Calciopédia Perfil #4

Yuri Said Cardoso
8 min readApr 15, 2023

Raçudo, Diego Pérez se destacou no Bologna por sua extrema dedicação

— — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — —

O uruguaio Diego Pérez foi um dos principais nomes na célebre geração da Celeste Olímpica nas décadas de 2000 e 2010. Conhecido como “Ruso”, devido à pele clara e a sua rispidez em campo, que lhe remetiam aos russos, o volante de muita pegada marcou época pelo Monaco, da França, e, na Itália, foi uma peça valiosa do Bologna. Na Emília-Romanha, encerrou sua carreira como jogador e passou a se dedicar a formar atletas nas categorias de base.

O meio-campista nasceu em Montevidéu, capital do Uruguai, em 1980, e começou a sua carreira no fim da década de 1990. Diego se formou pelo Defensor Sporting e ascendeu aos profissionais aos 19 anos. Durante as cinco temporadas em que atuou com a camisa violeta, somando 132 aparições, chegou a dividir o campo com seu irmão, Omar “Loco” Pérez, durante seis meses.

Em 2001, quando ainda atuava pelo Defe, Diego recebeu a primeira convocação para a seleção do Uruguai — a qual representaria em quase todos os grandes torneios até 2014. Chamado por Daniel Passarella, Ruso Pérez estreou na Copa América daquele mesmo ano e foi titular em todas as partidas da campanha de quarto lugar dos charruas. No entanto, apesar de manter um bom nível por seu clube, não foi levado para a Copa de 2002. A exclusão foi surpreendente, visto que a equipe estava sob o comando do técnico Víctor Púa, com quem trabalhara no Sul-Americano e no Mundial da categoria sub-20, pouco antes.

Pouco depois de ter sido vetado da Copa de 2002, única grande competição em que não representaria o Uruguai até o ocaso da carreira, Pérez foi adquirido pelo Peñarol, uma das maiores forças uruguaias. Entretanto, a passagem pelos carboneros foi rápida, já que o Monaco se interessou pelo volante e o levou para a Europa em 2004, por causa do brilho do Ruso numa Copa América. Na ocasião, a Celeste foi eliminada pelo Brasil na semifinal, após perder nos pênaltis, e ficou com o terceiro lugar.

O Monaco era, àquela altura, vice-campeão europeu — em 2004, fora derrotado na final da Champions League pelo Porto de José Mourinho. Pérez chegou ao principado para dar profundidade ao elenco monegasco e lá permaneceu por cinco anos, período em que foi treinado por figuras como Didier Deschamps, o italiano Francesco Guidolin e o brasileiro Ricardo Gomes.

Frequentemente titular pelo Monaco, o uruguaio atuou no time por 181 partidas ao longo das cinco temporadas em que defendeu os alvirrubros. Durante sua passagem, Pérez não levantou troféus — o melhor desempenho do ASM nesse período ocorreu em 2004–05, quando o clube foi o terceiro da Ligue 1 e alcançou as semifinais das duas copas nacionais. Em 2010, os monegascos também foram vice-campeões da Copa da França.

Coadjuvante fundamental de uma vitoriosa geração uruguaia, Pérez levou a garra charrua ao Bologna (Getty)

A contínua utilização na equipe do principado garantia ao Ruso convocações para a seleção uruguaia. Após mais um quarto lugar na Copa América de 2007, o volante participou da ótima campanha celeste no Mundial de 2010 — outra vez terminado numa quarta colocação. Durante a trajetória charrua, Pérez foi titular do time treinado por Óscar Tabárez em todos os jogos e ainda deu uma assistência na fase de grupos, na vitória por 3 a 0 sobre a anfitriã África do Sul. Diego também produziu uma icônica imagem ao sangrar em campo no triunfo por 1 a 0 sobre o México.

A imagem com o sangue escorrendo pelo corte na testa refletia o que Ruso Pérez era em campo. Volante de muita força física e dedicação extrema, era um dos nomes que mais representava a tradição de raça uruguaia — muito conhecida como “la garra charrua”. Diego, vestindo a camisa celeste de número 15, simbolizava isso como poucos. O seu sangue, contido por um turbante de ataduras, foi um dos momentos mais lembrados da campanha celeste, ao lado da expulsão de Luis Suárez nas quartas de final, ao impedir um gol com a mão no último minuto da prorrogação contra Gana. Depois, nas cobranças de pênalti, entrou para a história a cavadinha de Sebastián “Loco” Abreu, que carimbou o passaporte da seleção para a semifinal.

Sem contar com Suárez na semi, os uruguaios foram eliminados pela Holanda, graças a uma derrota por 3 a 2. Na sequência, perderam, pelo mesmo placar, a disputa do terceiro lugar para a Alemanha. Xará de Pérez, Diego Forlán foi um dos artilheiros da Copa, com cinco gols, e abocanhou o prêmio de melhor jogador da competição.

Em 2011, Forlán foi atuar no futebol italiano ao fechar com a Inter. De certa forma, reencontraria Pérez, que acertou a sua passagem para a Velha Bota logo após a campanha histórica na Copa do Mundo: o volante fechara com o Bologna no último dia da janela de transferências de verão em 2010–11. Os felsinei acabaram vencendo a concorrência do Palermo. Segundo o presidente rosanero, Maurizio Zamparini, foi a vontade do próprio meio-campista que o levou à Emília-Romanha e não à Sicília.

No Bologna, Ruso Pérez encontrou os compatriotas Miguel Britos, Gastón Ramírez e Henry Giménez — com quatro integrantes, a colônia charrua era a mais numerosa da equipe rossoblù. No clube, Diego também voltou a dividir vestiários com o atacante Marco Di Vaio, seu colega dos tempos de Monaco. A dupla, aliás, tinha os maiores salários do time.

Em suas três primeiras temporadas, o volante foi fundamental para manter o Bologna distante do descenso (Iguana Press/Getty)

Pérez foi titular desde o início de sua passagem e logo se firmou como um dos pilares de um Bologna que, com muito sacrifício, lutava para não ser rebaixado. Em seu primeiro ano na Itália, somou 28 aparições e cinco assistências — algo que não estava acostumado a fazer. Os bolonheses chegaram a frequentar a metade superior da tabela, mas tiveram péssima reta final de Serie A e ainda sofreram uma punição de 3 pontos por atraso no pagamento de impostos. Mesmo assim, se mantiveram na elite com folga e concluíram o certame na 16ª posição.

Após a primeira bem-sucedida temporada na Itália, Ruso Pérez novamente voltou a vestir a camisa celeste em um grande torneio: a Copa América de 2011, disputada em solo argentino. Depois de uma fase de grupos conturbada, na qual o Uruguai se classificou aos trancos e barracos, com apenas uma vitória, as quartas de final reservavam o confronto com a anfitriã.

O clássico sul-americano, como não podia deixar de ser, ficou marcado pelo embate físico entre as duas equipes. E a partida entrou para a história de Ruso Pérez: o meio-campista recebeu um cartão amarelo aos 3 minutos e, aos 6, anotou o gol mais importante da carreira, abrindo o placar contra a grande rival. Era, também, o seu primeiro tento pela seleção. A Argentina empatou rapidamente, com Gonzalo Higuaín, e, aos 38, Diego foi punido com o segundo amarelo.

Depois da expulsão do volante, com 10 em campo, o Uruguai valentemente conseguiu levar a disputa para os pênaltis. Sem perder nenhuma cobrança, e se valendo do erro do ídolo argentino Carlos Tévez, a Celeste fechou a conta com Martín Cáceres, que eliminou os donos da casa e abriu o caminho para um título que não vinha desde 1995. Inclusive, a taça da Copa América, obtida após um categórico 3 a 0 sobre o Paraguai, foi a única da carreira de Pérez.

Diego retornou para a Itália com a moral em alta pela conquista e seguiu entre os pilares do Bologna em 2011–12. Dessa vez, o time rossoblù fez bonito — ao menos após a troca precoce do técnico Pierpaolo Bisoli por Stefano Pioli. O novo comandante montou um meio-campo robusto com Pérez, o belga Gaby Mudingayi e o grego Panagiotis Kone, que apoiavam Ramírez, o recém-contratado Alessandro Diamanti e Di Vaio. Com esta espinha dorsal, os petroniani terminaram a Serie A num confortável nono lugar, a sete pontos da zona de classificação para a Liga Europa.

Pérez passou a conviver com problemas físicos no final de sua trajetória pelo clube italiano (Getty)

Em 2012–13, o Bologna de Pioli novamente teve uma campanha tranquila no Italiano: concluiu o campeonato na 13ª posição, 12 pontos acima da zona de rebaixamento. Pérez, contudo, passou a jogar menos porque, já veterano, começou a sofrer com problemas físicos.

Ao fim da campanha, ficou sem contrato e, sem clube, viajou ao Brasil para ajudar o Uruguai a ser quarto colocado na Copa das Confederações. Na mesma janela de transferências daquele verão, o charrua acertou alguns pontos de desacordo que fizeram seu vínculo com o time emiliano não ter sido renovado e retornou a vestir a camisa rossoblù.

Em 2013–14, Pérez teve a última temporada razoável de sua carreira. O papel importante para manter o Bologna longe da zona de rebaixamento por três anos não foi cumprido dessa vez, apesar de ter chegado a utilizar a faixa de capitão do time. Jogando menos, por causa das lesões, Diego viu o fantasma do descenso bater à porta e buscar os felsinei, que fizeram péssima campanha sob as ordens de Pioli e, depois, Davide Ballardini. Mesmo assim, foi convocado para defender o Uruguai na Copa de 2014 — na qual não saiu do banco.

Ruso Pérez continuou no Bologna para disputar a Serie B, mas a diretoria manobrou para que ele não permanecesse na segundona, por causa de seu salário, considerado elevado para a categoria, e de seus problemas físicos. Os cartolas fizeram com que o novo técnico, o uruguaio Diego López, seu ex-colega de seleção, não o inserisse na lista de jogadores disponíveis para a competição. No fim das contas, o volante foi reintegrado, mas só atuou por cerca de meia hora, distribuídas em três jogos, na campanha de retorno à elite.

Ao fim de sua quinta temporada pelo Bologna, o seu quarto clube na carreira, Pérez anunciou a sua aposentadoria, aos 35 anos, depois de 113 aparições com a camisa rossoblù. Imediatamente após pendurar as chuteiras, o ídolo da torcida bolonhesa assumiu o posto de auxiliar do time sub-19 dos veltri. O ex-volante trabalhou como colaborador técnico das categorias de base dos emilianos até 2022, quando foi anunciado como assistente da seleção sub-20 uruguaia.

Diego Fernando Pérez Aguado
Nascimento: 18 de maio de 1980, Montevidéu, Uruguai
Posição: volante
Clubes: Defensor Sporting (1999–2003), Peñarol (2003–04), Monaco (2004–10) e Bologna (2010–15)
Títulos: Copa América (2011)
Seleção uruguaia: 89 jogos e 2 gols

--

--

Yuri Said Cardoso

Jornalista. Fã de Esportes, Filmes, Séries, Música e Cultura Popular. Autor em: @osmagpies (Twitter e Instagram) e Calciopedia.