BATE-PAPO

Atletas e treinadoras debatem sobre futuro do futebol feminino

As profissionais contaram sobre suas trajetórias e as dificuldades de se firmar em um lugar predominantemente ocupado por homens

Por Luana Nascimbene | 29/01/2023 | Tempo de leitura: 3 min

MICHEL SANTOS

Gabi Zanotti e Rosana Augusto comentaram sobre o cenário do futebol feminino e a evolução da categoria
Gabi Zanotti e Rosana Augusto comentaram sobre o cenário do futebol feminino e a evolução da categoria

Personalidades ligadas ao futebol feminino participaram de um bate-papo com o público sobre obstáculos, valorização e o futuro do futebol praticado por mulheres no Brasil. O evento aconteceu no Sesc Jundiaí, na manhã de ontem (28), e contou com a participação da jogadora do Corinthians, Gabi Zanotti, e da técnica do Red Bull Bragantino e ex-jogadora, Rosana Augusto.

Intitulado "Os degraus no futebol feminino no futebol profissional praticado por mulheres", as participantes contaram sobre suas trajetórias no esporte, as dificuldades de se firmar em um lugar predominantemente ocupado por homens e todos os preconceitos que a cercavam.

GABI ZANOTTI

Natural de Itaguaçu, no Espírito Santo, Gabi tem 37 anos, é meia-atacante profissional e uma das principais personagens da geração em evidência que representa o time feminino do Corinthians. A atleta já teve passagens pelo Santos, Centro Olímpico e Kindermann, além de atuar nos Estados Unidos e colecionar convocações pela seleção brasileira desde 2009.

Gabi Zanotti coleciona títulos coletivos e individuais, como Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro, Libertadores, Supercopa do Brasil e Jogos Pan-Americanos. Mas, para conquistar tudo isso, precisou lutar contra o preconceito e falta de oportunidades. "Quando eu era jovem, tudo era muito diferente de hoje em dia. Eu não tive nenhuma base, nenhuma formação para me tornar atleta e tive que me virar sozinha. Além de lutar contra o preconceito, também tinha a falta de estrutura para as meninas, pouquíssimas oportunidades e quase nenhum incentivo", conta a atleta.

Gabi relembra que, para chegar ao profissional, precisou se esforçar muito e fazer o sonho se tornar realidade. "Eu jogava futsal e beach soccer e, em uma destas competições, fui chamada para fazer um teste no São Paulo. Com 15 anos me tornei profissional. Infelizmente, fui uma das poucas meninas que sonhavam em virar jogador profissional que teve essa oportunidade, porque naquela época tudo era mais difícil."

EVOLUÇÃO

Com mais estrutura, valorização, incentivo e reconhecimento da categoria, Gabi Zanotti diz que o futebol feminino está em outro patamar. "Durante muitos anos, o futebol só afastava as mulheres do cenário. Hoje, a gente está caminhando a passos largos para uma valorização da categoria cada vez maior. Já temos times femininos autossustentáveis, que não dependem do masculino para sobreviver e isso graças a muitos anos de luta", comemora.

ROSANA AUGUSTO

Assim como Zanotti, a técnica do Bragantino, Rosana Augusto, também teve uma carreira de dedicação, luta e sucesso.

Além de treinadora, Rosana é ex-atleta profissional de futebol com a maior diversidade de títulos da história mundial, com reconhecimento da Fifa. Foi convocada pela seleção brasileira por 18 anos e se tornou medalhista olímpica, campeã dos Jogos Pan-Americanos e vice-campeã do mundo.

Rosana se apaixonou pelo futebol durante a infância, quando jogava bola na rua com meninos. O primeiro obstáculo que ela precisou superar foi o preconceito do seu pai, que tentou impedí-la de se tornar profissional. "O caminho para me tornar jogadora profissional foi muito difícil e a luta começou dentro de casa, pois meu pai não aceitava minha escolha. Tempos depois, consegui provar para meu pai que poderia viver do futebol e hoje posso dizer que venci", recorda.

Para Rosana, a principal forma de acelerar a valorização do futebol feminino é estimulando as meninas que sonham em se tornar profissionais. A treinadora também ressalta que é fundamental olhar para as cidades do interior e não apenas para grandes capitais. "Hoje as meninas têm uma referência no futebol feminino, um exemplo a seguir, coisa que eu nunca tive na infância. Elas precisam de incentivo, acesso e espaço para começar. E este estímulo deve começar pelos próprios pais, o apoio da família é fundamental e, muitas vezes, é a falta dele que faz as meninas desistirem do sonho", explica a técnica.

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