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Por Ivan Raupp — Rio de Janeiro


Gilberto Silva lembra bastidores da Copa de 2002

Gilberto Silva lembra bastidores da Copa de 2002

O Penta conquistado pelo Brasil em 2002 foi marcante na história da Seleção e até hoje rende ótimas histórias de seus personagens. O grupo era uma reunião de talento, comprometimento e, por que não, carisma. Neste quesito, Gilberto Silva era mais quietinho. Apesar de ser um cão de guarda dentro de campo, fora dele era um mineiro tímido de 25 anos, praticamente um novato com a Amarelinha. Mas ele, assim como todo o grupo, não perdia uma boa resenha. Neste "Papo de Copa", o ex-jogador relembra alguns bastidores daquela conquista.

O Mundial começou mesmo para Gilberto Silva na véspera do jogo de estreia. Foi quando o então capitão Emerson se machucou no treino - brincando de goleiro - e acabou cortado. A responsabilidade dele aumentaria ainda mais.

Gilberto Silva e Ronaldo beijam a taça do Penta em 2002 — Foto: Panasia Ohishi / A0862_panasia / DPA

- Quando o Felipão e o Murtosa (auxiliar) estiveram no meu quarto falando que eu substituiria o capitão me deu certa apreensão. Mas ao mesmo tempo eles me passaram uma confiança muito grande, me deixaram muito tranquilo em relação ao que eles esperavam de mim. E felizmente tudo deu certo. Começou tudo por aí, com essa situação - disse, por telefone, ao GloboEsporte.com.

O grande parceiro de Gilberto na Copa foi Kleberson. Tanto dentro - eles eram a dupla de volantes - quanto fora de campo. E o mineiro não perdoa o amigo.

"Eu e Kleberson estávamos sempre juntos. Saíamos para algum lugar quando éramos liberados na folga. Mas o Neguinho é muito pão-duro. Para comprar alguma coisa (risos)... Ele guardou todo o bicho que a gente ganhou lá, diária, e voltou com tudo para o Brasil. Não gastou um centavo, nem para dar presente para ninguém. O Neguinho era fogo".

Gilberto Silva e Kleberson se tornaram parceiros dentro e fora de campo — Foto: ODD ANDERSEN / AFP

Ronaldo costuma ser lembrado como o "Presidente da Resenha". Ele era importante, claro, mas o rei mesmo era outro.

- O Marcão era o rei da resenha. Ele gostava de uma resenha. O Ronaldo também, aí juntava Roberto, Cafu... O ambiente era muito agradável, mas todo mundo gostava de sentar perto do Marcão. Ele tem um senso de humor grandíssimo, algo diferente, super espontâneo, conta piada, conta história, uma atrás da outra. O Vampeta também era outro que gostava de contar história, piada. Depois do jantar a gente ficava mais de uma hora no bate-papo, até o lanche ou alguma palestra do Felipão. A gente gostava de estar ali junto contando história, saindo um pouco daquele clima tenso da competição.

Vampeta também é referência quando o assunto é resenha. É tanta história, mas tanta história, que Gilberto Silva desconfia da idade dele.

Vampeta e Marcos eram os craques da resenha em 2002, segundo Gilberto Silva — Foto: Divulgação

- O Vampeta é uma figura. Ele tem muita história, acho que tem mais idade do que ele fala que tem.

- Tem muita história, é super espontâneo para contar, é muito agradável. Cada característica diferente que foi juntada naquele grupo, pessoas com história de vida muito bacana, um histórico profissional também muito grandioso por parte de cada jogador ali... E o Vampeta, com o jeito e as histórias dele, não deixava ninguém sem dar risada. Era super divertido.

Uma história de 2002 que ficou famosa tem Ronaldo x Rivaldo. Com os dois em alta e com fome de gols, Felipão teria fechado ambos em uma sala para que só saíssem de lá quando tivessem se resolvido. Gilberto Silva diz que nunca ouviu isso e conta como era a relação entre eles.

Gilberto Silva marcando Beckham nas quartas de final — Foto: PHILIPPE HUGUEN / AFP

- Estou sabendo agora, e olha que não estou em cima do muro (risos). Não sei se teve isso, acredito que não. Mas se tiver realmente acontecido isso, tenho certeza que valeu a pena, foi para o bem do grupo.

- O Ronaldo e o Rivaldo se davam muito bem no dia a dia, nos treinos. Às vezes um fazia brincadeira com o outro, quem iria fazer mais gols, quem iria marcar naquele dia. Mas de uma maneira bem amistosa, nada de forma competitiva.

Ronaldo e Rivaldo se davam muito bem, relembra Gilberto Silva — Foto: Getty Images

Dezesseis anos se passaram desde o Penta, e o Brasil está prestes a iniciar a disputa da Copa da Rússia. Na missão do Hexa, o homem que terá função bem parecida com a que tinha Gilberto é Casemiro. O que o antigo acha do novo?

- Vejo o Casemiro como um ponto de total segurança na seleção brasileira, talvez um dos melhores do mundo na posição. É uma posição que nem todo mundo gosta de fazer, ele se sacrifica pelo time, é o legítimo carregador de piano. Cresceu muito. Eu o vejo hoje sendo uma das peças fundamentais do Real Madrid, está entre os jogadores mais importantes do grupo, pela função que ele exerce.

- Com o Casemiro a gente está bem seguro.

Casemiro é o cão de guarda da Seleção, função que Gilberto Silva teve no passado — Foto: MoWa Press

Aposentado desde 2015, Gilberto Silva está com 41 anos e hoje é empresário, além de embaixador da Fifa e do Arsenal. É dono de hotel e restaurante em sua cidade, Lagoa da Prata-MG, e também atua no meio do futebol como agente de alguns jogadores. O principal deles é Fred, volante do Shakhtar Donetsk e que foi convocado por Tite para a Copa do Mundo.

- Esse lado de prestar uma consultoria, uma assessoria para esses atletas, enxergo como uma mentoria acima de tudo. Além de ter o lado de buscar oportunidades para eles, orientá-los acima de tudo em relação à carreira, a algumas atitudes, à forma de lidar com algumas situações. É o que tenho procurado fazer com eles para que tenham uma bela carreira. E chegando ao final dela, poderão olhar para trás e saber que tiveram uma bela caminhada. É uma maratona do início até o final da carreira, então é importante caminhar bem.

Gilberto Silva comemora o título em Yokohama — Foto: TOSHIFUMI KITAMURA / AFP

Como jogador, Gilberto Silva disputou três Copas: 2002, 2006 e 2010. Como aposentado, também se fará presente em 2018. Será comentarista de TVs do Canadá e da Malásia na primeira fase do Mundial. No mata-mata estará na Rússia como espectador e na torcida pelo Hexa.

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