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Adaptação e volta por cima: Bruno Uvini revela como recuperou o seu melhor futebol no Twente

Zagueiro falou com exclusividade à Goal Brasil sobre os principais momentos da sua carreira e também sobre os planos para o futuro. Confira!

27/02/2016 09:00

 Bruno Uvini foi eleito o melhor em campo no últimos sábado (Foto: Divulgação)

Bruno não esconde a empolgação de poder jogar e fazer o que gosta, mas mantém o pé no chão quando fala sobre o futuro, e em entrevista exclusiva à Goal Brasil falou sobre tudo: início de carreira, período no Napoli, adaptação na Holanda, proposta do Palmeiras, os perrengues do dia a dia, quem são as suas referencias, e os seus sonhos.

Confira o bate-papo com Bruno Uvini:

Como está sendo a vida na Holanda?

No começo foi bem difícil porque eu estava na Itália antes, e assim, da Itália pro Brasil não tem uma grande diferença. O clima não é tão frio, a comida lá é excelente, as pessoas são meio parecidas com os brasileiros, então não tinha tanta diferença. Mas aqui na Holanda é completamente um outro mundo, o jeito deles de viver, o clima, a língua é muito difícil, e no começo estava difícil, eu precisei de um tempo pra me adaptar. Agora já estou aqui há sete meses e posso dizer que estou me sentindo em casa, o frio já não machuca mais, a comida já está gostosa, já estou entendendo a língua, então está tranquilo.

Quais foram as principais dificuldades que você encontrou pra se adaptar?

Pra mim foi o estilo de jogo holandês porque é completamente diferente do futebol brasileiro e do italiano também. Claro que todo lugar tem a sua característica, mas eu tive bastante dificuldade com o estilo de jogo no começo. É um estilo bem ofensivo e não tem tanta tática defensiva, mas agora eu já estou adaptado, estou me sentindo em casa, e confortável pra jogar. Já estou indo pro meu 24º jogo com o clube.

Já aprendeu o idioma?

Pra falar a verdade aprendi um pouco, não é uma língua que se aprende muito rápido não. Uma coisa boa pra mim foi que antes de vir pra cá, eu já falava inglês porque eu estive no Totteham da Inglaterra, e aqui 99% da população fala o holandês e inglês também. Então acaba que eu uso sempre o inglês pra me virar e fazer as coisas. Mas agora que eu estou aprendendo um pouco mais o holandês estou tentando arriscar no supermercado, quando eu vou pedir alguma coisa, mas ai quando a pessoa responde eu já não entendo nada, já não consigo continuar. No time é tudo em inglês também.

Chegou a passar por alguma situação diferente/engraçada por causa da língua?

Nas primeiras semanas que eu estava aqui, não cozinho nada, então estava morrendo de fome e fui procurar um restaurante aqui na rua. Achei, mas era de comida árabe, turca, não sei de que tipo que era exatamente, e nesse restaurante, eles não falavam inglês nem nada. Então eu pedi uma comida lá, mas veio um negócio que era impossível de comer e olha que eu como de tudo, mas esse negócio que veio não dava. E eu achando que ia vir um churrasco, um negócio ai, uma carne boa assim. Mas nossa, era um negócio que era tipo como se fosse comida, mas era doce, não era com sal, era com açúcar, tinha pera no meio também, era muito estranho, mas enfim, depois a gente vai se virando.

Você sempre quis ser zagueiro, ou chegou a atuar em outra posição?

Na verdade é aquele negócio né, você é moleque e vai começando lá na frente, ai você vai vendo que não dá e acaba indo pra trás, acho que é igual com todo mundo. Meu pai foi jogador profissional também, jogou na Ponte Preta praticamente a carreira toda, e depois que parou ele abriu uma escolinha de futebol na minha cidade, no interior de São Paulo, em Capivari. Eu comecei com ele lá, e como ele já entendia, então ele foi me dizendo pra ir indo pra trás, e sempre brinquei de zagueiro desde moleque e depois eu fui vendo que era isso que eu queria, e enfim, graças a Deus deu certo.

Você se inspirou em algum jogador?

Eu sempre me inspirei no meu pai, não por ser clichê de meu pai, meu ídolo, mas ele foi jogador e quando ele fala comigo eu escuto muito. Tudo que ele fala ele tem razão, e ele sabe do que ele está falando, então quando eu estou jogando aqui, ele sempre me assiste  se eu estou fazendo alguma coisa errada ou certa, ele me critica e me ajuda. Então é um cara que é responsável pela vida que eu levo, por ter me ajudado com essas dicas, é um cara que eu me espelhei.

Quais são as suas principais lembranças do início da sua carreira?

Eu lembro bem dessa época. eu mudei de Capivari pra São Paulo, caipira de tudo, novo. Ai eu tive que me virar, tinha que pegar ônibus, metrô, peguei Terminal Bandeira, Praça da Sé. Depois que eu passei do Pão de Açúcar pro São Paulo já começou um negocio mais profissional e ai que você começa a ver a dimensão das coisas, mas essas coisas simples, dos perrengues que você passa até melhorar um pouco a situação da sua vida, são coisas que eu lembro com carinho porque foi gostoso pra caramba, comi esses lanches de metrô, esses dogão, e ninguém vê essa parte do futebol que você passa. Então eu lembro com carinho dessas coisas, era legal, a gente dá risada pra caramba.

 Rodrigo Caio, Bruno Uvini, Wellington e Jean: Jogadores revelados em Cotia (foto: Rubens Chiri/ São Paulo FC)

E como foi a integração com a equipe?

No São Paulo eu fiquei quase seis anos, e foi difícil, sempre quando você vai passar do juniores pro profissional é difícil. A gente veio de uma geração no São Paulo que era vitoriosa de tudo na época, a gente ganhou a Copa São Paulo, ganhamos muitas coisas com o São Paulo, e depois teve a Seleção Sub-20, que a gente ganhou tudo com o pessoal dessa geração. E ai a gente passou pro profissional, só que chegando lá, é praticamente como se você tivesse que começar tudo do zero, nada do que você fez não conta, ali que você tem que mostrar realmente, e ali que começa a valer mesmo ser jogador. 

Quem me chamou pro profissional foi o Sérgio Baresi, que era o treinador do Sub-20, e eu não sei dizer, mas acho que era Ricardo Gomes que era o treinador do profissional na época e acabou saindo, e o Baresi assumiu. E assim que ele assumiu ele me chamou, o Baresi foi o cara que me subiu e me deu uma chance no profissional e nessa parte eu agradeço muito a ele.

Durante a sua carreira, qual foi o treinador mais completo com que você já trabalhou?

Eu trabalhei com um treinador muito top no Napoli que foi o Rafa Benitez, ele é um treinador que você vê que é de um nível diferenciado. Mas eu tenho um carinho muito grande por dois treinadores que eu aprendi muito e me ajudaram muito também. Um deles foi o Ney Franco, que a gente se deu muito bem na seleção e ganhamos tudo junto, eu era o capitão com ele. E o outro é o Oswaldo de Oliveira que eu trabalhei com ele no Santos em 2014, e foi um cara maravilhoso que eu aprendi muito, que dos que eu vi no Brasil e fora também é um dos melhores.

Quem foi o melhor jogador com quem você jogou?

Foi o Neymar. A gente jogou junto na seleção sub-20 e na seleção olímpica em 2012, apesar de ter jogadores como Thiago Silva que é um dos meus exemplos na profissão, tinha o Marcelo, o Hulk, enfim. Mas o jogador mais diferenciado que eu já vi de perto foi o Neymar, é um cara que é fora de série, é outro nível que você não vê todo dia, não é só um bom jogador, é um daqueles caras fora das estatística.

Qual foi o jogo mais importante da sua carreira até aqui? E o momento mais difícil?

Foi o que marquei o primeiro gol como profissional. Foi contra o Palmeiras depois da Copa do Mundo, foi um dia bem legal, minha família estava ali na torcida no camarote da Vila Belmiro que é bem pertinho do campo, ai eu fui comemorar com eles e foi muito legal.

 Bruno Uvini marcou o primeiro gol da sua carreira contra o Palmeiras (Foto:Getty Images)

Os mais difíceis foram dois, as duas lesões graves que eu tive até agora. Uma foi no ano do Sub-20, que eu tive uma fratura na perna, e agora em 2014, que eu estava jogando, começando a ter uma sequencia com o Oswaldo de Oliveira e ai eu fraturei todo o lado direito do rosto com uma cotovelada do Marcelo Moreno do Cruzeiro. Eu fiquei três meses fora, perdi uma sequencia boa que eu estava tendo no Santos e foi um momento muito difícil, porque jogar mal, errar, é uma coisa que você pode reverter no próximo jogo, mas lesão você não pode fazer nada, você tem que esperar. Acho que é o momento mais triste pro jogador é esse, de lesão.

Ter ficado alguns meses sem atuar no Napoli influenciou a sua ida para a Holanda?

Sim, com certeza, foi o motivo principal. Lá é um clube bem difícil de você ter oportunidade, os zagueiros que tem lá são os zagueiros da seleção deles, então pra ter oportunidade é bem difícil. O Henrique por exemplo, que voltou pro Fluminense agora, ele estava lá e também estava sem oportunidade. Eles também não gostam de jogador jovem, eu estava lá com 24 anos e já era o jogador mais jovem do elenco. Então assim, é uma mentalidade bem diferente do Brasil, e também aqui da Holanda, por exemplo, eu sou um dos jogadores mais velhos do time com 24 anos, a taxa de idade aqui é bem  baixa.

Eu estava de saco cheio já, e é legal você estar em um grande time como o Napoli, mas se você não está fazendo o que você gosta, você não fica feliz. Hoje aqui eu vivo muito melhor, tudo é mais gostoso de fazer porque eu estou jogando, estou podendo fazer o que eu quero. 

O Twente estava brigando pra deixar o Z3, mas com os últimos resultados, vocês conseguiram um fôlego novo. Qual a importância disso pra sua carreira?

É mais uma coisa positiva que pode colocar. É difícil você jogar em um time que está em uma situação dessa, é pressão, você não fica com confiança porque não sabe se vai perder mais um jogo e corre o risco de cair. E dar a volta por cima e conseguir sair disso ai, é uma lição que agrega pra carreira como jogador, então se acontecer de novo na minha carreira, eu vou saber como é passar por isso, então é experiencia né. Lógico que não é gostoso de viver o que a gente viveu e ainda estamos lutando ali, já distanciamos, mas ainda não está tranquilo, mas é válido, é uma coisa que fica pra gente. 

Na Holanda, a pressão da torcida quando o time não está em um bom momento é igual a do Brasil?

Não, aqui é inacreditável, e não é só no Brasil que assim não, na Itália também vi a torcida quebrar carro de jogador, mas aqui na Holanda é inacreditável. A gente estava em um momento muito ruim, e quatro anos atrás o clube foi campeão do Campeonato Holandês, então não é que Twente estava sempre disputando lá embaixo, muito pelo contrário, esse ano teve problemas financeiros e estamos disputando lá embaixo por causa disso. Então estávamos mal, mal. ai eu falei, a torcida vai começar a chiar, não é possível. E a gente estava perdendo, mas estávamos jogando com raça, mas não estava acontecendo. E quando acabava o jogo, a torcida inteira ficava e aplaudia a gente, mesmo perdendo o jogo, eles aplaudiam e ninguém vaiava. É sensacional, é uma coisa que você não vê em qualquer lugar.

Você esperava ir tão bem no futebol holandês?

Sinceramente, no começo eu achava que ia ser difícil, porque é um futebol totalmente ofensivo e eles não fazem a tática muito pra marcar e não tomar gol, eles preferem ganhar o jogo. O negócio deles aqui é atacar, com qualidade lógico, mas eles se preocupam mais com o ofensivo. Mas enfim, passou três, quatro meses, eu me acostumei, e agora estou gostando, acho que eu já aprendi como é que faz, estou indo melhor e o time está ganhando.

O que o futebol brasileiro pode evoluir e aprender com o europeu?

Uma coisa muito legal que tem na Europa que o Brasil podia melhorar é o respeito. Porque no Brasil tem muito céu e inferno, se o time ganha o jogador é bom, mas se o time perde mesmo jogando bem, o time não presta. Então de um jogo pro outro você é bom ou você é ruim, e aqui não, se você mostrar que é bom e tem qualidade, eles vão te respeitar mesmo se acontecer de você jogar mal em alguns jogos. Eles não vão falar que você é uma merda como falam no Brasil, eles vão falar que você não está passando por um bom momento, mas que é um bom jogador, e não vão esquecer o que você já fez de bom como acontece no Brasil.

No inicio de 2015, a imprensa cogitou a sua transferência para o Palmeiras, você chegou a receber alguma sondagem ou proposta?

Eu não cheguei a ver nenhuma proposta real, mas os meus procuradores chegaram a conversar, disseram que exista uma conversa na época, até porque era o Oswaldo de Oliveira que tinha assumido o Palmeiras, e ele tinha acabado de sair do Santos, onde a gente tinha trabalhado junto. Então diretamente comigo não teve nada, e o que eu soube também foi que o Napoli dificultou pra fazer negócio, e que o Napoli não é um clube fácil de fazer acordo.

Após o 7 a 1, a seleção brasileira foi muito criticada e muitos pediram que houvesse um processo de renovação. Com isso, jogadores mais jovens foram chamados principalmente para o setor ofensivo, no entanto, no defensivo, nem tanto. Você considera esse fato contraditório do ponto de vista dessa nova proposta?

Isso acaba sendo meio natural, você vê que zagueiro, goleiro, o pessoal procura jogadores mais experientes, não só no Brasil. É uma coisa normal, os jogadores mais novos meio que vão sempre pro ataque, pro meio-campo que tem mais oportunidade, porque não é uma responsabilidade como jogar lá atrás que você nunca pode errar. E o Brasil também tem mais do que boas opções, então é uma questão de escolha do treinador, dele ter confiança nos jogadores que ele está convocando.

É difícil você falar também, porque mesmo com o 7 a 1, os jogadores que estão sendo convocados pelo Dunga tem muita qualidade, até o Thiago Silva que está ficando fora é um baita zagueiro, aqui na Europa é considerado um dos melhores. Então é difícil, porque o Brasil tem muita opção, tem muito jogador de qualidade. Mas se ele quiser olhar pra ter uma juventude, ele sabe também que tem essa geração nossa que ganhou tudo junto e tem jogador jogando na Europa, tem jogador no Brasil, e eles sabem que podem contar com a gente.

Sobre o futuro, você pretende seguir na Holanda, almeja algum outro clube do futebol europeu ou pretende voltar para o Brasil?

Eu tenho vontade de fazer a minha carreira aqui na Europa, de ficar um bom tempo no futebol europeu. Não sei se vai ser na Holanda, se vai ser na Itália, porque eu ainda tenho contrato de mais um temporada com o Napoli. Sinceramente eu quero só continuar jogando, não me dou o luxo de escolher. Às vezes não importa muito onde você está, se você está se sentindo bem e fazendo o que você gosta é o que importa.

Você ainda tem algum grande que ainda não realizou?

Eu quero jogar a Champions League como profissional, a Copa do Mundo não precisa nem falar, é o sonho de qualquer menino. É lógico que é bem difícil, mas nada é impossível. Eu quero participar de uma sendo útil, desfrutar de uma, é um campeonato muito bom. 

E jogar na seleção é o sonho de todo brasileiro. Eu já participei de três amistosos com a seleção e estive nas Olimpíadas, eu já vivi um pouquinho e você sempre quer voltar, quer um dia ser firmar e ter sequencia, e seu eu falar que não é um sonho, é mentira.

Quais são as suas expectativas para 2016?

Nesse ano como profissional é ajudar o Twente a acabar o campeonato na melhor posição possível, e depois o que decidir na próxima temporada não depende só de mim, porque o Napoli tem o meu passe. Mas nesse momento, estou totalmente focado no Twente, o clube que me abriu as portas, e ajudar eles. E pessoal, esse ano eu vou me casar em junho, que é uma coisa diferente na minha, uma coisa que é importante na vida que eu vou concretizar.

Fonte: Esporte interativo
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