Quando a Argentina foi eliminada da última Copa do Mundo, nas oitavas de final contra a França, o jornal esportivo “Olé” lamentou que Lionel Messi tivesse atuado naquela partida como um “falso 8” por não ter encontrado o auxílio de outro meio-campista, Banega. “Messi não foi Messi”, publicou o periódico em um de seus textos sobre a eliminação em 2018.
Garantir ao camisa 10 a ajuda que faltou a ele há quatro anos é hoje quase que uma missão de vida para Rodrigo De Paul, de 28 anos. O meio-campista se desdobra na marcação, ocupação de espaços e distribuição de jogo para que Messi, agora com 35 anos, seja preservado para desequilibrar quando a Argentina está no ataque.
Não à toa, páginas de humor nas redes sociais e internautas tratam De Paul como uma espécie de escudeiro de Messi. Em um vídeo que viralizou nesta Copa, o camisa 7 faz as vezes de guarda-costas do craque argentino em uma animação que emula jogos de videogame como o Grand Theft Auto (popularmente conhecido como GTA).
De Paul cumpre na Argentina a mesma função que outros atletas foram escalados para desempenhar na Copa do Catar: a de fazer o que for preciso para maximizar a performance da principal estrela do time. São jogadores que podem ser enquadrados na expressão em inglês “unsung hero”, os heróis que são pouco reconhecidos apesar de seus feitos.
A outra finalista deste Mundial, França, tem essa figura em Rabiot. O meio-campista se tornou peça importante no time de Didier Deschamps após as lesões dos titulares Kanté e Pogba. Presente em todas as fases do jogo, Rabiot permite que os mais talentosos Griezmann e Mbappé recebam a bola de frente para o ataque, assim como o jovem Tchouaméni, seu companheiro no meio de campo.
Na Croácia, que disputará neste sábado a terceira colocação na Copa, Brozovic dá a Modric quase o mesmo que De Paul oferece a Messi. O jogador da Inter de Milão chamou a atenção no Catar ao ser o atleta que percorreu a maior distância em campo, com incríveis 16,7 quilômetros na partida contra o Japão.
O surpreendente Marrocos chegou pela primeira vez à semifinal de um Mundial tendo no sistema defensivo sua virtude mais evidente. Seus principais ataques nasciam pelo lado direito, onde jogam os dois mais famosos do time, Ziyech e Hakimi. Para que a bola chegasse a eles, o “unsung hero” marroquino nesta Copa foi o meio-campista Ounahi, que se desdobrou como um motor do time treinado por Walid Regragui.
Também na seleção brasileira houve quem tenha cumprido essa função de “facilitador” do trabalho do craque do time — notavelmente Neymar. Lucas Paquetá foi o homem escalado por Tite para, mais do que dividir com o camisa 10 a responsabilidade de armar o time, possibilitar que o craque do PSG fizesse isso nas melhores condições. Um exemplo do quanto Paquetá não buscou competir pelo protagonismo com Neymar foi o gol contra a Croácia, em que o camisa 10 concebeu e executou toda a jogada, contando com um toque único de seu companheiro para sair frente a frente com o goleiro croata e finalizar sua obra.