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James Rodríguez: de coadjuvante a candidato a craque da Copa de 2014

Às vésperas de completar 23 anos, apoiador da Colômbia é o artilheiro do Mundial, com cinco gols

Talento. Camisa 10 da Colômbia, James Rodríguez é o artilheiro da Copa 2014, com cinco gols
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Marcelo Carnaval/28-06-2014
Talento. Camisa 10 da Colômbia, James Rodríguez é o artilheiro da Copa 2014, com cinco gols Foto: / Marcelo Carnaval/28-06-2014

RIO - A habilidade típica do futebol sul-americano aliada à competitividade forjada nos gramados argentinos, logo no início da carreira, e à disciplina tática adquirida na Europa, onde joga desde 2010, ajudam a moldar o estilo do jogador mais badalado da Copa do Mundo de 2014 até agora. Artilheiro isolado com cinco gols, tendo marcado nos quatro jogos disputados, sendo um deles considerado o mais bonito do torneio, e uma categoria que honra a camisa 10 que veste, o colombiano James Rodríguez se tornou, principalmente após o show nos 2 a 0 sobre o Uruguai, candidato real a craque do Mundial. E, obviamente, principal preocupação da seleção brasileira para o jogo de sexta-feira contra a Colômbia, no Castelão, pelas quartas de final.

- Da Colômbia, ele traz o talento inato. Na Argentina, ganhou personalidade, aprendeu a suportar golpes, usar o corpo, saber a hora de driblar, de chutar. E a Europa lhe deu a disciplina e o profissionalismo. Esta é a trinca que forma o seu futebol - opina o ex-treinador argentino Gustavo Alfaro, hoje comentarista de TV na Colômbia.

Alfaro ainda lembra da primeira vez que viu Rodríguez em ação na Argentina. Como técnico do Rosario Central, em 2008, sofreu com a perna esquerda do garoto colombiano, recém-contratado pelo Banfield.

- Ele marcou um golaço, muito parecido com o primeiro contra o Uruguai, uma canhotaça de fora da área. No fim, o Banfield nos venceu por 3 a 1 - conta Alfaro.

Nascido em Ibagué, próximo a Cúcuta, no Norte colombiano, James David Rodríguez Rubio é o que se pode chamar de talento precoce. Começou a carreira no pequeno Envigado, da segunda divisão, e aos 16 anos ajudou o time a conquistar o título e o acesso à Série A. Mas os gramados colombianos não veriam por muito tempo seu futebol. Aos 17, se transferiu para o Banfield, da Argentina, seguindo os passos do atual ídolo da Colômbia, Radamel Falcao García, que também trocou o país pelo futebol argentino muito cedo, aos 19 anos, quando assinou com o River Plate.

No Banfield, Rodríguez mais uma vez fez história, contribuindo decisivamente para o clube ganhar o inédito título argentino, com a conquista do Apertura de 2009. Não demorou para a Europa abrir o olho para o talentoso meia, que cruzou o Atlântico em 2010, rumo ao Porto, para jogar ao lado de Falcao García e de outro futuro colega de seleção, o meia Freddy Guarín, reserva na atual equipe do técnico José Pekerman.

Em três temporadas no Porto, foi tricampeão português, ganhou uma Taça de Portugal e a Liga Europa de 2011, ano em que foi convocado pela primeira vez para a seleção colombiana. Em 2013, voltou a formar dupla com Falcao García no Monaco, que abriu o cofre e pagou 45 milhões de euros ao clube português, na época a segunda maior transferência do futebol do país.

Pela Colômbia, já são 26 convocações e dez gols, metade deles na Copa 2014, onde chegou como coadjuvante e surpreendeu o mundo com suas atuações nos quatro primeiros jogos. Os colombianos também ficaram admirados com uma característica que ainda não conheciam: a maturidade. Afinal, com o corte de Falcao García, a poucos dias do início do Mundial, o jovem apoiador se tornou a principal referência da equipe. E não decepcionou.

- James era a carta escondida que a Colômbia tinha na manga. Ele foi muito jovem para a Europa, e ajudou a mudar a mentalidade do futebol colombiano, junto com essa nova geração. Hoje, os jogadores se cuidam mais, sabem o que é bom e o que é ruim. Antes, não vou falar nomes, havia jogadores que saíam depois de um jogo para a noite, era tudo mais amador. Acho que uma nova era do futebol colombiano nasceu no Maracanã (com a vitória sobre o Uruguai), apagando aquela história da geração da décadas de 90 - acredita o radialista Carlos Aleman, da Rádio Caracol, de Bogotá.

- Na ausência de Falcao, ele assumiu a responsabilidade de liderar o time, e essa foi a grande surpresa para mim, porque ele só tem 22 anos. Quando não tem a bola, não fica caminhando mas corre para ajudar os colegas. Isso significa maturidade - observa Gustavo Alfaro.

Valderrama evita comparar gerações

Ídolo maior da primeira seleção colombiana a fazer a torcida sonhar alto, duas décadas atrás, Carlos Valderrama está no Brasil comentando a Copa do Mundo e prefere ver o time de José Pekerman como um novo capítulo de uma história iniciada pela equipe da década de 90, que chegou às oitavas de final do Mundial da Itália, em 1990, mas decepcionou nos Estados Unidos, quatro anos depois, eliminada na fase de grupos.

- Graças a Deus a Colômbia tem novos talentos que brilham por seu esforço e escrevem a continuação da história do futebol colombiano. Já é hora de deixar de comparações, a história se iniciou com um grupo de lutadores e continua com este grupo atual, que brilha por si só - escreveu no Twitter no ex-meia, que conserva ainda hoje, aos 52 anos, o bigode e os cabelos loiros encaracolados da época de jogador.

O argentino José Pekerman, que já dirigiu um jovem meia-atacante de talento fora do comum, Lionel Messi, em sua primeira Copa do Mundo, na Alemanha-2006, vê em James Rodríguez um futuro brilhante no futebol internacional.

- Nas minhas equipes, já tive jogadores de nível técnico extraordinário. Apostei muito no James, pois vi que ele tinha condições incríveis. O mais incrível é que, em sua idade, ele não tem dificuldade de lidar com essa responsabilidade. Estamos diante de um jogador que tem tudo para ser alguém de primeiro nível mundial, tanto para fazer os jogadores jogarem como para entender o que eu preciso para a equipe - afirmou o treinador da Colômbia na entrevista coletiva após o jogo contra o Uruguai.

Se até o início da Copa, James Rodríguez ainda tinha a seu favor a falta de expectativas, agora que ajudou a Colômbia a fazer a melhor campanha do país na competição e entrou no seleto grupo das estrelas do Mundial 2014, todo o país espera ansioso o jogo de sexta-feira, contra a seleção anfitriã, para conferir como o camisa 10 vai se comportar como protagonista. Uma pressão que Pekerman espera conseguir retirar dos ombros do seu camisa 10, dividindo a responsabilidade com toda a equipe.

- O jogador rende ao máximo quando o grupo funciona. Aqui, Cuadrado está fazendo uma Copa do Mundo de alto nível. Nossos atacantes e defensores estão muito bem. A Colômbia, como equipe, tem ótimo goleiro. Estamos num bom momento.