TRADIÇÃO, TRISTEZAS E ESPERANÇAS NO BOXE BAIANO

Paulo Oliveira
4 min readAug 2, 2016

O nono lugar é o melhor resultado dos lutadores da Bahia nos Jogos

Robenilson Vieira de Jesus (de azul) perdeu luta nas quarta de finais, em Londres, Foto: Ivan Sekretarev

Alessandro, Cleiton Conceição, Edvaldo Badola, Everton, Jaime Sodré, Joílson, Luis Cláudio, Paulo Carvalho, Robenílson, Robson Donato e Sertão. Não é a escalação de um time de futebol, mas sim a relação dos 11 boxeadores baianos que disputaram Olimpíadas.

O primeiro a ser convocado foi Joílson Carolino de Santana, peso galo, nascido, em Salvador. Ele competiu em Seul 1988. Não ganhou medalha. Ex-funcionário do fórum de Salvador, tornou-se atleta, técnico e hoje é presidente da Federação Baiana de Boxe.

As melhores colocações obtidas pelos atletas da Bahia foram obtidas por Robenílson Vieira de Jesus, eliminado nas quartas de finais, em Londres (2012) e 9º lugar em Pequim (2008), mesma classificação de Éverton dos Santos Lopes, na Inglaterra. Na China, Éverton foi eliminado na primeira rodada.

Em 2011, Éverton foi campeão mundial amador, na categoria médio ligeiro, no Azerbaijão. Nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, Everton perdeu para o cubano Roniel Iglesias na semifinal e ficou com a medalha de bronze. No Rio, em 2007, ganhou a medalha de prata. Fez 205 lutas, perdeu 45. Hoje, pensa em criar um projeto de boxe para crianças.

Robenílson começou a praticar futebol nas categorias de base do Vitória. Trocou o rubro-negro pelo boxe, após a morte de seu pai. Aos 17 anos, conheceu Luiz Cláudio, irmão de Acelino “Popó”, que o convidou a lutar pela cidade de Botucatu (SP). Além da participação em duas Olimpíadas, foi bronze no Pan de Guadalajara (2011). Ele está classificado para disputar os Jogos do Rio, na categoria galo (até 56 kg).

Outro baiano classificado para a competição olímpica é Robson Donato da Conceição (peso leve até 60 kg), que participou dos Jogos de Pequim e Londres, onde não ganhou medalhas. No entanto, foi campeão mundial dos Jogos Militares, representando a Marinha, e prata no Pan de Guadalajara. Também integrou a equipe Itália Thunder Boxe Team, de Milão.

Robson foi criado no bairro de Boa Vista de São Caetano, em Salvador, onde vivia se metendo em brigas para seguir os passos do tio Roberto, valentão famoso na região e que gostava de arrumar confusão no carnaval.

Salvador também foi o berço dos seguintes boxeadores:

Alessandro de Matos, ex-pintor e ex-criador de estampas de camisetas, que competiu em Atenas (2004), na categoria meio-médio, e foi derrotado em sua primeira luta — no ano anterior, ganhou a medalha de prata no Pan de São Domingos.

Edvaldo “Badola” Gonzaga de Oliveira, único a vencer uma luta em Sydney. Depois da competição, “Badola” se profissionalizou. Lutou 10 vezes e parou. Hoje, é treinador de boxe de praticantes de MMA, no Rio de Janeiro.

Luiz Cláudio de Freitas, bronze no Pan de Havana, em 1991, e integrante da equipe brasileira nos Jogos de Barcelona. Atualmente, é treinador da academia Mão de Pedra, em Salvador.

Dois outros baianos de Cruz das Almas fizeram história no boxe, mesmo sem que a cidade tivesse boa estrutura para a prática do esporte:

Cleiton Conceição, que disputou os jogos de Sydney 2000, e perdeu no terceiro round para o americano Jeff Lacy. Como profissional, venceu 22 vezes, perdeu 9 e teve dois empates, segundo o site boxerec.com. Hoje é professor de boxe e trabalha numa loja de material esportivo.

Outro grande lutador cruz-almense foi Valdemir dos Santos Pereira, o “Sertão”, que entrava no ringue com chapéu de couro. Ele decidiu ser boxeador quando vendia picolé e foi roubado. O bandido também lhe deu uma surra. “Sertão” lutou em Sydney (2000). Venceu a primeira luta contra o australiano James Swan, mas foi derrotado em seguida pelo turco Ramazan Palyani.

No ano seguinte, Valdemir se profissionalizou e conquistou o título mundial dos penas pela Federação Mundial de Boxe. Cinco meses depois, na primeira defesa do cinturão, foi derrotado pelo americano Erick Aiken. Descobriu-se portador de hepatite C. Afastou-se das competições e voltou para Cruz das Almas, onde vive com uma aposentadoria de R$ 800.

Ipirá foi a outra cidade do interior baiano que produziu um atleta olímpico. Jaime Sodré de Lima foi a Moscou (1980). Nesta ocasião, a equipe brasileira treinou apenas um mês, no México, como preparação para a disputa. Jaime Sodré perdeu na primeira luta para o britânico, Anthony Willis, que foi medalha de bronze. Sodré era peso super-leve (63,5 kg).

Paulo Santos Carvalho, nascido em Salvador, em 1986, começou a lutar boxe, aos 18 anos, sem maiores pretensões. Participou de uma competição de estreantes e passou a treinar com regularidade. Chegou à seleção brasileira aos 21 anos. Participou do Pan do Rio, em 2007, e das Olimpíadas de Pequim, em 2008, Na China, Paulo venceu duas lutas — contra um marroquino e um ganense — e chegou às quartas de final. Foi derrotado pelo cubano Yampier Hernández.

A tradição da Bahia no boxe se mantém nos Jogos do Rio. Além dos dois baianos já citados, Joedson Teixeira, o Chocolate, meio-médio ligeiro de Salvador está classificado. No masculino, há ainda dois lutadores cariocas do Morro do Vidigal, um paraense e um paulista.

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