Esportes Copa 2014 Suíça

Atletas com origens de fora da Suíça deixam o futebol do país mais ofensivo

País terá que superar a Argentina para chegar às quartas de final

O meia Xherdan Shaqiri (à esquerda) celebra a vitória da Suíça sobre Honduras abraçado ao atacante Josip Drmic
Foto: RODRIGO ARANGUA / AFP
O meia Xherdan Shaqiri (à esquerda) celebra a vitória da Suíça sobre Honduras abraçado ao atacante Josip Drmic Foto: RODRIGO ARANGUA / AFP

MANAUS - Desde 1954, quando foi o país-sede da Copa do Mundo (vencida pela então Alemanha Ocidental), a Suíça não avança às quartas de final de um Mundial de futebol. Classificada para enfrentar a Argentina, pelas oitavas, no próximo dia 1 de julho, no Itaquerão, em São Paulo, a equipe europeia poderá, caso supere os sul-americanos, pelo menos igualar a colocação obtida há 60 anos. Em um momento em que casos de racismo e xenofobia vão se tornando cada vez mais repetitivos em grandes centros do futebol europeu, como Itália e Espanha, a seleção suíça que está no Brasil parece fruto da sua tradicional neutralidade e de uma nova faceta, a da globalização. Dos 23 atletas treinados pelo alemão Ottmar Hitzfeld, oito são nascidos fora da Suíça, numa espécie de versão futebolística da Legião Estrangeira.

Autor dos três gols na vitória por 3 a 0 sobre Honduras, nesta quarta-feira, em Manaus, que valeu a classificação para as oitavas de final, o meia Xherdan Shaqiri, que joga pelo Bayern de Munich, nasceu no Kosovo, na antiga Iugoslávia, tendo sido levado para a Suíça pelos pais ainda criança. O também apoiador Behrami igualmente é oriundo do Kosovo. Na Macedônia, que também foi parte da antiga Iugoslávia, nasceram os meias Kasami e Dzemaili e o atacante Mehmedi. Timm Klose, zagueiro, nasceu na Alemanha, e há dois jogadores africanos, o zagueiro Djourou, que é da Costa do Marim, e o volante Fernandes, de Cabo Verde. Isso sem falar no goleiro Benaglio e no meia Barnetta, cujos pais são italianos, em Inler, jogador de meio-campo cujos pais são turcos, e no apoiador Xhaka, também com origens no Kosovo. Isso se deve não só à imigração como ao fato de várias organizações internacionais e entidades esportivas estarem situadas em cidades como Zurique e Lausanne, o que atrai para lá cidadãos das mais variadas nacionalidades.

Graças à excelente campanha nas eliminatórias, com sete vitórias e três empates, a Suíça chegou à Copa no Brasil como cabeça-de-chave no Grupo E, à frente da própria França, campeã mundial de 1998. Esta vem sendo a terceira participação seguida dos suíços em Mundiais. Tradicionalmente, o futebol daquele país era baseado num sistema defensivo muito forte, apelidado de "ferrolho suíço", difícil de ser batido. Aparentemente, a chegada de atletas com origens num futebol mais ofensivo, como o da antiga Iugoslávia, parece estar oxigenando a equipe, tornando-a mais ofensiva. Sobre as chances de ganhar da Argentina, Shaqiri reconhece que o favoritismo é dos bicampeões mundiais (1978 e 1986), comandados por Messi, quatro vezes eleito melhor do mundo, mas ser favorito não é ter vitória garantida.

- É realmente um sonho termos nos classificado para as oitavas. A pequena Suíça conquistou a vaga. Estamos muito orgulhosos, e com a Argentina será um belo jogo. A Argentina é favorita, mas vamos tentar ganhar. Chegando às oitavas de final, tudo é possível, e nunca se sabe o que vai acontecer - declarou Shaqiri. - Claro que estou muito feliz. Três gols não é algo que acontece todos os dias. Nunca vou me esquecer, tanto que vou levar a bola do jogo de recordação.

Tido como um dos treinadores mais sisudos do futebol internacional, o alemão Ottmar Hitzfeld vem dirigindo a seleção suíça desde 2008, tendo-a classificado para as copas de 2010 e de 2014. Em seu último Mundial, ele, que será substituído pelo bósnio Vladimir Petkovic, da Lazio da Itália, espera ir mais longe do que em 2010, quando a equipe nacional obteve o 19º lugar.

- Podemos escrever história, como já fizemos com os três gols de Shaqiri, e o fato de termos chegado às oitavas nas Américas, onde várias seleções europeias já fizeram as malas, não é fácil. Não temos nada a perder contra a Argentina. Só a ganhar, e muito. Temos de continuar melhorando e temos chances, sim, contra a Argentina - declarou, elogiando o comportamento de seus jogadores no jogo em Manaus. - O time teve atitude, garra, paixão, algo que vem do sofrimento. Era necessário se sacrificar, e toda a equipe está de parabéns.