Revista Placar

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CORINTHIANS as lições dO time que ganhOu tudO

INTER

dunga, bOte Ordem na casa!

MÉXICO

O futebOl dOminadO pelOs cartéis da drOga

UM ANO dOIdãO

ed 1374 • janeiro 2013 • R$ 10,00

O que esquecer e O que lembrar de 2012

PaPai Felipão voltou com o desafio de fazer o Brasil ser feliz em casa

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preleção

m au r íc io bar r o s / direto r de redação

VICTOR CIVITA (1907-1990) Editor: Roberto Civita Conselho Editorial: Roberto Civita (Presidente), Thomaz Souto Corrêa (Vice-Presidente), Elda Müller, Fábio Colletti Barbosa, Giancarlo Civita, Jairo Mendes Leal, José Roberto Guzzo, Victor Civita Presidente Executivo Abril Mídia: Jairo Mendes Leal Diretor de Assinaturas: Fernando Costa Diretor Geral Digital: Manoel Lemos Diretor Financeiro e Administrativo: Fabio Petrossi Gallo Diretora Geral de Publicidade: Thaís Chede Soares Fundador:

Diretor de Planejamento Estratégico e Novos Negócios

Daniel de Andrade Gomes Diretora de Recursos Humanos: Paula Traldi Diretor de Serviços Editoriais: Alfredo Ogawa Diretora Superintendente: Claudia Giudice Diretor de Núcleo: Sérgio Xavier Filho

O mês e o minuto sta PLACAR é uma publicação mensal. Você a recebe ou compra na banca (ou baixa no tablet) e mergulha no universo do futebol. Em águas profundas. Porque é característica da revista esmiuçar o esporte mais popular do planeta. Números, análises, reportagens, história, humor, investigação. A melhor companheira da PLACAR é uma poltrona bem confortável. Você senta e tira um tempo para sua maior paixão — o futebol.

E

Mas a revista sai uma vez por mês. E nos clubes acontecem coisas a todo minuto. Bem, para dar conta de tudo com a excelência da maior revista de esportes do Brasil, temos nossas telas — do computador, do celular, dos próprios tablets e do que mais se inventar. A locomotiva é o site www.placar.com.br. Mas sabíamos que ela precisava de uma funilaria para seguir em frente. Pois chamamos os mecânicos. E o site de PLACAR está de cara nova. Um visual mais bacana, uma navegabilidade mais eficiente. E muito mais conteúdo. Notícias do seu clube, galerias de fotos, números, fichas, tabelas. Muito espaço para interação e conectividade com as redes sociais. Uma nova área para nossa “menina dos olhos”, a Bola de Prata, com o desempenho de todos os jogadores no Brasileirão. Produzimos também um ambiente especial sobre a Copa de 2014 e criamos novos blogs (são 14 no total), com opinião e informação de qualidade. Nos últimos três meses, triplicamos nossa audiência. E os números seguem subindo. Fica então combinado assim: o dia a dia, o “varejo” de sua paixão pelo futebol, é abastecido pelo nosso site. E todo mês, a revista o convida para um banquete. Para você degustar com calma. Em tempo: que comecem logo os campeonatos, que já estamos com saudades! ©1

Acima, a equipe do site PLACAR; e abaixo, o Especial Bola de Prata, que está nas bancas com o melhor do Brasileirão 2012 ORA, BOLAS!

COMO PELÉ, NEYMAR VIRA HORS-CONCOURS RONALDINHO GAÚCHO LEVA O OURO

Fred Ronaldinho Gaúcho

GRÁTIS

EDIÇÃO DOS CAMPEÕES 31 PÔSTERES

Neymar

Bola de PRATA ★

2012 ★

OS VENCEDORES DO MAIS IMPORTANTE PRÊMIO DO FUTEBOL BRASILEIRO

SÉRIE A

UM BALANÇO DO DESEMPENHO DOS 20 CLUBES

SÉRIE B

VIVA GOIÁS, CRICIÚMA, ATLÉTICO-PR E VITÓRIA!

4 / placar / janeiro 2013 © 1 foto ALExAndRE BAttiBugLi

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Diretor de Redação:

Maurício Barros

Arte: Rogerio Andrade (chefe), Gustavo Bacan (editor) e L.E. Ratto (designer) Editor: Marcos Sergio Silva Repórter: Breiller Pires Revisão: Renato Bacci PLACAR Online: Marcelo Neves (editor), Helena Arnoni (repórter), Eduardo Ramos

Almeida (designer) Colaboradores: Rodolfo Rodrigues (editor), Felipe Barros, Filipe Prado, Ricardo Gomes e Rogério Jovaneli e Thiago Sagardoy (texto), Cristiano Oliveira (webmaster) Coordenação: Silvana Ribeiro Atendimento ao leitor: Sandra Hadich CTI: Eduardo Blanco (supervisor), Adriana Gironda, Aldo Teixeira, Andre Luiz, Dorival Coelho, Marisa Tomas, Cristina Negreiros, Fernando Batista, Luciano Custódio, Marcelo Tavares, Marcos Medeiros, Mario Vianna, Rogério da Veiga e Ruy Reis Colaboraram nesta edição: Alexandre Battibugli (editor de fotografia), Renato Pizzutto (fotógrafo), Carol Nunes (designer) e Paulo Jebaili (texto) www.placar.com.br SERVIÇOS EDITORIAIS: Apoio Editorial: Carlos Grassetti (Arte), Luiz Iria (Infografia),

Ricardo Corrêa (fotografia) Dedoc e Abril Press: Grace de Souza Pesquisa e Inteligência de Mercado: Andrea Costa Treinamento Editorial: Edward Pimenta PUBLICIDADE CENTRALIZADA Diretores: Ana Paula Teixeira, Marcia Soter, Robson Monte Executivos de Negócios: Ana Paula Viegas, Caio Souza, Camila Folhas, Camilla Dell, Carla Andrade, Claudia Galdino, Cleide Gomes, Cristiano Persona, Daniela Serafim, Eliane Pinho, Emiliano Hansenn, Fabio Santos, Jary Guimarães, Marcello Almeida, Marcelo Cavalheiro, Marcio Bezerra, Marcus Vinicius, Maria Lucia Strotbek, Nilo Bastos, Regina Maurano, Renata Miolli, Rodrigo Toledo, Selma Costa, Susana Vieira, Tati Mendes PUBLICIDADE DIGITAL: Diretor: André Almeida Gerente: Virginia Any Gerente de Estratégia Comercial: Alexandra Mendonça Executivos de Negócios: André Bortolai, André Machado, Caio Moreira, Camila Barcellos, Carolina Lopes, Cinthia Curty, David Padula, Elaine Collaço, Fabíola Granja, Flavia Kannebley, Gabriel Souto, Guilherme Bruno de Luca, Guilherme Oliveira, Herbert Fernandes, Juliana Vicedomini, Laura Assis, Luciana Menezes, Rafael de Camargo Moreira, Renata Carvalho, Renata Simões PUBLICIDADE REGIONAL: Diretores: Marcos Peregrina Gomez, Paulo Renato Simões Gerentes: Andrea Veiga, Cristiano Rygaard, Edson Melo, Francisco Barbeiro Neto, Ivan Rizental, João Paulo Pizarro, Mauro Sannazzaro, Paulo Renato Simões, Ricardo Mariani, Sonia Paula, Vania Passolongo Executivos de Negócios: Adriano Freire, Ailze Cunha, Ana Carolina Cassano, Beatriz Ottino, Camila Jardim, Caroline Platilha, Catarina Lopes, Celia Pyramo, Clea Chies, Daniel Empinotti, Henri Marques, José Castilho, José Rocha, Josi Lopes, Juliana Erthal, Juliane Ribeiro, Julio Tortorello, Leda Costa, Luciene Lima, Pamela Berri Manica, Paola Dornelles, Ricardo Menin, Samara Sampaio de O. Rejinders PUBLICIDADE DEDICADA UNII: Diretor Publicidade: Willian Hagopian Gerentes: Ana Paula Moreno e Cleide Gomes Executivos de Negócios: Adriana Pinesi, Alexandre Neto, Bruna Santarelli, Camila Roder, Catia Valese, Cida Rogiero, Juliana Sales, Kauê Lombardi, Lucia Lopes, Marcia Marini, Marta Veloso, Maurício Ortiz, Michele Brito, Nanci Garcia, Nilo Bastos, Paula Perez, Rodolfo Tamer, Tatiana Castro Pinho, Solange Custodio e Zizi Mendonça. DESENVOLVIMENTO COMERCIAL: Diretor: Jacques Baisi Ricardo INTEGRAÇÃO COMERCIAL Diretora: Sandra Sampaio MARKETING E CIRCULAÇÃO: Diretora de Marketing: Simone Sousa Gerente de Marketing: Tiago Afonso Gerente de Núcleo: Cinthia Obrecht Gerente de Publicação: Eduardo Dias Analista de Marketing: Felipe Santana Consultor de Negócios em Marketing: Vinícius Conde Estagiários: Guilherme Ferracioli e Victor Wedemann Gerente de Eventos: Evandro Abreu Analista de Eventos: Adriana Silva dos Santos Gerente de Circulação Avulsas: Mauricio Paiva Gerente de Circulação Assinaturas: Gina Trancoso PLANEJAMENTO, CONTROLE E OPERAÇÕES: Gerente: Marina Bonagura Consultor: Tales Bombicini e Andrea Aparecida Cabral Especialista Processo: Igor Assan Coordenador Processo: Renato Rosante Coordenadora Publicidade: Claudio Silva ASSINATURAS: Atendimento ao Cliente: Clayton Dick RECURSOS HUMANOS: Consultora: Karine Meneguim

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e dição

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janeiro 2013 ©1

©1

30

38

destaques

30 Família scolari ii

A volta de Felipão reconduz estrelas à seleção brasileira e tenta copiar a receita do penta pelo hexa em 2014

38 coringão guerreiro

O que o bicampeonato mundial do Corinthians ensina ao país do futebol

46 tropa de elite

Como a rede do narcotráfico tomou o poder nos mexicanos Indios e Xolos

52 um zangão no inter

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46

52

Dunga volta ao Beira-Rio com a dura missão de aniquilar vaidades e colocar ordem no vestiário colorado

56 instituição feminina Nossa designer apresenta o recanto onde mulher joga pelada com as amigas sem pudor nem preconceito

60 bola de prata

Os vencedores do prêmio que coroou Neymar e deu o ouro a Ronaldinho

65 valeu, ano velho!

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Retrospectiva 2012 tem “adrianadas”, tombo de Mano e recorde de Messi

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sempre na placar 6

voz da galera

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tira-teima

10 imagens 18 aquecimento 26 meu time dos sonhos 27 milton neves 28 de canhota 78 planeta bola

56

65

86 bate-bola: eurico miranda 88 bate-bola: eduardo bandeira 90 mortos-vivos: joelmir beting

capa: © ilustração gonza rodriguez ©1 alexandre battibugli ©2 ilustração mariana coan ©3 jefferson bernardes ©4 renato pizzutto

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vozdagalera m e t a o p a u , e l o g i e , f a ç a o q u e q u i s e r . m a s e s c r e v a p a r a placar.abril@atleitor.com.br

Senti falta de mais espaço na revista para falar do Corinthians no Mundial. Espero que falem mais quando ganharmos o bi! Ygor Leiva, ygorleiva@gmail.com

Cadê a série B?

Fiquei muito chateado com a última edição da PLACAR: não teve nenhuma reportagem sobre o campeão brasileiro da série B, o Goiás. Marcelo Pereira Lima, Goiânia (GO)

Fiquei decepcionado ao abrir minha PLACAR e, mais uma vez, não ter uma matéria do nosso grande Tigre de Santa Catarina, o Criciúma. João Antonio Machado, joao.soutigre@hotmail.com

brasileira. Um ex-líder de torcida, que diz orgulhosamente ter participado de várias brigas e peitado um diretor de outro clube apenas para se promover jamais deveria ter um cargo diretivo. Paulo Rogério Stramaro, paulostramaro@hotmail.com

Leonardo Ribeiro, o “Capitão Léo”, simboliza a antítese da modernidade indispensável para que o futebol saia da Idade das Cavernas. Washington Fazolato, Rio de Janeiro (RJ)

Calma, pessoal. Já está nas bancas a nossa especial Bola de Prata 2012. Nela, falamos do desempenho dos 20 clubes da série A e também um apanhado das séries B, C e D.

Capitão Léo

A reportagem com o “Capitão Léo” retrata bem o nível da cartolagem

Sul-Americana

A matéria sobre a nova classificação da Sul-Americana está ótima — o mesmo não dá pra dizer sobre a competição. Esses organizadores não percebem que o dinheiro não pode esticar um calendário? Rafael Brasil Miranda, Anápolis (GO)

A revista especial do campeão mundial: planeta Timão

Não seja injusto, Ygor. Em novembro, PLACAR publicou um Guia Especial do Mundial de Clubes. Na edição de dezembro, mais Corinthians: entrevista com Tite e um raio-X do rival Chelsea. E, claro, o Corinthians campeão mundial mereceu uma revista especial.

Olha o Twitter

@gabriel1mortal Quanto rancor do Paulo Odone nessa entrevista à @placar, hein? @ViniciusGrissi e a @placar perde ponto com essa escolha pífia de alçar Neymar a “hors-concours” da Bola de Prata. Não faz o menor sentido. @lubortha Todo mundo arrumado para a premiação da Bola de Prata da @placar e o Ronaldinho Gaúcho vestido para ir a um churrasco. @psalgadoprmg Pra quem não conhece a Bola de Prata da @placar, é a única eleição justa dos melhores da temporada. E dá-lhe #Galo! @dadosk8 Os causos do @MiltonNeves na revista @placar são bons demais! Muito engraçado rsrs @filipe_jor A matéria da @placar deste mês sobre o Fabinho Fontes, ex-Corinthians, deveria ser lida por todo jogador que está começando!

fale com a gente Na internet www.placar.abril.com.br Atendimento ao leitor / Por carta: Avenida das Nações Unidas, 7221, 7º andar, CEP 05425-902, São Paulo (SP) / Por e-mail: placar.abril@atleitor.com.br / Por fax: (11) 3037-5597. As cartas podem ser editadas por razões de espaço ou clareza. Não publicamos cartas, faxes ou e-mails enviados sem identificação do leitor (nome completo, endereço ou telefone para contato). Não atendemos a pedidos de envio de pesquisas particulares sobre história do futebol, de camisas de clubes ou outros brindes. Não fornecemos telefones nem endereços pessoais de jogadores. Não publicamos fotos enviadas por leitores. Edições anteriores: Venda exclusiva em bancas pelo preço da última edição em banca acrescido das despesas de remessa. Solicite ao seu jornaleiro. Licenciamento de conteúdo: Para adquirir os direitos de reprodução de textos e imagens das publicações da revista PLACAR em livros, jornais, revistas e sites, acesse www.conteudo-expresso.com.br ou ligue para (11) 3089-8853. Trabalhe conosco: www.abril.com.br/trabalheconosco 6 / placar / janeiRO 2013

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tirateima as dúvidas mais cabeludas respondidas pela placar

Outro dia, percebi que os clubes de futebol têm duas ou três cores. Ou é alvi “alguma coisa” ou é tricolor. Existe algum clube no Brasil que possui quatro cores ou mais ou apenas uma cor?

Vasco campeão de 1998: último ano sem paulistas

Fabio Novaes Palma, fnpalma@hotmail.com

ergunta difícil essa, Fabio. Em época de início dos campeonatos estaduais, conferimos os uniformes das agremiações inscritas para todas as divisões dos torneios locais. E, de fato, o número de clubes de uniformes que não têm duas ou três cores é bem pequena. O campeão de diversidade é o Veranópolis. São cinco cores: azul, amarelo, vermelho, verde e branco. No Maranhão, o futebol é mais colorido: dois dos três grandes do estado têm quatro cores: Maranhão e Sampaio Correa.

P

COLORIDOS E MONOCROMÁTICOS times

cores

cinco cores Veranópolis-rs

Rodrigo Teixeira, São Paulo (SP) azul, amarelo, Vermelho, Verde e branco

Quatro cores maranhão-ma

preto, Vermelho, azul e branco

sampaio correa-ma

amarelo, Vermelho, Verde e branco

carajás-pa

branco, laranja, azul e lilás

pauferrense-rn

branco, azul, amarelo e Verde

uma cor são cristóVão-rj

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são Cristovão: uma cor só ©1 foto edison Vara

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Fiz uma aposta com um amigo e vale um engradado de cervejas: qual foi o último ano em que a Libertadores não teve times paulistas? Eu apostei com ele 2002. E aí, ganhei?

branco

R

odrigo, você se esqueceu do Azulão vice-campeão brasileiro de 2001. No ano seguinte, o clube do ABC paulista participou — e bem — da Libertadores, terminando em segundo lugar. A última vez que o torneio continental não teve nenhum clube de São Paulo foi em 1998. Naquele ano, participaram da competição o Cruzeiro (atual campeão da Libertadores), o Grêmio (vencedor da Copa do Brasil de 1997) e o Vasco (campeão brasileiro do ano anterior). O clube carioca venceu a competição, batendo os rivais brasileiros pelo caminho (o Grêmio na primeira fase e nas quartas e os mineiros nas oitavas). A partir de então, os paulistas não faltaram em nenhuma edição da taça.

OS ANOS SEM PAULISTAS NA LIBERTADORES ano

rePresentante

1960

bahia

1966

nenhum brasileiro participou

1967

cruzeiro

1969

nenhum brasileiro participou

1970

nenhum brasileiro participou

1975

Vasco e cruzeiro

1976

inter e cruzeiro

1980

inter e Vasco

1981

flamenGo e atlÉtico-mG

1983

flamenGo e GrÊmio

1985

fluminense e Vasco

1986

coritiba e banGu

1989

bahia e inter

1990

Vasco e GrÊmio

1997

GrÊmio e cruzeiro

1998

cruzeiro, Vasco e GrÊmio janeiRO 2013 / placar / 7

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imagens

despedida de sangue

Em sua despedida do S茫o Paulo, Lucas jaz no gramado do Morumbi com o rosto ensanguentado ap贸s cotovelada de Orban, do Tigre, na final da Copa Sul-Americana: na bola, os violentos argentinos levaram uma surra

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Š foto renato pizzutto

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imagens

vai lá bater!

Marcos é “convidado” a cobrar o pênalti em sua despedida no Pacaembu: para alívio geral, ele bateu e fez o único gol de sua carreira

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© 1 fotos renato Pizzutto 2 foto reuters

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velho e bom

Walter Samuel, aos 34 anos, ainda é um dos melhores zagueiros argentinos em atividade — culpa de sua enorme vitalidade, que o faz superar facilmente barreiras como esta perna adversária, mas também da péssima safra de jovens becões hermanos

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imagens

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12 craques e um et

ganhadores da bola de Prata posam para o grand finale da edição 2012 do prêmio, nos estúdios dos canais eSPn: 11 vencedores da bola, uma revelação e um hors concours: neymar, o sobrenatural © foto alexandre battibugli

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not ícias

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cu r iosidad es

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f ut e b o l

aquecimento e d i ç ã o m a r c o s s e r g i o s i lva / d e s i g n l . e . r at t o

personagem do mês

Dinamite na fogueira enfrentando arrocho financeiro, rebelião de jogadores e o desmanche do time, o maior artilheiro da história do Vasco se transforma em cartola odiado na colina

Por breiller Pire s

uem viu Roberto Dinamite matar a bola no peito, pentear a cabeleira do botafoguense Osmar Guarnelli com um lençol escrupuloso e emendar o voleio para estufar as redes do Maracanã inevitavelmente o define como uma espécie de Pelé do Vasco da Gama. No imaginário de quem enverga a cruz de malta do lado esquerdo do peito, Roberto representa mais que um Pelé. É o mito. Ou pelo menos era, até explodir a crise mais aguda de sua gestão como presidente.

Q

Uma vertiginosa escalada de penhoras judiciais deteriorou as finanças do clube no fim de 2012. A dívida bruta, que já ultrapassa a casa dos 400 milhões de reais e é uma das que mais crescem entre os clubes brasileiros, compromete novas receitas e alimenta um ciclo vicioso. O patrocínio de 14 milhões de reais por ano da Eletrobras nunca pingou regularmente na conta cruzmaltina. Sem as certidões negativas de débito, a estatal retém o repasse da grana. Desfalcado da verba de seu patrocinador principal, o Vasco chegou em dezembro ao ápice dos atrasos de salário, corriqueiros ao longo da temporada. Há três meses sem receber, referências do time, como o goleiro Fernando Prass, o volante Nilton, o ata-

cante Alecsandro e até o ídolo Juninho Pernambucano, debandaram. No meio do ano, o desmantelamento da equipe, que perdeu Diego Souza, Fágner e Romulo, fez a nau vascaína despencar no Brasileiro. A vaga na Libertadores foi para o brejo, e não há garantia de que os jogadores que sobraram, incluindo Dedé, o guardião da defesa, irão permanecer em 2013. A nuvem de interrogações derrama uma tempestade de descrédito e prostração sobre o Gigante da Colina, cada vez mais encolhido. A volta de Ricardo Gomes, que tirou a equipe de atoleiro semelhante dois anos atrás, é o único alento, mas, dessa vez, será bem mais árduo salvar a lavoura seca. A conta recai em cima da mesa e das costas de Roberto Dinamite. Seu

nome, antes ovacionado nas arquibancadas, é achincalhado por torcedores enfurecidos e ridicularizado por rivais. Sua imagem lendária como jogador virou cinzas, ruiu na escala de goleadores e ídolos. Romário, detrator do presidente, eternizado com uma estátua, que reivindica mais de 50 milhões de reais do clube e é um dos responsáveis pelas seguidas penhoras, e Edmundo, cobrador de parcelas restantes de outros 6 milhões, gozam de mais prestígio com os vascaínos do que o ex-jogador mandatário. Dinamite tem culpa no cartório. Errou tentando acertar, mas errou. Quitou salários de apenas parte do elenco e inflamou ânimos já exaltados. Por vezes, deixou o coração de torcedor falar mais alto que a cabeça de gestor. Mas não deveria — e não merece — pagar por mazelas orquestradas bem antes de ele assumir o cargo e o risco de pôr sua história em xeque. Uma dívida de 400 milhões de reais não se faz sozinho, assim como os 617 gols que marcou pelo Vasco. Quando ascendeu à presidência em 2008, cinco meses antes de o time cair para a segunda divisão, Roberto visava estancar sangrias da era de gastança e megalomania legada por Eurico Miranda [leia entrevista na pág. 86], reabrir as portas que lhe foram fechadas por mais de uma década. Hoje, ele pode circular à vontade pelas sociais de São Januário. Porém, dificilmente voltará a ser o ídolo que já foi. A armadura de herói deu lugar à carapuça de vilão, e, por crueza do destino, a bomba estourou no colo de Dinamite.

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Roberto dinamite: no olho do furacão da crise financeira em são Januário

© foto divulgação vasco

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aquecimento

Mosquito na sopa acusado de aliciar revelação, atlético-pr é boicotado na base POR ALTAIR RAMOS Atlético-PR foi banido do Brasileiro sub-17, da Copa do Brasil sub-20 e da International Cup de Florianópolis, sob a acusação de ter aliciado um jogador sub-16 do Vasco. A atitude rompeu um acordo de cavalheiros entre as 40 principais equipes do país, o qual proíbe que atletas em litígio sejam aceitos em outro time. Havia pressão para que o Fu-

O

racão também fosse retirado da Copa São Paulo de Futebol Júnior, mas a Federação Paulista de Futebol decidiu mantê-lo na competição. O imbróglio começou em outubro de 2011. Thiago Rodrigues, o Mosquito, destacou-se no infantil do Vasco, a ponto de ir disputar o Sul-Americano sub-15 pela seleção. Na volta, alegando que o clube deixou de lhe pagar a

bolsa-formação, o atacante assinou o primeiro contrato profissional com o Macaé-RJ. Só que, em setembro de 2012, Mosquito desembarcou em Curitiba, emprestado até dezembro de 2013 para o Furacão. Atualmente, Mosquito vive em regime de concentração permanente no CT do Caju — forma encontrada pelo Atlético-PR para blindar o jogador.

O voo de Mosquito Thiago Rodrigues, o Mosquito, assina contrato profissional com o Macaé-RJ, mesmo com o contrato de formação com o Vasco em vigor.

Empresários do jogador o oferecem para São Paulo, Flamengo, Botafogo, Grêmio, Cruzeiro, Corinthians e Figueirense. Clubes, no entanto, cumprem “acordo de cavalheiros” e não o aceitam.

Não gostaria que um jogador nosso fosse para a seleção, fugisse e aparecesse em outro clube.

René Simões, então diretor das categorias de base do São Paulo, leva o caso à imprensa. 20 / placar / janeiro 2013

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O presidente do Atlético-PR, Mário Celso Petraglia, pede trégua ao Vasco. E ouve de Mauro Galvão, gerente de futebol do clube carioca:

mosquito vai parar no atlético-pr, que se recusa a pagar 2 milhões de reais ao Vasco pelos direitos. Clube é boicotado e banido de três torneios de base.

Ou paga ou devolve o jogador!

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©1 ilustração sam hart ©2 foto renato pizzutto ©3 ilustração milton trajano

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O futebol é uma Caixa de grana Banco estatal investe 38,8 milhões de reais em patrocínio de cluBes e já cola no mineiro BmG em total investido Caixa não está economizando para ver seu nome nos gramados. De cara, fechou acordo com quatro equipes, totalizando 38,8 milhões de reais — o banco BMG terminou 2012 gastando 40 milhões de reais com 25 clubes. Boa parte do orçamento vai para o contrato com o Corinthians. Serão 30 milhões de reais até dezembro. Avaí e Figueirense entraram na conta com 1,2 milhão de reais cada. E o AtléticoPR, com 5,4 milhões. O marketing do banco ainda mira estados como Goiás, Bahia e Pernambuco. O banco estatal segue a lógica do rival mineiro, que virou referência em patrocínio esportivo nos últimos quatro anos. Segundo a consultoria alemã Sport+Markt, o BMG saltou na lista de empresas lembradas por quem assiste futebol. Com o investimento, passou para o terceiro lugar — antes, não figurava nem entre as 90. O “ataque” da Caixa contrasta com a retração dos investimentos do BMG. A empresa vem cortando patrocínios aos poucos. O banco não confirma oficialmente, mas a tendência é permanecer apenas com AtléticoMG, Cruzeiro e Santos em 2013.

A

POR BRUNO FORMIGA

O dinheiro de cada banco

4

25

clubes patrocinados

clubes patrocinados

R$ 38,8

R$ 40

milhões anuais

30 milhões de reais por ano. Tem troco?

milhões anuais

Passa lá no meu banco.

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lendas da bola P O R M I ltO N t R A jAN O ©3

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aquecimento

O Mourinho de Osasco Baltemar Brito, irmão do pintor romero Brito, põe em prática os ensinamentos do mestre na segundona paulista le está em decadência. Trabalhou tanto tempo com o Mourinho e agora vem jogar aqui com o Vampeta”, brinca o presidente do Grêmio Osasco, Lindemberg Assis. O cartola fala do novo técnico do time, Baltemar Brito, antigo braçodireito do português (acompanhou-o como auxiliar do União Leiria até a Inter de Milão e só o deixou quando o Special One foi para o Real) e que agora tem o ex-corintiano na comissão técnica. “Trago uma mala cheia de referências [de Mourinho]. Só não posso fazer uma imitação porque nunca dá certo”, diz. Baltemar é amigo do treinador. No Chelsea, passavam Natal e Ano-Novo juntos. Uma das lições que trouxe do ex-chefe foi a de trabalhar com um elenco enxuto. Para ele, é preciso ter, no máximo, 20 atletas de linha e três goleiros. Ao chegar a Osasco, encarou mais de 30 jogadores. “Lidar com reserva de jogo já não é fácil, imagina de treino?” Baltemar foi indicado pelo Braga, em uma parceria firmada entre o clube brasileiro e o português, e tem um irmão famoso: o artista plástico Romero Brito. Mas não o vê há quase 50 anos. “Seguimos trajetórias opostas.”

“E

por MarCoS SerGio SiLVa

baltemar: mourinho como inspiração

porto Baltemar jogou com Mourinho no Rio Ave. Como auxiliar, ajudou o português a ganhar a Liga dos Campeões no Porto.

chelsea Mourinho e Baltemar ficaram ainda mais próximos no Chelsea. E foram bicampeões ingleses. ©1

o homem mais irado da cidade p o r e nr iq u e az n ar ©2

Dunga, você é uma mula empacada! Por isso que eu te respeito. Meu tio Ramón, um índio corpulento, me ensinou que mulas empacadas têm princípios. E você nunca abriu mão deles. Mesmo quando virou injustamente o símbolo daquela seleção porcaria de 1990. Deu a volta por cima em 1994, e em vez de mistificar uma imagem de capitão bonzinho, resolveu é xingar a taça. “Toma, seus sacanas, chupa que essa é pra vocês”. Eu prefiro essa tua autenticidade aos domesticados. Você peitou os poderosos e fez um trabalho excelente na seleção. Perder da Holanda faz parte do jogo. Sucesso pra ti no Colorado, seu chato! 22 / placar / janeiro 2013

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©1 foto rodrigo erib ©2 ilustração milton trajano ©3 ilustração stefan

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Resenhas do Vamp SelecionamoS trêS momentoS hilárioS de “Vampeta - memóriaS do Velho Vamp”, liVro baSeado em depoimentoS ao jornaliSta celSo Unzelte POR FELIPE ZYLBERSTAJN

bAixou o sAnto

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Durante a Copa das Confederações de 1999, no México, Vampeta dividiu quarto com o volante Flávio Conceição, que contou a ele que uma vez um santo havia baixado em sua filha. Vamp ficou com aquela imagem na cabeça. Acontece que o Conceição é sonâmbulo. No meio da noite, levantou da cama e começou a falar sozinho. Vampeta tacou a Bíblia do quarto na cabeça do colega, que acordou: — O que é que tá havendo!? — Achei que tinha um santo com você também!

respeito corintiAno

1999. Vampeta foi tomar sopa com dois amigos no elegante bairro de Higienópolis, em São Paulo. De repente, quatro caras entram no restaurante, anunciando o assalto. Um deles com a camisa do Corinthians. Quando viram o volante do Timão, disseram: — Olha só quem tá aqui! O Vampeta. Não vamos roubar você, não. Não vamos roubar ninguém, só a casa. E pediram autógrafo.

Amigo é pArA essAs coisAs...

O grupo da seleção estava concentrado em Foz do Iguaçu para a Copa América de 1999. Na hora do almoço, na frente de toda a delegação, o goleiro Marcos (amigo de Vamp desde a seleção de base) levantou-se, virou-se para o Vampeta e disse: — Obrigado. Estou aqui porque você perdeu aquele pênalti e eu virei São Marcos. Vampeta esperou cinco meses. Quando o goleiro declarou que estava pensando em parar de jogar depois de ter falhado no Mundial contra o Manchester, o baiano ligou imediatamente: — Que é isso, Marcão? Você f... os caras, mas não precisa parar de jogar, não! — Pô, pensei que você ia me ligar para dar moral... — Não. Liguei foi para falar que você f... os caras mesmo. Tchau! E bateu o telefone.

Gols de letra barcelona — o melhor futebol do mundo e o superado futebol brasileiro

Costa Machado Minha Editora Autor de livros jurídicos, Machado compara o atual momento do futebol no Brasil e o Barça. “O que parece indubitável é que a estratégia tática vale mais que o talento para o Barcelona.”

a bioGrafia de lionel messi

Leonardo Faccio Generale Trabalho jornalístico do argentino, que afirma que ignorava o futebol até “conhecer o talento de Lionel Messi”. “Bobby Fischer, campeão mundial de xadrez, levava em seu bolso um tabuleiro em miniatura com suas peças para jogar em qualquer lugar. Em vez de cavalos e peões, Messi usa uma bola.”

1942 — o palestra vai à Guerra

Celso de Campos Jr. Realejo A história do heroico ano de 1942, quando, em meio à 2ª Guerra, o Palmeiras mudou de nome e quase perdeu o estádio. “Quando escoaram os 45 minutos regulamentares, o árbitro soprou o apito. A guerra acabou. E o Palmeiras, contra tudo e contra todos, se sagrava campeão paulista.” janeiro 2013 / placar / 23

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aquecimento

A mulher que incendiou Del Nero reLaCionaMenTo CoM

Del Nero e Carol:

DiriGenTe Da FeDeraÇÃo

põe fogo nisso

PaULiSTa CaTaPULToU Carreira De MoDeLo Por Luiz FeLiPe SiLva

arolina é uma menina bem difícil de esquecer...”. O verso de Seu Jorge caberia bem na boca do presidente da Federação Paulista, Marco Polo del Nero. Ele quase foi parar na prisão por não tirar da cabeça Carolina Galan, repórter e musa da FPF, com quem namora (ou namorava). Ciumento, colocou detetives atrás dela e foi flagrado pela Polícia Federal na Operação Durkheim, que apurava a venda de dados sigilosos a organizações criminosas. Carol Galan é uma morena de 28 anos, formada em educação física. Mestre de cerimônias da festa da CBF, sua beleza foi assunto entre os jogadores que estiveram no evento. A trajetória de Carol na federação é meteórica. Em 2010, ela visitou a sede da entidade para saber sobre um curso de arbitragem quando foi convidada a fazer um teste para gravar pequenas matérias para o site. Até ganhou um programa, produzido em parceria entre a FPF e a Rede Vida. Além de incendiar o coração de Del Nero.

“C

Sabrina trocou o Timão pelo CAP

Outras mulheres-bomba

JOANNA MACHADO

ROSENERY MELO

RENATA ALVES

O jogador e a personal trainer protagonizaram diversos barracos — todos por amor, segundo a vencedora de A Fazenda 4. No mais célebre, Adriano a amarrou numa árvore no morro da Chatuba.

A fogueteira do Maracanã quase tirou o Brasil da Copa de 1990. Mas acabou mesmo foi com Roberto Rojas. O goleiro chileno aproveitou o explosivo para simular um corte no rosto. Foi banido do futebol.

Suposto caso do técnico Vanderlei Luxemburgo, o acusou, quando ainda treinava o Brasil, de sonegar impostos e de usar idade adulterada. As confissões custaram o cargo de Luxa na seleção.

O reforço da Penapolense

Sabrina Sato é um dos primeiros reforços confirmados para o próximo Campeonato Paulista. Parece estranho, mas a apresentadora, torcedora assumida do Corinthians, será embaixadora do Penapolense, time da sua cidade, em um projeto que não lhe dará retorno financeiro. A modelo emprestará a imagem, que será vinculada ao clube de 68 anos, para atrair ações de marketing, novos patrocínios e até reforços renomados. O convite partiu do marketing do time de Penápolis, cidade onde Sabrina nasceu, com a qual possui laços afetivos e que a considera filha ilustre. A família da apresentadora tem ligações históricas com o clube. “Meu avô, Kemil Rahal, foi um dos primeiros presidentes”, diz. Klaus Richmond

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China é a mãe!

O torneio de R$ 3 milhões

Clube da região serrana do rio aposta em revelação nipôniCa para brilhar no Campeonato CarioCa PO R comunicação, em português, ainda é básica. Mas o atacante japonês Toshiya Tojo, de 20 anos, contratado pelo Friburguense, é uma das promessas da equipe no Campeonato Carioca. “Será uma vitrine para mim”, diz Toshiya, fã de Neymar e do português Cristiano Ronaldo. Toshiya Tojo teve sua primeira experiência no futebol brasileiro aos 15 anos, quando, de férias escolares, veio fazer testes em alguns clubes — situação que também viveu na Alemanha, na Holanda e na Espanha. Em 2011, foi levado pelo professor Yuzuki Ito para um período de experiência nas categorias de

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ALYSSON CARDINALI

base do Paulínia (SP). Voltou ao Japão, onde conheceu Claudio Okazaki, ex-atleta do Friburguense, que o trouxe para o time. Os colegas o adotaram. “Ele já é quase um brasileiro. Se adaptou rapidamente aos nossos costumes. Só que é muito feio”, diz o atacante Ziquinha, que não deixa Toshi em paz — ganhou apelidos como Jaspion e Jackie Chan. “No início, ele estranhou, mas hoje já adora arroz com feijão e churrasco. Só não gosta é de banana.” Só disso? Outra coisa irrita o japonês. “Ser confundido com chinês. Acho que o brasileiro não gostaria de ser chamado de argentino.”

toshiya: esperança japonesa no friburguense

Nos anos 90, o Nordestão foi o melhor torneio regional do Brasil – era a opinião de PLACAR. Depois de uma edição meio escondida em 2010, enquanto era disputado o Mundial da África do Sul, a Copa do Nordeste volta com os Estaduais em 19 de janeiro. Mas com uma diferença: as datas foram reservadas pela CBF para a competição e não haverá sobreposição de torneios como há dois anos. Os atrativos? Uma vaga na Copa Sul-Americana de 2014 e uma premiação que pode chegar a 3 milhões de reais para o campeão — a cota por partida, de 50 000 reais, é semelhante à paga nos jogos da série B do Brasileiro. As partidas serão transmitidas pelo canal Esporte Interativo. Já na terceira rodada, em 27 de janeiro, receberá uma rodada dupla: Ceará x Bahia e Fortaleza x Sport jogam no mesmo dia para celebrar a reinauguração do Castelão, já escalado para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. gRupOs DA COpA DO NORDeste

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©1 foto ALYSSoN CARDINALI

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Bahia l Ceará ABC l Itabaiana-SE

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Sport l Fortaleza Confiança-SE l Sousa-PB

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Vitória l América-RN ASA l Salgueiro-PE

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Santa Cruz-PE l CRB Campinense l Feirense-BA janeiro 2013 / placar / 25

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meutimedossonhos o s 1 1 m e l h o r e s d e t o d o s o s t e m p o s pa r a . . .

esquema 4-3-3 goleiro

WALDIR PERES “Inovou na posição ao provar que era possível jogar tanto com as mãos como com os pés.”

Toninho Cerezo

laterais

LEANDRO “É complicado fazer um time sem colocar este cidadão, né?”

CAMPEÃo Do MUNDo PELo SÃo PAULo, o PATrÃo DA BoLA MoNTA UM TIMAÇo. SEM DEIXAr DE LADo, CoMo BoM MINEIro, A TrADICIoNAL PoLITICAGEM BoLEIrA

JÚNIOR “Assim como o Leandro, foi grande referência da lateral por muitos e muitos anos.” zagueiros

OSCAR “Esse era fera demais.”

waldir peres

LUISINHO “Outro integrante da seleção de 82. Em termos técnicos, era um beque privilegiado.” luisinho

oscar leandro

meias júnior

gerson

cruijff

rivellino

vialli

GERSON “Sabia dosar. Enquanto eu corria 6 km, ele andava 500 metros.” CRUIJFF “Certa vez, fui jogar com a Roma na Holanda. Marquei um ‘véio’ pela esquerda, mas eu não conseguia pegá-lo. O camarada deu um tapa de trivela pra área e... gol deles. Pensei: ‘Esse é diferenciado’. No intervalo, ele veio me cumprimentar, disse que admirava meu futebol. Não reconheci o cara e perguntei seu nome. ‘Cruijff.’ Pô, era ele, em fim de carreira no Feyenoord. Naquela época, não existia essa coisa de estudar adversário.” RIVELLINO “Metia a bola onde queria. E tinha um domínio perfeito.”

reinaldo

bruno conti

atacantes

VIALLI “Foi campeão comigo na Sampdoria. Cracaço.” REINALDO “O rei da grande área.” BRUNO CONTI “Muito fora de série. Tinha DNA de jogador brasileiro.”

Esta não é uma seleção. São só algumas das feras com quem eu tive o prazer de jogar. É injustiça deixar tantos gênios de fora.

técnico

TELÊ SANTANA “Abriu as portas para eu voltar ao Brasil. Fomos campeões da Libertadores e do Mundial no São Paulo. Ele era íntegro e profissional.”

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causosdomiltão as histórias incríveis, hilárias e 99,3% verdadeiras do nosso futebol

p o r M i lt o n n e v e s

A zona do marechal Brasil goleou a França por 5 x 2, foi para a final da Copa de 58 e o austero Paulo Machado de Carvalho, como prêmio, liberou o elenco até as 23h em Estocolmo, três horas além do normal. Alguns nem saíram do hotel e todos os demais voltaram no tempo certo. Todos menos um, todos menos o Garrincha, é claro. Lá pelas 4 da manhã, o “Marechal da Vitória”, nervoso, insone e cansado de olhar para o relógio, fez o Pepe, só naquele dia companheiro de quarto de Mané, abrir o bico. E lá foi o doutor Paulo no encalço do nosso ponta fugitivo. Entrou no “inferninho” indicado pelo Pepe e lá no fundo, em mesa principal, estava o Garrincha enroscado e envolto por seis louras e 12 melões à mostra e muito mais à vontade e feliz do que jogando pela ponta-direita. Pé ante pé, o “Marechal da Vitória”, com cara de pouquíssimos amigos, chegou de mansinho, ficou bem ereto diante de mesa tão pornográfica, colocou as mãos nas cadeiras e disparou: “Que beleza, hein, seu Mané, você não tem vergonha?” Ao que o surpreso Mané, emergindo daquela enchente de louras, gritou: “Nooooosaaaaaaaa doutor Paulo, danadinho, hein? Até o senhor aqui na zona?”

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Trocando as bolas

Ao fim da Copa, com nossa seleção campeã, o Brasil vivendo a maior alegria de sua vida, os jornais bateram recordes em “edições extras”. A cada hora “fornadas” eram liberadas e milhares de exemplares vendidos em pouquíssimo tempo, com redações e © ilustração marceleza

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oficinas trabalhando a todo vapor. E trabalharam tanto que tivemos por cansaço alguns enganos, digamos, de tipografia. Em uma de suas edições extras, a célebre A Gazeta Esportiva estampou em manchete: “PAULO MACHADO DE CARALHO É O NOSSO MARECHAL DA VITÓRIA”. Faltou um “V” e sobrou pressa para recolher o que foi possível de exemplares vendidos em todas as bancas de São Paulo.

o ponTa Tombador

Messias Gomes de Mello (1903-2004) foi um arisco ponta-direita de Muzambinho (MG) nos anos 20 e 30 do século passado. Mas ele brilhou mesmo foi como prefeito da cidade mineira, cargo que ocupou por três vezes sempre com imensa correção no cumprimento das leis. Tanto que, enquan-

to transcorria seu último mandato, em 1968, recebeu em seu gabinete na prefeitura o texto de lei aprovada na Câmara Municipal tombando o lindo e histórico Coreto Itálico Municipal, baseado em planta original de Roma e construído em 1910 graças a imensa e dificílima importação de cimento italiano, então uma raridade. Aí, leu atentamente o texto da lei aprovada pelo Legislativo, deu sua concordância para que ela fosse promulgada, chamou seus dois mestres de obras, Agripino Pereira e Goemy Riboli, além de dez ajudantes, e em rápidas duas horas o monumento único de Muzambinho estava inteiramente no chão, tombado literalmente. Não sobrou nem um farelinho do suado cimento italiano no bucólico e lindo Jardim da Praça dos Andradas. JANEIRo 2013 / placar / 27

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decanhota

p o r s é r gio x av i e r f i l h o

Fala muito, e fala bem alem o que quiserem, mas José Mourinho é um baita técnico — e o Real Madrid, um baita time de futebol. Ultimamente, ambos estão sincronizados no modo fracasso. Há um ano, conversei com Paulo Roberto Falcão, ele tinha acabado de voltar de uma gira europeia em que tinha se encontrado com alguns treinadores. Falcão conversou com os italianos Arrigo Sacchi e Cesare Prandelli, o ex e o atual treinador da seleção italiana. E com José Mourinho.

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Lembro-me de ver os olhos de Falcão brilharem quando descrevia os métodos e as ideias do portuga ranzinza. Baita técnico. Estudava o adversário minuciosamente, mas só passava aos jogadores o necessário para desempenharem suas funções. Injetava confiança nos seus sem menosprezar os rivais. Ele disse a Falcão que difícil era motivar para o jogo pequeno, no clássico a adrenalina já seria natural. Aí me lembrei de outra conversa que tive com Tite, essa em 2003. Tite contou que entre um elenco mais nivelado e um time titular melhor ele preferia a primeira opção. Exagerando, achava mais produtivo ter à disposição 22 jogadores mais ou menos do que 11 atletas acima da média. Ele me explicou que, no futebol, o talento não bastava, era preciso manter sempre a motivação nas alturas. E, para isso, nada melhor que a batalha pela titularidade. Batalha constante, diária, que independe do adversário e da premiação pelo resultado. Boleiro que é boleiro odeia o banco de reservas. 28 / placar / JANEIRO 2013

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Lembrei-me de Tite e de Mourinho nesse Mundial de Clubes da Fifa. Tite venceu o Chelsea que Mourinho tornou grande. Tite vive seu melhor momento. Mourinho, o pior. Está mais do que na cara que o português perdeu a mão do time. Ninguém desaprendeu a jogar no Real, mas os jogadores não correm mais pelo time. A conversa de Mourinho parou de funcionar. No Corinthians, o contrário. Apesar do desgaste das temporadas, Tite

manteve a coerência. Não montou um elenco de estrelas, mas conseguiu um grupo de jogadores equilibrado e competitivo. Douglas bobeou e perdeu a posição para Jorge Henrique. Se Guerrero não ficasse esperto, daria o lugar a Romarinho. Tite conseguiu convencer o grupo de que o Brasileirão era o vestibular para o Mundial. Assim, manteve a equipe desperta, treinada, motivada. Como conseguiu? Com a conversa. Boa conversa. Não se cria esse clima de competitividade sem meritocracia. Não adianta incentivar a disputa por posição se não ficar claro que o melhor leva. Jogador não é bobo, sabe quem merece a camisa titular. Podemos falar das defesas de Cássio, do oportunismo de Guerrero, do grito da torcida, do tal planejamento da diretoria, dos conceitos táticos. Tudo ajudou na conquista. Mas o fator fundamental foi a conversa. A argumentação coerente de um treinador que conseguiu transformar um elenco mediano em um grande time de futebol.

A conversa de Mourinho parece não surtir mais efeito, enquanto a de Tite motivou o Corinthians a ganhar o Mundial

© foToS reuTerS

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Felipão não é o único rosto conhecido de volta ao batente. À moda antiga, a seleção brasileira evoca o patriotismo e recorre a velhos medalhões para buscar o hexa em 2014 p o r b r ei l l e r pi r e s d e sign gustavo bac an i l ustr aç ão g o n z a r o dr ig u e s JANEIRO 2013 / placar / 31

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fa m í l i a s c o l a r i i i

presidente da República sobe ao púlpito. São dela as palavras que abrem o sorteio dos grupos da Copa das Confederações 2013. “Teremos dupla responsabilidade nesse torneio. A primeira, claro, é apresentar um futebol bonito, que honre a tradição brasileira pentacampeã mundial”, discursa Dilma Rousseff, que só em seguida sublinharia a importância do legado da competição para o país e cumprimentaria, com uma salva de palmas, Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira, a nova chefia da seleção. O tom da presidente, que, ao contrário do antecessor, Lula, sempre se manteve distante da pauta futebolística que envolve a realização das Copas do Mundo e das Confederações no Brasil, foi tão surpreendente quanto provocante. “Para nós, vencer a Copa das Confederações será uma missão.” O recado de Dilma não poderia ter direção mais certeira que as poltronas de Felipão e Parreira, que haviam assumido o lugar de Mano Menezes dois dias antes e acompanhavam, a poucos metros do palco, o enfático discurso presidencial. Vencer, não só a Copa das Confederações como também o Mundial de 2014, tornou-se missão diplomática oficial. E o comandante da seleção abraçou o desafio. “Nós temos obrigação de ganhar a Copa”, disse Felipão em sua coletiva de posse no fim de novembro. Em um luxuoso hotel no Rio de Janeiro, havia uma sala repleta de jornalistas, câmeras, fotó32 / placar / JANEIRO 2013

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grafos e certo suspense. Como o técnico reagiria de volta àquele ambiente tenso e conflituoso que marcou sua primeira passagem pela seleção e a derrocada no Palmeiras? Parecia outro Felipão. Em meio ao alvoroço e aos repiques das máquinas fotográficas, ele cruza o corredor com um sorriso desabrochado que nem seu indefectível bigode é capaz de aplacar. Trata boa parte dos jornalistas com olhar tão afável quanto se os tivesse como amigos de longa data. Distribui alguns apertos de mão e até tapinhas nas costas. A comitiva, liderada pelo presidente da CBF, José Maria Marin, inclui o tetracampeão Parreira, nomeado coordenador técnico. À primeira impressão, o Brasil parece ter retrocedido uma década. Poses, planos e argumentos soam ultrapassados. Mas, no fim das contas, paira uma atmosfera de expectativa revigorada pelo sexto caneco.

A chance de conquistar seu segundo título mundial, jogando em casa, chacoalhou o ânimo de Felipão. Sorrisos e cortesias não tiram a firmeza de sua fala, que, anacronicamente, dirimiu a rispidez de um relacionamento outrora explosivo com a imprensa. Durante a coletiva, o “estado zen” permite ao técnico manobrar uma caneta entre os dedos enquanto responde à pergunta sobre o peso de dirigir a seleção em uma Copa no Brasil. “Hoje não somos favoritos, mas seremos até o início da competição”, afirmou, com a segurança de quem tem a noção precisa de qual caminho percorrer.

Todos junTos vamos?

O fato de o Brasil ser sede da Copa de 2014 reacende o poder de influência política na seleção. Além da demora em azeitar a equipe, Mano Menezes viu parte de sua queda se desenhar por fatores extracampo. © foto reuters

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Geração 2014

A árvore geneAlógicA dA novA fAmíliA ScolAri

José Maria Marin dá carta branca a Felipão na montagem da comissão técnica, mas mantém a exigência de ver a lista dos convocados com antecedência que havia imposto a Mano Menezes.

Patriarca da equipe pentacampeã em 2002, Luiz Felipe Scolari foi reconduzido ao topo do organograma para instalar laços familiares na seleção, com uma tríade bem conhecida a tiracolo.

O auxiliar Flávio Murtosa e o preparador físico Paulo Paixão, campeões do mundo no Japão, integram novamente a comissão técnica, sob a coordenação de Carlos Alberto Parreira.

Uma das funções de Parreira é fazer a ponte entre Felipão e alguns medalhões comandados por ele na Copa de 2006, como Fred, Ronaldinho e Kaká, e negociar eventuais liberações com seus clubes.

O plano do novo comando técnico da seleção é fazer com que os jovens Leandro Damião, Lucas, Neymar e Oscar sejam regidos por jogadores mais experientes, interlocutores de Parreira e Felipão.

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fa m í l i a s c o l a r i i i

Resquício da gestão de Ricardo Teixeira, o ex-treinador também foi alvejado por figurões como Romário, que, de seu gabinete na Câmara dos Deputados, escarnecia do selecionado canarinho. Na sequência, o pedido de demissão de Andrés Sanchez, desafeto de Felipão e em flanco oposto ao do vice-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, fechou um ciclo friamente programado. Romper com o “legado” de Teixeira era a jogada de José Maria Marin, temeroso de uma CPI que promete revirar sua entidade, para estreitar laços com autoridades e governo. Tiro certeiro, a julgar pelo afago de Dilma Rousseff à nova comissão técnica. Por outro lado, Aldo Rebelo, ministro do Esporte e palmeirense atuante, foi um dos cabos favoráveis a Scolari. “Tenho certeza de que o povo brasileiro está feliz com as escolhas que fizemos”, disse um imodesto Marin na apresentação dos escolhidos. Caricato e retórico, sentado entre Parreira e Felipão, o cartola da CBF roubou a cena. Com a voz embargada, proferiu discurso nacionalista e decretou os três “ismos” que devem imperar no ambiente da seleção nos próximos anos: paternalismo, patriotismo e ufanismo. “Mais do que nunca, devemos valorizar aquilo que é nosso. O Brasil tem grandes técni-

Corrente pra frente rumo a 2014 deve reunir os “pentas” Kaká e ronaldinho

cos”, afirmou, para justificar o descarte a Pep Guardiola. Ao contrário de Teixeira, o octogenário dirigente quer atrair holofotes. Ex-político profissional e governador biônico de São Paulo na época da ditadura militar, Marin sorriu para a foto oficial ao lado dos dois subordinados cercado pelas bandeiras do Brasil e da CBF. Já costura nos bastidores um encontro para 2013 entre Felipão e Dilma, até então relutante em receber gente da Confede-

ração no Palácio do Planalto. No meio do fogo cruzado da politicagem, cenário semelhante ao que o desgastou na tumultuada redoma palmeirense, caberá a Felipão formar um time encouraçado como o de 2002, de braços dados com o orgulho nacional e a opinião pública. “Não falo em família Scolari, mas vamos fazer novamente uma composição de união, um ambiente em que exista envolvimento entre a seleção e a população”, diz o técnico.

Pegamos uma base em 2002 e fomos acrescentando um ou outro jogador. Agora vamos montar o time de 2014 a partir da base atual. A diferença é que eu me sinto mais motivado, mais jovem. Só o cabelo que está difícil...

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©1 foto gazeta press ©2 foto mowapress ©3 foto eugênio sávio

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Em família outra vEz

A comunhão com o torcedor é o primeiro ingrediente de uma receita que deu certo dez anos atrás. O outro, o método paternalista que sustentou a “família Scolari” na campanha do pentacampeonato no Japão. Para motivar jogadores, Felipão costumava rechear suas preleções com cenas de tragédias sociais no Brasil, de crianças famintas a famílias desabrigadas. O grupo entendeu a mensagem. A família transcendia o plantel dos 23 con-

HERANçAS dO PENtA

vocados, era a representação de um país. A mesma estratégia foi reproduzida na seleção de Portugal, sede da Eurocopa 2004, e culminou no vicecampeonato da competição. Para reaplicar a fórmula em 2014, Felipão conta com aliados. Ex-membro da família Scolari, Ronaldo afirmou, logo após o anúncio do treinador, que o futebol brasileiro vive “o pior momento de sua história”. Na avaliação do Fenômeno, um tropeço da seleção na Copa das Confederações não deverá ser creditado a Felipão, mas sim ao período de entressafra de craques. Consequentemente, o “fator novo” na direção técnica esfria a cobrança imediata por resultado até a Copa do Mundo. Na retaguarda, o comandante dispõe do treinador de goleiros Carlos Pracidelli, o preparador físico Paulo Paixão, o inseparável auxiliar Flávio Murtosa e Carlos Alberto Parreira, em cargo parecido ao que Antonio Lopes ocupou em 2002. “O coordenador técnico tem de blindar o treinador. Eu conversava muito com ele, dava sugestões de jogadores. O [Luiz] Felipe soube ouvir e trabalhar em equipe”, afirma Lopes. “Quando o presidente Marin me falou que tinha convidado o Parreira, eu disse: ‘Muito obrigado, mil vezes muito obrigado!’”, conta Felipão. “Queria alguém para dialogar.”

As cinco virtudes do time de 2002 que servem de lição pArA A próximA copA

SupEração

Às vésperas da Copa, a seleção também sofria com a troca de técnico (Emerson Leão foi demitido em 2001), o corte de Emerson e a lesão de Ronaldo, mas se fortaleceu para dar a volta por cima.

voluntariSmo

Jogadores participavam constantemente das preleções, tinham voz ativa no vestiário e abertura para dialogar com a comissão técnica. Todos exerciam papel de liderança.

motivação

Até mesmo nomes consagrados, como Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo, compraram o espírito patriota e fizeram do orgulho brasileiro uma inspiração.

pErSonalidadE

O time não se abalava com reveses e mantinha o padrão tático quando estava em desvantagem no placar. Foi assim que bateu Turquia e Inglaterra.

Família Scolari, o retorno Cobrados por Dilma e Marin, Felipão e Parreira retomam seleção com obrigação de ganhar o hexa em 2014

© FOTO REuTERs

união

Reservas se despiram de vaidade. Dida e Rogério Ceni, por exemplo, apesar do melhor momento em seus clubes, apoiaram Marcos, titular do gol bancado por Felipão.

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fa m í l i a s c o l a r i i i

Se depender do atual escudeiro, a base do time, que Mano Menezes parecia enfim fermentar, não está imune a mudanças até a prova de fogo: a Copa das Confederações. “Essa será a competição real, a hora de medir a temperatura, ver qual jogador sente febre. Mas sabemos que não se ganha uma Copa do Mundo apenas com talento”, diz Parreira. Um dos exemplos usados pelo coordenador técnico para valorizar a experiência é o Corinthians, campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes em 2012, com média de idade superior a 29 anos. Protagonistas da equipe corintiana, que ostenta qualidades comuns à filosofia de Felipão — poder de marcação, disciplina tática e união —, como o goleiro Cássio, o lateral-esquerdo Fábio Santos e os volantes Ralf e Paulinho, podem servir de alicerce para a nova seleção. Apesar de dizer que não pretende desconstruir a massa bruta assentada por Mano, Scolari projeta uma reciclagem às avessas, resgatando nomes rodados para o time. “Estamos observando jogadores que já participaram da seleção, que têm alguma experiência e poderão ser aproveitados”, afirmou o técnico, que, por enquanto, evita divulgar suas predileções.

Segundo um interlocutor da comissão, entre os nomes ventilados em encontros preliminares no Rio de Janeiro consta Felipe Melo, homem de confiança de Dunga na Copa de 2010. Embora venha atuando como meia no Galatasaray-TUR, ele seria a peça cobiçada para proteger a defesa, já que Felipão planeja montar seu meio-campo a partir de um volante de contenção — papel que Ramires e Paulinho não estão habituados a cumprir tanto na seleção quanto em seus respectivos clubes. O veterano e pentacampeão Gilberto Silva, que terá 37 anos na Copa de 2014, também não é carta fora do baralho. A procura por um primeiro volante está aberta, assim como pelo centroavante clássico. Felipão não é adepto de invencionices táticas, sobretudo às margens do gol. “Gosto de jogar com um homem de referência entre o meio-campo e a área adversária. E o Brasil tem esse jogador”, diz. Se Mano esboçava um esquema ofensivo sem centroavante, Scolari agora promete resgatar a figura do goleador na seleção. “Isso é bom, isso é muito bom pra mim”, diz Fred, artilheiro do Campeonato Brasileiro e favorito ao posto. “Vibrei muito com a volta do Felipão. É um ponto a meu favor.” O ex-atacante Serginho Chulapa, centroavante da seleção de 82, avali-

za. “O Felipão não abdica do centroavante e tem razão. Fred, Leandro Damião, Luis Fabiano: temos material humano de sobra para a posição.” À parte as preferências pessoais, o desafio de Scolari é se impor como o paizão em que os jovens, puxados por Neymar, possam desafogar a pressão de um Mundial disputado no Brasil. “A união entre seleção e torcida vai ser muito importante, e o Felipão sabe bem como fazer isso”, diz o craque do Santos. Mas, pelo hexa em 2014, o técnico terá de saber trabalhar melhor com a garotada.

EntrE o novo E o obsolEto

A seleção que Luiz Felipe Scolari herda de Mano Menezes tem média de idade de 25 anos, um a menos que a da equipe pentacampeã em 2002. Extrair o potencial de atletas promissores, porém, não tem sido uma marca dos últimos trabalhos do técnico. Após sair do Palmeiras com o time afundado na zona de rebaixamento do Brasileirão, ele foi criticado por uma ala de jogadores, principalmente os mais novos, por rifar o elenco e não protegê-los em situações de crise. No retorno à seleção, já deixou claro, com o aval de Parreira, que continua preferindo experiência à juventude.

De volta para o futuro

Felipão pode reativar veteranos que andavam esquecidos por mano menezes

ronAlDInHo GAÚCHo

Pentacampeão em 2002, está no topo da lista dos “reintegráveis” da nova comissão após um Brasileirão admirável pelo Atlético-MG

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FrED

Preenche dois requisitos apreciados por Scolari: é atacante de área e tem experiência, inclusive com uma Copa do Mundo — em 2006 — no currículo

MAICon

Reserva no Manchester City, impõe-se pela força física e conta com o histórico de ter trabalhado duas vezes com Felipão, no Criciúma e Cruzeiro

FElIPE MElo

Visto por Felipão e Parreira como volante “cão de guarda”, pode voltar a ser convocado depois da presepada na Copa de 2010

lÚCIo

Capitão do time de Dunga, deixou o ostracismo na Juventus para assinar com o São Paulo e tentar recuperar o espaço perdido na seleção

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COMANDO DuPLA-FACE

FElIpãO E pARREIRA sãO A cARtAdA dA cBF pARA 2014, mAs dOBRAdINhAs NEm sEmpRE dERAm cAldO NA sElEçãO. NA últImA tENtAtIvA, mANO FOI FRItAdO cOm ANdRés sANchEz

1994

2002

1998

2006

2010

2012

Parreira e Zagallo

Zagallo e Zico

FeliPão e loPes

Parreira e Zagallo

Dunga e Jorginho

Mano e anDrés

Apesar de uma eliminatória turbulenta, a dupla faturou o tetra, quebrando o jejum de 24 anos sem título mundial com o caneco conquistado nos Estados Unidos

Enfrentaram crise com o corte de Romário às vésperas da Copa, mas o Brasil seguiu em frente, até cair diante dos franceses, donos da casa, na decisão

Ex-técnico do Vasco, Antonio Lopes fez a função que Parreira irá exercer até 2014. Demitiu Leão, empossou Scolari e a seleção ganhou o pentacampeonato no Japão

A parceria do tetra foi retomada. Com um time de estrelas, o hexa parecia certo. Mas, novamente, havia a França no caminho, dessa vez, nas quartas de final

Com pouca experiência de comando, os titulares do tetra foram bem antes da Copa, porém não impediram novo fracasso nas quartas, contra a Holanda

Após trabalhar com o técnico no Corinthians, Andrés Sanchez virou diretor de seleções em 2011, sem conseguir, no entanto, bancar a permanência de Mano

Entretanto, o histórico recente com veteranos também não é edificante. Na seleção de Portugal, ele bateu de frente com bastiões como o goleiro Vítor Baía, por influência de dirigentes da federação lusitana. No Chelsea, foi demitido devido a descompassos com estrelas do time. Já no Palmeiras, trocou farpas e insultos com Kléber, Pierre, Lincoln e Valdívia. “Felipão tem credibilidade, mas, se analisarmos o momento, havia no mínimo três técnicos mais capacitados e atualizados à sua frente”, afirma o comentarista e ex-meia Rivellino.

JÚlio césar

© Foto REUtERS

Trumbicando no cam­ baleante Queens Park Rangers, da Inglaterra, carrega a cancha que Fe­ lipão avalia como funda­ mental para um goleiro

roBinho

A seu favor, Felipão resguarda a fama de linha-dura e a reconhecida capacidade de recuperar jogadores desacreditados. Não é por acaso que Kaká, 30, embora reserva no Real Madrid, e Ronaldinho Gaúcho, 32, antes escanteado por Mano, reaparecem entre os preferidos para capitanear a segunda e embrionária versão da família Scolari. “Eu fiquei no Brasil para isso, para poder voltar à seleção e jogar a Copa do Mundo. Fui campeão com o Felipão e o Parreira. Estou à disposição deles de novo. É só chamar”, diz Ronaldinho.

Pretende voltar ao Brasil por maior evidência e, assim como Fred, tem a seu favor o fato de já ter jogado duas Copas, uma delas com Parreira

luis FaBiano

Camisa 9 da seleção na última Copa, pleiteia uma das vagas na cota de centroavantes de Felipão, mas precisa driblar os problemas de lesão

Dar confiança a expoentes da nova geração e evitar que a pressão sobre eles transforme um ambiente familiar em panela de pressão fazem com que o critério de convocação, segundo Parreira, passe a mesclar uma pitada de rodagem com o senso de avaliação do presente importado dos atuais campeões do mundo. “O Vicente Del Bosque [técnico da Espanha] prega que o ‘futebol é um esporte de momento’. Não tem segredo. A seleção sempre foi definida às vésperas da Copa. Quem estiver bem até lá vai ser chamado”, afirma o coordenador. A primeira amostra do time pósMano desfilará pelo estádio de Wembley, em 6 de fevereiro, contra a Inglaterra. No entanto, o esboço oficial, o grosso das convicções de Parreira e Felipão para 2014, só deve ir a campo na Copa das Confederações. Em um grupo forte, com México, Japão e Itália, a dupla terá o teste perfeito para o objetivo maior, um ano depois. Até lá, domar as trombetas políticas — o presidente da CBF mantém o trato imposto ao antigo treinador de validar as convocações — e moldar o cenário patriótico no melhor (ou pior, se lembrarmos o contexto histórico) enredo “Pra frente, Brasil” serão tarefas permanentes para os novos líderes do sonho verde-amarelo. Haverá quase 200 milhões em ação, na esperança de que o velho Felipão salve a seleção. JANEIRO 2013 / placar / 37

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Como o Corinthians Conquistou no Japão o segundo título mundial de sua história Por Fernando Valeika de Barros, de nagoia e Yokohama design carol nunes

© foto alexandre battibugli

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mundo em p&b

P

©2

revisto pelos maias para ser o ano do fim do mundo, 2012 termina com o Corinthians como seu novo dono. Campeão da Libertadores da América, em junho, o time foi para o Japão encarar uma parada dura na disputa da Copa do Mundo de Clubes da Fifa. E em sua primeira decisão internacional, longe do Brasil, o time deu um show dentro e fora de campo. Depois de encarar os egípcios do Al Ahly e vencer, na final, o time aguentou firme a pressão do Chelsea, equipe formada por uma constelação de atletas. Eliminado na primeira fase da Liga dos Campeões da Europa, dias antes (algo que não acontecia no continente desde 1978), o Chelsea poderia ser encarado como um bicho-papão ferido. Só que o Corinthians e sua imensa torcida tinham feito direito a lição de casa.

O segundo título mundial da história do Corinthians não foi fruto do improviso. Já no dia 23 de setembro, semanas depois da conquista da Libertadores, o gerente de futebol Edu Gaspar foi despachado para o Japão para começar o trabalho de logística. Acompanhado do supervisor 40 / placar / janeiro 2013

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Saulo Magalhães, levantou campos de treinamento nas regiões de Nagoia e Yokohama e também em Dubai, nos Emirados Árabes, onde o time fez uma escala na ida, para começar a se adaptar ao fuso de 11 horas de diferença para o Japão. Enquanto isso, a comissão técnica

decidiu colocar em prática um plano bolado pelo preparador físico Fábio Mahseredjian (campeão mundial com o Inter em 2006): equilibrar o fôlego do elenco corintiano, que chegaria ao fim da temporada já desgastado pelo calendário. Para repor jogadores que fizeram parte da conquista da Libertadores e tinham ido embora, como os atacantes Liedson e William, foram contratados o peruano Paolo Guerrero, com experiência de ter jogado no futebol alemão (no Bayern Munique e no Hamburgo), e o argentino Juan “Burrito” Martinez, que também era pretendido pelo Santos, pela sua boa técnica e velocidade para puxar contra-ataques. O zagueiro Paulo André assumiu a posição de Leandro Castán, vendido para a Roma. E o Corinthians foi ganhando entrosamento, outra vez. Sem a menor chance de brigar com o Fluminente pelo título, as seis rodadas finais do Brasileiro seriam usadas para levantar ©1 foto alexandre battibugli ©2 foto reuters

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O chute de Danilo saiu desviado e alcançou a cabeça de Guerrero. O peruano superou três jogadores do Chelsea na linha para marcar o gol

o nível do time contra adversários fortes, com o time jogando completo e para valer. “Nâo queríamos chegar ao Japão sem pegada”, diz Tite. “E nesse sentido até a derrota para o São Paulo foi boa para que ligássemos o sinal de alerta de que era necessário produzir ainda mais.” Apesar de contratempos, como uma turbina barulhenta demais no voo da ida de Dubai para Narita, do terremoto de 7,3 graus no nordeste do Japão e da ameaça de jogar sob neve, o projeto corintiano no Japão seguiu adiante, sem sustos.

FiNAL é ouTrA CoiSA

Teoricamente em vantagem — exatamente por estar no meio da temporada europeia, enquanto os brasileiros acabaram de terminar a sua —, o Chelsea queimou seu trunfo ao chegar a Tóquio cinco dias depois do desembarque corintiano, após um jogo contra o Sunderland que poderia ser adiado. é verdade que os ingleses não tomaram conhecimento do time mexicano do Monterrey, ga-

nhando fácil por 3 x 1. Mas, às vésperas da final, ainda se queixavam da adaptação ao horário japonês.“Por causa do calendário apertado, chegamos ao Japão em cima da hora e isso estava deixando o fuso meio embaralhado”, admitiu o zagueiro David Luiz. Corintiano fanático, a ponto de não perder uma transmissão de jogos de seu time pelo rádio nos tempos de criança em Diadema (SP), o zagueiro da seleção cumpriu o que prometeu na véspera: jogar para valer contra seu clube do coração (veja abaixo). Foi um leão na defesa e o melhor do Chelsea. A diferença de estratégia de preparo entre os dois oponentes — com o Corinthians fazendo tudo certo e os ingleses nem tanto — acabou se refletindo no gramado do estádio de Yokohama. Ao contrário dos mexicanos do Monterrey, os corintianos aguentaram firmes o sufoco dos rivais nos primeiros 15 minutos. E aí começou a surgir um dos heróis do jogo: o gaúcho Cássio, conhecido de Tite desde os tempos em que era

O cOrintianO triste ©2

zagueiro do Chelsea sofreu Com a vitória do Clube de Coração Assim que a decisão do Mundial de Clubes terminou, o zagueiro David Luiz desabou no chão, olhando com olhar triste a comemoração dos alvinegros. Não se animou nem quando recebeu a Bola de Prata da Fifa, como o segundo melhor jogador do torneio, cercado pelos sorridentes ©1 Cássio e Paolo Guerrero.

David Luiz: derrota amarga no Japão

Olhos marejados, ele nem parecia o garoto que já foi corintiano fanático. “Nasci em Diadema e fui um corintiano daqueles de ficarem pendurados no radinho de pilha escutando todos os jogos do Timão”, disse David Luiz, antes da grande final em Yokohama. “Eu só não ia ao estádio porque era longe, mas ficava de ouvido ligado nas faltas do Célio Silva e do Marcelinho, nos dribles de Edílson e até no jogo viril do zagueiro Henrique”, afirmou. A notícia caiu nos ouvidos dos torcedores corintianos, que cantaram uma paródia da marchinha “Coração corintiano” no estádio, incluindo o zagueiro em um verso: “Doutor, eu não me engano, David Luiz é corintiano”. janeiro 2013 / placar / 41

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mundo em p&b

Um dos pontos altos é a capacidade de defender. Em 16 jogos, de Libertadores e Mundial, o time tomou quatro gols.” Tite, técnico do Corinthians

aos 28 minutos do primeiro tempo, outra que raspou a trave, 6 minutos mais tarde. E, aos 23 minutos da etapa final, aconteceu a explosão corintiana. Em uma jogada iniciada por Paulinho, a bola sobrou para Danilo, que chutou firme, mas foi bloqueado por Cahill. No rebote, Guerrero teve calma para tirar a bola do alcance de David Luiz, Cahill e Moses, em cima da linha, e marcar, de cabeça, o gol que o coloca na história dos heróis corintianos. E dizer que o atleta peruano, por um triz, não ficou de fora do Campeonato Mundial de Clubes...

do fundo do poço ao topo do mundo

INVICTO

o conto de fadas do timão

NO BANDO DE LOUCOS

Ronaldo Fenômeno, com 32 anos, assina contrato.

BAIXOS

Timão é rebaixado no Brasileiro. A crise afasta o presidente Alberto Dualib.

/2 0 9/ 12

25 /1 0/ 20 08

00 8 11 /0 6/ 2

07 12 /2 0 4/

2/

12

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07

08

ALTOS

O ABISMO

EU VOLTEI...

O SALVADOR DA PÁTRIA FELIPE Choro do goleiro.

Mano Menezes é contratado.

Vence o Santos e é campeão paulista. Ronaldo arrebenta no primeiro jogo da final com dois golaços.

O Corinthians vence o Ceará, no Pacaembu, e garante ascenso à série A.

O SONHO ADIADO

/2 00 9

Apesar de sustos como esses, durante a final em Yokohama, os corintianos se assentaram bem em campo, ocupando os espaços, não temendo os confrontos e ganhando todas as segundas bolas. Criaram algumas chances, no primeiro tempo, com Emerson: uma por cima,

3/ 05

HErói FEriDo

Exatamente no clássico contra o São Paulo, no último jogo do time pelo Brasileirão, aquele que concluiria o planejamento para os jogos no Japão, Paolo Guerrero teve um estiramento no joelho direito e mal conseguia andar. “As dores eram muito fortes e tive muito medo de não aguentá-las. Entrei mesmo no sacrifício nesses dois jogos do Mundial, mas essa superação de todos é que faz o Corinthians”, disse a PLACAr o atacante peruano, que só jogou a competição graças a infiltrações na tentativa de aliviar o joelho direito, machucado. Não parou de fazer tratamento nem no longo voo que levou a delegação de São Paulo a Dubai, na primeira escala da viagem. outra preocupação era como o peruano e Emerson, que tinham jogado juntos menos de um tempo, se entenderiam. “Um atacante como Guerrero funciona como um pivô, retendo a bola e servindo para a tabela com os homens que vêm de trás”, afirma Tite. Felizmente, para os corintianos, o atacante peruano não só suportou as dores como cumpriu exatamente o que se esperava dele. A vantagem deu ainda mais ânimo aos jogadores corintianos, que multiplicavam-se em campo, fechando os espaços para os ingleses, e acendeu ainda mais a torcida alvine-

8/ 03 /2 00 9

mascote do Veranópolis, treinado pelo técnico corintiano na segunda divisão gaúcha. Dono da posição desde a Libertadores, Cássio fez um jogo quase perfeito em Yokohama. Quando parecia que iria falhar, o grandalhão de 1,95 metro levou sorte, como no chute de Cahill, de dentro da área, aos 10 minutos, quando o reflexo do goleiro o ajudou a não levar o gol. Aos 38 minutos do primeiro tempo, Cássio ampliou sua coleção de milagres ao esticar-se todo para espalmar um chute com efeito de Moses, de pé direito. Ainda faria uma terceira intervenção, saindo para buscar a bola nos pés de Mata, que fechava perigosamente. E uma derradeira, a 9 minutos do fim, em chute de Fernando Torres. “Um dos pontos altos do nosso time é mesmo nossa capacidade de defender”, diz Tite. “Em 16 jogos, somando Libertadores e Mundial, o time tomou apenas quatro gols.”

Perde a Copa do Brasil e a vaga na Libertadores 2009 para o Sport.

O FENÔMENO VOLTOU

Nos acréscimos, Ronaldo faz de cabeça contra o Palmeiras, em Presidente Prudente.

A GRANDEZA RECONQUISTADA

Vence o Inter na final da Copa do Brasil e garante vaga na Libertadores no ano do centenário.

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©

NADA DE AMOR

A

asil adores enário.

Cai nas oitavas da Libertadores para o flamengo.

© fOtO reuters

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ALEGRIA E TRISTEZA

PENTA!

Liedson e Paulinho celebram o título do Brasileirão

HOMENAGEM

Adeus, sócrates

NO TOPO

TRINCO NA PONTE

eliminado do Paulista pela Ponte. Júlio César falha e perde a posição para Cássio.

4/ 07 /2 0

12

Ganha o Mundial de Clubes ao vencer o Chelsea. 12

O empate em 0 x 0 com o Palmeiras, na última rodada, garante o penta brasileiro no mesmo dia em que sócrates morre.

/0 4/ 20

/2 01 1 2/ 02

5/ 05 /2 01 0

1º /0 7/ 20 09

09

Joga a pré-Libertadores contra o tolima-COL e é eliminado. time vira piada. torcedores depredam carros de jogadores.

gulhoso.” E bota O milagre de Cássio chute de Cahill: apaixonado nis- no nem trapalhada de so. À moda das Chicão complicou m e g a e s t r e l a s o melhor do jogo mundiais da música ou do cinema, o elenco corintiano foi reverenciado por 15 000 torcedores, que lotaram o saguão do aeroporto internacional de Guarulhos na despedida do time. Quando pisou no Hilton Hotel, o local da concentração da equipe em Nagoia, foi saudado por uma barulhenta multidão de corintianos

22

O DRAMA DO TOLIMA

os e é . a

“Procuramos atuar como um bloco, sempre focados no jogo”. Os primeiros gritos de “é campeão!” começavam a vir de milhares de bocas que lotavam o estádio Internacional de Yokohama e torciam pela vitória corintiana (pelo menos dois terços dos 68 225 torcedores apoiavam o Corinthians). “Nossa torcida joga junto à equipe: passa energia, recebe energia”, disse Tite logo depois da partida. “Graças a ela, o Corinthians é um time intenso e pilhado. Apaixonado até demais e or-

4/ 12 /2 01 1

gra. Mas, em vez de partir desembestado para matar a partida, o time brasileiro, frio como um Danilo, trocou passes e esperou o tempo passar, controlando o ritmo da partida, que seguiu tensa, mas sem um sufoco dos ingleses, que foram perdendo os nervos. Ainda mais quando Emerson conseguiu que Cahill entrasse na sua provocação e o atingisse com um pontapé. Vermelho, sem contestação. “Uma coisa que o time do Corinthians coloca sempre é o grupo em cima do individual”, diz Paulinho.

BICAMPEÃO MUNDIAL 16/DEZ/2012

O DONO DA AMÉRICA

Dois gols de emerson, 2 x 0. O timão derrota o Boca e enfim vence a Libertadores.

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residentes no Japão (o que valeu uma placa proibindo a entrada de torcedores logo na entrada do saguão). Nos seus dois jogos no Japão, o time brasileiro foi acompanhado por multidões comparáveis às que o time leva em suas partidas no Pacaembu. “Falei ao Joseph Blatter, o presidente da Fifa, que em 1 000 anos nunca mais ele veria um fenômeno de paixão como esse”, disse Mário Gobbi, o presidente corintiano. Assim, embalado pela força de sua torcida, o Corinthians não fez mistério às vésperas da decisão contra o Chelsea. Ao contrário da equipe inglesa, cujo técnico Rafa Benítez desconversou sobre a escalação de Lampard, confirmado apenas momentos antes do jogo no lugar do brasileiro Oscar, Tite não quis saber de despiste: já na véspera, anunciou que Jorge Henrique entraria no lugar de Douglas (por sinal o homem que começou a jogada do gol corintiano na semifinal, no estádio de Toyota, contra os egípcios do Al

Ahly). “Eu precisava do Jorge Henrique para reforçar a marcação e a velocidade de saída das nossas bolas”, disse o técnico Tite. Oportunista, Guerrero já tinha salvado o Corinthians na estreia contra os egípcios do Al Ahly em um jogo esquisito. O Corinthians começou melhor, dando pinta de que teria vida fácil. Ainda mais quando o peruano abriu o placar para os brasileiros aos 29 minutos do primeiro tempo, na primeira — e única finalização em gol dos brasileiros, depois de uma cobrança de escanteio de Douglas, pulando junto com Danilo. Só que em vez de aliviar os nervos, naquela noite fria em Toyota, a vantagem no marcador teve um efeito inverso: o Corinthians recuou no segundo tempo, buscando um contra-ataque que nunca apareceu. E o campeão da África foi chegando. Por sorte, apesar de os egípcios controlarem mais a bola, o trabalho da defesa, bem protegida pela dupla de volantes Ralf e Paulinho, mante-

Acima, Blatter entrega o troféu para Alessandro: para o Corinthians, o melhor ataque foi a defesa. Ao lado, o lateral-direito, sobrevivente da série B, com a taça

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© fotos AlexAndre BAttiBugli

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campeão dos campeões

... graças, em parte, à explosão da receita com publicidade, direitos de tv e arrecadação com jogos (em milhões de reais)

o corinthians tem a marca mais valiosa entre os clubes do brasil (em reais)

1 bilhão 867

milhões

792

Publicidade e patrocínio

Direitos de TV

Arrecadação com jogos

Total da receita bruta

2007

19,1

23,3

8,4

134,3

2011

44,4

112,5

27,2

290,5

771

milhões milhões 689,5 664,2 milhões milhões

481,2

milhões 452,9 milhões

392,9 milhões

Fonte: BDO RCS

341,6

316,7

milhões

277,9

milhões

227,9

milhões

316,1

milhões milhões 179,1 205 224,6 milhões milhões milhões 162,5 150,5 151,3 milhões milhões milhões

2011 2012

2011 2012

2011 2012

2011 2012

2011 2012

2011 2012

2011 2012

2011 2012

2011 2012

Corinthians

Flamengo

São Paulo

ve atacantes perigosos, como Aboutrika, longe do gol de Cássio. Com chutes de longa distância, eles até tentaram. Mas o Al Ahly não foi nem de longe uma moleza. “Esses times da África, Ásia e Concacaf entram para o tudo ou nada no primeiro jogo contra os de América do Sul e Europa. Pesa a estreia, o frio, que faz o pé congelar e a bola ficar mais rápida”, conta Danilo. “Quando fui campeão pelo São Paulo, em 2005, a partida contra o Al Ittihad, da Arábia Saudita, também foi uma dureza.”

DuElo DE fIloSofIAS

o jogo entre Chelsea e Corinthians marcou um embate entre duas filosofias. Donos de um dos elencos mais caros do futebol mundial, os ingleses pareciam certos de que eram a encarnação de um time do videogame Playstation, que nos confrontos contra qualquer clube brasileiro quase sempre leva a melhor, com jogadores muito mais graduados (não por acaso, o volante corintiano Paulinho gosta de escolher a equipe inglesa durante os embates no jogo

Palmeiras

Internacional

Santos

Vasco da Gama

eletrônico, nas concentrações). Para contrapor-se a uma equipe com tantos talentos, o Corinthians teria de jogar muito. “Sabíamos que o melhor caminho para ganhar a partida seria tomarmos a iniciativa e sermos corajosos contra uma grande equipe”, disse Tite. “Teríamos de jogar como a nossa torcida espera.” foi exatamente esse o enredo da campanha corintiana no

Falei ao Blatter, o presidente da Fifa, que em 1 000 anos nunca mais ele veria um fenômeno de paixão como esse.” Mario Gobbi, presidente do Corinthians

Grêmio

Cruzeiro

2011 2012

10º

Atlético Mineiro

Japão. Com uma diferença: o time tem consistência e capacidade de manter o sangue-frio mesmo em momentos complicados dos jogos. Para continuar fazendo bonito em 2013, o Corinthians está de olho em reforços. Renato Augusto, meia, exflamengo e que estava no Bayer leverkusen-AlE, já chegou. Para a zaga, Dedé, do Vasco, foi sondado. Gil, ex-Cruzeiro, pode pintar também para a posição. No fim de dezembro, o vice-presidente do Milan, Adriano Galliani, viria ao Brasil para finalizar a venda do atacante Alexandre Pato para o Corinthians: a transação seria fechada por 42 milhões de reais por 50% dos direitos. Na sua primeira decisão de um título importante longe do Brasil, o Timão fez a lição de casa direitinho: e se deu muitíssimo bem. Para a felicidade geral, a previsão dos maias, de que o mundo acabaria, não vingou. Só que o planeta da bola já atende a uma nova era, que tem um novo e legítimo dono — o Corinthians Paulista, cada vez mais internacional. Que quer continuar brilhando para valer em 2013. janeiro 2013 / placar / 45

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o futebol VIRou

pó escritor narra as ligações obscuras entre os clubes de futebol e os dois principais cartéis mexicanos de drogas p o r r o B E rT AN Dr E W p o W E L L* DE sigN L .E. rAT To i L UsTr AÇ ão m Ar iAN A c oAN

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*tradução ana hociko

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m dezembro de 2012, um time de Tijuana (noroeste do México), que começava a ganhar destaque, conseguiu realizar um milagre em Toluca. Os Xoloitzcuintles — raça de cachorro sem pelos admirada pelos astecas, geralmente chamado pela forma abreviada, Xolos — derrotou o time da casa, o Red Devils of Toluca, e se tornou campeão da Liga MX, principal divisão do México, e adversário do Corinthians na Libertadores de 2013. Os jogadores, vibrando de alegria, em uniformes de cor preta e vermelha com o emblema do cassino patrocinador bordado no peito, pulavam e se abraçavam enquanto confetes voavam sobre o campo. O Xolos ven-

ceu o Toluca por 4 x 1, conquistando a taça, com autoridade, já no segundo ano na primeira divisão. Na verdade, o time existe há apenas cinco anos. O Xolos saiu do nada para o topo do México tão rapida-

mente que sua vitória foi descrita como um conto de fadas. Ainda assim, enquanto eu via os jogadores levantarem a taça e comemorarem o campeonato, ficava me lembrando das palavras de um jogador de um dos últimos times-revelação desse país violento e corrompido pelas drogas: “Se estivéssemos lavando dinheiro, seríamos o melhor time do México”. Eu me refiro ao Indios de Ciudad Juárez. Na primavera de 2010, eu comecei a acompanhar jogadores e fãs do Indios quando me mudei, com meu carro e todos os meus pertences, para a cidade fronteiriça, ao norte do México, separada apenas por um rio de El Paso, no Texas (EUA). Naquele ano, Juárez foi a cidade com o maior número de assassinatos do planeta.

OS CARTÉIS DA DROGA NO MÉXICO

A engrenagem da droga começa, aos poucos, a envolver clubes de futebol CARTEL DE JUáREZ

CARTEL DE TIJUANA

Hoje o mais violento do México. Controla o tráfico na região fronteiriça do México com os Estados Unidos. Promove matanças em série. Dirigentes do Indios, clube de Ciudad Juárez, negam ligação com o tráfico.

Controla a região noroeste do México. Considerado o maior e um dos mais violentos do país. Deu origem a outros seis no país depois da captura de seu chefe, Miguel Ángel Félix Gallardo, em 1989. Tem conexões com o ex-prefeito de Tijuana Jorge Hank Rhon, dono do Xolos. O clube é acusado de lavagem de dinheiro do cartel.

CARTEL Do goLfo A mais velha organização criminosa do país. Atua desde 1930. Evoluiu do contrabando de álcool para os Estados Unidos, na época da Lei Seca, para o de cocaína nos anos 70.

CARTEL DE sINALoA

CARTEL LA fAmILIA mIChoALANA

É o mais ativo contrabandista de cocaína no México. Tem conexão com 17 estados.

Organização que comandava sequestros no México. Desarticulado em 2011.

CARTEL DE Los bERTRAN-LEyvA Dissidência do Cartel de Sinaloa.

CARTEL Los ZETAs Formado por desertores do Exército mexicano. Controla o sul do México e a América Central.

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xolos

NOME Club TijuaNa XOlOiTzCuiNTlEs dE CaliENTE CidadE TijuaNa FuNdaÇÃO 1/1/2007

O bRasilEiRO

Valtencir Gomes da silva. O desconhecido jogador, que já encerrou a carreira, foi o maior goleador do time, com 87 gols.

MasCOTE

O Xolo, um cão sem pelos reverenciado pelos astecas.

TíTulOs

apertura do México (2012), ascenso (2011), apertura da liga de ascenso (2010).

O aMERiCaNO

O meia joe Corona é uma das estrelas do time. Convocado por Klinsmann, tem três partidas pela seleção dos Eua.

PREsidENTE

jorge Hank Rhon, ex-prefeito de Tijuana e acusado de ligação com o cartel da cidade.

O uRuGuaiO

Ex-jogador do botafogo, arévalo esteve no time em 2011. Passou um ano no clube antes de ir para o Palermo-iTa.

TORCida

Exalta a ligação da cidade com o Cartel de Tijuana. usa símbolos que fazem alusão às drogas. ©1

Mais de dez pessoas eram mortas por dia, no meio da rua. Dois foram assassinados na mercearia que eu mantinha na cidade. Um oficial da Polícia Federal foi esquartejado e teve as partes do corpo — braço aqui, perna ali — jogadas ao longo do rio. Eu encontrei dois corpos no drive-thru de uma loja de conveniência e um corpo decapitado, pendurado em uma cerca, próximo a um restaurante de burritos que eu frequentava. Vinte

e cinco cidadãos de Juárez foram assassinados em uma noite. No fim de dezembro, segundo as estatísticas do governo, a contagem de mortos chegou a 3 951. Naquela época, o Indios era considerado o que havia de bom naquela cidade violenta, uma espécie de vitamina cívica. Em dia de jogo, a região do estádio ficava livre de tiroteios, esfaqueamentos e esquartejamentos. A taxa de assassinatos na cida-

O IndIOs era cOnsIderadO O que havIa de bOm naquela cIdade vIOlenta, uma espécIe de vItamIna cívIca. em dIa de jOgO, a regIãO dO estádIO fIcava lIvre de tIrOteIOs. ©1 ilustraçãO MariaNa COaN

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de diminuía enquanto o time estava jogando. Muito parecido com o Xolos hoje, o Indios havia subido de ligas menores para a primeira divisão com uma rapidez impressionante. Apenas três anos após sua formação, o herdeiro do clã Ibarra, Francisco, comprou o time de futebol de uma liga menor, rebatizou o time para Indios, realocou-o para Juárez e os jogadores conquistaram uma vaga na primeira divisão do México. No mesmo dia em que o time se qualificou para a primeira divisão, um dos cartéis de drogas que cometiam assassinatos e lutavam pelo controle da cidade, que tem valor estratégico (o local é ideal para o tráfico de cocaína, maconha e heroína para dentro do lucrativo mercado dos Estados Unidos), avisou que qualquer um que se aventurasse pelas ruas seria morto. Atiradores assassinaram o segundo homem mais importante da polícia de Juárez; o delegado se demitiu imediatamente e JANEIro 2013 / placar / 49

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cartel da bola

se mudou, às pressas, para o Texas. O dono de uma casa noturna levou um tiro na cabeça. Três corpos encontrados em um carro empoeirado foram identificados por meio de bilhetes escritos à mão que continham os dizeres “porcos traidores”. Mais cinco corpos apareceram a menos de 1,5 km da fronteira: os corpos haviam sido decapitados e enrolados em plástico branco. Mas na noite do campeonato, após a vitória do Indios, toda a cidade invadiu as ruas; as pessoas não continham o entusiasmo. Futebol em Juárez é um bem cívico. Ainda assim, o futebol no México se mistura com a corrupção endêmica e institucionalizada. Pouco antes de eu me mudar para Juárez, a DEA, a agência de combate ao narcotráfico dos Estados Unidos, divulgou os resultados de uma ampla investigação sobre os cartéis de droga mexicanos. Eles batizaram a operação de “projeto de contagem”. A DEA indicou que os times da segunda e terceira divisões do México estavam lavando dinheiro do lucro do cartel de drogas. A agência apontou um da primeira divisão: o Indios. O proprietário Francisco Ibarra e seu time foram ligados a agentes do violento Cartel de Juárez.

Eu dEixEi JuárEz dEpois dE um carro-bomba plantado por um cartEl tEr Explodido pErto dE um bar ondE Eu Estava assistindo a um Jogo, na tElEvisão. “Eles disseram que o Indios era vítima dos ‘agentes’ que estavam ligados ao cartel”, disse Ibarra. “Eu não sei se esses agentes têm alguma ligação com o cartel, mas nós não estamos tratando com eles. Nós tratamos diretamente com os jogadores.” Os governos do México operam junto dos cartéis. Esses mesmos governos — federal, estaduais e locais — subsidiam a maior parte da vida cívica em todo o país. Eventos esportivos recebem forte apoio de políticos que podem, por sua vez, estar diretamente ligados a narcotraficantes. Em Juárez, Francisco Ibarra, proprietário do Indios, tinha uma ligação forte e incomum com o prefeito Teto Murguia, um homem cuja relação com o

Cartel de Juárez era tão estreita que seu delegado de polícia foi preso tentando traficar mais de 1 tonelada de maconha para o Texas. Contratos lucrativos com o governo de Murquia ajudaram os Ibarras a se transformarem de vendedores de rua com uma barraca de tacos em empreiteira poderosa, responsável pela construção de conjuntos residenciais e de uma autoestrada. Foi essa extrema generosidade do governo que possibilitou a compra do clube de futebol. Mas o time não sobreviveu. Após subir para a primeira divisão, o Indios teve dificuldades imediatamente. O projeto para a construção de um estádio faraônico, com 400 camarotes, foi abandonado antes do início da ©1

índios NOME Club dE FútbOl INdIOs dE CIudad JuárEz CIdadE CIudad JuárEz FuNdaÇÃO 8/4/2005

títulO

campeão da liga de ascenso (2008)

FraNCIsCO Ibarra

dono do Indios. sempre negou a influência do Cartel de Juaréz com o clube

tOrCIda

Como a do Xolos, usa elementos do Cartel de Ciudad Juárez em suas bandeiras

tEtO MurguIa

Ex-prefeito de Ciudad Juárez. Proporcionou contratos lucrativos com Ibarra. Em seu mandato, o chefe de segurança da cidade foi preso por ligação com o cartel

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QUANDOS ELES ERAM OS REIS O título de 1989 do Nacional de Medellín foi o primeiro da história da Colômbia. Mas não é uma taça pela qual os colombianos sentem orgulho. Ela está manchada pela influência do traficante Pablo Escobar, principal mecenas da equipe, que contava com o goleiro René Higuita e Andrés Escobar, morto depois de um gol contra marcado contra os EUA, na Copa de 1994. Pablo Escobar chefiava o Cartel de Medellín, o mais influente do mundo na virada dos anos 80 para os 90. Duas tentativas de suborno a árbitros foram relatadas na Libertadores de 1989. No ano seguinte, a denúncia do juiz Juan Cardelino, de que havia sido vítima de uma tentativa de suborno na partida contra o Vasco, nas semifinais do torneio continental, fez com que a Conmebol proibisse que o Nacional mandasse suas partidas em Medellín.

obra. Pouco tempo depois, o time foi rebaixado. Na primavera de 2011, o Indios estava totalmente derrotado. Essa dificuldade de prosperar na primeira divisão foi, para mim, uma prova de que Francisco Ibarra e seu time não poderiam estar lavando dinheiro. Novamente, agora na íntegra, aquela citação furtiva, que eu ouvi de Paco, filho de Francisco: “Se estivéssemos lavando dinheiro, o Indios seria o melhor time do México. Teríamos os melhores jogadores da liga e meu pai teria construído um novo estádio”. Hoje, o Xolos é o melhor time do México, com muitos dos melhores jogadores do país, inclusive três jogadores que atuaram sob o comando de Jurgen Klinsmann, na equipe nacional dos Estados Unidos. Uma renovação do estádio do Xolos está sendo feita em Tijuana. O dono do clube, um magnata dos jogos chamado Jorge Hank Rhon, foi prefeito de Tijuana na mesma época em que Teto Murguia comandou Juárez pela primeira vez; eles pertenciam ao mesmo partido político, o PRI. Em 1995, Rhon foi preso no aeroporto da Cidade do México acusado de tráfico. Em 1988, dois de seus guarda-costas foram condenados pelo assassinato do colunista de um jornal que havia feito publicações ©1 IlUstRAçãO MARIANA COAN

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criticando Jorge. Segundo a agência de notícias Associated Press, “um relatório de 1999 do centro de inteligência de combate a drogas dos EUA apontou uma associação dele com traficantes de drogas”. O pai de Rhon, que é também uma autoridade pública notória, é famoso pela frase “político pobre é um pobre político”. Um mês após o Xolos ter passado para a primeira, Rhon foi preso durante uma operação especial feita em sua mansão, em Tijuana. Soldados do exército encontraram um grande esconderijo de armas ilegais, inclusive 40 rifles, 48 pistolas, 9 298 cartuchos de munição, 70 carregadores de cartuchos de munição e uma granada de gás. Duas das armas estavam ligadas a assassinatos cometidos anteriormente. Jorge ficou preso por dez dias e, depois, todas as

Pablo Escobar era o mecenas do Nacional de Medellín campeão de 1989; Andrés Escobar (ao lado), morto em 1994, fazia parte daquele time

acusações foram retiradas, supostamente por falta de provas. Eu deixei Juárez depois de um carro-bomba plantado por um cartel ter explodido perto de um bar onde eu assistia a um jogo, na televisão. Quatro socorristas morreram na explosão, inclusive um paramédico e um médico que estavam no local e haviam se oferecido para ajudar a primeira vítima. Na semana em que o Xolos conquistou o título, o México empossou um novo presidente. A violência no país, mesmo em Juárez, caiu acentuadamente, embora continue sendo muito elevada. Fala-se sobre uma nova era, de paz e estabilidade. Eu notei que o novo presidente, Peña Nieto, representa o mesmo partido de Rhon e Murquia. Ele prometeu, em seu discurso de posse, transformar o México. É esperar para ver.

o autor e o livro

O norte-americano Robert Andrew Powell percorreu o México por um ano com o Indios de Ciudad Juárez para escrever This Love Is Not For Cowards — Salvation and Soccer in Ciudad Juárez (“Este amor não é para covardes — salvação e futebol em Ciudad Juárez”, em tradução livre), publicado nos EUA. Ele escreve para o jornal The New York Times e para as revistas Sports Illustrated e Harper’s, entre outras. JANEIro 2013 / placar / 51

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Š foto fotoarena

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o domador

a temporada 2012 foi para esquecer. para controlar egos e apagar o fogo de um vestiário cheio de cobras, o inter chamou dunga. a missão: devolver o clube à rotina de títulos p o r fr e d e r ic o l an g e l o h

A

de sig n carol nunes

costumado nos últimos anos a comemorar títulos, o torcedor do Internacional não tem muito o que festejar nesta virada de ano. Afinal, a realidade será diferente daquela à qual ele estava habituado. Com uma campanha ruim e cheia de tropeços e trocas de técnico em 2012, o Inter encerrou a temporada com apenas uma taça no armário: a do Gauchão — justo a menos importante de todas. E, pela primeira vez desde 2004, poderá passar o ano todo sem disputar uma competição internacional. Enquanto isso, o rival Grêmio jogará a Libertadores. Para piorar, a autoestima dos colorados foi abalada pela inauguração da Arena do Grêmio. Enquanto o tricolor abriu seu estádio novinho e com ar europeu, o Inter fechou o Beira-Rio para as reformas visando à Co-

pa do Mundo de 2014 e passará o ano todo jogando como inquilino no estádio Centenário, do Caxias, distante 131 quilômetros de Porto Alegre. A tentativa de retomada da grandeza perdida, porém, teve início pouco antes do Natal, com a contratação de Dunga como técnico do time. Prata da casa, o capitão do tetra chega com a missão de colocar ordem em um vestiário difícil, formado por jogadores ricos e vaidosos, que fizeram nomes como Dorival Júnior e Fernandão perderem seus empregos. “Sabemos quais erros foram cometidos em 2012 e, agora, estamos corrigindo todos eles, um por um”, diz o presidente do Inter, Giovanni Luigi. Com Dunga, ao lado do preparador físico Paulo Paixão, tirado do Grêmio, o Inter remonta parte da comissão técnica da seleção brasileira que disputou a Copa da África do Sul.

Dunga em sua segunda passagem pelo Inter: a velha liderança de volta janeiro 2013 / placar / 53

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era dunga

O Inter inspira-se na redenção de Dunga, condenado em 1990, com direito a emprestar o seu nome a uma era de derrotas do Brasil, mas vitorioso em 1994, ao erguer a taça do tetracampeonato mundial. “Nunca saí do Inter, sempre estive aqui, independentemente de ser como torcedor. Sempre estive presente”, diz.

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Fogo e paixão

Dunga e Paulo Paixão são os pilares desse novo Inter. E D’Alessandro será a referência e também o capitão do time. Amigo do treinador colorado, o argentino sonha reviver em 2013 suas grandes atuações no clube, sobretudo aquelas do bicampeonato da Libertadores de 2010. Um dos motivos para que Dunga aceitasse o convite do Inter foi contar com Paixão a seu lado — uma espécie de conselheiro do capitão de 1994. “Ele dá ensinamentos de grupo, de preparação da equipe. Sempre que puder, o Paixão estará a meu lado”, afirma Dunga. Dunga terá como missão levar o time à conquista de um dos torneios nacionais, uma vez que o clube deseja reinaugurar o Beira-Rio, em 2014, disputando a Libertadores. “O torcedor do Inter aceita tudo, mas não aceita que os jogadores não se

Dunga, cria da base do Internacional, elegeu o argentino D’Alessandro (acima) como líder do time dentro de campo

doem, não se entreguem ao jogo sem saírem exaustos”, diz Dunga. A contratação de Dunga passou muito pelos nomes que compõem o elenco do Inter. Jogadores como D’Alessandro, Diego Forlán, Juan, Dagoberto, Índio, Rafael Moura, Guiñazu, Kleber, entre outros, não podem jogar tão pouco, como ocorreu em 2012. Ao demitir Fernandão, os dirigentes alegaram a necessidade da troca porque temiam um boicote na última rodada do Brasileirão, o Gre©2

nal de encerramento do Olímpico. Com o interino Osmar Loss, o Inter acabou empatando com o Grêmio. Para 2013, Bolívar, Edson Ratinho, Marcos Aurélio, Bolatti e Dátolo deverão se somar ao lateral-direito Nei, que já deixou o clube. “Todo mundo fala só dos jogadores, mas, quando um clube ganha, todos acertam. Agora, não adianta colocar a culpa só nos jogadores”, entende o novo técnico do Inter. Sobre encarar um possível vestiário complicado e

Faturamento anual do inter (em milhões de reais)

2010

206

2011

206 191

2012

205

2013*

O presidente Luigi e Dunga: reconstrução começa no banco

205 171

*Expectativa. OBS.: O faturamento do Inter oscila devido ao maior ou menor volume de vendas de jogadores. Para 2013, a previsão de faturamento é de 171 milhões de reais. O clube não terá as arrecadações com o Beira-Rio (fechado para as obras) nem o bônus da Rede Globo, verba que ingressou no clube em outubro.

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Festa do interior Sem o Beira-rio, cluBe teme aS conSequênciaS de jogar longe da torcida Um dos temores do Inter em 2013 é enfrentar o “efeito Minas Gerais”. A equipe fará a maioria dos treinos no CT, em Porto Alegre, e, em seguida, embarcará para Caxias do Sul, sua casa provisória. Em 2010 e 2011, os grandes de Belo Horizonte sofreram prejuízos sérios com a falta do Mineirão e do Independência, ambos fechados para obras da Copa. No começo de 2010, o Cruzeiro contava com 20 000 sócios. Um ano depois, sem o Mineirão, restaram apenas 2 000 — hoje, o clube conseguiu recuperar pouco mais de 5 000 associados. “Em 2011, jogamos contra o Ceará, em Uberlândia, com um público de apenas 6 000 pessoas. Nosso prejuízo financeiro e técnico foi imenso”, diz Guilherme Mendes, diretor de comunicação do Cruzeiro. Eduardo Maluf, diretor de futebol do Atlético-MG, lembra que, jogando fora de Belo Horizonte, o clube perdeu pelo menos 13 milhões de reais em renda em 2011. Quase foi rebai-

com problemas, Dunga justifica: “Nunca tive problema em vestiário. Basta ser honesto, direto e objetivo. No futebol, quando as coisas não vão bem, é sempre problema do vestiário ou salário, ou fulano não se dá bem com o cicrano. E, às vezes, não é nada disso. O grupo é competitivo, e os jogadores querem vencer”.

ordem no caixa

O clube tem dinheiro para oferecer a Dunga duas ou três contratações pontuais para reforçar o elenco de 2013. Com um superávit de 9 milhões de reais, sem pedidos de adiantamentos da TV e com um faturamento na casa dos 240 milhões de reais anuais, o Inter buscará um lateral-direito, um meia e um atacante ©1 foto edison vara ©2 foto divulgação

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©2

o estádio Centenário, do Caxias: a casa temporária do Colorado enquanto o Beira-rio estiver em obras

©1

xado. “Jogamos como visitantes.” Para jogar a temporada 2013 no Centenário, o Inter pagará ao Caxias um aluguel mensal de 100 000 reais, mas ficará com a renda das partidas em que tiver o mando. Além disso, os colorados cederão ao clube até oito atletas. O contrato vai até agosto de 2013, mas é automaticamente prorrogável. “Será bom para o Inter e bom para o Caxias, que ganhará projeção nacional”, diz o presidente do Caxias, Nelson Reche Filho.

de velocidade. Para seguir com uma razoável capacidade de investimento, o clube reduzirá sua folha de pagamento mensal em quase 1 milhão de reais, passando dos cerca de 8 milhões para 7 milhões. É claro que a ausência na Libertadores também faz com que os aportes minguem. Apesar da necessidade de trocar o Beira-Rio pelo Centenário, o clube não acredita que ocorra uma debandada dos 102 800 associados (que representam uma arrecadação mensal de 5 milhões de reais). Pelo contrário: o Inter projeta agregar mais 5 000 sócios, somente com os torcedores da serra gaúcha. Mesmo com tantos associados, a reeleição de Giovanni Luigi se deu em primeiro turno, dentro do Conse-

lho Deliberativo, devido à situação ter mais da metade dos conselheiros do clube. E isso causou grande revolta entre os sócios, que não puderam demonstrar nas urnas o seu desagrado com a atual gestão. O comando do futebol foi trocado, saindo o vice Luciano Davi e ingressando na área política do vestiário Luís César Souto Moura e Marcelo Medeiros, ambos diretores de futebol. Para o ex-presidente Fernando Carvalho, guru de todas as últimas gestões do Inter, o momento é de reconstrução: “A campanha de 2012 é um fato raro, mas não é algo inédito. Agora o clube precisa voltar ao caminho dos grandes títulos, com um vestiário com hierarquia, referências e correções pontuais”. janeiro 2013 / placar / 55

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Cheias de

charme EsquEçA Os pAlAvRõEs, As ENtRAdAs mAIs duRAs E O suOR cAtINguENtO. plAcAR ENcONtROu umA pElAdA pERfEItA. cOm gRAçA, cOmpROmIssO, tRIlhA sONORA E... mulhEREs Em cAmpO!

J

p o r maur íc io bar r o s de sig n c arol nunes fotos renato pizzut to

Já começou estranho. Em vez da pergunta óbvia “cadê a bola?”, ouve-se um “onde está o iPod?”. Saem três delas com cara de preocupação a procurar o mp3 nas mochilas. E aí a gente olha as mochilas e descobre que... não são mochilas típicas de futebol. São bolsas coloridas, transadas, algumas com grife aparente,

enfileiradas no chão, junto ao alambrado. É de uma delas que sai o iPod tão procurado. Ficamos curiosos. “Vai jogar futebol com iPod e fones de ouvido?” É quando surge o que parece ser uma mala dessas de rodinha. Mas não é uma mala. É uma caixa de som portátil, adaptada para transporte. Dela sai um cabo que a conecta ao iPod. Imediatamente, o campo é tomado pelas Spice Girls. Som alto, pulsante. Elas começam a dançar. E, ainda, nada de bola. Na plateia, somos, eu e meu colega de PLACAR, Rogério Andrade, dois peladeiros de longa data. Começamos cedo a jogar e hoje, já quarentões, seguimos batendo nossa bolinha. Conhecemos bem desse riscado. O futebol entre amigos define uma parte importante do que somos. O compromisso de jogar com serie-

dade, a sabedoria de tirar o pé na hora certa, o respeito aos outros, a cerveja obrigatória no pós-jogo. Por isso, não escondemos a perplexidade no exato momento em que aquelas meninas começam a dançar. Já vimos de tudo no mundo das peladas. Mas iPod, caixa de som e dancinha no aquecimento é a primeira vez. Estamos nós dois aqui, neste complexo de quadras de futebol soçaite na zona oeste de São Paulo, a convite da Carolina Nunes, que é designer da PLACAR. Aquela moça doce e tímida nos surpreendeu certa vez quando contou que também jogava sua pelada. Fomos conhecer por uma irresistível curiosidade disfarçada de interesse jornalístico. E, quando vimos a primeira cena, não havia dúvida: a pelada da Carol era bem diferente da nossa. De cara, percebemos que a brin-

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Em pé (da esq. para a dir.): Carol Nunes, Monise Oyama, Ma Guimarães, Yoshi Sekine, Bibia Zamperlini, Lizz Herron-Sweet e Bibi Martins. Agachadas: Angélica Souza, Ba Duarte, Livia Mazon, Thais Bonizzi, Ma Freire e Ju Negrini

cadeira tem uma dona. A nossa tem líderes, os mais antigos, que exercem essa chefia de maneira um tanto difusa. Mas a pelada da Carol tem a Bibi. E a Bibi é a autoridade máxima ali, isso fica claro desde o início. Com o apito na mão, é ela quem divide os times, marca o tempo, organiza tudo. “Elas precisam de alguém que entenda o universo feminino e organize a brincadeira”, diz. Bibi é também a única mulher que não joga. Na verdade, está trabalhando. Aquele é seu negócio, e tem até nome: Pelado Real. “Como os homens jogam a pelada, resolvemos que nós jogamos o pelado”, explica a Carol. “E Real porque damos aos times os nomes da nobreza: Condessa, Princesa, Duquesa...” Bibi é Ana Alice Martins Oliveira e tem 26 anos de idade. De tanto ver seu pai e irmãos jogarem futebol no

clube, tomou gosto e foi ela mesma bater sua bola. Jogou no colégio, no clube, na faculdade. Mas, depois de se formar em administração, ficou, como muitas de suas amigas, sem lugar para jogar. Ao ouvir tanta reclamação das colegas sobre voltar

à academia, resolveu organizar uma pelada. Na primeira convocação, em janeiro de 2011, foram 20 jogadoras. Na segunda, havia 32. “No início, eu fazia por amor. Não cobrava nada, só o valor do aluguel da quadra. Mas aí as meninas disseram que não era Bibi: a paixão virou seu negócio

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futebol é pra mulher

A luta para ser uma peladeira por Carol Nunes

Desde pequena gostei muito de jogar bola e encontrei certa resistência na escola e até dentro de casa em relação a essa atividade. Por ser uma modalidade considerada masculina, uma menina querer jogar futebol não era bem visto. Nessa época, também dançava jazz, cujos ensaios eram muito mais incentivados que meus treinos de meião e chuteira. Mas o tempo passou. E, ao menos para minha família, consegui mostrar que ter um esporte como hobby é algo muito positivo e que pouco importa qual o sexo predominante que o pratica. Conquistei entusiasmados espectadores e hoje conto com eles tanto para minhas partidas de futebol como para as apresentações de dança. Espero que um dia cada um possa se exercitar e se divertir da forma que mais gostar, sem deparar com situações semelhantes a essa.

justo, que deveriam pagar por esse meu trabalho de organizar. Então eu comecei a cobrar.” Hoje, o Pelado Real conta com 150 meninas, que se revezam em turmas espalhadas por quatro dias na semana. São garotas de 25 a 30 anos, publicitárias, designers, administradoras, jornalistas, todas amantes da bola. A parcela mensal custa 90 reais. No plano trimestral, cai para 80. No semestral, 75 por mês. Bibi largou o trabalho na agência de publicidade e hoje dedica todo seu tempo ao negócio. O Pelado Real não é uma típica escolinha de futebol. É, antes de tudo, um jeito de viabilizar uma diversão entre amigas. “Eu nem posso dar treinamento, porque não sou formada para isso”, diz. “O que me interessa mesmo é a parte empresarial. As mulheres precisam de alguém que organize isso para elas.” Mas não pense que só “craques” podem fazer parte do grupo. Na página do time no Facebook, está escrito: “Para meni-

nas que andam meio de saco cheio de academia, mas não querem ficar paradas, eis uma solução para manter a forma no verão: futebol. Pré-requisitos: ser ruim demais, ter sangue nos olhos e raça”.

Mudando o ambiente

Bibi conta que o sucesso do Pelado Real fez com que os donos do complexo de quadras a procurassem com a possibilidade de abrir horários para mulheres em outras unidades. Eles também a questionaram sobre eventuais melhorias que poderiam ser feitas no lugar para reter as meninas após os jogos. “Eu disse que havia muito a fazer. Por exemplo, não há um vestiário só para elas, o que torna impossível o banho”, diz Bibi. “Outra coisa é a decoração e o cardápio do bar. Frango à passarinho e porções gordurosas não são atraentes para as mulheres. É preciso botar sanduíche natural, sucos, barras de cereal. O ambiente também precisa ser mais charmoso.

Carol (com o S na camisa) venceu resistências e hoje é craque do Pelado Real

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Um jogo, dois mundos

AlgumAs cOIsAs quE AcONtEcEm NA pElAdA dA plAcAR quE NãO ROlAm NO pElAdO REAl

Eles Eles se organizam sozinhos. É muito comum e fácil arrumar parceiros para uma pelada Eles se xingam sem constrangimento. Levar uma criança a uma pelada de marmanjos é botá-la em contato com as piores palavras do idioma. Porém, depois do jogo, fica tudo bem Uniforme de jogo é qualquer coisa, com combinações bizarras. Ninguém está nem aí se a camisa é de propaganda para vereador e se o calção está furado Água é do bebedouro ao lado da quadra ou mesmo da torneira Não é difícil arrumar alguém para jogar no gol A única música presente é a do pagode ruim ao lado da churrasqueira

X Elas

Elas precisam de alguém para organizar, porque não há muitas jogadoras. Por isso, é necessário que alguém faça o meio-campo Xingamentos não fazem parte do jogo. Se porventura uma garota xinga a outra, será mágoa eterna. “Eu até acho isso negativo, não põe para fora o sentimento...”, diz Bibi. Mas o ambiente fica bem mais civilizado Há harmonia de cores entre camisa, short, meião e chuteira. “Quando destoa, é porque é fashion. A Lizz joga com um meião de cada cor por estilo”, diz Bibi. Também há o momento de arrumar o cabelo antes da partida Há squeezes na beira do campo. Cada uma tem o seu Entre as 150 jogadoras do Pelado Real, só uma é guardametas. “Eu não gosto porque quebra as unhas”, diz Carol Levam mp3 e caixa de som para a trilha sonora. Revezam-se no comando

No vestiário, só falam de uma coisa: futebol. É um tirando sarro do outro e comentando a rodada

Elas gostam de jogar. Não, necessariamente, de torcer. “Com o rebaixamento do Palmeiras, houve só uma zoação”, diz Bibi.

Gordo rosa, minhoca, aranha, mendigo... Eles adoram dar apelidos pejorativos. E que pegam para sempre.

Ninguém ganha apelido. Chama-se pelo nome ou diminutivo, tipo Lizz, Carol, Bibi. Referir-se à outra como Cabeção, Zorêia ou Bolinha é processo na certa.

Acabamos saindo daqui e indo tomar cerveja e bater papo em outro lugar”, afirma. Nas quadras ao lado da pelada das meninas, ainda é possível ver homens lançando olhares curiosos. É comum, entretanto, vê-los elogiando o futebol das mulheres. “Elas jogam bem”, comenta com o amigo um sujeito encostado no alambrado. De fato, o nível técnico no Pelado Real surpreende. As garotas jogam com vontade, colocam intensidade em cada lance. Bizarrias existem, claro. Assim como nas peladas dos marmanjos. Mas é interessante ver como o futebol pode se adaptar ao universo feminino. Ver mulheres batendo sua bolinha é algo comum em países como Estados Unidos, Suécia, Alemanha. Mas, no Brasil, o esporte ainda está muito associado à masculinidade. As meninas do Pelado Real, com doçura e habilidade, estão ajudando a mudar isso. JANEIRO 2013 / placar / 59

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Acabou a

brincadeira neymar terminou 2012 a anos-luz dos outros jogadores. Como Corrigir essa distorção? PlaCar resolveu alçá-lo a outro Plano, extraterrestre, Com a Bola de ouro hors-ConCours p o r ma r c os s e r g io si lva

de sig n rogério andrade

N

fotos alexandre bat tibugli

eymar andava impaciente nos bastidores do prêmio Bola de Prata 2012, nos estúdios dos canais ESPN, em São Paulo. Não era possível que ele, a melhor média entre os jogadores do Brasileirão, estivesse ali para receber “apenas” a Chuteira de Ouro como o maior artilheiro do país pelo terceiro ano consecutivo. Chamado ao palco pelos apresentadores Marcelo Duarte e Celso Unzelte, que aproveitaram a ocasião para comemorar os dez anos do programa Loucos por Futebol, da ESPN Brasil, confessava bai-

xinho que estranhara a falta de prêmios. Afinal, ele merecia ou não uma Bola de PLACAR? Sim, ele merecia, mas não uma qualquer. Neymar havia sido elevado a outra categoria, de seres que não estão neste planeta. Um caminho que ele provou ao receber a rara nota 10 de PLACAR, na vitória do Santos por 4 x 0 sobre o Cruzeiro, em 3 de novembro. Ali começava a trajetória de imortal. Havia um fosso entre o santista e os outros jogadores. “A diferença das médias do Neymar em relação aos outros jogadores é muito grande. Ele estava estragando a brincadeira. Neste caso, não

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a

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4 3 ª b o l a d e p r ata

GOLEIRO

LAtERAL-DIREItO

ZAGUEIRO

Diego Cavalieri

Marcos Rocha

Leonardo Silva

tinha o que fazer. Ele merecia um prêmio especial”, disse Sérgio Xavier, diretor do Núcleo Motor, Esporte e Turismo da Editora Abril. E como abrir caminho para que Neymar fosse contemplado por seu talento e regularidade, mas a disputa pela Bola de Ouro não perdesse a graça? A polêmica decisão de PLACAR, coberta por uma avalanche de considerações, parabenizações e protestos, foi dar a Neymar a prerrogativa que até então apenas Pelé tinha – e que havia conquistado antes de o prêmio começar a existir, em 1970. Como o Rei do Futebol, o menino da Vila recebeu a Bola de Ouro Hors-Concours, um termo francês para designar pessoas tão especiais que seria uma injustiça que elas concorressem com os demais. Alguma dúvida de que Neymar se encaixa nessa categoria? Nenhuma. E a participação do santista no Brasileiro só reforçou isso. Foram 17 jogos e 14 gols, a melhor média entre os atacantes do campeonato. Teve atuações de gala como a contra o Cruzeiro, merecedora da nota 10 e também de aplausos da torcida rival. Gols de placa, como o anotado contra o Atlético-MG, até então lí-

Chuteira de OurO Neymar foi o primeiro a conquistar por três anos consecutivos a Chuteira de Ouro.

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BOLA DE OURO Ronaldinho Gaúcho

O ano de Ronaldinho

Ronaldinho Gaúcho já havia reservado a Bola de Prata de melhor meia do Campeonato Brasileiro com alguma antecedência. Ao contrário do que aconteceu no ano passado – quando, depois de um primeiro turno magistral, apagou-se no returno –, o atleticano teve mais regularidade e jogou em alto nível durante quase todo o campeonato. A concessão do prêmio hors-concours a Neymar abriu espaço para que o atleticano conquistasse a primeira Bola de Ouro de sua carreira. Saiu do Brasileirão em alta e cotado inclusive para voltar à seleção. Felipão confia no cara.

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REvElAçãO Bernard ZAGUEIRO Réver

lAtERAl-EsqUERdO Carlinhos

Tamanho não é documento

PLACAR usou as notas da Bola de Prata para premiar a revelação do Brasileiro. E o vencedor foi o atleticano Bernard. O baixinho, de 1,62 metro, superou concorrentes como Gabriel (Bahia), Romarinho (Corinthians) e Fred (Inter). “Essa bolinha tem um peso enorme”, disse o jogador, o menor e mais empolgado da festa.

AtACAntE Fred

AtACAntE Lucas

vOlAntE

vOlAntE

MEIA

Ralf

Paulinho

Zé Roberto

der do campeonato, quando deixou para trás três defensores antes de superar o goleiro Victor, na Vila Belmiro. E o que talvez sirva ainda mais para justificar o prêmio excepcional: uma média que nenhum outro atleta conseguiu superar desde que PLACAR padronizou as notas da Bola de Prata, em 1995. Nos rígidos padrões da revista, um atleta terminar um campeonato com média 7,12 é feito apenas para os extraterrestres. Giovanni, o recordista até então, havia

obtido 6,91 em 1995. E, na Bola de Prata, essa diferença de 0,21, que parece mínima, é um abismo. O prêmio hors-concours de Neymar abriu caminho para que PLACAR premiasse a temporada de alto nível de Ronaldinho Gaúcho com a Bola de Ouro. Nada mais merecido. E foi justamente o Bola de Ouro da Fifa por dois anos consecutivos, em 2004 e 2005, quem entregou o troféu especial para o santista. “Esse merece. É hors-concours mesmo.

Enquanto os outros vão de bicicleta, tu vai de moto”, disse o atleticano, entregando o prêmio e dando um abraço no parceiro. “Fico até meio sem jeito de falar, mas estou feliz”, disse um Neymar ainda surpreso com a honraria. Seu pai, Neymar da Silva Santos, enxergava o troféu como um degrau a mais na carreira do filho. “O reconhecimento veio”, dizia. E veio em um dia histórico: para Neymar e para PLACAR. E, por que não dizer, para o futebol brasileiro. janeiro 2013 / placar / 63

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2012

RETROS PECTIVA p o r m ar c o s s ergio silva

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design gustavo bacan

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janeiro

o santo dá adeus com procissão

MARcOs ANuNcIA suA ApOsENtAdORIA dOs cAMpOs E é dEfINItIvAMENtE cANONIzAdO pElO pAlMEIRENsE

M

arcos trocou as férias pela aposentadoria. Em 4 de janeiro, ele anunciou, por meio do gerente de futebol do Palmeiras, César Sampaio, o fim da carreira. Foram 531 jogos pelo alviverde, contando o da despedida, em 11 de dezembro. O goleiro não derrubou uma lágrima sequer. A decisão já tinha sido tomado antes mesmo da reapresentação do elenco. Uma semana depois foi a vez de Marcos dar explicações. “Não estava mais conseguindo, corria na esteira e meu joelho inchava.

Marin e a Medalha

7 gols de Messi

José Maria Marin roubou a cena na entrega dos prêmios para os vencedores da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Embolsou a medalha do goleiro Matheus Caldeira, campeão da Copinha com o Corinthians.

Consegui jogar umas 30 partidas no sacrifício, tomando muito remédio e fazendo várias punções no joelho para tirar o líquido acumulado. O corpo estava pedindo arrego”, afirmou. Na mesma semana, torcedores do clube fizeram uma “procissão” pelo santo da sede do clube até o Pacaembu. O Palmeiras deu a Marcos o cargo de embaixador da nova Arena Palestra. Na despedida em dezembro, no Pacaembu, Marcos fez seu único gol na carreira, de pênalti. Estava encerrada uma das trajetórias mais singulares do futebol.

rivaldo Joel eM angola tradutor

O pentacampeão foi jogar no Kabuscorp, do obscuro futebol de Angola. Fez 18 gols em 21 jogos, construiu uma igreja, ficou sem água e teve desavenças com o técnico. No fim do ano, voltou ao Brasil.

Joel Santana rendeu-se ao folclore e faturou uns trocados usando seu inglês em comerciais de TV da Pepsi. O bordão do refrigerante (“pode ser?”) virou “pode to be?” com o treinador.

BeiJaescudo

Thiago Neves já havia sido ídolo do Flu, mas provocou a ira dos tricolores ao assinar com o Flamengo em 2011. Quando voltou às Laranjeiras, cumpriu uma exigência: beijar o escudo. E o fez sem remorso.

3MESSI Entra ano, sai ano, a Fifa anuncia o melhor do mundo e o sobrenome de cinco letras aparece: Messi. No ano anterior, o argentino fez uma temporada perfeita, com um tri espanhol, a Liga dos Campeões e o Mundial Interclubes. Nada mais justo que o prêmio ir para ele.

os SEM-TV

Começou a Libertadores. Mas onde? Com os direitos de transmissão com a Fox sports, um impasse das operadoras de TV a cabo fez com que o telespectador não soubesse onde sintonizar para assistir ao torneio. simplesmente não havia o canal nas redes. Em fevereiro, as operadoras chegaram a um acordo. E o torcedor enfim teve paz.

A

Na véspera do jogo contra a Portuguesa, falta ao treino do Corinthians e diretoria do clube dá ultimato. Torcida hostiliza jogador.

DR

IANAD

MÊS

tinha pedido arrego

vezes

DO

Marcos não derrubou uma lágrima: o joelho já

A

capa do mês

Bola dentro Fred terminou 2011 em ritmo alucinante. E continuou 2012 assim: foi campeão carioca e brasileiro com o Fluminense.

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cOmO O mAssAcRE dE 74 tORcEdOREs Em pORt sAId mANchOu dE sANguE A pRImAvERA áRAbE

Só havia Deivid, a bola e o gol depois do cruzamento de Léo Moura, na semifinal da taça Guanabara, diante do Vasco. e o atacante escolheu a trave. “Foi inacreditável”, disse.

por torcedores

O

rivais

cia, partidária de Mubarak. O saldo foi de 74 mortes. O campeonato local foi suspenso. Três jogadores do Al Ahly anunciaram a aposentadoria, mas um deles, Mohamed Aboutrika, mudou de ideia e levou o clube ao título da Copa dos Campeões Africanos. Na semifinal do Mundial de Clubes, contra o Corinthians, atletas do clube vestiram uma tarja preta nos braços, simbolizando o luto.

Tragédia da base

Wendel Júnior Venâncio da Silva, 14 anos, fazia apenas seu segundo teste no time infantil do Vasco, em Itaguaí (rJ), em 2 de fevereiro, quando sentiu um mal-estar. Desmaiou, teve uma convulsão e foi levado às pressas a um pronto-socorro. Morreu antes mesmo de ser atendido. O laudo da necropsia apontou que o garoto sofria de problemas cardíacos.

Na contagem regressiva para o Mundial de 2014, as arenas escaladas para o evento sofreram com as greves. No total, elas ficaram 39 dias sem obras

arena das dunas – Natal 3 dias

DR

IANAD

A

entra e sai Sai Capello O técnico italiano saiu da seleção inglesa depois de a federação retirar a braçadeira de capitão de John terry, acusado de racismo

Sai luxa Fritado, cozinhado e assado ainda na pré-Libertadores, perdeu a disputa de braço com ronaldinho Gaúcho no Flamengo.

iMaGiNa Na Copa

arena Fonte Nova – Salvador 6 dias arena Castelão – Fortaleza 13 dias arena amazônia – Manaus 1 dia arena pernambuco – Recife

A

É “trancado” na concentração corintiana. Em entrevista, o ex-presidente do clube Andrés Sanchez diz que “investiu [no jogador], mas deu errado”.

DO

al ahly são encurralados

MÊS

Jogadores do

s ventos da Primavera Árabe, em que protestos depuseram chefes de estado, terminaram por manchar de sangue o Campeonato Egípcio. Apoiadores da revolução que tirou o ditador Hosni Mubarak do poder, torcedores do Al Ahly foram massacrados pelos seguidores do Al Masry, em Port Said, alguns deles armados com facas. Houve facilitação da polí-

FEvEREIRO

INFERNO NO EGITO

O imperdível gol perdido

Volta teVez Depois de muito mimimi, o argentino decidiu se reapresentar ao Manchester City. ele estava afastado desde setembro de 2011.

capa do mês

19 dias

Bola FoRa O novo pacto vascaíno não durou até o fim do ano. a queda técnica no Brasileiro tirou o clube da Libertadores.

17 GolS de MeSSi

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Teixeira: só dom Pedro II

A

março

Já foi tarde

ACUSAÇÕES CONTRA RICARDO TEIXEIRA O TIRARAM DO PODER. EM SEU LUGAR, ENTROU JOSÉ MARIA MARIN

O

mais longo reinado da América desde dom Pedro II chegou ao fim em 12 de março de 2012. Ricardo Terra Teixeira renunciou ao cargo de presidente da CBF depois de ocupar o posto por 23 anos. Em seu lugar, entrou o ex-governador de São Paulo José Maria Marin (foto), o vice-presidente mais velho da entidade (80 anos). Pesavam contra Teixeira acusações de corrupção na entidade. A principal vinculava o ex-dirigente à empresa Ailanto Marketing, investigada por irre-

gularidades no uso de dinheiro público na organização do amistoso entre Brasil e Portugal, em 2008, em Brasília (DF). Pesava contra o cartola a acusação de receber propina da extinta empresa de marketing ISL. O episódio ficou conhecido como o maior escândalo da Fifa, órgão em que Teixeira ocupava o cargo de vicepresidente. Assim que deixou a CBF, Ricardo Teixeira embarcou para o balneário de Boca Ratton, na Flórida (EUA). A entidade ainda deposita salários para o ex-dirigente — agora “consultor” da entidade.

E O ChiCO ANysiO ERA issO E AquiLO

Coalhada era um dos 209 nomes de Chico Anysio, morto aos 80 anos em maio. O craque imaginário (nome de batismo: Otávio Arlindo Antunes do Nascimento) era vesgo antes de Mário Sérgio, tinha cabelos crespos como Wellington Nem e era suburbano falastrão como Vampeta. Em resumo, era a essência do futebol brasileiro. Ele e Chico deixarão saudades.

30 GOLs DE MEssi

Foge (literalmente) da balança e é afastado dos treinos. Corinthians anuncia demissão por justa causa, depois de 67 faltas em sessões de fisioterapia.

DR

DO

tempo no poder

MÊS

ficou tanto

IANAD

A

Você tem que se empurrar, tem que receber um chute no traseiro e entregar a Copa do Mundo.”

Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, sobre as obras para a Copa do Mundo no Brasil. Depois ele pediu desculpas

Fabrice Muamba, 23, do Bolton, caiu no chão no fim do primeiro tempo contra o Tottenham pelas quartas de final da Copa da Inglaterra. Ele sofreu um ataque de coração. Recuperado, anunciou sua aposentadoria em 15 de agosto.

capa do mês

BOLA DENTRO Só por amor (e uma grana) foi possível jogar no Flamengo de 2012. Love sofreu, mas foi um dos únicos a sair por cima.

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ABRIL

RAmIRes e o fIm do BARçA

REtRANcA ENcERRA A ERA GuARdIOlA, A mAIs vItORIOsA dO clubE cAtAlãO

J

e Guardiola diz adeus

O gOL cONTRA DE R$ 780000

O zagueiro Andrea Masiello (ex-Bari e Atalanta) foi preso pela polícia italiana sob a acusação de receber 780 000 reais para marcar um gol contra na partida Lecce x Bari que salvou o primeiro time do rebaixamento.

RODADA DE mORTE

Piermario Morosini, 25 anos, sofreu uma parada cardíaca e morreu em meio à partida entre Livorno (seu time) e Pescara, pela segunda divisão do Campeonato Italiano. A tragédia suspendeu os jogos de todas as divisões do país.

LusA REBAixADA

Durou pouco a sensação de 2011. Com um elenco rachado, a Portuguesa, candidata ao título, não conseguiu nem superar clubes fracos e caiu de divisão no mesmo ano em que voltaria a disputar a série A do Brasileiro.

4 MINUTOS QUE MUDARAM A LIBERTA

O Flamengo havia batido o Lanús-ARG por 3 x 0, mas faltava o gol de empate do Olímpia-PAR contra o Emelec-EQU, para comemorar a classificação na Libertadores. Léo Moura apareceu na novata Fox Sports e acompanhava a narração. E “era notícia boa”, conforme o narrador: empate dos paraguaios. O flamenguista prosseguiu na transmissão e ficou com cara de “não entendi” quando o Emelec fez o gol da classificação.

A

Diz ter sido “humilhado” no Corinthians. Admite ser fã de “uma cervejinha”, mas não de São Paulo. “A cidade tem várias opções de comida, mas sou carioca.”

DR

MÊS

elimina o Barça

DO

Ramires toca, encobre Valdés,

osep Guardiola, 41 anos, não sobreviveu à retranca do Chelsea de Roberto Di Matteo. Dois dias depois de ver o sonho do Barcelona de conquistar pela segunda vez consecutiva a Liga dos Campeões da Europa ser destruído por um chute preciso do brasileiro Ramires, o treinador catalão anunciou o fim de seu ciclo no clube. A coletiva contou com atletas barcelonistas treinados por ele, menos Messi. “Eu me emocionaria na frente das câmeras e não queria essa exposição”, disse o argentino. Pep treinaria o time até a final da Copa do Rei, conquistada diante do Athletic Bilbao de Marcelo Bielsa — o treinador com o qual passou por um estágio antes de começar na profissão. A copa espanhola foi seu 14º título com os espanhóis. “A razão [para a despedida] é simples: o tempo. Quatro anos desgastam muito”, disse. Guardiola foi substituído por seu auxiliar técnico, Tito Vilanova. Encerrado o ciclo no clube, embarcou para Nova York com a mulher e os filhos para um exílio pessoal. “Há mais na vida que o futebol.”

IANAD

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BOLA DENTRO Ralf-Paulinho. Eles parecem ser um só. Tanto que a Bola de Prata de PLACAR premiou os (dois?) volantes.

39 gOLs DE mEssi

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ChELsEA

campeão No abafa, o Chelsea arrancou um 1 x 1 em Munique e levou a final da Liga dos Campeões contra o Bayern para os pênaltis. Na disputa, o time de Roberto Di Matteo saiu campeão da Europa pela primeira vez.

Neymar: tri como ele, só Pelé

maio

Tri eléTrico

NEymAR AJudA O SANtOS A cONquIStAR O pRImEIRO tRIcAmpEONAtO pAulIStA dEpOIS dA ERA pElé

D

esde 1969, um clube não conquistava um tricampeonato paulista. O último havia sido o Santos de Pelé. Mas, 43 anos depois, o mesmo Peixe, agora comandado por Neymar, quebrava o tabu. Sobrando em campo, os santistas eliminaram os são-paulinos na semifinal e, na final, o surpreendente Guarani para levar o terceiro tricampeonato da história, igualando o feito do Corinthians. No mesmo dia, o Fluminense levava o Campeonato Carioca diante do Botafogo. A final serviu apenas para chancelar o título — o tricolor havia vencido, com sobras, por 4 x 1 no jogo de ida. A vitória magra por 1 x 0 fez o Flu aproximar-se novamente do Flamengo — com 31 taças, está a só uma de recuperar a hegemonia carioca.

Torcedores já atiravam bandeiras ao chão, frustrados com a derrota do Manchester City para o QPR por 2 x 1, de virada, o que tirava o título inglês do lado azul da cidade. Até que, em 4 minutos, tudo mudou. Primeiro com um gol de Dzeko, aos 47. Depois com o de Agüero, aos 49. Vitória por 3 x 2 e taça após 44 anos. O torcedor do United não entendeu. Azar dele.

Cametá (PA)

Goiás (GO)

Atlético-MG (MG)

Campinense (PB)

Inter (RS)

Avaí (SC)

Ceará (CE)

Nacional (AM)

Bahia (BA)

Coritiba (PR)

Sampaio Correa (MA)

Ceilândia (DF)

CRB (AL)

Santa Cruz (PE)

[O Juvenal] é uma pessoa velha, já passou da idade e parece que quer ser treinador.”

47 GOLS DE MESSI

Emerson Leão, então técnico do São Paulo, sobre o presidente Juvenal Juvêncio.

O Leão gosta do quê? Deve gostar de limão.. Ele não gosta de nada.” Juvenal, sobre Leão, a quem demitiu em agosto.

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Submetido a nova cirurgia no tendão de aquiles, some das sessões de fisioterapia no Flamengo, mas aparece na boate São Nunca, na Barra da Tijuca.

DR

DO

América (RN)

MÊS

OUTROS CAMPEÕES

IANAD

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BOLA DENTRO PLACAR antecipou, em maio, que Messi poderia superar Pelé. E superou. Terminou a temporada com 90 gols.

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ronaldinho e Oscar: troca-troca na Justiça

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onaldinho Gaúcho contra o Flamengo. Oscar contra o São Paulo. Nos dois duelos que importaram em junho, os vencedores foram os jogadores. O veterano partiu para o Atlético-MG depois de cobrar do rubro-negro uma dívida de 40 milhões de reais. Na Justiça do Trabalho, pediu o fim do vínculo contratual com o clube carioca. No entendimento jurídico, o jogador tem o direito de requerer a rescisão quando o atraso de salários chegar a três meses. O Flamengo demorou

três meses para pagar os direitos de imagem de Ronaldinho, suficiente para a Justiça dar razão ao jogador. No caso de Oscar, depois de diversas reviravoltas jurídicas, o jogador enfim acertou sua situação com o São Paulo, clube que o revelou. O Inter aceitou pagar 15 milhões de reais pelo jogador. Menos de dois meses depois, o clube gaúcho o revendeu ao Chelsea-ING por 61 milhões de reais, sendo 31 milhões para o Colorado — o restante foi dividido entre o agente do jogador e o banco BMG.

O meLhOr da Euro

Polônia e Ucrânia receberam o melhor do futebol europeu no mês de junho. Parte da história recente se repetiu. a alemanha jogou bonito, mas não chegou à final. a Itália, na base do bumba meu boi, alcançou outra decisão. e a espanha mostrou que não se cansa mais de ganhar títulos. e nunca se viu tanta mulher bonita em tão pouco tempo.

DR

MÊS

EmbAtEs dO mês – NOs tRIbuNAIs

DO

RONAldINhO E OscAR pROtAgONIzAm Os dOIs

Falta (adivinha?) a mais uma sessão de fisioterapia um dia depois de se estranhar com surfistas em festa e ser “gentilmente” convidado a se retirar.

junho

Futebol na justiça

IANAD

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O Neymar voltou esgotado fisicamente. Neymar é unanimidade na seleção e não precisa ser testado. Agora, Paulinho, Ralf, um atacante insinuante como o Sheik não são convocados. Será que o Hulk é melhor que o Sheik?”

Luís Alvaro Oliveira Ribeiro, presidente do Santos, sobre a convocação de Neymar para a seleção olímpica antes do confronto contra o Corinthians, pela Libertadores. Ralf e Paulinho não tinham idade olímpica; Sheik, além disso, já disputou três partidas pelo Catar.

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BOLA DENTRO Lucas provou em 2012 que é craque. Saiu do São Paulo com um título e vendido por 108 milhões de reais ao PSG.

51 GOLs DE MEssi

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Para o corintiano, a noite de 4 de julho foi a mais linda do mundo

julho

A NoITE DA INDEPENDÊNCIA

Em sEu 4 dE JulhO pARtIculAR, O cORINthIANs ENfIm cONquIstA A AméRIcA

Seedorf O botafoguense acordou se beliscando: “Seedorf, no fogão?” Sim, e por duas temporadas. O craque holandês atendeu aos pedidos da mulher, a brasileira Luviana, e se mandou para o Rio. Em campo, mostrou o futebol de alto nível de sempre e um português afiado.

51 GOLs DE MEssi

PALMEIRAS nO fIO dO bigode

A felipão provou o estilo copeiro e levou o Palmeiras para o primeiro título de expressão desde a Libertadores de 1999. O time não era lá aquelas coisas, mas escorou-se nos gols de Barcos para a conquista. no caminho, uma leva de sulistas: Paraná (oitavas), Atlético-PR (quartas), Grêmio (semifinal) e Coritiba (final). O Coxa foi vice pela segunda vez consecutiva.

Adriano continua dando calote nas sessões de fisioterapia no Flamengo. Mas antes é visto com cinco mulheres em boate na zona sul do Rio.

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IANAD

MÊS

Bem-vindo,

nal, o Boca Juniors, carrasco de clubes brasileiros em finais — já havia eliminado quatro deles em decisões anteriores. No primeiro jogo, na Bombonera, um gol mágico de Romarinho, que havia acabado de entrar, empatou uma partida quase perdida. Na volta, em um Pacaembu lotado, foi a vez de Emerson Sheik, duas vezes, consolidar a supremacia corintiana, construída em oito vitórias e seis empates. Um título invicto para delírio da Fiel.

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O

corintiano encerrou em 4 de julho – ironicamente, a data da independência americana – a espera que começou em 1977, o mesmo ano em que o clube saiu da fila de títulos regionais. Mas, antes de enfim conquistar o continente, foi preciso domar o nervosismo, suportar a pressão e um gol quase feito de Diego Souza, contra o Vasco, e superar o até então campeão das Américas, o Santos de Neymar. Na fi-

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capa do mês

BOLA DENTRO Pressão não faltou para a seleção na Olimpíada. Tanto que a medalha de prata selou o destino de Mano Menezes na seleção.

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O bRAsIlEIRO só qUER O OURO. mANO qUE O dIgA

108 milhões R$

O multimilionário Paris Saint-Germain ofereceu. O São Paulo aceitou. E o meia-atacante Lucas acertou a mudança, na maior transação do clube francês. Com excesso de estrangeiros, o PSG aceitou que o são-paulino ficasse no Brasil até o fim do ano — e levasse a Sul-Americana.

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Brasil embarcou para a GrãBretanha com um único propósito: era ouro ou nada. Na rota, poucos contratempos. Neymar chegou em má fase, mas aos poucos encaixou seu futebol ao lado da novidade Oscar, destaque na excursão da seleção pelos Estados Unidos, e de Thiago Silva, um monstro da zaga. Egito? Bielorrússia? Nova Zelândia? Honduras? Coreia do Sul? Os rivais não ofereceriam nenhum perigo. Mano Menezes, enquanto a sorte assobiava para ele, destilava ironia nas coletivas. Mas, fora de campo, a relação entre os poderosos

IMPEDIMENTO TRIPLO

para o Brasil

da CBF não era amistosa. Marin não se entendia com Andrés Sanchez, que brigava com Rodrigo Paiva. Ganso, que chegou como salvação, mostrou pouco entusiasmo e nem no banco ficou. O perigo era o México, que já havia batido o Brasil em amistoso. Um gol-relâmpago mexicano quebrou as pernas brasileiras, e o time demorou a se reencontrar. O segundo gol rival terminou de afundar as pretensões do primeiro ouro. O gol de Hulk veio no fim, insuficiente para a virada. Mano engasgou. Já havia perdido o cargo, mas Marin só o avisaria disso em novembro.

Santos x Corinthians, na Vila. O santista Bruno Rodrigo, posicionado à frente da zaga, recebe e cabeceia para Durval, mais avançado que o último defensor corintiano, tocar para André, adiantado, marcar o gol do time da casa. O bandeira Emerson de Carvalho achou tudo normal.

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DR

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Mexico lindo, menos

Acerta a volta ao Flamen­ go, com salário redu­ zido e paga­ mento condicio­ nado às partici­ pações em jogos. “Sei que é minha última chance”, diz.

MÊS

UmA mEdAlhINhA é sImpátIcA. mAs, NO fUtEbOl,

agosto

Prata ou Lata?

Lucas, o garoto de

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Cheguei com hálito de cachaça. Aí os dirigentes decidiram me tirar do treino.” João Vitor, do Palmeiras. Bêbado, porém honesto.

capa do mês

BOLA DENTRO Foi o ano dos coroas no Brasileirão. E Zé Roberto ainda faturou a Bola de Prata na última rodada!

58 GOLs DE MEssI

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TRAGÉDIA REVISTA

Ronaldinho Gaúcho, mas quase mineiro

ViVa ronaldinho!

Vinte e três anos depois do massacre do estádio Hillborough, em Sheffield, a polícia britânica concluiu, em relatório, que os registros criminais das vítimas foram adulterados para manchar a reputação dos 96 mortos no jogo Liverpool x Nottingham Forest. Segundo a investigação, foram removidos comentários desfavoráveis ao governo de 164 textos e nunca houve prova de que os torcedores do Liverpool que morreram tinham ingerido bebida alcoólica.

Ganso Ganso recebeu uma chuva de moedas após a derrota do Santos para o Bahia por 3 x 1, na Vila Belmiro. O clube então aceitou a proposta do São Paulo, de 23,9 milhões de reais. No tricolor, Paulo Henrique foi bem recebido, mas jogou pouco. E foi campeão da Sul-Americana.

Estou triste e as pessoas no clube sabem por quê. É uma questão profissional.” Cristiano Ronaldo explica sem explicar direito o motivo da tal “tristeza” que o abateu.

FELIpãO DEMITIDO

O cRAquE vOltOu pOR bAIxO NO

AtlétIcO-MG. MAs cOMEu GRAMA, JOGOu O fINO E tERMINOu O ANO cOMO bOlA dE OuRO dE plAcAR

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63 GOLS DE MESSI

cusado de estar mais preocupado com as noitadas que com o futebol, Ronaldinho Gaúcho chegou ao Atlético-MG por baixo. Combustível para o craque, melhor do mundo em 2004 e 2005, provar o contrário. O meia-atacante pegou o clube na quarta rodada e terminou o turno em primeiro lugar, com o melhor aproveitamento da história. Para completar, uma exibição de gala com um golaço contra o maior rival atleticano, o Cruzeiro. Ronaldinho não parecia ser o mesmo. Nem o do auge, nem o do período de baixa, muito menos o jogador-problema. No Galo, ele recuperou a confiança e voltou a ser exigido para a seleção. Felipão avaliza.

Durou pouco mais de dois anos a segunda passagem de Luiz Felipe Scolari pelo Palmeiras. Menos vitoriosa que a primeira (conquistou apenas a Copa do Brasil deste ano), o técnico saiu em crise com os jogadores e com o time frequentando a zona de rebaixamento. Foi a terceira demissão do gaúcho: antes, ele já havia sido desligado do Goiás e do Chelsea.

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Lota de mulheres seu Mercedes novinho e parte para uma festa privê num hotel. Falta a treino no mesmo dia em que é visto em churrasco na Vila Cruzeiro.

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MÊS

O paraibano foi vendido do Porto para o Zenit, da Rússia, por 153 milhões de reais. No clube russo, enfrentou hostilidades dos atletas do time e também da torcida, que chegou a divulgar um manifesto contra a contratação de jogadores “negros” e de outros países. Uma atitude que infelizmente não é rara no clube de São Petersburgo.

O fim da novela

DO

setembro

huLk, O MAIS CARO DO MuNDO

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capa do mês

BOLA NA TRAVE Mais pelo passado que pelo futuro que estava por vir. Sheik foi o cara do Timão na Libertadores. Depois, pouco jogou.

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Neymar ficou mais

aLEX volta ao Coxa

apimentada na Olimpíada

Todo mundo queria o meia, de saída do FenerbahçeTUR. Alex optou pelo time de coração, o Coritiba, e foi recebido de braços abertos.

ChAmAdO dE CAI-CAI pElA tORCIdA, CRítICAs AO CRAquE REspINgARAm Até Em plACAR

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final, Neymar é cai-cai ou não? A “polêmica” começou na Inglaterra, ainda na Olimpíada. No jogo contra Honduras, em Newcastle, depois da expulsão de Crisanto, aos 33min do primeiro tempo, a torcida puxou o coro de vaias. Para os britânicos, Neymar havia simulado a falta. A derrota na final, para o México, fez com que parte dos torcedores o chamasse de “pipoqueiro” — aquele que falha em decisões. Voltou a ouvir o coro no Morumbi, no amistoso Brasil x África do Sul. O “cai-cai” virou com-

A CATALUNHA MANDA

Futebol? O assunto no maior clássico do mundo foi política. Uma imensa manifestação pela inde­ pendência da Catalunha tomou conta do Camp Nou no jogo Barcelona x Real Madrid, pelo Campeonato Espanhol. O estádio ficou todo em amarelo e verme­ lho, as cores da região. O jogo terminou empatado em 2 x 2, gols de Messi e Cristiano Ronaldo.

SAMPAIO CORREA 3D

Com uma campanha perfeita (11 vitórias e cinco empates em 16 jogos), o Sampaio Correa venceu o Crac­Go na final da série D e se tornou

bustível para os adversários. Tite exagerou: “É um mau exemplo para o garoto que está crescendo, para o meu filho”. Neymar de fato exagera? PLACAR foi a campo e provou que não. Deu na capa que o atleta estava sendo “crucificado” — e a ilustrou com a imagem de alguém pregado na cruz. Provocou a ira da Igreja, sobretudo a CNBB, que chamou até coletiva de imprensa para criticá-la. E ainda deu um pitaco na reportagem: “Dizer que o jogador está sendo crucificado é inibir a liberdade de expressão da torcida”.

o primeiro clube a conquis­ tar três divisões diferentes de Brasileiros: já havia sido campeão da série B em 1972, da série C em 1997 e agora da quarta divisão. No ano que vem, o Bolívia disputa a série C do Brasileirão.

APAGÃO NA ARGENTINA

O jogo estava marcado para Resistência, no interior ar­ gentino. Mas, por falta de energia elétrica, a disputa do segundo jogo do tal Su­ perclássico das Américas entre Argentina e Brasil não aconteceu. O mico só foi consertado um mês depois, quando a seleção foi derro­ tada pelos hermanos por 2 x 1, mas venceu nos pênaltis, na última partida de Mano Menezes no banco.

A ESTREIA DE ZIZAO

O chinês, contratação mar­ queteira do Corinthians para atrair torcedores no país mais populoso do mundo, teve seus 15 minutos de fama diante do Cruzeiro, no Brasileirão. Pedalou, correu, foi aplaudido e voltou para a sua rotina normal: muito treino e nenhum jogo.

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DR

DO

Neymarpolêmica

Pesan­ do 110 quilos, o atacante é visto sabo­ reando, às 5h30 da manhã, um x­calabresa de 937,8 calorias. No quiosque, o lanche é conhecido como “podrão”.

MÊS

outubro

A fama de cai-cai de

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O POLêMiCO gOL dE Barcos

O inter vencia o Palmeiras por 2 x 1. Barcos, com a mão, empata. O juiz valida. Com o auxílio da TV, o delegado da partida teria recomendado a anulação. O caso foi parar no STJd. O Palmeiras dizia que a ajuda televisiva era ilegal. Os juízes não. E os pontos continuaram no Beira-Rio.

capa do mês

BOLA DENTRO Neymar virou a polêmica da capa de PLACAR. Mas neste ano ele jogou como nunca. E os críticos se calaram.

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Já era, Mano

NOvEMbRO

SAI MANO, ENTRA FELIPÃO

CBF mANdA tREINAdOR EmBORA E põE FElIpãO

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Brasil havia acabado de conquistar o Superclássico das Américas diante da Argentina, na Bombonera. Mas o presidente da CBF, José Maria Marin, nem viu o jogo acabar. Saiu com a partida em andamento e seguiu para o Rio. Atitude estranha. Em São Paulo, Marin e o vicepresidente da entidade, Marco Polo Del Nero, anunciaram a demissão do treinador. Ou melhor, passaram a batata assando para Andrés Sanchez, diretor de seleções, anunciar. Voto vencido, o ex-presidente corintiano percebeu que não tinha mais espaço na CBF e começou a disparar. Soltou em um programa de televisão que estava tudo acertado com Felipão. E estava. Por pressão da Fifa e da organização do sorteio da Copa das Confederações, a CBF teve que antecipar o anúncio do técnico, agendado para janeiro. E Luiz Felipe Scolari, sem emprego desde a demissão no Palmeiras, aceitou na hora.

Flu campeão

Foi um passeio. O Fluminense terminou o primeiro turno já com aproveitamento de campeão, mas havia um clube ainda melhor, o Atlético-MG. À medida que o Galo perdia o gás, o Flu manteve o seu. E embarcou para Presidente Prudente precisando vencer o Palmeiras e torcer pelo empate dos mineiros. O tricolor abriu 2 x 0, mas viu o Verdão empatar. Quando o título parecia ficar para a rodada seguinte, Fred fez o da vitória. E do título.

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MÊS

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Cai no funk na quinta-feira, falta ao treino na sexta e diz, na segunda, que só volta a jogar em 2013. Na terça, é demitido do Flamengo.

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QUEDA VERDE

Quando parecia que nada poderia piorar, sempre piorava. E foi essa a rotina do Palmeiras no segundo semestre. Campeão da Copa do Brasil e classificado para a Libertadores 2013, o clube tinha apenas uma missão no Brasileirão: não cair. Terminou o primeiro turno na zona de rebaixamento, mas, com o time completo, resistir na série A parecia fácil. Aí o sinal de desespero apitou. Os gols não saíam, as vitórias não apareciam, e Felipão caiu. Gilson Kleina teve aproveitamento melhor, mas não tirou os verdes das últimas colocações. O rebaixamento veio a duas rodadas do fim.

Eu não estava acreditando. Fiquei meio cismado, sem saber se era verdade ou não.”

Durval, incrédulo de sua convocação para a seleção, assim como muita gente. capa do mês

BOLA DENTRO O pequenogrande craque do Galo foi a revelação do Brasileiro. O título não veio, mas o talento do menino sobrou.

82 GOLs DE MEssi

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E O tRIcOlOR fOI fAzER hIstóRIA NA NOvA ARENA o olímpico ficou no passado. A nova Arena é o presente

Não foi um bom ano para Patrícia Amorim. O Flamengo fracassou nos três torneios de que participou, ela não se reelegeu vereadora e enfrentou encrencas com Vanderlei Luxemburgo e Ronaldinho Gaúcho. E, para encerrar o ano maldito, ainda perdeu o cargo de presidente do Flamengo ao ser derrotada pelo candidato da oposição, Eduardo Bandeira de Mello. Patrícia recebeu 914 votos, 500 a menos que seu adversário. Como compensação, a derrotada abraçou Zico e refez a amizade desfeita pelo cargo que ocupou.

TiGRE QUE fOGE

tádio ser resgatada para a moderna arena que seria inaugurada uma semana depois: as redes dos dois gols. Seis dias depois, o novo templo gremista era inaugurado em amistoso contra o Hamburgo, o mesmo clube que o tricolor batera em 1983 para conquistar seu título mundial. Um estádio de primeiro mundo, com festa de primeiro mundo (vitória gremista por 2 x 1), mas com um gramado de quinta categoria. Tudo bem, dá para consertar. Nada, nada mesmo, vai tirar o sorriso gremista.

TRoCAndo as bolas Ih, Atala...

o sorteio da Copa das Confederações está entre os mais simples do mundo. Mas o chef Alex Atala faltou no ensaio e fez com que o sorteio ficasse “um pouco caótico”, segundo o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke. Atala precisava apenas escolher uma bolinha da cesta B para saber em que posição do grupo ficaria o Uruguai. Mas ele escolheu uma do A, com o número 3. o erro fez com que o Taiti ficasse em suspenso até o fim do sorteio.

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Termina 2012 com apenas três jogos oficiais. Numa laje carioca, nem tira a calça jeans para tomar um banho de piscina de plástico.

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resultado do Grenal, na última rodada do Campeonato Brasileiro, não foi o esperado (um 0 x 0 suficiente para tirar o vice-campeonato brasileiro do Grêmio, com cinco expulsos, incluindo os dois técnicos, o gremista Vanderlei Luxemburgo e o colorado Osmar Loss), mas a emoção da despedida esteve à altura dos 58 anos do estádio Olímpico Monumental, em Porto Alegre. Tricolores derramaram lágrimas ao mesmo tempo que viam a única peça do velho es-

O São Paulo já havia sofrido o diabo no jogo de ida da final da Sul-Americana. O Tigre-ARG mandou o jogo na Bombonera, em Buenos Aires, e não poupou botinadas. Na partida de volta, mais paulada argentina. Lucas, a maior vítima, até provocou um dos rivais mostrando um curativo cheio de sangue. Na volta do intervalo... Bem, não houve volta. Os argentinos acusaram os seguranças de agressão e se negaram a retornar. A Conmebol esperou o tempo regulamentar até declarar o São Paulo campeão. A história sobre o que de fato ocorreu no vestiário do Morumbi, no entanto, é mistério.

MÊS

Um GRENAl cONtURbAdO ENcERROU A ERA OlímpIcO.

dezembro

adeus monumental

O fim DA ERA PATRíciA AmORim

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capa do mês

BOLA DENTRO Tite abriu seu coração para PLACAR e revelou a preparação para o Mundial. Conhecia os rivais e provou isso no Japão.

90 GOLs DE mEssi

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cr aq ues

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f ut e b o l

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m u n d o

planeta bola e dição pau lo j e bai li / d esign gustavo baca n

A profecia de Hernanes Hernanes mudOu dE cIdAdE, dE tREINAdOR E dE pOsIçãO. E cREscEu. ÍdOlO NA lAzIO, ElE AgORA sONhA Em vOltAR à sElEçãO p or Fer n an da M as sar ot to , de M i l ão

a véspera dos grandes jogos, a Lazio Style Radio promove um debate com jornalistas italianos e estrangeiros. É permitido falar tudo: de criticar jogadores a sugerir a escalação para o técnico croata Vladimir Petković. Só não vale prever o resultado. Principalmente se o palpite for a favor da Lazio. Dá azar, segundo a crença. Conviver com a superstição foi a primeira lição do volante brasileiro Hernanes ao desembarcar em agosto de 2010 no clube romano.

N

“Não pensava que, por aqui, até mesmo os mais intelectuais fossem tão ligados a isso”, diz. Avesso às badalações e leitor assíduo da Bíblia, Hernanes conquistou os torcedores. Se fora dos campos ele já é modelo de comportamento, dentro vem mostrando que os 13,5 milhões de euros investidos para trazê-lo do São Paulo valeram a pena. Só na atual temporada, foram 16 jogos e seis gols (até a vitória por 1 x 0 sobre a Internazionale, na 17ª rodada). O bom rendimento se deve em parte a uma ótima capacidade de adaptação. Mudou de posição e foi dirigido por dois técnicos. “Antes de começar essa temporada, falei com o Petković sobre minha vontade de jogar como volante, onde real-

mente encontrei meu melhor jogo.” Comparado a Kaká e ao italiano Pirlo, o Profeta (apelido originado no Brasil e que pegou na Itália) se tornou fundamental para o time, que hoje luta pelas primeiras posições no Italiano e segue bem na Liga Europa. “A genialidade de Hernanes pode ser notada na sua visão de jogo. Antes de receber a bola, ele já sabe qual jogada deve ser feita e para quem passá-la”, diz Stefano Ceri, jornalista da Gazzetta dello Sport, que há anos cobre o time celeste. Habilidoso e finalizador ambidestro, Hernanes considera que a boa fase na Lazio pode ser o passaporte para voltar à seleção brasileira, agora sob comando de Luiz Felipe Scolari. Com Mano Menezes, que

deixou o cargo em novembro de 2012, Hernanes ficou marcado pela expulsão no amistoso com a França, em fevereiro de 2011. O jogador até chegou a ser chamado novamente. No amistoso com o Gabão, em novembro daquele ano, por exemplo, foi ele que fechou o placar de 2 x 0. Mas a impressão é de que estava longe de fazer parte das primeiras opções de Mano. O jogador não considera que a entrada dura em Karim Benzema foi o motivo de ter frequentado pouco as listas. “Acredito não ter sido mais convocado por não jogar mais na posição de meia quando vim para a Lazio”, diz. “Creio que o Mano Menezes pensara que eu não servia mais para o seu tipo de jogo.” Faltando menos de dois anos para a Copa do Mundo, a expectativa de ver Hernanes na seleção aumenta. “Ele merece fazer parte do time. Está jogando bem, com continuidade, e, o mais importante, fazendo gols”, afirma o jornalista da Gazzetta dello Sport. Na nova posição, o jogador não vê concorrência com Kaká e Oscar. A principal missão para Hernanes será convencer Felipão de que pode fazer parte das opções para o setor. “Jogando como volante, acho que formaríamos um bom meio de campo”, diz. Por enquanto, o Profeta se concentra nos jogos da Lazio, estuda inglês, passeia por Roma e aproveita a dolce vita. “Estou feliz e me adaptei à cidade”, responde em italiano para mostrar o domínio do idioma.

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Hernanes: adaptação e amadurecimento em roma

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planeta bola

Ritmo atravessado

COm sEdE E dAtAs AltERAdAs, COpA AfRICANA tERá dE supERAR bAIxA mObIlIzAçãO dE públICO ohanesburgo, Port Elizabeth, Nelspruit, Rustemburgo e Durban, as sedes que receberão jogos da Copa Africana de Nações (CAN), de 19 de janeiro a 10 de fevereiro, não deverão emanar nada parecido com o entusiasmo visto no Mundial de 2010. O Soccer City, em Johanesburgo, maior estádio do país, com capacidade para quase 95 000 pessoas, só receberá a partida de abertura (África do Sul x Cabo Verde) e a final. O Green Point, na Cidade do Cabo, estádio mais caro da Copa (cerca de 415 milhões de dólares), nem sequer sediará uma partida. “As pessoas estão desiludidas e mais preocupadas com os problemas econômicos”, afirma o ativista político Dale McKinley, coautor do livro South Africa’s World Cup – A Legacy for Whom? (“Copa da África do Sul – Um legado para quem?”). O preço dos ingressos também é outro entrave. O valor mais baixo é 5,95 dólares e o mais caro, 23,81 dólares. “Pode parecer barato, mas um sul-africano padrão não tem condições de comprar”, diz McKinley. Abaixo, conheça os grupos e as seleções participantes.

J

Grupo a África do Sul

POR PedRO PROença

africanas

sede

A Copa Africana estava programada para acontecer na Líbia. Mas, com os conflitos no país, que levaram à queda do di­ tador Muammar Khadafi, a dis­ puta foi transferida para a África do Sul, que aproveitará a estru­ tura do Mundial de 2010.

data A partir de 1968, a

competição passou a ser realiza­ da a cada dois anos, sempre nos anos pares. De 2013 em diante, a disputa passa a ocorrer nos ímpares, para não coincidir com os anos de Copa do Mundo.

calendário O vence­

dor da CAN terá de se programar para mais uma competição em 2013: a Copa das Confedera­ ções, aqui no Brasil. O campeão do continente africano é o único representante que falta ser definido. Vai jogar no grupo de Espanha, Uruguai e Taiti.

Grupo B cabo Verde

gana

Mali

Posição CAN-12: Não participou

Posição CAN-12: Não participou

Posição CAN-12: 4º

Posição CAN-12: 3º lugar

RANkiNg dA FiFA: 87º

RANkiNg dA FiFA: 69º

RANkiNg dA FiFA: 30°

RANkiNg dA FiFA: 25º

destAque: BoNgaNi Khumalo

destAque: ryaN meNdes

destAque: Kwadwo asamoah

destAque: seydou Keita

CAPitAl: pretória

CAPitAl: praia

CAPitAl: acra

CAPitAl: BamaKo

Apesar de serem os anfitriões, os sul­africanos têm jogado mui­ to mais para não perder do que para ganhar. As opções para o ataque são escassas. As espe­ ranças de um bom desempenho estão depositadas no setor de­ fensivo, com o goleiro Itumeleng Khune e o zagueiro Khumalo.

O time estreia na competição com moral elevado, após eliminar a tra­ dicional equipe de Camarões. O técnico Lúcio Antunes chegou a fazer um estágio com José Mou­ rinho no Real Madrid em dezem­ bro, mas os Tubarões Azuis (co­ mo é conhecido o time) terão de superar a falta de experiência.

Depois de ir às quartas no Mun­ dial de 2010 e às semifinais na CAN­12, Gana chega como postu­ lante ao título. O técnico Apiah mesclou jogadores que atuam no país e outros mais experien­ tes. Muntari, do Milan, mesmo re­ cuperado de uma cirurgia no joe­ lho, foi preterido pelo treinador.

Com muitos jogadores atuando em times do primeiro escalão na Europa, Mali surge entre as equi­ pes favoritas. O treinador Patri­ ce Carteron vai mesclar jogado­ res experientes, como Keyta e o zagueiro Adama Coulibaly (32 anos), e jovens, como o volante Sidy Koné (20 anos, do Lyon).

angola

MarrocoS

congo

níger

Posição CAN-12: Fase de grupos

Posição CAN-12: Fase de grupos

Posição CAN-12: Não participou

Posição CAN-12: Fase de grupos

RANkiNg dA FiFA: 84°

RANkiNg dA FiFA: 74º

RANkiNg dA FiFA: 109º

RANkiNg dA FiFA: 105°

destAque: maNucho goNçalves

destAque: youNes BelhaNda

destAque: dieumerci mBoKaNi

destAque: ouwo moussa maazou

CAPitAl: luaNda

CAPitAl: raBat

CAPitAl: KiNshasa

CAPitAl: Niamey

Os angolanos vão disputar, em tese, a segunda vaga do grupo com Cabo Verde. O treinador uru­ guaio Gustavo Ferrin afirma que a equipe evoluiu em 2012. O es­ quema se baseia nas bolas cru­ zadas na área para o atacante Manucho, que atravessa a melhor fase da carreira, aos 29 anos.

Apesar da fraca campanha na edi­ ção anterior do torneio e do mau desempenho contra rivais do continente em 2012, o time con­ ta com o melhor jogador do gru­ po: Younes Belhanda. Com visão de jogo, o camisa 10, de 22 anos, é capaz de decidir a partida nu­ ma falta ou numa assistência.

O time só deve passar à fase seguinte se aprontar uma zebra. Mas há especialistas nisso, como o goleiro Kidiaba e o atacante Trésor Mputu, que jogam no Ma­ zembe. O treinador é o francês Claude Le Roy, que já disputou o torneio em sete ocasiões — e venceu em 1988, com Camarões.

Com vários jogadores em ação na liga local e em outros países do continente (só cinco jogam na Europa), a tendência é de uma cam­ panha discreta. A ausência de es­ trelas, porém, é vista como van­ tagem pelo técnico Gernot Rohr, que diz contar com uma equipe motivada e sem guerra de egos.

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Torcedores de Níger: discretos, só em campo

GRUPO C Burkina Faso

GRUPO D nigéria

argélia

togo

Posição CAN-12: Fase de grupos

Posição CAN-12: Não partiCipou

Posição CAN-12: Não partiCipou

Posição CAN-12: Não partiCipou

RANkiNg dA FiFA: 89º

RANkiNg dA FiFA: 52º

RANkiNg dA FiFA: 19º

RANkiNg dA FiFA: 71º

destAque: Charles Kaboré

destAque: obi miKel

destAque: soFiaNe Feghouli

destAque: emmaNuel adebaYor

CAPitAl: uagadugu

CAPitAl: abuja

CAPitAl: argel

CAPitAl: argel

Esta é a terceira participação consecutiva do país no torneio. A melhor colocação na história foi o quarto lugar em 1998. Passar à fase seguinte seria um feito para a equipe. Tudo vai depender da criatividade dos meias Charles Kaboré, do Olympique, e de Jonathan Pitroipa, do Rennes.

A Nigéria detém dois títulos: 1980 e 1994. No histórico recente, o melhor desempenho foi o vice-campeonato em 2000. Nas eliminatórias para a CAN, o time marcou dez gols em três jogos. O ataque tem as opções de Victor Moses, do Chelsea, e Ikechukwu Uche, do Villarreal.

Quarta colocada em 2010, a Argélia está de volta à competição, que já venceu em 1990. Este ano, as perspectivas de seguir adiante estão atreladas ao desempenho do meia Sofiane Feghouli, do Valencia, e do atacante El-Arbi Hilal Soudani, que joga no Vitória de Guimarães.

A equipe não figurava no torneio desde 2006, mesmo ano em que esteve em sua única Copa do Mundo. Nas seis participações na Copa Africana, o time jamais foi além da fase de grupos. O grande nome do futebol togolês é o atacante Emmanuel Adebayor, 28 anos, do Tottenham.

Etiópia

ZâmBia

Costa do marFim

tunísia

Posição CAN-12: Não partiCipou

Posição CAN-12: 1º

Posição CAN-12: 2º

Posição CAN-12: Quartas de FiNal

RANkiNg dA FiFA: 110º

RANkiNg dA FiFA: 34º

RANkiNg dA FiFA: 14º

RANkiNg dA FiFA: 45º

destAque: shimele beKele

destAque: Christopher KatoNgo

destAque: didier drogba

destAque: jamel saihi

CAPitAl: adis abeba

CAPitAl: lusaKa

CAPitAl: YamoussouKro

CAPitAl: túNis

A seleção etíope volta à disputa após 31 anos de ausência. Mas a jornada não deve se prolongar muito. As maiores esperanças de gol estão depositadas em jovens, como o meia Shimele Bekele e o atacante Oumedi Oukri, ambos de 22 anos, que atuam no próprio país.

Após o título de 2012, quando bateu a Costa do Marfim nos pênaltis por 8 x 7, Zâmbia se classificou para o torneio deste ano também nas cobranças: 9 x 8 em Uganda. Os atacantes Katongo, que atua no futebol chinês, e Emmanuel Mayuka, do Southampton, devem dar trabalho às defesas.

Atual vice-campeã, a Costa do Marfim perdeu o título nos pênaltis e não pôde repetir a conquista de 1992, a única do país. Candidato ao título, o time dirigido pelo ex-jogador francês Sabri Lamouchi tem como referência o atacante Didier Drogba, que fez história no Chelsea.

Esta é a 11ª participação seguida da Tunísia, com um título em 2004, quando sediou a competição. Com jogo baseado no toque de bola, o time conta com os gols de Jamel Saihi, do Montpellier, e com a segurança do goleiro Aymen Mathouthi, do Étoile du Sahel, do próprio país. JANEIRO 2013 / placar / 81

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planeta bola

Débito ou crédito?

Felipe Melo, Pepe, De Jong, Materazzi... Essa turma poderia concorrer ao troféu fairplay perto do colombiano Gerardo Bedoya. O volante de 36 anos, do Independiente Santa Fé, coleciona 41 cartões vermelhos na carreira. A última expulsão foi em setembro, contra o Millonarios, quando pisou no rosto de um adversário. Pegou 15 rodadas de gancho. Com promessas de fazer campanhas sobre boa conduta em campo, a pena caiu para 11 jogos. Ainda assim, não atuou mais em 2012. “Aqui na Colômbia se joga muito duro”, disse ao fim do jogo. No último campeonato colombiano, em que o Santa Fé foi campeão do Clausura, Bedoya jogou 27 vezes, levou 12 amarelos e dois vermelhos. Na seleção da Colômbia, Bedoya tem retrospecto semelhante. Nas Eliminatórias, por exemplo, foram 26 jogos e 11 amarelos. Mas o volante se diz disposto a mudar: “Daqui para a frente, pensarei muito na minha filha para tentar ter mais paciência”. Bruno Formiga

Bedoya: 41 cartões vermelhos

Turma do funil

LIgA dOs CAmpEõEs COmEçA suA fAsE dE mAtA-mAtA. VEJA O bALANçO E Os CONfRONtOs

Yilmaz,

Vidal,

Galatasaray

Juventus Thiago Silva, PSG Huntelaar, Schalke

GRUPO A

GRUPO B

GRUPO C

GRUPO D

ClassifiCados

ClassifiCados

ClassifiCados

ClassifiCados

PSG e Porto

Schalke 04 e arSenal

MálaGa e Milan

B. dortMund e r. Madrid

O Paris Saint-Germain foi o time que mais pontuou (15) e teve a defesa menos vazada (3 gols) da competição. O Porto liderou até a derrota por 2 x 1 para o PSG. Os Dínamos (de Kiev e de Zagreb), tidos como coadjuvantes, confirmaram essa condição.

O time alemão não conheceu derrota: 3 vitórias e 3 empates. Com apenas um ponto de vantagem sobre o Olympiacos, o Arsenal ficou com a segunda vaga. O fiasco foi o campeão francês Montpellier, que somou 2 pontos nos seis jogos.

No grupo do tradicional Milan, quem mandou bem foi o invicto Málaga (3 vitórias e 3 empates). Econômico, o time italiano ficou em segundo, 1 ponto à frente do Zenit. Ao belga Anderlecht resta a lembrança das semifinais de 1982 e 1986.

O Borussia Dortmund somou 14 pontos, 3 a mais que o Real Madrid. O suposto equilíbrio da chave esteve mais no papel que no campo. O Ajax, com a defesa mais vazada do torneio (16 gols), fez 4 pontos, 1 a mais que o decepcionante Manchester City.

GRUPO E

GRUPO F

GRUPO G

GRUPO H

ClassifiCados

ClassifiCados

ClassifiCados

ClassifiCados

JuventuS e Shakhtar

Bayern e valencia

Barcelona e celtic

Man united e GalataSaray

O Chelsea foi o primeiro detentor de título a cair na fase de grupos na temporada seguinte. Mesmo com o ataque mais positivo (16 gols), perdeu a vaga para o Shakhtar. A Juventus ficou em primeiro. O Nordsjaelland fez 1 ponto e levou 22 gols.

Bayern Munique e Valencia empataram em 13 pontos. O Bate Borisov totalizou apenas 6 pontos, o dobro do Lille. Um recorde da competição foi o do jogador com maior número de faltas: Vitali Rodionov, com 20. A propósito, joga no Bate.

O Barça se classificou, mas sem triturar adversários. O Celtic, que não participava de uma fase de grupo desde 2008/09, pegou a segunda vaga. O Benfica ganhou tanto quanto perdeu e marcou a mesma quantidade de gols que sofreu. Spartak nem esquentou.

Com 4 vitórias nos primeiros jogos, o United criou gordura para garantir a classificação. Depois, perdeu para Galatasaray e Cluj. Ambos fizeram 10 pontos, mas o time turco ficou com vaga. O Braga, com 1 vitória, ficou para trás.

CoNfRoNTos GalataSaray celtic arSenal Shakhtar

x x x x

Schalke JuventuS Bayern B. dortMund

Milan real Madrid valência Porto

x x x x

Barcelona MancheSter utd PSG MálaGa

* EM 12, 13 E 19, 20 DE fEVEREiRO

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osasuna 4 x 0 Espanyol 1 x 1 osasuna 2 x 1 Bétis 4 x 2 REal MadRid 2 x 1 Málaga 4 x 1 REal MadRid 2 x 2 VillaRREal 0 x 0 ValEncia 1 x 1 REal sociEdad 2 x 1 ValEncia 2 x 0 osasuna 3 x 2 BayER lEVERkusEn-alE 3 x 1 ValEncia 5 x 1 atlético dE MadRi 2 x 1 suíça 3 x 1 BayER lEVERkusEn-alE 7 x 1 Racing santandER 2 x 0 sEVilla 2 x 0 gRanada 5 x 3 MalloRca 2 x 0 Milan-ita 0 x 0 athlEtic BilBao 2 x 0 Milan-ita 3 x 1 ZaRagoZa 3 x 1 gEtafE 4 x 0 lEVantE 2 x 1 chElsEa-ing 0 x 1 REal MadRid 1 x 2 chElsEa-ing 2 x 2 Rayo VallEcano 7 x 0 Málaga 4 x 1 Espanyol 4 x 0 Bétis 2 x 2 athlEtic BilBao 3 x 0 EquadoR 4 x 0 BRasil 4 x 3 alEManha 3 x 1 REal sociEdad 5 x 1 REal MadRid 3 x 2 osasuna 2 x 1 REal MadRid 1 x 2 ValEncia 1 x 0 paRaguai 3 x 1 pERu 1 x 1 gEtafE 4 x 1 spaRtak Moscou-Rus 3 x 2 gRanada 2 x 0 sEVilla 3 x 2 BEnfica 2 x 0 REal MadRid 2 x 2 uRuguai 3 x 0 chilE 2 x 1 la coRuña 5 x 4 cEltic-Esc 2 x 1 Rayo VallEcano 5 x 0 cElta 3 x 1 cEltic-Esc 1 x 2 MalloRca 4 x 2 aRáBia saudita 0 x 0 ZaRagoZa 3 x 1 lEVantE 4 x 0 spaRtak Moscou-Rus 3 x 0 athlEtic BilBao 5 x 1 BEnfica-poR 0 x 0 Bétis 2 x 1 cóRdoBa 2 x 0 atlético dE MadRi 4 x 1

Ladrão de trono

REcORdIstA dE gOls Em umA só tEmpORAdA, mEssI sE ApROxImA cAdA vEz mAIs dE pElé

P O R R OdOlfO ROdRigues

m maio, PLACAR fez o alerta de que Messi poderia bater Pelé em número de gols oficiais (743). A previsão era de que o argentino fizesse 74 gols em 2012. O craque do Barça, porém, foi além. Marcou 90 gols e quebrou o recorde de Gerd Müller (85), que já durava 30 anos, e do próprio Pelé (75). Aos 25 anos, Messi soma 317 gols. Para igualar Pelé, precisa ainda de mais 426 gols. Se jogar até os 37 anos, como o brasileiro, Messi teria que marcar em média 35,5 gols por ano nas próximas 12 temporadas.

gERd MüllER 85 gols na temporada de 1972 com o Bayern Munique e seleção alemã

E

pElé 75 gols na temporada de 1958 com o Santos e seleção brasileira

90 GOLS

Campeonato Espanhol Copa da Espanha Liga dos Campeões Supercopa Espanhola Seleção argentina

5gols

copa da Espanha

11gols

liga dos campeões

8gols

Pé direito

3gols

cabeça

2gols

supercopa Espanhola

12gols seleção argentina

7 foram de falta

14 foram de pênalti

79gols

Pé esquerdo

60gols campeonato Espanhol

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planeta bola

Jogada de cinema

FIlmINhO Ou FutEbOl NAs FéRIAs? JuNtAmOs Os dOIs, NumA sElEçãO dE bOlEIROs quE sE ARRIscARAm NA tElONA

1 Eric cantona

Emoção à flor da pele sempre teve a ver com o craque francês. Cantona fez algumas aparições no cinema e na TV até ganhar mais destaque em Elizabeth (1998). Em 2009, foi co-protagonista de À Procura de Eric, em que é uma espécie de guru que surge para orientar um fanático pelo Manchester United.

2 ZidanE

O genial meia aqui faz a função de ponta. Aparece em Asterix nos Jogos Olímpicos (2008). Outros jogadores com pequena participação foram o argentino Di Stéfano (La Batalla del Domingo, 1963), o alemão Paul Breitner (no western Potato-Fritz, 1976) e mais recentemente os escoceses Andy McLaren (Dundee) e Charlie Miller (Rangers), em Angels’ Share, premiado no Festival de Cannes.

3 VinniE JonEs

O intempestivo ex-volante do Chelsea foi tão bem-sucedido nas telas que se tornou ator após deixar os gramados. Em sua filmografia constam: Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998), Snatch, Porcos e Diamantes (2000) e X-Men: Confronto Final (2006).

4 PElé

As cenas do Rei do Futebol são suficientes para tornar Fuga para a Vitória (1981) um cult. Falas como “In the streets, with oranges” são eternas. Além do camisa 10, a aventura conta com o inglês Bobby Moore e o argentino Osvaldo Ardilles. No elenco ainda estão Michael Caine e Sylvester Stallone. A filmografia de Pelé inclui também Os Trombadinhas (1979), Pedro Mico (1985) e Os Trapalhões e o Rei do Futebol (1986).

5 no Brasil

O cinema nacional também registra a participação de craques na película. Uma das primeiras foi a do lateral Marinho Chagas na comédia O Homem de 6 Milhões de Cruzeiros contra as Panteras (1978), com Costinha no papel principal. No filme infantil Uma Aventura com Zico (1998), o Galinho faz um papel duplo e não convence em nenhum. Numa interpretação mais naturalista, Sócrates aparece em Boleiros 2, de Ugo Giorgetti, de 2006. Outros corintianos que marcaram presença na sétima arte foram Casagrande, Ataliba e Wladimir, em Onda Nova (1984). Todos no auge da forma, tal como Carla Camuratti.

numeralha

6

clubes irão disputar a Copa libertadores pela primeira vez em 2013: tigre, da argentina (vice da Copa Sul-americana), deportes iquique, do Chile; os mexicanos león e Xolos de tijuana; e os peruanos Real garcilaso e universidad César vallejo. a 54ª edição da competição sul-americana contará ainda com nove ex-campeões, número baixo comparado às últimas edições. São eles: vélez Sarsfield-aRg, Boca Juniors-aRg, Corinthians, Palmeiras, grêmio, São Paulo, olimpia-PaR, Nacional-uRu e Peñarol-uRu.

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batebola

Flamengo S/A Novo prEsIdENtE rubro-NEgro, Eduardo BandEira dE MEllo promEtE choquE dE gEstão E pENtE-fINo NAs coNtAs dE sEus ANtEcEssorEs P OR FLÁV I A R I BEI R O

P| O senhor foi executivo do

BNDES por 25 anos. Por que ser presidente do Flamengo? R| Ninguém estava satisfeito com a situação do Flamengo. Nosso grupo é formado por rubro-negros de arquibancada, rubro-negros apaixonados. E todos eles muito bem-sucedidos em suas atividades profissionais. Aí a gente resolveu participar do processo (eleitoral), usando um pouco da reputação, da credibilidade, da experiência dessas pessoas para ver de que maneira a gente poderia ajudar o clube. O senhor prometeu um choque de gestão no Flamengo. Na prática, o que isso significa? O Flamengo vai ser administrado por profissionais contratados. Nós, dirigentes, vamos manter nossas atividades. Se bem que eu estou programado para, pelo menos em um primeiro momento, ficar 100% com o Flamengo, estou me aposentando do BNDES. Mas os vice-presidentes têm os seus trabalhos, então vamos funcionar como o conselho de administração de uma grande empresa: nos reuniremos para traçar objetivos, estratégias, discutir problemas, mas o dia a dia do clube vai ser tocado por profissionais contratados. Como em qualquer empresa.

Como será o comitê gestor? É exatamente isso que se assemelha a um conselho de administração de uma sociedade anônima. Vai ser composto por mim e os vice-presidentes e vai funcionar em nível estratégico, delegar o trabalho para os executivos profissionais, estabelecer metas e cobrar desempenho. Não pode ficar confuso? É um modelo que funciona em sociedades anônimas. Todos viemos de grandes empresas. Se funciona nelas, não tem como não funcionar aqui. Qual é a primeira missão da nova administração? Acho que a questão das finanças de curto prazo é a que nos aflige mais. O senhor vai fazer uma auditoria nas contas da última gestão, da Patrícia Amorim? Com certeza. Não da administração Patrícia, mas das contas do Flamengo de uma maneira geral. Nós estamos fechando com uma grande empresa para, no prazo de uns 90 dias, nos dar um retrato do que são as finanças do clube. Qual é a dívida do Flamengo? Fala-se em 600 milhões de reais, mas pode ser mais. O que vai mudar no departamento de futebol? Ele vai ser profissionalizado. Já trou-

xe o Paulo Pelaipe, diretor executivo, que vai se reportar ao Wallim Vasconcelos, vice de futebol, e ao comitê gestor. Abaixo dele, estamos conversando para ver como vai ficar o cargo de gerente, que hoje é ocupado pelo Zinho. Tem o treinador, também, Dorival Júnior: a permanência dele vai depender de como ele vai se acertar com o Paulo Pelaipe. E em relação aos jogadores? O Flamengo tem fama de ser um time em que os jogadores fazem o que querem. Isso vai mudar? Realmente, o Flamengo tem a fama de deixar as coisas serem levadas de maneira frouxa — não posso dizer que é realidade porque agora é que estou tomando pé da situação. Mas a ideia é que a gente trabalhe em cima de disciplina e responsabilidade. O Adriano vai ter espaço? O Adriano é meu ídolo, é ídolo dos meus filhos. Fico muito triste quando começam a associar a imagem dele à vagabundagem. Ele não é nada disso. Mas no momento não tem como você pensar no Adriano como solução para o time de futebol. Temos que cuidar do ser humano primeiro. Depois que ele superar, quem sabe a gente não pensa nele como solução de novo para o futebol do Flamengo. Qual a meta para os próximos três anos, no futebol? Meta para o Flamengo tem que ser, sempre, ganhar tudo. É obrigação. O que é mais difícil: dirigir o Flamengo ou dirigir um banco? O Flamengo. Porque, além da complexidade do negócio, você tem a paixão.

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No momento, não tem como você pensar no Adriano como solução para o time de futebol. Temos que cuidar do ser humano.

© foto ALEXANDRE LoUREIRo

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batebola

“Não tem cara como eu” EURICO MIRANDA CoNTINUA o MESMo. o VELHo CArToLA ATACA A ATUAL DIrEÇÃo VASCAÍNA E AMEAÇA VoLTAr Ao PoDEr: “ELES ESTÃo ME IrrITANDo” P OR FLÁV I A R I BEI R O

P| O senhor reconhece

exageros em sua atuação como presidente do Vasco? R| Acho que esse livro é a grande resposta [Eurico lançou sua biografia, Todos Contra Ele, assinada por Sérgio Frias]. Fiz muita coisa em defesa dos interesses do clube, e houve deturpação do que fiz. Os críticos podem até ter razão em algumas coisas. Mas não me arrependo. O que responde a quem o classifica como centralizador? Se dizem que sou centralizador, foi... Talvez pela necessidade de que as coisas fossem feitas da melhor maneira. Mas se eu fosse, realmente, não teria as mesmas pessoas lá me acompanhando por tantos anos. Estiveram lá por amor ao Vasco. Mas o senhor os ouvia quando havia discordância? Eu conversava com as pessoas. E elas acabavam convencidas. E o senhor era convencido? Eu? Dificilmente. O senhor disse que seus colaboradores trabalhavam de graça, o que vai na contramão da ideia da profissionalização do futebol. O que acha disso? Pffff... Quem paga esses caras todos? Claro que esse não é o modelo! Numa empresa, o dono da empresa

contrata dentro daquilo que ele tem. Você assume o clube com uma dívida, como vai pagar esses caras? Quem fala que isso é bom são caras que ficam no ar refrigerado, porque nunca estiveram do outro lado. O senhor manobrava as decisões da Federação do Rio? Nunca manobrei nada! Só fui dirigente. Conhecia os regulamentos e não deixava as coisas acontecerem. Comigo, o Vasco não teria caído para a segunda divisão. Depois do jogo com o Figueirense, faltando cinco ou seis rodadas, eu me ofereci: “Assumo o Vasco e ele não cai”. Diziam também que eu mexia com arbitragem. Isso é mito. Eu protestava contra arbitragens. E juízes que prejudicavam o Vasco não apitavam mais jogos do time. Mas não pressionava ninguém para favorecer o Vasco. O quanto do atual caos financeiro do Vasco pode ser atribuído à sua gestão? Zero! Deixei o Vasco rigorosamente sem dívidas. Deixei os débitos fiscais em dia, com as certidões. E tem dívida que vem muito lá de trás. O Romário é um exemplo. Ele vinha sendo pago e sua dívida de 20 milhões de reais já tinha descido para 13 milhões. Deixaram de pagar, hoje está batendo os 50 milhões de reais.

Acha que ainda existe espaço para alguém que centralize as decisões, como o senhor? Não tem cara como eu. Não tem nada parecido. Nada! Eu administrava o clube. Via até se tinha um capinzinho mais comprido no campo. O Vasco não é só ganhar. Aquilo tem que ter dono. No meu tempo, você não via uma guimba de cigarro no chão. Na sua avaliação, o Roberto fez alguma coisa boa em sua gestão, até agora? O que foi que ele fez? E era ele mesmo que fazia? O ponto alto é negativo: ele não tomava conhecimento das coisas. Mas houve uma mudança na segunda gestão dele. Ele começou a tomar pé da situação, e talvez isso é que tenha feito os caras que estavam em volta dele correrem. Mas a falta de conhecimento dele é um grande problema. Houve corrupção na sua administração? Você não disse que eu era centralizador? Comigo valia a Lei de Talião: olho por olho. O cara não tinha nem a ousadia de tentar. Há quem questione de onde veio o seu dinheiro. Dizem coisas, mas não provam nada. Não tenho telhado de vidro. O senhor disse que não voltaria mais à presidência do Vasco. Mantém essa afirmação? Do jeito que as coisas estão, eles estão me irritando. Estão me irritando muito. Posso rever essa minha posição. Falei isso por causa daquilo, da queda para a segunda divisão.

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Diziam que eu mexia com arbitragem. Isso é mito. Eu protestava. E juízes que prejudicavam o Vasco não apitavam mais jogos do time.

© foto alexandre battibugli

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mortosvivos

Sangue verde

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ANtEs dE trAduzIr EcoNomês pArA EmprEgAdAs, Joelmir Beting EmprEstou A voz E o corAção Ao JorNAlIsmo EsportIvo. E INspIrou A ExprEssão “gol dE plAcA”

por dagomir marquezi

oelmir José Beting tinha uma doença autoimune que destruía aos poucos os tecidos do seu organismo. Já estava internado desde 22 de outubro de 2012 no hospital Albert Einstein, em São Paulo. No primeiro domingo (25 de novembro) depois de ser rebaixado para a série B do Brasileiro, o Verdão jogou contra o Atlético-GO. E nesse dia Joelmir teve um AVE (acidente vascular encefálico). Entrou em coma irreversível. Morreu à 0h55 no dia 29.

J

Joelmir completaria 76 anos em 21 de dezembro. Nasceu em Tambaú, interior de São Paulo. Para quem já o conheceu com porte de aristocrata germânico (os Betting, com dois “tês”, eram alemães originários da Westphalia), é estranho saber que trabalhou como boia-fria. Pois ele colheu jabuticabas e limões ao lado do pai e do irmão até os 7 anos. Aos 15 anos virou “locutor-mirim” na emissora de rádio de Tambaú. Mas Joelmir sabia muito bem o que queria. Em 1957 foi para São Paulo (“com a roupa do corpo”) estudar sociologia na USP. Nesse mesmo ano virou repórter esportivo na rádio Jovem Pan. Mais que repórter de campo, Joelmir era palmeirense de sangue verde. Dois anos depois da 90 / placar / JANEIro 2013

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Joelmir Beting: sem economia na paixão pelo Palmeiras

estreia, sua carreira acabou numa transmissão de Palmeiras x Corinthians, quando o supostamente neutro repórter comemorou no ar um gol do Verdão. Ouvintes alvinegros não gostaram nada daquilo. Mesmo quando abandonou o jornalismo esportivo, Joelmir Beting

deixou sua marca no futebol brasileiro. Em 1961, ficou espantado com um gol que Pelé marcou contra o Fluminense no Maracanã. Tomou então a iniciativa de encomendar uma placa de bronze para marcar esse gol. E foi assim que Joelmir Beting inspirou a expressão “gol de placa”. Ele acabou se tornando um “tradutor de economês” para os não iniciados. “Não falo para a dona de casa, mas para a empregada dela.” Joelmir foi casado com a mesma Lucilla desde 1963. Tiveram dois filhos: o jornalista Mauro Beting e o publicitário Gianfranco, um fanático por aviação. Todos palmeirenses. No primeiro jogo do Palmeiras depois de sua morte, Joelmir foi homenageado por Neymar, que entregou uma placa de bronze ao filho Mauro. Todos os jogadores do Verdão entraram com seu nome às costas. Melhor deixar para Mauro Beting: “No dia do retorno à segundona dos infernos, meu pai começou a ir para o céu. As chances de recuperação de uma doença autoimune já não eram boas. Ficaram quase impossíveis com o que sangrou o cérebro privilegiado. (...) Raríssimos foram tão bons pais como ele. Rarésimos foram tão bons maridos. Rarissíssimos foram tão boas pessoas. E não existe outra palavra inventada para falar quão raro e caro palmeirense ele foi. Como ele um dia disse (...): ‘Explicar a emoção de ser palmeirense a um palmeirense é totalmente desnecessário. E a quem não é palmeirense é simplesmente impossível!’” © foto gazeta Press

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