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Esportes Copa 2018

Análise: Apesar de ter ótimos jogadores, Croácia não tem um grande time

Seleção europeia chega à final da Copa como a equipe mais violenta do torneio
Seleção croata posa para foto antes da partida de semifinal contra a Inglaterra Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo
Seleção croata posa para foto antes da partida de semifinal contra a Inglaterra Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

Como tem em seu elenco jogadores de alto nível como Modric (Real Madrid), Rakitic (Barcelona), Mandzukic (Juventus) e Perisic (Inter de Milão), sem contar coadjuvantes talentosos como Rebic (Eintracht Frankfurt), Kovacic (Real Madrid), Strinic (Milan) e Brozovic (Inter de Milão), muitos confundem a Croácia com um grande time de futebol. As performances que levaram a seleção europeia à final do Mundial da Rússia, entretanto, apontam em outra direção.

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Há menos de um ano no cargo, o treinador Zlatko Dalic, cujo currículo conta com passagens por clubes de seu país e do "mundo árabe", tem um esquema tático claro (4-2-3-1), uma equipe titular definida e um padrão de jogo que preza pela estratégia do pragmatismo acima de tudo. A única exceção foi na vitória por 3 a 0 contra a Argentina, que entrou em colapso após a falha grosseira de Caballero no primeiro gol croata. Logo, um dos times mais bagunçados da história da alviceleste não serve como parâmetro. E isso foi provado nas outras partidas do escrete europeu.

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Na estreia, contra a Nigéria, num dos jogos mais entediantes e tecnicamente pobres de uma Copa do Mundo que sofreu com a baixa qualidade dos espetáculos , a Croácia abriu o placar num gol contra de Etebo, aos 32 do primeiro tempo. Até marcar o segundo, a 19 minutos do fim, num pênalti infantil cometido por Ekong, os croatas seguraram o placar, abriram mão de atacar e se fecheram na defesa. Não importava um futebol vistoso para impor o jogo e construir o placar através de sua clara superioridade técnica. Apenas o resultado final importava.

Coisa parecida ocorreu na vitória por 2 a 1 contra os islandeses, outra equipe infinitamente inferior. A seleção croata — escalada quase toda com atletas reservas, é justo ressaltar — abriu o placar e então resolveu estacionar o ônibus em frente à meta do goleiro Subasic. Famosa por sua retranca implacável, a Islândia empatou e agrediu até o fim, dando quatro finalizações a mais que seu adversário, e sofrendo o gol da derrota apenas aos 45 minutos do segundo tempo. Novamente, a Croácia vencia. Mas não convencia.

E essa foi a toada de seus jogos nas oitavas de final, contra a Dinamarca, e nas quartas, diante da Rússia, nas quais os croatas foram superados por adversários muito mais fracos, não tomaram as rédeas dos jogos, como se esperaria de um time de qualidade superior, e venceram ambos os confrontos na disputa por pênaltis. Apenas no segundo tempo contra a Inglaterra os croatas apresentaram um futebol mais contundente. Mesmo assim, ainda é muito pouco para um finalista de Copa do Mundo.

QUESTÃO DISCIPLINAR

É claro que a Croácia foi favorecida por uma chave fácil na fase eliminatória. E vale lembrar que nenhuma equipe assumiu com afinco essa busca pelo protagonismo das ações dentro de campo nesta Copa, fora o Brasil e a Bélgica em seus melhores porém esparsos momentos. Contra a Inglaterra, na semifinal, o time de Dalic triunfou mais pela força de vontade do que pelo domínio técnico. E ainda contou com a falta de pontaria de Lingard e de Kane, que perderam chances claríssimas de ampliar o placar ainda no primeiro tempo.

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Além de não conseguir formar um coletivo coeso e reluzente a partir de seus jogadores de primeiro escalão no cenário europeu, a Croácia tem outro dado negativo nesta Copa: é o time mais violento e faltoso do torneio, com 101 faltas em seis jogos (média de 16,8 por partida) e 14 cartões amarelos. Sua adversária na final do próximo domingo, a França, que enfrentou equipes muito mais difíceis na fase de mata-mata (Argentina, Uruguai e Bélgica), tem 22 faltas a menos. A Inglaterra, que perdeu na prorrogação para os croatas, comprovou nos números disciplinares que definitivamente busca mudar seu estilo de jogo: foram apenas 67 faltas e seis cartões amarelos em sua trajetória no torneio.

Como o futebol é uma das metáforas mais perfeitas para as vicissitudes da vida, e a experiência humana não preza exatamente pela justiça, poderemos ter um novo campeão mundial neste ano. Caso a Croácia leve a taça para casa, porém, não será um dia para ser celebrado por quem admira um futebol limpo, dinâmico, inventivo, prazeroso de ser assitido e bem jogado. Mas será a vitória de um time que é a cara de uma Copa pobre tecnicamente e rica em pragmatismo.