A inesperada final do Mundial de Clubes de 2004

Pedro Rosano
4 min readJul 6, 2020

O nome e formato da competição mudaram com o tempo, mas desde 1960 um clube de futebol é declarado campeão mundial. Dentre times de estrelas, grande jogos e vitórias surpreendentes, a final do Mundial de Clubes de 2004 reuniu duas equipes fora do primeiro escalação do futebol europeu e sul-americano: Porto, de Portugal, e Once Caldas, da Colômbia. Mas antes, vamos saber como esses clubes chegaram até lá.

A classificação do Once Caldas para a Libertadores de 2004 se deu graças ao título do Torneio Apertura do ano anterior, conquista que não conseguia desde 1950. Os colombianos caíram no grupo 2, junto com Valéz-ARG, Fênix-URU e Maracaibo-VEN. As duas primeiras partidas foram de vitória, 3 a 0 sobre o Fênix, jogando em casa, e 2 a 0 contra o Maracaibo, jogando fora. Fechou o primeiro turno perdendo para o Vélez, na Argentina, porém, fez 7 pontos, de 9 possíveis, no returno e se classificou em primeiro do grupo, com 13 pontos.

Nos mata-matas o Once Caldas passou a demonstrar o que seria sua marca até a final: um esquema ultra defensivo, privilegiando a marcação e os contra-ataques — deu certo. Os colombianos passaram por Barcelona-EQU, Santos (de Vanderlei Luxemburgo, Diego e Robinho), o São Paulo (de Rogério Ceni, Cicinho e Luis Fabiano), até a grande final contra o Boca Juniors.

Na primeira partida na Bombonera, os argentinos não conseguiram furar a retranca e o jogo terminou 0 a 0. Na volta, em Menizales, o 1 a 1 levou a decisão para os pênaltis em uma noite nada inspirada dos batedores. O Once Caldas venceu o Boca nas penalidades por apenas 2 a 0 e futurou o título inédito, que não era conquistado por um colombiano desde 1989, quando o Atlético Nacional venceu o torneio.

No Velho Continente, era o Porto quem surpreendia. Embora fossem campeões da Copa da Uefa e bicampeões nacionais, os portugueses não iniciaram a Champions de 2004 como favoritos. Mas guiados por um treinador novato, chamado José Mourinho, a conquista do título que não vinha desde 1985/86 foi possível. Na fase de grupos, o Porto conquistou 11 pontos e se classificou em segundo lugar naquele grupo F que contava com Real Madrid, Olympique-FRA e Partizan-SER.

O adversário nas oitavas de final foi o Manchester United. Apostadores davam a classificação do time britânico como certa. Mas o Porto venceu o time de Neville, Saha, Van Nistelrooy e Giggs por 2 a 1, em casa, e se classificou na Inglaterra, empatando em 1 a 1. Nas quartas, superaram o Lyon, da Franca, e na semi, o La Coruña, da Espanha.

E assim, a grande final, na Arena AufSchalke, na Alemanha, recebeu uma final atípica: de um lado, o Porto, do outro, o Mônaco, que superaram gigantes e a lógica. Bola rolando e os portugueses envolveram o Mônaco. Carlos Alberto, Deco e Alenichev marcaram e o 3 a 0 deu o título inédito ao Porto, com o atual formato da Champions.

Dezembro chegou. 2004 foi o último ano em que o Mundial de Clubes, chamado na época, Copa Intercontinental, era disputado por apenas duas equipes. Campeões, Once Caldas e Porto promoveram uma final, digamos, atípica, no Estádio de Yokohama, no Japão. Os portugueses foram melhores durante quase toda a partida, mas como você já sabe, a defesa era o forte do colombianos.

McCarthy chegou a marcar para os europeus, mas o gol foi anulado. Com decorrer da partida, o goleiro Juan Hanao foi se tornando o nome do jogo. Na prorrogação, o Once Caldas viu pela frente um Porto cansado, de tanto correr atacar nos 90 minutos. Era tudo os que os colombianos queriam: um adversário sem força física. Fim de prorrogação, 0 a 0.

A decisão nas penalidades foi de emoção. No quinto pênalti e com o placar em 4 a 4, Maniche perdeu para Porto. Era chance do título colombiano. Mas Pablo acertou a trave do goleiro Nuno Santos. A partir daí, parecia que ninguém mais iria errar. Veio o 5 a 5, 6 a 6 e o 7 a 7. Na nona cobrança, Garcia errou e o pênalti convertido por Pedro Emanuel garantiu o bicampeonato mundial ao Porto. Uma final que ninguém ousou prever, mas que desafiou favoritismos e mostrou toda beleza do futebol.

--

--

Pedro Rosano

Jornalista diplomado pela UCS e pós-graduando em Ciência Política. Escrevo sobre futebol, política e amenidades.