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‘Hermanos’ gêmeos, as semelhanças entre Brasil e Argentina na Copa

Do gol ao centroavante, seleções apresentam problemas semelhantes
Messi e Fernando Gago sorriem no treino argentino em Belo Horizonte Foto: Victor R. Caivano / AP
Messi e Fernando Gago sorriem no treino argentino em Belo Horizonte Foto: Victor R. Caivano / AP

BELO HORIZONTE — Virou hit na internet o vídeo em que uma criança argentina rejeita sua própria seleção e afirma que os brasileiros é que são "buenismos". Bem que gostaríamos, mas a verdade é que os dois países fazem uma Copa muito parecida: abaixo das expectativas. As coincidências vão muito além dos fatos dos dois times terem chegado às quartas de final sem apresentar o esperado bom futebol e, ainda assim, serem apontados por muitos como favoritos ao título. Do goleiro ao centroavante, são muitas as características que colocam lado a lado Brasil e Argentina.

Antes de chegar a Messi e Neymar, as coincidências começam já no gol. Sergio "Chiquito" Romero e Júlio César estão em sua segunda Copa do Mundo como titular. Os dois chegaram contestados pelo fracasso recente na Europa. Na última temporada, o argentino foi reserva do Monaco. Já o brasileiro, que viveu grande fase na Internazionale, da Itália, no passado, passou pela mesma experiência de "Chiquito" ao amargurar o banco do Queens Park Rangers, na segunda divisão da Inglaterra. A solução de Júlio César foi transferir-se para o canadense Torono FC, que atua na MLS. Na atual edição da Copa, no entanto, não deixam motivos para reclamação. O primeiro fez defesas importantes, especialmente nas vitórias magras contra Irã e Suíça. Já o camisa 12 do Brasil defendeu dois pênaltis chilenos na classificação para as quartas de final.

O sistema defensivo não é tão parecido, mas há uma coincidência nas estatísticas. As duas seleções levaram três gols em quatro jogos neste Mundial. No ataque, o Brasil balançou a rede adversária uma vez mais do que os "hermanos": oito contra sete, mas foram os argentinos que venceram todas as suas partidas (a última com ajuda da prorrogação), enquanto a seleção de Felipão venceu duas e empatou outras duas.

Avançando mais um pouco, o meio-campo é talvez peça chave da campanha pouco animadora das duas principais forças do futebol sul-americano. No Brasil, o setor é considerado pouco criativo. Com Hulk e Oscar pelas pontas e Luís Gustavo (que, suspenso, não pega a Colômbia) e Fernandinho mais preocupados com a defesa, não há quem organize as jogadas de ataque.

Na Argentina, Mascherano é elogiado por seu comportamento como um líder e também pelos lançamentos, mas está longe de ser um jogador que organiza o meio-campo. Ao lado dele, Fernando Gago parece ser incapaz de realizar a tarefa, assim como Maxi Rodríguez, que foi titular contra a Bósnia, mas perdeu a posição. O meia Di María não tem correspondido às expectativas depois de uma temporada brilhante no Real Madrid, da Espanha, coroada com o título da Liga dos Campeões. Ele foi o autor do gol da vitória sobre a Suíça, que classificou a Argentina para as quartas, mas joga pelo lado esquerdo do ataque e a armação das jogadas nem sempre passa por ali.

O buraco no meio-campo das duas seleções traz críticas aos treinadores Luiz Felipe Scolari e Alejandro Sabella, em especial por não terem confiança em alternativas. Durante a competição, será difícil alterar o quadro. Depois da classificação contra o Chile, no sábado, Felipão chegou a treinar nesta quarta-feira um escalação com Neymar como "falso 9". O próximo jogo, no entanto, já é nesta sexta-feira. Com pouto tempo, a solução deve ser manter a estrutura tática nesta sexta-feira, contra a Colômbia, no Castelão.

FERNÁNDEZ, GAGO E LAVEZZI DEVEM SAIR

Na Argentina, Sabella bem que tentou mudar o time contra a Bósnia, quando escalou três zagueiros e desfez o trio de ataque. A ideia não agradou Messi e, desde então, ele tem optado pelo 4-3-3. Assim como no Brasil, há especulação pela saída de jogadores, como Fernández, Gago e Lavezzi. A Argentina, no entanto, teve ainda menos tempo para treinar. Depois de passar pela Suíça na terça-feira, já volta a jogar no sábado, contra a Bélgica, no Mané Garrincha. Nos últimos dois dias, os titulares não fizeram treinos táticos. Cansados, a solução foi comandar atividades físicas leves.

O técnico argentino Alejandro Sabella durante treino na Cidade do Galo Foto: JUAN MABROMATA / AFP
O técnico argentino Alejandro Sabella durante treino na Cidade do Galo Foto: JUAN MABROMATA / AFP

Só então chegamos a Neymar e Messi. Não bastasse os dois serem jogadores do Barcelona e vestirem as camisas 10 de suas seleções, eles são vice-artilheiros da competição, com quatro gols marcados neste Mundial. Estão empatados até no número de chutes a gol: 15 cada. Ambos, graças ao esquema tático ainda longe do ideal de suas equipes, têm se desdobrado em campo. Por isso, não é surpresa quando há criticas de que Neymar e Messi estão longe da meta adversária.

Por fim, o centroavante é um problema dos dois times. Camisas 9 de suas seleções, Fred e Higuaín estão longe do auge de suas carreiras. Apenas o brasileiro balançou as redes, na partida contra Camarões, muito embora seja até mais criticado do que o “Pipita”. Um número deixa claro como os centroavantes estão longe da expectativas. Os dois chutaram menos a gol do que Neymar e Messi. Fred arriscou nove arremates para o gol em quatro jogos do Mundial, enquanto Higuaín tentou sete chutes ao gol rival.

Problemas à parte, os dois estão levando adiante o sonho de mais um título Mundial mesmo longe mostrarem um futebol “buenisimo”. Se tudo der certo, até o encontro em 13 de junho, no Maracanã.