O relógio marcava sete minutos do primeiro tempo quando o zagueiro John Stones, de cabeça, fez o primeiro gol da Inglaterra contra o Panamá, em jogo pela segunda rodada da fase de grupos. Narrando a partida pela Globo, Cléber Machado comenta que "alguém largou Stones sozinho", mas a jogada que originou o gol inglês é mais complexa do que parece. Comemorando de maneira contida no banco, o treinador Gareth Southgate sabe bem disso. Seus jogadores haviam acabado de executar uma jogada ensaiada inspirada em movimentações de basquete. Na Copa da Rússia, a Inglaterra, que enfrenta a Colômbia, nesta terça, pelas oitavas de final, já fez seis gols de bola parada, mais do que qualquer outra seleção.
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Quando esteve nos Estados Unidos, em fevereiro, Gareth Southgate sentou na primeira fileira de uma partida da NBA entre New Orlean Pelicans e Minnesota Timberwolves. Acreditando que poderia levar alguns conceitos do basquete para o futebol, ele estava interessado em observar como os times construiam espaço para chegar até a cesta. No lance contra o Panamá, os jogadores ingleses reproduziram movimentações comuns do basquete para permitir que Stones fizesse o gol.
Enquanto Trippier se ajeitava para cobrar o escanteio do lado direito do campo de ataque, Stones se posicionava na meia lua da grande área e era acompanhado de perto por Murillo. Ashley Young se aproxima e, com seu corpo, faz uma barreira impedindo o panamenho de acompanhar Stones. Ao mesmo tempo, Henderson e Sterling, que estavam no meio da área, começam a se movimentar em direções opostas, atraindo a marcação e abrindo espaço. O resultado é Stones sozinho na marca do pênalti para fazer de cabeça o primeiro gol inglês daquele jogo.
- Nós somos uma ameça na bola parada. Identificamos que seria interessante ter essa arma e melhoramos bastante nesse sentido - comentou Southgate após o jogo contra o Panamá, que terminou com um sonoro 6 a 1 a favor dos europeus.
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A Inglaterra fez oito gols na primeira fase da Copa do Mundo. Dos seis que vieram de bolas paradas, dois foram de pênalti, três de escanteio e um após cobrança de falta, o quarto contra o Panamá, em uma jogada ensaiada clássica. Deixando os pênaltis de lado e tendo como comparação a própria Inglaterra, os ingleses tiveram os mesmo quatro gols originados em escanteios ou faltas nas últimas três Copas do Mundo somadas.
-Estamos trabalhando muito nas bolas paradas e ver as jogadas acontecendo nos jogos depois de tanto treino é muito satisfatório- diz o meia inglês Ruben Loftus-Cheek.
O principal foco de interesse de Southgate ao observar o basquete é a jogada conhecida como "Pick and Roll".
Resumidamente, o Pick and Roll no basquete é uma jogada de ataque em que um companheiro de time faz um bloqueio no adversário que estiver marcando o jogador que está com a bola, para ajudar a criar espaço para se avançar em direção a cesta. As variações são infinias, mas a ideia mais simples é que o jogador que está inicialmente com a bola ataque a cesta ou o que ele passe a bola para o atleta que fez o bloqueio. Se a jogada é bem executada, um dos dois geralmente está em boas condições para arremessar. Paralelamente, os outros três jogadores se afastam do garrafão, para criar espaço a dupla que está executando o pick and roll. A lógica é a mesma que vem sendo usada pela equipe inglesa nas bolas paradas.
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Sócio minoritário do Minnesota Timberwolves, Ben Grossman acompanhou Southgate no jogo contra o Pelicans que eles foram assistir e, segundo ele, o treinador inglês se demonstrou muito interessado.
- Ele passou a noite inteira fazendo perguntas. Dava para perceber que ele estava trabalhando. Aquele dia eu fui embora para casa com a sensação que a Inglaterra iria muito bem na Copa do Mundo - contou Grossman, em entrevista ao Wall Street Journal, dos Estados Unidos, sobre a visita de Southgate a NBA.
Gareth Southgate tem 47 anos e chegou a seleção inglesa em 2016 depois de treinar o Middlesbrough e a seleção sub-20 da Inglaterra.