No Panamá, desde a inédita classificação para a Copa do Mundo vigorava um consenso: o jogador mais experimentado da seleção seria também o mais exigido. E não se tratava de buscar justiça em uma nova dimensão da divisão internacional do trabalho. Aos 36 anos, Jaime Penedo é o atleta que mais vezes atuou pela seleção, com 131 convocações. Mas o líder da estreante em Mundiais seria muito demandado ainda que fosse um punhado de anos mais jovem: é o goleiro de um time envelhecido, recheado de coadjuvantes de clubes secundários da periferia do futebol global.
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Na relação de convocados do técnico colombiano Hernan Dario Gómez, o nome do Dínamo de Bucareste, clube pelo qual atua Penedo, destoa tanto dos demais que parece uma potência europeia. Antes de chegar à Romênia, o camisa 1, de 1,86m, passou pelo time B do Osasuña e despertou o interesse do italiano Cagliari, por onde teve breve passagem, além de ter atuado pelo Los Angeles Galaxy, dos EUA. A combinação entre sua liderança e a pouca qualidade técnica dos companheiros provoca comparações frequentes com um goleiro mais famoso: Keylor Navas, da vizinha Costa Rica.
Durante a preparação panamenha, Gómez modificou o esquema tático: abandonou o 4-4-2 da classificação e aderiu ao 4-5-1. A alteração deixou o time menos exposto. Mas, sem saber o que fazer com a bola, só cumpre metade do trabalho defensivo. A classificação inédita, com contornos de façanha, atraiu os olhares da população, apaixonada por beisebol e boxe. O nível dos adversários do Grupo B, formado pelas favoritas Inglaterra e Bélgica, além da Tunísia, não o assusta.
"Eu não tenho medo. Na verdade, isso me motiva. Eu sempre sonhei em jogar contra Inglaterra, Alemanha, França, Espanha e Brasil. São rivais contra quem nós sempre sonhamos jogar quando criança. Então, agora que cheguei à Copa do Mundo, como não vou curtir isso"? afirmou em entrevista ao The Guardian, da Inglaterra.
O sorteio foi cruel com os estreantes deste Mundial. A equipe já sofreu nove gols até agora. Na estreia, contra a Bélgica, o goleiro teve boa atuação na primeira etapa e ajudou o time, pressionado, a passar os primeiros minutos sem sofrer gol. Não resistiu na segunda etapa, quando foi vazado três vezes na derrota por 3 a 0. Contra a Inglaterra, não viu a cor da bola no primeiro tempo, quando sofreu cinco gols graças a uma atuação desastrosa de seus companheiros, que fazem dele o mais vazado do Mundial até o momento. No segundo tempo, passou mais um, ampliando a conta para nove, no jogo em que o Panamá foi goleado por 6 a 1. Entra para a história pela porta dos fundos, mas é vítima, não vilão.