Copa do Mundo Feminina: por mais visibilidade e equidade no futebol

Edição sediada na Nova Zelândia e Austrália promete ser mais tecnológica e histórica para a luta por igualdade de gênero

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4:15 pm - 19 de julho de 2023
Técnica Jitka Klimková e as co-capitãs Ali Riley e Ria Percival da seleção da NZ. Imagem: Reprodução NZFootball

A Nova Zelândia é um país apaixonado pelos esportes, de forma geral. O turismo de aventura é referência no país que se beneficia de uma paisagem e natureza exuberantes. O All Blacks, equipe nacional de rugby da Nova Zelândia, está entre os melhores do mundo na modalidade. E, pela primeira vez, o país e o seu vizinho, a Austrália, sediarão uma importante conquista para as mulheres: a Copa do Mundo Feminina da Fifa. O mundial que se inicia nesta quinta-feira (20) vai até o dia 20 de agosto.

A adoção de tecnologias emergentes tem avançado os esportes e aberto oportunidades para empresas empreenderem. Reforçando a vocação para os esportes e tecnologia, a Nova Zelândia possui 76 startups de Sport Tech, algo significativo para um país com pouco mais de 5 milhões de habitantes. Equipes no mundo todo reconhecem que tecnologias de monitoramento de performance se tornaram algo essencial e podem ser a diferença entre um resultado e outro.

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Nos últimos anos, Wellington, capital da Nova Zelândia, ganhou um centro de inovação dedicado aos esportes, o NZ Campus of Innovation and Sport. Um dos mais avançados centros de treinamento do mundo é casa para as seleções de rugby da cidade, de futebol masculino e feminino, o Wellington Rugby e o Wellington Phoenix.

Na instalação, os atletas podem usar uma série de tecnologias para analisar a própria performance e a do time. Por ser um centro de treinamento compartilhado, a iniciativa garante o igual acesso a tecnologias de ponta tanto para times femininos quanto masculinos. As mulheres da seleção de futebol Phoenix estão entre as primeiras que puderam testar o Campus de US$ 108 milhões de dólares. Parte do investimento garante a infraestrutura tecnológica: são mais 33 kms de cabeamento, com 206 câmeras e mais de 200 telas. Tecnologias inteligentes integradas às instalações capturam dados dos jogadores, dando feedback imediato para otimizar treinamentos. Inclusão é parte importante do projeto, com instalações desenhadas para atender a todos incluindo atletas com seus bebês. Com tanto investimento em tecnologia, a expectativa é poder contribuir com o sucesso dos atletas de hoje e das próximas gerações.

A Copa do Mundo Feminina deste ano também promete ser a mais tecnológica até então. O mundial contará com tecnologias como o sistema de Video Assistant Referee (VAR), que é usado para apoiar a decisão de árbitros em campo, e uma Inteligência Artificial usada pela Fifa para identificar e denunciar abusos online. A tecnologia já foi usada durante a Copa do Mundo no Qatar e foi projetada para proteger jogadores e jogadoras em eventos da Fifa. Em 2022, mais de 20 milhões de postagens em redes sociais foram analisadas pela IA, com quase 20 mil comentários sinalizados como abusivos, discriminatórios ou ameaçadores e denunciados às plataformas responsáveis e removidos.

Por se tratar do maior evento de esporte feminino do mundo, o mundial também reforça discussões sobre equidade de gênero nos esportes. Uma das críticas da Fifa foi o valor oferecido pelas emissoras, que eram, segundo a organização, de 20 a 100 vezes menores do que os recebidos na Copa masculina. Para chamar atenção para a equidade, a Orange, empresa de telecomunicações francesa e patrocinadora da seleção de futebol da França, utilizou inteligência artificial para criar uma campanha publicitária que questiona o apoio às equipes femininas. No vídeo, vemos astros da seleção masculina marcando lances e belos gols. No entanto, os lances em questão foram feitos pelas atletas da França, que tiveram seus rostos e características físicas transformados pela IA. Você pode assistir o vídeo aqui.

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Outra conquista neste ano é o aumento da participação de técnicas mulheres. Pelo menos, dez estão à frente de seus times. Alemanha, Austrália, México, Coreia do Sul, Canadá, França, EUA, Holanda, Nova Zelândia e Brasil, todos com técnicas comandando suas seleções. A premiação para as jogadoras também está maior, com a Fifa anunciando que deve distribuir US$ 150 milhões para as mulheres — apesar de consideravelmente inferior aos US$ 440 milhões gastos com os jogadores na Copa de 2022. A Fifa espera que o valor das premiações seja equiparado no próximo torneio.

A visibilidade do futebol feminino é ainda um grande desafio, mas a tendência é de mudanças, fruto dos esforços de tantas jogadoras e das crescentes discussões sobre equidade e inclusão. Para este ano, a Fifa espera uma audiência recorde. A expectativa é que 2 bilhões de espectadores ao redor do mundo devam acompanhar os jogos do torneio até o dia 20 de agosto.

*Jacqueline Nakamura é uma experiente profissional de Diplomacia comercial internacional com mais de 15 anos trabalhando para diferentes governos estrangeiros na América Latina. Depois de seis anos atuando no Departamento de Comércio Internacional do Reino Unido, liderando tanto as exportações comerciais quanto investimento estrangeiro, Jacqueline assumiu o cargo de Comissária de Negócios para a New Zealand Trade and Enterprise para o Brasil e Mercosur. Com experiência na indústria de tecnologia, trabalhando para empresas multinacionais de tecnologia e associações setoriais de comércio, ela lidera o plano de tecnologia da Nova Zelândia na América Latina. Sua formação acadêmica inclui bacharelado em Relações Internacionais pela PUC-SP e mestrado em economia empresarial pela FGV-SP com Recomendação de Honra.

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