Esportes Olimpíadas 2012

Adriana Araújo vence cazaque e avança no boxe feminino

Érica Matos caiu para Karlha Gargliocco por um ponto
Adriana Araújo comemora sua vitória em Londres Foto: AFP
Adriana Araújo comemora sua vitória em Londres Foto: AFP

LONDRES - Com sua mão forte e sentindo-se protegida pela providência divina, a boxeadora Adriana Araújo fez história, em Londres, ao se tornar a primeira brasileira a ganhar uma luta feminina de boxe. Com uma vantagem de dois pontos, por 16 a 14, no Complexo Excel, ela superou Saida Khassenova, do Cazaquistão, e agora, precisa de mais uma vitória, para entrar na semifinal e garantir ao menos um bronze no peso leve. Também na mesma programação, as brasileiras Érica Matos (peso mosca) e Roseli Feitosa (peso médio) foram eliminadas. No masculino, Robenílson Vieira de Jesus perdeu para o cubano Lazaro Alvarez Estrada por pontos (16 a 11), pelas quartas de final do peso galo, e está eliminado dos Jogos.

Vivendo um grande dia, Adriana respondeu sobre qual o sonho nos Jogos da capital britânica:

- Meu sonho? Um já conquistei, o de estar aqui. O outro, Deus está providenciando.

Este segundo sonho poderá ficar mais perto de se tornar realidade nesta segunda-feira, quando Adriana voltará ao ringue para enfrentar Mahjouba Oubtil do Marrocos, que ficou de bye na primeira fase. Se vencer, a brasileira estará na semifinal, e mesmo que perca, quarta-feira, será bronze, já que não há disputa de terceiro lugar no boxe olímpico. Se ganhar, vai disputar o ouro na final, quinta-feira. Mas o técnico Cláudio Márcio Ayres da Silva, da comissão técnica da equipe brasileira de boxe, admitiu que a brasileira terá pela frente uma adversária sobre a qual a comissão técnica tem poucas informações.

- É uma marroquina, mas não sei se é a mesma que ela já lutou e venceu no Mundial do Cazaquistão. Mas, de qualquer forma, as adversárias não estão aqui por acaso, e temos de respeitá-las - afirmou ele. - É difícil conseguirmos informações sobre a marroquina de hoje para amanhã. As melhores informações, vamos ter no primeiro round da luta. Tenho certeza de que ele hoje ela deve ter estado aqui para observar a Adriana.

De acordo com o treinador, a atleta vem treinando com o mesmo empenho e tem um estilo de boxe com muita força:

- Ela é muito forte, tem o estilo de pegadora, e é uma atleta muito atenta e que ouve o que a comissão técnica lhe diz.

Natural de Salvador, Adriana já é uma vitoriosa. Ela, que chegara a tentar a sorte no futebol, escolheu o boxe e tem dado certo na modalidade. Já participou do Mundial da China, este ano, quando foi superada nas quartas de final pela russa Sofya Ochigava:

- Estou tranquila aqui. Não estou com este foco de me considerar favorita. Sou surpresa. Favoritas, todos sabem, são a Sofya Ochigava e a Katie Taylor (irlandesa). Vim como surpresa.

Aos 31 anos, Adriana quer ser surpresa, mas já mostrou que é forte. Que o diga a cazaque Khassenova, que sofreu com os golpes da baiana.

- Graças a Deus, eu tenho a mão forte e soube usar isso contra ela - disse Adriana.

Sobre o fato de ter sido a primeira brasileira a ter vencido uma luta feminina de boxe, a atleta encarou isso com simplicidade.

- Poderia ter começado pela Érica Matos (da categoria até 51kg, derrotada pela venezuelana Karlha Magliocco), mas, infelizmente, os árbitros tiraram pontos dela. Eu venci, mas é como se fôssemos eu, a Érica, a Roseli Feitosa (que lutaria depois). Comn certeza, estar nas Olimpíadas é o sonho de todo atleta - declarou. - Foi uma luta difícil. São as Olimpíadas, todo mundo vem para vencer, vem para conquistar. Nenhuma luta vai ser fácil para mim, e eu também não serei fácil para elas.

Se a primeira vitória foi de Adriana, a honra de ter feito a primeira luta feminina de boxe da história olímpica do Brasil é da baiana Érica Matos. Mas a atleta de Salvador acabou derrotada pela venezuelana Karlha Magliocco, por 15 pontos a 14. Depois do confronto, válido pela categoria entre 48kg e 51kg, Érica falou com esperança no futuro de sua modalidade no país.

- O que o boxe mais precisa no Brasil, no feminino, é de reconhecimento - afirmou, antes de responder se ainda há muito preconceito. - Sim, o preconceito existe ainda.

Érica luta desde 2005, e para ela foi uma grande conquista participar deste que está sendo o primeiro torneio olímpico feminino de boxe da história.

- Isto é importanter para o boxe no feminino, e tudo que eu fiz não foi para mim, mas para quem vai vir depois de mim - afirmou ela, que no último Mundial, na China, ficou enttre as 12 melhores e foi uma das três melhores das Américas. - Dou graças a Deus e acredito que a nova geração pode se espelhar em nós. Espero que nos Jogos de 2016 haja mais meninas lutando.

Agora, já eliminada, ela irá cuidar um pouco mais da vida pessoal, que segundo ela, foi deixada um pouco de lado. Ano passado, o também boxeador Robson Conceição - que nestes Jogos de Londres, foi eliminado na primeira luta - a pediu em casamento.

- Nós temos nos visto pouco e falado pelo MSN - contou ela, sem saber se haverá alguma surpresa quando de sua volta ao Brasil. - Não sei. Ele é um pouco inconstante - brincou.

Campeã mundial em Barbados, em 2010, Roseli Feitosa perdeu para a chinesa Jinzi Li por 19 a 14, na categoria até 75kg e está eliminada da competição.

- A Adriana, graças a Deus, conseguiu vencer, e o boxe só tem a crescer no Brasil, no feminino. Com apoio da Petrobras, classificamos dez categorias para Londres, e o nosso esporte tem a crescer para a Rio-2016, ainda mais que será na nossa casa - afirmou. - Não deu para obter o resultado esperado, mas estou feliz por ter dado o máximo de mim.