Decepção brasileira, consagração jamaicana e voo no triplo.

Revezamento 4x100m feminino

Parecia que daria certo! Última chance. Penúltima prova do Mundial. Após um excelente 42.29 na semifinal, novo recorde sul-americano, a equipe formada por Evelyn dos Santos, Ana Cláudia Silva, Franciela Krasucki e Rosângela Santos chegaria na final com grandes chances de medalha, com o 4º tempo das eliminatórias, apenas atrás de Jamaica, Estados Unidos e França. Um duelo pelo bronze com as francesas era o mais provável.

Na final, uma mudança. Sai Rosângela e entra Vanda Gomes. Os motivos ainda não eram entendidos, mas se foi feito, era o melhor no momento. E o Brasil larga muito bem, com 2 passagens quase perfeitas do bastão. A Jamaica dispara e nem as americanas seriam páreo para as caribenhas. Na 2ª passagem americana, Alexandria Anderson e English Gardner se embananam e perdem muito tempo. Franciela dispara e o Brasil aparece em 2º, apenas atrás da Jamaica. Já se sentia a medalha de prata.

Na última passagem, Franciela passa para Vanda, que não segura direito, e o bastão cai no chão. Com Shelly-Ann Fraser-Pryce e seu cabelo rosa disparado na frente e uma briga entre Estados Unidos e França pelo 2º lugar, vencida pelas americanas, Franciela e Vanda olham sem entender o que aconteceu.

Com 41.29, a Jamaica vence, Fraser-Pryce leva seu 3º ouro em Moscou e estabelecem o novo recorde do campeonato. As americanas levam a prata com 42.75, as francesas são desclassificadas por passarem o bastão fora da área de passagem e as britânicas ficam com o bronze com 42.87. E o Brasil volta para casa sem medalha pela quinta vez em Mundiais de Atletismo. Ainda sem entender direito o porquê da troca de atletas, a falha e o desabafo de Vanda após a prova.

Revezamento 4x100m masculino

Nunca a Jamaica precisou tanto de Usain Bolt. Após ficarem em segundo na sua semifinal com apenas o 4º tempo, sem o ídolo, a Jamaica fez um grande duelo lado a lado com a equipe americana durante os 300m iniciais da final. Na última passagem, os americanos vinham na frente, mas Rakieem Salaam se atrapalha e Justin Gatlin quase perde o equilíbrio. E Bolt voa e abre vantagem. E ele não solta como faz nos 100m e nos 200m. Prova de equipe, não se solta, dá-se o seu máximo. E eles vencem com 37.36, melhor marca do ano no mundo, Bolt leva seu 3º ouro em Moscou e seu 8º na carreira (tem também 2 pratas), empatando em ouros com Carl Lewis (8-1-1) e Michael Johnson (8-0-0).

Lançamento de dardo feminino

Antes do início do 8° dia, a Rússia liderava o quadro de medalhas com 7 ouros contra 6 dos americanos. E nesta prova esperava-se que a Rússia abrisse, com Mariya Abakumova, que defendia o título mundial. Com 69,09m no seu primeiro lançamento na qualificação e 69,34m em prova na Espanha um mês antes, Abakumova chegou bem cotada. No primeiro lançamento, ela fez 65,09m, assumindo a liderança. Mas na segunda série, a alemã Christina Obergföll conseguiu 69,05m e ninguém mais alcaçou a alemã. Após duas pratas em mundiais, um bronze em Pequim e uma prata em Londres e duas pratas em europeus, Obergföll finalmente venceu um título importante. A prata foi para a australiana Kimberley Mickle, campeã mundial de menores em 2001 com 66,60m. Abakumova ficou com o bronze. Interessante que o seu marido Dmitry Tarabin também foi bronze no dardo.

Salto triplo masculino

Uau! É a melhor maneira de definir o último salto do francês Teddy Tamgho.

Mas antes dele, o cubano Pedro Pablo Pichardo atingiu 17,68m na segunda tentativa, pouco acima do primeiro salto de Tamgho com 17,65m. Na 3ª, o americano Will Claye fez seu melhor salto, com 17,52m, o que lhe levaria ao bronze. Na quarta série, Tamgho também fez 17,68m e empatou com o cubano, mas levava vantagem no critério de desempate, com um melhor segundo salto (17,65m contra 17,38m). Pichardo não conseguiu melhorar e terminou com a prata. Na 5ª série, Tamgho fez um mega salto, mas queimou por pouco. Já na sua última chance, o francês entrou para a história com a incrível marca de 18,04m! Foi o 3° maior salto da história, perdendo apenas para os 18,29m de Jonathan Edwards e 18,09m de Kenny Harrison. Tamgho, que é recordistam mundial indoor com 17,92m, foi o primeiro a saltar acima de 18m desde julho de 1998!

1.500m masculino

A prova começou de forma bem lenta, com os primeiros 400m a 59.68, parcial quase idêntica dos 400m seguintes. Depois, o queniano Asbel Kiprop, campeão olímpico em Pequim, simplesmente dominou o que restava da prova, correndo somente o necessário para vencer. Completou com 3:36.28, tempo que o deixaria em 5° na primeira semifinal. A prata foi para o americano Matthew Centrowitz com 3:36.78 e o bronze para o sul-africano Johan Cronje com 3:36.83. Outro queniano, Nixon Chepseba, liderou boa parte da prova, mas não aguentou no final e terminou em 4°.

800m feminino

Outra prova que a Rússia tinha tudo para vencer com Mariya Savinova, campeã olímpica em Londres, mas a prova correu bem parecida com os 1.500m masculino acima. A americana Alysia Montaño foi para a tática suicida. Ela disparou na primeira volta e se manteve bem na frente até os 600m, quando não aguentou mais e viu Savinova e a queniana Eunice Sum passarem, com Sum na liderança até vencer com 1:57.38, contra 1:57.80 de Savinova. A estratégia de Montaño foi tão ruim que sua compatriota Brenda Martinez a ultrapassou no finalzinho, terminando com 1:57.91 e levando o bronze, na frente de uma Montaño que desabou no chão após cruzar em quarto, chorando muito.

Resumão

E assim terminou a 14ª edição dos Mundiais de Atletismo. Usain Bolt e Shelly-Ann Fraser-Pryce levaram 3 ouros cada um, e Bolt se tornou o maior vencedor de mundiais da história. Foram 19 melhores marcas do ano, 3 recordes do torneio, mas nenhum recorde mundial. Mo Farah e LaShawn Merritt levaram 2 ouros.

A Rússia liderou o quadro de medalhas com 7 ouros, 4 pratas e 6 bronzes, seguidos dos Estados Unidos com 6 ouros, 14 pratas e 5 bronzes, excelentes 25 medalhas no total, pior que as 29 de Londres. 18 países venceram medalhas de ouro e 38 medalharam. As mulheres americanas que ficaram devendo títulos. Foram apenas 2 ouros (salto em distância e 100m com barreiras) em Moscou contra 6 dos Jogos de Londres.

O Brasil não levou medalhas, mas somou 2 quintos lugares, 2 sextos, 2 sétimos e 1 oitavo, além de um 11° no salto com vara masculino e da final do 4x100m feminino. Um desempenho fraco, mas já esperado. O país chegou com 3 boas chances de medalhas, com a Fabiana Murer, Mauro Vinicius e o 4x100m feminino. As boas notícias foram a ótima performance de Anderson Henriques nos 400m e a excelente prova de Carlos Chinin no decatlo.

O Brasil fica sem medalhas pela 5ª vez, como ocorreu em 1993, 2001, 2005 e 2009, todos anos pós Olimpíadas. O que não pode mais acontecer é o que já vem ocorrendo há algum tempo: os brasileiros vão bem no Trofeu Brasil, atingem o índice para o Mundial ou Jogos Olímpicos, batem recordes e quando chega na hora do “vamos-ver”, vão mal. Como explicar a péssima performance de Thiago Braz no salto com vara, piorando 43cm, de Jucilene de Lima no dardo, que piorou quase 7m, de Keila Costa no salto triplo, 76cm pior que seu recorde de junho? Algo muito errado na preparação, com os atletas atingindo seu auge mais de 1 mês antes do Mundial!

O próximo Mundial de Atletismo será em agosto de 2015, em Pequim, de volta ao maravilhoso Ninho de Pássaro.