneziani, Andrea Lanzi, Arduino Monti, Mauro Attilio Mellone, Lorenzo Zanetti (em memória). Direttore di redazione Andrea Lanzi Giornalista Responsabile Luiz Antonio Correia de Carvalho (MTb 18977) Redazione Avenida Rio Branco, 257/1414 20040-009 - Rio de Janeiro - RJ forum@forumdemocratico.org.br Pubblicità e abbonamenti Telefax (0055-21) 2262-2934 Revisione di testo (portoghese) Marcelo Gargaglione Lopes, Clara Salvador. Hanno collaborato: Cristiana Cocco, Marisa Oliveira.

Nota do Editor

2

011 promete. Os desastres ocorridos no Japão, o papel dos Estados Unidos, dos países da União Europeia frente

aos recentes acontecimentos do mundo árabe com suas revoluções, o aumento do preço do petróleo, reflexões do Editorial. Apesar disso, a vida segue. O mês de junho e a

BMW nos traz grandes nomes do jazz para um festival em São Paulo (Agenda Cultural). Na seção Às Compras, Antonia Adnet é uma competente e delicada surpresa com seu CD Discreta. E por falar em surpresa, vale conferir o trabalho do Instituto Terra na recuperação da Mata Atlântica, na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais (Entrevista Brasil). Também vale conferir a obra de Christopher Hitchens - pelas memórias, pelas idéias que defende, pela escrita, pelo estilo, pela lucidez diante de si mesmo, dos fatos e da vida (Literatura). Encerrando o ano do cinquentenário de Brasília, Giorgio Veneziani, engenheiro responsável pelo revestimento em mármore dos monumentos de Brasília e, portanto, pioneiro e desbravador do Planalto Central, nos conta sua história de emigração e a experiência de

Logotipo: concesso da Núcleo Cultura Ítalo Brasileira Valença

ter “vivido” o marco zero da nova capital

Stampa: Gráfica Opção

E para quem gosta de simplicidade e acon-

Copertina e Impaginazione: Ana Maria Moura A Mão Livre Design Gráfico

federal. chego, a seção Turismo apresenta Itabira, com suas belezas naturais, seus casarios e os caminhos drummondianos. Especial.

Dados internacionais de catalogação na fonte (CIP) Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - Forum Democratico/ Associazione per

Carta do leitor

l’insterscambio culturale italo-brasiliano Anita e Giuseppe Garibaldi - No.0 (mar. 1999) - Rio de Janeiro: A Associazione,

“Na edição Janeiro/Fevereiro de 2011, a revista

1999 - v. Mensal. - Texto em português e

Forum Democratico começa o ano com o pé direito

italiano - ISSN 1516-8123 I. Política - Itália - Brasil - Periódicos. 2. Difusão cultural - Itália - Brasil - Periódicos. I. Associazione

– temas variados, excelentes dicas de leitura, sem perder o perfil político que sempre a caracterizou.”

per l’interscambio culturale italo-brasiliano, Anita e Giuseppe Garibaldi.

Odilon de Barros, por e-mail; março de 2011

CDU 32:316.7(450 + 81)(05)

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agenda cultural

MÚSICA EXPOSIÇÕES

Jazz em São Paulo Primeira edição do BMW Jazz Festival levará ao palco do Auditório Ibirapuera, de 10 a 12 de junho, dez atrações de diversas gerações e estilos. Com direção artística e produção do evento a cargo da produtora e cineasta Monique Gardenberg, da Dueto Produções, o festival vai reunir dez atrações dotadas de estilos diversos, pertencentes a gerações distintas do jazz e suas variações, todas em plena produtividade. Para citar alguns: Wayne Shorter, saxofonista americano que fez parte da banda de Miles Davis se apresenta com o seu quarteto, formado por alguns dos melhores músicos da atualidade: Danilo Perez, no piano, John Patitucci, no baixo, e Brian Blade, na bateria. O também saxofonista tenor Billy Harper, também dos Estados Unidos, apresenta com o seu quinteto um jazz temperado pelas raízes blues e gospel, adquiridas em sua infância no Texas. Serão oferecidos workshops com as principais atrações e uma programação ao ar livre (e gratuita) no parque, que inclui shows e uma sessão de cinema com filmes relacionados ao estilo musical. O espaço onde antes funcionava a cantina do auditório, no subsolo do edifício, se transformará em um club para receber, a partir das 19 horas, algumas atrações brasileiras.

O Universo Gráfico de Glauco Rodrigues O Universo Gráfico de Glauco Rodrigues, uma retrospectiva abrangente da obra gráfica do artista gaúcho, um dos maiores pintores da arte brasileira contemporânea, que foi também mestre do desenho, gravador, ilustrador e cenógrafo. Esta é a primeira retrospectiva em homenagem ao artista, falecido em 2004, aos 75 anos. São mais de 100 obras originais entre litografias, serigrafias e linoleogravuras, além de ilustrações para revistas, livros e discos, cobrindo um período de mais de 50 anos de produção artística. Glauco Rodrigues foi um virtuose da linguagem gráfica. O artista utilizou e defendeu o recurso da reprodução gráfica, disciplina muito cultivada em sua carreira, para ampliar a capacidade de circulação de seu trabalho e assim democratizar sua arte. Uma obra de grande significação e importância cultural para a identidade brasileira, que opera sobre imagens símbolos de nossa nacionalidade. Glauco Rodrigues nasceu em Bagé, no Rio Grande do Garota de Ipanema, 95cmx65cm, Sul, em 1929, e faleceu no Rio de Janeiro em 2004. É fase pop, 1967 considerado um dos maiores pintores da arte brasileira contemporâneo. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1959, quando, como ilustrador, fez parte da primeira equipe da inovadora revista Senhor. Residiu em Roma entre 1962 e 1965, a convite do embaixador Hugo Gouthier, para implantar o setor gráfico da Embaixada do Brasil. A volta ao Brasil em 1965 coincidiu com a volta de sua pintura ao figurativo. A partir daí ele escolheu dedicar-se à pintura. CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Galeria 3; Av. Almirante Barroso, 25, Centro, Rio de Janeiro, RJ (Metrô: Estação Carioca); Tel.: (21) 2544-4080; de 3ª a sáb., das 10h às 21h; domingo, das 10h às 21h; Entrada franca; Classificação livre; até 8 de maio de 2011; Acesso para portadores de necessidades especiais.

Video Portraits de Robert Wilson

Foto: Laura Hanifin

Sharon Jones e seu grupo, The Dap Kings

Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz Foto: Lucas Azevedo

Concertos

A exposição Vídeo Portraits traz 14 videorretratos em alta definição produzidos pelo artista norte-americano Robert Wilson, considerado de vanguarda no teatro e nas artes visuais. Produzidos a partir de uma parceria entre Robert Wilson e a Voom HD Networks (extinta empresa dedicada a canais de TV em alta definição), os Video Portraits são retratos de celebridades e anônimos caracteriWinona Ryder, atriz, 2004 zados por um formato que vai além da Video Portrait de Robert Wilson/ Produzido por Dissident fotografia, inclui cinema e teatro, literatura Industries Inc. e música. As criações de Wilson possuem uma linguagem de movimentos mínimos e coreografados, somados a arranjos cenográficos sofisticados. Entre os artistas que compõem os retratos: o chinês Zhang Huan, Brad Pitt, Steve Buscemi, Winona Ryder e Johnny Depp. Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro - Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea; Tel.: (21) 3284-7400; De 3ª a 6ª , das 13h às 20h; sáb., dom. e feriados, das 11h às 20h; Visita Guiada (agendar): de 3ª a 6ª, às 17h; Entrada Franca; Classificação livre; até 15 de maio de 2011; www.ims.com.br; http://twitter.com/imoreirasalles; www.blogdoims.com.br

Série Sala Cecília Meireles no CCBB-RJ Grupo Kron Formado por jovens instrumentistas e liderado pelo compositor Marco Viniscius Nogueira, o grupo dedica-se à divulgação do repertório brasileiro de música contemporânea. O concerto será interativo, com diálogo constante com a plateia a respeito da composição e preparação das obras que serão apresentadas. CCBB - Teatro II, Rua Primeiro de Março, 66 – Centro, RJ; Tel.: (21) 3808-2020; Data: 30 de março; Quarta-feira, às 18h30min; Ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia entrada para estudantes, professores, funcionários e correntistas do Banco do Brasil e maiores de 60 anos).

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Fragmentos da Percepção Fragmentos da Percepção é uma coletiva de fotografias, que o curador Fabiano Cafure define como “imagens fragmentadas das pesquisas dos fotógrafos, conforme a percepção de cada um deles; ou, simplesmente, o exercício do olhar foto-antropológico.”

Uma Tarde em Paquetá, por Marcio RM

Instituto Cultural Kreatori - Rua Alice, 209 – Laranjeiras/ RJ - Tel.: 21-3734-4326; de 3ª a sáb., das 14h às 18h30; até 8 de maio de 2011; http://www.kreatori.com.br; institutokreatori@gmail.com; Twitter: @artenokreatori; Facebook: www.facebook.com/institutokreatori

f foor ruummD DE ME MO OC CR RA AT TI CI CO O

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editoriale

Rivoluzione araba. Andrea Lanzi

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n questi ultimi mesi il medio oriente è stato teatro di movimenti popolari senza precedenti. Allontanato a furor di popolo il presidente della Tunisia, Ben Ali; defenestrato il presidente egiziano, Hosni Mubarak, dopo settimane di scontri nelle piazze fra i sostenitori del regime e i ribelli. Negli altri paesi del nord Africa la situazione è in movimento; in Algeria è stato revocato lo stato di assedio, nonostante le dimensioni, per ore ridotte, della protesta; in Barhein – ma anche nello Iemen, in Giordania, Siria, Kuwait e Oman- continuano le proteste di piazza e per contenerle sono intervenute truppe dell’Arabia Saudita, provocando l’immediata protesta dell’Iran; in Marocco il governo per evitare proteste ha adottato provvedimenti contro il caro vita. In Libia è in corso una vera e propria guerra civile che vede, da una parte, le forze fedeli a Gheddafi aiutate da truppe mercenarie, e dall’altra le forze ribelli che si sono organizzate in un comitato di opposizione, che ha già avuto il riconoscimento della Francia e l’apertura di un dialogo con l’Unione Europea. La posizione degli Stati Uniti, dell’Unione Europea e della stessa Nato, è stata caratterizzata dalla soddisfazione per la messa in crisi dei regimi dittatoriali, che pur avevano appoggiato come ostacolo alle posizioni islamiche radicali. Nello stesso tempo adottano una grande prudenza, pretendendo che iniziative più concrete come la chiusura dello spazio aereo sia decisa dal consiglio di sicurezza dell’ONU, anche dopo il via libera della Lega Araba. L’elezione di Obama negli Stati Uniti è stata anche il risultato della promessa di abbandonare la politica estera del precedente governo Bush, basata sulla teoria della guerra preventiva al terrorismo e dell’intervento armato; ma nonostante questi impegni, il governo Obama non è ancora riuscito a dare una soluzione ai conflitti in Iraq e in Afganistan. E anche interventi apparentemente meno agressivi, come la chiusura dello spazio aereo, necessitano previamente della distruzione dell’antiaerea e del maggior numero di aerei avversari a terra. Un elemento su cui riflettere è la totale incapacità di tutte le grandi potenze di un minimo di previsione su quanto stava avvenendo nei paesi arabi e quindi la totale mancanza di rapporti con le forze e gli ambienti di opposizione e le strutture sociali intermedie- siano esse le strutture tribali libiche o i gruppi accademici di elite egiziani; per cui non avendo tracciato una politica estera

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nei confronti del mondo arabo alternativa alla tolleranza nei confronti di governi dispotici, alla caduta di questi ultimi i grandi del mondo non possono che affidarsi alla speranza che questi popoli possano darsi rapidamente apparati di governo migliori e più democratici dei precedenti. Molta enfasi è stata data alla funzione dei moderni mezzi di comunicazione e alle reti sociali per l’esplosione della protesta praticamente in tutti i paesi della regione e la cacciata dei governi in Tunisia e in Egitto; ma questo strumento non avrebbe prodotto questi risultati senza la presenza di una vasta insoddisfazione popolare, di anacronistici ostacoli alla libertà di opinione e di espressione, di una grande massa di giovani mediamente istruiti e senza prospettive di avere un futuro migliore dei propri genitori, del divieto legale ai partiti di opposizione; se questa è la mistura esplosiva il mondo occidentale potrà stupirsi per lo scoppiare di altre rivolte, magari in potenze egemoniche come la Cina. Gli avvenimenti nei paesi arabi hanno anche avuto la conseguenza di aumentare considerevolmente il prezzo del petrolio; questo unito alle implicazioni economiche del disastro naturale in Giappone e alla concatenata crisi nucleare, rischia di acutizzare una crisi economica mondiale dopo che quella del 2008 non era stata ancora completamente superata. Rispetto alla catastrofe nei paesi arabi, ha nuovamente brillato l’incapacità e l’insensibilità del primo ministro Berlusconi, che all’inizio non voleva telefonare al dittatore Gheddafi per paura di disturbarlo; d’altra parte se Berlusconi ha pubblicamente baciato le mani al dittatore libico, qualche motivo ci sarà: sono i vincoli di affari o perché gli ha insegnato il “bunga, bunga”?

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ee d i tt oo rri iaal l

Revolução árabe

N

estes últimos meses o Oriente Médio foi palco de movimentos populares sem precedentes. Caçado pelo furor popular o presidente da Tunísia, Ben Ali; deposto o presidente egípcio, Hosni Mubarak, depois de semanas de confrontos nas praças entre os defensores do regime e os rebeldes. Nos outros países do norte da África a situação está em evolução; na Argélia foi revogado o estado de sítio, apesar das dimensões por enquanto reduzidas do protesto; em Barhein – mas também no Iêmen, na Jordânia, Síria, Kuwait e Oman - continuam os protestos nas ruas e já foram mortos vários manifestantes. No Marrocos, o governo para tentar evitar os protestos decidiu estabelecer medidas contra o aumento dos preços. Na Líbia está em andamento uma verdadeira guerra civil entre as forças fiéis à Kadafi, ajudadas por tropas mercenárias, e os rebeldes que constituiram um “comitê de oposição” sendo reconhecidos pela França e com um diálogo aberto com a União Européia. A posição dos Estados Unidos, da UE e da própria OTAN é caracterizada pela demonstração de satisfação em relação à crise dos regimes ditatoriais, apesar de apoiá-los como obstáculos para as posições islâmicas radicais. Ao mesmo tempo Estados Unidos, União Européia e OTAN também se pautam por uma grande cautela, exigindo que iniciativas mais concretas, como o fechamento do espaço aéreo na Líbia, sejam decididas pelo Conselho de Segurança da ONU. Isto se deve ao fato de que a eleição de Obama foi também o resultado da promessa de

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abandonar a política internacional do governo Bush, baseada na teoria da guerra preventiva ao terrorismo e na intervenção armada; e, apesar deste compromisso, o presidente Obama ainda não conseguiu encontrar uma solução para os conflitos no Iraque e no Afeganistão. Uma questão sobre a qual devemos refletir, é a completa ineficácia de todas as grandes potências no sentido de não ter um mínimo de capacidade de previsão sobre os acontecimentos nos países árabes e, então, a completa falta de contatos com as forças e os grupos de oposição e com as estruturas sociais intermediárias – sejam elas as tribos da Líbia ou as elites acadêmicas do Egito. As potências do G8 e a União Européia não apresentam uma política de relações internacionais direcionada ao mundo islâmico, alternativa à tolerância com os governos despóticos, quando estes caem, e podem apenas esperar que os povos encontrem com rapidez soluções de governo melhores e mais democráticas. Para explicar a explosão de protestos, de fato, em todos os países da região e a derrocada dos governos na Tunísia e no Egito, foi dada muita ênfase aos modernos meios de comunicação e às redes sociais; mas não teriam acontecido estes fatos sem a presença de uma grande insatisfação popular, de anacrônicos obstáculos à liberdade de expressão e de opinião, de uma grande massa de jovens com uma instrução média sem perspectivas de um futuro melhor nos países em questão, do impedimento legal para os partidos de oposição; se esta é a mistura explosiva, o mundo ocidental poderá se surpreender pela realização de outros levantes, talvez em lugares inesperados como a Cina. Os acontecimentos nos países árabes tiveram como consequência também o aumento considerável do preço do petróleo; este fato somado às implicações econômicas do desastre natural no Japão e da consequente crise nuclear, podem causar uma nova crise financeira global num momento em que aquela de 2008 ainda não foi superada. Em relação à crise do mundo árabe, novamente brilhou a incapacidade e a insensibilidade do primeiro ministro italiano Berlusconi, que, no início da revolta na Líbia, não queria ligar ao ditador Kadafi com a preocupação de incomodá-lo e, em seguida, ficou calado. De qualquer modo, se Berlusconi beijou em público as mãos do ditador um motivo deve existir: são os “negócios”. Ou então Kadafi lhe ensinou o “bunga, bunga”

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comunità

PARTITO DEMOCRATICO

Congiuntura Italia.

Iniziativa a Caracas del coordinamento continentale.

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l PD con la presenza di Francesco Rotundo, coordinatore per l’America Latina, di Claudia Antonini e del deputato Fabio Porta hanno incontrato nei giorni scorsi vari esponenti della comunità italo venezuelana - a partire dai consiglieri Comites, esponenti dei patronati, il consigliere CGIE Ugo De Martino, il direttore della Voce d’Italia Mauro Bafile - e sono stati ricevuti dall’ambasciatore italiano Paolo Serpi. Nell’incontro presso il Centro italo venezuelano, con la presenza del presidente Mario Chiavaroli, gli esponenti del PD hanno sottolineato come il partito sia fortemente impegnato per la fissazione della data per le elezioni dei Comites e del CGIE, colpevolmente rinviate di anno in anno dal governo.

Comites Rio de Janeiro appoggia BRASITALIA.

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l Comites nella riunione del 14 marzo ha deliberato di appoggiare l’evento organizzato da Instituto Tocando em você, Associazione Anita e Giuseppe Garibaldi, Federazione Associazioni Lucane, Unione Italiani nel Mondo; lo stesso Comites ha quindi convocato nella giornata del 18 marzo le associazioni italo brasiliane per presentare l’iniziativa e chiedere l’impegno di tutti per la realizzazione; alla riunione era presente il Console Generale, Dr. Umberto Malnati, che ha garantito l’appoggio istituzionale. L’evento, denominato BRASITALIA, si realizzerà dal 7 all’11 dicembre nel prestigioso scenario del Forte di Copacabana, “um dos cartões postais” della città. L’intenzione degli organizzatori è quella di farne la prima tappa di eventi similari da realizzare nei prossimi anni, anche in vista dei mega eventi che si realizzeranno a Rio de Janeiro, la Coppa del Mondo di Calcio nel 2014 e le Olimpiadi nel 2016. Sarà richiesto alle regioni italiane di essere presente con la divulgazione del proprio patrimonio artistico, culturale e paesaggistico. Oltre alla tradizionale offerta eno-gastronomica italiana, si intende presentare anche prodotti di qualità nei settori della musica, del teatro, della letteratura, delle arti plastiche.

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A difesa della Costituzione, 12 marzo 2011

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i moltiplicano nel paese le manifestazioni contro il governo. Il 13 febbraio sono state le donne le grandi protagoniste; con lo slogan “se non ora, quando” hanno chiesto, in decine e decine di città grandi e piccole, rispetto per loro stesse e un modo di governare che sia rispettoso della democrazia, dell’etica pubblica, della moralità; ha

caratterizzato la giornata l’ampia partecipazione maschile, ma in particolare di donne di diverse sensibilità politiche. Il 12 marzo iniziative in 270 città e manifestazione nazionale a Roma a difesa della Costituzione e della scuola pubblica. Nonostante queste diffuse proteste che hanno contribuito a portare il consenso del premier al minimo storico

Marco Lucchesi eletto nella ABL.

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on soli 47 anni, il poeta, traduttore e saggista diventa il più giovane degli immortali della Academia Brasileira de Letras. Laureato in Storia all’UFF, dottore in Scienza della Letteratura all’UFRJ, Lucchesi ha ottenuto la specializzazione in Filosofia del Rinascimento all’Università di Colonia in Germania. Fra i suoi libri ricordiamo “Meridiano celeste e bestiario”, “Sphera”, “Os olhos do deserto”, “Saudades do paraiso”, “O sorriso do caos”, “O dom do crime”.

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comunidade

fra l’opinione pubblica, Berlusconi continua a gridare al complotto comunista; e punta a blindare la maggioranza - che si è accresciuta con la vera e propria compra e vendita di un discreto numero di parlamentari- con un rimpasto ministeriale con cui accomodare i nuovi arrivi. Intanto i processi al premier sono ripresi - dopo la sentenza della Corte Costituzionale che ha dichiarato parzialmente illegittimo il provvedimento sul “legittimo impedimento” che di fatto assicurava a Berlusconi una immunità totale; i legali del premier hanno fatto circolare le soluzioni più fantasiose per ottenere lo stesso risultato di liberarlo dai processi, dalla prescrizione più breve per gli ultrasessantacinquenni incensurati (ma guarda un po!) al ritorno per tutti dell’immunità parlamentare. Alla fine, anche a fronte di una opinione pubblica sempre più insofferente, il governo ha approvato un testo di riforma della giustizia che punta ad indebolire la magistratura -attenuando fra l’altro l’obbligatorietà dell’azione penale- e a depotenziare una delle armi investigative principali che è quella delle intercettazioni. Anche i poteri forti sembrano irrequieti: la presidente di Confindustria, Emma Marcegaglia, ha emesso critiche senza precedenti nei confronti della politica economica del governo; e Diego Della Valle ha sferrato un pesante attacco a Cesare Geronzi, presidente delle Generali, e vera colonna portante insieme al sottosegretario Gianni Letta, della struttura di potere di Berlusconi nei rapporti intercapitalistici. L’opposizione, vista per il momen-

Emma Marcegaglia

Diego Della Valle to sfumare la possibilità di elezioni anticipate a breve, sembra pensare a cucinare il governo a fuoco lento, ma senza aver trovato una strategia e proposte unificanti. Nonostante queste difficoltà il Partito Democratico ha raccolto milioni di firme che chiedono a Berlusconi di dimettersi, il che è un po’ come chiedere a un cane di diventare vegetariano.

Cesare Geronzi

Congiuntura Brasile.

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Il governo Dilma ha vinto con relativa facilità la prima prova in parlamento approvando il salario minimo secondo le regole definite con le centrali sindacali (inflazione dell’anno precedente - 2010 - più aumento del prodotto interno lordo di due anni prima - 2009); inoltre fino al 2014 l’adeguamento del salario minimo che influisce su tutti i meccanismi di indicizzazione dell’economia, sarà determinato, con le regole sopra descritte, con decreti governativi e non con leggi. A parte qualche defezione del PDT (Partido Democrático Trabalhista) del Ministro del Lavoro Carlos Luppi la base parlamentare governativa è stata compatta. Le centrali sindacali hanno con accenti diversi mugugnato e di fatto si sono divise. La Presidente Rousseff ha convocato in seguito tutte le centrali e ha riaperto i rapporti intanto invitandole a partecipare al pranzo ufficiale con il presidente Obama (una di quelle occasioni simboliche a cui erano invitati fino ad ora solo i rappresentanti degli

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imprenditori) e formalizzando un tavolo permanente di negoziazione che in particolare dovrà esaminare le aliquote dell’impostao di rendita, la riduzione dell’orario di lavoro, la presenza dei rappresentanti dei lavoratori nei consigli di amministrazione delle imprese controllate dallo stato. Il sindaco di San Paolo, Gilberto Kassab, ha deciso di uscire dai DEM e di fondare un nuovo partito il PSD (Partido Social Democrata) che dovrebbe in seguito fondersi con il Partido Socialista Brasileiro; Kassab ha come obiettivo, a qualsiasi costo, di eleggersi governatore di San Paolo nel 2014, mentre la base di appoggio del governo intende diminuire l’influenza dei partiti di opposizione anticipando già il gioco delle prossime elezioni presidenziali. Il governo, in parte sconfessando le promesse elettorali, ha presentato un piano di contenimento delle spese pari a 50 miliardi di reais per rispettare la meta di inflazione, risultato fino ad ora perseguito solo con l’aumento dei tassi di interesse. E mentre chiudiamo questo numero della rivista è giunto in visita il presidente Obama a cui la presidente Rousseff, nel discorso ufficiale di benvenuto, ha rivolto un discorso incentrato sulla relazione fra i due paesi basata sulla parità; ha ricordato l’antica rivendicazione del Brasile di un posto nelle Nazioni Unite como membro permanente così come la necessità di diminuire le barriere ai prodotti brasiliani che aumentano lo squilibrio nell’interscambio commerciale; infine ha sottolineato il fattore simbolico di essere stati eletti nelle due grandi potenze del continente americano un afro discendente e una donna.

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gastronomia

Pizza Para quem gosta de uma boa redonda

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uma lojinha pequeníssima, que mais parece um depósito, uma casa de receitas deliciosas – Pomona Pizzas, com a assinatura de Nino Nascimento. O cardápio possui mais de trinta sabores de pizzas divididas entre clássicas, tradicionais, especiais, cobertas e do-

ces, além de pães de calabresa e escarola, ciaccino, uma espécie de pizza coberta, corniccione, feito apenas com molho, alho, sal grosso e azeite, sem vestígio de muzzarela. Para a sobremesa cookies de chocolate belga ou de aveia, palha italiana e pizzas doces. O foco da Pomona Pizzas é a entrega em domicílio.

Ingredientes para a massa

175 g de farinha de trigo ¼ colher de chá de sal ½ colher de chá de açúcar 1 colher de chá de fermento seco granulado 150 ml de água mineral gelada (quantidade pode variar conforme a qualidade de farinha) 1 colher de sopa de azeite virgem 1 colher de chá de manteiga

Ingredientes para o recheio 180g de calabresa em fatias 200g de mussarela 100g de molho de tomate caseiro 10g de azeitona portuguesa 80g de cebola orégano a gosto

Modo de preparo Massa

Misture bem os ingredientes secos em um recipiente e metade da água, o azeite e a manteiga em outro. Em uma bancada, faça um monte com a mistura seca, abrindo um buraco no meio. Aos poucos, acrescentar a mistura líquida com uma mão, enquanto, com a outra, bate-se a massa até que esta fique homogênea. Acrescenta-se o restante da água até que se atinja a umidade ideal, que pode ser verificada quando se sente que a massa está úmida, macia e elástica e não gruda na mão quando manipulada. Deixe a massa descansar por uma hora em temperatura ambiente com um pano levemente úmido a protegendo. Divida em duas partes iguais, em formato de esferas. Proteja-as novamente com um pano levemente úmido. Deixe descansar por duas horas em temperatura ambiente. Com a ajuda de um rolo e farinha, estique as esferas até que atinjam aproximadamente o diâmetro de 35 cm.

Pizza

Pré-aqueça o forno a uma temperatura de 250oC. Em uma forma vazada, coloque a massa esticada. Espalhe o molho, em seguida, o queijo, a calabresa e a cebola. Coloque no forno o mais próximo possível da fonte de calor. Deixe assar até que as bordas estejam douradas, sem deixar que o fundo queime. Retire do forno, corte em oito fatias, espalhe o orégano e as azeitonas. Pomona Pizzas Rua Joaquim Palhares 513, loja C, Praça da Bandeira - Tel.: 21 3724-2020 Horário de funcionamento: de terça-feira a domingo, das 17h à meia-noite. www.pomonapizzas.com; twitter:@pomonapizzas Aceita todos os cartões de crédito e também Visa Vale.

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Itabira não é apenas uma fotografia na parede.

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Centro histórico

Confidências de um Itabirano (da obra Sentimento do Mundo) Carlos Drummond de Andrade Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

Serra dos Alves

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço: este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como.

Cachoeira

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equenina, charmosa e bucólica, a cerca de 100 km de Belo Horizonte, está ela lá - Itabira, com suas muitas riquezas: o ouro de aluvião em seus cursos d’água que se esgotou pela exploração, mas que fez surgir, em 1720, a cidade e o desenho histórico dos casarões e dos sobrados, característicos dos séculos XVIII e XIX, muito bem conservados; suas belezas naturais, tais como cachoeiras e afloramentos rochosos e, quem sabe, a riqueza maior, partilhada com todos os brasileiros, a poesia de Carlos Drummond de Andrade, materializada em suas ruas, praças e parques. Essa materialização se dá através do Memorial Carlos Drumond de Andrade, da Casa de Drummond, a qual integra o Museu de Território Caminhos Drummondianos. Há placas com poemas espalhadas por locais que inspiraram o poeta, seguindo-as é possível conhecer boa parte da cidade. A cidade é palco de diversos eventos, com destaque para o Festival de Inverno de Itabira, que se realiza há quase quatro décadas sem interrupções. Durante o mês de julho são promovidos espetáculos de teatro, dança, shows e diversas intervenções artísticas. Itabira se situa na vertente leste da Serra do Espinhaço, possuindo, por essa razão, localização privilegiada em meio aos campos rupestres e afloramentos rochosos do Espinhaço Meridional. A Cachoeira Alta, com sua queda de 110 metros, Cachoeira do Meio, Cachoeira Patrocínio Amaro e o Morro Redondo, marcam a paisagem do Distrito de Ipoema. A Mata do Limoeiro, além da vegetação exuberante remanescente de Mata Atlântica esconde, em seu interior, outras três quedas d’água de grande beleza cênica. O Museu do Tropeiro também é um importante marco de Ipoema e da Estrada Real, materializando a história dos tropeiros em Minas Gerais. O aconchegante e singular Povoado de Serra dos Alves, situado no “pé” da Serra do Espinhaço e no Distrito de Senhora do Carmo,

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conserva seus costumes mineiros típicos, hábitos simples e modo de vida tranqüilo característico desde a sua fundação, em 1850. Sua peculiaridade se deve às características coloniais do século XIX, suas festas religiosas tradicionais, manifestações culturais como a Marujada e, principalmente, à beleza cênica de sua paisagem. Localizam-se na Serra dos Alves o Canyon Boca da Serra, considerado local de grande beleza cênica e grande valor paisagístico, e o Canyon dos Marques, com diversos monumentos naturais e cachoeiras em seu interior, cachoeiras da Lucy, Véu da Noiva, entre outros atrativos naturais singulares. Vale lembrar que a natureza favorece várias práticas de esporte, como trekking e canyoning. Manifestações culturais não faltam. O Museu do Tropeiro realiza de abril a outubro, em noite de lua cheia, a Roda da Viola: contam-se casos, tocam-se sanfonas e violas. Nas palavras da gente da terra, Itabira é síntese de Minas: das Minas do ouro, do minério de ferro, das águas limpas e cristalinas, das montanhas com seus afloramentos rochosos, da diversidade de ecossistemas, da poesia. Itabira é terra da generosidade de um povo que constrói a sua história com afeto, determinação e transborda a felicidade de receber seus convidados com um jeito mineiro que encanta e deixa-os à vontade.

Igreja do Rosário

Morro Redondo

Fazenda do Pontal

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l i t e r a t u r a Marisa Oliveira

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onsiderado homem de idéias polêmicas, em especial no campo político e religioso, Christopher Hitchens, jornalista e escritor, decide escrever suas memórias: “Quando tive a ideia de escrever minhas memórias, tinha a preocupação comum de talvez ainda ser ‘cedo demais’. Nada dissolve mais rapidamente essa fusão de falsa modéstia e reticência natural do que a súbita percepção de que a qualquer momento o projeto poderia ser descartado por ter sido levado a cabo ‘tarde’ demais”. O resultado dessa decisão é uma obra biográfica rara, onde para falar de si mesmo e de sua vida, o autor recorre aos elementos que o formaram e que foram importantes na sua trajetória. E daí, haverá quem pergunte. E daí que do prólogo aos agradecimentos (postos ao final) o leitor é presenteado não somente com memórias, mas com uma escrita carregada de literariedade. Em cada capítulo foram desenhados pequenos romances, mesclados com elementos da categoria crônica, acrescidos do testemunho profissional do jornalista, graças a Deus (ôps!), parcial de grandes eventos que marcaram a segunda metade do

HITCH-22 Autor: Christopher Hitchens Tradução: Alexandre Martins Editora: Nova Fronteira Páginas: 592 Preço: R$ 69,90

século XX (isso porque suas ideias e opiniões passam ao largo da camisa de força do pensamento único; vão assinadas, algumas são dissonantes, mas deixam uma “coceira na mente” [p.93]. Dizer isso significa que Christopher Hitchens se pontifica literalmente como o homem e seu contexto. Parece não deixar para trás nenhuma poeirinha: o amor aos livros, a sexualidade no internato, as descobertas, as ignorâncias confessas, o suicídio da mãe, suas posições políticas, tudo dito com muita lucidez e coragem. Coragem, inclusive, é o que não lhe falta – não é qualquer um que, à esquerda dos regimes, no auge da guerra fria, levanta a voz para lançar dúvidas sobre a Cuba de Fidel Castro, sobre a guerra do Vietnã e Madre Teresa de Calcutá ao mesmo tempo que defende a presença americana no Iraque. O autor é apresentado como dono de uma retórica fascinante e um texto sofisticado. Confirma-se a qualificação, porém, acrescentem-se: a palavra exata e a definição perfeita. O tradutor honra a escrita de Hitchens.

Quem é Christopher Hitchens? Nascido em 1949, o britânico e cidadão americano Christopher Hitchens já foi apontado como um dos cem intelectuais mais relevantes do mundo. Escritor, jornalista, editor e crítico literário, contribui regularmente para as revistas Vanity Fair, The Atlantic Monthly e Slate, escrevendo ainda para veículos como The Weekly Standard, The National Review e The Independent. Atualmente, Hitchens vive em Washington, D.C. No Brasil, publicou pela Ediouro Amor, pobreza e guerra e Deus não é grande.

Mario de Andrade - Seus contos preferidos

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Mário de Andrade - Seus contos preferidos Org. e apresentação: Luiz Ruffato Editora: Tinta Negra Páginas: 312 Preço: R$ 39,90

onforme Luiz Ruffato, organizador da obra, um dos objetivos desta compilação é tornar público o gosto pessoal de Mário de Andrade, bem como prestigiar o gênero conto e valorizar os autores que tiveram participação fundamental em diversos momentos e movimentos da literatura brasileira. Bem de acordo com o espírito anárquico que Macunaíma nos revela, Mário de Andrade, em 1938, ao responder a um inquérito da Revista Acadêmica, na qualidade de membro da diretoria (assim como Oswald de Andrade, Graciliano Ramos e José Lins do Rego), sobre os dez melhores contos brasileiros, anota em sua resposta que os dez melhores são, pelo menos 23 (de 21 autores)! No olhar do organizador, a leitura dos contos revela a preferência temática de Mário, um apaixonado por desvendar o Brasil – o Planalto Central, os Pampas Gaúchos e o interior de São Paulo, o folclore e a cultura popular; o insólito, o incomum; e os contos urbanos, que refletem preocupações mais amplas,

como estudar o ser humano em suas manifestações mais diversas. Um retrato de época, seja pela escrita, pelas abordagens, pelos valores da sociedade intrinsicamente contidos em cada conto e seus personagens. Entre os autores escolhidos, então, temos Álvares de Azevedo, Machado de Assis (poule de 10!), com seus fantásticos O alienista, O enfermeiro e A causa secreta, Artur Azevedo, Valdomiro Silveira, Afonso Arinos, Lima Barreto, João do Rio, Monteiro Lobato, Menotti Del Picchia, Hugo de Carvalho, Marques Rebelo, para citar alguns. A mulher que pecou (Del Picchia), A galinha cega (João Alphonsus), Oscarina (Marques Rebelo), Ritinha (Léo Vaz), sem contar os contos do bruxo do Cosme Velho, são da lista do Mário de Andrade, os meus preferidos. E para cada leitor, as preferências alternar-se-ão, claro. O que não se alternará nessa obra é o sentido do retrato de um tempo, de um autor pelas suas escolhas, e da força da literatura brasileira na categoria contos.

Quem é Luiz Ruffato? LUIZ RUFFATO nasceu em Cataguases, Minas Gerais, em1961. É escritor e crítico literário. Publicou, entre outros, Eles eram muito cavalos, De mim já nem se lembra, Estive em Lisboa e lembrei de você e a série Inferno Provisório.

Quem é Mario de Andrade? Mário Raul de Moraes Andrade, paulistano, nascido em 1893, foi poeta, romancista, musicólogo, historiador e crítico de arte e fotógrafo. Um dos fundadores do modernismo brasileiro, praticamente criou a poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Paulicéia Desvairada em 1922. Andrade exerceu uma influência enorme na literatura moderna brasileira e, como ensaísta e estudioso - foi um pioneiro do campo da etnomusicologia - sua influência transcendeu as fronteiras do Brasil. Mario de Andrade é considerado a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos. Suas fotografias e seus ensaios, que cobriam uma ampla variedade de assuntos, da história à literatura e à música, foram amplamente divulgados na imprensa da época. Andrade foi a força motriz por trás da Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais no Brasil, tendo sido um dos integrantes do “Grupo dos Cinco”. As idéias por trás da Semana seriam melhor delineadas no prefácio de seu livro de poesia Paulicéia Desvairada e nos próprios poemas. Em 1928, Mario de Andrade publicou seu maior romance: Macunaíma.

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às compras

Dica do Rogerio* para a Páscoa A Páscoa vai chegando e o momento pede a benção de um Vinho Santo. Optamos pelo Vin Santo Del Chianti Classico DOC, elaborado na abadia Coltibuono. Este é um vinho doce, de sobremesa, que é servido em Florença, como manda a tradição, com um biscoito de amêndoas, o Cantuccini. Ele é bastante seco e você o mergulha no Vin Santo e come em seguida. Quando você se dá conta não há mais vinho para seu biscoito. Uma delícia! Os vinhos da abadia Coltibuono são de excelente qualidade, as vinhas são conduzidas em modo orgânico e são muito premiadas. Este Santo é de cor dourada intensa, com aromas de mel, damasco, frutas secas. Sua boa acidez torna o doce do açúcar bem agradável e equilibrado. Servir entre 14 e 18ºC. Outra opção na Mistral é o Vin Santo de Castello di Ama a R$115,37, ambos em garrafa de 375 ml. Onde encontrar: Vin Santo Del Chianti Clássico DOC Importador: Mistral Preço: R$164,75. Vin Santo de Castello di Ama Importador: Mistral Preço: R$115,37 www.mistral.com.br www.mistral.com.br

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Coloridos e alegres

Recém chegados na Alfaias, os panos de copa da ONG Refazer são de tecido 100% algodão, com aplicações em tecido e bordados à mão. Uma graça! Preço: R$ 29,90 (cada) Onde encontrar: Alfaias – Shopping da Gávea - rua Marquês de São Vicente, nº 52, 1º piso, Gávea, Rio de Janeiro; tel.: 2529-2698

Bom Assim (M.O.) Antonia Adnet , em seu primeiro cd, Discreta, é parte do Brasil pródigo de talentos musicais. A voz suave de Antonia, na primeira faixa, Carnavalzinho, aos meus ouvidos, soou, em alguns acordes como Nara Leão. Já ao cantar Dois, fez em alguns momentos, como Evinha, no Festival Internacional da Canção. Mas é ela: Antonia Adnet, com personalidade, luz própria, composição e arranjos maravilhosos - seus e um violão impecável. Ainda sobre a faixa Dois, o violão dedilhado me faz lembrar o rococó mineiro das ruas de Ouro Preto. Em Vai e Vem, o balanço da bossa nova, com um piano delicioso de Ricardo Rito. Vitrine, de Moacir Santos, além do arranjo, traz um sax lindo de Teco Cardoso, e o contrabaixo de Jorge Helder. Tudo perfeito! O primeiro choro é totalmente lírico e o Tema de Outono (ambas de Antonia), é para pensar, amar e curtir – um trombone que entra na hora certa, de Everson Moraes, um sax tenor impecável de Eduardo Neves, e as folhas que caem nostálgicas... Delicada e competente, a música de Antonia Adnet, honra seu DNA – é filha do compositor, violonista e maestro Mario Adnet e muitos de seus familiares são músicos. Roberta Sá afirma que a música de Antonia é brasileira e atual. Eu diria que é tão brasileira, que ouvir o Discreta, nos remete ao Brasil brasileiro de imagens, ícones e criação. Discreta Produção: Antonia e Mario Adnet Coord. e Dir. de Produção: Mariza Adnet Realização: Biscoito Fino Preço: R$ 32,00 (nos quiosques da Biscoito Fino)

Foto: Alex Sant’Anna

* Rogerio Rebouças

*Os preços são de março de 2011 e se referem à cidade de São Paulo e estão sujeitos à alteração.

Onde encontrar: Tok & Stok Rio Plaza Shopping, Rua General Severiano, 97, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, tel.: (21) 3344-6200

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Encarte especial Forum 103-104 - Introduzione alla lettura di brevi testi in Lingua Italiana - Fascicolo XLXIX

e n c a r t e f a s c i c o l o Símbolos utilizados  Informação histórica

 Expressão - locução  “Falsos amigos” ou falsas analogias  Ao fim do parágrafo, há uma janela

Gírias ou expressões fixas

Anglicismos e neologismos

di brevi testi in Lingua Italiana

 Dialetos

a cura di Cristiana Cocco

“Acciaio” di Silvia Avallone. Edizioni Rizzoli.

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Nel cerchio sfocato della lente la figura si muoveva appena, senza testa. Uno spicchio1 di pelle zoomata in controluce. Quel corpo da un anno all’altro era cambiato, piano, sotto i vestiti. E adesso nel binocolo, nell’estate, esplodeva. L’occhio da lontano brucava2 i particolari: il laccio del costume, del pezzo di sotto3, un filamento di alghe sul fianco. I muscoli tesi sopra il ginocchio, la curva del polpaccio, la caviglia sporca di sabbia. L’occhio ingrandiva e arrossiva a forza di scavare nella lente. Il corpo adolescente balzò fuori dal campo e si gettò in acqua. Un istante dopo, riposizionato l’obiettivo, calibrato il fuoco, ricomparve munito di una splendida chioma bionda. E una risata così violenta che anche da quella distanza, anche soltanto guardandola, ti scuoteva. Sembrava di entrarci davvero, tra i denti bianchi. E le fossette4 sulle guance, e la fossa tra le scapole, e quella dell’ombelico, e tutto il resto. Lei giocava come una della sua età, non sospettava di essere osservata. Spalancava la bocca. Cosa starà dicendo? E a chi? Si iniettava dentro un’onda, riemergeva dall’acqua con il triangolo del reggiseno in disordine. Una puntura di zanzara sulla spalla. La pupilla dell’uomo si restringeva, si dilatava come sotto l’effetto di stupefacenti5. Enrico guardava sua figlia, era più forte di lui. Spiava Francesca dal balcone, dopo pranzo, quando non era di turno alla Lucchini. La seguiva, se la studiava attraverso le lenti del binocolo da pesca. Francesca sgambettava sul bagnasciuga con la sua amica Anna, si rincorrevano, si toccavano, si tiravano i capelli, e lui lassù, fisso con il sigaro in mano, sudava. Lui gigantesco, con la canotta fradicia6, l’occhio sbarrato, impegnato nella calura7 pazzesca. La controllava, così almeno diceva, da quando aveva cominciato ad andare al mare con certi ragazzi più grandi, certi elementi che gli ispiravano nessuna fiducia. Che fumavano, che di sicuro si facevano anche le canne8. E quando lo diceva alla moglie, di quegli sbandati che frequentava sua figlia, gridava come un ossesso. Si fanno le canne, si fanno di coca, spacciano9 le pasticche, quelli là si vogliono scopare mia figlia10! Quest’ultima cosa non la diceva esplicitamente. Tirava un pugno sul tavolo o nel muro. Ma forse aveva preso l’abitudine di spiare Francesca da prima: da quando il corpo della sua bambina si era come desquamato e aveva assunto gradualmente una pelle e un odore preciso, nuovo, forse, primitivo. Aveva, la piccola Francesca, cacciato fuori un culo e un paio di tette irriverenti. Le ossa del bacino si erano arcuate, formando uno scivolo tra il busto e l’addome. E 1 Spicchio em italiano significa ‘gomo’. Aqui assume o significato de ‘parte de algo maior’, ou seja do corpo da adolescente. 2 Visto che questo verbo si usa per gli animali erbivori, che strappano l’erba a piccoli morsi per mangiarla (tipo le pecore), bisogna immaginare quest’immagine metaforica dal punto di vista umano. 3 Sarebbe ‘da parte debaixo do biquini’. 4 Sono quelle piccole infossature sulle guance o sul mento. 5 Droghe 6 Versione familiare del termine ‘canottiera’, ossia maglietta senza maniche.

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Introduzione alla lettura

com informações fora do texto 

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lui era il padre. In quel momento osservava sua figlia dimenarsi dentro il binocolo, slanciarsi con tutta se stessa in avanti per acchiappare una palla. I capelli zuppi11 aderivano alla schiena e ai fianchi, alla distesa della pelle intarsiata di sale. Gli adolescenti giocavano a pallavolo in cerchio, intorno a lei. Francesca slanciata e in movimento, in un unico clamore di grida e schizzi dove l’acqua era bassa. Ma Enrico non si occupava del gioco. Enrico stava pensando al costume di sua figlia: Cristo, si vede tutto. Costumi del genere andrebbero proibiti. E se solo uno di quei bastardi fottuti si azzarda a toccarla, scendo in spiaggia con un randello12. «Ma cosa fai?» Enrico si voltò verso la moglie che lo stava osservando in piedi, al centro della cucina, con un’espressione avvilita. Perché Rosa avviliva, rinsecchiva, a vedere suo marito alle tre del pomeriggio con il binocolo in mano. «Controllo mia figlia, se permetti.» Sostenere gli occhi di quella donna a volte non era facile neppure per lui. C’era un’accusa costante, conficcata dentro le pupille di sua moglie. Enrico increspò la fronte, deglutì: «Mi sembra il minimo…». «Sei ridicolo» sibilò lei. Lui guardò Rosa come si guarda una cosa fastidiosa, che fa imbestialire e basta. «Ti sembra ridicolo tenere d’occhio mia figlia, coi tempi che corrono? Non lo vedi con che gente va al mare? Chi sono quei tipi là, eh?» A quell’uomo, quando dava in escandescenze – e succedeva molto spesso – gli si congestionava la faccia, si gonfiavano le vene del collo in un modo che faceva paura. Quando aveva vent’anni, prima che si lasciasse crescere la barba e mettesse su13 tutti quei chili, non ce l’aveva la rabbia. Era un bel ragazzo appena assunto alla Lucchini, che fin da bambino si era scolpito i muscoli a forza di zappare la terra. Si era fatto un gigante nei campi di pomodori, e poi spalando carbon coke. Un uomo qualunque, emigrato dalla campagna in città con uno zaino in spalla. «Non ti rendi conto di quello che combina, alla sua età… E come cazzo va in giro conciata14!» Poi, negli anni, era cambiato. Giorno dopo giorno, senza che nessuno se ne accorgesse. Quel gigante che non aveva mai varcato i confini della Val di Cornia, che non aveva mai visto nessun altro straccio d’Italia, si era come congelato dentro. «Rispondi! Lo vedi come cazzo va in giro tua figlia?» Rosa si limitò a stringere più forte lo strofinaccio con cui aveva appena asciugato i piatti. Rosa aveva trentatrè anni, le mani piene di calli, e dal giorno del suo matrimonio si era lasciata andare. La sua bellezza di ragazza meridionale era finita in E’ un caldo pazzesco, specialmente estivo. Sigarette di marijuana. 9 Il verbo ‘spacciare’ corrisponde al portoghese ‘traficar’. 10 Letteralmente “Querem transar com nossa filha”. 11 Ossia ‘molto bagnati’. 12 Un bastone corto e tozzo, ossia grosso e largo in modo eccessivo rispetto all’altezza 13 Nel senso di ‘ingrassasse’. 7 8

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Silvia Avallone è nata a Biella l’11 aprile 1984; vive a Bologna dove si è laureata in Filosofia. Nel 2007 ha vinto il Premio Alfonso Gatto con la raccolta di poesie Il libro dei vent’anni

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(Edizioni della Meridiana). Con il romanzo Acciaio (Rizzoli) si è classificata seconda al Premio Strega nel 2010.

mezzo ai detersivi, nel perimetro di quel pavimento lavato tutti i giorni da dieci anni. Il suo silenzio era duro. Uno di quei silenzi fermi, d’attacco. «Chi sono quei ragazzi, eh? Li conosci?» «Sono dei bravi ragazzi…» «Ah, allora li conosci! E perché non mi dici niente? Perché in questa casa non mi si dice mai niente, eh? Francesca con te parla, vero? Sì, con te sta ore e ore a parlare…» Rosa gettò lo strofinaccio sul tavolo. «Chiediti il motivo» soffiò, «perché con te non parla.» Ma lui non la stava già più a sentire. «A me non viene detto niente! A me non mi si dice mai niente, maremma cane!» Rosa si chinò sulla bacinella con l’acqua sporca. Alcune sue coetanee, d’estate, andavano ancora in discoteca. Lei non ci era mai stata. «E cosa sono, io? Scemo? Ti sembro scemo? Che va in giro come una puttana! E tu come la cresci, eh? Brava! Ma io un giorno o l’altro…» Sollevò la bacinella e la vuotò nell’acquaio del balcone, gli occhi fissi sui grumi neri nel vortice dello scarico. Avrebbe voluto vederlo morire, stramazzare al suolo agonizzante. «Vi mando in culo io, a te e a lei! Lavoro per cosa? Per te? Per quella puttana?» E passargli sopra con l’auto, triturarlo sull’asfalto, ridurlo a una poltiglia15, al verme che era. Anche Francesca avrebbe capito. Ammazzarlo. Se non lo avessi amato, se mi fossi cercata un lavoro, se dieci anni fa fossi uscita di qui. Enrico le voltò le spalle e protese il corpo gigantesco dalla balaustra, nel sole che alle tre del pomeriggio pesa come l’acciaio e calpesta tutto. La spiaggia, dall’altra parte della strada, si affollava di ombrelloni e di grida. Un carnaio16, pensò. E riaccese il mozzicone di toscano17 che teneva fra le dita. Dita tozze, rosse e callose. Le dita di un operaio che non usa i guanti, neppure quando deve misurare la temperatura della ghisa. Da una parte c’era il mare, invaso di adolescenti in quell’ora bestiale. Dall’altra il muso piatto dei casermoni popolari. E tutte le serrande abbassate lungo la strada deserta. I motorini allineati sui marciapiedi erano parcheggiati di traverso, ciascuno con il suo adesivo, con la sua

scritta di Uniposca: “France ti amo”. Il mare e i muri di quei casermoni, sotto il sole rovente del mese di giugno, sembravano la vita e la morte che si urlano contro. Non c’era niente da fare: via Stalingrado, per chi non ci viveva, vista da fuori, era desolante. Di più: era la miseria. Un balcone più sopra, al quarto piano, un altro uomo si sporgeva dalla ringhiera arrugginita e guardava verso la spiaggia. Lui ed Enrico erano le sole figure umane affacciate. Il sole tramortiva18. E l’intonaco se ne cadeva a pezzi. L’ometto, a torso nudo, aveva chiuso in quel momento lo sportellino del cellulare. Un nano, in confronto al gigante con il binocolo del terzo piano. Durante l’intera telefonata aveva gridato: non perché fosse arrabbiato, ma perché quello era il suo tono di voce. Aveva parlato di soldi, di cifre astronomiche, e non aveva distolto un attimo gli occhietti vispi dalla spiaggia, cercando qualcosa che da quella distanza, senza occhiali, non poteva trovare. «Un giorno di questi ci vado anch’io al mare. E chi me lo vieta? Dopotutto sono stato licenziato» ridacchiò fra sé e sé, a voce alta. Dall’interno della casa si sentì un urlo. «Cosaaa?» «Niente!» rispose lui, dopo essersi ricordato di avere una moglie. Sandra comparve sul terrazzino con il mocio19 grondante di ammoniaca. «Artù!» gridò brandendo il mocio. «Cos’è, sei impazzito?» «Ma scherzavo!» fece un gesto con la mano. «Ti sembrano scherzi da fare? In questo momento, che dobbiamo pagare la lavastoviglie, le rate dell’autoradio di tuo figlio… Un milione e passa per un’autoradio!, dico io, e questo si mette anche a far battute…» Non era una battuta. Si era fatto sgamare20 sul serio alla Lucchini a rubare taniche di gasolio. «Spostati, vai. Che devo passare il cencio.» Da quando era stato assunto, Arturo fotteva21 il gasolio al signor Lucchini, così, tanto per fare il pieno e rivenderne un po’ ai contadini. Non se n’era mai accorto nessuno, per tre anni. E adesso, porca puttana… «T’ho detto spostati, che ‘sto

“... e de como ela anda vestida por aí”. La poltiglia è un miscuglio semiliquido di sostanze varie, in genere di aspetto disgustoso. In questo caso, sarebbe di ossa, sangue, muscoli... del marito! 16 Nella sua prima accezione, la parola carnaio significa ‘un ammasso di cadaveri’. Invece nella seconda, ‘luogo sovraffollato’, ossia molto pieno.

In portoghese sarebbe ‘a guimba do charuto’. Era così caldo che faceva perdere le forze e i sensi, ossia ‘cadere come morto’. 19 Il mocio è un tipo di straccio per lavare i pavimenti che si spreme dentro al secchio in un apposito spazio. 20 Scoprire 21 In linguaggio familiare ‘rubava’.

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Encarte especial Forum 103-104 - Introduzione alla lettura di brevi testi in Lingua Italiana - Fascicolo XLXIX

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pavimento fa pena.» Si levò di torno fischiettando. Entrò in cucina. Era un ometto allegro, espansivo: aveva un sacco di amici. Lo licenziavano, era pieno di debiti e lui fischiettava. Afferrò una nespola dal cesto sul tavolo, l’addentò trasognato. Fruttificava nella sua testa incredibili affari: di quelli zero stress – tutto guadagno. «Finiscila di pulire. Sempre a pulire stai!» «Eh… Perché? Sennò pulisci tu?» Arturo aveva conosciuto, saltuariamente, le fatiche del lavoro: quelle che sua moglie testava con rigore dall’età di sedici anni e che, per esempio, avevano permesso loro di pagare ogni mese l’affitto e di allevare due figli. Era stato, in ordine cronologico: borseggiatore22, operaio alla Lucchini, alla Dalmine, alla Magona d’Italia, e poi caporeparto ancora alla Lucchini. Nato a Procida, a diciannove anni era emigrato a Piombino per lavorare in fabbrica, una nuova esistenza: finalmente legale, onesta. Riteneva gli iscritti alla FIOM degli sfigati23. Una sola certezza nella vita: lavorare stanca. «Anna? È al mare?» «Sì, con Francesca.» «E Alessio?» Sì: domani avrebbe vinto a poker e poi, con i soldi vinti, avrebbe fatto affari. Se lo sentiva. Come si dice? È il destino. E a Sandra, con gli affari, avrebbe comprato un diamante, un… Come si chiama? Un De Beers… un “per sempre”. «Penso sia al mare pure lui.» «Gli devo fare un discorso, a tuo figlio. Vuole comprarsi a tutti i costi la Golf GT… Che bisogno c’è della Golf GT?» Sandra sollevò la testa dal pavimento già asciutto, e rimase così, nella luce – «Lascialo parlare, tanto i soldi non ce li ha» – a sudare per qualche istante. Rientrò in casa e si sedette al tavolo di cucina. Prese a osservare attentamente suo marito: in tanti anni non era cambiato. «Da domani…» diceva sempre, e lei ogni volta ci cascava. «Tuo figlio vota Forza Italia» disse Sandra facendo finta di sorridere, «vuole il macchinone, mica la giustizia sociale. Vuole apparire, fare lo sborone… Ma tu da che pulpito parli, scusa, che c’hai una macchina da cinquanta milioni. A proposito, l’hai pagato il bollo?» «Il bollo?» Il sorriso finto le passò subito dal viso: «Prima di pensare ai soldi di tuo figlio, pensa a non giocarti i tuoi». «Mo’24 ricominciamo?» Arturo gonfiò le guance e sbuffò come un toro. «Sì, proprio: mo’ ricominciamo.» Sandra schizzò in piedi e prese a turbinare le braccia nell’afa che ristagnava in cucina. «È inutile che fai lo scocciato, sai. Non mi prendi per il culo. Che fine ha fatto il tuo ultimo stipendio?» «Sandra!» «Non ci è manco arrivato in banca! Te lo sei giocato, dillo! Ancor prima di metterlo in banca, lui se l’è giocato… Non c’ho mica scritto “gioconda” qui, sai?25» Si battè l’indice sulla fronte sudata, con i ricci arrotolati nei bigodini e le sopracciglia mal depilate. Arturo allargò le braccia. «E dammi un bacio…» Faceva sempre così, quell’uomo. Quando non sapeva più dove aggrapparsi, diventava affettuoso. I due scomparvero nel ventre della casa. Adesso anche la tapparella dei coniugi Sorrentino era rotolata giù come le altre del palazzo (tutte eccetto una). Era rotolata giù inceppandosi a metà. «Quando la aggiusti la tapparella, Artù?» Silenzio. Poi dal bagno si sentì scorrere l’acqua dal rubinetto, il rumore di una lametta sul bordo del lavandino. E Arturo cominciò a cantare. La sua preferita: Maracaibo, mare forza nove, fuggire sì ma dove? Za-zà. Alle tre del pomeriggio, a giugno, gli anziani e i bambini si mettevano a letto. Fuori la luce arroventava tutto. Le casalinghe, i pensionati in tuta acetata sopravvissuti all’altoforno26, chinavano il capo asfissiati davanti al televisore. Dopo pranzo la facciata di quei casermoni Chi ruba denaro o altri oggetti di valore dalle tasche o borse altrui. Sfortunati. 24 Nell’italiano regionale centro-sud si usa molto di più mo’ di ora o adesso. 25 Si dice ‘gioconda’ nel senso di ‘idiota, cretina’. 26 I pensionati usano tute in un tessuto acrilico e sopravvivono al caldo infernale, chiamato metaforicamente ‘altoforno’. 27 Le natiche, sempre in linguaggio familiare e regionale. 22 23

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tutti uguali, uno attaccato all’altro, assomigliava alla parete dei loculi impilati in un cimitero. Donne coi polpacci gonfi e le chiappe27 ballonzolanti sotto il grembiule scendevano in cortile e sedevano all’ombra intorno a tavoli di plastica. Giocavano a carte. Sventolavano i ventagli furiosamente e parlavano perlopiù di niente. I mariti, se non erano al lavoro, non mettevano il naso fuori di casa. Se ne stavano svaccati a petto nudo a grondare sudore, cambiavano canale con il telecomando. Manco li ascoltavano, gli stronzi della televisione. Guardavano solo le veline, le sgualdrine28 che erano l’esatto contrario delle loro mogli. Il prossimo anno lo metto il condizionatore, almeno in salotto. Se domani non mi pagano lo straordinario, giuro che mi incazzo. Arturo si radeva il mento e cantava una canzonetta della sua infanzia, quando l’edilizia popolare aveva costruito i casermoni davanti alla spiaggia per gli operai delle acciaierie. Anche i metalmeccanici, secondo le idee della giunta comunista, avevano diritto a una casa con vista. Vista mare, non vista fabbrica. Dopo quarant’anni tutto era cambiato: c’erano i prezzi in euro, la tv a pagamento, i navigatori satellitari, e non c’erano più né la DC né il PCI. Era tutta un’altra vita adesso, nel 2001. Ma restavano in piedi i casermoni, la fabbrica, e anche il mare. La spiaggia di via Stalingrado, a quell’ora, era gremita fino all’orlo di ragazzini urlanti, borse frigo, ombrelloni accatastati uno sull’altro. Anna e Francesca prendevano la rincorsa sulla riva, cadevano in acqua con un grido vittorioso schizzando ovunque. Intorno, sciami di adolescenti si lanciavano con tutti i muscoli tesi verso un frisbee o una pallina da tennis. Molti dicevano che quella spiaggia era brutta perché non c’erano stabilimenti, la sabbia si mescolava alla ruggine e alle immondizie, in mezzo ci passavano gli scarichi, e ci andavano soltanto i delinquenti e i poveri cristi delle case popolari. Cumuli e cumuli di alghe che nessuno dal Comune dava l’ordine di rimuovere. Di fronte, a quattro chilometri, le spiagge bianche dell’isola d’Elba rilucevano come un paradiso impossibile. Il regno illibato dei milanesi, dei tedeschi, i turisti satinati in Cayenne nero e occhiali da sole. Ma per gli adolescenti che vivevano nei casermoni, per i figli dei nessuno che colavano sudore e sangue alle acciaierie, la spiaggia davanti casa era già il paradiso. L’unico veramente vero. Quando il sole scioglieva l’asfalto, l’afa29 ammorbava e le tossi espulse dalle ciminiere della Lucchini ristagnavano sopra la testa, quelli di via Stalingrado andavano al mare scalzi. C’era solo da attraversare la strada, e si gettavano in mare di pancia. Anna e Francesca nessuno le aveva mai viste uscire dall’acqua. Faceva impressione guardarle, come nuotavano parallele fino all’ultima boa. Sarebbero arrivate all’Elba un giorno – a nuoto, dicevano loro – e poi non sarebbero più tornate. I ventenni, prima di bagnarsi, si radunavano al bar in larghi cerchi. Si spostavano in branchi30, e il branco si coagulava di solito intorno a qualcosa di elementare: il numero civico del palazzo, il grado di violenza dell’attività lavorativa, la qualità delle sostanze stupefacenti e, infine, il tifo per la squadra di calcio. Loro non smaniavano di tuffarsi in mare come i tredicenni. Prima lo spritz, il cicchino31, una partita a poker. Avevano pettorali e addominali, oppure enormi panze trasbordanti. Erano come divinità olimpiche. E mentre i loro fratellini andavano in delirio per una marmitta truccata32, per la discoteca in cui non potevano entrare, quelli spadroneggiavano con la voce e con le botte, su bolidi dotati di alettoni che il sabato 28 Le veline sono le presentatrici televisive, qui paragonate a puttane (sgualdrine) dalla voce narrante. 29 In portoghese ‘o mormaço’. 30 Di solito si usa questo termine (branco) per gli animali, significando gruppo [bando]. 31 Lo spritz è un aperitivo alcolico, il ‘cicchino’ è un bicchierino di liquore, chiamato anche ‘cicchetto’.

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sera – i finestrini abbassati e il gomito fuori – sfioravano i centonovanta chilometri orari. Anche le femmine menavano. Menavano soprattutto se c’era in ballo un maschio figo tipo Alessio. L’estate era l’occasione, la passerella tra le cabine con i capelli sciolti. Per chi poteva permetterselo, per chi aveva l’età e il corpo per farlo. L’amore dentro la cabina buia. Senza ragionarci, senza preservativo, e chi restava incinta e lui se la teneva, aveva vinto. «Manca poco ormai» si bisbigliavano Francesca e Anna. Quando una ragazza grande arrivava in spiaggia in sella a uno scooter fiammante, la sbalzavano via con l’immaginazione e si mettevano a cavalcioni al suo posto. «Manca poco», quando il sabato sera le altre uscivano con i brillantini sulle guance, il lucidalabbra e i tacchi alti, e loro restavano in casa a provarsi i vestiti con lo stereo a tutto volume. Il mondo doveva ancora venire. Il mondo arriva con i quattordici anni. Si fiondavano dentro la schiuma dell’onda, insieme, se un traghetto passava e la pelle del mare si increspava sul serio. Di loro si parlava già da un paio d’anni, al bar, intorno ai tavoli dei ragazzi più grandi: si diceva che non erano male per niente. Aspetta che crescano e vedrai. Anna e Francesca, tredici anni quasi quattordici. La mora e la bionda. Laggiù, in mezzo a tutti quei maschi, quegli occhi, quei corpi, che nell’acqua retrocedevano allo stato indifferenziato, di corpo muto ed entusiasta. Giocavano a rubare il pallone, proprio quando un ragazzo lo stava per calciare in porta. Una porta fatta con due pali di legno conficcati nel bagnasciuga. E una fiammata che vuole affermare il gol. Correvano nella folla, si voltavano a guardarsi, si prendevano per mano. Sapevano di avere la natura dalla loro parte, sapevano che era una forza. Perché in certi ambienti, per una ragazza, conta solo essere bella. E se sei una sfigata, non fai vita. Se i ragazzi non scrivono sui piloni del cortile il tuo nome e non ti infilano bigliettini sotto la porta, non sei nessuno. A tredici anni vuoi già morire. Anna e Francesca schizzavano sorrisi di qua e di là. Nino, che se le portava a cavalcioni sulle spalle, sentiva il loro sesso caldo dietro la nuca. Massimo, prima di scaraventarle in acqua, le assediava con il solletico e i morsi. Davanti a tutti. E loro si facevano fare tutto dal primo che passa, senza il minimo scrupolo, senza la minima cognizione. Così, con il mondo a portata di mano, alla faccia di chi restava a guardare. Ma non erano le sole, a provare certe cose nuove nel corpo. Anche le sfigate, le racchie33 come Lisa rintanata nel suo asciugamano, avrebbero voluto rotolarsi sul bagnasciuga davanti a tutti e correre a perdifiato nell’acqua. Nella corsa di Anna e Francesca, che urtavano braccia, sorrisi e palline da tennis, con il sopra del costume mezzo sciolto, c’era una sfida. E chi le stava a guardare gli invidiava quel seno, il culo, il sorriso spudorato che diceva: io esisto. La sabbia nell’acqua bassa si mescolava alle alghe, diventava una polpa. Correvano, la bionda e la mora, nel mare. Si sentivano frugare dagli occhi maschili. Era quello che volevano, essere guardate. Non c’era un perché preciso. Giocavano, si vedeva, ma facevano anche sul serio. La mora e la bionda. Loro due, sempre e solo loro due. Quando uscivano dall’acqua si tenevano per mano come i fidanzati. E al bagno del bar entravano insieme. Sfilavano su e giù per la spiaggia, voltandosi prima una poi l’altra quando ricevevano un apprezzamento. Te la facevano pesare, la loro bellezza. La usavano con violenza. E se Anna, ogni tanto, ti salutava anche se eri sfigata, Francesca non salutava mai, non sorrideva mai. Tranne ad Anna. 32 Falso amico del portoghese, marmitta è il ‘cano de descarga’ di una macchina, una moto... e l’aggettivo ‘truccata’ si potrebbe tradurre, rispettando un parallelo con il gergo giovanile brasiliano, come ‘envenenada’. 33 Una racchia è una ragazza o donna molto brutta.

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ei casermoni di via Stalingrado a Piombino avere quattordici anni è difficile. E se tuo padre è un buono a nulla o si spezza la schiena nelle acciaierie che danno pane e disperazione a mezza città, il massimo che puoi desiderare è una serata al pattinodromo, o avere un fratello che comandi il branco, o trovare il tuo nome scritto su una panchina. Lo sanno bene Anna e Francesca, amiche inseparabili che tra quelle case popolari si sono trovate e scelte. Quando il corpo adolescente inizia a cambiare, a esplodere sotto i vestiti, in un posto così non hai alternative: o ti nascondi e resti tagliata fuori, oppure sbatti in faccia agli altri la tua bellezza, la usi con violenza e speri che ti aiuti a essere qualcuno. Loro ci provano, convinte che per sopravvivere basti lottare, ma la vita è feroce e non si piega, scorre immobile senza vie d’uscita. Poi un giorno arriva l’amore, però arriva male, le poche certezze vanno in frantumi e anche l’amicizia invincibile tra Anna e Francesca si incrina, sanguina, comincia a far male. Attraverso gli occhi di due ragazzine che diventano grandi, Silvia Avallone ci racconta un’Italia in cerca d’identità e di voce, apre uno squarcio su un’inedita periferia operaia nel tempo in cui, si dice, la classe operaia non esiste più. E lo fa con un romanzo potente, che sorprende e non si dimentica. (libriblog.com) L’estate del 2001, nessuno la può dimenticare. Anche il crollo delle Torri fu, in fondo, per Anna e Francesca, parte dell’orgasmo che provarono nello scoprire che il loro corpo stava cambiando. Ormai, una sola tapparella era rimasta sollevata. Un solo uomo sudava affacciato al balcone con il binocolo in mano. Enrico si ostinava a cercare la testa bionda di sua figlia tra le onde, in mezzo ai corpi degli altri adolescenti che giocavano a pallavolo, a calcio, a racchette. In quel garbuglio34 di braccia, seni e gambe, isolava il busto di Francesca dentro la lente, lo metteva a fuoco, ne fissava in uno stato di allerta animale i movimenti a contatto con il mare. La schiena di Francesca, coperta dai capelli biondi inzuppati d’acqua. Il sedere rotondo: una cosa che non si dovrebbe guardare, che nessuno dovrebbe guardare mai. E invece guardava, Enrico, grondando di sudore. Quel corpo slanciato e perfetto che sua figlia aveva cacciato35 fuori, di punto in bianco36, alla vista di tutti.

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Garbuglio è sinonimo di groviglio, intrico, anche in senso figurato. In portoghese ‘emaranhado’. Cacciare qui nel senso non di ‘mandare via’ ma di ‘cacciare fuori’ossia ‘mostrare’. All’improvviso.

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e m i g r a z i o n e O espaço de duas páginas é muito pequeno para contar as histórias de Giorgio Veneziani. Italiano, nascido em Bassano del Grappa, criado em Torino, e emigrado ao Brasil, aos 22 anos, motivado pelo novo, pelo desafio, pelas condições do mercado italiano de trabalho do período pós-guerra e pela paixão pela prima Nelli, que residia no Rio de Janeiro, e pela qual se apaixonou quando ela esteve na Itália a passeio. Pois bem, não bastasse isso, engenheiro civil, funcionário da Sociedade Marmífera Brasileira, Giorgio Veneziani, participou da construção de Brasília, tornando-se um dos primeiros 20 engenheiros e o primeiro italiano a residir na nova capital federal, mantendo, até hoje, vínculos estreitos de amizade com o arquiteto Oscar Niemeyer. Casado com Nelli, Giorgio tem três filhos, Claudio, Regina e Mario, e uma vida repleta de realizações.

FD - Sr. Giorgio, o sr. é natural de que cidade/região italiana? Fale um pouco da sua cidade/região. GV – Meu pai era oficial da Regia Guardia di Finanza, uma corporação militar, que, na Itália, é responsável por todas as atribuições que aqui são delegadas à Receita Federal, Alfândega, combate ao contrabando e proteção das fronteiras. Por conta dessa função ele era transferido com bastante freqüência. Assim, meus irmãos mais velhos nasceram em Caprino Veronese, no Vêneto, outros três na Ligúria e eu, finalmente, no dia 23 de junho de 1926, nasci em Bassano Del Grappa (Vêneto). Entretanto, quando eu tinha dois anos, meu pai foi promovido a major e transferido para Torino, no Piemonte. E foi nessa cidade que passei minha infância e juventude até emigrar para o Brasil. Por isso considero Torino como minha cidade mãe adotiva. Torino é bela, espaçosa, com alamedas (corsi) amplas e arborizadas; é atravessada pelo rio Pó, o maior rio da Itália; encontra-se deitada ao pé de colinas cheias de bosques e coroada, ao longe, pela cadeia dos

“Nunca

pensei em voltar atrás

Giorgio Veneziani

Alpes, daí o nome da região: Piemonte (aos pés dos montes). Tem uma planície fértil, produz ótimos vinhos, excelentes queijos, castanhas, frutas, verduras e carnes bovinas e equinas. FD - Em que ano o sr. chegou ao Brasil? Por que escolheu o Brasil? GV- Cheguei ao Brasil em 1948. E isso se deu porque um tio, que havia emigrado para o Brasil e já estava estabelecido como dono de uma empresa de mármores e granitos – a Sociedade Marmífera Brasileira, empresa essa responsável por diversas obras de grande importância (Palácio Capanema), inclusive relativas ao governo de Getúlio Vargas, viajou à Itália com a mulher e as duas filhas. Fui escolhido como guia dessa prima e desse contato resultou uma forte atração sentimental, um amor que duraria para o resto da vida. E esse fator contribuiu fundamentalmente quando meu tio convidou para vir para o Brasil para trabalhar com ele: aceitei imediatamente o convite. FD - Como foi chegar aqui, isto é, deixar sua terra natal, atravessar um oceano, aportar

Giorgio Veneziani em Brasília (1959) 820

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Giorgio Veneziani Cronologia de Alguns Fatos Relevantes 1942 – ingressa no movimento antifascista 1944 - torna-se Partigiano Combattente 1945 – desliga-se do Corpo de Voluntários da Liberdade e filia-se ao Partido Socialista Italiano 1948 – estudante do quarto ano de Engenharia Civil do Politécnico de Torino, é contratado pela Sociedade Marmífera Brasileira, empresa operante no setor de mineração e beneficiamento de pedras ornamentais e emigra para o Rio de Janeiro/Brasil. 1950 – casa-se com Nelli Napoli 1952- nasce Claudio, seu primeiro filho 1953 – ingressa na Escola Politécnica da Universidade Católica do Rio de Janeiro para concluir o curso de Engenharia Civil 1956 – conclui o curso de Engenharia Civil 1957 – nasce Regina, sua filha 1957 a 1962 – muda-se para Brasília com a família para participar da construção da nova capital federal, passando a morar nos acampamentos dos canteiros de obras; foi responsável pelo revestimento em mármores e granitos das

em terras desconhecidas? Com que sentimento o sr. viveu essas experiências? GV - Em casa a notícia não foi bem recebida pela minha mãe, mas meu pai me deu muita força. Eu cursava o quarto ano de Engenharia Civil no Politécnico de Torino. As perspectivas de trabalho no pós-guerra não eram boas. Eu tinha curiosidade pelo novo e aceitei o desafio. Juntei o útil ao agradável. A separação da família não foi fácil. Generoso, meu tio me mandou uma passagem de primeira classe e eu embarquei, em 12 de agosto de 1948, no navio Santa Cruz, que era um navio português, fretado, pela Companhia Itália, pois o país ao final da guerra havia ficado praticamente sem navio. O momento em que o navio tocou as sirenes para zarpar ficou marcado para sempre na memória. A lenta saída do navio, os irmãos e mais um caríssimo amigo de escola, Mario Gastaldi, no cais acenando, dando o adeus, foi uma coisa muito sentida. Em Torino deixei meus parentes, os amigos da infância e da juventude, os companheiros da resistência, os colegas de colégio e da faculdade. Lá ficou a saudade das montanhas, da neve, dos passeios pela cidade na saída das aulas, com passagem obrigatória pelos bares

seguintes obras: Palácio da Alvorada, Palácio do Planalto, Palácio do Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional, Palácio do Itamaraty, Palácio do Buriti, Catedral, Sede do Banco do Brasil, Ministério do Exército, Pantheon da Pátria. 1984 – passa a fazer parte do Conselho Diretor da Câmara de Comércio Ítalo-Brasileira do Rio de Janeiro, do qual é membro permanente até hoje 1993- recebe do governo italiano o grau de Comendador da Ordem ao Mérito da República Italiana 1999 – recebe, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, na condição de representante da Resistência Italiana ao Facismo, uma Moção de Louvor e Reconhecimento aos combatentes da Resistência Italiana ao Fascismo 2004 – é eleito membro da Direção da ACIB-Rio – Triênio 2005/2007 2005 – passa a fazer parte do COMITES do Rio de Janeiro 2007 – recebe a Cruz do Mérito, grau de Cavaleiro Oficial, da Soberana Ordem da Fraterna Integração Ítalo-Brasileira. É sócio-fundador e o primeiro presidente da Associação de Intercâmbio Cultural Ítalo-Brasileira Anita e Giuseppe Garibaldi.

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e m i g r a ç ã o da cidade para tomar o melhor vermute do mundo. FD – Quais as suas primeiras impressões do país? GV - Dezoito dias após a partida, cheguei ao Brasil, na cidade do Rio de Janeiro e lá estavam me esperando meu tio e a Nelli, o que facilitou muito, pois estava mudando de país, mas os laços de família permaneciam presentes. Havia a paixão pela prima. Meu tio havia planejado tudo: eu moraria perto da Marmífera, no bairro de São Cristóvão. Em pouco tempo assimilei as novidades, o novo jeito de trabalhar; as condições de vida, tudo era muito diferente da rigidez da Itália, onde as relações de trabalho eram marcadas por rispidez e uma certa antipatia entre patrão e empregados. FD - Como foi sua adaptação? O que foi mais difícil – o idioma, a cultura, a saudade? GV - Então, com a ajuda do meu tio, fui aprendendo os segredos do ofício e a me adaptar melhor, e a entender as condições de vida deles. De uma forma geral, no que se refere à vida propriamente dita, me adaptei com facilidade, ajudado também pela convivência diária com meu tio e com a Nelli, que na época trabalhava como caixa na Marmífera. Também foi rápida a adaptação à língua, tomava lições particulares com um professor do Colégio Pedro II. Ele me preparou para o Exame de Adaptação, exigido para qualquer estrangeiro que quisesse trabalhar ou estudar no Brasil. Outra coisa que me deu sempre força foi receber semanalmente cartas do meu pai, da minha mãe, dos meus irmãos. Nunca pensei em voltar atrás, nunca me arrependi do passo que eu tinha dado. FD - O sr. tem uma profissão muito especial que o colocou para sempre na história oficial do Brasil e em contato com personagens importantes da política nacional e expoentes da arquitetura brasileira. Conte-nos sobre isso. GV - Meu trabalho era especialmente de fazer medições nas obras, os desenhos executivos, conceber a preparação das peças e depois acompanhar a colocação nas obras. Para isso eu corria com o encarregado as obras. Tomei prática no trabalho com uma certa rapidez e ganhando a amizade e confiança dos engenheiros responsáveis pelas obras. Comecei a conhecer arquitetos e engenheiros aqui do Brasil. Uma das

primeiras obras que eu fiz foi no Parque Guinle, os primeiros dois prédios, projeto do Lúcio Costa; foi quando comecei a ver alguma coisa da arquitetura moderna do Brasil. FD - Por que o sr. foi o escolhido para a missão de revestir os monumentos da nova capital brasileira? GV - Em 1957, começou-se a falar de Brasília. Antes mesmo de definir o projeto urbanístico da cidade, já havia sido resolvido, que seria construído um palácio, que seria residência do presidente, e um hotel de turismo, à beira do que seria futuramente um lago. Esse projeto foi entregue ao arquiteto Oscar Niemeyer, que preparou uma maquete do que seria o Palácio da Alvorada. Em um primeiro momento, ele pensou em deixar as colunas em concreto aparente. Depois resolveu que as partes externas deveriam ser revestidas de mármore. Então foram convidadas algumas empresas de mármore do Rio e de São Paulo para apresentar orçamento. Algumas recusaram porque não acreditavam que o projeto da nova capital fosse para a frente. Outras alegaram que o tempo, o prazo concebido para a execução desse trabalho era muito curto. Isso fez com que a maioria das empresas desistisse. Ficou esse problema em aberto até que o Niemeyer se lembrou que o meu sogro, o meu tio, já tinha feito outros trabalhos para ele no Rio de Janeiro e na Pampulha, em Belo Horizonte. Meu tio Giovanni Napoli foi convidado a fazer um estudo da possibilidade de se fazer a obra no prazo desejado (cerca de um ano). Fui ao escritório do Niemeyer para receber as instruções para os estudos e em seguida estive no lugar onde seria construída Brasília. Lá, encaminhado à construtora Rabelo, encarregada da construção do palácio, fui recebido pelo dr. Darci Amora

Ao centro, o Presidente Juscelino Kubitschek; Giorgio Veneziani é o terceiro à esquerda

Nelli, Giorgio e Regina no marco zero de Brasília, em 1957

Pinto, engenheiro responsável pela obra. Chegamos à conclusão de que só conseguiríamos êxito se eu me mudasse para lá e dirigisse a obra pessoalmente. No meu retorno, explicações dadas, resolvemos enfrentar esse desafio. Então mudei-me para lá com toda a família. Meu filho Claudio, minha filha Regina e o filho do engenheiro Darci Pinto, José Adriano, primeiras crianças de Brasília, quer dizer, do planalto. FD - Que fatos interessantes o sr. nos conta sobre esse trabalho? GV - Na Praça dos Três Poderes, há uma pedra, onde foi gravado um trecho do discurso proferido pelo presidente JK, em Jataí, no qual ele se comprometia a cumprir a transferência da capital da República prevista na Constituição. Pois bem, foi feita a gravação no mármore, em letras escavadas com uma profundidade de 0,5 centímetro. Acontece que faltando dois ou três dias para a inauguração, alguém viu que existia um erro de grafia. Chamaram-me às pressas, em caráter de urgência e pediram para eu apagar o erro, ao que eu respondi que aquilo não saía com borracha não! Não dava tempo. Precisávamos tirar a pedra e gravar outra. A única solução, disse eu, seria caiar tudo de branco para que nenhum fotógrafo percebesse. E foi assim que fizeram.

O primeiro hasteamento da bandeira nacional em Brasília (Foto: Giorgio Veneziani)

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l 1°gennaio in Italia viene introdotto ufficialmente 1’euro. Le monete sono belle, ma la gente si lamenta che non ci sia la banconota da un euro. Le altre banconote sonoun po’ pallide e volutamente neutre. Ne esiste anche una da 500 euro: in Spagna la chiamano «el Bin Laden», si sa che esiste, ma nessuno l’ha mai vista. In Italia la quotazione di 1936,27 viene subito portata a duemila. In tutto il mercato illegale (droga e prostituzione, per esempio) accade invece il contrario: un euro corrisponde solo a mille lire. Il presidente del Consiglio regala a tutti gli italiani (non a spese sue) un aggeggio blu, l’euroconvertitore, per fare i conti. Fabbricato in Asia, dotato di una batteria che dura due anni, è accompagnato da una lettera personalizzata, in cui si spende una lacrimuccia per la «nostra liretta».

FIRENZE, 24 GENNAIO 2002. I PROF GUIDANO DODICIMILA PERSONE SOTTO LA PIOGGIA

L’iniziativa è di due professori dell’università, l’inglese Paul Ginsborg, fiorentino di adozione, e il geografo (docente di Analisi del territorio) Francesco Pardi detto «Pancho». Hanno indetto una manifestazione contro il governo Berlusconi per le sue minacce alla Magistratura e alla libertà di stampa. In casa Ginsborg si preparano gli striscioni: aprirà una frase di Tocqueville sulla separazione dei poteri come baluardo della democrazia; si aspettano cinquecento persone. Ma quando il corteo si forma, davanti al Rettorato, la folla è di dieci -dodicimila persone sotto una pioggia battente. È un corteo stranissimo, aperto da decine di professori e ricercatori universitari silenziosi (solo Pardi, in nome di una gioventù militante in Potere operaio, grida attraverso un megafono sistemato sul tetto di una utilitaria), molti dei quali portano al collo massime dell’antichità: «I grandi ladri fanno impiccare i piccoli» (Diogene Laerzio); «Magna promisisti exigua videmus» («Il molto promettesti e poco vediamo» di Seneca); «Il paternalismo è la faccia peggiore del

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dispotismo» (Immanuel Kant). Il corteo è silenzioso e dietro il drappello dei professori sfilano politici, sindacalisti, studenti, casalinghe. Nella folla, il presidente toscano Claudio Martini a braccetto col segretario dei Ds Manuele Auzzi, l’assessore Daniela Lastri, le bandiere dei Ds, dei Verdi, del Ppi, della lista Di Pietro, della Cgil, l’ex ministro della Pubblica istruzione Luigi Berlinguer, il numero due dei Ds Vannino Chiti, Valdo Spini in quanto «docente», i gonfaloni di Empoli e Vinci, i collettivi studenteschi, il sindaco di Cavriglia Enzo Brogi insieme al cantante Piero Pelù, lo scrittore Aldo Busi. In un’ora e mezza il corteo attraversa via Cavour, il Battistero, piazza della Signoria, e arriva al Palazzo di giustizia in piazza San Firenze dove un gruppo di magistrati, in silenzio, li aspetta sulla scalinata. In prima fila, Beniamino Deidda, da tutti conosciuto in città come il pretore del lavoro che non ha paura di dar ragione agli operai. A Paul Ginsborg la conclusione: «Tutti noi siamo preoccupati per la democrazia ma siamo minoranza, non maggioranza, in questo paese. E adesso dobbiamo lavorare, se i canali delle tv sono contro di noi, per far arrivare il nostro messaggio». ITALIA, GENNAIO 2002. NASCITA DEI GIROTONDI

Il corteo di Firenze, decisamente inaspettato e insolito, non è stato però il primo. Nei mesi precedenti una varietà di piccole manifestazioni ha già avuto luogo. Il 15 settembre 2001, in largo di Torre Argentina, nel centro storico di Roma, po he decine di persone manifestano contro il conflitto di interessi che riguarda il presidente del Consiglio. L’idea è di Massimo Marnetto, 47 anni, di professione ricercatore e simpatizzante dell’Ulivo, la coalizione di centrosinistra. Indignato per l’indifferenza dei partiti tradizionali su questo tema, chiama un po’ di amici. Insieme decidono di trovarsi in piazza ogni 15 giorni, «come le madri di plaza de Mayo». Nascono così le Sciarpe gialle (colore apolitico). A Milano il 28 settembre un centinaio di persone davanti a Palazzo di giustizia contesta alla maggioranza di centrodestra il «poker dell’illegalità»: mancata risoluzione del conflitto di interessi, legge sulle rogatorie internazionali, riforma del falso in bilancio e revoca delle scorte ai magistrati antimafia e anticorruzione. La manifestazione è convocata dal sito societacivile.it, curato da Gianni Barbacetto. La voce si sparge soprat-

2 tutto grazie a Radio popolare, storica emittente della sinistra milanese. Circa un mese dopo, il 26 ottobre, una manifestazione simile – incentrata sulla revoca delle scorte – è indetta dalle Girandole, gruppo vicino a Nando dalla Chiesa. A Roma due amiche decidono di organizzare una manifestazione davanti al ministero di Giustizia il 19 gennaio. Sono Silvia Bonucci, 37 anni, e Marina Astrologo, 36, traduttrici e collaboratrici del regista Nanni Moretti. Si presentano 50 persone che si scambiano numeri di telefono e email. Ma il 26 gennaio i numeri cominciano a diventare importanti: al Palazzo di giustizia di Milano debuttano i girotondi veri e propri. L’iniziativa è di cinque amiche milanesi, tra cui Daria Colombo, giornalista e moglie del cantautore Roberto Vecchioni. Hanno calcolato quanta gente serve per circondare il palazzo: arrivano circa 5mila persone, che formeranno quattro catene umane concentriche. Pochi giorni prima, il 12 gennaio, la questione giustizia era piombata sulle prime pagine dei giornali per lo sfogo di Francesco Saverio Borrelli, il procuratore generale di Milano che aveva coordinato le grandi inchieste sulla corruzione politica dei primi anni novanta. Ormai prossimo alla pensione alla cerimonia di inaugurazione dell’anno giudiziario, l’anziano magistrato elenca i più discussi provvedimenti del governo sulla giustizia e lancia un proclama: «Resistere, resistere, resistere». ROMA, 2 FEBBRAIO 2002. L’URLO DI NANNI MORETTI

Una normale manifestazione dell’Ulivo, in piazza Santi Apostoli a Roma. Parlano Francesco Rutelli e Piero Fassino. A sorpresa prende la parola il regista Nanni Moretti, che in uno sfogo improvviso attacca i leader schierati sul palco. «Con questi dirigenti non vinceremo mai» grida Moretti, e indica in Pardi, l’animatore della manifestazione fiorentina, «il nuovo leader dell’Ulivo». Il palco risponde terreo. L’ «urlo» di Moretti è in prima pagina su tutti i giornali. Paolo Flores d’Arcais, direttore di MicroMega, rivista della sinistra nettamente schierata con i magistrati di Mani pulite, convoca il «Giorno della legalità» al Palavobis, il grande teatro-tenda di Milano, il 23 febbraio. È la prima volta che il nuovo movimento si riunisce in un raduno nazionale, e di nuovo il successo travolge le attese: 40mila persone, che per lo più restano fuori, visto che il Palavobis ne contiene 12 mila. I media sono costretti a occuparsi del fenomeno, le facce sconosciute dei pionieri del movimento finiscono sui giornali e in televisione. MILANO, INIZIO 2002. IL PRESIDENTE DEL CONSIGLIO DI NUOVO SOTTO INCHIESTA

Il pm Fabio De Pasquale della Procura di Milano apre un’inchiesta sui fondi neri di Mediaset. Il reato indagato è duplice: una falsificazione dei bilanci della società per 300 miliardi di lire e una frode fiscale per circa 120 miliardi, attraverso le vendite gonfiate dei diritti televisivi. Lo scenario è quello di una contabilità paral-

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storia italiana

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Liberamente tratto dal libro “Patria 1978- 2008” di Enrico Deaglio. Casa editrice Il Saggiatore.

lela (un cosiddetto Mediaset gruppo B già comparso nelle indagini sul conto All Iberian e per le tangenti alla Guardia di finanza) e del mondo dei programmi televisivi. La Procura scopre un meccanismo abbastanza semplice: quando Mediaset compra un programma televisivo americano (un cartoon, un film, una serie) non lo fa direttamente, ma attraverso una serie di società intermediarie che in genere hanno sede in paradisi fiscali. A ogni passaggio il prezzo lievita, fino all’ultimo acquisto da parte di Mediaset: il fatto è che le società intermediarie sono proprio di Mediaset. Nel corso delle indagini la Procura di Milano si imbatte in un famoso avvocato inglese, David Mills, marito di un ministro del governo di Tony BIair, che incautamente ha lasciato traccia dal suo commercialista di un incasso di 600mila dollari rilasciato dall’azienda di Berlusconi, per aver dato una testimonianza molto accomodante in precedenti processi a carico di Mediaset. ROMA, GENNAIO 2002. BERLUSCONI E IL «QUINTO EMENDAMENTO»

Un lunghissimo processo si sta svolgendo a Palermo: imputati sono Marcello Dell’Utri e Gaetano Cinà; l’accusa è quella di «concorso esterno in associazione mafiosa», ovvero aver favorito Cosa Nostra senza fare direttamente parte dell’organizzazione. Vengono ascoltate decine di collaboratori di giustizia, esaminati incontri, passaggi di denaro, il ruolo dello «stalliere» Vittorio Mangano; vengono ordinate perizie bancarie sulle origini di quello che si chiama «l’impero Fininvest». Il presidente del Consiglio viene chiamato a testimoniare, ma si avvale delle sue prerogative e cioè di essere interrogato nella sede di governo scegliendo una data che non collida con i suoi impegni. Dopo lunghe mediazioni, viene fissata la data e il luogo dell’incontro: Palazzo Chigi, senza la presenza della stampa, nella sala con il grandissimo tavolo che si vede in televisione quando si svolgono le grandi trattative sindacali. Sono presenti il presidente del collegio Leonardo Guarnotta, i pm Domenico Gozzo e Antonio Ingroia e gli avvocati difensori. È un vero e proprio «evento» nella storia italiana e non solo: qualcosa che assomiglia all’indagine su Bill Clinton o allo scandalo Watergate di Nixon. Antonio Ingroia lo ricorda così: Per accertare la verità io chiesi la parola. Ricordo, feci un intervento. Venni autorizzato dal presidente Guarnotta, il presidente del collegio, a intervenire, feci una sorta di ultimo e accorato appello al presidente Berlusconi affinché rispondesse alle nostre domande rassicurandolo sul fatto che le eventuali risposte non riguardavano la sua posizione giuridica: riguardavano la posizione giuridica soprattutto dell’imputato Marcello Dell’Utri; quindi ritenevamo che lo stesso presidente Berlusconi avesse interesse a che venisse accertata tutta la verità relativamente alla posizione del senatore Dell’Utri. Feci una esemplificazione dei temi sui quali avremmo voluto interrogarlo: Vittorio Mangano, la sua assunzione ad Arcore, il ruolo di Marcello Dell’Utri, la storia im-

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Daria Colombo portante dei flussi finanziari nelle casse delle holding dell’impero Fininvest, le origini di questo denaro, alcuni strani aumenti di capitale, alcuni strani movimenti di denaro. Fui interrotto allora dal presidente Guarnotta, che preferì interpellare subito il presidente Berlusconi se intendeva mantenere la sua scelta del silenzio (avvalersi della facoltà di non rispondere) o se invece intendesse accogliere l’appello del pubblico ministero a contribuire all’accertamento della verità rispondendo alle nostre domande. Il presidente Berlusconi, debbo dire con una punta di delusione da parte di tutti i presenti, disse comunque di ritenere di dover accogliere il suggerimento datogli dai suoi avvocati difensori presenti, e quindi avvalersi della facoltà di non rispondere. Poi noi pubblici ministeri venimmo accompagnati dal personale del cerimoniale di Palazzo Chigi all’ingresso posteriore, dal quale poi siamo usciti mentre dall’ingresso principale presso il quale stazionavano telecamere e giornalisti, uscirono invece gli avvocati difensori degli imputati, che - inaudita altera parte - poterono dare la loro versione di quel che era accaduto all’interno di quella sala. Dopo quella data non sono più state rivolte a Silvio Berlusconi domande di quel tipo né in ambito politico, né in ambito giudiziario. ITALIA, INIZIO 2002. LE PAURE DEL PROFESSOR MARCO BIAGI

A 51 anni, il professor Marco Biagi, bolognese, docente di Diritto del lavoro all’Università di Modena, è uno dei consulenti del ministro del Lavoro Roberto Maroni per la riforma del welfare, dopo essere stato consulente dei ministri Bassolino e Treu nei precedenti governi di centrosinistra. Benché il suo nome sia conosciuto praticamente solo dentro la cerchia

dei giuslavoristi, il professore avverte intorno a sé una brutta aria: minacce telefoniche, soprattutto. La richiesta di poter avere una scorta - avanzata in ben cinque lettere alle autorità - non viene accolta. Spostamenti abitudinari: la bicicletta, il treno andata e ritorno per Modena, una vaga sensazione di essere seguito. Vaga, ma tragicamente giusta: le Nuove brigate rosse, dopo aver già ucciso il professor Massimo D’Antona, che si occupava per il precedente governo degli stessi temi, hanno intenzione di ucciderlo e l’obiettivo non pare loro troppo difficile. Le proposte del governo hanno incontrato una vasta opposizione: si parla di formalizzare, in varie forme, il lavoro precario; di affidarlo a ditte private di allocazione del lavoro temporaneo; è prevista anche una deroga all’articolo 18 dello Statuto dei lavoratori, quello che è diventato legge nel 1970 sull’onda delle lotte operaie. CHE COSA DICE L’ARTICOLO 18

L’articolo 18 dello Statuto dei lavoratori (1970) stabilisce, per tutti coloro che sono assunti in aziende con più di 15 dipendenti, che: Il giudice con la sentenza con cui dichiara inefficace il licenziamento [. .. ] o annula il licenziamento senza giusta causa o giustificato motivo [ ... ] ordina al datore di lavoro, imprenditore o non imprenditore, che in ciascuna sede, stabilimento, filiale, ufficio o reparto autonomo nel quale ha avuto luogo il licenziamento occupa alle sue dipendenze più di quindici prestatori di lavoro o più di cinque se trattasi di imprenditore agricolo, di reintegrare il lavoratore nel posto di lavoro. Sulla base di questo articolo di legge, in trent’anni decine di migliaia di lavoratori licenziati si sono rivolti al pretore del lavoro, ottenendo molto spesso soddi-

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italia sfazione e il «reintegro sul proprio posto di lavoro». Il nuovo piano del governo propone invece una «deroga» all’articolo 18. Il lavoratore licenziato potrà avere un indennizzo, ma non potrà più essere reintegrato con una sentenza del pretore. L’opposizione dei sindacati alla deroga proposta dal governo è netta. La protezione contro il licenziamento senza giusta causa viene infatti giudicata un diritto fondamentale dei lavoratori, che altrimenti sarebbero in balia del potere del datore di lavoro. Hai scioperato? Ti licenzio. Hai distribuito volantini? Ti licenzio. Ti sei opposta alle mie molestie sessuali? Ti licenzio. L’aria comincia a farsi incandescente. ROMA, 25 GENNAIO 2002. I SACERDOTI VOGLIONO PARLARE A MARCO BIAGI

Marco Biagi viene invitato a parlare del «libro bianco» sulla riforma del welfar alla Consulta nazionale per il lavoro della Conferenza episcopale italiana. A organizzare l’incontro è monsignor Giancarlo Maria Bregantini, vescovo di Locri e responsabile della Consulta, che ha chiamato i delegati della pastorale sul lavoro di molte parti d’Italia. Marco Biagi si presenta, ma si rende subito conto che la piega della discussione non sarà quella prevista. Si dichiara contento di presentare il suo libro bianco da «credente, nell’ambiente della Chiesa a cui appartengo e in cui credo». Spiega le ragioni urgenti per intervenire nel mercato del lavoro («abbiamo regole obsolete») e, parlando dell’articolo 18, afferma: Il dialogo sociale è uno strumento ideale, ma a volte è uno molto lento perché i sindacati sono molto restii al cambiamento, sono tutti uguali.[ ... ] Io li conosco molto bene per mestiere. Ci sono amici, come gli amici cislini, che sono sicuramente un sindacato più aperto al cambiamento; ma altri ambienti sindacali sono molto conservatori. La parola sembrerà un po’ strana, rivolta ai sindacati, ma i sindacati a volte sono estremamente conservatori. Quindi il dialogo sociale, bene, ma bisogna che proceda più rapidamente e quindi se le parti sociali non si mettono d’accordo, qualcuno deve pur decidere e sarà il governo, il Parlamento, secondo le regole democratiche. LE OBIEZIONI DEI SACERDOTI. DOVE SI SCOPRE CHE SONO INFORMATISSIMI SU QUANTO AVVIENE NELLE FABBRICHE E CHE NON APPREZZANO AFFATTO IL LIBRO BIANCO

Don Raffaele Ciccone (responsabile della Pastorale sociale e del lavoro di Milano): «Che cosa ne facciamo del sindacato, visto che a un certo punto si parla di contratti individuali? Il sindacato riesce a essere una realtà importante, preziosa, d’intesa, di pace sociale oppure lo vogliamo smantellare e onestamente gli ultimi tentativi di spaccare la Cgil dalla Cisl e dalla Uil sono stati plateali [...]. Oggi la famiglia è obbligata ad avere due redditi [...] il part-time è un’illusione». Don Gianni Fornero (responsabile della Pastorale sociale e del lavoro di Torino): «effettivamente in Italia c’è troppo lavoro nero, bisogna cercare di far qualcosa». Don Carlo Caviglione (responsabile della Pastorale sociale e del lavoro di Genova): «Vorrei stare un pochino attento a questa cultura della provvisorietà, quasi al limite della disperazione». Don Rocco D’Ambrosio (responsabile

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Roma 23 marzo 2002, la manifestazione “mitologica” della Pastorale sociale e del lavoro di Bari): «Il libro bianco non mi piace perché ha una filosofia del lavoro, poi anche dei riferimenti etici, che non condivido assolutamente.[... ] Se c’è uno Stato di diritto che deve andare avanti su un bene primario qual è il lavoro, le norme non devono essere pesanti nel senso di bloccare i processi di globalizzazione e di produttività, questo siamo d’accordo, ma le norme devono essere chiare, devono essere precise, devono essere forti [...]. Lo Statuto deve essere dei lavoratori, perché nei nostri principi etici i lavoratori sono più importanti del lavoro, e il lavoro più importante del profitto». Dottor Pasquale Caracciolo (direttore della Consulta regionale per il lavoro dell’Umbria): «La filosofia del libro tende a spostare le tutele e le regole dai lavoratori al mercato del lavoro ... ma ciò presuppone che esista un sistema complessivamente funzionante [... ]. Gli elementi di flessibilità che si sono introdotti dal ‘96 a oggi sono non pochi e il ricorso oggi al mercato del lavoro nero evidentemente è solamente una scelta deliberata di illegalità. [. .. ] La flessibilità accentua le situazioni di non tutela nei confronti dei lavoratori». MARCO BIAGI: «NOTO UNA FORTISSIMA ATTENZIONE CRITICA»

Il dibattito prosegue, con toni piuttosto accesi, su questi temi e Marco Biagi osserva: «Con mia sorpresa noto una fortissima attenzione critica nei confronti dei progetti che ho presentato». Difende la necessità del governo di agire senza aspettare la concertazione, assicura che quello di Berlusconi non sarà un liberismo selvaggio come quello della Thatcher, che ci sarà sperimentazione. Ma non riesce a convincere i suoi interlocutori. Don Mario Inzoli (Pastorale del lavoro di Crema): «Sulla flessibilità c’è un problema serio: non è solo flessibilità sì o no: è che l’uomo, se non è aiutato a essere flessibile, per cui è un problema di formazione, come farà a diventare flessibile quando ha imparato un lavoro solo?». Don Teresio Scuccimarra (assistente della Gioventù operaia cristiana): «Nella storia italiana è difficile pensare al successo del dialogo sociale. Resto legato a quest’immagine di un governo che non sia assente, ma che abbia una grande capacità di mediazione fra le parti sociali. È vero che questo non

sveltisce i processi, però credo che il giungere insieme, l’arrivare insieme sia ancora un valore». Don Livio Destro (delegato diocesano della Pastorale sociale del Triveneto): «lo vengo da una terra dove la flessibilità la si vive in modo fortissimo: negli ultimi cinque anni circa il 70% dei contratti nuovi sono atipici [... ]. La flessibilità, come dice la Laborem Exercens, diventa la chiave essenziale della questione sociale [... ] la gente ha paura. Questo noi lo cogliamo fortissimamente. Nel libro bianco manca la chiarezza su alcune questioni: la carriera di una persona è continuamente spezzata al ribasso oppure la formazione in questo senso diventa una parte del lavoro e qualifica?». Don Angelo Sala (già responsabile della Pastorale sociale e del lavoro di Milano): «Due parole mi fanno paura: la “precarietà” e la “selezione”. Perché tutta questa filosofia dietro al discorso tecnico porta a uno scenario in cui vivono queste due realtà fondamentali, la precarietà, cioè uno deve cominciare sempre daccapo, non è vero che il lavoro interinale ad esempio porta poi dopo all’assunzione [...]. La selezione: vuol dire che si tagliano fuori alcune persone per prenderne altre». MONSIGNOR BREGANTINI, CHE HA PROMOSSO L’INCONTRO: «PROFESSOR BIAGI, PORTI QUESTE NOTE ANCHE IN ALTO»

Credo che il dibattito abbia messo in luce una fortissima preoccupazione etica, ma anche una fortissima preoccupazione pastorale. Quindi se i toni sono stati forti sono tali perché c’è dietro una voce di dolore e di fatica. [... ] Il ruolo dei sindacati certo deve essere intelligente, ma anche di grande valore, perché altrimenti, adagio adagio, si sgretola tutto. In questa logica non dobbiamo dire che i licenziamenti, di fatto, non ci sono. Ci sono già, dobbiamo ovviamente prendere atto di questo. Forse lei ha colto la bellezza della dialettica, della passione, frutto dell’amore per la gente che abbiamo, frutto della fatica anche di chi vede tanta gente senza lavoro oppure gente espulsa. La ringraziamo immensamente e le auguriamo di portare queste note non secondarie, ma incisive, anche in alto.

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storia italiana ITALIA, INIZIO FEBBRAIO 2002. SCENDE IN CAMPO LA CGIL

La Cgil, la Confederazione generale italiana del lavoro, è il più grande sindacato, con più di cinque milioni di iscritti. Diffusa in tutta Italia (si dice che ci sono solo due organizzazioni nazionali in Italia, la Cgil e la Chiesa cattolica) rappresenta la storia dell’Italia repubblicana dalla parte dei lavoratori. Il sindacato dei lavoratori, nato all’inizio del secolo e dotatosi di società operaie e di casse di mutuo soccorso (un’anticipazione del microcredito di Muhammad Yunus, il banchiere dei poveri), è stato massacrato durante il fascismo ed è risorto dopo la guerra di liberazione. Tra i suoi dirigenti, molte le figure popolari e carismatiche: Giuseppe Di Vittorio, Luciano Lama, Bruno Trentin, Vittorio Foa, Antonio Pizzinato; militanti morti ammazzati nelle lotte dei braccianti in Sicilia o davanti alle fabbriche; confronti vivaci con gli studenti (fruttuosi quelli del ‘68, pessimi quelli del ‘77). La confederazione da otto anni ha come segretario generale Sergio Cofferati, cremonese di 54 anni, che ha iniziato la sua carriera lavorativa come impiegato alla Pirelli di Milano. È detto «il cinese» per il taglio degli occhi e non per l’estremismo politico. All’interno della Cgil è infatti un elemento di mediazione soprattutto nei confronti della grande Federazione degli operai metalmeccanici (Fiom). La Cgil di Cofferati interpreta l’attacco all’articolo 18 come una campana a morto per i diritti collettivi dei lavoratori e decide di far sentire la propria voce. Scenderà in campo: e sarà la manifestazione più grande che si sia mai vista. La preparazione registra un’adesione che va al di là delle previsioni e affronta problemi organizzativi enormi: trasporti, sicurezza, logistica, scenografia, finanziamento. Si tratta di cambiare per un giorno il funzionamento normale dell’Italia, organizzare treni, alloggiamenti, cibo, reperire pullman (la Slovenia ne fornirà parecchi, quando saranno esauriti quelli italiani), stampare manifesti, bandiere, bottoni di plastica, coccarde senza usufruire del lavoro nero. La manifestazione è indetta per il 23 marzo a Roma, al Circo Massimo. BOLOGNA, 19 MARZO 2002. L’UCCISIONE DI MARCO BIAGI Il professor Marco Biagi torna in treno da Modena. Toglie il lucchetto alla bicicletta che ha lasciato alla stazione e si avvia verso casa, in via Valdinova 14, nel centro di Bologna. Lì lo aspettano tre membri delle Nuove brigate rosse che lo avevano seguito per mesi e lo uccidono sul portone di casa. Sono da poco passate le otto di sera: le foto mostrano la bicicletta del professore attorniata dai carabinieri del Ris in tuta bianca alla ricerca delle tracce più minuscole che possano portare agli autori dell’assassinio. Il ministro dell’Interno, Claudio Scajola, dichiara subito: «È la stessa arma che uccise D’Antona»; un intervento televisivo quasi a reti unificate di Silvio Berlusconi afferma che «Marco Biagi è stato ucciso da una campagna d’odio», con evidente riferimento alla manifestazione della Cgil. L’assassinio, così legato ai temi della manifestazione, per la sua risonanza e l’emozione provocata, è tale da poter indurre la Cgil ad annulare la manifestazione. Molti partecipanti avrebbero rinunciato? Il clima festoso sarebbe scomparso? La manifestazione stessa si sarebbe potuta trasformare in un teatro di Março / Abril 11

i t ál i a disordini? Voci dal governo dicono che per Biagi ci potrebbero essere funerali di Stato in concomitanza con la manifestazione, ma la famiglia si oppone. Nelle 48 ore seguenti la Cgil ha assicurazioni non solo della tenuta delle prenotazioni, ma dell’aumento. L’omicidio di Marco Biagi, accomunato da tutti i media a quello di Massimo D’Antona, viene visto come un ulteriore attacco al movimento sindacale. ROMA, 23 MARZO 2002. LA MANIFESTAZIONE «MITOLOGICA»

Nelle prime ore di sabato 23 marzo, la metereologia dà una mano imprevista alla Cgil. Su Roma comincia infatti a spirare un vento di tramontana: secco, teso, continuo. Una specie di dio delle bandiere, che cominciano a fare il loro mestiere: garrire al vento. Sono rosse, stanno tese, frizzano. La manifestazione è la più grande che Roma abbia visto nella sua storia, calcolata in qualcosa come tre milioni di partecipanti. È commovente perché sfila la storia d’Italia. Un gruppo di anziani inalbera un cartello: «Siamo nati sotto il Duce, non vorremmo morire sotto il Duce». Un altro, di Fiano Romano, ha uno striscione bianco con una grande scritta: «Ci pisciano addosso e dicono che piove». È mitologica, perché sfila un’idea dell’Italia. Ci sono almeno tre generazioni. Con le conquiste ottenute: l’operaio (irriso dal padrone) che ha avuto alla fine il figlio dottore. Con le tante cose subite negli ultimi anni: i minatori del Sulcis, i lavoratori di Napoli, Palermo e tutti gli altri, ognuno con le proprie storie. È eccezionale per l’organizzazione: tutti quelli che l’hanno gestita sarebbero i migliori manager dell’imprenditoria italiana, anche se persino loro hanno dovuto patire per il nodo dell’Autosole BolognaFirenze-Roma, dove sono rimasti imbottigliati centinaia di pullman. Uno studioso di questioni militari può facilmente concludere: chiunque avesse in mente di attuare un colpo di Stato in Italia, dovrebbe scordarselo. L’organizzazione della Cgil appare oggi in grado di bloccare vie di trasporto e comunicazioni. Visibile anche la capacità di intelligence e la reattività periferica a un ordine centrale. ROMA, 23 MARZO 2002. PARLA IL CINESE E CHIEDE UN MINUTO DI SILENZIO

Il discorso di Sergio Cofferati dura circa quaranta minuti, da un palco volutamente colossale, con la sigla Cgil dalla pesante grafica alla Albe Steiner; la musica diffonde Mozart e la colonna sonora di La vita è bella, di Nicola Piovani. Probabilmente nessun oratore in Europa ha mai avuto una così vasta platea: moltitudini su un prato e sullo sfondo il cupolone di San Pietro. Il palco è sospeso in una specie di ebbrezza: strutture metalliche flessibili che cigolano per il forte vento, nuvole di polvere (quasi fossero effetti scenici di Cinecittà) che si alzano dal fondo del Circo Massimo, le arterie stradali piene di gente come coronarie prossime all’infarto. Il minuto di silenzio chiesto dal palco per Marco Biagi è imponente tanto per il suo effetto immediato - l’improvvisa pace al luogo del brusio; un certo mettersi su un morbido «attenti»; il togliersi di bocca il panino; via gli occhiali da sole; via le mani dalle tasche; lo squillo dell’unico telefonino che riesce a prendere la chiamata nella saturazione delle cellule dei satelliti - quanto per come si propaga: un’onda

che spegne, avanzando, i fischietti dei sei cortei lontani almeno un chilometro. Sergio Cofferati, molto emozionato, svolge dal palco le sue argomentazioni. Il famoso articolo 18 è presente come simbolo di dignità. Parla di vite di lavoro, piccoli e grandi soprusi patiti. Il discorso (che non nomina mai Berlusconi, né la Confindustria) è comunque di quelli che «danno la linea». Cofferati chiede la scuola pubblica per tutti, ma soprattutto per i più poveri; cure assicurate per gli anziani, diritti, progresso, formazione, tutele. CIPRO, 29 GIUGNO 2002. IL MINISTRO SCAJOLA TORNA A PARLARE DI BIAGI

Il Corriere della Sera e il Sole 24 Ore seguono la visita ufficiale del ministro dell’interno Claudio Scajola a Cipro. Gli incontri si sono conclusi e il ministro è nell’atrio della caserma di polizia marittima di Limassol. Dalla cronaca di Dino Martirano: Scajola arretra nell’atrio ma non cede alle insistenze del cerimoniale che lo vorrebbe imbarcare subito sulla vecchia motovedetta cipriota Odysseus in attesa all’ormeggio. Anzi, il ministro fa una piroetta: «Mi chiedete perché questi dischetti sono arrivati proprio ora? [Sono le lettere di Biagi con richiesta di scorta, N.d.R.] Stiamo cercando di capire, la cosa non è affatto chiara». Qualcuno spara: è per caso una manovra interna alla sinistra per colpire Cofferati? E qui si limita ad alzare le spalle ma poi aggiunge, con espressione ironica: «C’è anche chi parla di servizi deviati». Scajola, ora, cambia tono e riprende il registro dell’ufficialità: «Non servono veleni, serve unità perché il terrorismo tornerà a colpire». Lo sfogo sembra concluso. Scajola misura il pavimento con i passi ma non riesce a tacere: «A Bologna hanno colpito Biagi che era senza protezione ma se lì ci fosse stata la scorta i morti sarebbero stati tre. E poi vi chiedo: nella trattativa di queste settimane sull’articolo 18 quante persone dovremmo proteggere? Praticamente tutte». E a questo punto il ministro sorprende i presenti quando gli viene detto che Biagi era comunque una figura centrale nel dialogo sociale: protagonista del patto di Milano, coautore del Libro bianco, consulente del ministero del welfare, della Cisl, della Confindustria. C’è un attimo di silenzio, Scajola volta le spalle, si blocca, azzarda: «Non fatemi parlare. Figura centrale Biagi? Fatevi dire da Maroni se era una figura centrale: era un rompicoglioni che voleva il rinnovo del contratto di consulenza». Nell’atrio si spande il gelo per quello che appare uno sfogo non trattenuto fino in fondo. Ma non c’è tempo per continuare perché la motovedetta Odysseus sta salpando. I due giornalisti trasmettono ai loro giornali. Il ministro viene avvertito che le sue frasi saranno pubblicate. Telefona in extremis al direttore del Corriere, Ferruccio De Bortoli: «Direttore, lei si rende conto che se queste cose sono pubblicate, mi devo dimettere?». De Bortoli: «Ministro, lei si rende conto che se non pubblico, mi devo dimettere io?». Il ministro Scajola si dimette, scusandosi con la famiglia Biagi. Il suo posto viene preso dall’onorevole Beppe Pisanu. VATICANO, 16 GIUGNO-16 OTTOBRE 2002. SAN PIO E SAN ESCRIVÁ DE BALAGUER

Il 16 giugno, in piazza San Pietro, alla presenza di mezzo milione di fedeli viene canonizzato Padre Pio.

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italia Sono passati appena due anni dalla sua beatificazione, e l’Italia ha nel calendario il suo religioso più popolare e più invocato, alla data del 23 ottobre. La rapidità della pratica è dovuta- secondo i più tradizionalisti - al venir meno della «persecuzione» contro il frate messa in opera dagli ambienti legati al Concilio vaticano II. Le canonizzazioni decise da Giovanni Paolo II sono già state 464, più di tutti gli altri papi della storia. Da questo sveltimento delle pratiche nascerà poco dopo la richiesta di canonizzazione per Karol Wojtyla, al grido di «Santo subito!». A soli 26 anni dalla morte, il 16 ottobre viene canonizzato anche lo spagnolo Josemaria Escrivá de Balaguer, fondatore nel 1928 dell’Opus Dei, organizzazione molto segreta di laici e cattolici, grande sostenitrice del regime di Francisco Franco, eretta a simbolo della famiglia cattolica. Sorta di setta con regole severe penitenze e autopunizioni fisiche, l’Opus ha sempre attirato tutti coloro che si occupano di segreti e malefatte vaticane (lo scrittore americano Dan Brown l’ha narrata nel Codice da Vinci). La canonizzazione ha luogo in una bellissima giornata romana, resa insolita al tramonto dallo sciamare da piazza San Pietro di migliaia di dame spagnole con velette, collane, ventagli e fermacapelli. E dalla presenza di una quantità spropositata di personalità italiane: Romiti, Fazio, Bernabei, Andreotti, Cossiga, Rutelli, D’Alema, Veltroni, Trapattoni .. . ITALIA, AUTUNNO 2002. IL RITORNO DEI SAVOIA

Era la tredicesima norma delle disposizioni transitorie e finali della Costituzione («I membri e i discendenti di Casa Savoia non sono elettori e non possono ricoprire uffici pubblici né cariche elettive. Agli ex re di Casa Savoia, alle loro consorti e ai loro discendenti maschi sono vietati l’ingresso e il soggiorno nel territorio nazionale») ed era stata concessa nel 1987 una deroga a Maria José, in quanto non più consorte ma vedova di un ex re. Ora il Parlamento italiano riapre le frontiere a tutti i Savoia. Sono stati la monarchia che ha «fatto» l’Italia risorgimentale; all’inizio del Novecento il re è stato ucciso nel parco di Monza dall’anarchico Gaetano Bresci, venuto apposta da Paterson, nel New Jersey, per contestare la medaglia d’oro appuntata sul petto del generale Bava Beccaris, l’uomo che aveva sparato a Milano «tra le grida strazianti e dolenti, di una plebe che pan reclamava», per dirla con i canti anarchici. Vittorio Emanuele III aveva dato il via libera al colpo di stato di Mussolini nel 1922. Nel 1936 era diventato imperatore di Etiopia; nel 1938 aveva promulgato le leggi razziali; nel 1943 era fuggito da Roma lasciando l’esercito senza ordini dopo l’armistizio dell’8 settembre; nel 1946 con un referendum tutta la dinastia era stata ostracizzata dal voto popolare. Certo i Savoia erano rimasti vivi, soprattutto sui rotocalchi; nel 1967 la principessa Titti aveva avuto una storia d’amore con l’ex fusto del cinema, il popolarissimo Maurizio Arena di Poveri ma belli. Assediato dai paparazzi l’attore era apparso alla finestra per garantire: «Ahò, io so’ repubblicano ... ». Nel 1981 il nome di Vittorio Emanuele (re se ci fosse stata ancora la monarchia) era comparso nelle liste di Licio Gelli; era già apparso nelle cronache nell’estate del 1978, per aver sparato e ucciso il diciannovenne tedesco Dirk Hamer con una fucilata dal suo yacht

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Diego de Silva ormeggiato sull’isola di Cavallo (Corsica). Ma ormai tanto tempo è passato e il Savoia promette di comportarsi bene. Suo figlio Emanuele Filiberto è diventato popolare in televisione come tifoso juventino che duetta con il famoso Idris. E così il Parlamento, a larga maggioranza, vota di modificare la Costituzione per permettere il loro ritorno. Un grido isolato: «Viva Bresci», da parte del deputato di Rifondazione comunista Ramon Mantovani, e un commento amaro dello storico Massimo L. Salvadori, che cita un suo maestro, Luigi Salvatorelli: Egli scrisse a proposito parole che meritano di essere ricordate. Il re - disse - aveva lasciato a Mussolini «carta bianca, per più di vent’anni, per violare e fare a pezzi lo Statuto da lui, il re, giurato, per sopprimere tutte le libertà pubbliche e i diritti individuali degli italiani, che egli, il re, avrebbe dovuto proteggere. La verità è che Vittorio Emanuele III è responsabile, moralmente, politicamente, e legalmente, di tutti i misfatti di Mussolini». Parole di verità umana, storica e politica. I signori Savoia possono ben tornare oggi nell’Italia creata da coloro che rovesciarono una dinastia la quale aveva contribuito in maniera essenziale prima a consegnare il paese al fascismo e ai suoi alleati e da ultimo li aveva abbandonati nella vana speranza di trovare un passaporto che le consentisse di transitare nel dopoguerra per riprendere un ruolo divenuto impossibile. IL PRINCIPE IN ITALIA APPENA QUATTRO ANNI DOPO

Vittorio Emanuele di Savoia ha finito di pranzare a villa Cipressi di Varenna, sul lago di Como, quando viene arrestato da poliziotti in borghese. Attraversa l’Italia con un corteo di automobili con i lampeggianti per arrivare nel carcere di Potenza. Il mandato di cattura contro di lui è firmato dal pm Henry John Woodcock e confermato dal gip: «Associazione a delinquere finalizzata alla corruzione, al falso e allo sfruttamento della prostituzione». ROMA, 14 SETTEMBRE 2002. I GIROTONDINI SONO UN MILIONE

Convocato da Nanni Moretti e dal direttore di MicroMega Paolo Flores d’Arcais, quasi un milione di

persone, che si sono autofinanziate, riempie piazza San Giovanni a Roma. La protesta è contro la legge Cirami, che prevede lo spostamento dei processi in caso di «legittimo sospetto». La legge, detta «ad personam», è tesa a spostare da Milano i processi per corruzione a carico di Silvio Berlusconi, ma si può anche applicare a quelli per mafia, per terrorismo, o qualsiasi altro reato. Moretti interviene dal palco: «Continueremo a delegare ai partiti, ma visto che un po’ ci siamo svegliati la nostra delega non sarà sempre in bianco». Nando Dalla Chiesa commenta: «Oggi finisce il sogno di D’Alema, quello di una politica senza popolo». Applauditissimo, quasi un viatico, è il saluto dell’anziano Vittorio Foa. Simpatizza il segretario della Cgil Sergio Cofferati, che il 21 settembre termina il suo mandato e tornerà a timbrare il cartellino alla Pirelli Bicocca di Milano. In poco meno di sette mesi - come una pentola a pressione che esplode all’improvviso - l’Italia è stata percorsa da movimenti «autoconvocati» con cifre nelle piazze che non si sono mai viste nella storia. Ci sono i «no global» (che dopo Genova sono tornati in decine di migliaia per un Social forum a Firenze); i «lavoratori dipendenti» che protestano contro l’offesa alla dignità del lavoro; la «società civile» che manifesta contro lo sfregio alla giustizia contenuto nella legge sfornata dal governo per difendere il suo capo dai processi contro di lui, e contro l’appeasement evidente dei partiti del centrosinistra. Tutto è stato pacifico e determinato. Paul Ginsborg, che da Firenze ha iniziato la protesta con il corteo dei professori, chiama questo mosaico «il ceto medio riflessivo». ITALIA, FINE 2002. DOMANDE E VENTI DI GUERRA

Davvero Cofferati si ritirerà alla Pirelli dopo una tale dimostrazione di forza della Cgil? Un ticket (come dicono gli americani per indicare il candidato presidente e il suo vice) Prodi-Cofferati non sarebbe in grado di vincere alla grande contro il «berlusconismo»? L’anno si chiude - per il mondo dei girotondi e della sinistra, con queste domande. Quasi inosservata la notizia, Março / Abril 11


storia italiana del 17 novembre, che la Corte d’assise d’appello di Perugia ha condannato il senatore a vita Giulio Andreotti a 24 anni di carcere per l’omicidio del giornalista Mino Pecorelli, avvenuto nel 1979. Quel delitto ormai non interessa più. L’unica morte violenta che interessa gli italiani è quella di un bambino di tre anni e mezzo: Samuele Lorenzi, trovato con il cranio fracassato nel letto in una villetta di Cogne, in Valle d’Aosta. La madre, Annamaria Franzoni, è l’unica presente in casa al momento della tragedia. E stata lei? Fuori dai confini, avanza il vento della guerra. Il presidente americano George W. Bush ha deciso di invadere l’Iraq, che accusa di possedere «armi di distruzione di massa» e di aver ordinato gli attentati dell’11 settembre. L’Iraq, promette, diventerà un paese democratico senza il dittatore Saddam Hussein. «Esportazione della democrazia» e «scontro di civiltà» sono i concetti del momento. A interpretarli, con un eccezionale successo di pubblico, è il libro della giornalista a Fallaci, La rabbia e l’orgoglio. SCRITTORI ITALIANI DEL 2002 DIEGO DE SILVA, CERTI BAMBINI.

Diego De Silva, 38 anni, napoletano, è al suo terzo romanzo. Due anni fa ha esordito con La donna di scorta e l’anno scorso ha pubblicato Certi bambini, vincitore del premio selezione Campiello e finalista al Viareggio. Quest’anno in libreria esce Voglio guardare, storia di una sedicenne che di tanto in tanto si prostituisce e del suo incontro con un avvocato che di quando in quando uccide. Anche questo, come i precedenti romanzi, è ambientato a Napoli. Ed è sempre a Napoli che Rosario, protagonista undicenne di Certi bambini, per ordine della camorra deve compiere il suo primo omicidio. Tra parentesi De Silva inserisce tutti i consigli che il bambino ha ricevuto. (Solo i cornuti e i guappi pisciasotto si fanno buoni col coltello. Ricordati. Chi ti vuole fare male veramente non perde tempo. Non si fa vedere in faccia. Non corre pericoli. Quando uno ti minaccia e ti spiega pure perché ti minaccia, è uno stronzo.) Guarda l’aria con le braccia alzate mentre i falchi lo toccano lungo i fianchi e dentro alle cosce. Rosario non li guarda in faccia quando poi gli danno il pizzicotto e gli dicono tu tieni una brutta fine preparata, spera che ti arrestiamo prima. (Lo sai che fa uno quando ci punti la pistola? Ti guarda. Ti guarda dritto in faccia. Vede se tieni le palle.) Rosario va a uccidere con la testa piena di ordini e una specie di ignoranza. Sente tutta la responsabilità delle istruzioni ma non del risultato che ne verrà. Si è addestrato all’ubbidienza fino a sviluppare come un disinteresse per quello che dovrà succedere, fino a pensare all’uomo che ammazzerà come a una conseguenza meccanica delle istruzioni, a un fatto, una cosa che lo riguarda solo in quanto prova morente dell’esecuzione. (Caccia tutto fuori. Deve restare solo la pistola dentro. Una cosa qualunque ti può finire fra le mani e ti può fottere all’ultimo momento.) Un momento prima di sparare Rosario sente nella mano, insieme alla pistola, la vita che sta per togliere. È una sensazione che gli va dritta alla testa, una porta che gli spalanca il mondo davanti agli occhi in una luce magnifica. (Da vicino, subito. Tieni la mano ferma e tira. Se non lo pigli subito in faccia non fa niente, ma non devi scendere più sotto del petto.) (Guarda bene. Lo devi lasciare che non si muove. Lo vedi se Março / Abril 11

i t ál i a è morto. Uno morto diventa pesante, tanti pezzi tenuti con lo spago, hai visto mai i capretti quando il macellaio li piglia dalla vetrina prima di spaccarli con la mannaia, hai visto quando li butta sopra al marmo del bancone: le zampe, la testa, le cosce non cadono insieme, cadono una dopo l’altra, e lo sai perché, perché sono morti.) MUSICA ITALIANA DEL 2002. GIOVANNA MARINI, «I TRENI PER REGGIO CALABRIA».

Giovanna Marini, romana, 65 anni, cantautrice e folklorista, incide quest’anno con Francesco De Gregori Il fischio del vapore, raccolta di canzoni popolari. L’album ha un inaspettato e incredibile successo. In una vecchia canzone, che la Marini aveva inciso già nel 1975 in un 33 giri («I treni per Reggio Calabria»), si racconta il viaggio verso Reggio Calabria per la grande manifestazione del 22 ottobre del 1972, cui partecipano migliaia di lavoratori. È un viaggio incredibile: le persone in viaggio subiranno ben sette attentati: E andavano col treno giù nel Meridione / per fare una grande manifestazione / il ventidue d’ottobre del settantadue. / In curva il treno che pareva un balcone, / quei balconi con le coperte per la processione, / il treno era coperto di. bandiere rosse, / slogan, cartelli e scritte a mano, / da Roma Ostiense mille e duecento operai / vecchi e giovani e donne / con i bastoni e le bandiere arrotolate / portati tutti a mazzo sulle spalle. / Il treno parte e pare un incrociatore, / tutti cantano «Bandiera rossa», / dopo venti minuti che siamo in cammino / si ferma e non vuole più partire. / Si parla di una bomba sulla ferrovia, / il treno torna alla stazione, / tutti corrono coi megafoni in mano / e richiamano: «Andiamo via Cassino, / compagni da qui a Reggio / è tutto un campo minato, / chi vuole si rimetta in cammino». / Dopo un’ora quel treno / che pareva un balcone / ha ripreso la sua processione. / Anche a Cassino la linea è saltata, / siamo tutti attaccati al finestrino: / Roma Ostiense Cisterna / Roma Termini Cassino, / adesso

siamo a Roma Tiburtino. / Il treno di Bologna è saltato a Priverno, / è una notte, una notte d’inferno / e i feriti tutti sono ripartiti / caricati sopra un altro treno. / Funzionari responsabili, sindacalisti / sdraiati sulle reti dei bagagli / per scrutare meglio la massicciata / si sono tutti addormentati: / dormono, dormono profondamente / sopra le bombe non sentono più niente. / L’importante adesso è di essere partiti / ma i giovani hanno gli occhi spalancati, / vanno in giro tutti eccitati / mentre i vecchi sono stremati./ Dormono, dormono profondamente / sopra le bombe non sentono più niente./ Famiglie intere a tre generazioni / son venute tutte insieme da Torino, / vanno dai parenti, / fanno una dimostrazione. / Dal treno non è sceso nessuno: / la vecchia e la figlia alle rifiniture, / il marito alla verniciatura, / la figlia della figlia alle tapezzerie, / stanno in viaggio ormai da più di venti ore. / Aspettano seduti, sereni e contenti / sopra le bombe non gliene importa niente, / aspettano ch’è tutta una vita / che stanno ad aspettare: / per un certificato mattinate intere, / anni e anni per due soldi di pensione. / Erano venti treni più forti del tritolo, / guardare quelle facce bastava solo / con la notte le stelle e con la luna / i binari stanno luccicanti, / mai guardati con tanta attenzione / e camminato sulle traversine. / Mai individuata una regione / dai sassi della massicciata / dalle chine di erba sulla vallata / dai buchi che fanno entrare il mare. / Piano piano a passo d’uomo / pareva che il treno si facesse portare / tirato per le briglie come un cavallo / tirato dal suo padrone. / A Napoli la galleria illuminata / bassa e sfasciata con la fermata. / Il treno che pare un balcone / qualcuno vuol salire: / «Attenzione! Non fate salire nessuno / Può essere una provocazione!». / Si sporgono coi megafoni in mano / un piede sullo scalino / e gridano, gridano / quello che hanno in mente. / Sono comizi la gente sente / ora passa la notte e con la luce / la ferrovia è tutta popolata / Contadini e pastori che l’hanno sorvegliata / col gregge sparpagliato / la Calabria ci passa sotto ai piedi ci passa. / Dal tetto di una casa una signora grassa / fa le corna e alza una mano / e un gruppo di bambini / ci guardano passare / e fanno il saluto romano. / Ormai siamo a Reggio e la stazione / è tutta nera di gente. / Domani chiuso tutto in segno di lutto / «Attento Ciccio Franco a Sbarre!» / e alla mattina c’era la paura / e il corteo non riusciva a partire / ma gli operai di Reggio / sono andati in testa / e il corteo si è mosso improvvisamente. / È partito a punta come un grosso serpente / con la testa corazzata / i cartelli schierati lateralmente / l’avevano tutto fasciato. / Volavano sassi e provocazioni / ma nessuno s’è neppure voltato. / Gli operai dell’Emilia Romagna / guardavano con occhi stupiti / i metalmeccanici di Torino e Milano / puntavano in avanti tenendosi per mano, / le voci rompevano il silenzio / e nelle pause si sentiva il mare / e il silenzio di quelli fermi / che stavano a guardare / e ogni tanto dalle vie laterali / si vedevano sassi volare / e alla sera Reggio era trasformata / pareva una giornata di mercato. / Quanti abbracci e quanta commozione / il Nord è arrivato nel Meridione / e alla sera Reggio era trasformata / pareva una giornata di mercato. / Quanti abbracci e quanta commozione / gli operai hanno dato una dimostrazione.

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I n s t i t u t oe m Tsee r pr laa n t Marisa Oliveira

Agricultores recebem mudas do Instituto Terra Foto: Ricardo Azoury

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Tanto dá que cerca de 40 milhões de metros quadrados de áreas degradadas de Mata Atlântica estão em processo de recuperação na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Mais de 2,5 milhões de mudas de espécies de Mata Atlântica já foram produzidas para abastecer projetos de restauração em curso na região. Esses são alguns dos resultados obtidos pelo Instituto Terra, ONG fundada pelo casal Lélia Wanick Salgado e Sebastião Salgado, que há 12 anos desenvolve projetos de recuperação e educação ambiental. Para falar sobre o trabalho do Instituto Terra, a Forum Democratico entrevistou Adonai Lacruz, superintendente executivo.

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FD - Criado com a vocação, na palavra dos fundadores, de “preservar e restaurar a riqueza natural da região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais”, como o Instituto Terra se estruturou para dar conta de seus objetivos? AL - Os princípios que norteiam as ações do Instituto Terra até hoje começaram a tomar forma em meados da década de 1990, com o sonho dos fundadores - Lélia Deluiz Wanick Salgado e Sebastião Salgado - de plantar uma floresta na Fazenda Bulcão, antiga fazenda de gado que pertencia aos pais de Sebastião Salgado. A fazenda, como em tantas outras propriedades do Vale - onde predominam as propriedades de pequeno porte, baseadas no trabalho familiar e dedicadas à criação extensiva de gado –, apresentava o solo e a água exauridos. Mas, a partir da ideia inicial, logo observou-se a necessidade de incluir entre suas metas a educação ambiental, eixo temático associado a cada um dos nossos projetos, e também a extensão ambiental (assistência técnica a produtores rurais), para promover o desenvolvimento rural sustentável. A convicção era de fazer e provar que sim, é possível recuperar a Mata Atlântica. Hoje, vendo as fotos comparativas do Instituto Terra, é possível resgatar o trecho da carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal: “por essas terras, em se plantando tudo dá!”. Mas é preciso perseverar, ter um ideal, juntar-se a pessoas que compartilhem do mesmo ideal e arregaçar as mangas. Assim é possível! FD - Qual a metodologia adotada pelo Instituto Terra para preservar e restaurar? AL - Desenvolvemos uma metodologia própria, fruto da experiência com o processo de restauração ecossistêmica iniciado em 1999. Tivemos o valioso apoio do Renato de Jesus, que na época era o responsável pela área ambiental da Vale, que foi quem fez o projeto técnico da restauração da Reserva Particular de Proteção Ambiental – RPPN - e foi membro do Conselho Diretor do Instituto Terra. Aprendemos com erros e acertos e documentando o processo. Hoje temos mais de 100 padrões técnicos de produção de mudas que, além de destacar o processo de produção, indica em que fitofisionomia é adequada. Estamos implantando em nossa sede um laboratório de sementes, que nos permitirá ampliar as pesquisas nessa área. Além disso, estamos atentos a outras experiências, principalmente no âmbito do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica – do qual somos signatários. FD - Ouais os principais resultados alcançados? AL - O Instituto Terra completará neste ano 13 anos de atuação. O compromisso assumido quando da obtenção do título de RPPN – de reflorestar a Fazenda Bulcão – está muito perto ser cumprido. Já temos mais de 90% da área de 608,69 hectares da fazenda reflorestada com espécies da Mata Atlântica. Trata-se de um dos maiores projetos de reflorestamento do Brasil em termos de área contínua, e que estava completamente degradada quando o Instituto Terra foi fundado. Junto com o verde, comprovamos o retorno da fauna (a RPPN é refúgio hoje até para espécies em extinção) e dos recursos hídricos (oito nascentes foram recuperadas). Essa experiência bem sucedida é compartilhada com a comunidade. Através de inúmeros projetos externos; estamos ajudando a recuperar cerca de 40 milhões de metros quadrados de áreas degradadas de Mata Atlântica na região do Vale do Rio Doce. Junto com as ações ambientais, queremos promover uma nova consciência na região, aliando produção com preservação. Através dos projetos de educação ambiental – mais de 500 já desenvolvidos até o momento – atendemos a um público superior a 43 mil pessoas, de 170 municípios do Vale do Rio Doce.

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b r a s i l e Foto: Ricardo Azoury

FD - A frase “em se plantando tudo dá” parece ter aplicação total aos projetos do Instituto Terra, tanto que a recuperação da cobertura vegetal da RPPN Fazenda Bulcão está fazendo brotar água... Conte-nos sobre isso. AL - Mais do que garantir a biodiversidade em termos de fauna e flora, a recuperação das florestas pode ajudar a aumentar a quantidade e a qualidade da água das nascentes, córregos e rios estabelecidos na região. Foi o que comprovamos com a experiência no Instituto Terra. O restabelecimento da cobertura vegetal na RPPN teve influência direta e positiva sobre a qualidade, quantidade e disponibilidade de suas águas. As oito nascentes da propriedade, que antes corriam o risco de secar, hoje apresentam vazão em torno de 20 litros por minuto, mesmo em períodos de seca. Já em relação à qualidade, vale ressaltar que houve uma melhora significativa, tendo em vista que das oito nascentes estudadas, cinco já não apresentam presença de coliformes fecais. FD - O trabalho desenvolvido no IT tem servido de matriz? AL - Sim. As áreas de plantio no interior da RPPN, além de serem um laboratório permanente para o desenvolvimento de técnicas de plantio e manejo de florestas, cumprem a importante função de ser uma vitrine desse círculo virtuoso da recuperação ambiental. O restabelecimento dos seus veios de água, por exemplo, vem sendo um ponto de interesse para os produtores rurais da região. Não é para menos. O Vale se caracteriza hoje por temperaturas elevadas e chuvas que se concentram em um curto período do ano. Por conta da degradação ambiental, nascentes, riachos, rios e afluentes estão em franco processo de redução ou esgotamento. Além disso, o Instituto Terra responde a necessidades que não se restringem ao Vale do Rio Doce. O trabalho desenvolvido

Verde toma conta da área, anteriormente com solo erodido.

na RPPN Fazenda Bulcão nestes quase 13 anos nos permitiu desenvolver um modelo de recuperação de áreas degradadas de Mata Atlântica que pode ser replicado em outras regiões do país. É esse o modelo que está sendo levado a vários municípios do Vale do Rio Doce, através dos projetos de extensão ambiental, sempre com a parceria de governos – nas esferas federal, estadual e municipal – e também com o apoio de empresas e doadores particulares. E já desenvolvemos projetos também em outros estados. Uma parceria estabelecida com a Illycaffè, por exemplo, tem nos Trabalhadores no Viveiro permitido atuar até em algumas regiões de São Paulo, onde estão estabelecidas propriedades produtoras de café fornecedoras da empresa uma nova visão produtiva, eles poderão incentivar italiana. A ideia é que a partir dos estudos que os produtores no replantio e no aproveitamento da estamos concluindo, esses produtores efetivem floresta associada à produção. Mas nossas ações vão as áreas de proteção permanente e reservas legais muito além disso. Desenvolvemos vários projetos dentro de suas propriedades, aliando a práticas com foco na produção rural sustentável, sempre buscando a parceria das prefeituras da região e do sustentáveis de produção. Sebrae, que atua em sua área de expertise, pois se FD - Como o modelo de recuperação am- tratam de projetos que envolvem várias frentes de biental vem sendo desenvolvido junto ação – do replantio de árvores à adoção de novas práticas de produção, passando pela gestão da aos produtores rurais? AL - Os pequenos produtores rurais têm acen- propriedade rural e comercialização dos produtos. tuada importância para nossas ações. O Instituto Em Aimorés, por exemplo, dentro do que denomiTerra quer mostrar aos produtores das várias namos Projeto Aimorés, fizemos um extenso diagcomunidades do Vale o valor das reservas de mata nóstico prévio e identificamos as principais cadeias nas suas propriedades, que reabilitam as fontes de produtivas, seus pontos fortes e problemas e traçaágua e protegem córregos e rios. Um dos meios mos um plano de desenvolvimento sustentável para que permite ao Instituto Terra replicar essa visão cada setor. Entre os resultados obtidos, destaca-se é o curso que oferece anualmente, mantido com que, hoje, no município, o associativismo e o cooo apoio do Governo do Principado das Astúrias perativismo ganharam impulso como caminho para (Espanha) e que capacita técnicos-agrícolas a retomada do crescimento e começam a render recém-formados. Estamos formando verdadeiros empreendimentos promissores, por exemplo, na agentes de desenvolvimento rural sustentável. São área de bovinocultura de leite e apicultura. esses técnicos que, ao se formarem, voltam para suas cidades de origem e trabalham, quase sem- FD - De que maneira os produtores rurais pre, atendendo às pequenas propriedades. Com do entorno tiveram seu trabalho e/ou qualidade de vida transformados? O princípio de agricultura sustentável é apoiado/ desenvolvido de que maneira? Nesses 12 anos de atuação, o pequeno produtor rural abraçou o IT, isto é, mudou sua maneira de plantar e de lidar com a natureza? AL - Boi não come árvore. A expressão – comum na fala de produtores rurais quando o assunto é reflorestamento – ilustra um dos principais desafios enfrentados no início de nosso trabalho: vencer a convicção cultural, sedimentada ao longo de gerações e baseada na exploração não-sustentável. Mas após esses anos, observamos uma confiança crescente nas ideias que o Instituto Terra defende e nos métodos que dissemina para recuperação ambiental. A proposta que defendemos é associar – e não contrapor – a atividade produtiva à recuperação ambiental. Com o passar dos anos, os próprios produtores têm nos procurado, buscando soluções para problemas que são comuns na região – o mesmo cenário de degradação, erosão e escassez de água que estava estabelecido na Fazenda Bulcão, sede do Instituto Terra, há pouco mais dez anos, quando foi iniciado o trabalho de reflorestamento. Cada vez mais produFoto: Weverson Rocio

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e n t r e v i s t a tores superam o descrédito inicial e adotam novas práticas no campo, já conscientes da necessidade de respeitar e interagir com a floresta, não para extrair dela um ganho imediato, mas para investir no futuro, restabelecendo e conservando a mata que vai garantir a sustentação de seu próprio desenvolvimento, assim como a recuperação e a conservação da água nas suas propriedades. Além disso, os que participam de nossos projetos, quase sempre também incentivam seus vizinhos a nos procurar, diante dos resultados alcançados. Através de nossos projetos, incetivamos o reflorestamento do entorno das nascentes, dos topos de morros e das margens de rios, visando restabelecer a infiltração de água, necessária para realimentar esses cursos, além de reter a umidade e equilibrar a temperatura ambiente. A floresta estanca ainda a erosão e promove a renovação constante do solo, que ganha em fertilidade, proporcionando maior produtividade. A partir daí, o uso de técnicas agroecológicas potencializa ganhos e permite a redução de áreas comprometidas pelo uso agropecuário, ampliando a disponibilidade de trechos para reflorestamento ou para a implantação de projetos de exploração florestal planejada e sustentável.

b r a s i l FD - Fale-nos sobre a campanha Arredonde sua Conta. AL - É um programa que permite a qualquer um fazer parte de ações em prol do planeta. A partir dessa parceria com o Banco do Brasil, os clientes dos cartões de crédito operados pelo banco, independente da bandeira, podem arredondar para cima os centavos da sua fatura mensal. Ou seja, se a fatura for de R$ 100,20, ele pagará R$ 101,00, doando R$ 0,80 ao Instituto Terra - que aplicará os recursos de forma a ampliar sua atuação. Ou seja, a doação mensal nunca será maior do que R$ 0,99. É um programa bacana porque promove uma ação ambiental sem pesar no bolso.

gador privado do município de Aimorés. Além disso, orientamos nossas compras para a região, estimulando o comércio local. Se pensarmos que o orçamento anual médio do Instituto Terra é de pouco mais de 4 milhões de Reais e que parte substancial disso vai para esta região, na forma de salários, compras, contratação de serviços, é possível intuir sua contribuição para economia local. E todos os funcionários do Instituto Terra são contratados sob regime da CLT, inclusive os temporários, recrutados para o período de pico do plantio de mudas. A título de curiosidade, segundo o levantamento feito pelo relatório “Análise Gestão Ambiental – 2010/2011”, o Instituto Terra ocupa o quarto lugar em número de funcionários FD - Em termos de geração de emprego e remunerados, de um total de 328 de ONGs amrenda, quais os indicadores do IT? bientais pesquisadas no Brasil. Na frente IT estão o AL - O Instituto Terra hoje conta com 101 co- Instituto Acqua, o Pró-Tamar e o ISA. laboradores, constituindo-se no maior empre-

FD - Como pólo irradiador de idéias, qual o raio de alcance do IT? AL - Somados os projetos de extensão e educação ambiental já desenvolvidos, são mais de 170 os municípios do Vale do Rio Doce, entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, em que já estabelecemos presença, difundindo nossas ideias e métodos. São mais de 43 mil pessoas atendidas diretamente, entre agricultores, líderes comunitários, professores, estudantes, técnicos de governos, entre outros. Mas nosso objetivo é alcançar todos os municípios integrantes do Vale, ajudando a retornar parte da rica biodiversidade que existia naquela região há 50 anos. FD - Quais são os apoiadores do IT? AL - Devido aos altos custos usualmente associados à recuperação ambiental, o Instituto tem encontrado entre os seus investidores grandes empresas nacionais e internacionais, governos locais de diversas partes do mundo e fundos internacionais de financiamento a projetos de alcance global. Iniciativas de interesse localizado freqüentemente encontram viabilização por meio de convênios e parcerias com órgãos públicos, agências de desenvolvimento e empresas locais. Já as doações desvinculadas de projetos específicos, em geral provenientes de fundações individuais ou empresariais, contribuem para a sustentação dos custos de manutenção da estrutura administrativa – um dos grandes desafios para a sobrevivência das ONGs. O reconhecimento crescente do Instituto Terra como fornecedor de produtos e serviços ambientais e educacionais tem ampliado as oportunidades para a diversificação de receitas desvinculadas, provenientes de encomendas de mudas florestais e de formatação e realização de cursos e promoções ambientais e sociais.

Início do processo de recuperação da RPPN Fazenda Bulcão - 1º Plantio em 1999 (Foto: Sebastião Salgado)

RPPN Fazenda Bulcão em 2011, após 12 anos do início do processo. (Foto: Ricardo Azoury)

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aranapiacaba é conhecida por suas brumas e por sua atmosfera misteriosa que se diferencia de outros lugares turísticos de São Paulo. Grande parte dos turistas que ali chega, espera algo diferente de uma cidade turística padrão: querem névoas, tempo nublado, pouca visibilidade, garoa fina... Essa busca por algo mais profundo e nostálgico é a base ideológica deste ensaio fotográfico. Essa atmosfera silenciosa, lenta e quase melancólica, é propícia para levar e elevar nossas mentes a lugares distantes onde as brumas farão seu papel de fazê-lo não enxergar para enfim, você conseguir sentir, imaginar, ouvir, de uma forma impossível de realizar nas grandes metrópoles, que sempre corre contra o tempo e despreza os momentos. Essa relação de tempo é muito forte em Paranapiacaba. O desgaste das construções unido ao avanço da natureza sobre as obras criadas pelo homem remete ao movimento artístico chamado Romanticismo, e é deste movimento que veio a inspiração estética para este ensaio. Usando uma câmera médio-formato 6x6 analógico da década de 50 chamada Yashica Mat, foi possível capturar esses instantes ordinários, porém profundos.

Jorge Sato Jorge vive em São Paulo, graduou-se pela ESPM (Escola Superior de Propaganda & Marketing) em 2005 e começou sua carreira trabalhando em agências de propagandas no departamento criativo. Este ensaio foi apresentado no SESC (Brasília / DF) e no JF em Foco 2010 (Juiz de Fora / MG). Contatos : 11 93843137 - www.jorgesato.com

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aranapiacaba è conosciuta per le sue brume e per la atmosfera misteriosa che si differenzia da altri luoghi turistici di San Paolo. Grande parte dei turisti che vi giungono, si aspetta qualcosa di differente rispetto ad una città turistica tradizionale: vogliono nebbie, tempo nuvoloso, poca visibilità, pioggia sottile... Questa ricerca per qualcosa di più profondo e nostalgico, è la base ideologica di questa presentazione fotografica. Questa atmosfera silenziosa, lenta e quasi malinconica, è adatta per portare ed elevare le nostre menti a luoghi distanti dove le brume faranno in modo di non farti vedere per consentire di sentire, immaginare, ascoltare in un modo che non è possibile realizzare nelle grandi metropoli, dove si corre contro il tempo e si disprezzano i momenti. Questa relazione di tempo è molto forte in Paranapiacaba. La corrosione delle costruzioni insieme all’avanzare della natura sopra le opere create dall’uomo, rimanda al movimento artistico chiamato Romanticismo, ed è da questo movimento che è venuta l’ispirazione estetica per questa presentazione. Usando una macchina fotografica di formato medio 6x6 degli anni ´50 chiamata Yashica Mat, è stato possibile catturare questi istanti ordinari, ma profondi.

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Jorge Sato vive a San Paolo, si è formato all’ESPM (Scuola Superiore di Propaganda e Marketing) in 2005 ed ha iniziato la sua carriera lavorando in agenzie di propaganda nel settore di creazione. Questa presentazione è stata esposta nel SESC di Brasilia e nel JF em Foco 2010 (Juiz de Fora / MG).

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h umberto mala Uma explosão de cores A

Sem título - Foto ilustração e colagem

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rquiteto, fotógrafo, pintor, desenhista, escultor, designer de arte - com algumas incursões pela literatura, cinema e teatro. Impossível não pensar naquela bela frase do estupendo Garcia Lorca: “Há coisas encerradas dentro dos muros que, se saíssem de repente para a rua e gritassem, encheriam o mundo”. Ou seja, o paraense Humberto Ferrão Malaquias é uma espécie de homem dos sete instrumentos das artes nacionais. “Mas foi com a prática da Arquitetura que me envolvi definitivamente com as artes plásticas, por intermédio do contato com professores de estética que me estimulavam muito”, garante. Atualmente radicado em Tiradentes, cidade mítica, verdadeiro sinônimo de cultura e bem estar em Minas Gerais, o artista vai se deixando impregnar aos poucos pela vitalidade das cores locais. Junta, assim, a sua experiência de colorista - e dos bons - aos ares barrocos da

velha Minas. Em tempo: Tiradentes é o berço do “herói ensandecido de amor pela liberdade” Joaquim José da Silva da Xavier, do pintor Manuel Victor de Jesus, do poeta Basílio da Gama, do músico Manoel Dias de Oliveira, do pesquisador Basílio de Magalhães, do botânico Frei Velloso - e ninguém vive impunemente ali, sobretudo se for artista de talento. O resultado não poderia mesmo ser outro: a obra do artista provoca em cada um de nós um deslumbramento estético. Humberto Malaquias é um desses coloristas que nasceram prontos, dir-se-ia até. Alguns trabalhos e experimentos seus estão na fronteira entre a pintura,o desenho e a fotografia, é certo. Além do que, Humberto Malaquias domina completamente a luz como elemento plástico. Não é difícil perceber isso - e Sem título - Foto Experiência no 3 Março Março/ /Abril Abril 11


artes plásticas

cultura

Sem título - Foto Ilustração Experiência no9

quias Ivan Alves Filho

nunca é demais lembrar que photus, em grego, significa luz. O artista desenha com a luz, tal qual o grande mestre Henri Cartier-Bresson, uma espécie de geômetra da passagem lenta e inexorável do tempo. O leitor da revista Forum Democrático tem aqui uma pequena mostra do talento de Humberto Malaquias, um paraense de Belém, nascido em 1962, e que já expôs em Rio Claro, Limeira, Mocóca, São Sebastião, cidades do interior de São Paulo, e, também, no belo Centro Cultural Yves Alves, dirigido pela dinâmica Flavia Frota, em Tiradentes. É o artista ainda quem diz: “Fiz inúmeros cursos ligados a fotografia no MAM de São Paulo e recebi todo o apoio da mestre e doutora Simonetta Persichetti. Trabalho com todo tipo de material e suporte. O importante é a criação.” E completa: “ O melhor mundo é o dos sonhos. Lá em cima, fora da órbita da Terra. Quando aterriso lá em cima, sou feliz.” Palavra de artista que se sabe, acima de tudo, um eterno experimentador, um aprendiz de tudo. Para contato: e-mail: humberto_arqdesign@hotmail.

Sem título - Foto Experiência no1

Fotografia no 2 Sem Título - Mista sobre madeira no 2

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cultura

r e f l e x ã o

Luis Maffei luis.maffei@terra.com.br

Zero de bendição N

ão sei quem é Christian Rocha, nem pessoal nem profissionalmente. Deparei-me, em profícuo acaso, com um texto, de nome “Malditos sejam os ignorantes”, por ele assinado e postado na Internet. Provocou-me a escolha por “malditos” e “ignorantes”, num jogo com as maldições bíblicas impetradas por Moisés e, por outro lado, numa reversão da bem-aventurança prometida ao crente no reino dos céus. “Malditos sejam os ignorantes” é título, por assim dizer, com potencial corajoso, já que as reflexões que se ambicionam sérias têm temido excessivamente a assertividade, enquanto uma veemência sobremaneira tola pulula pelo discurso mais ingênuo, ou, para aproveitar palavra-chave de Christian Rocha, “ignorante”. É claro que, sem o conhecimento do texto, não se pode dizer se o título é de fato corajoso ou apenas pretensioso – só amaldiçoa os “ignorantes” quem não se considera nem um pouco ignorante: esbarra em mal-vinda imodéstia a consciência de si de quem assina o texto? Em verdade, não é isso o que me leva a querer conversar com o artigo de Christian Rocha, pois não cabe a mim, aqui, fechar qualquer questão acerca do escrito em pauta. Conversar é palavra que me sabe bem, e insisto: quero conversar com esse texto, a partir, não nego e nem quero negar, de afinidades, pois a indignação do autor afina-se a indignações minhas. Assim começa “Malditos sejam os ignorantes”: O ignorante pode causar danos maiores do que um criminoso. O criminoso não diz que seu gesto é correto, ele não se afirma como modelo de moralidade e civilidade, ele simplesmente comete o crime e sabe que está sujeito às penas da lei e à força da Justiça. Talvez o ignorante não cometa crimes, mas tem o physique du rôle para cometer atrocidades muito maiores do que aquelas que ele mesmo repudia. Ele comete erros e aposta na própria retidão. Ele desrespeita as leis e vê nisso um modelo a ser seguido. Ele acha que ordem é falta de liberdade e, por isso, se acha oprimido (...). Ele comete erros com a firme convicção de que está agindo certo e fazendo um bem para a sociedade, quando a realidade é exatamente o contrário disso. Realmente aprecio o destemor do texto. É claro que existem perigos diversos, e Christian Rocha não escapa de todos. Um deles advém da própria definição de “criminoso”, categorização não demasiado fácil, pois necessariamente acorde a um conjunto específico de regras – é óbvio, o que se entende por crime numa determinada cultura pode ter entendimento distinto noutra, ainda que, nesse pormenor, os entusiastas da diversidade tenham de se conformar em haver mais semelhanças que diferenças. Além do mais, num contexto opressor, o criminoso necessita de extrema inteligência e revolucionária cultura para configurar-se como criminoso, e isso eu aprendi lendo poesia, prática, por seu poder de desobediência e desvio, da ordem do crime, simbólico, sim, mas realmente criminal. O “ignorante”, segundo o texto, “se acha oprimido”. É curioso, mas, e o autor há de concordar comigo, o que Christian Rocha chama de “ignorante” é mais opressor que qualquer outra coisa, pois, ao contrário do criminoso, esse tipo de indivíduo repousa sobre os pacatos braços da lei. Diante do parágrafo citado, entendo que o “ignorante” é a criatura que traz em si a terrível combinação de senso comum e arrogância, e começo a supor que a mal-vinda imodéstia sobre a qual faz sentido pensar aqui, a partir do texto de Christian Rocha, não é a de Christian Rocha, eventual e apenas suspeita, mas a de seu “ignorante”. Em resumo, não conheço nada mais arrogante que a nefanda mistura que acabo de citar, a que repete, com a mais torpe das autoridades, lugares comuns pelo mundo, a que julga, sem a menor capacidade de julgar, tudo e mais um pouco. Boa parte dos lugares comuns em que penso vem dos discursos hegemônicos da indústria cultural – a publicidade desfruta aí de lamentável destaque. A crença e a consequente repetição, que conferem a esses discursos o

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estatuto de verdade, tornam o mundo um lugar muito perigoso, e não em virtude dos criminosos. Perigoso e desagradável, perigoso e, no limite, violento. O que me levou a falar do texto de Christian Rocha foi o parágrafo abaixo: Também é comum aquele tipo de ignorante que acredita que o mundo é o seu filme. Ele liga o som do carro no volume máximo ou dá festas às 3 horas da manhã — e acha mesmo que todos preferem festejar a dormir a essa hora. O ignorante realmente acredita que vai conquistar mulheres se tiver bazookas e subwoofers funcionando a carga plena em seu carro. E é uma coincidência irritante o fato de nenhum desses imbecis ser capaz de ouvir música decente; você nunca vê um sujeito desses ouvir Mozart, Pixinguinha ou Benny Goodman. Só se ouve lixo, como se o prazer estivesse não na música alta, mas em contaminar os ouvidos alheios. O mesmo raciocínio vale para muitos motoqueiros, churrasqueiros, botequeiros e os eternos candidatos a algum cargo político — todas as pessoas que adoram música ruim e alta, que falam berrando e que ignoram o valor da quietude e da discrição. Não posso discordar, pois se o som que vem dessas invasões fosse realmente Mozart, Pixinguinha ou Benny Goodman (Mozart por Benny Goodman não é uma admirável hipótese?), a indignação do autor seria, no mínimo, mais branda. Lembro-me de que certo amigo lamentou, diante de um porta-malas de automóvel aberto do qual saía um som ofensivo, que, caso alguém sacasse uma metralhadora e destruísse o veículo, iria preso somente o atirador, sendo este um elemento meramente reativo; o outro, o que começou a violência, certamente ficaria impune. De fato, o que Christian Rocha chama de “ignorante” é muito perigoso, pois violenta semelhantes sem sequer dimensionar sua violência – em certo nível, “criminoso” pode ser o oposto de “ignorante”, especialmente se observarmos o quanto se veem inocentados os que sequer ouviram falar em Benny Goodman. E é, sem dúvida, notável: propaga-se, pelo “ignorante”, sempre o que, no universo fonográfico, equivale aos discursos hegemônicos a que fiz referência há pouco. E propaga-se de modo preocupante, pelo que observo, a quantidade de gente que faz esse tipo de coisa. Christian Rocha é peremptório, e com isso corre riscos em seu texto. Admito que “Malditos sejam os ignorantes” poderia problematizar mais e melhor certos conceitos que veicula – “o valor da quietude e da discrição” é um deles, “música decente” é outro, mesmo porque há, na indecência de certos movimentos musicais, extrema vitalidade histórica: Adorno não julgou o jazz, por assim dizer, indecente? Ainda hoje alguns ouvidos não consideram a música de Schönberg uma indecência? Não obstante, o texto, por ser uma resposta a realidade hodierna acachapante, tem mesmo de apresentar um éthos irritado, pois a circunstância, repito, é violenta, não menos, e a música minimamente mais densa sofre muito com isso, e ouvidos como os de Christian Rocha sofrem muito com isso. Se eu puder discordar suave mais enfaticamente de uma passagem do texto, seria desta: “O ignorante realmente acredita que vai conquistar mulheres se tiver bazookas e subwoofers funcionando a carga plena em seu carro”. É isso, é bem isso. Mas o tom do fragmento sugere que o “ignorante realmente acredita” em algo que está longe de se tornar verdade, e é aí que vejo distintamente: o “ignorante” tem toda a razão em crer no que crê, pois nosso mundo é cada vez menos hostil a esse tipo de ato e actante. Imagino que muitas “mulheres” preferem ouvir “bazookas e subwoofers funcionando a carga plena em” algum “carro” a outros tipos mais lentos e profícuos de sedução. É por essas e outras que, percebendo melhor agora o título elegido por Christian Rocha, lamento tanto que a maldição não vá ter forças para expulsar de nosso convívio, fosse para onde fosse, os amaldiçoados. Pena.

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