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Entrevista - Praia - 17 de outubro de 2020

Juliana, aos 37 anos, se vê como “maluca por treinos”

Juliana joga nesta temporada ao lado de Josi


Aos 37 anos, Juliana segue faminta por títulos e experiências, no vôlei de praia e na vida. A medalhista olímpica e maior vencedora de temporadas do Circuito Mundial, com oito títulos, mantém o ritmo forte de treinamentos e segue motivada para a temporada 20/21 do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia. Neste sábado, jogará as quartas de final, em Saquarema, ao lado de Josi, contra Taiana e Paula Pequeno.

Em entrevista à CBV, Juliana falou sobre o retorno das competições pós-pandemia, a experiência como comentarista nos Jogos do Rio, a volta após lesão no joelho e a relação com a família.

Como você se sentiu no retorno do Circuito Brasileiro após meses sem atuar por conta da pandemia?

Vi como um momento de gratidão por poder voltar a fazer o que eu amo. E o mais legal foi o clima, vi os atletas chegando muito abertos, olhando uns aos outros não como adversários, mas como colegas mesmo. Eu convivi com algumas atletas mais do que com muitos familiares. Todos estavam cuidando uns dos outros, confraternizando, se preocupando em saber como os demais tinham passado pela quarentena. Sem dúvida foi um dos momentos especiais da minha carreira, fiquei emocionada em poder rever tantas pessoas especiais. Apesar da competitividade, todos querendo vencer, tivemos um reencontro muito bonito. E a Confederação Brasileira de Voleibol deu um show na organização no evento.

São inúmeros recordes e conquistas pessoais. O que lhe motiva diariamente a manter a rotina de treinos fortes?

Uma coisa que aprendi nessa pandemia é que nunca deixarei de treinar. Eu realmente faço porque amo. Faz bem ao meu corpo e à minha mente. Certamente não será um ritmo tão intenso, pois chegará um momento de parar de jogar. Mas é um prazer. As pessoas brincam que sou maluca, mas eu respondo que é essa a razão de continuar jogando. É uma satisfação poder ter saúde para continuar jogando, ter alegria para acordar todo dia e trabalhar.

Você entrou para história como uma das melhores bloqueadoras, mesmo enfrentando adversárias muitas vezes mais altas. Qual o segredo?

Desde meu início, passando pelo meu auge, eu era menor que as demais bloqueadoras. Então eu tinha que tentar ganhar em outros aspectos. Via a importância especialmente em dois pontos: a parte física e a evolução na minha leitura de bloqueio. Fiz isso assistindo grandes bloqueadores, estudava muito Ricardo, Loiola, entre outros, para tentar absorver um pouco do que eles faziam. E o parceiro de defesa também ajuda muito, uma finta, uma leitura do adversário facilitam. Acho que a combinação de muito trabalho nesses fatores permitiu que eu fizesse alguns bons bloqueios na carreira. Acredito que as duas coisas mais difíceis do vôlei de praia são bloquear e levantar. Nem todos que vão jogar vôlei de praia, tiveram a experiência de atuar na quadra fazendo essa função. Ninguém é levantador nato e bloqueador nato, exige muita repetição.

Quando você se deu conta do número de recordes que havia batido e seu tamanho no esporte?

Eu acho que a ficha ainda não caiu para mim, o disco ainda está tocando. Mas uma coisa legal foi ter amigos em muitos lugares no mundo. Acho que isso é o grande legado que cultivo até hoje. Independentemente do que ganhei, ou do que perdi. As pessoas vão continuar na minha vida.

Você foi comentarista na última edição dos Jogos Olímpicos. Pensa em voltar a atuar na televisão?

Eu gostei muito de trabalhar na televisão como comentarista, a emissora onde trabalhei (FOX Sports) me ensinou muito, deixou que eu fosse eu mesma. O diretor foi me moldando, mostrou que em alguns momentos estava torcendo muito, mas sempre dando dicas. Nunca impedindo que eu tivesse minha espontaneidade, meu jeito pessoal. Gostei da experiência de ser comentarista, todos da produção, o narrador, foram muito bacanas comigo. Eu vivi uma Olimpíada de forma diferente, estar lá já foi especial. Espero em breve ter outras experiências como essa.

Qual momento mais emocionante você viveu no vôlei de praia?

Minha volta ao esporte em 2009, depois da lesão que me deixou fora dos Jogos Olímpicos, talvez tenha sido o momento mais emocionante. Nós conquistamos o Circuito Mundial vencendo uma etapa em Barcelona. Quando acabou a final, abaixei a cabeça e fiquei na quadra, pensando nos dez meses anteriores, desliguei um pouco do mundo. Só voltei a mim quando a Larissa veio comemorando, gritando que éramos campeãs mundiais. Acho que renasci, senti que poderia representar bem o Brasil, continuar competitiva. Tirar aquelas incertezas da cabeça. E naquela temporada, fui eleita pela primeira vez a melhor jogadora do mundo, tudo marcou demais, me arrepia até hoje.

Qual a importância dos seus pais em sua carreira? Os vídeos junto de sua mãe nas redes fazem muito sucesso.

A minha história no vôlei vem com meu pai. Ele faleceu cinco anos atrás e era meu maior fã. Quase todas as medalhas e troféus que conquistava no Circuito Mundial eu trazia para ele. Meu pai foi meu grande amor, era um presente para ele entregar essas recordações dos campeonatos vencidos. Mas muitas coisas que ele e eu vivemos, não tenho registrado. Não tenho vídeos, fotos, e sinto saudade de poder escutar a voz dele, mesmo que seja em uma gravação de vinte anos atrás. E com minha mãe, acabamos nos aproximando. Eu passei a gravar nossos momentos e publicar nas redes, o pessoal é mais fã dela do que meu (risos). No começo ela não gostava, mas eu disse que queria ter esses momentos registrados, mostrar aos meus filhos no futuro. Acabamos nos aproximando mais do que antes, fortalecendo mais ainda nossa ligação. Hoje ela é meu fechamento, nos divertimos muito. Temos um convívio maravilhoso, que é o principal.