Esportes Copa 2018

Fora da Copa do Mundo, Holanda adota a seleção do Marrocos

Leões do Atlas têm cinco jogadores nascidos no país europeu
Hakim Ziyech: astro da seleção do Marrocos foi criticado por Marco van Basten por preterir a Holanda Foto: DENIS BALIBOUSE / REUTERS
Hakim Ziyech: astro da seleção do Marrocos foi criticado por Marco van Basten por preterir a Holanda Foto: DENIS BALIBOUSE / REUTERS

O fracasso nas eliminatórias europeias teve contornos de vexame para a Holanda, que não se classificou para esta edição da Copa do Mundo. A histórica camisa laranja até ficará no fundo do guarda-roupas, mas não será desta vez que os holandeses deixarão o Mundial de lado. O país estará representado por sete jogadores que nasceram em seu território, mas atuarão por outros países. Cinco deles defenderão a seleção do Marrocos, de volta à competição após 20 anos, e recebem atenção especial do público local. Os outros dois atuam pela Nigéria.

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A colônia marroquina na Holanda é grande: conta com cerca de 400 mil habitantes. Em Mundiais anteriores, essa identificação abasteceu a seleção europeia com talentos como o meia Ibrahim Afellay e o lateral-direito Khalid Boulahrouz. Desta vez, o movimento na ponte aérea Rabat-Amsterdã é intenso no sentido oposto, com nomes que não se restringem ao papel de coadjuvantes. Destaque do Ajax, o meia Hakim Ziyech marcou nove gols e contribuiu com 15 assistências em 34 partidas, números que o fizeram ser eleito o melhor jogador do Campeonato Holandês da última temporada pela revista “Voetbal Primeur”, principal título esportivo do país.

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A decisão da principal estrela dos Leões do Atlas, que teria lugar na seleção europeia sem grandes dificuldades, despertou a ira do ex-atacante Marco van Basten quando foi tomada, em 2016. “O quão estúpido você pode ser de escolher o Marrocos se está na disputa por uma vaga na seleção holandesa?”, criticou a lenda, sem prever o que aconteceria nas eliminatórias nos meses seguintes.

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Dois dos outros quatro marroquinos nascidos na Holanda fazem parte da mesma família: os irmãos Ambarat. O meio-campo Nordin, mais velho, com 31 anos, defende o Leganés, da Espanha, é símbolo da raça que a seleção pretende apresentar nos gramados russos. O estilo de jogo do primogênito inspira Sofyan, de 21, jogador do Feyenoord. É o mesmo clube do meia Karim El-Ahmadi. Outro convocado, o meia Mbark Boussoufa atua no saudita Al-Jazira.

O quinteto tem feito a imprensa holandesa se desdobrar na cobertura dos movimentos da seleção do país africano. O ritmo é acompanhado ativamente pela audiência: no Google Trends, plataforma que monitora o comportamento dos internautas em buscas relativas ao Mundial, a seleção marroquina é a mais procurada pelos holandeses.

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As antigas colônias do país europeu são, historicamente, responsáveis pela diversidade étnica da seleção, mas o bom desempenho dos jogadores marroquinos nascidos no país pode, além de acalmar as tensões, representar o resgate da autoestima da colônia, abalada pelo crescimento da xenofobia e da islamofobia no país. Os temas são verbalizados principalmente pelo deputado Geert Wilders, da extrema direita, derrotada na eleição parlamentar de março do ano passado, depois de liderar boa parte das pesquisas durante a campanha, quando chegou a qualificar o grupo como “escória marroquina” e prometeu expulsá-lo do país para “devolvê-lo ao povo holandês”.

Desta vez, a diversidade da seleção é outro ponto que une as torcidas de Holanda e Marrocos. Um desavisado que se deparasse com a lista marroquina poderia crer que o país, e não a Holanda, foi responsável por manter um grande império colonial no passado. Nela, o surpreendente número de holandeses sequer representa a maior procedência: há ainda nove atletas nascidos na França,além do técnico Hervé Renard, dois espanhóis, um canadense e um belga.