Marcelo Barreto
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Marcelo Barreto

Por Marcelo Barreto — Rio de Janeiro

É um desafio escrever uma coluna em homenagem a um só jogador do Flamengo. O risco de cometer uma injustiça é gigante, num time que tem tanto talento reunido. Mas hoje não tem jeito: precisamos falar do Gabigol.

Não só pelo gol, o único de uma vitória difícil sobre o Athletico na final da Libertadores. É também pelos outros 28, que fazem dele o maior artilheiro brasileiro na história da competição, ao lado de Luizão. E pelo fato de quatro deles terem sido marcados em três partidas decisivas, como a de ontem. Se o Flamengo entra em campo em busca da glória eterna, pode levantar o cartaz: hoje tem gol do Gabigol.

Mas também não é só por ser artilheiro e decisivo. Gabigol dá a esse time do Flamengo algo que não se via desde a igualmente vitoriosa geração dos anos 80: continuidade. Assim como os torcedores daquela década inesquecível viram Zico, Júnior, Leandro e outros heróis conquistando títulos ano após ano, os rubro-negros de hoje compartilham essa nova era vencedora com seu maior ídolo, mostrando o muque ao lado de Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Filipe Luís.

Houve mudanças, claro. Do time de 2019, Rafinha, Pablo Marí, Willian Arão e Gerson já foram embora. Mas chegaram outros de nível igual ou superior, dos quais o melhor exemplo talvez seja Pedro, artilheiro e eleito o melhor jogador da Libertadores de 2022. É ele quem deve ir à Copa do Mundo, e ontem Éverton Ribeiro jogou mais uma vez como quem merece ser convocado. Cada um tem seu momento, mas final é com o Gabigol.

Em Guaiaquil, havia outros candidatos a assumir o posto – senão de herói, ao menos de grande personagem da partida. Fernandinho retornava a uma final de Libertadores 18 anos depois, pelo mesmo Athletico que o revelou para uma brilhante carreira internacional. Como ele, mas do outro lado, David Luiz representava os sobreviventes do 7 a 1. E o treinador daquela seleção estava à beira do campo, com seus mistérios e seu incrível currículo na competição.

Felipão armou uma surpresa para a final: em vez de montar uma linha de cinco jogadores na defesa, compactada com outra de quatro volantes à frente (ou parar o ônibus em frente da área, como se diz na linguagem do futebol), destacou seus defensores para correr atrás dos jogadores do Flamengo por todo o campo (cada um no seu!, como se grita nas peladas). Havia o risco do desgaste, num jogo disputado sob o sol das três da tarde. Mas antes dele vieram as faltas, três para cartão, duas de Pedro Henrique – estava aberto o espaço que o Flamengo já começara a construir, com Éverton Ribeiro e Arrascaeta arrastando seus marcadores para os lados do campo. E o gol saiu justamente no momento em que o treinador do Athletico hesitava para fazer a substituição e recompor a zaga.

Dorival Júnior reagiu à vantagem pedindo o que costuma pedir a seus jogadores: que trocassem passes curtos e mudassem de posição, dessa vez para cansar os adversários. Mas quem acabou sofrendo fisicamente foi o Flamengo. Depois que Gabigol (ele de novo) perdeu a melhor chance do segundo tempo, o ritmo foi caindo aos poucos e o fim do jogo foi sofrido – embora não tanto quanto a decisão da Copa do Brasil. Mas o suspense era só pelo apito final. O personagem da partida, àquela altura, já estava mais do que escolhido.

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