Sem surpresas e com dúvidas, convocação de Senegal evidencia força no potencial físico e ofensivo do time

Matheus Eduardo
Sem Mundial
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5 min readJun 6, 2018

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“Os 23 leões” que representarão Senegal na Copa de 2018. Imagem com a lista de convocados e a forma com que são denominados já representa qual deve ser a postura da equipe durante a competição (Reprodução: Federação Senegalesa de Futebol)

Na preparação para a disputa de sua segunda Copa do Mundo em toda a história, Senegal foi uma das primeiras seleções a confirmar a lista final de jogadores para o torneio. Após um trabalho longevo, o técnico Aliou Cissé — que comanda a equipe desde 2015 — confirmou muitas das expectativas, com atletas que estiveram em boa parte da campanha classificatória e em torneios anteriores com o país. Dos 23 chamados, 16 estiveram com a seleção senegalesa na Copa Africana de Nações, no ano passado, quando os Leões foram eliminados nas quartas-de-final para Camarões — que se tornaria a campeã do torneio.

Além das muitas peças mantidas, a forma de jogar e atletas prioritários no sistema de jogo seguem intactos desde então. Capitão da equipe, o polivalente Cheick Kouyaté é um reflexo da equipe: versátil, o jogador do West Ham é dos que mais jogaram pela equipe e pela seleção nos últimos anos, e soma atuações como zagueiro e meio-campista nesse período de tempo. Além dele, outros pilares reforçam a lista: o zagueiro Kalidou Koulibaly, vindo de grandes temporadas no Napoli vice-campeão italiano, é a referência na zaga e construção de jogo desde a defesa em sua seleção. Nas Eliminatórias, Koulibaly foi o líder da equipe em desarmes, com 42 (um dos cinco melhores jogadores no quesito em toda a competição); os meio-campistas Idrissa Gueye (Everton) — um dos principais desarmadores na temporada europeia — e Badou N’Diaye (Stoke City), consolidados durante os últimos jogos da seleção, encabeçam o forte e físico meio-campo da equipe, setor que ajudou a fazer de Senegal o time que mais desarmou nas Eliminatórias — venceu 61% dos desarmes tentados, melhor índice na competição.

Idrissa “Gana” Gueyé é um dos grandes destaques da seleção senegalesa. Se a equipe liderou o percentual de desarmes nas Eliminatórias, o meio-campista é um dos expoentes nisso: com média de 3,5 desarmes por jogo, Gana foi o décimo jogador com melhor índice no quesito entre todos os que atuaram nas cinco grandes ligas europeias na temporada 2017/18 (Foto: Dan Mullan/Getty Images Europe)

Junto a estes, os destaques no sistema ofensivo senegalês também ganharão sequência. Dono do melhor ataque das Eliminatórias, com 16 gols marcados em seis jogos, Senegal trará muitas das melhores peças que o país possui para esta Copa. Além do grande destaque técnico da equipe que é o ponta do Liverpool, Sadio Mané, outros jogadores que são realidade ou mostram grande potencial encabeçam a lista: o atacante/ponta Keita Baldé, que já havia feito boas temporadas na Lazio e esteve no Monaco nessa temporada, é um dos melhores. Ismaila Sarr, um dos atletas mais jovens do torneio, com apenas 20 anos de idade, destaque como driblador em velocidade e apontado como sucessor de Ousmane Dembélé, no Rennes. E o atacante M’Baye Niang, conhecido pela passagem no Milan, e agora jogador do Torino.

Na referência do ataque, nomes mais conhecidos pela rodagem no futebol europeu: o experiente centroavante Moussa Sow, que ficou alguns anos no Lille e no Fenerbahçe; Diafra Sakho, que fez boa Eliminatória e é candidato à titularidade da equipe; Mame Diouf, atacante que joga há quatro anos no Stoke City e já mostrou serventia tanto como centroavante quanto pelos lados do campo; e Moussa Konaté, destaque do Amiens (França) nesta edição da Ligue 1, tendo marcado 13 gols durante o campeonato e contribuído muito com a permanência do clube na primeira divisão.

Com atletas de características similares em aceleração, combinados a um time rápido e reativo/físico, o conjunto de Aliou Cissé deve mostrar o que apresentou de melhor nos anos anteriores. Dono de um alto índice de sucesso em disputas físicas, desarmes e finalizações em velocidade, Senegal traz um grupo preparado para reagir ao jogo dos seus rivais. Ainda assim, o modelo de jogo definido não confirma algumas das peças para entrar em campo.

Entre as principais dúvidas do treinador, a entrada dos zagueiros Salif Sané e Kara Mbodji se tornou uma dor de cabeça na véspera da Copa. Sané foi um dos melhores zagueiros da última temporada europeia com a camisa do Hannover, mas, no sistema de jogo de Senegal, atua na mesma posição que Koulibaly (o grande destaque defensivo da equipe) — o lado esquerdo da zaga. Nos últimos jogos, ele acabou testado como volante devido à sua capacidade física e abriu questionamentos sobre sua posição ideal. Já Mbodji, que era o zagueiro ao lado de Koulibaly, fazendo o lado direito da defesa, sofreu uma grave lesão no fim do ano passado e só retornou aos campos no meio de maio, tendo atuado em apenas um jogo do Anderlecht em 2018. Sem muito ritmo, o ex-titular absoluto agora tem sua vaga em dúvida enquanto luta para retomar a melhor forma.

Um dos melhores defensores da última temporada europeia, Salif Sané foi o terceiro melhor zagueiro de 2017/18 em avaliação do site “WhoScored”, que analisa o desempenho estatístico dos atletas: entre as muitas características marcantes no jogo físico, sua surpreendente estatura (1,96m) e a sexta melhor média de disputas aéreas vencidas por jogo em toda a europa (5,7) são as que mais chamam a atenção (Foto: Dan Mullan/Getty Images Europe)

Além deles, as laterais também se tornaram uma grande incógnita: na esquerda, Saliou Ciss disputa vaga com Youssouf Sabaly. O segundo traz a vantagem de jogar nos dois lados, e pode, além de disputar com Ciss, lutar com Lamine Gassama — que também faz as duas laterais — e Moussa Wagué (outro muito jovem, com apenas 19 anos de idade) pela vaga na lateral-direita. Com todos eles, algumas dúvidas quanto à qualidade do jogo pelos lados de campo: muita velocidade e pouco controle. E, concluindo o setor defensivo, o dono da meta senegalesa deve ser mesmo o goleiro Khadim N’Diaye, que ganhou a vaga durante as Eliminatórias, enquanto o antigo titular, Abdoullaye Diallo, perdeu ritmo de jogo após uma temporada e meia na reserva por seus clubes na Europa.

Na somatória, dá para dizer que Senegal traz para a Copa do Mundo um dos melhores elencos entre as seleções africanas. Ainda que falte equilíbrio pela falta de laterais que passem qualidade, e uma recente troca de posições na defesa (zaga e gol), os setores ofensivos têm sido cada vez melhores e demonstram extrema qualidade individual. Junto com o Marrocos, os senegaleses chegam com muito potencial e material humano com capacidade de surpreender. Em um grupo tão aberto quanto o H, pode ser o grande diferencial desta equipe que, diferentemente de muitos adversários, possui muito tempo atuando junta e jogadores que se conhecem bem.

Os convocados:

Goleiros: Khadim N’Diaye (Horoya AC ), Abdoulaye Diallo (Rennes) e Alfred Gomis (SPAL);

Defensores: Youssouf Sabaly (Bordeaux), Lamine Gassama (Adanaspor ), Moussa Wagué (Eupen), Saliou Ciss (Valenciennes), Kalidou Koulibaly (Napoli), Salif Sané (Hannover), Kara Mbodji (Anderlecht);

Meio-campistas: Cheikh Kouyaté (West Ham ), Idrissa “Gana” Gueyé (Everton ), Badou N’Diayé (Stoke City), Alfred N’Diayé (Wolverhampton), Cheikh N’Doyé (Birmingham City)

Atacantes: Sadio Mané (Liverpool), Mame Diouf (Stoke City ), M’Baye Niang (Torino), Diafra Sakho (Rennes), Ismaila Sarr (Rennes), Moussa Konaté (Amiens), Keita Baldé (Monaco), Moussa Sow (Bursaspor).

Dados: InStat, WhoScored e Soccerway

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Matheus Eduardo
Sem Mundial

Raramente (mas não nunca) posto algumas ideias aqui. A intenção é fazer essas leituras valerem a pena. Futebol em todos os sentidos possíveis.