Sonhos não envelhecem

Leon Sanguiné
4 min readJun 18, 2018
A seleção panamenha na primeira foto oficial da história do país como participante de Copa do Mundo

Aos 35 do primeiro tempo, Venegas dá uma cavadinha para encobrir Jaime Penedo e abrir o placar para a Costa Rica contra o Panamá pela última rodada das eliminatórias para a Copa do Mundo 2018. O gol de Trinidad e Tobago contra os Estados Unidos, segundos antes, não adiantava mais para que os panamenhos se classificassem pela primeira vez a um Mundial.

Jaime Penedo é goleiro do Panamá desde 2003

Penedo tem 36 anos e tem 130 jogos disputados pela seleção em convocações que iniciaram há exatos 15 anos. O ápice, até aquela partida contra a Costa Rica, havia sido a Copa Ouro de 2005 — a versão da Copa América lá de cima -, quando o Panamá só foi eliminado na final, nos pênaltis, após um 0 a 0 com os Estados Unidos. O goleiro foi eleito o melhor da posição no torneio. É um dos poucos jogadores da equipe atual que jogam na Europa — defende desde 2016 o romento Dinamo de Bucaresti.

Pérez: goleador panamenho há 17 anos

Aos 8 do segundo tempo, uma confusão na área derruba o atacante Blás Pérez, 37 anos. No entrevero, ninguém sabe se o apito do árbitro significa falta de ataque ou pênalti, já que a bola estava do lado de fora da rede. Apenas a imagem dos jogadores panamenhos comemorando e correndo com a bola nos braços — um gol ainda faltava para a classificação — foi definitiva para decretar o empate, confirmado pelo bandeirinha, que viu a bola ultrapassar a linha. Foi o 43º gol de Pérez em 117 vezes representando Panamá desde 2001.

Com os resultados paralelos, o Panamá estava na quinta colocação, com onze pontos, e, portanto, fora da copa mais uma vez. A torcida, embora cantasse e apoiasse os jogadores, encontrava-se já praticamente resignada. Coube a um zagueiro, ídolo máximo da torcida panamenha, tomar a atitude de ir ao ataque.

Román Torres, 32 anos, iniciou a trajetória dentro da seleção do país em 2005, quando disputou o Mundial sub-20 em campanha que terminou com zero ponto. Estão no histórico do defensor também cinco edições da Copa Ouro da Concacaf. Dessa competição, foi vice em 2005 e em 2013. A seriedade dentro de campo, misturada com o sorriso largo fora dele, o fazem uma espécie de representante da população do país. Quando aos 43 minutos do segundo tempo a zaga da Costa Rica falhou e Torres chutou forte para classificar o Panamá pela primeira vez para uma Copa do Mundo, na sequência correndo para os braços dos torcedores, esse status atingiu grau máximo.

O gol de Torres levou para a Rússia Felipe Baloy, zagueiro que os torcedores do Grêmio têm — más — recordações. O defensor, hoje com 37 anos, fez parte de um dos piores times da história do Tricolor Gaúcho, com um quase rebaixamento em 2003 no Campeonato Brasileiro e uma queda consumada um ano depois. Baloy hoje defende o Municipal, da Guatemala, e soma 93 jogos com a camisa panamenha. Na campanha das eliminatórias para a Rússia, participou de 10 das 16 partidas.

Aos 37 anos, ex-gremista Felipe Baloy disputará primeira Copa do Mundo

Hinchas

Torcida lota arquibancadas para acompanhar a seleção panamenha

Serão 4 mil panamenhos — mais jogadores e comissão técnica — aproveitando o sonho na Rússia. Muitos deles fazem parte da torcida organizada — sim, o país te hinchas próprios — La Extrema Roja, que, se apoiou o Panamá nos tantos fracassos, não deixaria de estar ao lado na consagração. “O clima em nosso país é uma festa. Estar entre as 32 melhores SELEÇÕES do mundo é algo histórico para nós”, comenta-me via mensagem direta no twitter um dos organizadores da organizada, Edgar Bonilla.

O torcedor diz que a expectativa é a de fazer um bom papel — o que, para o Panamá, significa não repetir a campanha de El Salvador em 1982, que fez apenas um gol, tomou 13 e sofreu a maior goleada da história das copas: 10 a 1 para a Hungria. “Tem de haver muita luta e representar bem o nome do nosso país”, finaliza.

Blás Perez e Gabriel Torres com suas figurinhas do álbum da Copa do Mundo 2018

Parece besta, para quem em edição alguma deixou de participar da Copa, mas é interessante perceber o contato de jogadores e torcedores panamenhos com coisas simples que envolvem o Mundial. Estar em um álbum de figurinhas, por exemplo, pela primeira vez após 15, 16, 17 anos representando a seleção. Ou o registro, de todos os ângulos, da chegada no país da disputa, com os chapéus que caracterizam o Panamá à cabeça. Ou torcer para o próprio time contra a Bélgica de Hazard, a Inglaterra de Harry Kane. Ou ver o próprio nome nos vestiários e nos bancos de reservas dos estádios padrão FIFA.

O Panamá na Copa é o futebol além dele. Aproveitemos.

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