As semifinais da Copa do Mundo do Catar estão definidas: a Argentina enfrentará a Croácia enquanto a França desafiará o Marrocos. A seleção africana, no entanto, é a grande história do Mundial até aqui. Classificada após eliminar Portugal — e Espanha nas oitavas de final —, se tornou a melhor campanha de seu continente na história das Copas do Mundo. Mas além de uma surpresa, é uma colecionadora de grandes histórias. O GLOBO conta a dos destaques dos semifinalistas.
Yassine Bounou
Apesar do apelido de "Bono", Yassine nunca quis ser uma estrela. Nascido no Canadá, Bounou se mudou com a família para os Marrocos quando tinha 8 anos, e sua vida nunca mais seria a mesma. Enquanto ia nos fundos de um transporte coletivo para os treinos no Wydad Casablanca, ele sempre sonhava alto. Aos 19, ele foi um dos jogadores mais jovens do Marrocos a disputar uma final de Champions League africana. No ano seguinte, foi contratado pelo Atlético de Madrid, mas não conseguiu convencer o técnico Diego Simeone de sua importância. Depois de boas performances no Girona, Yassine chegou em 2019 ao Sevilla, ajudando o time na conquista da Liga Europa. Bono se tornou também o primeiro africano MVP de La Liga e o primeiro goleiro do Sevilla e ganhar o Troféu Zamora, entregue ao goleiro de La Liga com o menor número de gols sofridos por partida, além de aparecer no top 10 do Troféu Yashin, entregue pela revista France Football ao melhor goleiro da temporada.
Achraf Hakimi
"Minha mãe costumava limpar casas e meu pai era um vendedor ambulante. Eles se sacrificaram muito para que eu pudesse jogar futebol. Agora, eu luto por eles todos os dias". As frases dizem muito sobre o prodígio marroquino. Depois de ter sido o quinto jogador mais jovem na Copa de 2018, Hakimi está muito mais experiente e vai ao Catar como uma estrela. Campeão italiano e francês por Inter e PSG, respectivamente, Achraf nunca esqueceu seu compromisso de retribuir, e não apenas para sua família. Em maio de 2011, ele se tornou Embaixador da Unicef e passou a se envolver em inúmeros eventos de caridade. Seu compromisso social vai além. Durante os protestos do "Black Lives Matter", nos EUA, Achraf deixou clara sua posição, comemorando um gol mostrando uma camisa com a mensagem "Justiça para George Floyd".
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Noussar Mazraoui
Ser um dos jogadores mais talentosos não significa facilidade para representar sua seleção. E quando você entra em conflito com o técnico, as chances são ainda mais raras. "Quando eu cheguei, o técnico (Vahid Halilhodzic) estava bem chateado comigo. Durante um treino, estava muito quente e ele pedia para que bebessemos água a cada cinco minutos. Em uma dessas paradas eu não bebi, porque não tinha mais sede". Não estar disposto a seguir as regras também não ajuda. "(Halilhodzic) Veio até mim pedir para que bebesse de novo, e eu educamente recusei, mas ele insistiu nervosamente. Para acalmar a situação, (Romain) Saiss me deu uma garrafa de água, mas eu a derramei no chão. Foi aí que o problema começou". Muitos meses depois, o técnico e 'Nouss' fizeram as pazes, mas o versátil lateral nunca mais jogou sob o comando do técnico bósnio, que foi demitido em agosto deste ano.
Nayef Aguerd
Nayef é de uma família de jogadores - seu pai também jogou pela seleção. Mas não foi fácil convencer a mãe de que o jovem garoto podia se tornar um profissional. Ela preferia que ele seguisse os estudos. Isso mudou rapidamente quando, em 2009, toda a família foi convidada para a Academia de Futebol Mohammed VI. Ali, ficou claro que os estudos eram tão importantes quanto o futebol. "Não é fácil fazer alguns sacrifícios quando você tem 12 ou 13 anos. (Na academia) Eu tinha que disfarçar para comer algumas barras de chocolate, porque a dieta era bem restrita. Se você é pego, você acorda às 4h30 ou 5h para correr". Mas as regras rígidas ajudaram Nayef a crescer como profissional. Sua transferência para o West Ham, depois de quatro anos na Ligue 1, tornam Nayef um modelo para jovens não apenas na Academia, mas em todo o país.
Sofyan Amrabat
“Todos os dias eu pegava o ônibus para casa em frente ao estádio, e sabia para que estava trabalhando. Eu estava cansado, mas sabia por que estava fazendo isso.” Aos 8 anos, Sofyan Amrabat tinha certeza do sonho que estava perseguindo, mas, ao mesmo tempo, sabia que tinha que trabalhar muito para isso e até fazer alguns sacrifícios. Principalmente em sua vida social. “Não mudei meus amigos, porque sei que as pessoas pensam que há pessoas que não me procurariam se eu não fosse jogador de futebol. Com as pessoas que você conhece desde jovem, é diferente. O mesmo com as garotas – às vezes você não sabe se elas te dariam a mesma atenção se você não fosse um jogador de futebol. Alguns jogadores fazem amigos facilmente, mas você não sabe se eles são amigos de verdade.”
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Sofiane Boufal
No final da desastrosa campanha 2017/2018 com o Southampton, quando o clube foi rebaixado da Premier League, Sofiane Boufal perdeu sua vaga na seleção, ficando fora da Copa do Mundo. “Foi um tapa na minha cara. Jurei a mim mesmo que isso não aconteceria novamente.” O regresso de Sofiane ao Angers acabou por ser uma prova de que “Soso” realmente amadureceu e aprendeu com os seus erros. Quando ele sofreu uma lesão grave três semanas depois que o Marrocos garantiu uma vaga no Catar 2022, ele disse que imediatamente definiu a Copa do Mundo como objetivo. "Antes da cirurgia, conversei com meu agente por quatro ou cinco horas para planejar meu retorno.” Uma coisa é certa, Boufal dribla qualquer adversário e isso é algo que ele nunca mudaria. “Ou você está louco por mim, ou eu vou te deixar louco”.
Hakim Ziyech
Sem jogar um único minuto nas Eliminatórias para a Copa do Catar, a sombra de Hakim Ziyech estava sobre a seleção nacional. Seu problema com o técnico Vahid Halilhodzic custou a este último seu lugar como técnico do Marrocos, apesar da marca de seis vitórias e um empate em uma campanha de sete jogos. Mas para o público em geral, Ziyech era a encarnação da fantasia, algo que a equipe do treinador Vahid parecia nunca ter. “Nunca mais jogarei sob a direção deste técnico, não importa o que ele faça. Se ele voar alto, voar baixo, ficar na minha porta, quiser dormir no meu sótão ou no porão, eu não vou jogar sob o comando deste treinador", teria dito Hakim a pessoas próximas. A federação não aguentou a pressão e Vahid foi demitido. Ziyech fez seu retorno em setembro de 2022, no primeiro jogo sob a gestão de Walid Regragui.
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Youseff En-Nesyri
Ele foi o último jogador a ser convocado para a Copa do Mundo de 2018, mas marcou um gol memorável que quase custou à Espanha uma vaga nas oitavas de final, pulando e cabeceando sobre Sergio Ramos e Gerard Piqué. Apesar de ser o melhor goleador marroquino na UEFA Champions League e o único da seleção a marcar em quatro grandes competições consecutivas, En-Nesyri é um alvo fácil para os críticos. “Tento contribuir com o esforço da equipe e tirar o melhor proveito dos minutos que o treinador me dá. Apelo aos fãs que me criticam para não o fazerem com insultos. Nossas famílias também estão nas redes sociais e leem seus insultos”.