Musa foi essencial à mudança de ânimo da Nigéria, que conseguiu o trinfo no segundo tempo

Luiz Henrique Zart
Popytka
Published in
6 min readJun 22, 2018

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Partida inspirada do camisa 7 nigeriano (Getty images)

Em campo, uma partida de futebol tem 90 minutos. Mas pouca gente dá importância aos 15 que servem de reorganização e motivação no intervalo. É um tempo capaz de mudar o ânimo, a tática e a atitude dos jogadores. Assim foi em Volgogrado nesta sexta-feira. Depois de um primeiro tempo bastante morno diante da Islândia, sem conseguir finalizar uma vez sequer, a Nigéria mudou completamente na etapa complementar. Foi arisca, testou o goleiro adversário com chutes de longa distância e tiveram muita velocidade para superar a marcação dos vikings. A vitória por 2 a 0 teve participação fundamental de Ahmed Musa, em um dia inspirado. Autor dos dois tentos dos Super Águias, o camisa 7 dá os três pontos aos africanos, além da possibilidade de dependerem apenas de si para conseguir a classificação no embate contra a Argentina. A Islândia vê a situação se complicar, mas deixa o grupo em aberto. A Nigéria pode incomodar, principalmente se aproveitar a apatia da seleção de Jorge Sampaoli. Ainda mais se tiver o ágil Musa de hoje: essencial.

Os times

A fraca atuação, com poucas possibilidades diante da Croácia, fez o técnico Gernot Rohr promover diversas mudanças, a começar pelo esquema tático. Em vez da linha de quatro atrás, as Águias Verdes apareciam com três zagueiros. Com Francis Uzoho com as luvas, William Ekong e Leon Balogun ganhavam a companhia de Kenneth Omeruo. Alex Iwobi perdeu a vaga, e pelo meio se formou uma linha de cinco: com Bryan Idowu deslocado à ala esquerda, e todos os demais mantendo a titularidade: John Obi Mikel, Etebo, Ndidi e Victor Moses. No ataque, Odion Ighalo não era mais a referência, substituído por Ahmed Musa e Kelechi Iheanacho.

Já a Islândia, que garantiu o empate contra a Argentina com muita solidez defensiva, de certa forma tinha um esquema mais ofensivo, mas ainda cauteloso, com duas linhas de quatro. A defesa era exatamente a mesma, com o goleiro Hannes Halldorsson; e a defesa com Hordur Magnússon, Ragnar Sigurdsson, Kari Árnasson e Birkir Saevarsson. Johann Gudmundsson saiu da linha de meio, que era de cinco e ficou com quatro jogadores. Emir Hallfredsson, de uma grande partida diante dos sul-americanos, foi substituído por Rurik Gíslason, que entrou bem contra a Albiceleste. O camisa 11, Alfred Finnbogason, autor do primeiro gol islandês em Copas, tinha companhia no ataque: o adiantado Jon Bodvarsson.

O campinho de Nigéria x Islândia (Fifa.com)

O jogo

A Islândia ultradefensiva que arrancou pontos da Argentina tinha mais possibilidades de ataque diante dos nigerianos. Com duas linhas de quatro, ameaçou primeiro, com seu camisa 10. Sigurdsson cobrou falta pouco atrás da meia-lua, com direção ao ângulo esquerdo de Uzoho, que se esticou todo para conseguir ter a bola nas mãos. O meia do Everton conseguia as melhores chances dos vikings, como quando bateu colocado para boa defesa do goleiro nigeriano. A Nigéria tinha mais a posse de bola, mas não conseguia arrematar nem ameaçar Halldórsson. Do contrário, os nórdicos criavam, mas não finalizavam suas jogadas.

Essa falta de precisão se reverteria em algo negativo para os islandeses na segunda etapa. Se nos primeiros 45 minutos abusou das bolas longas e das inversões procurando os alas, sem conseguir chutar ao gol sequer uma vez, na volta do intervalo, os Águias Verdes voltaram ariscos. Musa calibrou o pé em um chute de fora da área que Halldórsson encaixou, mas era apenas um prenúncio. Porque no minuto seguinte, a Nigéria aproveitou que a defesa da Islândia estava desmontada e contra-atacou com quatro jogadores contra três defensores. Moses passou muito rápido pela direita e cruzou para a área. Lá estava Musa, que dominou com o bico da chuteira e quebrou qualquer possibilidade de reação do zagueiro Árnasson. Em um movimento plástico, o camisa 7 esperou a bola cair para soltar o pé e estufar o barbante adversário.

Com o placar aberto, a Nigéria se soltou. Ndidi apareceu à frente e arriscou o chute de fora da área. Com o desvio na ponta da chuteira de Gíslasson, a bola subiu e pegou efeito, caindo com perigo na direção do gol islandês. Por segurança, Haldórsson mandou para escanteio. Moses, em boa partida na segunda etapa, também arriscou o chute de longe, que passou muito perto. Na jogada aérea, a Nigéria prevalecia. Balogun foi à área e voou para cabecear depois do escanteio de Mikel, e a redonda passou raspando o travessão.

Só a Nigéria ameaçava. Com Musa arriscando de longe, com liberdade, sem nenhuma marcação, a bola parou no travessão aos 28. Mas o poste não impediria o segundo gol do camisa 7, que teve muita classe, convenhamos, no minuto seguinte. O atacante recebeu o lançamento longo de Omeruo, que aliviou a pressão da defesa. A esticada passou às costas de Saevarsson e parou nos pés do jogador do Leicester. Ágil, ele tirou Árnasson na velocidade, driblou Halldórsson e teve calma para ajeitar o corpo e mandar de chapa para o gol. Quebrou uma marca com aquele golaço: Se tornou o maior artilheiro Nigeriano na história das Copas, depois de deixar duas bolas nas redes da Argentina na última disputa, em 2014.

A tranquilidade africada poderia ter sido ameaçada por um descuido defensivo. Depois de uma bola longa para a área dos Águias Verdes, Ekong protegeu, mas foi superado por Finnbógasson na velocidade. Então, Ebuehi veio na cobertura e calçou o centro-avante islandês. A princípio, o árbitro não havia assinalado o pênalti, mas pouco depois confirmou a infração pelo vídeo. Sigurdsson foi para a cobrança a pouca distância da bola e tentou bater alto à esquerda de Uzoho, mas isolou a chance de recolocar a Islândia no jogo. A pressão islandesa não veio como deveria, com a Nigéria ameaçando nos contra-ataques e evitando os cruzamentos para sair com a vitória.

A classificação depois fechamento dos confrontos da segunda rodada no grupo de Islândia e Nigéria (Globoesporte.com)

O cara da partida

Ahmed Musa. O atacante foi quem começou a arriscar na segunda etapa, quando a Nigéria evoluiu e ameaçou o gol islandês desde os primeiros minutos. O camisa 7 era um dos mais ousados, e foi premiado por isso com dois lindos gols. No primeiro, demonstrou qualidade técnica, posicionamento e capacidade de finalização emendando uma bola difícil. No segundo, teve velocidade para superar o marcador e muita tranquilidade para passar pelo arqueiro antes de marcar seu segundo. Menção honrosa a Mikel, distribuindo e cadenciando o jogo quando importou, e sustentando o ataque com muitos passes certos. É o dínamo também na marcação.

Como fica

A vitória foi gigante para os Nigerianos, pela importância na tabela. Com os três pontos, se recuperaram da derrota contra a líder do grupo, e de quebra se colocam na zona de classificação. Na última rodada, tem a Argentina pela frente em São Petersburgo na próxima terça. Pode até empatar, caso a Islândia não vença a Croácia, que ainda se classifica. Para ressaltar seus predicados, precisa bater a Albiceleste. Já os nórdicos precisam considerar uma variável: no duelo com os croatas, em Rostov, no mesmo dia e horário, às 15h, podem enfrentar um time relaxado pela classificação antecipada, mas podem encarar uma pedreira se o adversário jogar o que puder. As condições e a relação de resultados deixam tudo em aberto.

Ficha Técnica

Nigéria 2 x 0 Islândia

Local: Arena Volgogrado, em Volgogrado (Rússia)

Árbitro: Matthew Conger (Nova Zelândia)

Gols: Ahmed Musa, duas vezes (NIG)

Cartões amarelos: Brian Idowu

Nigéria: Francis Uzoho; Leon Balogun, William Troost-Ekong e Kenneth Omeruo; Victor Moses, Wilfred Ndidi, John Obi Mikel, Oghenekaro Etebo (Alex Iwobi) e Brian Idowu (Tyronne Ebuehi); Ahmed Musa e Kelechi Iheanacho (Odion Ighalo). Técnico: Gernot Rohr.

Islândia: Hannes Halldórsson; Birkir Saevarsson, Kari Árnason, Ragnar Sigurdsson (Sverrir Ingason) e Hördur Magnússon; Rurik Gíslason, Aron Gunnarsson (Ari Skúlason), Gylfi Sigurdsson e Birkir Bjarnason; Jón Bödvarsson (Björn Sigurdarson) e Alfred Finnbogason. Técnico: Heimir Hallgrímsson.

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