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O encontro era previsível. Se alguma imprevisibilidade havia, ficava por conta do modo como se daria algo há muito esperado. E por que não dizer desde logo: valeu a pena esperar! Tendo como objeto principal de análise os textos em que Sérgio Buarque de Holanda tematiza as bandeiras, as monções e os tropeiros - isto é, a conquista da parte ocidental do atual território brasileiro a partir do Planalto paulista-, este livro de Robert Wegner é o fruto melhor, porque a um só tempo inteligente , desafiador e cativante , do encontro entre aquele que , sem renunciar às práticas de crítica literária, começava a enveredar de modo decidido e marcante pelos caminhos da historiografia, e alguém que, embora anuncie não pretender fazer um trabalho de historiador, seja lá o que se entenda por tal, empreende uma das mais instigantes reflexões no campo da história da historiografia. Caminhando pelas páginas de A Conquista do Oeste, torna-se possível compreender não apenas como Sérgio, à semelhança de outros pensadores vinculados à tradição modernista, parecia encontrar na viagem ao exterior a energia intelectual necessária para viajar por seu próprio país, em um exercício que não pretendia senão alcançar que deixássemos de ser uns desterrados em nossa terra. Ou ainda como, ao seguir por veredas de pé posto ou ao participar da já regular aventura das monções, Sérgio buscava a justa e exata compreensão de uma conquista, pondo em relevo formas inusitadas de adaptabilidade que forjavam homens com a consistência do couro . Por meio de um texto sempre claro, seguro , elegante e generoso em sua forma de argumentar, Robert possibilita muito mais ao leitor interessado em participar desta aventura intelectual. Ao sublinhar a importância tanto de uma "fase americana" de Sérgio Buarque de Holan da quant o do diálogo sempre renovado que seu autor mantinha com suas próprias raízes, Robert nos revela como aqueles textos até certo ponto fundadores contêm um modo própr io do seu autor operar com a relação entre tradição ibérica e os valores vinculados ao mundo moderno, diverso daquele que distingue sua obra inaugural. E ao fazê-lo franqueia a cada um de nós outras fronteiras, horizontes para novas reflexões e conquistas. Um livro desafiador, que, ao exercer sobre aqueles que por suas p>áginas caminham uma atração em parte semelhante à que o sertão exercia sobre os homens de Piratininga,· não deixa de evidenciar também de modo enigmático que a obra de Sérgio - ou ao menos aquela fração que para muitos constitui a "prime ira fase de sua produção historiográfica" - aguardava por Robe rt Wegn er, ao passo que Robert parecia estar à espera de Sérgio Buarque de Holanda para se apresenta,r a todos aquel es intere ssado s em comp reend er um pouco melho r nossas raízes e caminhos. ILMAR RoHLO FF DE MAno s Robert Wegn er é mestre e douto r em Sociologia pelo IUPERJ. Atualmente é pesqu isado r da ~asa de Oswa ldo Cruz e pesqu isado rassociado ao PRONEX do Dep~rtamen to de Histór ia da PUC- R10 . • ACONQUl~TA DO Ot~Tt Af~ONHl~A NA OB~A De ~f ~GIO BUA~QUe De HOlANDA ROBERT W EGNER • ACONQUl~TA DO Of ~H Af~ONTcl~A NA º~~A De ~~~GIO ~UA~QUe De HOlANDA Belo Horizonte Editora UFMG 2000 . I © 2000 b YEditora UFMG copyng i t _ Este livro ou P arte dele nao poc1e ser reproduzido por qualquer - escrita do Editor . utorizaç:,1o · meio sem ,.1 - -- - - -- - - - - - - - - w, ner Robe1t weg W412c , . 8 . f · teim na obra de Serg10 uarque · t·I do OeSle: ion ' ·d u rMG 2000 A conqu1s. it We ner. - Belo Horizonte: E . . , . ' de Holanda / Robe ª .g 275 p. _(Hu111:rnitas) . ·1sil l. Cultura - B1~1sil 2. Civilização - 13 r,, 1. Título 3. Historiografia 11 . Série CDD : 306 CDU : 316.7 , blic 1ção : Di vis ão de Planejame nto e Ca talogaç:10 na pu • · , · ' MG . . l ~ la Biblio teca Uni vers1ta n a - UI· Divu gaçao e ISI3N : 85-704 1-242-8 EDITORAÇÃO DE TEXTO Ana Ma ria de Moraes REVISÃO DE TEXTO E NORMALIZAÇÃO Olga M. A. Sousa PROJETO GRÁFICO Gl ória Campos (Manga') CAPA Marcelo Belico (sobre obra de Tarsila do Amara l, Estrada de Ferro Central do Brasil, 1924 , Óleo s/ tela, 142,0 x 126,8c m . Co leção Museu de Arte Contem porâ nea da Universidad e d e São Paulo) REVISÃO DE PROVAS Alexandre Vasconcelos ele Melo Clá udi a Pé re ira PRODUÇÃO GRÁFICA E FORMATAÇÃO Marcelo Belico UN IVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Re itor: Francisco Césa r de Sá Ba rre to Vice-Reito ra: An a Lúcia Alme ida Gazzola EDITORA UFMG Av. Antônio Carlos, 6627 - Biblioteca Ce ntral - sala 405 Campus Pampulha 31270-901 - Be lo Horizonte - MG Tel. : (31 ) 3499-4650 Fax : ( 31 ) 3499-4768 E-mail: Editora@bu .ufmg.br www.editora .ufmg .br CONSELHO EDITORIAL Helois M . TIT ULARES D· ª an a Murgel Starling, Luiz Otávio Fagundes Amaral Maria He le na arnasceno e Silva M 1 ' · 1 e· ega e, Rom e u Cardoso Guima rães , Silvana Mana Lea ose r, Wander Me lo Miranda (Presidente ) Cristiano M SUP LENTES I Viei acN1a do Gontijo, Maria da s Graça s Santa Bá rba ra, Maurílio Nunes ra, ew to n n· d tgn o tto e Souza, Reinaldo Ma rtiniano Marques A Ricardo Benzaq uen de Araújo e Luiz Wernec k Vianna, mestres . À memóri a do meu pai, Ronald Wegner. AGRADEC M E N T O S Tornando pública minha gratidão, gostaria de lembrar as diversas pessoas e instituições que, por motivos vários, estiveram ligadas à feitura deste livro. Eurico Schoernadie; os professores José Miguel Razia, Angela Duarte Damasceno e Josefina Kawamura, da Universidade Federal do Paraná; CNPq; o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, instituição na qual defendi minha tese de doutoramento que deu origem a este livro, Ricardo Benzaquen de Araújo, meu orientador, Luiz Werneck Vianna e Cesar Guimarães, da banca examinadora, e, também, José Murilo de Carvalho e Edmundo Campos Coelho; Elide Rugai Bastos, da Unicamp, Lúcia Lippi Oliveira, do Cpdoc/ FGV-RJ, e Ilmar Rohloff de Mattos, da PUC-Rio, também membros da banca; Arquivo da Casa de Rui Barbosa, Fundo Sérgio Buarque de Holanda (Siarq-Unicamp) e, da mesma Universidade, Biblioteca Sérgio Buarque de Holanda, coordenada por Tereza Cristina Oliveira Nonatto de Carvalho; Grupo de Trabalho sobre Pensamento Social no Brasil, da Anpocs; Departamento de História da PUC-Rio e Berenice Cavalcante; Casa de Oswaldo Cruz e Gilberto Hochman; Vera Neumann; Pedro Meira Monteiro; Conrado Pires de Castro; Marcos Chor Maio; Elisa Goldman; Jessé Souza; Fábio Faria Mendes; Doroti Jablonski; Beth Cobra; Heloisa Starling; Renato Bittencourt; Nilton dos Santos e Wilca Suzana; Ernestina, minha mãe, Junior e Elizabeth, irmãos, Edilton e Miriam, cunhados, e meus sobrinhos, Neto, Jessica, Pedro e Eduardo; meus sogros, João Barbosa de Queiroz e Cristina, e Cláudio, Leni e Lucilene. Minha esposa, Liene. Um [...] benefício ainda poderá ter ficado dessas audac iosas peregr inaçõe s [.. .]. Elas nos oferec em uma lição de prude nte sabed oria. Lição para o presen te e també m para o futuro, mas que perten ce igualmente à História, na parte em que a História é mestra da vida. O primeiro passo para a integração no mund o de nossa cultura de todo o imens o território, que constitui o coraçã o deste contin ente sul-americano, nasceu da aventu ra e pode- se dizer que foi, todo ele, uma teimosa e magnífica aventura. Era inevitável que assim suced esse. O que resta fazer, porém , para compl etar esse esforço, não poder á ser obra de aventura. Exigirá, prova velme nte, o trabalho atento de algumas geraçõ es de home ns pacien tes, metód icos e modes tos. Nascerá das nossa s legítimas neces sidades e das nossas possibilidades efetivas, não de projetos espetaculares, bons apena s para a declam ação e a lisonja. Significará uma luta penos a e de resultados talvez remotos, mas que há de ser realizado, porqu e somen te com sua realização nos mostraremos verdad eiram ente dignos do esplên dido legado das bandeiras e das monçõ es. Sérgio Buarq ue de Holan da, 1946. u s M Á R INT ROD UÇà O ,.,. P A ~~;::,: R/ T E o 13 BRASIL IBÉRICO ~ ,.,... -.N,- CAP ÍTU LO O LEG ADO IBÉ RIC O E AM ERI CAN ISM O trad icio na lism o bras ileir o Exp lica ção gen étic a Ame rica n izaç ão A te nsão d e Raízes do B rasi l CAP ÍT ULO II UM AUT OR RELÊ SEU LIV RO Co rdia lida de e cará ter n acio n al Rea vali ação de We ber étic a Insa tisfação pera nte a expl icação gen 27 30 38 40 49 52 53 58 64 RICA OS ESTADOS UM DOS FICAM NA AMÉ CAP ÍTU LO III CAP ÍTU LO IV UM OUT RO AM ERI CAN ISM O Am bien te inte lect ual ame rica no 71 72 A viag em aos Esta dos Uni dos 76 Hist ória cont inen tal 78 A fron teira no Brasil 87 O OES TE FREDERICK JAC KSO N TUR NER E 94 Tur ner e a Esco la Teu tôni ca 94 96 A conf erên cia de Tur ner em Núc leo da tese da fron teira e sua orig 100 Explicaç ão situ acio nal 113 p CAPÍTULO V CA PÍTUL O Vl E BRASIL AM ERICA NO O EUROPEU, O NATIVO E O AMERICA NO Sérgio Bua rqu e e a tese de Turner Um a out ra fron teir a CO MO O OESTE BRASILEIRO FOI CO N Q UIS TA DO Ban dei ran tes, técnicas indíge nas e ada ptação Rec urs os nati vos , técnicas adventí cias e des env olv ime nto CAPÍTULO VII A CONQUISTA DO OESTE E A FORMAÇÃO DA MENTALIDADE CAPITALI STA A fronteira e o esp írito do capitali smo O cultivo da trad ição Ter ra dev asta da CO NC LU Sà O 11, 1 21 123 143 156 1% 181 201 205 214 NOTAS BIB LIO GR AF IA 256 N T R o D u ç à o Este livro se conce ntra mais detid amen te naque la parte da obra de Sérgi o Buarq ue de Holan da que gira em torno do ten1a das bande iras, das monç ões, dos tropei ros: em suma, da conqu ista do Oeste brasil eiro a partir do Plana lto paulis ta. É neces sário desde já alerta r que nele não é conte mplad a a grand e maior ia dos textos do histor iador escrit os nas décad as de 1960 e 1970. A ausên cia diz respe ito, porta nto, princ ipalment e àquel es texto s publi cad~;s n a História Geral da Civilização Brasi leira, inclus ive o volum e Do Impér io à República, redig ido integr almen te por Sérgio Buarq ue. Ainda assim, algun s " textos da Coleç ão, alén1 de outro s como "Movi mento s da População em São Paulo no Séc~l o XVII" (1966 ) e o livro póstu mo O Extre mo Oeste (1986 ) , não deixa ram de ser analis ados e referi dos quan do neces sário por trataren1 do tema em foco. Mas mesm o conta ndo com as exceç ões, é possí vel dizer que o prese nte traba lho se dedic a à obra de Sérgio Buarq ue das décad as de 1940 e 1950, porta nto ao perío do que Maria Odila Leite da Silva Dias - autor a do estud o mais abran gente sobre a obra do histo riado r - consi dera como a "prim eira fase da produ ção histor iográ fica de Sérgio Buarq ue de Holan da, delim itada pela publi cação de Monç ões (1945 ) e Visão do Para íso (1958)',' .1 Desd e então , embo ra perm anece sse exerc endo a atividade de crític o literá rio, Sérgio Buarq ue já enver edara definitiva mente para sua carrei ra de histor iador. Contu do, por outro lado, talvez não seja possí vel dizer que a persp ectiva que lanço sobre sua obra seja comp osta por quest ões que, pelo meno s à prime ira vista, intere ssem imedi atame nte a um histor iador . E isto ao meno s em dois sentid os. Em prime iro lugar, minha intenç ão está longe de procu rar mape ar diálog os, influência s ou co1nparaç ões dos enfoques historiogr áficos de Sérgio Buarque co1n os de autores que marcaram o estudo da história e que certan1en te não foram seus desconhe cidos. 2 Se esta é u 1na tarefa instigante e que pode ser bastante frutífera na interpreta ção dos trabalhos do historiado r, não possuo a forn1ação mínima necessári a para enfrentá-l a. Em segundo lugar, não procuro recuperar de maneira sistemátic a a história do Brasil e da conquista do seu Oeste tal como interpreta da pelo autor. Quando, no entanto, isto é realizado - especial1nente nos Capítulos V e VI-, o é apenas através dos textos de Sérgio Buarque, sen1 o apoio dos de outros autores. Portanto, não discuto suas interpreta ções, comparan do e contrapondo-as , por exemplo, a interpreta ções de outros estudiosos recentes ou da época. Sobre este caso, vale a pena tecer alguns breves comentár ios. Levando- se em considera ção os trabalhos de Quentin Skinner, 3 a grande ausência do presente trabalho para a realização de uma pesquisa contextua l mais abrangen te - e, possível e conseqüe ntemente, para um estudo mais completo e esclarece dor da própria obra de Sérgio Buarque - é marcada pela não-recon stituição do diálogo entre os seus escritos e os de autores seus contempo râneos que se dedicava m ao tema dos bandeiran tes e da conquista do Oeste - que não eram poucos. Aliás, pode-se dizer que, quando Sérgio Buarque começou a estudar o assunto, no limiar da década de 1940, já se podia falar numa tradição historiogr áfica que lidava com as entradas e bandeiras , a qual, é lícito dizer, remonta à obra de Capistran o de Abreu. Livros de autores como Paulo Prado, Alfredo Ellis, Alcântara Machado já eram consagrad os. Além disso, é necessári o lembrar, essa tradição contava com uma legião de continuad ores, muitos, porém, nomes esquecido s nos dias de hoje, que não estavam distantes do público não acadêmic o, pois tinham seu lugar assegurad o nas páginas da Imprensa. Basta dizer, por exemplo, que boa parte do livro Caminhos e Fronteiras , editado em 1957, foi publicada antes em forma de artigos, entre os anos de 1946 e 1948 na segunda página de O Estado de S.Paulo. Mais importan te ~ue isso, no _mom~nt_?, é indicar que os artigos de Sérgio Buarque não ~on s tituiam exceção ao abordar o tema na nobre página do Jornal_ ~aulista, pois dividia espaço com outros autores, corno 0 cuntibano Ernani da Silva Bruno - autor de História e 14 Tradições da Cidade de São Paulo (1953/1954) e Viagem ao País dos Paulistas, livro vencedor do Prêmio Octávio Tarqüínio de Sousa de 1963, cuja comissão julgadora era composta por Sérgio Buarque de Holanda, ao lado de Antonio Candido e Francisco de Assis Barbosa - e Virgílio Correa Filho. Sem a pretensão de suprir essa ausência dos interlocutores brasileiros com un1 só golpe, vale a pena trazer à tona um desses artigos de Sérgio Buarque publicado no jornal O Estado de S.Paulo, no que ele tem de representativo das visões correntes na época. Com o título "Um Aspecto da Iconografia Bandeirante", o autor publicou uma série de três artigos no mês de janeiro de 1948. No ano seguinte, com algumas modificações, eles fizeram parte das páginas de "Índios e Mamelucos na Expansão Paulista", publicado na Revista do Museu Paulista, texto que, por sua vez, com pouquíssimas alterações, constitui quase toda a primeira parte do livro Caminhos e Fronteiras, surgido anos depois. Os artigos argumentam que os sertanistas paulistas dos primeiros séculos da colonização, nas suas andanças na mata, usavam os pés descalços e as pernas descobertas, ao contrário do que muitas vezes se pensava. A principal modificação por que passa o primeiro artigo da série, ao transformar-se em texto mais acadêmico, é a supressão dos parágrafos iniciais, justamente onde Sérgio Buarque se referia às imagens correntes da iconografia bandeirante à qual vinha se opor. Abria assim o. seu estudo: A silhueta convencional do bandeirante, com o sombreiro largo de feltro, o arcabuz ou escopeta, e a respectiva forquilha, o terçado, a cinta, o gibão de armas acolchoado de algodão, as calças tufadas, as botas altas de cordovão, parece já definitivamente incorporada a nossa imaginação histórica. Como tentar corrigir uma imagem tão largamente difundida pelos retratos supositícios, sem ao mesmo tempo suprimir certas convicções, que à força de repetidas, se tornaram inseparáveis da idéia que fazemos do antigo devassador do sertão? 4 Com tais características e a elevação à categoria de herói normalmente a elas vinculada, essa era a representação do bandeirante que Sérgio Buarque contestava - para usar os termos de Skinner citados em nota - e, de certa maneira, passava a ignorar quando, ao reaproveitar o artigo, suprimiu esse parágrafo, o que não significa dizer que agora deixava 15 ·d ,, .a presente no seu horizonte de d b e ate 1 e1 a de ser u01 ,, ·io Em outras palavras, podemos ct·1zer qu-... a.1 111~8 . contrai · e, ta~t' to con1 o no outro , sua intenção inclu" bem ao ta reav 1 ~ d . omen a iar ,ada do ban e1rante, predominant 11 0 111111 e' con~ a m e1e\ ºrtn~ rJana Blaj, entre autores vinculados a image e Insr o ~ rvou Itutú Geográfico de Sao Paulo. 5 Para Sérgio B o bse,, . uarque Histo n co e J la de fi cções, em bora generosas ou inofensivas q , ue env h ,, d a te . olve tos fatos do passado, a e ser primeiramente d fena es . tan quisermos chega r a un: a Justa e. exata compreensão de , ~e fatos. Precisamente a 1conograf1a das bandeiras, u ta15 ,, · d eve se r rq e. Pou e d a h.1stona, . · prestimoso tornar-se aux1·11ar evista ern 6 mais de um pon to . Não deixa de ser irônico, contudo, que, se corrermos páginas do Curso de Bandeirologia, publicado pouco de um ano antes , e atentarmos para os desenhos de Belmonte apostos entre as páginas das conferências proferidas por estudiosos do assunto, como Affonso de Taunay, Alfredo Ellis Jr. e Joaquim Ribeiro, vamos nos deparar com figuras que correspondem à imagem criticada por Sérgio Buarque. Diga-se de passagem, o desenho inserido no estudo a presentado ·por este autor, "As Monções", corresponde exatamente à descrição que ele elaborou, citada há pouco. ma~: Na sua ironia, esse fato nos faz lembrar que, muitas vezes, idéias em conflito convivem lado a lado e que as pesquisas e interpretações de Sérgio Buarque nem sempre deviam ser aceitas e , nem mesmo, compreendidas imediatamente. Para esclarecer melhor esse ponto, podemos recorrer novament~ à trilogia de artigos "Um Aspecto da Iconografia Bandeirante' e lembrar que, nela, o autor argumentava que os sertaniS!aS ªnd ªvam descalços e não com as grandes botinas dos desenho: de Belmonte. Contudo, esse era realmente apenas "um aspecto que vinha compor toda a argumentação de Sérgio Buarque, ª VI - tel11 ,, qual com 0 ' veremos - especialmente no Ca p1tu 1O ' tíciO ao d . como um d ·6i e seus .eixos centrais a adaptação do a ven . . r o het . nativo das te rez~1 rras americanas. Isso significava rebaixa banct . da natu 1 e1rante que eras se e evava acima dos selvagens e hostil d venc ra h · a selva p ara O umilde lugar de quen1, Pª . b igado hostilidad foi o r es do m · hábitos eio e os índios que subjugou, a aprenct ,, ·cas e er com e s t es mesmos indígenas tecnt 16 mais adequados para sua sobrevivência . Se com isso não pretendo afirmar que Sérgio Buarque tenha sido o único, ou mesn10 o primeiro autor a despir os bandeirantes e monçoeiros de suas vestes heróicas - pois, como já observou Elisa Goldman, pode-se ler a sua obra estabelecendo -se, a partir do laço da humildade, um vínculo com O livro anterior de José de Alcântara Machado, Vida e Morte do Bandeirante de ' 1929 -, 7 é possível, com essas observações, que se tenha idéia das possíveis dificuldades para a difusão de sua interpretação, a despeito de seu reconhecime nto como historiador. Contudo, somente a partir de um estudo mais acurado e que contemplasse os diversos autores brasileiros envolvidos no debate, poder-se-iam fazer essa e outras afirmações com mais segurança. Voltando ao que é abordado nas páginas que se seguem, é certo que num sentido mais específico este trabalho pode ainda ser considerado de historiador, ao menos naquela área que costuma ser chamada de história intelectual. Mesmo assim, a reflexão desenvolvida em torno dos trabalhos de Sérgio Buarque possui um fio condutor bastante específico, passível de s~r sintetizado na indagação sobre a forma pela qual a relação entre tradição e modernidade é mobilizada pelo autor. Talvez seja possível dizer que este tema esteja mais pr_ó ximo de constituir-se numa constante do Pensamento Social Brasileiro , sejam os trabalhos de cunho ensaístico - e aqui um exemplo eloqüente pode vir do próprio autor em questão: Raízes do Brasil-, sejam os considerados na área da Socio1o gia já institucionaliz ada nas Universidades. De todo modo, pode-se dizer que o livro acompanha o "fulcro inspirador comum" a todos os trabalhos de Sérgio Buarque, que, conforme detecta Maria Odila, consistem na "reconstituição das tensões entre as tradições e a mudança histórica, sucessivamente retomadas em suas obras sob ângulos de abordagem diferentes".ª E, como já disse, o momento a que me dedico diz respeito às décadas de 1940 e 1950 e gira em torno do tema da conquista do Oeste. Contudo, percebendo a continuidade apontada por Maria Odila e a possibilidade de abordagens diferentes se esclarecerem mutuamente, discuto também como a mesma chave tradição/muda nça aparece em Raízes do Brasil. Desse modo, abordo também o livro de estréia de Sérgio Buarque, que, publicado em 1936 e com um caráter mais ensaístico, 17 rabalho de interpretação d a história do Brasil representa seu t . . . , ela fa se a qu e nos referimos como a pnn1e1ra da anterior aqu . . d d' - h ·storiográfic a do autor, a qu al nos e 1caremos pro d uçao 1 com mais vagar. o objetivo central deste trabalho é demonstrar que, enquanto em Raízes do Brasil há um qu ase absoluto desencontro entre nossa tra dição ib érica e os va lores vinculados ao mundo moderno , nos textos de Sérgio Buarque que abordam a conquista do Oeste detecta-se uma nova configuração da relação, que agora aponta para urna possível via de continuidade . A noção de fro nteira - que neste caso específico deve ser compreendida associada ao conceito weberiano de racionalidad e de ajustamento ao mundo - adquire um papel estratégico como elemento dinamizador dos valores ibéricos em direção ao que Luiz We rneck Vianna chama de americanismo - 9 com o duplo sentido de estar relacionado a uma lógica do Continente e de suas terras livres e, ao mesmo tempo , p or representar valores democráticos e igualitários. Assim, pode -se d izer que, agora, o iberismo não aparece como inapelavelme nte incompatível com o moderno e que ·, neste momento da sua obra, Sérgio Buarque explicita, na história do Brasil, um caso de americanização do iberismo - num processo n o qual este último elemento não é aniquilado. Devo dizer que o fato desse desenvolvime nto se dar numa p~rte :e st rita do país - o que leva à possibilidade de se d1sc~t1r_ um contraponto, presente neste momento da obra df_e .Serg10 Buarque, entre sertão e litoral ou ainda a espec1· 1c1dad d s' ' ' ra ão e e~ a~ p au 1~ em relação a outros Estados da Fedeç . - nao · T a 1vez um • e focalizado no decorrer do 11vro. motl vo su r·1c1ente para isto di . ' do autor ter obJ'eti· d gda respeito ao fato de o trabalho va o tratar a co • d cende o atual Estado d s~ nqui st ª o Oeste que transe deseJ·oso de incorp e ao Pdaulo, englobando o Mato Grosso orar as escid entradas para O N t C as para o sul do país e as ore. ontudo · d pesou na minha opção f . b' ' . mais isso, o que 01 0 0 Jetivo d d o ,que l1'd ad e de se perc b . e ar enfase à possibie er, nos textos d S,, . pend entemente do 1 e ergio Buarque e inde'b, · oca 1 geográf I enca não como legad r· ico onde se aplica, a tradição O ixo, mas em de fa t · o, o tema do trabalho movimento - e este é, s . . egumdo esta 'lh detalhad tn a, na Parte 1 . ª de Raízes do Br . . ' sem realizar uma leitura asi 1, sugiro u . ma interpretação acerca 18 da forma con10, neste livro, Sérgio Buarque trabalha a relação entre a tradição ibérica e a modernização da sociedade brasileira. Esta interpretação é forte1nente inspirada pelos meus estudos dos textos seguintes de Sérgio Buarque e, em contrap artida, al é n1 de significar por si mesma uma sugestão de leitura do ensaio, funciona como quadro de referência para a análise, nos capítulos seguintes, dos trabalhos relacionados à conquista do Oeste. Neste sentido, as questões abordadas no início pern1anecen1 no decorrer de todo o livro, e as diferentes respostas elaboradas nos dois 1nomentos distintos se ilu1ninan1 111utuan1ente. No Capítulo I sustento que o ensaio de estréia de Sérgio Buarque é construído con1 dois eixos paralelos de argumentação. De um lado , a con1preensão de que a cultura brasileira é profunda n1ente marcada pelo legado ibérico, caracterizando-se pela ausência de culto ao trabalho e por relações interpessoais n1arcadas diretamente pelos impulsos do coração, impossibilitad as assim de serem regidas por leis abstratas. De outro lado , tendo dito que a cordialidade tem como fonte de manutenção o ruralismo, o segundo conjunto de argumentos aponta para sua diluição operada pela urbanização, a qual segue seu curso desde meados do século XIX. Mas, por sua vez, a importância adquirida pelas cidades não é suficiente para a configuração da civilidade, que significa valores e atitudes mais adequados para um país em processo de modernização . Daí, do cruzamento destes dois eixos - ou, da falta de resulta a tensão constitutiva do livro: nosso tradicionalism o não contribui para o processo de modernização , não há pontos de encontro efetivos entre a cordialidade e a civilidade. No Capítulo II, por meio da análise de algumas revisões realizadas pelo autor para a publicação da 2ª edição de sua obra, em 1948, procuro vislumbrar modificações na forma de Sérgio Buarque pensar o Brasil, tentando indicar em que pontos isto pode revelar um relativo mal-estar com a estrutura de Raízes do Brasil. Neste momento, fico distante de avaliações mais conclusivas sobre as revisões. As análises se resignam a tecer algumas observações mais como perguntas do que como respostas e sugeren1 que estas poden1 ser mais bem estudadas nas obras seguintes de Sérgio Buarque. Posto que Monções - a primeira destas obras seguintes - foi publicada em 1945, entremeando as duas primeiras 19 . _ d Raíz es do Brasil, pod e-se sug e rir que inau gura ed1ç oes e ~ f uma fa se da obra de Sérgio Bua rque on d e as_revdi· ~oes e etua das • de estré ia ·á pass am a ser, por assi m izer, operacio no ensaio 1 . . d Mas ante s de efetivam ente anal isa r os text os que na 11za as . . abor dam a con quis ta do Oes te, realizo , na Part e 2, um breve estudo de caráter mais contextu al, tran spor tand o o foco para 0 deb ate da historiografi a do Con tine nte ame rica no no perí odo da Segunda Gue rra Mundial e p ara a n1an eira p e la qua l Sérgio Bua rque se posi cion ou dian te dele. Un1 mom e nto estr atég ico é a viag em de algu ns mes es que o hist oria dor faz para os Esta dos Unidos em 1941. No Cap ítulo III proc uro retr açar as linh as gera is dess e deb ate , salie ntan do que os hist oria dore s da Am éric a proc urava m, num clima de pan -am eric anis mo , ress alta r ante s as prox imid ades que as disp arid ades entr e a Am éric a ibér ica e a anglo-saxã. Para isso, dois cam inho s eram poss ívei s: um enfo que inte rpre tativ o que enfa tiza sse as cara cter ístic as das tradições transatlânticas (explicação genética) e, no caso , procurasse pon tos de cont ato entre as duas ; ou um que ress alta sse algum tipo de dinâmica própria à lógi ca de con quis ta do Continente que , de alguma manei ra, apro xim asse aqu elas trad içõe s (explicação situacional). A prim eira opçã o pare ce ter obti do mais sucesso entre os historiadores. No enta nto , Sérg io Bua rque , perc eben do as poss ibili dade s inte rpre tativ as d a noç ão de fronteira, pare ce opta r por um enfo que situ acio nal o que já si~nifi_ca, a~iás , um dist anci ame nto de seu prim eiro livro , cujo ~nme1ro eixo de argu men taçã o está mai s próx imo do outr o tipo de expl icaç ão . Como Sérgio Bua rque indi ca em um artig o pub lica do logo que re~orna de ~ua primeira visita aos Esta dos Uni dos, é difícil falar de fronteira sem se refe rir ao trab alho do hist oria dor nort e-am eric ano Fred eri· k J k T . c ac son urne r. Até cert o pon to por is~o , o __capí tulo IV é todo ded icad o à tese da fron teira , que, vmd o a tona em um f "' . a con erenc1a pron unc iada por este autor em 1893 é um ,, . se o trabalh caso t1pico de exp lica ção situ acio nal. Mas sobre a b ºd e :ur~ er pod e ser estr atég ico nest a disc ussã o 0 io Bua rq · peração dera e Serg f ue, isto não sign ifica que a recusuas orm ulaç ões t h ração entre d . en a por obje tivo uma com paO s ois autores emb . . . decisivas. fat , ' ora isto se1a feito em passagens 0 . fl . . m uentes da h' o e. que sua obra con stitu . i-se num a das mais 1stonografia no t . r e-am eric ana e, qua ndo proc urei. d 20 estabelecer um diálogo da trajetó ria de Sérgio Buarque com autores norte-americanos ou que debatem com eles mostrou-se ' em que quase incontornável. Isto fica evidente na medida outros autores mobilizados p ara esclarecer ou fornecer marcos de comparação con1 a obra de Sérgio Buarque, seguidamente se referem à tese da fronteira de Turner. Como se poderia esperar, isto ocorre com aq ue les qu e discutem as possibilidades de se focalizar a história das Américas a partir de chaves explicativas em comum, como o norte-americano Bolton e o peruano Belaú nde - autores analisados no Capítulo III. Mas também ocorre com a bibliografia norte-americana so bre a imagem de paraíso q u e predomina entre os colonizadores anglo-saxões, como é o caso dos trabalhos de Charles Sanford e George Williams - discutidos nos Capítulos V e VII. Creio que a reconstituição do diálogo de Sérgio Buarque com a historiografia das Américas fica muito longe de esgotar seus trabalhos da referida primeira fase de historiador, contudo parece lançar luzes importantes sobre ela, ajudando a compreender, por exen1plo, a dita relação entre tradição e modernização neste n1omento de sua obra. E, nesse sentido, desde que se fizesse necessário resumir o presente livro em um mínimo de palavras, lembraria, em primeiro lugar, uma observação de Antonio Candido segundo a qual "seria possível falar, na história 1nental [de Sérgio Buarque], de uma 'fase italiana' (1952-1954) , como tinha havido uma 'fase alemã' (1929-1930)" .10 Vinculada a uma permanência em país estrangeiro ainda mais curta que os poucos anos passados na Alemanha e na Itália, exploro uma outra fase de Sérgio Buarque de Holanda. Intermediando aquelas duas, a fase "norte-americana" é marcada, antes de tudo, pelos meses de 1941 em que esteve nos Estados Unidos. Portanto, para dizer rapidamente, meu trabalho é uma inquirição sobre a fase - ou, talvez, face - an1ericana de Sérgio Buarque. Na Parte 3 ana liso efetivamente os textos do historiador brasileiro que tratam do tema da conquista do Oeste, especialmente - mas não só - os livros Monções e Caminhos e Fronteiras, além de resgatar um único argumento, porém decisivo, de Visão do Paraíso. Nesta parte, procuro demonstrar como Sérgio Buarque opera com a noção de fronteira, dando-lhe um caráter particular, vinculado à história brasileira . Esta idéia p arece adquirir bastante importância nestes textos do autor, 21 ~ do leg ad o ibé ric o n a América. ica âm din a ar ns pe re a o oaju da nd o nu ma 1s to co nd uz irá a um a p er ce pç ão da his tór ia d es te leg ad m os ar á me no s· inc om pa tív el co rn to o e u q il as Br do pa rte e op or tun id ad e, alç ad os cia a cr mo de , de da al u ig va lo re s de a b e ns ma ior es . na s so ci ed ad es n1 od ern as r à tes e de Tu rn er a ma ne ira na io lac re o ur oc pr V o ul pít No Ca a no Bras il se gu nd o ion nc fu ira e nt fro a e qu n1 es pe cí fic a co fica is flu ido e le nto n es te ca so ma ter rá ca O . ue rq a Bu io Sé rg niz ei em trê s fat or es fu nd aga or e qu tos n me ele de a po r co nt ão ao ca do leg ad o ibé ric o em re laç n1 en tai s: a fac e n1a is plá sti es es ia rei na nte en tre os po rtu gu idé da do la ao o, xã sa oan gl en co nt ra ria m ter ra s pa ra di se s na ca eri am s ra ter em de qu e Co ro a de sfr uta da s; o fat o d e qu e a sía ca s pr on tas pa ra se re m tad o pe río do co lon ial , ten ha ten o do to e nt ra du a, es gu Po rtu - ma s nã o te nh a co ns eole ntr co b so res liv ras ter m an te r as i lei ra o, o fat o de a fro nte ira br as gu id o de to do ; e; po r últ im ec e- . is de du ze nt os an os d e a nt ma m co to en vim mo em r en tra ca no , qu e im pl ico u um a eri -am rte no so ca ao ão aç rel ciê nc ia e n1 rit mo ia me no s av a nç ad a e nu m co nq ui sta co m um a tec no log ca so . n1 a is le nt o qu e no ref eri do e, ao s ub lin h ar o ca rá ter qu ar rv se ob já e sd de rio ssá É ne ce nd er l, es te ca pít ulo faz co m pr ee flu ido da fro nte ira no Brasi o foi an de lib er da de de ex pr es sã gr m co as en ap or, rig a e, qu de co rre r do tra ba lh o de no a ad us ca áti pr a r nte ma po ssí ve l a rq ue co mo tos es tud ad os po r Sé rg io Bu se ref eri r ao s mo vim en 11 sa lib er da de , até m es m o no es ei tom Se . ste Oe do ta co nq uis te de uit o de ma nt er no ho riz on tít ulo do liv ro , foi co m o int ia ue no de ba te so br e a his tór arq Bu o rgi Sé de ão erç ins a a lei tur m a tes e da fro nt eir a de co o log diá o e s ca éri Am s co mu m12da se ja do ter mo co nq ui sta nã o de nto me da ran ab se Es er. rn Tu eu ro pe us e na tiv os ma is tre en o ntr co en um to, tan su po r, ~o en · 1 Es tad os ha rm on ios. o ou me no s vio en to qu e, po r ex em plo , no s . f • . , Un ido s, sim ple sm en te qu ei en ati za r, pa ra o ca so br as ile iro , ~ o a1to gr au _de ad ap taç ão d 0 eu ro pe u as tec ni ca s in dí ge na s, a • . qu e os lo ma me lu co e o fa to de m1sc1genaçao rep res enl tad a pe . es pa ço s oc up ad os pe os se rta nis tas do s sé cu lo s XV II a XIX f 7 f na o o rm am um co nt ín uu m ' az en do -n os pe ns ar - co m o já fo i ob se rv ad o po r N e 1so n W er ne ck s·0 d , re, pa ra fa ze r re fe . um a , rên cia ap e na s au to r - ma is em um arq u1. pe lago do qu e nu m co nti ne nte _ 13 22 Capítulo VI anali sa casos exem plare s de como , na obra de Sérgi o Buar que, apare ce a dinâm ica da front eira em ação. últim o A organ ícida de dos exem plos nos leva ao sétim o e capít ulo onde se anali sa o resul tado do proce sso de conq uista do Oeste . Neste passo , a obra de Webe r - autor que apare ce nos capít ulos inicia is do livro - , espec ialme nte os traba lhos A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo e The Religíon of China, é crucial. Desd e o ponto de vista da noção de "racionalid ade de ajust amen to ao mund o", anali so em que medi da pode -se falar em uma ment alida de capitalista quan do nos refer imos aos resul tados da conq uista da front eira - e, de uma form a um tanto esqu emát ica, d..iscut o o que pode ser toma do como posit ivo da persp ectiv a daqu eles valor es consa grado s nas socie dade s capit alista s mode rnas, para depo is focal izar o que pode ser tido como negat ivo. Em todo caso, e esta é minh a conc lusão , neste mom ento da obra de Sérgi o Buar que, e espec ialme nte nos texto s. da segu nda meta de da déca da de 1940, surge urna relaç ão entre tradiç ão ibéri ca e mode rnida de na qual estas não são incom patív eis de todo, a pont o de se ·pode r até pens ar em um otimi smo do autor em relaç ão à mode rniza ção da socie dade brasi leira atrav és de um cami nho prom issor e rico, ainda que não isent o de prob lema s. o 23 p A T I ~~A~ll l~c~ICO E e p A T u L o ltGADO !~~RICO t AMcRICANl~MO Em 13 de janeiro de 1931 , aportava no Rio de Janeiro o navio Bajé, do Lloy d Brasileiro, trazendo de volta da Alemanha o co rres pondente Sérgio Buarque de Holanda. O envio de artigo s para O Jorn al, de Assis Chateaubriand, a tradução de filmes dos estúdios da UFA, como o Anjo Azul, com Marlene Dietrich , a colaboraçã o na revista Duco - especializa da em relações comerciais teuto-brasil eiras - e a intensa vida boêmia tnão impediram que Sérgio Buarque ass,i~t--i~.s e...à,.s__::a,;1;:Üas ~cl,e- L r J J_ História. e Giênci-fts~~E>€-iaci&,- -es-tudas&€ Meinecke , Sombart e ,v{,f\L ...(};Weber e voltasse com qu atrocentas páginas de anotações sobre o Brasil , a p artir das quais pretendia elaborar um livro ot· / J; com o título Teoria da Améríca.1 O livro não foi escrito, mas l , ... :, d .. ' , . 1 ,; a partir daqu elas anotações o autor elaborou um artigo publicado em 1935 na Revista Esp elho, intitulado "Corpo e Alma do Brasil". Com alterações , esse artigo compôs dois capítulos do ensaio publicado no ano seguinte, Raízes do Brasil. O mais conhecido livro do autor, e tamb ém o mais polêmico, e ncontra-se h~ 1r--'1tgésirn--sé-tima ediçào brasileira e em traduções para o italiano (1954) , o espanhol (1955); t em du as versões japonesas (1971 e 1976) ,-{;. li.a~ ?) , l-1lDi~ ) 1 Embora seja o livro mais famoso de Sérgio Buarque, a trajetória de Raízes do Brasil foi tortuosa em termos de crítica e mesmo de venda. Desde 1975 vem tendo edições quase anuais e , no entanto, talvez porque atuou "menos sobre a imaginação dos moços" 2 sua segunda edição apenas foi publicada ' vo,-,\,, quase doze anos após a primeira,(Essa edição, de 1948, desencadeou um debate em torno d{ idéia de cordialidad e entre ~ autor e o escritor Cassiano f ~icardo .. Poste_riormente , em 1969, aparece a crítica que Dar e Moretra Leite formul a na ~J ~v>\ " e,., ll_tü ,. L~., .,,J;- .!+,_;,, 1 _.,.__ L/7 1\ flJ.,__, ,.,,, ] N ~ _J;._. _,l O} ( .>., J ';', 'r' ~ _ . ...:1.- .,_.__J,., ._,_ ~ , . 4_. ·Á<~ 1 }~ tJ iÍ-'1 ~ ~ ~ J J.4 - ~ - CvJ ,.,J L ' 1' ~ , ~ l ,. , }11. , ~ " . , J ~ ~ .( r.. '<> --wL t.,. J4.~ r· !,.• '•~' l✓ • ,.... • -, r J Vl,<.t-, / ' , ·• '' < 1 ...(..." {~· ~ ,, ; -~ ,~-·1':.~ .... e'·'' '\ - . - _ revista e atnpli ada - d e O Caráter Nacion l a ,., segunda e d 1çao . . p . e le Raízes do Brasil pauta- e e m tres corre nte s Brast.leiro. ai a . , • 11 eterogêneas que acabam or resu ltar nun--. . " lª de rac1oc11110 . ~ lo' gi·ca" alé m de uma delas ser uma generaltzaça~o ,, 3 . . ' "contra d 1çao e classe a lta para , '' descrição intuitiva do brasileiro . , . de uma •edade portanto uma ideologia. E interessante notar . . . ~ .. . , to d a a soct que, enquanto Cassia no Ricardo cnt~ca. a diluiçao sofrida pela descrição do caráter nacional brasileiro na ;eg.unda edição de Raízes,4 Moreira Leite ce nsura a pennanencia d esse tipo de construção . Esta últin1a crítica foi incorporada e divulgada por Alfredo Bosi e Carlos Guilhern1e Mota,na década. d~ 1970,s ao mesmo tempo em que as edições de Raizes se multiplicavam. Além das edições quase _anu ais que, desde então, vem tendo, a d é cada de 1990 assisté~ um crescente interesse acadêmico ~de ✓ -~ f-"'' pelo livro de Sérgio Buarque / ~ 1 t•.b'IA-'-'-l A-.. •• -,.. r.k /;;; ,i/,r Essas ráp idas p assagens da trajetória ·d e Raízes do Brasil °' ~k--i@s-oo-i-ntg·i:es-sam-g...tr-a.balh,1_q~ue p_odcria r..esultat:,vEla . a-Rátis,e -da recepção - -à a obra -à5 .5é-t=gio .. Buarque. No entanto, íJÁ ,. para a finali dade deste livro , a.,Í:; ~i~ão a uma breve leitura e.,.;. de Raízes do Brasil que ressalte os dilemas da modernização J_, .. brasileira parece sut:ki-~. O resgate do modo pelo qual seu &-~< 4autor interpreta este processo p ermite, devo adiantar, a consti- r-~ ., tuição de um quadro que facilite a leitura - em capítulos )' .· dos textos de Sérgio Buarque acerca da conquista _r-- posteriores . . do Oeste brasileiro, nos quais é possível inferir algumas reconfigurações do pensamento do autor quanto ao mesmo tema ,µ ,_relativo à modernização. J '· · - Ao menos desde "O Significado de Raízes do Brasil" que, a partir nio Candido -j,_ aprese~tação ~s~rita por A~ t da quinta ed1çao, de 19~~ acompanha a obra de Sérgio ,.. f Buarque - se tem chamado a atenção para a importância da ?bra de Weber na construção de Raízes do Brasil. Vinte anos 1 ~ ,,, m~is tarde, George Avelino Filho \ l,'9$,V.). concluía seu texto "As ~aizes de Raízes do Brasil", lançando, em forma de perguntas, ive rsas tarefas para a interpretação do livro dentre elas a · ' , b " · d de '4-.. uencia e We er alem da construção de tipos . iit 1~a infl ·ct analisar d 1 ea1s 0 >Jzmente esta tarefa foi levada a cabo por Pe ro . · ~('@~ Meira Monteiro ~ AQ d ue a do Aventureiro. Este mesmo autor f .., . em f d • az re erenc1a a um texto escrito por Brasil Pinheiro Macha 0 em h 0 menagem a ·t o os quarenta anos de Raízes do Brasi , n . q ual 0 h'istonador te · pa~anaense teceu, em 1976, uma insttgan t _ 1 _ 1 1M ,.,_ ~ )'\Jz . / :..t.u.,.-h ~"•.r,._1; ( .vi"'J ~ . ~ ; e \ r l n J ,1 • 28 li~~ij . __ I , ,, ~,-L J,-.,__ c, \ ) t ' .J n '-Jr.,,. t , , ~ t' • · U...., f l~ / , . ' , -~__, , .;_.., .. ✓ .' ·• -~ (}., ,.__ ~- - ./!~ " . t í ! } t rJ.. f.vv J/JI ,,' , - ,., 1~ u,{X_,.~l\-ii · interpr etação da primei ra edição do livr de Sérgio Buarqu e, realizando em boa n1edida a tarefa de det nstrar a itnportância 7 de Weber na constru ção do argum ento e e Raízes do Brasil. Ch"4"L ·~ i "l . À, n o 1,,,-...._ _ ce Brasil o _aízes,d e 1tu-r$cl ~ ~ugere d ~ a M o Pinheir ~~ un1 reexan1e da historia da socieda de bri tleira a luz da problen1ática e da n1etod ologia weberi ana" .~n.11•Nesse exame , Sérgio Buarqu e lançari a tnào da obra de Weber "sem o seu 'diálog o con1 Marx' e sen1 as reelabo rações que os pensad ores não alen1àes lhe dera1n", o que neste caso quer dizer que o ensaíst a não incorpora, dentre outras, as análises de Tawney, elabora das 8 en1 Religion and the Rise of Capitalis1n, de 1926; e, naquel e caso da ausênc ia de diálogo com Marx, significa que em Raízes o capitalisn10 é interpr etado não como um sistema, m,as fundamental mente como uma raciona lidade específ ica. Com esse quadro en1 vista, o comen tador conside ra que o livro de Sérgio Buarqu e repous a basicam ente em três catego rias princip ais elabor adas por Weber para a compr eensão do capital ismo: 1 uma ética religio sa em funçã_<? da raciona lidade capital ista; a 6}··· burocr acia patrim onialis ta e o Estado liberal; e a tipolog ia das cidade s. Podem os dizer então que, para Macha do, Sérgio Buarqu e elabor ou uma interpr etação do Brasil espelh ada nas teses de Weber sobre o surgim ento do espírito da raciona lidade capital ista burgue sa, ou , na boa expres são de Pedro ,~ ,.,,.,, Montei ro, que "o 'espírit o do capital ismo' é, pois, segund o esta interes sante interpr etação , o ponto de fuga de toda a compo sição do autor" .9 Desse ponto de vista, Raízes do Brasil é um trabalh o sobre a moder nizaçã o brasile ira. E creio que seja possíve l detecta r dois eixos básicos na argumentação que Sérgio Buarque constrói. Em primei ro lugar, lembra ndo que Weber conside ra o "tradicionalismo" como o princip al opone nte contra o qual o "espíri to 10 do capital ismo" é obriga do a lutar, pode-s e dizer que un1 dos eixos do livro diz respeit o ao nosso tradicionalismo: partind o de uma análise do legado ibérico até a constru ção do tipo ,dl"' ~ lativofü homem cordial, Sérgio Buarqu e realiza u1na gênese dos obstác ulos à moder nizaçã o . O segund o eixo é relativo justam ente ao que o autor chama de nossa revolução, a qual, lenta e sem alarde ' segue seu curso desde meados do século XIX\9t', , aponta ndo para a urbani zação e a constit uição de um Estado \ burocr ático no Brasil. Acomp anhand o essa esquem atizaçã o, · · passo a aborda r cada um desses eixos para, em seguida, avaliar a tensão existente e ntre e les, a qual vem à tona com toda força no último capítulo de Raízes do Brasil. SUa O TRADICIONALISMO BRASILEIRO _.,,. tipo ético que informa o espírito rque const101 u n1 Serg10 ua 1 . que pode ser dito . l'1d d da cu tu1 a bras1'le1·ra , , ' ' da raciona ª e d. . ati·smo específico desta sociedade. de ao tra icion , , corres pon ~ t . parte da caracterização do homem construçao o au o1 Para essa . 'd ·a que a cultura brasile ira permanece ibérico pois cons1 e1 f' ' . d legado transatlântico que a con 1gurou. fortemente ma1 ca a pe 1O d _ . ·1 tei· recebido esse legado e uma naçao o fato d e o B1as1 . . .ibenca , . - un1a " na fronteiriça" "indecisa entre a Europa e zo ' · " _ lhe dará uin caráter peculiar, menos carregado de a A,, f nca . ,. . "europe1sn10 ,, " a1·nda que este constitua um patnmonio seu. 11 o principal traço ibérico é o desenvolvitnent? extremado da cultura da personalidade, a qual elege como virtude suprema a independência pessoal, o bastar-se a si próprio. Gera-se, desse modo, um individualismo com elementos anárquicos que firma como valor - paradoxalmente, de sde cedo - a competição entre os indivíduos. Contudo , essa competição não possui um mínimo de sentido para além dos indivíduos, restringindo-se a mera luta pela supremacia do próprio eu e o que 1 sem permitir a estabilização de interesses comuns ~}' impede a organização com base na solidariedade de interesses."º~ Assim, a associação política só é possível entre esta gente se instaurada por uma força exterior ou com base na obediência gerada pelos sentimentos, e não pela racionalidade: 1 5 ~ lad · º'. es te 1.2,d'_ivi'd u~ 1·ismo incapaz de fazer com que cada um se . ..r-· desvincule ât " Si )J::i rltQ.~•.H ' c ~.Q.Ll~ - n~c1-... . __,." - ~. =~ ~te.__.a ttll:)leHte--se-FeStnRge .,'.. ..,. busca de suprem · d ' d . acia 1ante os outros ..fÃt leva ao cultivo ·\ 1 de vutudes inativas · " ~ · . - pots~ açao sobre as coisas sobre o universo material i · . ' ~ . _ ' mpltca s bm1ssao a um ob1·eto exterior tr acettaçao de . l . st ranha ad''--i-n_divíduo" - 12 e a canse-, .. um~ ei e _.,, quente renú · ,,.,--- d' . , ., . neta a mo if1car a face do'·rnundg. \ , "h.. '""' A renuncia em transfor - - ,~ ~ '-""1' Y:,,, ventura O " mar a face do mundo nos remete a 1emento orquest d " d ,~ b ' e \ a ordado po S,, . ra or a colonização do Bras1·1 \.P . r erg10 Buarqu A aventura não . ·r· e no segundo capítulo do seu livro. s1gn1 ica p . \ ropnamente a ausência de ação, ·!\ ,, . B 0 - · N J- < 30 __ "f- • ºA. n1as tan1bém não envo lve o esfor ço conti nuad o e plane jado, como a ética do traba lho. Ao avent ureir o intere ssa apen as o objet o final de seus esfor ços, dispe nsand o os proce ssos intermedi ários para alcan çá-lo . No dizer de Sérgi o Buar que "seu 13 ideal ~'11·iq_ colhe r o fruto sem plant ar a árvor e". As li.ç~~s de Sin1n1el e1n seu texto "A Aven tura" pode m ser > escla reced oras, espec ialn1 ente quan do afirm at#qu S> enqu anto ,, o traba lhado r estab elece uma relaçã o orgân ica com o mund o,o v· aven turei ro mant ém un1a relaçâ'o inorg ânica . Ao contr ário da ativid ade consc iente de explo ração das força s e mate riais do n1undo para a cuhn inaçã o de propó sitos huma nos previ amen te fixad os, na cond uta aven turei ra a ação e a passi vidad e - o 9s e o que nos é dado - enco ntram -se que nós conqE lsra1n clA.../.,,. tJ.. - ~ . , á. conq uista portu guesa é feita com certo entre laçad as. 14 aban dono , ao sabo r das circu nstân cias, quan do o objet ivo n1aior era a rique za fácil, alcan çada sem méto do ou plane jament o e com o maio r nún1 ero de atalh os possí vel. Esta carac teríst ica aven turei ra - na qual ,iuj),a1~.a~·~ 1,m ~ · ativid ade e passi vidad e se entre laçam - é respo nsáve l pela extra ordin ária plast icida de do portu guês, fazen do com que os prim eiros colon os se fizes sem instru ment os passi vos, sobre tudo se aclim atand o facilm ente, aceit ando o que lhes suger ia 15 o ambi ente, sem cuida r de impo r norm as fixas e indel éveis . Este domi nar ajust ando -se às cond ições da nova terra acaba por deixa r suas marc as na histó ria da socie dade brasi leira, e isto fica repre senta do, talve z de form a mais inten sa, na constituiç ão das cidad es, as quais , segu ndo a bela expre ssão Gt'é ~ S a~ , foram como que seme adas , e não cons truíd as por s, como ntos e critérios rígido ladri lhado res com seus plane1·ame . 'º,,,,., as cidad es da Amér ica hispâ nica~ Se fosse dito que as cidad es ' 1 const ruída s pelos portu gues es visav am orden ar o mund o a parti r de um mode lo suge rido pela natur eza, este mode lo seria aque le que se mani festa na pergu nta de Antô nio Vieira: ' ') · 16 "Não fez Deus o Céu em xadre z de estrel as?" Na reali dade , (Z: f. "[. .. ] a cidad e que os portu gues es cons truíra m na · Amé rica não é prod uto ment al, não cheg a a contr adize r o quad ro da 17 natur eza, e sua silhu eta confu nde-s e com a linha da paisa gem" . Porta nto, as prime iras cidad es brasil eiras não corre spon dem exata ment e àque la pode rosa mani festa ção do espír ito e da vonta de em opos ição à natur eza que norm alme nte carac teriza a const rução de cidad es e, ao lado disso , não se const ituem ~L 1,._A_ v-5, » •fr ., 1= , . ,, ,, .,,, ~J ._t\ _ _\,,,,._ PJ,,..-. ~. ~~.., L A-J,,. , t- r~lt. 1 , ,. ~ l l . .~ . d d minação. Ao contrário, o centro gravitacional e ,1 d ,, em cen t1 o e O , configu . e da sociedade esta no mun o rura , 1 d da economia ea rural or en esp o entre "desequilíbrio do f . ,. . ra ndo um pro un do rura fenomeno ao corresponde que s a"1 bai . ,, . ~ 1111sen a ur 1 no povoaçao _ . concentrada f l 1.s1n 0 . Este fenômeno, associado à litoral , destaca O acentuado caráter de eitonzaçao, r:1uito mais do que de colonização, e nos remete novamente a natureza aventureira desta, da busca de ganho fácil, quase como dádiva das circunstâncias. Un1a colonização que espera muito mais receber de pronto as riquezas do que transformar o mundo em prol de seus propósitos. Aliás, não à toa, Sérgio Buarque destaca , a partir da segunda edição de Raízes, que a agricultura colonial da cana acaba por ser bastante próxima da mineração, pois os processos utilizados eram simplificados ao máximo para que a riqueza custasse o mínimo de trabalho.19 Em suma , se pensarmos o empreendimento colonial - com sua ânsia de ganho fácil e lucros por meio do comércio _ como capitalista, devemos nos referir àquele capitalismo que Weber considera como aventureiro, no qual seu condutor até mesmo "se ri de todas as limitações éticas" - 2º limitações que caracterizam, aliás, o espírito do capitalismo racional oderno , ao menos em suas origens . . A supr:macia do ambiente rural que resu~ta desse empreen- dimento e, por_ ~ssim. dizer, a geradora d 6"'personagem que sintetiza o tra_d1c1onalismo próprio da sociedade brasileira, o home1!1 cordial. Os do_m!nios rurais alcançam, no período d d 1 t· colonial , uma extraord1naria autonom1·a a - re,, a 1va es . d e alimentos, d . e móveis e pro uçao roupas ate aos cuidados espirituais_ e ti· h d n am como centr 0 d e po er o senhor rural, f ,, . em torno do qual gi a . ,, 1 r va a amtl1a que , pe o seu cara ter d1latado, lembrava as da A t' .. 'd n 1gu1 ade Cl -- · " . assica, pois incorporava os escravos e agregados C filhos aterrados" seg d. om pai soturno, mulher submissa ' t . un o a expr ~ d , ,, . . essa o e Ca p1strano de Abreúc,, . e5t a familia "se ach , a estreitamente v· v·ct~ µ,.. escrade idéia à inculada f' _1 ao, e em que mesm O os tlhos / livre d sao apenas os membros s esse organismo inte· iramente s b d' Nada 1· · . u or inado ao patriarca". 21 d , _imita a autoridade d f nenh pai' o 1 ru om1n10 uma orça externa ao ra o detém , f azendo co . se1a absorv m que o núcleo familiar ente da vida dos h absolut · omens a Prepo d " ' CUJa educação ganha n erancia dos 1 homem aços de s cordial angue. Assim nasce o . ' que, tornandod 1ncap se az e compreender 32 ' ' O\} I ,,1, • ,.,,,L. regra s abstr ~as e seguf f um oroen amen to impe ssoal , segue os itnpu lsos e s timen tos que, bond osos ou não, nasce m do cora ção_ "pr ceden1, assitn, da esfera do íntimo, do familiar) ;-/ l/'•' - •· ' ,l,,J,~ ~ ~ ' I 1; A(_ 0\ o{-, ?-,-, l9t,,. , 22 . do priva do". Sérgio Buar que faz quest ão de cham ar a atenç ão para o fato de que o Estad o e seu funci onam ento atrav és da burocracia não resulta 9.ª depu ração suce~~§t a...dalamília e d~ suas -~ ~ . Multo ao •2.:.: relações marcadas t ela se1:timentq t((pe~~on~li~ contr ário, some nte âasu bstitu ição dos laços de afeto e de sangu e por princ ípios gerai s e abstr atos pode surgi r o cidad ão adeq uado a um apara to estata l com funci onam ento buroc rático e uma ordem legal in1pessoal. Nesse sentido, a cordi alidad e é dificiln1ente comp atíve l com esta ordem e com a distin ção ., ~ entre -'ª~ e~furas públi ca e priva da, corr_:o verem os com mais _/ vaga ~_(es te capít ulo, ~9 ~ ~~rce iro item. · Esse é, em linha s gerai s, o racio cínio segui do por Sérgi o Buar que na const rução do que se pode consi derar um dos eixos de argum entaç ão de Raízes do Brasil. Cabe lemb rar aqui a obser vação de Avelino Filho: "A cordi alida de é o resul tado direto da mate rializ ação da 'cultu ra da perso nalid ade' na colôn ia [.. .]. Hera n ça ibérica, rural ismo e cordi alida de são 23 coisas que anda m junta s." Nesse senti do, pode -se consi derar todos esses aspec tos como const ituint es de um mesm o feixe de quest ões. Dito de outra forma: desde a apres entaç ão do legad o ibéric o, assoc iado à cultu ra da perso nalid ade, até a const rução da idéia de cordi alida de, passa ndo pelo rural ismo e pela avent ura como elem ento orqu estra dor da colon izaçã o, Sérgi o Buar que está descr even do o tradi cioE1JJ~ Cl-' nalis mo pecu liar à socie dade brasi leira. Para escla recer outro aspec to desse nosso tradic ional ismo e levar adian te a suges tão segun do a qual Raíze s do Brasi l consi ste num diálo go com a obra de Weber, vale a pena explo rar outra trilha indic ada por Pinhe iro Mach ado. Ante s de tudo, este autor recor da que com as guerr as relig iosas o mund o catól ico europ eu ficara reduz ido e que, então , a Cont ra-ref orma empr eend e, como uma espéc ie de comp ensação , a conq uista espir itual da América, do Extre mo Orien te e da África. Com isto, o Brasil torna-se um cenár io privil egiad o dessa conqu ista, a qual, pode -se dizer, consi ste quase que em um exper imen to de mater ializa ção do clima da Contr areforma no Novo Mundo, da mesma maneira que s: _ ,que _a !~ t~r111, ~~ • ; ,, das crenças puritanas. 24 . Inglaterra o e leitura de Raízes do Brasil como colonização da No~a d . Mac h a d o e1ege egu1n .o sua b ·anas Pinheiro 'd Nesse senti do, s tegonas ' we en rime iro ca pítulo , onde Sé rgio d um espelho as ca " • , ·da passage n1 o Ph 'a de Jesus - " que 1mpos seu uma rap1 e · à Compan 1 e ·T o de Trento" - 25 Buarque se reiete , fri to ao inundo católico , desde o onct t . transportada ibérica cultura desta t' . esp ,, 'd 1 ~ como chave exp 1ica iva do comentador "nessa rap1 a a usao ao ' Segundo as pa1avr as . de Trento está um dos pontos chave para o desen, . · eonet 110 ·t volvin1ento da problemática de Raízes do Brasi , ~01s que é aí que seu autor identifica uma ética religiosa diretamente 26 .,. ' pro t es tan te ' " . oposta a' ' ettca Seguindo a mesma linha de interpretação torna-se importante dizer que Sérgio Buarque faz referência ao Concílio de Trento quando comenta o reaparecimento da querela do pelagianismo, na qual a Companhia de Jesus teria tido um papel fundamental contra os princípios predestinacionistas, reação que, para o autor de Raízes, é uma espécie de prolongamento, na teologia, da cultura da personalidade que predomina entre os povos ibéricos e que gera uma desconfiança em relação às teorias negadoras do livre-arbítrio e do mérito pessoal. 27 Como a doutrina da predestinação é justamente a base do {üiifu~to" ' puritanismo e, na argumentação weberiana , hlot s_ ~apitalismo, aquela reação contra os princípios ,_>;: d.Q espí~ito · fred~s~1~ac1o·n·1stas concertada pela Companhia de Jesus, uma 1 st1 n_ tuiçao nitidamente ibérica", é significativa para levarmos adiante .ª forma de leitura sugerida por Pinheiro Machado. Sem a d~utnna da predestinação - ou mesmo alguma concepção ~ h equivalente - 0 trabalh 1 :? nao e ega a ganhar a conotação religiosa do ter maneira nunca mo ta emao beruf e do inglês calling; dessa d se ornou uma tarefa , que pu esse, por seus . ~ resultados vir a 1, d' n tear a e 1e1çao d . d. "d , º. in 1v1 uo por Deus, ficando ausente do rol d . d lica. Nessa linha é l"1c ·t edvirtu es cultivadas pela ética cató1 o estacar d · ,, . ois pontos presentes no argumento de Raízes- 0 a mor ao oc10 a t . , n es que ao negócio e ª renuncia à modificaça~0 d o mundo. . . O primeiro, "o ócio que im o que o negócio" é como mais ~a p confirmaremos em capítul ' ' os seguintes no t b 1 ' uma expressão recorrente ra ª ho de Sérgio B uarque E n como c .' ' esse momento aparece omponente da · ' imagem invertid d 0 protestante ,l pois ª ?º - ' ".-• 34 ',l._ , 1 ,--, , .,,L\;1í- ~/ ,,-r,---/\A: / l . , ::-:', . 1~ J ., ~ '?L- - · ~ e_.,_ ct_ ".,~ ~J...,._, L "li ( ~ ) [. ..) enqu anto os p ovos protestantes, herde iros nesse ponto do mund o medieval, que não des preza va o trabalho físico, eleva m e exalta m o esforç o manu al, as nações ibéricas coloc am-se ainda largamente no ponto de vista da antigü idade clássica. O que entre elas predo mina é a conce pção antiga de qu e o ócio imp orta mais que o negócio e de que a ativid ade produ tora é, em si, me nos 28 vali osa que a conte mpla ção e o amor. (Ê nfase s acres ce ntadas) cor 1 c,.w,( ~"~-,., fj 1 o cons eqüe nte culti vo de virtu des O amo r ao ócio , inati vas, nos leva ao s gund o pont o, em qu e mais uma vez pode mos enco ntrar un1 cont rafac e do argu men to webe riano , pois por essas virtu des o indivíduo "se refl ete sobr e si mesm o 29 e renu ncia a modi ficar a fa ce do mundo". Vale lemb rar aqui a contrapos ição estab elecida por Weber, em Religion of China, entre o racio nalismo que resulta do prote stant ismo , um racionalismo de dom inaç ão do mu ndo, e o racionalismo de ajustame nto ao mun do, com o qual Web er carac teriz ou a form a de vi da confucian a.30 Nest e pont o, as liçõe s de Harvey Gold man em seu livro sobr e Max Web er e Tho!llas Man n pode m ser úteis . Com o deix a claro este auto r ao fazer uma apro xima ção entre a conc epçã o de voca ção em Web er e o impe rativ o categ órico kanti ano , o racio nalis mo de dom inaçã o do mun do exig e que o self natu ral pass e por uma revol ução. Mas enqu anto para Kant essa revo luçã o seria o resul tado de um princ ípio criad o p ela razão p ara direc iona r toda decis ão mora l e ação do indivídu o31 - um imperativ o categ órico , porta nto - , para Web er 32 o contr ole do self natu ral só pode ria estar calca do na religião. E o prote stant ismo foi a únic a das relig iões mun diais que prov ocou essa revo luçã o inter ior, exat ame nte por estab elece r uma tensã o entre o indiv íduo e o mun do que não pode ria ser solu cion ada pela ausê ncia de ação ou pela ação fora do mun do, mas some nte abra ndad a pelo trabalho em uma voca ção p ara a glóri a de Deus .33 Esta ação no mun do, mas em tensã o com ele, exig e a conf orma ção do selfde acor do com a vont ade dess e Deus supr amu ndan o - e não por meio de valor es secu lares -, conf orma ção esta que, desd e a conv ersão - que cons iste num "rena scim ento ", num a revo luçã o inter ior - , orde na e racio naliz a a vida, perm itind o o surg imen to do que, para Web er, é a pers onal idad e par excellence. A parti r do cont role e orde nam ento do self o indiv íduo está apto a agir no mun do , ou melh or, a conq uistá -lo. 3S . 010 0 de acom odaçã o ao 1 ,, , , ·1 l b , is a . de racion f c1·onis1no. E utl em rar a t1po ndo segu o , Ja · u ao co n u S hluch ter ao apont ar que no texto assoCJO \X'eber , mundo al de u origem a Religion of esquis a de Wolfgang c 0 P qu • · " de 1915 de proxi midad e entre 0 .. "Confuc1an 1s1n , ~ Weber ident1f1ca u1na gran . alemã, açao) (form ng Bildu de ~ ' _. d . China - , . ,, " içao a t1 a e es írito confuc1ano to da esp1n de , texto do io sun1ár -l r p 1 ,, no o, chega ndo a non1ea e pensa r o ,, 34 Nesse camin ho é passiv • . ' f . a Bíldung con ucian como · ado a esse espíri to carac teriza ndo-o . a 11.smo 11g _ . racion resultante de reformas gradu ais no seif natura l. Aqui a açao no mund o não se dá a partir de princí pios de um Deus que está em tensão con1 o mesm o, mas a interi oridad e, ao invés de transforn1á-lo a sua image m e se1ne lhança , molda -se por , meio do interc âmbio com a exteri oridad aj a amiza de, por ndo exemplo , ao contrário do que ocorre no calvin ismo, ganha ~ 35 um lugar proem inente nesse proce sso d e f ormaç ao. A esse último tipo de racion alismo , consid erado por Webe r con10 o mais próxim o de uma antíte se daque le que surge com o protes tantism o, é possív el aprox imar a renún cia do portu36 guês em modif icar a face do mund o . Neste caso, no entan to, esta renún cia e sua ausên cia de tensão com o mund o não está associ ada a nenhu m tipo de comp ortam ento rituali zado, como no caso do confuciano, e, nesse sentid o, nosso tradicionalismo corres ponde ria a uma acomo dação ao mund o até mais ra dical , no sentid o de que, se nos dois casos a condu ta é determ inada a partir "de fora", enqua nto o confu ciano ten1 sua condu ta determ inada a partir de um conju nto de regras minim ament e orden ado, o portu guês rotini zaria suas atividades apena s pela adequ ação às .circun stânci as exteri ores. Como chego u a sugerir Jessé Souza, ao falar do hotne m cordial no texto intitulado "O Malan dro e O Protes tante" . ' . . e 1e e h ega d o muito tivesse Weber estuda do o Brasil [•·. ] te na prolv~v elm~hnte, ª uma conclus ão semelh ante a de Sérgio B'uarque, ,, . e e eito O ornem cordial ' como o contrar io perfeit o do protesE" tante nó d' ~ que como eh r 1co. ama atença o Sérgio Buarqu e, d'' falta ao homem ,, . . cor 1a 1 até mes mo O d a d o ntual1s t1co das boas . maneir as que caracte riza O e f . on uciano e o orienta l em geral e f que implica alg . uma orma a· d que superf1.c1al e ditada pelo exterio r de reg 1 _ d ' m ª u açao a condut a.37 ' No que diz respeit o ao trabalh o, é necess ário dizer que ele não se encontra ausente desse contexto, mas não adquire o significado que recebe nurna vida protest ante - sua central idade na sisten1atização da vida - e nen1 mesmo o sentido que tem para um confuc iano, o qual - dentro da sua raciona lidade de ajustan 1ento ao mundo - subme te-se ao ordena mento burocr ático do Estado , até porque , para ele, "a ordem cósmic a do mundo era consid erad a fix a e inviolá vel e a ordem da 38 socied ade era apen as un1 caso especia l disso" . Antes, nosso tradicionalisn10 pern1an ece associa do à aventu ra e, no trabalh o, [. .. ] não buscamo s senão a própria satisfaçã o, ele tem o seu fim em nós mesmos e não n a obra, um finis operant is e não um finis operis. As atividad es profissi onais são, aqu i, -111-eros aci~ent es na \·ida dos indivídu os, ao oposto do que suce de -entre-o utros povos, onde as próprias palavras que designa m semelha ntes 39 ativida des adquire m um acento quase religios o. Ressalt e-se que o trabalh o com o "fin1 em nós mesmo s" não implica, neste caso, uma idéia de ordena ção do self- é bom lembra r que estamo s lidand o com um individ ualism o quase anárqu ico - , mas u ma satisfaç ão de impuls os e necessidade s imedia tas. O trabalh o não cumpre , por isso, aquele papel de articul ador da sistem atizaçã o da vida que tem no puritan ismo e, por descol ado da rotina, encont ra, no seu íntimo, o seu oposto - a aventu ra. Lembr ando mais uma vez do texto de Simme l: Contrap osto à imbrica ção dos anéis da vida, ao sentime nto de que , apesar de todas essas contraco rrentes, essas viradas, esses embaraç os, se tece, finalmen te, uma linha contínu a, está aquilo que chamam os aventur a: uma parte da nossa existênc ia à qual - pela fre nte e por trás - se ligam imediat amente outras, mas que , ao mesmo tempo, em seu sentido profund o, corre por fora de 40 qualque r continu idade desta vida. (Ênfase s acresce ntadas) Se, é certo, o trabalh o não chega a equiva ler ao seu oposto a ponto de adquir ir o caráter épico da aventu ra, ele, como esta, não represe nta nesse contex to uma experiê ncia que signifique um elo que liga o antes e o depois , ligação esta que, através da sistema tização da vida, permiti ria o ordena n1ento do self e a formaç ão da person alidade , como no caso protest ante. 37 Recapitulando, 0 tradicio nalism o brasile iro está associa do à aventura e à ausênc ia de ordena mento do self, este permanecend o diretam ente ligado aos impuls os do coraçã o, sem intermediação de princíp ios gerais. De forma esquem ática essa situação corresp onde, de um lado, à ausênc ia de trabaih~ sistemático e ao amor ao ócio antes que ao negóc io e d outro, à dificul dade da formaç ão de uma esfera públic a d e e ordena mento social por regras abstrat as. ~ EXPLICAÇÃO GENÉ TICA A esta altura temos elemen tos suficie ntes para explor ar e sublinh ar a maneir a pela qual Sérgio Buarq ue pensa a relação entre o Novo Mundo e os legado s transat lântico s a ele transportado s. Com esse objetiv o, preten do classif icar o tipo de explica ção que aparec e em Raízes do Brasil recorr endo a uma tern1inologia aprese ntada por Richar d Morse1 em A Volta de McLuhanaíma. A classificação visa, dentre outras coisas, estabelecer uma chave que permit a, poster iorme nte, a compa ração de Raízes com os livros do autor sobre a conqu ista do Oeste brasile iro. Na Introdu ção ao seu livro, Morse retoma o debate surgido na década de 1930 sobre a "histór ia comum das Améri cas" e discute os tipos possíve is de explic ação do Contin ente. O projeto de uma história contin ental foi impor tante para as interpr etações constru ídas por Sérgio Buarq ue em seus livros acerca da conqui sta do Oeste, e, por isso, recons tituire mos o debate em seus traços gerais no Capítu lo III. Por enquan to, apenas adianta rei os diferen tes enfoqu es histori ográfi cos perceb idos por Morse, para avaliar, então, qual perspe ctiva é adotad a em Raízes do Brasil. . d O historiador norte-ame · s enfoqu es emarca dois ncano 41 ,, . grande no estudo histórico do Cont· • ona o genet1 co e o situaci tnente: 1. . O . . o interpre M d ta O N pnme1r . . içõ ovo un o fundam entalm ente a partir d as 1'd,,. e1as e 1nst1tu q uase es transp ortada s do Velho , tratand o-o como uma folha e b m ranco a ser preenc hida com 0 legado transatla... n t·ico Nessa li h , ·. _ao _ en ta, e comum a compa ração e, geralmente , a opos1ç n re a anglo- Améri ca e a iberoAmérica. o exem 1 p o recente mais conhe cido - e tambér n \38\ \~. J polêmico - desse tipo de explicação pertence ao próprio Morse. Publicado no Brasil em 1988, O Espelho de Próspero analisa a América espanhola a partir das opções culturais e intelectuais ibéricas do fim da Idade Média. A partir daí, o livro é marcado pela oposição entre as duas Américas, como já fica explícito na justificação do seu título: sabido que um espelho dá uma imagem invertida. Embora as Américas do Norte e do Sul se alimentem de fontes da civilização ocidental que são familiares a ambas, seus legados específicos correspondem a um anverso e um reverso. Assim, a metáfora do espelho parece-me apropriada ao caso. 42 É A segunda perspectiva, a situacional, procura alguma dinâmica própria ao novo Continente que possa significar a impressão de uma marca particular nos valores do Velho Mundo para ele transportados. A dinâmica pode variar, mas em todo caso podemos chamá-la de americanização - no sentido continental. Mais uma vez, o exemplo conhecido mais recente vem do punho de Morse: A Volta de McLuhanaíma especialmente os seus quatro primeiros artigos. O primeiro deles, "A Linguagem na América", fornece-nos um bom exemplo de enfoque situacional, pois procura analisar como as línguas européias foram transformadas no Novo Continente. Quase desnecessário dizer que, a rigor, dificilmente uma interpretação pode ser totalmente restrita a uma ou outra perspectiva. Como ficará claro no decorrer do trabalho, uma explicação situacional, por exemplo, não elimina a análise da tradição do Velho Mundo - vinculada mais especialmente ao outro enfoque. Desse modo, quando me refiro a esse tipo de classificação estou indicando a ênfase de uma chave interpretativa. Voltando aos comentários acerca de Raízes do Brasil, pode-se dizer que no seu primeiro eixo predomina uma explicação com perspectiva genética, pois sua construção do nosso tradicionalismo está fundada na reconstituição do legado ibérico. Para completar, cabe ressaltar que o ruralismo - por assim dizer, o elo entre iberismo e cordialidade e, por isso mesmo, um dos conceitos centrais do livro - é, para Sérgio Buarque, "antes um fenômeno típico do esforço colonizador dos portugueses do que uma imposição fatal do meio durante longo 39 da pt aç ão " _43 Es ta é, in cl us iv e, a pr in ci pa l di ve rpr oc es d so e•reªstada pe . lo au to r em re la ça~ o a O 1·1v · v· gênc1a 1n an w eira 1anna, cu)·a te or ia da "f or ça ce nt ríf ug a" lh . " · f' e pa re ci a ar tl 1c·:o s~ e ex tra va an te ", co ns tit ui nd o-se , co nf or m e re cl am a Se rg 10 g em no ta co ns ta nt e ap en as na pri1ne ira e d'1ç~ao d e Rai. .ze s, em " um do s as pe ct os de um a te se te nd en te a m os tra r qu e as fo rm as so ci ai s institu íd as e n1 no ss o m ei o, de po is d e al gu m te m po de co lo ni za çã o, resultan1 ex cl us iv am en te d a aç ão tir ân ic a do am bi en te an1ericano ag in do so br e a ge nt e de ul tra m ar " .44 Se m en tra r em de ta lh es em to rn o da di ve rg ê nc ia en tr e os au to re ~ pa ra m eu ar gun1 e nt o in te re ss a ap en as di ze r qu e, ne ss e m om en to Sé rg io Bu ar qu e de fe nd e um a ex pl ic aç ão de cu nh o ge né tic ~ en1 de tri m en to da te se de O liv ei ra V ia nn a, qu e, se gu in do a te rm in ol og ia de M or se , se ap ro xi m a m ai s da si tu ac io na l. --= ,, AME R IC A N IZ A Ç Ã O Ce rta m en te , Ra íz es do Br as il nã o se lim ita a o de se nv ol vi m en ta do ar guVm en to ge né tic o. Sé rg io Bu ar qu e an a 1· is a ta mb"em as tra ns fo rm aç õe s qu e se op er ava1n na so ci ed ad e br as ile ira o qu e co rr es po nd e ao se gu nd o ei xo de ar gu m e nt aç ão do liv ro - e de te ct a a ag on ia do ru ra lis m o. C on ce nt ra da s pr in ci pa lm en te no úl tim o ca pí tu lo , m as ta m bé m no te rc ei ro , su as ob se rv aç õe s co nd uz em o le ito r ao di le m a do liv ro e, po r as si m di ze r, da co rd ia lid ad e. D es de m ea do s do sé cu lo XIX vi nh am su rg in do "t ra ço s de civilização material mais ca ra ct er ist ic am en te ur ba no s" e el em en to s qu e ap on ta va m pa ra a m od er ni za çã o do pa ís , co m o a fu nd aç ão do Ba nc o do Brasil (1 85 1) e a pr im ei ra es tr ad a de fe rr o (1 85 4) , 46 m as é o an o de 1888 qu e Sé rg io B ua rq ue el eg e co m o um m ar co da s tra ns fo rm aç õe s qu e re co nf ig ur am a so ci ed ad e br as ile ira . A A bo liç ão e a pr oi bi çã o do trá fic o de es cr av os em 18 50 sã o ~u ro s go lp es e m um a da s ba se s do do m ín io ru ra l e si gn ific am , po r isso, 0 de sm or on ar da tra di çã o co lo ni al ib ér ic a, m in am su a fo nt e de pois t su s en ta ça o, o ru ra lis m o. Pa ra o au to r, ® se a da ta da Ab ol içã o ma rc a no Br as il o fim do pr ed om in agrário, o qu ad ro político ins ,, t·o tituído no an o se gu in te qu er re sp ond_er à co nv en iên cia de um a fo rm a ad eq ua da pa ra a no va co m po siç o 1 social. Existe um elo secreto estab e lece ndo com esses dois acontecim entos e numeroso s outros uma revolução lenta, mas segura e concertada, a única que, rigorosaniente, temos experimen tado em toda a nossa vida nacional.17 (Ênfases acrescenta das) Essas transform ações que indicam a mesma direção constituem a "nossa revolução" - título do último capítulo de Raízes do Brasil- , uma revoluçã o sile nciosa qu e escapa ao controle dos atores e que promove a democra tização, apontan do para un1 "maior nivelam ento da sociedad e", di ss ipando "os obstáculos à especial ização" e levando à "q ueda do prestígio do 48 antigo sisten1a rural ". A urbaniza ção que segue a passos lentos mas seguros desde a segunda metade do século XIX dissolve os valores e hábitos rurais e anuncia um novo Brasil que Sérgio Buarque chama de americano: Ainda testemunh amos presentem ente, e por certo continuare mos a testemunh ar durante largo tempo, as ressonânc ias últimas do lento cataclisma , cujo sentido parece ser o do aniquilam ento das raízes ibéricas de nossa cultura para a inaugura ção de um estilo novo, que crismamo s talvez ilusoriamente de american o, p orque os seus traços se acentuam com maior rapidez em nosso hemisfério. 49 (Ênfases acrescenta das) O que cabe ressaltar neste moment o é o fato de este processo ocorrer de forma independ ente do legado ibérico, discutido nos primeiro s capítulos do livro - aliás não apenas de forma indepen dente, mas também, e sobretud o, conflituosa - , e é por isto que se pode falar da american ização como um segundo eixo de argumen tação de Sérgio Buarque . Contudo , se essa revolução lenta desagrega a herança ibérica, não é capaz, por si só, de substituí -la por uma nova mentalidade, pois para Sérgio Buarque o americanismo caracteriza-se pela falta de poder de criação de novos padrões de sociabilidade. Assim, se o american ismo rompia com a cordialid ade, não a substituí a, e isto [... ] deve atribuir-se [... ] sobretudo às insuficiên cias do 'a mericanismo ', que se resume até agora, em grande parte, numa sorte de exacerbam ento de manifestaç ões estranhas, de decisões impostas de fora, exteriores à terra. O americano ainda é interiormente inexistent e. 50 41 Dess a man eira, o tipo idea l da civil idad e - r~lativo a urna configu ração da pers onal idad e mais adeq uada à vida na cidad e regid a por regr as impe ssoa is - , apre sent ado Sérgio Bua rque em um capítulo anterior de forma cont rapo sta a cordi alidade, não passa, con10 talvez se pude sse esperar, a se insta urar no Brasil por meio da revoluçã o en1 curso. Talvez, ness e senti do, mais exat o do que dize r que em Raízes do Brasil exis te uma tens ão entr e cord ialid ade e civil idad e sej a afirm ar que aparece un1 dese quilí brio que envo lve a deca dênc ia daqu ela ea necessidade desta . Convén1 expl orar um pouc o mais deti dam ente o porq uê do surg imen to dess a nece ssida de de civil idad e no cont exto da urba niza ção. A civil idad e é asso ciad a à "mím ica delib erad a" e , com o um disfa rce, perm ite "a cada um pres erva r intac tas sua sens ibili dade e suas emo ções ", assim , "arm ado dess a másc ara, o indiv íduo cons egue man ter sua supr ema cia ante o socia l. E, efeti vam ente , a poli dez impl ica uma pres ença cont ínua e sobe rana do indiv íduo " .51 Aqu i não se fala mais daqu ele indi vidu alism o quas e anárquic o que asso ciam os à figur a do ibéri co - e sua cultu ra da pers onal idad e - e mesm o ao hom em cord ial. Esta mos diant e de uma outr a espé cie de indiv idua lism o. Mais uma vez, as refle xões de Simmel, desta vez no texto sobr e a mod a, pare cem úteis para a cara cteri zaçã o dest e pont o. Den tre as difer ente s form as de se relac iona r com a mod a, certa s pess oas serv em-s e dela com o de uma másc ara: Pº: A cega aceit ação de todas as norm as da colet ivida de em todo o aspec to exter ior é para elas preci same nte o meio consc iente e desej ado para reser var sua sensi bilid ade e gosto s pesso ais. Dese jam a tal ponto guard á-los para si mesm os que não quere m que apare çam nem se mani feste m de form a acess ível a todos. Assim, um delic ado pudo r, uma delic ada timid ez, é o que leva algun s espír itos, decid idos a evita r que a pecu liarid ade de sua aparê ncia exter na revel e talve z algum a pecu liarid ade de sua natur eza mais íntim a, a refug iar-s e no nive lame nto dissim ulador da moda . 52 Em suma , a adeq uaçã o a norm as e cond utas exter!o.'."es ;~ ness e senti do, a quas e abso luta soci aliza ção e aboh çao indiv idua lidad e está a serv iço, na reali dade - e muit o ao 42 contrário do que parece à primeira vista-, da preservação do particular, da singularidade individual. A máscara cumpre o papel , portanto, de proteção do íntimo e da liberdade pessoal. Podemos associar a civilidade de que fala Sérgio Buarque a este meca nismo, um eleme nto crucial, ali ás, para o individualismo moderno. Nesse ponto é importante le mbrar as observações de Luiz Costa Lima e de George Avelino que, iluminando a noção de civilidade em Sérgio Buarque a partir das obras de autores como Rich ard Sennett e Norbert Elias, chama m a atenção para sua importância na constituição de um espaço público. 53 Desde os trabalhos de Elias é possível dizer que a polidez, a regulação da conduta, o autocontrole, relacionados ao mundo moderno burguês envolveu um longo e até árduo "processo civilizador" que já vinha se desenvolvendo desde a sociedade de Corte, que no caso francês - ao contrário do que ocorreu na Alemanha não foi avessa à participação de círculos burgueses emergentes. Desse modo, com a burguesia e a classe média afeita aos modos corteses da aristocracia, já no século XVIII não havia mais nenhuma grande diferença de costumes entre os principais grupos burgueses e a Corte, e, posteriormente, com a instauração da sociedade burguesa, antes que uma ruptura com esses costu mes, houve tentativas de melhorá-los e adaptá-los. 54 Já Sennett, conforme expõe Avelino, detecta uma deterioração do mundo público na cidade do século XIX, vinculada à substitu ição da noção de indivídu o que exalta a singularidade no lugar daquela que envolve reserva. Retornando ao texto "La Moda" de que falava há pouco, pode-se dizer que esta substituição apontada por Sennett envolve a desconfiança em relação à máscara, que, de uma ferramenta para a manutenção da singularidade, passa a ser vista como massificadora e vinculada à falsidade. 55 Assim, a procura dos interesses comuns e o cultivo de uma arena pública são substituídos pela busca da identidade aliada à manifestação exterior - e a todo custo - do singular. Tanto em Elias , com a construção da civilidade na Corte, como em Sennett, que aponta para a sua deterioração, importa ressaltar, conforme a consideração de Avelino, que ambos l.. .] colocam como condição principal para o surgimento da civilidade a quebra do localismo e da intimidade . A contenção 43 . le a à cri açã o de for ma s arti . ficiais de dos unp u 1sos· pes soa is v ;- cap aci taç ão d · • b'li d' de rec onh eci das por to d os, e ª soc ta t a o tndivíd uo em lida, r com seu ext e rio r de f ·· .ºr~ a/ ma i s ~e·u·t r~ .d o pon to de vista afetivo. Assim , forja -se o md1v1du~ c1v il1z ado , cap az de det erm ina r de for ma ind epe nde nte seu s int e res ses e constituid or de um esp aço pu/ bl.1co .S6 É po ssí ve l tan1bém cla rea r ess e po nto so bre a co ne xã o en tre civi lid ad e e esp aç o pú b lic o e a co ns eq üe nte dificulda de de co nst itu içã o de ste nu m co nte xto de co rdi ali dade, mo bil iza nd o algun1as liçõe s qu e Ce lso La fer - em A Reconstrução dos Direitos Hu nia rw s - ex trai de seu diá log o co m 0 pen san 1en to de Ha nn ah Ar end t, pa ra qu em a dif ere nc iaç ão en tre as esf era s do pri va do e do pú bli co est á no ce rne dos dir eit os hun1ano s no s qu ais se b ase ia um a so cie da de de mo crática 1nodern a. Se gu nd o Lafer, ess a dif ere nc iaç ão rep o usa na plu ral ida de int rín sec a do s ser es hu ma no s, a qu al po ssu i um a característica on tol óg ica du pla : a igu ald ad e e a diferença. "Se os ho me ns nã o fos sem iguais, nã o po de ria m en ten de r-se. Po r ou tro lad o, se nã o fos sem dif ere nte s nã o pre cis ari am nem da palavra, ne m da açã o pa ra se faz ere m e nte nder." 57 Arendt insere a diferença na esfera do pri va do e a igu ald ade na esfera do público. Co mo ex pli ca o au tor bra sil eir o , l.. .1 na esf era do púb lico , qu e diz res pei to a o mu nd o que com par tilh am os com os Ou tro s e que , por tan to, não é pro pri edad e pri vad a de ind iví duo s e/o u do pod er est ata l, dev e pre valec er, par a se alc anç ar a dem ocr aci a, o pri ncí pio d a igu ald ade . Este não é dad o, poi s as pes soa s não nas cem igu ais e não são iguais nas suas vidas. A igu aldade resulta da org anizaç ão hum ana. Ela é um me io de igualiz ar as dif ere nças atr avé s das ins titu içõ es . É o cas o da pólis, que tor na os hom e~s igu ais por me io da lei nomos. Por isso, per der o ace sso à esf era do púb lic o significa per der o ace sso à igu ald ade . Aq uel e que se vê des titu ído da cid ada nia, ao ver -se limitad o à es fer a do pri vad o fica pri vado de dir eito s, poi s est es só exi ste m em fun ç ão da plu ra lida d e dos hom ens , ou seja, da gar ant ia tác ita d e qu e os me mb ros de um a com uni dad e dão -se uns aos out ros .sa Vemos qu e na leitura de Ha nn ah Ar en dt rea liz ad a po r Lafer as diferenças nã o de ve m ser eli mi na da s, ma s pre cis am ficar restritas ao ãmbito privado, en qu an to na esf era pú bli ca devem ser igualizadas através das leis, institu ições e, po r qu e nã o dizer, 44 da polid e z e da civili dade. Con10 natur alme nte as pesso as não são iguais , para que sejarn tratad as como tal é neces sário que se realiz e a distin ção entre as esfera s do públi co e do priva do. Enqu anto nesta preva lecer á a natur eza e a difere nça, naqu ela preva lecer á a const rução huma na e a igual dade. Em Raíze s do Brasil, charn ando atenç ão para a força do patria rcalis n10, Sérgi o Buar que nota a dificu ldade de difere nciaçã o entre as duas esfera s no Brasil. As relaçõ es afetiv as que Hann ah Aren dt consi dera do do1nínio da natur eza se espra iam p ara alén1 da intin1idade e da esfera priva da para se aposs arem da públi ca. Resu ltava dessa circu nstân cia, escre ve Sérgi o Buar que, '' [. .. ] um predo mínio quase exclu sivo, em todo o n1ecanis1no socia l, dos sentit nento s própr ios à comu nidad e don1é stica, natur alme nte partic ularis ta e anti-p olític a, uma 59 invas ão do públi co pelo priva do, do Estad o pela Famíl ia" . Dent re as mani festa ções dessa invas ão do públi co pelo priva do uma das n1ais claras está no que Sérgi o Buar que, confo nne a defin ição de Webe r, cham ou de "func ionár io patrim onial ". Para este funci onári o, [. .. ] a própri a gestão polític a aprese nta-se como assunt o de seu intere sse partic ular; as funçõe s, os empre gos e os benefí cios que deles aufere , relacio nam-s e a direito s pessoa is do funcio nário e não a intere sses objetiv os, como suced e no verda deiro Estado buroc rático , em que preva lecem a especi alizaç ão das funçõ es e o esforç o para se assegu rarem garant ias jurídic as aos cidadã os .60 Dessa mane ira, segui ndo o racioc ínio de Sérgio Buarq ue, nãó havia se conso lidad o no Brasil um espaç o públi co autên tico, distin to do priva do, no qual, como ensin a Lafer, as instituiçõ es e as leis igual izam as difere nças entre os indiv íduos . Com a não separ ação das esfera s, as difere nças, que dever iam perm anece r no espaç o priva do, são trazid as à tona na esfera públi ca, na qual, dessa mane ira, os indiv íduos não são tratad os a partir de critér ios impe ssoai s que os igual izem. Para que pude sse haver a distin ção entre as esfera s seria neces sário, porta nto, que os sentim entos particularistas, fortes, natur ais e impre visíve is fosse m trans cendi dos por outro s que, em certo senti do são artific iais ' pois se esten dem a seres ' huma nos que não se conhe ce. É isso que leva Hann ah Arend t 45 . ~ e sol ida ried ade . Em bor a um senti~ a dife ren cia r com pai xao . ~ por ser p arti cul aris ta, pod e ser . a con1pa1xao, me nto virt uo 50 ' d ndo púb lico . Par a Are ndt cata stró fica se lev a a p ara O mu . ' seg und o Cel so Lafer, [ .. .] é a soli dari eda de, por que part icip a da razã o e,_ por tanto, da gen era l1.d a d e, qu e e' cap az de apr ee nde r con ceit ual men te 0 . . · l o [.. .1 A soli dari eda de [. .. 1 pod e se r. sus . mu, l t1p . cita da pelo sofn , . men to, mas não é guia da por ele. E ela que perm ite com pree nde r forte e O rico não men os qu e o fraco e o pob re. Com par ada ~om a piedade, ela pod e par ece r fria e abstrat a, por que está li~a~a a idéias e não ao amor pelo homem; com par ada com a compaixao, ela pode parecer ina utên tica . Entretanto,_ é, a soli dar~eda de ~ue enseja a con diçã o de pos sibi lida de do JUlZ O refl exiv o, pois a pied ade requ er o info rtún io , e a com paix ão per de a per cep ção da sing ularidad e no turb ilhã o da alm a div idid a entr e o oce ano do sofrimento exte rno e o mar d e emo çoe ~ . s mte rna s. 61 (E" n fases acre scen ta das) A com pai xão , por tan to, não pod e con duz ir a açã o no mu ndo dos hom ens , poi s ou ela per ma nec e ina ção ou tor na- se rea ção imp uls iva , sem coe rên cia e dir eçã o, o que não con diz com o mu ndo púb lico . A sol ida ried ade , atra vés da raz ão, per mit e a inte rme dia ção dos sen tim ent os e da açã o, ou, em out ras palavras, per mit e ao ser hum ano sair da sua inti mid ade e do seu mu ndo priv ado par a a par tici paç ão no púb lico . Não é algo muito dife ren te do que é not ado por Sér gio Bu arq ue, em 1936, sob re o pen sam ent o libe ral- dem ocr átic o, que seg und o ele pod e resu mir -se na fras e de Ben tha m: "A ma ior feli cid ade par a o ma ior núm ero " ,62 que , de cer to pon to de vis ta, par ece um abs urd o. 63 __ Pod em os me smo diz er que um a dif ere nci açã o sen 1el han te a traç ada por Are ndt ent re sol ida ried ade e com pai xão está no cer ne do par cor dia lida de e civ ilid ade ela bor ado em Raízes d~ ~ra sil. Nes sa dire ção , é bom lem bra r da not a de pé de pag11~ª acresc~ntada por Sérgio Bua rqu e na seg und a edi ção de seu ivro em v1rtude de s d b _ nota, o aut or pro cur a eeuf t'e ate con1 Cas sian o Ric ard o. Nessa poe ta 1 . n a tzar sua dif ere nça em rela ção ao "b00d d ~ qua sug eria sub stit uir o term o "co rdi alid ade '' por ªe ~ com o bon d declarando que nao se trata de afir mar o brasileiro oso em opo siçã o ld imp uls ion ado p . ª ma oso , ma s de per ceb ê-lo 1 e os sen tim ent os, b ons ou ma us nas cid os ' 46 64 que dire tame nte do cora ção - e não pelo s sent imen tos cteparti cipa m da razã o. É justa men te esta opos ição que cara o do riza O par cord ialid ade/ civil idad e, com o fica claro no iníci o capí tulo "O Homen1 Cord ial", quan do o auto r afirm a que ao Esta do não é uma cont inui dade do círcu lo fami liar mas, sua cont rário , nasce em opos ição à família. "A orde m familiar em ento forma pura é abol ida por un1a trans cend ênci a" e o elem 65 o racional supe ra o emo tivo. Mas, com o já disse, essa supe raçã não ocor re no Brasil, pois a civil idad e não subs titui auto mati ocam ente a cord ialid ade, e, cons eqüe ntem ente , não se cons lida a disti nção entr e as esfe ras do priv ado e do públ ico. Não deix a de ser inter essa nte mais uma refer ênci a às disum cuss ões suge rida s por Costa Lima e Avelino para , por difilado , refo rçar que Elias dem onst ra a gran de lenti dão e , culd ade envo lvida s no proc esso civil izad or e, por outr o lado sufile1nbrar que Senn ett alert a que a vida na cida de não é ção cien te para gara ntir essa civil idad e que perm ite a man uten cido espa ço públ ico. Isso não deix a de guar dar uma certa coin rque dênc ia com o racio cínio dese nvol vido por Sérgio Bua segu ndo o qual a "nos sa revo luçã o", cara cteri zada pelo forta talecim ento das cida des, desa greg ava o rural ismo e sua men lidad e sem, cont udo, subs tituí -la pela civil idad e. a Dess e mod o, toma ndo- se em cont a não apen as o que a de "nos sa revo luçã o" significa, mas tamb ém o que ela deix operar, creio que seja frutífero asso ciá-l a à ame rica niza ção, conf orm e o sent ido que este term o ganh ou a parti r da inter na \ pret ação ~ ~ de Wer neck Vian na para A Dem ocra cia Amé rica - espe cialm ente em "O Prob lema do Ame rican ismo em Tocq uevi lle" .66 O estu do dese nvol vido pelo pens ador em franc ês ganh a uma sign ifica ção mais com pleta tend o-se os, vista que seu inter esse não está restr ito aos Esta dos Unid mas sim ao proc esso mais abra ngen te do "gra dual dese nvol uma vime nto da igua ldad e", equi para do por Tocq uevi lle a l, "rea lida de prov iden cial" ao adm itir que "[ ... ] é univ ersa os é durá vel, foge dia a dia à inter ferên cia hum ana: todo s seu acon tecim ento s assim com o todo s os hom ens serv em ao dese nvol vime nto" . 67 Pode-se entã o falar de americanização para se fazer referência eito ao proc esso de igua lizaç ão socia l que, emb ora diga "resp o [... ] a todo o univ erso civilizado", se enco ntra mais adia ntad . •ado nos Esta dos Unidos , de modo que este e melhor con figui "tocha " para as outras nações.6s . na como que uma país func10 . d- s estudo s sobre iberism o e ameri'á 111 enc1ona o J Em seus . plora e esclare ce a con f'1guraçã 0 . Wernec k V1 anna ex . canismo, . d . cesso tocque vil11an o em nosso e co ns eqü ênci as esse p1 o Co ntin ente : . d'd do mode rno na América do Norte, mais O caso be m-suce t o , . · . " . .. . 1 . nde rânci a pol1t1ca , m1·1 1ta1 e econoue s1g111f1ca r s1mp es pt e po q f'lh d .. . , .· mica sobre a Amei ica d o Sul _ 'esses últimos 1 os a'b.,civ1li. , , o atraso 1 enco, zaçao _ apontai.·1a pai.a um process o e m que . . . . ' d as. d t'f . t s i'nflu ências exe rcidas pelo seu v1zmho sob impacto e1 e n e . . ,conveite ria 'às luzes' e se moderm anglo-saxao, se , . . , . 69 zan a, rompend o com os fundam entos da sua propna h1ston a . Antes mesn1 o de prosseg uir já vale a pena atentar para a similari dade dessa situaçã o com a revolu ção lenta e gradua l de que fala Sérgio Buarqu e em Raízes do Brasil, inclusi ve principalmente, pode-s e dizer - pela corrosão do iberismo. E é interess ante registrar também que a atençã o do histori ador já vinha sendo despert ada para o tema antes mesmo da publicação de seu primeir o livro , confor me podem os depree nder de sua observ ação sobre a Aleman ha quand o lá esteve como corresp ondent e de OJornal. No artigo "Atravé s da Aleman ha", publica do em setemb ro de 1929, Sérgio Buarqu e observ a que "[ .. .] na Alemanha, como, de resto, em todo o n1undo, a agitaçã o modern izadora se realizo u segund o os moldes anglo- saxões e , em particular, segund o os norte-a merica nos" .70 Contud o, a anotaç ão dessa proxim idade entre as idéias d: revolução de longo termo em Sérgio Buarqu e e Tocque ville nao parece ter grande signific ação e poder de esclare ciment o não foss e a possibilidade de levar mais a fundo a semelh ança. Segund o O escritor francês, o proces so que corrói as bases de sustent ação das so · d d • ., . . c1e a es l11erarq u1cas substit uindo- as pedla igualdade de condições sociais encont ra-se mais adianta o nos Estados Unid os, no termos de cultura e i t' · ~ entanto , sua config uração em esp 'f· ns 1tu1çoes política s - que neste caso eci tco, resulta na ' manute nça~ d preserv açao da liberda de, graças à o a arte de as · ~ chamou de doutrin a d . soc1aç ao e ao que Tocq ueville é predete rminad O ºb_1n~eresse bem compre endido 11 - não ª· o Jet1vo aqu·1 nao - e., d esenvo lver em mais 48 detalhe s a obra de Tocqueville, mas apenas reter o fato segund o o qual sua monog rafia possui uma intençã o bastan te precisa que vai alén1 da idéia de ler nos Estado s Unidos o futuro de outras nações . O fato crucia l consist e em que a revolução da iguald ade é inexor ável, 1nas seu resulta do na esfera polític a não é auto niático e necessário. Ou, nas palavra s de Werne ck Vianna, "o social não explica o polític o, a iguald ade não traz consig o a liberda de". 72 No caso de Raízes do Brasil a revolu ção socia l envolve, se quísern1os usar as palavr as de Antoni o Candid o em conferência sobre este livro, "o fin1 da tradiçã o colonia l luso-b rasileira (ou seja, a nossa fórn1ula originá ria)" e "o advent o das n1assas popula res", 73 n1as não se sabe ainda a config uração polític a deste proces so. Con10 já disse, a americ anizaç ão no Brasil golpei a a aristoc racia rural e dilui a cordia lidade mas, por outro lado, não traz consig o, automa ticame nte, a civilidade e nem novas institu ições política s. 74 Não se deve dizer que as proble mática s sejam idênticas, mas como em Sérgio Buarqu e a revolu ção da iguald ade de condiç ões sociais encont rava-se , lenta e muitas vezes imperc eptivelme nte, em curso sem, contud o, signific ar uma definiç ão na cultura e institu ições políticas, o concei to de americ anismo parece ser bastan te elucida tivo para sintetiz ar o que consid ero o segund o eixo de argum entaçã o de Raízes do Brasil. A TENS ÃO DE RAÍZE S DO BRASIL Já começ a a transp arecer o fecho quase trágico do livro. Com o que vimos até aqui, é possív el avaliar a ausênc ia de fecho progra mático - fecho que era comum entre os autore s da época - e ilumin ar as tensõe s presen tes en1 Raízes. O último capítul o do livro, o lugar que poderi a ser o da aprese ntação de uma visão prospe ctiva e de progra ma, não aprese nta soluçõ es. Sérgio Buarqu e indica que é necessá ri~ a formul ação de um camin ho própri o que leve em consid eração as particu laridad es brasile iras, inclusi ve esse parece ndo ser o sentido de sua retoma da da crítica à distânc ia entre o Brasil real e o legal. 75 Assim é possível consid erar o livro em si como uma resposta a esse descom passo, na medida em que consist e em uma > . ·ntei·pretação razoável da história s t ruir u tn a 1 ressão de Sérgio Milliet, "buscava abrir le nrattva e e e O 17 , 1· t " 76 N~ . naci ona l que, na exp ao é . 1 para uma política construtiva e rea is a . . J 10 um camm Jo . ~ no sentido enta nto um programa de açao ' apresen tae (_J ' 110 mais corrente. George Avelino Filho, interessado na ausê nci a de fecho programático em Raízes, observa que esta característica "[. .. ] resultava das dificu ldades de conci li ar uma defesa da espontaneidade nacional, plural e desarmônica, com um programa 77 democrático e toda a sua carga de instituições e leis abstratas" . Essas dificuldades podem ser vistas a partir de, pelo menos, dois ângulos. Em primeiro lugar, levando-se em conta a dinâmica do eixo de argumentação relacionado ao americanismo, pode-se dizer que o espelho presente em diversos momentos do livro - a matriz formada pela ética protestante, a democracia liberal e a ética do trabalho - não constitui, como se poderia pensar, o resultado da revolução silenciosa que segue desde me~dos do século XIX. Como vimos, nossa revolução t~nde a mmar a cordialidade sem substituí-la pela civilidade. Ja se.pode falar aí de uma primeira dificuldade de resoluçã 0 do dilema brasileiro. De um segundo ponto de vista, esse processo não é apres~nt~do de forma a ser totalmente avassalador a onto d ~:g ~~ª~{i::e~:ap~t~~ofadzer _referên ~~as a traços Je cordia~ o 1ivro A 1ias a amb' .. 'd d 1gu1 a e de ' . cordialidade de traços ora realçar do "fluxo parte fazem que . . , d e refluxo" . ~ o pais' ora indicar a sua de . stru1çao, chegou a ser " lida como o resultado d e uma contrad1ç~ 1-- · ao ogica na estrutura" d e Raízes do Brasil 7B O utros autores . 'lh ,.. ' como George Avelino f F1 o e Pedro Monteiro ' pre erem ve-la c orno um dos sintomas d d' " . que dá vida 1· a 1nam1ca ao 1vro De ~ um modo ou de outro . a tensao oscila entre o des ' moroname t d ,. . a n o e traços ibéricos e d permanenc1a deles ge neste caso ' ou o que Sérgio ran Buarque eh amou em ' certo nordte-americana, de cultur:t,mento, seguindo a Sociologia · ag, ou um d mo erno _ a esfiguração do . como no caso do "f unc10 -- · e · nano patrimonial" _79 • d reio que desses dife rentes angulos subsi . esencontro . Para ~te um mesmo o desenvolviment d importante ob em dois eix servar que à estrutura _? e mtnha análise é çao de Raízes do Brasil os corresponde a percepção d S,, . e erg10 Buarque so °, segundo a qual do iberis1no não pode surgir algo compatível co 1n o anzerica nisnio. Da cordialidade não surge a civilidade, e apenas con1 aquela não é possíve l ne n1 que o amor ao negócio supe re o an1or ao ócio, nen1 a constituição de uma esfera pública . O desencontro do ensaio resulta, portanto, d a impossibi lidade de cruzamento dos dois e ixos . O prime iro é um argun1ento historiog ráfico que, no que diz respeito ao Continente, é genético, pois trata a cu ltura brasileira como um fruto do legado ibérico. Por essa via, chega ao "homem cordial", o qual n ão passou por u1na revolução interior qu e lh e p e rmitisse se tornar o que p a ra Weber seria uma p ersonalidade par excellence. So1nente com a formação dessa personalidad e poderi a surgir un1 indivíduo que amasse antes o negócio que o ócio e que ass umisse a autonomizaç ão da esfera pública e1n relação à privada. O segundo eixo diz respeito ao rápido processo de america nização tocquevillian a que se opera na sociedade e que tende a diluir a cordialidade sem, no entanto, criar novos princípios. É um processo que exige civilidade sem produzi-la . Ou, nos ter!:11º~ -~eb_e ria nos, que exige uma revoluç_ã <2__90 si{f nat_u ral em direção à.personalidad e, mas · não _a _p r_?voca. Con10 observou Antonio Candido em texto recente, "no capítulo final de Raízes do Brasil poden1os dizer que há uma espécie de oposição entre duas trincas: luso-brasileiro -domínio80 rural-agricult ura versus imigrante-cid ade-indústria " . Nun1a p alavra, e usando os termos que venho elaborando, os dois eixos que estruturam o raciocínio de Sérgio Buarque se constituem e m paralelas e, logo, não se encontram. O fato 81 é que a "revolução lenta, mas segura e concertada" que opera transforma ções na sociedade brasileira desde n1eados do século XIX encontra um tradicionalism o - caracterizado pelo ruralismo e' pela cordialidade - absolutamen te incon1patível com o processo de americanizaç ão que aquela representa. Se a americanizaç ão não traz consigo uma n1entalidade que se encontre dentro do círculo traçado pelo tipo ideal da civilidade, tampouco - e é isto que pretendo ressaltar - se poderia esperar do legado ibérico algum traço que pudesse vir a ser compatível com uma sociedade burguesa, pois desta tradição nasce a cordialidade, que dificulta a form ação de uma esfera propriamente pública e a inversão da equação do amor ao ócio antes que ao negócio. 51 e A p T u L o 11 UM AUTOR Rcl~ ~tU llYRO Para a publ icaçã o da segu nda ediç ão de Raíz es d~ ~rasil, Sérgio Buar que de Hola nda reali zou uma ~mp l~ ~evt sao do texto. A versão consagrada, que se lê nas atuai s ed1çoes, correspond e ao texto da terce ira ediç ão, e a disp osiç ão das nota s e a diagran1açã o fora1n defin idas pela quin ta, mas a maio r parte das n1odificações subs tanti vas já havi am sido inser idas na segu nda edição. 1 Gran de parte dos com enta dore s de Raízes, como Geor ge Avelino Filho e Brasil Pinh eiro Mac hado , cons cient es dessa s difer ença s, fazem ques tão de reco rrer em suas análi ses à prim eira ediç ão. Mas, aind a que Pedr o Meir a Mon teiro tenh a se preo cupa do em com para r as ve rsõe s das passa gens por ele traba lhad as, está para ser reali zada uma comp araçã o sistemática entre elas, espe cialn 1ent e entre as duas primeiras edições. É prov ável que este emp reen dime nto viesse ~ contr ibuir en1 gran de med ida para o estu do da traje tória mtelec,tual de Sérgio Buar que e mesm o para a inter preta ção de Raiz es do Brasil. Devo avisa r que, mais uma vez, meu s obje tivos são bem meno s prete nsios os do que a taref a a ser reali zada . Além de algum . .as obse _ rvaç ões gera i s, a b or d arei. apen as dois tipos de mod1ficaçoes, ou talve z seJ·a melh . d' ,, . ' 01 1zer, aten uaço~ es, reali.d as por Serg10 Buar que za . _ao U na segu n d a ed1ç de seu livro. ma trata das ressa lvas às teses d , . Espírito do Capitalismo, de We e A Etica Prot estan te e o diz respe ito à capa 'd d ber, acre scen tada s agor a. A outra c1 a e expl ic t' d a histó ria do Brasil A ,, . ª iva O lega do ibéri co para ,, . s ana 1ises dess a d'f ~ . e claro, a com pleta r minh a . s mo 1 1caç oes aJud am, tamb ém são úteis p 1 leitu ra de Raíz es do Brasil, mas or ança rem su ~ d os texto s de Se" . B gest oes para a inter preta ção . rgio uarq u CUJO prim eiro livro M _ e,, acer ca da conq uista do Oest e, ' onço . porta nto, das dua . .es' e la nça d o em 1945 , no inter valo, s prim eiras ed · ~ içoe s daqu ele ensa io. COR DIAL IDAD E E CARÁTER NAC IONA L Trata ndo das obser vaçõe s gera is, convé m inici ar pelas consi deraç ões do própr io auto r relati vas às muda nças impri midas na reedi ção de Raíze s do Brasil, que chego u às livrar ias em janei ro de 1948, com o "P refác io da Segu nda Ediçã o" datad o de junho do ano anteri or, onde Sérgio Buarq ue escrev e que repro duzi r o livro [... ] e m sua forma origin ária, sem qualqu er retoqu e, seria re e ditar opiniõ es e p e ns ament os que em muitos ponto s deixar am de satisfa zer-me . Se por vezes tive o receio de ousar uma revisã o verdad eiram ente radica l do texto - mais valeria , nesse caso ' escrev e r um livro novo - , não hesite i , contud o, em alterá- lo abund antem ente onde parece u necess ário retific ar, precis ar ou amp liar sua substâ ncia. 2 .. - 4 ~ Dois ponto s é neces sário desta car: a insati sfaçã o do autor com algun 1as "opin iões e pensa ment os" e a ausên cia de uma "revis ão verda deira ment e radical". Neste últim o caso, convé m atenta r para o fato segun do o qual Sérgi o Buarq ue manif esta uma perce pção dos lin1ites de uma revisã o, como se o autor se torna sse refém , e1n grand e medid a, de seu texto. Em outra s palav ras, é possível dizer que as partes reescr itas não escap am da estrutura do argum ento do livro e, nesse sentido, uma "revisão ve rdade irame nte radica l" só seria possí vel escre vendo -se um "livro novo ". Para ilustr ar a encru zilha da em que se encon trava o autor va le a pena abord ar as linha s gerais do debat e de Sérgi o Buarq ue com Cassi ano Ricar do após o lança ment o da ediçã o de 1948 . O debat e entre os dois escrit ores se inicia ra quatr o anos a pós o lança ment o de Raíze s do Brasil, com o livro de Cassiano Ricardo Marc ha para Oeste (1940), no qual o autor, em certa passa gem, procu rando esclar ecer sua noção de "bond ade típica do brasil eiro", a difere ncia da "simp les cordi alidad e". Nas suas palav ras, /),~,... J J o 'home m bom do povo ' não se escon de por trás do que diz, como o homem cordial. É mais sincer o, mais tosco, mais brasileiro. Naque le há uma grand e riquez a de seiva, de sentim ento, de colori do. Neste, tudo é meia tinta, perfíd ia, faculd ade de 00 ~/ . . . 1 pos sív el sob a a p a rê nci a fa ze r O ma 101 enc ant ado ra de ma q ue está pra tica ndo o ma ior d e tod os os b e,ns , e tud o mui . 1me te Tod o O mu ndo co nhe ce a fr cor d 1a ase e les se e ntre den . var a m cor dia lme nte' , tão em uso par a car act eriz ar ce rtas inimi3 zad es 'lib e rais ' . A res po sta de Sérgio Bu arq ue apa rec e em for ma de not a de rod apé na seg un da edi ção de Ra íze s do Brasil, on de ,~ au: or argun1enta que a palavra cordia l dev e ser t~m ada no seu se~t1do exa to e est rita me nte etin1ológico " rel aci on ado ao cor aça o, e não , con10 faz Ca ssi ano Ricardo, est and o vin cul ada aos senti1n ent os evo cad os pel as cor dia is sau daç ões apo sta s em fec hos de car tas . 4 No ent ant o, ma is qu e o des enc on tro das int erp retaç ões , Sérgio Bu arq ue rea firm a e ref orç a ~ dif ere nça ent re a idéia de cor dia lid ade e a de bo nd ad e ela bo rad a po r Ca ssi ano Ric ard o - dif ere nça já apo nta da po r est e aut or - esc rev end o que seu con cei to "nã o abr ang e (.. .] ape nas e obr iga tor iam ent e sen tim ent os pos itiv os e de con cór dia . A ini mi zad e be m po de ser tão cordial com o a am iza de, nis to qu e um a e ou tra nas cem do coração, pro ced em , assim, da esf era do íntin10, do familiar, do privad o".5 Cassiano Ricardo dá pro sse gui me nto à que rel a na Revista Colégio de jul ho de 1948, rea firm and o sua s pos içõ es no tex to "Variações sob re o Ho me m Cordial", en qu ant o Sérgio Bu arq ue ten ta dá- la po r enc err ada em sua "Ca rta a Ca ssi ano Ricardo", pub lic ada na Revista Colég io, n.3 , de set em bro de 1948, on de con clu i dem on str and o o rec eio de "qu e já ten ha gas to mu ita cer a com ess e po bre def unt o (o ho me m cordial]" .6 É bas ica me nte des ses doi s últ im os tex tos da Re vis ta Colégio, rep ubl ica dos na terceira edi ção de Ra íze s do Brasil, qu e extraio a dis cus são qu e se seg ue. Mi nha est rat égi a de aná lise pri vil egi a sab er até qu e pon to ·, e de qu e for ma Sérgio Bu arq ue ten cio na apr ese nta r /JO que con sis te Fi? caráter nac ion al brasileiro . Po de- se afi rm ar que um aut or visa esp elh ar o car áte r de um a naç ão na n1edi da em que se apr ox im a do qu e o ant rop ólo go no rte -an1eri can o Richard Ha nd ler - ent re out ros - cha ma de "ob jet ific açà o cultural" (cu ltu ral obj ect ific ati on) , ou seja, na me did a em qu e obs erv e (e esc rev a sob re) um a cul tur a com o um a "co isa " _ um objeto nat ura l. ou :nt ida ~e con stit uíd a de obj eto s e tra ços . 7 Assim con ceb ida , a naç ao ou gru po étn ico é tom ado com o sen do del im itad o, con tín uo e pre cis am ent e dis tin guí vel de outras ent ida des aná log as. Além dis so, des sa per spe cti va, o que r- é sua cultura, qu e pro vê ico étn po gru ou ção na a cad e gu tin dis e e a ind ivi du ali dad e do gru po ".ª Os 0 'co nte úd o' da id~ nti dad o sof rem , par a usa r uma "traços" qu e const1tue1n est e co nte úd a "co rro são da con tin um o, log pó tro an tro ou de o ssã ex pre itu ir um qu ad ro d e ete rgên cia his tór ica " e pas sa1 n a co nst cip em do s aco nte cim en tos nid ad e e n1 qu e, ain da qu e pa rti 9 sse sentido, alerta Michael históricos , o te1npo é irre lev ant e. Ne objetificaçào da cultura a um va mo pro e qu o ud est um , eld Herzf erm ini sm o qu e caracteriza não se enc on tra n1uito dis tan te do det am à no ção de raça. 1º as ex pli caç õe s bio lóg ica s qu e rec orr açã o da ob ra de Sérgio O po nto de par tid a par a un1a apr ox ün 1nodifica ção em um tre cho Bu arq ue po de ser un1a sinto1nática ion al. Na pri me ira edi ção crucial pa ra a te1nática do car áte r nac e "a lha nez a no trato, a qu e rev esc tor au o l asi Br do s íze de Ra tud es tão ga ba da s pe los ho spi tal ida de , a ge ne ros ida de , vir um asp ect o bem definido est ran gei ros qu e no s visitam, formam 11 dep ois , Sé rgi o Bu arq u e do car áte r na cio na l" . Do ze an os acr esc ent a qu e isto oco rre qu ase rep ete o tre ch o e, de sta vez , rm an ece ativa e fec un d a pe e qu em s, no me ao a, did me na ] "[... con vív io hu ma no , infora inf luê nci a anc est ral do s pa drõ es de 12 ma do s no me io rur al e pat ria rca l" . Bu arq ue na dis cus são , O pri nc ipa l int erl oc uto r de Sérgio isõ es co mo ess as for am Ca ssi ano Ric ard o, co nsi de ra qu e rev seg un da edi ção , o au tor cru cia is, sig nif ica nd o qu e ago ra, na na l. Co nfo rm e exp lic ita cio na nio gê o bre so te ba de o ta evi seu "Variações sob re o >: o esc rito r nu ma ve rsã o rev isa da de a en1 1959 no liv ro O Ho me m Co rdi al" ·_ ve rsã o pu bii cad tudos Br as ile iro s-, "o Ho me m Co rdi al e Ou tro s Pe qu en os Es no sen tid o contrad_itór~o, ~-:. ' ma is gra ve da qu est ão [.. .] nã o est á iu con1 a no va exp ltc aça o sen ão co nfu so, qu e o co rdi al adq uir s acréscin1os, nã o def ine de Sé rgi o. Es tá em qu e, co m os seu ço de fin ido ' do car áte r 'tra un1 a av ach ele e qu o uil aq is ma 13 do bra sil eir o". , qu e o ho me m cordial, Ca ssi ano Ric ard o con sid era , po rta nto pri me ira edi ção de Ra íze s da for ma co mo é ap res en tad o na tue m o car áte r nac ion al do Brasil sin tet iza os tra ços qu e con sti aec ido co m ~s m~d.ifibrasileir~, tra ços est es qu e ter iam esm o Bu arq ue: O dia~~oStlco caç ões op era da s no tex to po r Sé rgi : é pre ets o venf1car se ões est qu as um alg ere sug r rito esc do oco rre u; e se em um a das est a sig nif ica tiv a alt era ção de fat o 0-:,1 áte r na cio n al re al me nt e co rno du as e d1.ço~ es, se{; t•gio d~ ei inc O e .. de fi n id o e co nt mu o . wi ço . , , imitir qu e e m ~un ba s ~ ,ss jrio i111.c1. as .. , "lr alrne ntc L1c edi çõ es ' . d' S ~. . Bu ar q ue in tro du z a 1sc ussa~ o' to 0 no mo me n em qu e et g1 , b. co rd ialid ad e e e rn a l m as ou tra s pa ss ag e ns , a co ns~ gu so I e , 11 elas pa lav ras p arec e m . , do tex to e a es.co su po r traços 1a -' e: t1• uç ao . d' i'dl 1 ali' z,1 111 o br as ile iro . Po de -se en ·' r ' co nt ra r im uta , ei• S qu e, 111 1V _. . "d ar e m os ao m un do trech os qu e sa o de mo ns t1 aç ~::, d ' oe s iss ~ . . " " ~ 0 '11o me m co 1·d'1al' "·, "ci oç ur a de no sso ge mo ; na o amb1.. c1. onamos , , . d a's co nq ui sta do o pr es t1g r e 1 de tes ta rn os no to ria me nt e 10 e P · b as so lu çõ es vio len tas . De se jam os se r o po v~ m a is ra ~d o e o . co mais mpo1.ta d o do n1 un do "., "e sp on ta ne id ad e n ac ion al" 14 . ~ . , d es Assim se po nt o de vi sta , na s du as ve rs oe s po de m os ,, . en co nt ra r d esc11·· ço~es de atr ib ut os do ca ra ter na cio na l. Todavia nã o se de ve sin 1p les me nte ap on ta r a pr es en ça de ex pr es sõ es' es pa rsa s re lac io na da s à de sc riç ão de um gê nio nacional pa ra co mp ro va r a pr es en ça de ste tip o de co ns tru çã o. Para iss o , pa re ce mais in di ca do ve rif ica r o pa pe l da qu ela s ex pr es sõ es na ar gu me nt aç ão ge ral do liv ro e, se nd o ass im, va le ret om ar a pa ss ag em de Raízes do Brasil há po uc o tra nscrita e ac om pa nh á- la de fo rm a ma is d eti d a . No te- se qu e, na ve rsão da se gu nd a ed içã o, se sin tet iza m o qu e co ns id er ei, no me u pri meiro ca pít ulo , os do is eix os bá sic os de ar gu me nt aç ão do livro. De um lad o, a "lh an ez a no tra to , a ho sp ita lid ad eea ge ne ro sidade", virtudes , em su ma , re lac io na da s à pe sso ali da de e à co rdialidade, rep res en tam o eix o qu e dis co rre so br e o legado ibé rico e su a pe rm an ên cia na hi stó ria co lo ni al, co mp on do , assim, o no ss o tra dic ion ali sm o; de ou tro lad o, a ob se rv aç ão de qu e es sa s ca racterísticas, po rq ue as so cia da s ao "m eio rural e pa triarcal ", es tão fa da da s ao de sa pa re ci m en to graças, deve -se lem brar, à revolu çã o lenta e gr ad ua l da ur ba ni za çã o -, vincula-se ao qu e co ns id er ei o se gu nd o eix o de arg un 1e nta çã o do li vr o . Ne ste se nt id o , a pa ss ag em ac re sc en ta da na se gu nd a edição, po de -se dizer, ap en as sublinha O raciocínio geral do livro. . Assim, to ma nd o- se a ar gu me nt aç ão co m o um to do , po de -se diz er qu e, na s di fe re nt es ed içõ es do liv ro , nã o se en co ntr a um a co nc ep çã o de ca rá ter na cio na l qu e, co m o qu er ia Ricardo, fo sse alg 0 " ,, · d b . . pr op no o ras1le 1ro qu e na sc eu as sim e qu ~ m ud am es " 15 1" · e nao mo · a vi mo s no ~ Ca 1936 0 pí tu lo I qu e já na ed iça o de , qu e po de ria se r to ma do co m o o ca rã ter do brasileiro en co ntr a-s e em fra nc a mo di fic aç ão . E necc . . ~~ • para as ediço~es s egu1ntes, Contudo, e isto é válido se . · Buarque elaborado por Se"r g10 tomarn1os , . o raciocínio . apenas . . no pnn1etro eixo de Ratzes a situação e" um p ouco mais complexa, pois o tradicionalismo brasileiro parece constituir un1a entidade quase congelada que não possui dinâmica própria e que, por isso, tende a ser interpretado como caráter nacional - con10 faz, aliás, Cassiano Ricardo. Mas não se deve esquecer que, no argun1ento de Sérgio Buarque, esta in1utabilidade não está descolada das contingências históricas, e sin1 ancorada na configuração econô1nica e social caracterizada pelo ruralis1no. Nesse raciocínio, deve-se concordar, acredito, con1 George Avelino quando anota que "Sérgio não concebe a cordialidade como caráter nacional, ou qualquer tipo de 'essência' que permaneceria ao longo da história. [. .. ] Hera nça ibérica, ruralísmo e cordialidade são coisas que andam juntas. "16 Em suma, mesmo ao se falar do primeiro eixo de argumentação de Raízes do Brasil, apenas aparentemente estamos diante de um argumento que remete à idéia de caráter nacional. Isto , todavia , não o deixa imune a reavaliações e críticas, pois, tratando novamente d a relação entre os dois eixos do livro de Sérgio Buarque, podemos ser levados a perguntar se não . ponto há um desencontro muito extremado entre eles. Dess~_ ,..,,. de vista , é como se a tradição se remetesse a uma noç~o de --~ <'-----... cultura quase parada e a modernização, no limite, apontasse p-ara o movimento e a anulação da tradição. Assim, de algun1 ~odo, nossa herança ibérica representa o que pouco se move - como quer Cassiano Ricardo - e só a modernização virá alterá-la. De certa maneira, esta problemática continuará nos acompanhando em todo o decorrer deste livro. Se, do ponto de vista do argumento aqui desenvolvido, Cassiano Ricardo viu alterações demais na nova edição de Raízes do Brasil talvez não se deva deduzir daí que tenha sido apenas iss; que ele tenha feito. Por um lado, acredito possível concluir que, na segunda edição, Sérgio ~uarque reforça a historicização da noção de cordialidade, sublinhando sua ancoragem no ruralismo através da intensificação do nd recurso à Sociologia, como na nota de rodapé que respo e a Cassiano Ricardo, onde recorre a Charles Horton Cooley . l'd d "pertencem , para afirmar que as características da cord 1a 1 a e 57 . n e nte p ara reco rre r a term o con sagr ado pela mod erna , . ,, . ,,, 11 T d . ao dom ín io dos 'gru pos pnm a nos . o avia , essa . 'd ,, • ~ e ' p i·op riam e nte um acré scim o, ante s con stitu 1 e1a nao . . ~i um_ refo rço à co nce p ção qu e já pod e ser perc ebid a na ed1ça 0 de 6, e n esse sent ido pare ce qu e Ric ardo enx ~rg ou mes mo 193 den1ais na segu nda ediç ão - o u , talv e z, te nha vist o pou co na p rin1e ira. Por o utro lad o, n ão se d e ve des ca rta r que dete~minad as alte raçõ es p ossa m te r d esto ado d a estr utur a do livro tal con1o con figu rad a na su a prim e ira e diçã o e que , por este âng ulo , Cas sian o Rica rdo tenh a se d ado con ta de efet ivos dile in as de Sérg io Bua rque , com o pod e re mos indi car mais adia nte . Mas , d eixa ndo de lado uma resp osta defi niti va qua nto a este ú ltin10 pon to, con vém ana lisa r dua s alte raçõ es espe cíficas en1p reen dida s por Sérg io Bua rque , tent and o lanç ar luzes sob re o que elas pod em ter sign ific ado par a o cam inho de seu p e nsa men to e de sua obra . e fe t1v a1 . • SOC l O 1ogia , REAVALIAÇÃO DE WE BE R Pas san do para a prim eira mod ific açã o m a is esp ecíf ica que imp orta para o dese nvo lvim ento de meu a rgu men to, abo rdo a nota de rod apé pres ente no iníc io do sex to cap ítul o de Raízes do B rasi l, na qua l o auto r se refe re à tese cen tral do livro de Web er, A Étic a Pro test ante e o Esp írito do Cap ital ism o. A nota apa re ce logo apó s Sérg io Bua rqu e afir mar que no trab a lho não busc amo s senã o a próp ria s atisf aç ão, ele tem o seu fim em nós me smo s e não n a obra , um finis oper antis e não um f inis oper is. As ativi dade s prof issio nais são, aqui , meros acid e ntes na vida do s indi vídu os, ao opo sto do que suce de e ntre ou tros po vo s, ond e as próp rias pala vras que desi gnam sem elha nte s ati vida des adqu irem um acen to quas e relig ioso . 18 Essa é a tran scri çã o do pará graf o da prim eira ediç ão, e, salv o um peq uen o deta lhe, o auto r não faz nen hum a modificaçã o para a seg uint e. Des taqu e-se que , com o já foi dito no prim e iro ite m do Cap ítul o I, no text o apa rece a ima gem do bras ileir o con tra pos ta ao prot esta nte, e, com o não pod ia deixar de ser, o auto r rem ete, em nota de roda pé, ao trab alho de Weber. 58 Na segunda edição, Sér?iº. Bu:rque aumenta consideravelmente ,,.\; esta nota e lembra as l11n1taçoes da tese do sociólogo alemão. ) 1 Na versão de 1936, no pé de página, Sérgio Buarque começa especificando o que está subentendido no texto: os "outros povos " - opostos ao brasileiro - são os "protestantes". E, prossegue: O mais eminente sociólogo moderno salienta justame nte, como nos idiomas de países predominantemente católicos, assim como nos da antigü id ade clássica, fa lta às palavras que designam as atividades profissionais, a tonalidade distintamente re ligiosa que lhes corresponde em todas as línguas germânicas. 19 Sérgio Buarque conclui len1brando que as traduções da Bíblia para o português, tanto católica como protestante , usam o termo "obra", e não "vocação" - que seria o equivalente a beruf ou calling - , resguardando este termo apenas para as referências diretas à "idéia de chamado à salvação eterna". É importante lembrar que não é a primeira vez que o autor aproxima os países católicos da "antigüidade clássica", como faz nessa nota. Em passagem já citada no primeiro capítulo , Sérgio Buarque fazia a mesma aproximação lembrando que nos dois povos importava antes o ócio que o negócio. 20 Os acréscimos e ressalvas feitos, para a edição seguinte, na mesma nota de rodapé podem, de modo geral, ser encarados como a inclusão das "reelaborações que os pensadores não alemães" deram à obra de Weber, ausentes da argun1entação 21 central de Raízes, conforme apontou Brasil Pinheiro Machado. Ausente da primeira edição, Religion and the Rise of Capitalism de R. H . Tawney passa a constar na segunda edição do livro 22 em três momentos distintos, um deles na nota em questão. Contudo, /~a---i-Reer-por-açã-0 .n0-p,e-de páginà)É.!o_j,J_gnTfica . f ecessarja-tne11.~ qu~ Sérgio Buarque a· tenha realizad1 tambén1 no corpo do texto, mesmo porque, como já te1rnos observado, o autor era até certo ponto refém da primeira versão. Ainda assim, analisar a modificação pode ser importante para pensarn1os d a trajetória da sua reflexão. Dessa vez, sobre a obra de Weber, Sérgio Buarque observa que devem-se acolher com reservas as tendências, de que não se acha imune O grande sociólogo, para acentuar em demasia, na _ d . inad os fenô m e nos , o sign ific ado das . d . fl ,. ·as pura men te mot·ais ou inte lect ua is e m etnm ento d e in uenfc1 ·es porv entu ra mais deci sivos. No caso , o da influ ência outros atot d ,. . ,. d · do 'esp mto ta l'd t a e capitalista. p1.otes t an te ' na form ação a men . . . ·u" em pteJ 1zo de mov ime ntos econ ômi cos, CUJO efei to se fez sentir .· . . em part icu lar nos país es nórd icos ~nd e v . m ga1ta a p1 e d1ca ção prot esta nte, prin cipa lme nte calv ini sta. P:re cem proc ede ntes, nest e sent i'd o, algu 111 as das limitaçõ es que a tese cent ral de Ma" Weber, no ensa io acim a cita do [A Ética Pro testante e o Espírito do Capitahsnw], opu sera m historiad ores com o Bre ntan o e Tawney. 23 --açao de exp 1ar. ete1 01 I\ A observ ação termina com un1a me nçã o ao, pro vav elm ente , mais imp orta nte aut or não alem ão que deb ate com a obr a de Weber, R. H. Taw ney, que em seu livro The Rel igio n and the Ríse of Capítalism , de 1926, pro cur a as orig e~s do esp írito do capitalismo ante s da vitória do pur itan ism o. E nec ess ário aqui um breve leva ntam ento das prin cipa is con clu sõe s a que chega este pro fess or inglês nes sa sua obr a. Gra nde adm irad or da obr a web eria na, Taw ney con side ra contudo que, "tanto o 'espírito capitalista' com o a 'ética protestante', [. .. ) eram mui to mais com ple xos do que We ber parece indicar". 24 A partir dos resu ltad os de seu s estu dos, sistematiza três pon tos nos quais os arg um ento s web eria nos lhe parecem "unilaterais e dem asia do forç ado s" . O primeiro diz resp eito ao fato de hav er nas cid ade s do século XVI - como Veneza e Florença, e as do sul da Alemanha e Flandres - muito do "espírito do cap ital ism o", "pe la simples razã o de que essas área s era m os mai ore s cen tros con1erciais e fina nce iros da épo ca, emb ora tod as fos sem , pel o menos nominalmente, cató lica s". Por out ro lad o par a ele O desen' vol vim ent o capitalista e do espírito do cap,ital ism o nos séculos XVI e XVII das pro test ant es Ho lan da e Ing late rra se devia a gra nde s mo vim ent os eco nôm ico s com o as des cob erta s. Note-se que é a essa obs erv açã o esp eci fica me nte que Sérgio Bua rqu e par ece se referir ao afir mar que a tese de Weber ace ntu a as infl uên cias mo rais em det rim ent o "de n1ovimento 5 eco nôm icos cuJ·o f 't f • ,. . O ' ,. s e nord1cos ond e · ei . se ez sen tir en1 par ticu lar nos paise . l . . vin gar mente calv inista".2s ia a pre dic açã o pro test ant e, principa A 60 partir des ses el eme nta s, Taw ney con clu i que é cl aro que mudanç as m ateria is e psicol ógicas andavam juntas, e é cl aro qu e a segunda ag iu sob re a p rime ira. Mas pa rece um pouco arti ficia l fa lar como se a empresa cap italista não pudesse aparece r até qu e as mud an ças re li g iosas ti vesse m p roduzid o 26 um espíri to ca pitalista. o segund o ponto é que Webe r quase ignora os movim entos intelect uais que , n1esn10 não sendo re ligioso s, també m d e ram impuls o ao de senvol viment o d a e mpresa come rcial, ao individu a lis1no econô n1ico e à con ce ntraçã o p ec uni ária com fins à acun1u lação de capital , como o p ensame nto político renasce ntist~ _e as refl exões dos homen s d e negóci o- e ecÕno· n1istas do mes n10 períod o ."2 7 . .. A úl tin1a ressalv a é que até mesmo o movim ento calvini sta era n1u ito n1ais con1ple xo do que o aprese ntado por We be r. Tawney escreve um capítul o (IV, 2 - p.200-216) para demon strar que , d e ntro d o pu ritanism o , até o século XVII, houve uma luta intensa entre u ma tend ência coletiv ista e defenso ra de uma discipli na férrea e un1a individ ualista que aliava o bem comum ao livre curso dos in teresse s .28 Na verdad e, as tendên cias do movim e nto religio so que mais tarde haveria m de torná-l o um aliado p o te n te da corren te social contrá ria ao contro le das relaçõe s econôm icas - quer em nome da moralid ade social, quer do interess e público - , tendên cias estas estudad as por Weber, não se consol idariam , diz Tawne y, "antes que as mudan ças política s e econôm icas prep arassem um ambien te congen ial ao seu crescim ento".29 Mesmo com as ressalvas, Tawne y não se cansa de afirmar que a percep ção da conota ção econôm ica que a vocaçã o religios a ganhou no protest antism o e suas conseq üência s socia is e econôm icas é uma contrib uição primor osa de Weber. Inclusiv e, nas passag e ns de seu livro em que estuda a idéia de vocaçã o e o ascetis mo puritan o, o autor segue de forma explíci ta e 30 colada os argum entos de Weber. Não é muito diferen te o proced imento de Sérgio Buarqu e de Holand a. Voltan do à nota de rodapé de Raízes, após afirma r suas reserva s, nosso autor prosseg ue dizend o que a tese central de Weber, a conexã o entre protest antism o e ética do trabalh o, não deve ser invalid ada. A partir dessa observ ação, retoma a constru ção da nota redigid a para a primei ra edição referin do-se à ausênc ia de timbre religios o às palavra s que design am 61 traba lh o no caso das nações católicas. E, lo~o en1 seg~1icta, tnnscreve uma série de observações sobre ª moral puritana " 31 ' admiravelmente exposta por Tawney · O ponto que prete ndo reter é o fato segu nd 0 qua[, enquanto em 1936 Sérgio Buarque segue O a~gume~to ~e Weber . - o que se torn a percepttvel nao so atravé s de fo rn1a estrita da nota de rodapé isoladamente, mas p ela linha argumenta. d o 1·1vro -, agoi·a , e 111 1948 , o autor manifesta uma relativa tiva insatisfação. Passa a considerar a nece ~si~ade ~e se compreender a formação da mentalid.ade capitalista nao ap~~as en1 função das influências morais. Os breves comentanos sobre a obra de Tawney que desenvolvi acima são suficientes para marcar a direção da releitura da interpretação weberiana, ai nda mais considerando que, das críticas elaboradas pelo au tor inglês, a que parece ter despertado maior interesse em nosso autor é a que alerta para as transformações éticas provocadas pelas mudanças econômicas. Sem analisar mais detidamente o reflexo das teses do historiador inglês na obra de Sérgio Buarque, o importante é enfatizar que elas contribuíram para uma ampliação do horizonte de explicação da formação da mentalidade capitalista . º Devo admitir que com essas observações não é possível dizer que passamos a ter uma noção clara da nova interpretação que Sérgio Buarque assume da obra de Weber. Contudo, considero que a percepção desta ampliação já é suficiente para, além de indicar uma alteração crucial da primeira para a segunda edição de Raízes do Brasil, abrir uma senda para a leitura das suas obras seguintes, especialmente Monções (1945) e Caminhos e Fronteiras 0957). Como procurarei argumentar, esta reconsideração do autor parece guardar afinidades con1 suas interpretações sobre a conquista do Oeste brasileiro na medida ' dos atores em que nestas ocorrem transformações nos valores de uma forma orgânica com as mudanças materiais. Dessas ~bras parece correto dizer que a idéia de fronteira possibiltta , em grande medida, uma outra maneira de refletir sobreª -o · • ~ ~ história , e modern1zaça entre trad1çao . do Brasil e a rel açao nd sug~n o, por exemplo, um tratamento do tema do ócio e do . d'f ne gocio 1 erente do que aparece em Raízes do Brasil. Ante_s de analisar outra alteração em Raízes do Brasil · as d prometi falar de um a segun a - , essas observações relaUV 62 às mudanças na nota sobre Weber nas edições separadas por doze anos nos levam para além dos limites do livro, e nos remetem a certo artigo de jornal publicado por Sérgio Buarque na época. Este artigo ajuda a perceber a força que O problema básico de Weber, o surgimento de uma mentalidade capitalista, aplicado ao Brasil, exercia sobre a reflexão de Sérgio Buarque, e auxilia o acompanha1nento das diferentes perspectivas lançadas pelo autor para analisar o proble1na. A análise das modificações na nota de rodapé sobre Weber já demonstrou, em certo grau, a ampliação da problen1ática. O artigo vai na mesma direção. 32 Publicado em dezembro de 1951, quase quatro anos após a segunda edição de Raízes, e intitulado "Vária História", 33 é uma pequena resenha do livro de José Honório Rodrigues, Notícia de Vária História, editado pouco antes. No artigo é perceptível, em primeiro lugar, o interesse que Sérgio Buarque mantém sobre o tema da mentalidade capitalista no Brasil. Após realçar o caráter fragmentário do livro comentado, o autor observa que sua parte mais importante são os estudos · "dedicados às relações entre a religião e o desenvolvimento do capitalismo e da burguesia , em sua aplicação à história do Brasil". E completa: Sejam quais forem as reservas que podem merecer suas tentativas nesse sentido, é inegável que o simples fato de abordar, de um prisma brasileiro e ibérico, os resultados de pesquisas, que a partir sobretudo de Max Weber (e de Sombart) puderam inaugurar todo um novo e sedutor capítulo da historiografia contemporânea, já reclama, por si só, atenção especial. 34 Além de demonstrar a importância que o autor continuava a atribuir ao tema, a principal objeção, apesar de rápida, vem ao encontro das modificações às quais a nota sobre Weber foi submetida. Segundo Sérgio Buarque, a tese fundamental de José Honório - exposta nos capítulos "A Expansão Capitalista versus Ideologia Canônica em Portugal" e "O Pecado Danado da Usura" - é a de que "os povos ibéricos não puderam desenvolver as mesmas virtudes econômicas suscitadas especialmente nos países calvinistas, porque, fiéis aos princípios canônicos, seus governos estorvavam por todas as formas a iniciativa individual e estabeleceram desde cedo uma espécie de capitalismo do Estado" _3 5 Nessa linha, a diferença essencial 63 • t ' portuguesa e o domínio holandês estaria n a . ,. . entre a conqu1s a no segundo caso, das ideias medievais . ocorrida ;. 'b li . er taç('.10, A objeção central de Sérgio Buarque "_[. .. ] há d~. relacionar-se con1 a explicação unilateral e exclusivamen te idealista' que O autor, forte1nente atado à teoria inicial de Weber sobre a forn1ação do 'espírito' capitalista, tende a oferecer dos fatos" .36 Trata-se, poderíamos dizer, do reparo que o autor empreendeu en1 sua própria obra, quando passa a evitar explicações demasiado idealistas. Nesse sentido, não deixa de ser irônico e significativo que no prin1eiro artigo do livro Notícia de Vária História, intitulado "Capitalismo e Protestantism o", em que José Honório desenvolve o mesmo raciocínio dos dois artigos resenhados por Sérgio Buarque, ele o faça a partir de Raízes do Brasil. Após tecer consideraçõe s acerca da tese de Weber e um inventário das observações de seus críticos, o autor passa a abordar o caso de Portugal e da Espanha, no qual "a tese de Max Weber encontra confirmação" , e, em seguida, discute o brasileiro. Aí a "rara e magnífica interpretação de Sérgio Buarque de Holanda" é central para o desenvolvime nto da concepção de José Honório, que cita a passagem de Raízes segundo a qual, entre as nações ibéricas, predomina "a concepção antiga de que o ócio importa mais que o negócio".37 Como poderemos confirmar a seguir, este é justamente um dos aspectos que Sérgio Buarque procura abrandar nas versões seguintes de Raízes do Brasil. INSATISFA ÇÃO PERANTE A EXPLICAÇ ÃO GENÉTICA Passando para uma outra modificação presente na segunda e~ição de Raízes do Brasil, é possível iniciar pelos comentários feit~s pelo autor acerca das reformulaçõe s anos depois de tê-las realizado. Em uma conferência pronunciada junto à Escola Superior de Guerra, em 1967, Sérgio Buarque afirma ter sentido necessidade delas porque, em alguns casos "[. .. ] fazia-se dªs . ' e necessária [.. ·] uma ra d'1ca1 re1ormulaçao antiqua de opiniões . retratação" .38 ou, se o quisere m, uma verdadeira ct·12 respeito a um aspecto já con st·de~ Uma dessas retrat açoes te ,. ra d O no primeiro ite m d O eapitulo I e relaciona-se justamen 64 . po rta nto O co m a me nta lid ad e ibé ric a e, ide ~u e co nss,, rei ne nta ' _comdo liv ur arg de · o eix o eir ro d im pr o ça o co mo 10 erg e an do na me sm a co nfe rên cia : Bu arq ue , qu e pr os se gu e afi nn lo . . . 1 do m 1· Assim , po r ex em plo ' no capi'tu . 1nic1a o ivro ,tratara esm . , d ico típ . eu do qu e jul gar a e ce1ta me n tal ida d e 1'b,enc a , cuja d . nu e qu e os íam · 1 var u ser nat pre ara ça e1x he ran nca ' ra_ l~~r~se ent re a' t' 'd d uti rno de mo o reç ap o s ico ân p ª ivi a , e litana: ent re po vo s his · a t' .. 'd d · ess es po vo s, co mo e ntr e os da n 1gu1 a e cl assica , im po rtaria o. ant es o óc io do qu e O neg óci 39 r • pli· · sta, qu e sim uito de te.1m1n1 1n ão aç rm afi a rar ide ns co r _ ,, • . Po pr ob lem a , "m a 1·s tard e ", fa la Serg10 o e fica m as na" o es cla rec . ate nu ar a for mu laç ão " m, ge ssa pa e d ei, ur oc pr Bu arq u e, ' o de 1948, içã ed da ir art p a r, nta 1e un arg pa ssa nd o a am stic as ass ina lad as pre do mi nar [. .. ] q~ e se algumaAs c~r act erí se po vo s ibéricos, não se pen sas com s_rngular co nstanc1a ent re ou, ine lut áve l fat ali dad e biológica qu e vrn ham ela s de alg um a eà pu des sem sub sis tir à .ma rge m co mo as est rel as do céu , qu e 40 ssa vida pre sen te. dis tân ci a do s suc ess os de no os no pri me iro ca pít ulo de raf rág pa s vo no s trê o ind clu In ão no 41 Sé rg io Bu arq ue faz est a afi rm aç il, as Br Ra íze s do ar au sên cia de um mo do de pe ns co nte xto em qu e his tor ici za a rca nti l ibé ric a, rel ac ion·a nd o me sia ue rg bu a tre en vo no ir e ag ito co m as cla sse s tradinfl co de au gr ixo ba ao ia nc est a au sê sse em erg en te "n ão pre cis ou cio na is, de ma ne ira qu e a cla ns ar ab so lut am en te no vo , ou pe e ir ag de do mo um r ad ota so br e os qu ais firmasse es, lor va de la ca es va no a ins tit uir um 42 de om íni o" . Se o arg um en to pe rm an en tem en te se u pr ed ca rac ter íst ica s ibé ric as "co mo as rar ide ns co ve de se o nã qu e rge m e à dis tân cia da s ma à o ind ist bs su , u" cé do as es tre las se rv e ao au tor nu m co nte xto co nd içõ es da vid a ter ren a, nã o po ssa se r ge ne ral iza do ele e qu ica nif sig o nã , co ífi esp ec o au tor , na pa les tra de ás, ali er, qu mo co _ s so ca s pa ra ou tro um en to pa ra se co ntr ap or à 1967, ao ap lic ar O me sm o arg ibé ric os im po rta ria , de forma os ra pa al qu a o nd gu se o no çã e o ne gó cio . ine lut áv el, an tes o óc io do qu rir qu e, na s ed içõ es qu e se De sta ma ne ira é líc ito su ge !~ a b~!__f pq ss~ bil ida de s de cu o_ pr ~~ r_g ua 'B io rg Sé , am seg uir nã o- necess~tem ~- e~ pe ra e qu o ric ibé o ad leg do es çõ --mo dif ica _____ -- - ________ ..:_ 65 de un1 elen1en t0 t-ransfonna dor exterio r a ele_. Tendo em , 01 a ref~;ê~cia do histori ador ao tópico ócio/n egócio , 0 que destaca r é que, especia ln1ente na primei ra edição , a tradi ~ ~ ,, . 1 d ,, . Çao ibérica avessa ao negoci o em pro o oc10 era um elemen to explica tivo fundam ental do Bras1·1 . Recap1.tu lan d o, havia sim un1a revolu ção en1 curso que vinha alterar esse estado de coisas, destrui ndo en1 boa parte a tradiçã o ibérica e podendo inverte r a equaçã o en1 favor do negóci o, mesmo que tenhamos repara do que o argun1 ento guarda uma certa ambigü idade não sendo conclu sivo quanto ao resulta do do process o. D~ qualqu er n1aneira, seria fruto da americ anizaç ão em andamento que estanca a fonte de alimen tação do legado que até então era detern1 inante. O iberism o, por si, não é capaz de aponta r para a valoriz ação do negóci o antes que o ócio. Certas n1udan ças, como esta referid a por Sérgio Buarque em sua conferê ncia na ESG - que significa, como diz, quase uma retrata ção - , parece m constit uir uma tentativ a de abrandar esta postura e, nesse sentido , enxerg ar e sugerir brecha s para que o tradicio nalism o brasile iro, ainda que ancora do no ruralismo, não seja tomado como uma paisage m quase estagnada. Em outras palavra s, é como se o autor estives se tentando imprimir mais movim ento no que temos consid erado o primeiro eixo de argume ntos de Raízes do Brasil, corresp ondend o a uma relativa insatisfação perante a explica ção do tipo genético, a qual , no seu limite, pode se aproxi mar de interpretações calcada s em "algum a inelutá vel fatalida de biológi ca", para usar a expres são do historia dor. E neste caso sim, resgata ndo o que já foi dito, parece que Cassian o Ricardo havia se dado conta de um dilema efetivo de Sérgio Buarqu e. Antes de caminh ar para o fim do capítul o, gostaria de deixar claro que as duas reform ulaçõe s aqui analisa das separadamente estão de fato vincula das, como talvez já possa ter transparecid o. Quand o Sérgio Buarqu e passa a levar em conta os autores como Tawne y, que dialoga ram com a obra de Weber, e procur a escapa r do que ele chamo u mais tarde, ao comentar textos de José Honóri o Rodrig ues, de explica ção demasiado idealist a, passa tambén1 a conceb er o iberism o de maneira mais dinâmica. Se os legados transatlânticos são tratados funda, mentalmente como tipos éticos, o que tende a se constituir numa forma de explica ção genétic a, há um grande risco de objetifi cação cultura l. Mas certam ente é necess ário cuidado :n;e 66 Wieb e que ele é o caso de inferir daí que esse er · . Para não . se . , se r poss1ve a venha talvez seJ·a urn idealista . Mesn10 assim, ~ 1 de direta muito ncia transferê dizer que, quando se fez uma suas interpre tações para analisar o Brasil e a América, isto foi 0 qu e muitas v~zes ocorreu e n~o se pode dizer que Sérgio Buarque tenha ficado totalmen te imune à objetificação cultural e ao idealisn10. É necessár io sublinha r também que as duas alterações focalizadas no presente capítul o, e percebid as como sinais de reavalia ções de Sérgio Buarque sobre suas interpret ações da história do país, não chegara in a se enquadr ar no livro de maneira con1pletan1ente orgânica a ponto de podermo s dizer que os argun1en tos fundame ntais de Raízes do Brasil tenham sido 1nodificados de uma edição para outra. Vale lembrar as palavras do autor no prefácio à segunda edição, já citadas no início do capítulo , segundo as quais se fosse para empreen der "uma revisão verdade irament e radical do texto mais valeria [. .. ] escrever um livro novo,,. 43 Sintetizo este capítulo reafirma ndo que uma das principais direções das reelabor ações de Raízes do Brasil é a atenuaçã o da ênfase na explicaç ão genética . Pensand o nessas revisões e lembran do que no período compree ndido entre a primeira e a segunda edições do ensaio Sérgio Buarque publica Monções , seu primeiro livro acerca das entradas para o Oeste, torna-se importan te acompa nhar o autor mais de perto nesses anos de intensas reflexõe s e reformu lações. É possível estudar seus livros sobre as entradas e bandeira s como uma tentativa de traçar um outro tipo de explicaç ão do Brasil. Antes de tratar desse outro enfoque , acompan hemos, então, um moment o da trajetória intelectual de Sérgio Buarque no intervalo compreendido entre Raízes do Brasil e Monções: sua primeira viagem aos Estados Unidos, realizad a em 1941. 67 p A E T o~ c~TADO~ UNIDO~ fICAM NA AMc~ICA I e A p T u L o 111 UM OUHO AMrn!CANl~MO No ano seguinte à publicação de Raízes do Brasil, Sérgio Buarque, então con1 34 anos, torna-se assistente de Henri Hauser, na cadeira de História Moderna e Econômica, e de Henri Trouchon, que conduzia a cadeira de Literatura Comparada, ambos professores da missão francesa vinda por iniciativa de Anísio Teixeira para a recétn-inaugu rada Universidade do Distrito Federal (UDF). Após o retorno dos professores à Europa em 1937, Sérgio Buarque torna-se Professor Adjunto de História da América e Cultura Luso-Brasile ira. Contudo, não duraria muito a sua primeira experiência acadêmica, pois no ano seguinte, após continuada interferência dos militantes católicos reunidos em torno do Centro Dom Vital, especialment e a de Alceu Amoroso Lima, o Ministério da Educação declararia extinta a Universidade fundada pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Em seguida à sua primeira e rápida experiência acadêmica, Sérgio Buarque, convidado por Augusto Meyer, passa a trabalhar no Instituto Nacional do Livro. Nessa época, mantém correspondência com Rubens Borba de Moraes - que então morava em São Paulo e era gerente da Editora Martins - e se torna quase um consultor desta editora, além de traduzir, em 1939, para a mesma, Memórias de um Colono, de Thomas Davatz. O livro é editado em 1941, com extenso prefácio do tradutor. No ano seguinte, a Martins publica também sua tradução de Etnologia Sul-America na, de Wilhelm Schmidt. Nesses primeiros anos da década de 1940, Sérgio Buarque é ainda convidado para escrever um dos capítulos do que era para ser o Handbook of Brazilian Studies, editado sob os auspícios do Committee on Latin A merican Studies e organizado por Rubens Borba de Moraes e por William Berrien, este 1 último integrante do American Council of Learned Societes. O Handbook editado por um brasileiro e por um norteamericano representa muito bem o crescente interesse que o come Ça Bras1.1, ao lado d e outros países do Continente, . dos Estados Unidos. O a~b· despertar no S meios acadê1nicos . _ .. 1 tentea intelectu al criado por e~se ~nte resse e as qu e stoes Por ele susci•tadas p arece n1 ter sido importante s 'p ara as redefini·ç"'Oes da refl exão de Sérgio B~arque. Cabe, isso, determo-nos um ou co inais neste ambiente, re const1tu1ndo-o em suas linh P · 1 1 h' · as. g erais e dando atenção à n1ane ira pe a qua o 1stonad or braS1 leiro nele se inseriu. ?º~ AMBIENTE INTELECTUAL AMERICANO Qu ando se pe nsa nos fins dos anos de 1930, o que talvez nos venha à mente, em primeiro lugar, é a situação conturbada em que se enco ntrava o mu ndo e a gradativa polarização entre as potências do Eixo e o p aíses que vieram a compor o lado dos aliados . Ne ssa circunstância mu ndial, o ambiente do Co ntinente americano era bastante delicado. O discurso de p osse de Franklin Ro osevelt, em 4 de março de 1933, marcara o início da "Política de Boa Vizinhança" e, em abril , dia 14, dia do pan-americanisn10, o presidente americano restringia a expressão às nações d o Novo Mundo. Nesses anos , uma nova geração de políticos norte-americanos, os new dealers, entra em cena procurando reestruturar as relações dos Estados Unidos com os países do Hemisfério, onde, ao menos desde a intervenção no Caribe em fins do século XIX, os Estados Unidos vinham tendo uma imagem de intervencionista. 2 No entanto, essa boa vizinhança não é consumada automaticamente, até porque Argentina e Brasil, possivelmente os aliados mais importantes para seu bom funcionamento, titubeiam no seu exercício, sendo que O primeiro tem um longo flerte com os regimes fascistas e resiste às propostas norteamericanas de política conjunta de segurança, sob a alegação de quebra da autonomia. De sua parte, aproveitando-se da luta entre as potências e devido às próprias indefinições internas, 0 Brasil adota uma postura que Gerson Moura, em seu uvr_o Autonomia na Dependência, conceituou de eqüidistâncta , • Pragmatica, mantendo-se, até 1939, numa política pen dular de aproximação com os Estados Unidos e com a Alemanha· Ess ª po l"itica · nao ~ · ~ o EJ11 era simples capricho ou indefiniça · termos comerciais, · · por exemplo , as transações com a A1e rnanhg 72 ancoradas no sisten1a Aski (Contas Esp . . . ec1a1s de Estra nge1ros . ostravamn Internos) Pagamentos ara 1 P se vantaJosas pa . . . ra uma econon11a descapitalizada como a brasi'l . . eua. Estabelec'd . . . 1 . 0 em . . 1934, Aski cons1st1a em contas bancárias espec1a1s · f que ,, . uncio_ navan1 con10 u1na espec1e de câmara de e ompensaçao em q ue, , '. de ambos os lados, as exportações ge ravam credito para . ~ importaçao, registrado en1 1narcos de e ompensaçao Este . · sisten1a nao agradava aos Estados Unidos , que pressionava 0 . ,, b d ,, 1 · , . Brasil a a an ona- o para substitui-lo por um a cord o d e comercio . . mediante o uso d e moeda estabelecido en1 _linhas liberais ' . . " . 3 A · corrente e reduçao 1ns1stencia . de tarifas e de controles • . ,, a contrariar mesmo um diplomata ni·t·d chegava 1 amente pro. ' ~ amencano como Oswaldo .Aranha , que v 1·a uma "con t ra d 1çao entre un1 New Deal reform~sta e uma Boa Vizinhança liberal, e procurava alertar as autoridades americanas para essa contradição que itnpedia a criação de 'aliados fortes"' .4 Essas nuanças indicam que as negociações não eram simples e claras, pois os interesses brasileiros não combinavam automaticamente com nenhum dos dois lados, uma vez que, como afirma 0 historiador norte-americano Frank McCann, "se a luta americano-germânica pelo mercado brasileiro era ideológica, parece que a ideologia ali envo lvida n ão era nem totalitarismo nem democracia, mas n a cionali smo econômico" .5 :.> Todavia, conforme a interpretação de Gerson Moura, antes do alinhamento definitivo com os aliados em 1942, desde 1939 a eqüidistância pragmática brasileira começava a ser quebrada, pendendo para o lado norte-americano. 6 Os importantes papéis de Oswaldo Aranha, ministro das Relações Exteriores brasileiro, e de Sumner Welles, subsecretário de Estado norteamericano, no desenrolar desse processo, são desempenhados no contexto do ideário pan-americanista que se contrapunha, nesse momento às correntes fascistas. Estas nutriam suas ' ao liberalismo, a proposição de un1a nova forças com a crítica ordem contra a dissolução moderna e a capacidade de mobilização das massas, mas, aponta Moura, possuíam também elementos de fraqueza pela contradição insa~ável ~ntre sua pretensão internacionalizante e sua dimensão trredutivelmente nacional. De outro lado, o internacionalismo pregado pel.o à soberania . . . procurava acentuar O respeito pan-americanismo sohdanea regava d e cada nação ao mesmo tempo em que P d a nome em icano . ' d a d e entre os países do Continente amer 73 tra as arneaças extern as quf.: deles con d cada um 7 defesa e lh Mundo. rca da siruaçao mundial vinham do Ve o . res detalhes ac~ o da "Política de Bo m mat0 efettV a Sem entrar e d andamento o ambiente proporcio, / rra / e o /vel a f'1rm ar que . 1ectuais no pre-gue . nação d os 1nte 1 ,, e poss aproxu . Vizinhança.'. .10 centivou a sclarece Tulto Halperin m1ttu e d como e nado per N realicia e, clos ão da Guerra Civil · ente a rn a e do Conttn . to recente , co d Guerra Mundial , em 1939 h.1 em tex un a , Dong 6 e da Seg d estudos hispano-ame ri193 ' d centro e . EsPanhola, dem slocamento O Continente an1encan 0 corre um e nha para O · o d Europa e da Es~a . ssa de fonte privilegiada a canos a . d 1nd1as pa to O Arquivo as ·canos se estruturam, sendo Enquan h'15 ano-amen . .mace ssível , arquivos. eiros a f aze,. -lo , contando inclusive com nhóis identificados com a facção 0 México um dos pn~ a emigração de estudio_s~s despaeu país de origem. Além disso, uerra c1v1l e s / b . . ~ derrota da n~ g h. "mais decisiva ainda e a su st1tu1çao 1 para Halpenn Dong d' U 'dos como principa l refe rencial . 1 h. da Europ a pelos Estad os dan1historiografi a colonia 1spanoterno para os estu os . d. ex t • rmente "assegu raria aos estu 10s0s americana", que , pos eno ' ~ ,, . · m peso que os europeus n a o-esp anhots norte-amencanos u ,, 8 nunca haviam alcançado no passa d O · ? vale destacar que, já em fin s d a d écada de 1930 e tendo como reforço a entrada dos Estados Unidos na Seg und a Guerra, ,. houve grande incremento ,nas instituições de e ns ino norte, americanas1 do estudo das línguas espa nhola e portug uesa, e também de outros estudos sobre os p a íses ib é ricos, como os históricos. As Universidades criaram departamentos especializados em estudos americanos e o número de bol sas para pesquisa e viagens a outros países do Hemisfério cresceu significativamente Ness ,, 1·,, • . . · a epoca, a ias, surgem os chamados latinoamericanistas e os b,..ns-i/ · · t b . '""' ~ ianis as; asta lembrar, por exemp lo, que Richard Morse viajou pela primeira vez a Cuba em 1940 e ~ 1947 ªº , vei~ Brasil estudar a cidade de São Paulo sa concedida pel 0 D americano 9 Al',, epartamento de Estado norte. ias, seu dep · tiva do ambiente l" . oimento pode ser bastante ilustra~ po ltlco, cultural e intelectual da época: ebml 0 L..] abria-se a fase da 'P l' . o ltlca d B . at,ca de aprox· , e oa Vizinhança' e iniciava-se u[113 f . imaçao que r l . que avorec1am as rel , esu tou em práticas culrura1s .. açoes entr . 3.1" e os Estados Unidos e os dertl t, · 74 'países irmãos' [. ..]. Foi nessa onda qu e d epois voltou Carmem M,ir.a nd a ~ a pa rece ~ o Ari _Barroso [... ]. Neste mesmo impulso, va n os artistas amencanos tiveram oportunidade de ir à América Latina exercitar a 'Boa Vizinhança' [. .. ]. Internacionalmente este era um projeto enorme e qu e tinha alguns desdobramentos o nde até cabiam aventuras como a que pretendia para mim [... 1.10 Do lad o brasileiro, un1 depoimento significativo do aumento do interc â1nbio intel ec tual na s Atnéricas no contexto da Segunda Guerra foi dado pelo próprio Sérgio Buarque, em 1954, numa conferência en1 GenebJ~. Esclarece o historiador que durante a úl tima Guerra Mundial, a redução de publicações europé ias atu alizadas levou, no Brasil, a uma grande demanda por livros ame ricanos em geral, e não apenas por livros norteamericanos. Isto inevitavelmente produziu condições favorá veis à expansão do intercâmbio cultural com os países vizinhos. 11 Quanto à historiografia, cabe letnbrar, ainda, que já em 1918 havia sido criada a The Hispanic American Historical Review, e que em fins da década de 1930 os estudos latinoamericanos tomam grande impulso com, por exemplo, a criação da Fundação Hispânica na Biblioteca do Congresso norteamericano em 1939. Essa divisão de pesquisa desempenhou um importante papel na articulação e no intercâmbio dos historiadores do Continente. No ambiente intelectual que se formava entre os historiadores americanos podemos destacar, então, como figuras-chave, além de Rubens Borba de Moraes e William Berrien, editores do Handbook of Brazilian Studies, o nome de Lewis Hanke, que foi editor do Handbook of Latin American Studies, 12 entre 1936 e 1940, além de ter sido diretor da Fundação Hispânica desde sua criação até 1951, quando se torna professor da Unive rsidade do Texas, Austin .13 Existem indícios que levam a crer numa importância acentuada de Lewis Hanke nessa fase da carreira de Sérgio Buarque de Holanda. Embora as correspondências recebidas por este atualmente depositadas no Fundo SBH do Sistema de Arquivo da Unicamp (SIARQ) _ não permitam o esclarecimento de quando eles vieram a se conhecer e quais os assuntos abordados em suas conversas, certa carta de Rubens Borba de Moraes nos permite acreditar que, já sendo conhecidos, se 75 1 encont raram e1n fins de junho d e 1940, no Rio de Ja . Pela import ância da carta, não apenas por clarificar data neira. sobretu do por transn1itir o clima americ anista do am~,. ~as de qu e Sérgio Buarqu e particip ava nesse 1nornento, talvez ~entt a pena transcr evê-la: alha S.Paulo , 24/ 6/ 40 Sérgio, O Lewis Hanke , editor do Handbo ok of Latin America di . . F . ' retor d a H 1spanic oun d.at1on esta,, aqui. em S.p au 1o e vai para R· O am anhã. Ele estará aí no hotel Gloria, 4.feira. Quer muito ver ; 0 o Mario e o Meyer. Eu te peço o favor de telefona r a ele (ele d ·, ,, eve chegar pelas 3 horas da tarde) e leva-lo ao Instituto do Livro V. sabe que o Hanke é hoje um dos homens mais cotados nos Est.Un. nesses negócio s de relações com o Brasil. Precisam os tratar bem dele. Conto com V. para isso Logo escreve rei + longam ente Um abraço do Rubens . 14 A VIAG EM AOS ESTADOS UNID OS Em 1941, no ano seguin te à carta de Rubens Borba e ao prováv el encont ro com Lewis Hanke, Sérgio Buarqu e, a convite da Divisão Cultura l do Depart amento de Estado - a esta altura encarr egada de promo ver os "valore s pan-am ericano s" - , parte em viagem aos Estado s Unidos , lá chegan do em junho, na compa nhia de Luis Jardim . An1bos foram como represen~ tantes do Ministé rio da Educaç ão, aquele como chefe da Seção de Public ações do Institu to Nacion al do Livro, e este como funcio nário do Serviço de Patrim ônio Históri co e Artí 5cico Nacion al (SPHAN). Sérgio Buarqu e perma neceu nos ESrad: Unidos em torno de três meses, passan do por Nova Yot ' Washin gton, Wyom ing e Chicag o. 15 Em Larami e (Wyom ing), segund o Lewis Hanke P1ªnejara, sil ,, . ,, . do Bra Serg10 Buarqu e proferi u confer ência sobre h.1stona f ·o , ., Este oi para os alunos do curso intensi vo de portug ues. 76 1 . i·ro de u1na série ,,de cursos de verão organizados por pnme . ·en que lecionava ltngua portuguesa e procurava "estabeBet n ' . b .l . " . r um atnb1ente ras1 eira convidando escritores e intelece . . · · 16 ,. ,. Iectuais do Bra~1l Pª,1 a part1c1p_ar . - a1 entra Sergio Buarque. Em agosto, o historiador bras1le1ro participou de debates na Universidade de Chicago sobre relações políticas e econômicas interan1ericanas, compondo uma mesa-redonda sobre ,. · L atina. · 17 econon1ia da Amenca Não estão disponíveis n1uitas outras infarmações sobre as atividades de Sérgio Buarque nos Estados Unidos, mas, ainda assim, é possível encontrar indícios da proximidade estabelecida com Lewis Hanke. É interessante que, nove anos após sua viagen1, em artigo de jornal, Sérgio Buarque ainda se reporta a "certa conversa que, em 1941, mantive na Library of Congress, em Washington, com ilustre pesquisador norte-americano, bem versado em coisas da América Latina". Com o que já vimos sobre Hanke, não é preciso muito esforço para concluir quem era o "ilustre pesquisador" e, embora o assunto da "conversa" traga à tona um outro conjunto de questões, vale a pena transcrevê-la por demonstrar a mútua preocupação com a atividade do historiador. Segundo conta Sérgio Buarque: O mal dos scholars brasileiros - dizia-me ele - é que são, na sua quase totalidade, homens incompletos. Assim é que na obra de A [... ] é profusa a documentação e perfeitamente nula a imaginação. Em B, ao contrário, a imaginação é devoradora e consome toda documentação. Que imenso historiador não teriam vocês no dia em que pudessem associar A e B numa só pessoa. 18 Podemos saber também que Hanke, como diretor da Fundação Hispânica, permitiu e auxiliou Sérgio Buarque na pesquisa aos documentos da casa. Lembre-se, por exen1plo, que, após sua viagem, o historiador brasileiro escreveu um artigo sobre ª "Persistência da Lavoura de Tipo Predatório" - o qual foi apenso como "nota ao Capítulo II" de Raízes do Brasil que tem como um dos textos-base a obra de R. Cleary - um norte-americano que foi médico em Lajes, Santa Catarina, durante as últimas décadas da monarquia. Sérgio Buarque comenta no texto que esta obra se encontrava "ainda inédita" e que seus "manuscritos se encontram na Library of Congress, em Washington"_ 19 Assumindo que Sérgio Buarque escreveu 77 sse texto entre 1936 e 1948 - entre a prim eira e a segu . ediçã o de Raíz es do Bra sil-, pode mos d e d uztr que reat ·Oda . . . tzou sua pesq uisa na v1agen1 de 1941 e, pode -se suspe itar, com auxíl io de Hank e. Esta últin1a susp eita ganh a mais força 0 ,, . B Ievarn1os em conta a form a pe 1a qua 1 Serg10 uarq ue se ref se aos "n1anuscritos" e1n carta escri ta de Nova York, em 18 ere de . julho de 1941 , na qual aco nselh a o amig o Paul o Duarte: "Se for a Wash ingto n peça ao Hank e para lhe most rar na seçà ,, dos manu scrit os o que há sobr e o Brasil. E pouc o, mas deo inter esse. "20 O pont o que é nece ssári o subli nhar diz respe ito à possibi~ lidad e dess a visita aos Estad os Unid os ter perm itido a Sérgio Buar que um cont ato mais cont inua do com a historiografia amer ican a num mom ento em que esta se preo cupa va em prod uzir refle xões sobr e os paíse s latin o-am erica nos. e HIS TÓR IA CONTINENTAL O diálo go com Lewis Hank e pode ter sido impo rtant e nesse senti do, pois ele era, então , uma espé cie de articu lador do que pode ríam os cons idera r como um gran de proje to de História Com um das Amé ricas, que se prop unha a estud ar o Novo Mun do enfat izand o as seme lhan ças e as expe riênc ias compartilha das por seus paíse s, ao cont rário das inter preta ções mais corre ntes que carre gava m a tinta nas difer ença s e mesmo nos antag onism os. 21 Proc uran do expli car as Amé ricas não a partir de opos ições , mas ressa ltand o suas carac terís ticas comuns, esse objet ivo não era desv incu lado do clim a de comb ate ao isola cion ismo norte -ame rican o. Entre os intel ectua is envolvido s no deba te, os laços entre o proje to de reinterpretação do Cont inent e e o reali nham ento político eram reconhecidos. Em certo s mom ento s, para a defe sa ou para o ataq ue ao projeto, tais laços eram expli citad os. 22 De todo modo , pode mos dizer que o cerne do projeto consi stia na busc a de uma alter nativ a para a opos ição corre nte entre ª anglo -Am érica e a ibero -Am érica , em que a prim eira representa va o mod erno , enqu anto a segu nda o tradi ciona l e .0 atras o. Em term os lógic os, duas alter nativ as eram P0551"veis . . -ao dessa para a rev1s opos ição. Uma era a busc a de uma d'ina"'nuca 78 con1um na histó ria. do Con tine.nte '. o que corr es pon d e ao que . ne, conf orn1 e vim os no item d . d Rtc 11 ard Morse defi , . _ . . ois o Cap1 com o expl icaçao situacional; ou ao que pod tu lo I, h _ emos c amar -ame rican istno nao exat ame nte naqu ele senti'd t de .,. . . . evillia no , n1as no de un1a ;og1 ca d1nam1zadora próp riao aoocqu Novo _Mundo , a qual pod e. ate a~o ntar para a dem ocra tizaç ão e a igualização sem que is~o SeJa o que nece ssar iame nte a cara cterize. A outr a alter nati va para a aten uaçã o do anta goni smo entre as Atné ricas seria a revi são da expl icaç ão que Mor se chamou de gené tica. Isto é, perm anec er abor dand o a histó ria das An1éricas a part ir dos seus lega dos euro peus , mati zand o, enta nto, suas dife renç as. Tal alter nativ a envolveria, princi110 palmente, u1na rele itura da trad ição ibér ica que apon tass e para sua com pati bilid ade com a dem ocra cia, o conh ecim ento científico e crité rios de justiça, enfim , que dem onst rass e sua adeq uaçã o ao mun do em proc esso de ame rican izaç ão. Não é exag ero afirm ar que as prin cipa is cont ribu içõe s dos histo riado res inte ress ados na rein terp reta ção do Con tinen te ficaram, efet ivam ente , no âmb ito da reto mad a da explicaç ão genética em nov as base s 1 reav alian do os lega dos euro peus tran spor tado s ao Nov o Mun do. O mex ican o Silvio Zava la, com seu La Filosofía Política en la Conquista de Amé rica , publ icad o em 1947, e o próp rio Lewis Han ke, com La Luch a por la Justicia en la Con quis ta de Amé rica , de 1949, pod em ser dest acad os ness a vert ente . 23 Sem expl orar os argu men tos espe cífic os de cada um, cabe salientar que amb os prom ovem uma relei tura do iber ismo focalizando os elem ento s pres ente s na filosofia esco lásti ca e no pens ame nto dos relig ioso s espa nhó is que sign ifiqu em a afirmação dos idea is de justi ça e igua ldad e, valo rizad os no mun do mod erno . A prob lem átic a trata da pelo s auto res fica clara, por exem plo, nas pala vras de Silvio Zavala, ao falar do objetivo do seu livro : Tem -se pens ado que a idéia de liber dade na~c : _na Am_é rica Espa nhol a com a vitór ia que obtiv eram os parti dano s da m~e.. .a sobr . b n·0 passa do colonial. pendenc1 e os defe nsor es d o som . . _ N0 entan to, acred itam os desc o b . , es de uma mclm açao nr as raiz .. . f avora, vel a esta prerr ogat d sde a ocorr enc1 a do iva hum ana e · . d Primeiro cont ato do Novo Mun o com a cultu ra da Euro pa. 79 ~ ''U . se as provas so bre as e , a et rr co é o çã si ; . Se es ta su po te m po , po d er-se-á ªll"ip/ais se ao e ca t1 cn . , em st à e a ép ª su st en ta re si. a ca mpos mais arnplos o m lis a er lib so os n Ocas ~ dotad hi st ór ia de , es parece rao , su as ra1z . a, . 1ç qu C o, as iss m ai.s re m otas . om e trm eza.. 24 de 111 a1. or pe n etraça- o f · ª' :o l . . A lé m di ss o , Za va nt a m da r um passo a te e nk a H t to n e di ante l~ di ca nd o e len1 ' a m e nt o es p an h o1 qu e cu ns e p . . a na n1 c on1 n1 101 su ce ss o o . r;. rnp d da ni p1,.o gr am a d a m od er . od o id nt se e ss ne m o funcionar co ; e qu e, ~ a~ ate m es e sp éc ie d e co~r~tiv;r ~o sugerir liç õ~sua~ª do s ro pr óp rios he rd ei o ge ra lm en te lig ad s xa sa o g ,. o ss di o rn o . Ex em pl 1:;aedtr:;r:~•• espa~ ao mode at am en to da do pelos ~: oo n~ gu se , is po , nh ói s ao s ín dios ão surgiu s 7:<e_, e~ qu an to "n na os di ín s do r to e as n e nh um prot ornas inglesas de frances c_o " 'sp h1 as ni lô co s · an1cas,...' a de s peito da A m ér ic a" ' na a leyenda . p m ra s se erg ue pr ot eg e- lo s . p oram os puntan os a ar negra, vo ze . ' "o s ,. d io s co m o un. s se1va ge ns malditos qu e c on si de ra ra m in de s tr . ou es cr av iz ar " 2s ao s qu a is er a 1·usto ui r . .' Za va la e H an ke cai, assim, na maior r po da da se fa ên A re . do 'b , . or ar em um mesm o rp co c ap ac i d ad e do le ga in co i en ,_ . re nt es . N es te ca so , na o se tratava de fe di as ur lt cu o, et d pr o1 . mérica es pa nh o1a vr.n ha ten o A a e qu ar rm i af e nt ss an an 1e ne ce ra sua . st iç a, m as sim que, pa ju da ão oç ~m pr na o m ai ?r s~ ce ss ~ ili za r va lo re s que já nã ob m o tiv ra pe im a er e fe.ti va ça o , na o tr ad iç ão pe ni ns ul ar. na s te en s re p em ss es ti ve s ar o pe ns am en to deste nd fu ro ap o, nt ta en N ão ca be , no ur av am um a rel eitura oc pr e qu r ta al ss re ib eroa ut or e s , va le ap en as e a an gl o- A m ér ic a e a tr en ia m to co di a e qu e su a vi za ss es do Continente não ís pa s do do tu es o ienteA m é ri ca , pe rm it in do te dí sp ar es, mas sufic en m ta lu so ab as ci ên 26 co m o ex pe ri ro xi m aç ões . Por essa ap r ta ili ib ss po ra pa amente m en te se m el ha nt es ic as to rn ava -s e minim ér m A s da um m co vi a, a hi st ór ia e, entre os historiador~s qu ar m ir af el ív ss po vi áv el e, as si m , é ação genética obteve ma is ojeto, a explic pr eo cu pa do s com este pr nal. sucesso qu e a situacio m tu ac io na l ob teve uco si o tip do a 1 iv at ic pl 1·1ca d a ao esw . N en hu m a ch av e ex ap r se ra pa . o ss a, e su ce 'd a e qu e Pod enlo m ín im o de co ns en so i ec nh co te se ba st an te . sos do Novo Mun e11 _ do C on ti ne nt e. U m a d 1o tu ch av e ao.s es . Aprese T . lo ez te r fo rn ec id o es sa ta lv n e1. , Fr ed en ck Ja ck so n ur t s anos e de a, ir te on fr da se er a a te õe s do s qu atroce n aç or em m co s na 93 ta da em 18 ° ,, · 27 obrimento d a A menca, constituía-se numa e 1. _ Sc e d . xp icaçao situacional na medida em ~ue - embora concebida especificaao . men te Para os Estados . .Unidos-, . . . contrário de sa 1tentar os es puritanos e 1ndiv1duahstas vindos da Europa f . va1o r ,, , en attzava o que havia de novo no pais graças à sua dinâmica particular. 2s Devido à centralidade da obra de Turner na historiografia norte-americana e c~n10 ~rete~do focalizar O diálogo de Sérgio Buarque com esta historiografia - sej a mais diretamente com a tese da fronteira, seja com outros autores e abordagens -, vale a pena determo-nos naquela possibilidade de aplicação da tese da fronteira na história do Continente americano. Assim, avisando que a ela retornarei com mais atenção no Capítulo IV, apresento a seguir um resumo desta tese e do tratamento que recebeu entre os historiadores dedicados ao Novo Mundo. Até a formulação da tese de Frederick Turner, de maneira geral, predominava na historiografia americana uma explicação genética. Nesta linha, os Estados Unidos teriam sido o resultado do estabelecimento de valo res puritanos e individualistas em uma terra nova, sem passado feudal. O Novo Continente corresponderia a uma folha em b ranco a ser preenchida. Opondo-se a tal concepção, Turner imprimiu uma dinâmica à nova terra, e defendeu que a singularidade americana era fruto da fronteira. A terra livre nos EUA teria tido a função de uma válvula de segurança para os conflitos sociais, permitindo que , na medida em que as cidades e vilas se saturassem, os indivíduos tivessem a oportunidade de partir para uma região não desbravada, e, basicamente por seus próprios esforços, constituíssem uma nova sociedade. Esse processo criava indivíduos igualitários, com iniciativa e amantes da liberdade. Dessa maneira a democracia americana teria seu fundan1 ento ' mais na dinâmica da fronteira do que no puritanismo e nos valores trazidos da Europa. O que cabe ressaltar aqui é que a tese da fronteira continha uma dinâmica de "americanização" dos traços europeus. De forma muito vivaz , Turner considera que, na fronteira, ª natureza domina o adventício fazendo com que O europeu se . ' ob ngu . . 1n · d"genas 1 e a a d otar maneiras e utens1..110s · Somente em um se gun d o momento, apos ,, a adaptaçao ~ ao novo ambiente. e ao nat·ivo, o colonizador poderia . reart1cu • lar se u legado anterior, 81 adequando-o então às novas condições de vida . Os va l europeus são, nesse processo, transformados . Por isso ores' · e., a 1m · h a d e mais rápid ' nas_ pa 1avras d e T urner, " a f ronteira 29 efe Uva americanizaç ão ". ae Fora do círculo dos pesquisadore s e nvo lvidos na hist, . ona con1utn das An1éricas, o trabalho de Turner vinha sofrendo u série de críticas. Richard Hofstadter observa a simultaneida~ª do surgimento desses questionamen tos e o estabelecimento d~ New D eal. 30 Algumas d essas críticas irão duvidar da consistê ncia da tese, 31 enquanto outras negarão seu valor explicativo n1as provavel mente a posição dominante em relação à hipó~ tese da fronteira é resumida pela visão de James Malin em texto de 1943: "un1a interpretação isolacionista em uma era internacion al". 32 As opiniões originadas dentro do círculo de historiadores do Continente não parecem ter ficado muito distantes desta posição. Ainda assim, vale a pena segui-las de forma um pouco mais detida e verificar por quê, neste caso, não se optou por estender a tese para outras regiões do Continente. Pode-se começar pelo texto "The Epic of Greater America", conferência proferida por Herbert Eugene Bolton à American Historical Association ao assumir sua presidência, em 1932, p ois é considerada por Lewis Hanke como um marco na "idéia de que as Américas - do Norte e do Sul - compartilharam uma exp eriência histórica comum". 33 Esta tentativa de estabelecer em marcos mais claros a história em comum pode ser considerada como estando dentro do círculo delimitado pelo que temos chamado explicação situacional, uma vez que procura ressaltar os pontos compartilhado s pelos países no decorrer de sua aventura no Continente. Para Bo lton, a "unidade essencial do Hemisfé rio Ocidental foi revelada" p ela Primeira Guerra Mundial. Nela, as nações americanas, "do extremo Norte ao extremo Sul", ou estiveram a liadas ou permaneceram neutras, demonstrando "enfática solida ried ade " e como que lançando luz ao seu passado em comum, à existência de uma unidade anterior.34 Este passado em comum merece agora ser desvendado. Escreve Bolton que nossos historiadores nacionais , especialmente nos Estados Unido~, , . amert· são inclinados a escrever dessas fases amplas da h 1.ston a _ 6 cana como se fossem aplicáveis apenas a um país. Meu pro~as sito é, por meio de alguns exemplos-chave , sugerir que e 82 S 'ão • na verdade , fases comuns à maio . 1 · , . cidental como um todo; que cada histo' ._parte d o H em1•sfeno O 1oca) te ~ • fic ado mais cl aro quando estudad o à lu z na d ra se u s1gni'd . e outras · e que . _, d o que tem s1 o escrito da história de e a d-a naçao muno , ponta do fio de um grande novelo. 3s · e ape nas a r Nessa linha , Bolton passa a explora r as simi'la 'd d . ., . ,, n a es entre rocessos h1stonc os dos pa1ses a1ne ricanos busca d .. P . '" . . . , n midades das suas expe11e nc1as colon1a1s nas lutas o as proxi. ,, . . pe 1a d e 11-. l11itação de tern tono, . ., .nas conqu istas da indepen d"e nc1.a e na ocu paçã o dos ternton os. Segund o observ a Hanke, "a pritneir a reação ao 'The E ic . , f . . p of Greater An1enc a 01 a apatia e o silêncio " _36 Em outras palavras, Bolton não obteve sucesso na sugestã o de element os explicativos que pudess em efetiva r um program a de pesquis a da história do Contin ente. Em parte, ao menos, esta recepçã o pouco caloros a pode se dever à fa lta de foco na conferê ncia de Bolton . Embor a propon ha pontos de compar ação entre eventos históric os de · diferen tes países da Améric a e argumente que um lança luz sobre o outro, não há propria mente a indicaç ão de alguma dinâmi ca que pudess e sugerir uma chave explica tiva para a história das Améric as. Há, sim, o incentivo para o estudo de temas específicos desde o ponto de vista do Hemisfério Ociden tal - e não a partir de países -, como o das missõe s cristãs, das política s indígen as, dos efeitos das culturas indígen as sobre as europé ias e, dentre outros mais, da "impor tância da frontei ra em termos das Améric as".37 Contudo, neste último caso, existem poucas demarc ações e sugestões para a aplicaç ão da tese de Turner em diferen tes partes do Contin ente. Mas, dois outros autores , um anterio r a Bolton e outro posterior, procur am levar mais adiante a mesma sugeS tã 0 de aplicaçã o da tese da fronteir a: o peru a no Víctor Be laú nd e, já em 1923 com seu texto "The Frontie r in Hispan ic America" 33 e, na dé~ada de 1950, Silvio Zavala, citado há pouco , e m "T h e Frontiers of Hispan ic Americ a". Belaúnd e escreve "The Frontie r in Hispan ic America" quase co mo um manife sto de estabel ecimen to d e " no vas bases" p ara . a "S • 1 · d a "idéia gema O ociolog ia do Contin ente" , que, segum . do Profess or Turner " e enfatiz ando a idéia de fr~n~e 1~ª -,, antes 1 . que os tradicio nais pontos de v 1st ª de "raça ' e ima , 83 "religião " e "siste ma de gov_erno no re gi~e ~olonial,, . . . ._ lançaria um "novo ponto de vista na verdadeira 1nterpret . . , da América hispânica". Isto não significa que o autor Per:Çao . ap 1·1cavel ,, a tocta p arta do suposto de que a tese d e Turner sep a Amé rica e que em outras parte s se reproduzam proces. sos ' . de o cupação da terra se me lh antes aos ocorndos nos Estad ,, . d'f Un idos . Ao contrá rio . No e nta nto, a proprta 1 erença os lança r luz sobre a dinâ n1ica d e o cup ação e controle de terras p o deria , e1n ce rtos caso s d a América Ibé ri ca , sugerir urn~ explicação p ara "os obstáculos no caminho da democracia,, n1ais plausível do que aquelas que ap e lam p ara as "raças aborígenes" ou à "e du cação espanhola " .39 ªºº , ' ªº Para e ssa ope racionalização do conceito de fronteira, Be laú nde ale rta que o mesmo possui uma dimensão quantitativa e ta1nbém uma qualitativa. Isto é, para que a dinâmica descrita por Turner ocorra, a existência de terras livres é neces- · sária, poré m não suficiente, pois [. .. ] o fator fronteira n ã o é constitu ído exclusivamente do elemento m aterial do te rritório , mas principalmente daquele lento processo de assimilação d e n ovas terras que a ação civilizadora - q u e se consolida n e las graças à sua situação em relação ao núcleo antigo d e n acio nalidade e graças, também, a sua disponibilidade para p rodução agrícola e trabalho humano - oferece. 40 Partindo desse ponto de vista o autor realiza um levantamento da situação dos países da América ibérica e, numa comparação geográfica geral entre as Américas do Norte e do Sul, contrasta o Vale do Mississipi com o do Amazonas e também os Montes Alleghanies com a Cordilheira dos Andes. Observa que o território central e o do norte do Mississipi eram disponíveis para a agricultura e facilmente acessíveis para os centros habitados, cujas populações acabavam encontrando nos Alleghanies caminhos para o Oeste, enqu anto, por outro lado, os territórios do Vale do Amazonas consi 5riarn em flore st as tropicais que não poderiam ser convertidas ern terra arável , além do acesso a eles a partir da região dos And es ser mu 1·t 0 d'f" ara 1 1 ·1 41 c1 • Essa grande caracterização é suficiente P. , o autor apo n tar a d'f' ld d' "0110 t 1cu ade do funcionamento da ma da fronteira nos países andinos, como Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. 84 argun1ento , como disse, não se esgot . _Mas 0 b ,, a nas dtferenç -" f cas envolve tatn em a forma pela qu 1 as 1 , d ,, . ,, a as terras livre g_eograropri adas. O caso o Mex1co e exemplar . s sao ap d . ,, . ,, , pois em torno ,. s quintos e seu terntono e composto de t de tre _ _ erras capazes similaçao, no entanto, essa porçao "[ ] f . . de as.. . . . . _ .. • 01 apropriada cm sua maior parte,d ou por 1nst1tu1çoes eclesiást'1cas ou por' . um grat,des senhores os ten1pos coloniais . , donde surgiu . -111 e de grandes fazendas, e , praticamente a f lt 1 1eg . , a a, ou ao os escassez, de te rra livre para colono" ' O me n , . . , •42 p or esse ivo , os 1nd1v1duos. .da classe média não ti·veram em 111 Ot . seu horizonte de poss1b1ltdades o deslocamento para t ~ . d d' ~ erras livres, e, daí, a ausenc1a e 1namica da fronteira e de suas "du as grandes derivações", o "individualismo" e a "igualdade de oportunidades ". Além de terras assimiláveis e não controladas, para se assemelhar ao caso dos Estados Unidos sua ocupação deve ocorrer num determinado ritmo, pois é necessário que O processo seja lento, ou talvez sej a me lhor .dizer, com uma relação orgânica com os antigos núcle o s de povoamento, para que assim se estabeleça uma ação civilizado ra. Segundo Belaúnde, isto já não ocorreu em outras partes do Continente desde os primeiros séculos de colonização, uma vez que a "América Latina apresenta o princípio da fronteira no brilhante e quase miraculoso começo da descoberta e da conquis ta, mas não em sua forma lenta e efetiva de avanço assimilador e co!onização progressiva" .43 No mesmo ponto repousa u m dos principais motivos, em tempos mais recentes , p ara o insucesso de efetivação de uma experiência similar à no rte-americana numa região do Continente que guardava maiores condições para realizá-la, as terras da região do rio da Prata e do sul do Brasil. Dentre outras coisas, o malogro é representado pela figura do gaúcho, pois enquanto os pioneiros norte-americanos são a guarda avançada dos colonizadores que imediatamente os seguem, "o gaúcho não avança a partir de centros habitados, ele é um produto da planície em si ".44 Através da argumentação do autor é possível reforçar que, apesar de propor uma nova Sociologia do Continente suS tentada na tese de Turner isto . . ser re ali·zado ' na sua po d ena visão , mais • por contraste' que por seme lh anç as , posto que o Padrã 0 d . ão se reproduz e ocupação de terras norte-americano n em outras regiões do Novo Mundo. 85 -, Apesar de Víctor Belaúnd e publicar seu texto ern 192 3 antes, portanto , da configur ação mais clara do contexto in , lectual a que tenho remonta do, sua avaliação parece paract~e~ tg. p Zavala Silvio s. seguinte mática da que vinga nos anos exemplo , autor interessa do na história com um das Arné~ica~r e m 1neados dos anos de 1950, concl ui se u texto "The Frontier~ o f Hi sp anic Am e ric a" resgatan do as inferê ncias do autor peruano , e escreve quase como fecho do artigo: "O qu e Belaúnd e enfatiza é a diversid ade da situação e concl ui que a tese de Turner não se a plica. "45 Val e repetir que se rá preciso retom ar com mais vagar a tese de Tu rner, e já se pode adiantar qu e necessitaremos enfrenta r dois problen1as vislumbr ados no texto de Belaúnde: o do tempo e o da política. Pode-se pergunta r, em primeiro lugar, até que ponto a experiên cia dos Estados Unidos não depende u do moment o em que ela ocorreu? Tendo seu maior n1on1ento de expansã o entre as décadas de 20 e 60 do século passado , a fronteira american a e suas conseqü ências podem estar vinculad as à tecnologia da época. Segundo, até que ponto a tese de Turner pode ser válida nun1 contexto em que a fronteira é controla da? Enquant o todo o Capítulo IV será dedicado ao trabalho de Turner, em um moment o oportuno , no item dois do Capítulo V, retornar emos a essas questões interpelando a obra de Sérgio Buarque para percebe r de que modo estas aparece m em seus textos. Por enquant o, podemo s sintetiza r dizendo que o contexto intelectu al do qual Sérgio Buarque participa após a primeira edição de Raízes do Brasil envolvia uma ampla discussão sobre o Novo Mundo, o que no meio historiog ráfico americano se refletia no plano de se interpre tar a história do Continente e nfatizan do menos as diferenç as e oposiçõ es do que as experiências comuns aos seus países. Para manterm os os mesmos termos já usados anterior mente, diríamos que a preocupaçã~ central passava pela expansã o do process o de americanização - aproxim ado por Werneck Vianna da idéia de democratizaç ão em Tocquev ille -, 46 especialn 1ente no que concern~ aos países america nos com un1 legado ibérico. Vimos que' / ·cas 'a Amert das comum história a r reavalia se principa l via para foi uma releitura desta tradição ibérica, apontan do para;:;. compati bilidade com a expansã o da democra cia e co~. ª ~o urn nização. A via explicat iva situacio nal - que significaria 86 . nismo no sentido de dinâmica continental _ _ menca nao a inuito sucesso. Mesmo uma tese conhecida con , d . . 10 a e não foi be1n aceita pelos historiadores que a c . Turner ,. .. ." . , ons1. 1 inaplicavel as expenenc1as de colonização do N dera1an ovo empreendidas pelos hispâ nicos, sendo tomada dessa Mun do . _ , or uma 1nterpretaçao que ressalta a excepcionalia form , P . _ . . de norte-americana, nao contribuindo para uma história da ,. . com Un1 das Amencas . 0 bteve Com O quadro do d eba te esboçado, podemos agora focalizar de que maneira Sérgio Buarque nele se posicionou . Com base em cartas e artigos de jornal podemos suge rir que esse debate foi importante para que ele repensasse os caminhos de sua explicação historiográfica do Brasil. Vejamos, então , qual foi a postura particular do autor brasileiro diante das questões e respostas nutridas pela reflexão produzida na época em torno da história das Américas. A FRONTEIRA NO BRASIL Assim que retorna dos Estados Unidos, Sérgio Buarque escreve "Considerações sobre o Americanismo", artigo publicado no jornal do Co mmércio em 28 de setembro de 1941, no qual explicita a importância de sua viagem que durou apenas "algumas semanas". Em primeiro lugar, assinala a crescente influência que aquele país vem assumindo sobre o Continente, a qual deixa de ser apenas econômica e política para se tornar também cultural. Em seguida lembra que, entre a intelectualidade nacional, o Brasil é freqüentemente pensado em oposição aos Estados Unidos e, na mesma medida, aquela influência é avaliada ou como absolutamente perigosa, ou salutar - em todo caso, a avaliação é realizada no plano do absoluto. Na realidade, esse tipo de visão é advindo da dualidade segundo a qual, diz o autor, "lusismo e americanismo pare~em-n~s freqüentemente duas noções incompatíveis e. ~nti:e s quais é indispensável optar" .47 A partir de sua expenenc1a recente Sérgio Buarque aprende a olhar com desconfiança esta dualidade, pois, observa, "na viagem de algumas se_manas que acab d · e realizar à América do Narte, acostumei-me a 1 JU gar melhor semelhante opinião" .48 ° 87 Em suma, Sérgio Buarq ue de Holan da se alinh a com a pri cipal preoc upaçã o então prese nte entre os histo riado res dnAméricas. Antes de ressal tar as difere nças entre o Brasil e as · preci·so ana 1·isar Estados Uni'd os, sena aque 1as carac teríst i os ., . ~ b d que os paise s comp arti'lh am. As d escnç 0 cas . d " oes asea as em Po~ sições eram qua d ros pmta os com traço s gross os", que mais. serviam para o desca nso do intele cto do que para um efet·lVo equac ionam ento dos nosso s dilem as e da nossa história. 0 autor refere -se, então , a Lewis Hank e - que, como já vimos foi um propa gador dos estud os acerc a da histó ria comu m da' Américas - afirm ando que s todas essas considerações não servem para atenu ar o fato real da existência de um abism o entre os Estado s Unido s e a América Latina. Apenas, conforme notou o Lewis Hanke em artigo recente, esse abismo é feito princi palme nte de incom preen sões mútuas, e para vencê- lo é precis o antes de tudo explo rar cautelosamente o terreno, exami ná-lo sem ponto s de vista precon cebido s e definitivos, sonda r os obstác ulos reais ou ilusóri os, e verificar até onde poder ão resistir a um esforç o bem dirigid o. 49 Aquela dualidade entre lusismo e an1eri canis mo deve-se, em grand e parte, a essas incom preen sões mútu as , e, por essa via, tanto os defen sores de um lado quan to os de outro constroem seus argum entos sobre carica turas enge nhos as delas resultantes. Segun do as palav ras de Sérgi o Buar que, [. .. ] o que [. .. ] preval ece nos quadr os da vida norte- americ ana fornec idos pelos notici ários dos jornai s , pelos cinem as, por certos livros, por certos propa gandis tas, bem ou mal dispostos, são decidi damen te as cores gritan tes. Com esse mund o absurdo e inuma no, onde o excepcional se fez regra, dificil mente pode ser concebida qualq uer composição basea da em termos de reciprocidade e igualdade. 50 (Ênfas es acresc entada s) Com um quadr o desse s em mente , ''[. .. ] ou devem os aceitar em bloco toda essa civilização, assim reduz ida a seus ge ta 5 5 mais frené ticos - e nesse caso terem os de renun ciar a nós mesmos, à nossa indiv idual idade - , ou deve mos rejeitá-la para viver" .51 Assim, de um lado, os amer icanis tas consideram que devem os aceita r esta civilização norte -ame rican a e, levando-se em consi deraç ão a simp licida de na const rução do 88 . seguido, "não admira" a Sérgio Buarque que "L .. ] l as el · ~ • . de uma aproxtmaçao maior com os Estados 111 ode o 'dártOS 5 o partt5 ão rec rutados insistentemente. entre almas elementares . , vnidos ; .5 apenas ao apelo do superlativo e do grandiloqüente" ." 'b . . tro lado os 1 enstas, para os quais o mesmo ' . ; orou grossos da vida norte-ameriE ha, P core . s vivas e traços . de . . qu adto rve d e f'gura simetricamente oposta para a afirmação 1 . cana se ideal de latinidade americana : de um vago 1s1ve1 set Para esses não só existe um abismo insondável entre os Estados Unidos e nossa América, como é preciso que esse abismo exista sem O que pode perecer a imagem tão carinhosamente forjada: Assim O materialismo, o utilitarismo, o dinamismo norte-americanos, com todos os aspectos negativos e detestáveis que costuma exibir, têm verdadeiramente uma função precípua, a de explicar em nós, americanos de estilo latino, o culto acendrado das virtudes contrárias, de que desejaríamos deter o privilégio. Nossa confiança em nós mesmos necessita dessas muletas para não se abalar, como um Ariel q u e necessitasse de Caliban para nele ter sua justificação. É difícil não perceber que a própria ênfase com que afirmamo s esse antagonismo constitui muitas vezes uma confissão mal velada de penúria e fraqueza. 53 Todavia, a dualidade entre este grupo e aquele dos americanistas não está calcada apenas na imagem caricatural dos Estados Unidos, mas também sobre a concepção segundo a qual o Brasil é fruto tão-somente das tradições e instituições lusitanas, das quais seria herdeiro e guardião. E "[ .. .] a circunstância de sermos uma nação americana parece afetar-nos como ~m fato acidental, cujas conseqüências podemos transformar a vontade" 54 De fato, com essa concepção o terreno em que é travada ' a ct· tsputa entre americanistas e iberistas parece completar-se, uma vez que, se tínhamos a figura dos Estados Unidos como repres · 1· e d entante indisputável do utilitarismo do matena ismo 0 dinam· ' h d as atrib . .. ismo, agora temos o Brasil dese1npen an Utçoes e ,, . • ns restaria at . . ontranas. Com a fixação das duas 1mage , ri 6u1r val ,, . argumentos e or a cada uma delas e dai, deduztr os rn Prol ' · ano ou da ou do aprendizado do modelo norte-amenc ' rnanut ~ d'ções menos Prár ençao das autênticas mas vagas, tra 1 icas e . . , mais idealistas. 55 ° . 89 ia sobre certas in Assin1, para alcan çar uma "vitór co111 . ,, d " " ,, preen sões recipr ocas que nos ara maior es energ ia , s e enfren tar nosso sb própr ios dile rnas" melho res instrun1entos para . . . a lén1 de un1 estu d o mais minu cioso so re a América , ·do olhar para O Brasu sário tainbé m um novo Norte ' faz -se neces . . que não o consi dere result ado exclu sivo do legad o ibérico leve e111 conta "[ ... ] que, apesa r de tudo quant o nos disting e · d a restam zonas de coi·n ue ,, · a, ain . CJ, -saxo- es d a A- menc dos anolo b dênci a nascid as já nas prin1e iras é pocas da colon ização e que 56 o ten1po não apago u". Enfati zando este aspec to, Sérgio Buarq ue se aprox ima do que ten1os cham ado explic ação situac ional e, e m vez de investi r n a releitu ra do legad o ibéric o - abrin do mão do caminho segui do, entre outros , por Lewis Hank e em seu La Lucha por la Justic ia en la Conqu ista de Amér ica - , alerta para uma situaç ão comu m ao Brasil e aos Estad os Unido s, a experiência da fronte ira tal como defini da por Turne r: Porque em nosso Contin ente, não obstan te todas as diversidades étnicas e cultura is, existem de norte a sul feições sociais com raízes idêntic as, gerada s da aplicaç ão de velhas instituições e velhas idéias a uma terra nova e livre. Nesse sentido pode-se mesmo dizer que, como o Oeste do histori ador Freder ick Jackson Turner, a Améric a é antes uma forma de socied ade do que uma área geográ fica. 57 O trecho a que Sérgio se refere está em um texto de Turner intitul ado "The Probl em of the West", publi cado originalmente em 1896 na Atlan tic Monthly. Litera lment e: "O Oeste é, no fundo , uma forma de socied ade antes que uma área. É o termo aplica do à região cujas condi ções sociai s result am da aplicação de instituições e idéias mais velha s às influê ncias transformado ras da terra livre. "58 Esse trecho deixa claro em que medid a a fronte ira é um enfoq ue situac ional, pois enquanto a visão genéti ca consid era o Novo Mund o quase como se fosse uma folha em branc o onde são impre ssos os valore s transos ceânic os, aqui o Novo Mund o, atravé s de suas terras livre , possu i influê ncias trans forma doras sobre eles. Em outras palav ras, ao se referi r a Turne r, Sérgio Buarq~e apont a para a possi bilida de de se aplica r uma explicaçao situac ional na interp retaçã o da histór ia brasil eira, uma chave que ressal ta a ameri caniz ação no sentid o contin ental. Dessa 90 ,.... ..... . uma possibilidade explicativa, qu . e parece u d esin. ' . d os h istonadores neira, à maiona d as A ,, . ma mencas . . . . ssante como é considerada instigante por Sé . ceie rg10 Buarqu e s9 •i vimos -, . que seja possível e frutífe ro ler os text os que s,, · . l c reJO . · ergio e publica na décad a de 1940 sobre 0 movime nto Buarqu ·rante e as monçoe s com e ssa discussão em mente ba nd et · . operac· como se, nesses trabalhos , estivesse tona 11zando . . . Quase . to de vista manife stado no artigo d e 1·ornal "C ons1de,, . .· 0 pon ~ s sobre o A1ne11can1sm o . raçoe Não se pode , contudo, cair no exage ro de afirmar qu e foi raças à valorização d a tese da fronteira qu e Sérgio Buar ue q d a conquista do Oeste · gdescobriu as poss1'b'l 1 1'd a d es exp 1·1cat1vas ara a história do Brasil. Não se deve esquecer, por exemplo · · uma b em f orn1a d a tradição de estudos' p que então já existia sobre os bandeirantes , iniciada por Capistrano de Abreu, autor pelo qual , aliás , Sérgio Bua rque nutria grande admiração. Lembre-se do depoime n to d e José Honório Rodrigues conce: · dido em 1982 para a Hispanic American Historical Review, no qual o historiador carioca comenta sua convivência com Sérgio Buarque e conta que "quando voltei dos Estados Unidos fui trabalhar com Sérgio Buarque de H olanda, diretor da seção de publicações do Instituto Nacional do Livro, cujo diretor era Augusto Meyer. [. .. ] De Sérgio a prendi a ser um admirador incondicional de Ca pistrano de Abreu". 60 Aliás, antes de sua viagem aos Estados Unidos e de ter tido um contato tão direto com o debate em torno da história comum das Américas, Sérgio Buarque já havia publicado um artigo sobre os bandeirantes na Revista do Brasil. O breve artigo de sete páginas, intitulado "Caminhos e Fronteiras", f~i publicado em março de 1939 e 1·ustan1ente devido sua brevidªde, pode-se pensar que o autor' estava começando a se de d'icar nd assunto. 61 Outra indicação disso é o fato de que, qua Sergio Buarque foi chamado para escrever no Ha ndbook. of Brazilian Studies conforme con1entei inicialmente, 0 convite era para redigir ~ capítulo de história colonial, te nd0 ficado ª Parte so bre os bandeirantes a cargo d e Al'ice c anabrava. Sérgio Buarque . Na ve d d ,, algo secundário descobrir . se r a e, e d Bande iras a começo d . uma Part· u e fato a interessar-se pelo tema as • ana Havia ir de s · d pertar Proct , eu contato com a discussão amenc es para te . f' ·1 b uçao ras1 eira sobre o assunto su 1cien ª~ º 91 -~ ✓ ~ ()J l '1 J ~ 1 va le a pe na ate nta r pa ra O clin 1 00 0 , --. seu interes~e. .De tooeolo111 . "lª au me nto de int e rca,.. mb 10 co m int ete c, intelectual ge t ad ~ P _ Qu an do Rub e . ns Bo rb a d e Mora rte -am en ca no s. . no . ,. ,r Br az ilí an St ud ies es · Ha n db . OOK- 0'J JU ntam e nt organ1za o . e ·11 · ernen - co nta a Sé rgi o Bu ar qu e, em ca na dA co m \X/ 1 ia n;413 3 ue re~olv eu "inclu ir o ca pí tul o 'B an de ira s'" março de 1 d ' q ·iosid ad e so br e o as su nt o no s Es tad os n e a cm P or se r gra .· . . 1· • 1 se t"m bé m qu e o p11 Unidos".º 2 Assm me110 ivr o d e Se, rgio a e-, " . . ~ so br e o tem a, 1 '101 1 çôes , foi es cri to co m a 1n ten ça o de ap re• ,, _ um co nc ur so no s Es tad 1 os Un id os, no qu al recebeu sen ta o a ,. · l M mençao 110111•osa - 111 as nã o O pre mi.o pt.·mc1pc 1 . onço~es foi pu bli ca do em 1945, mas Sérgi o vin ha tra ba lh a~ ~º n e le de sd e s an tes po is e m 15 de seten1b ro de an o 19 42 Ma 110 de An dr ad e lhe escrevia, faz en do um pe did • "l' " o um po uc o ins o ito: Co nc ebi a idéia de ter os or iginais, pro jet os , ras cu nh os , etc . do liv ro qu e vo cê est á es cre ve nd o pr o tal co nc ur so no s Sta tes , é po ssí ve l?"63 Em su ma , 0 qu e n1erece se r de sta ca do é a po siç ão ad ota da po r Sé rgi o Bu ar qu e de nt ro do de ba te da hi sto rio gr af ia am eri ca na - de ba te a qu e, em lin ha s gerais, re mo nt am os aq ui -, po stu ra a qu al , um a ve z co mp ar ad a co m a ch av e ex pli ca tiv a ge né tic a ad ot ad a em Ra íze s do Brasil, in di ca um a mu da nç a de pe rsp ec tiv a qu e , co nf or me ve rem os ma is ad ian te, pe rm iti u ao au tor um a no va ma ne ira de pe ns ar a rel aç ão en tre tra diç ão ibé ric a e mo de rn iza çã o. As sim , é pr ec iso an ali sa r co mo o int ere sse pe la tes e da fro nte ira , ma ni fes tad o pe lo au to r no art igo pu bli ca do qu an do de se u re to rn o ao Br as il, ap are ce na s su as ob ras so br e a co nq ui sta do Oe ste . Mas , an tes de rea liz ar es ta tar efa , faz -se im pr es cin dí ve l es tu da r co m ma is cu id ad o a já tão cit ad a tes e da fro nte ira . Esta an áli se é ne ce ssá ria na me di da em qu e é po ss ív el estabe lec er um diá log o en tre a ob ra de Sé rg io Bu ar qu e e a tes e de Tu rn er e m si e, tam bé m, gr aç as à já re fe rid a im po rtâ nc ia ad qu iri da po r es ta na his tor iog raf ia no rte -a me ric an a, in1 portân cia tal qu e , em div e rso s ca so s, to rn a dif íci l fal ar de ou tro his tor iad or do s Es tad os Un ido s se m qu e se te nh a no çõ es de la. Ad ian to qu e es te se rá o ca so , po r ex em pl o, de Ge or ge Willi ams, au to : de Wilderness an d Pa radise in Ch ris tia n Thought, livro pa ssi ve i de se r co mp ar ad o co m Visão do Pa ra íso de Sé rgi o Bu ar qu e - do qu al fa lar em os no ite m do is do s Ca pí tu lo s V e VII - , e qu e dia log a co m a ob ra de Tu rn er e co m es tu di os os 92 ., 1u a1s }1 r da mesma - co m o H en ry N as h Sm it h. P or tu do isso, 0 pr óximo capí tulo te m po r ob je ti vo o e st u~ o d a hi pó te se d e Frederick Jackson T ur ne r p ar a, em s : g~ 1d a, p o d er m o s no s de di ca r efetivamente ao s te xt os d e Se rg 10 B ua rq ue so b re a conquista do Oeste brasileiro. e A p T u L o IV fRcDrnlCK JACK~ON iU~Nt! t OOé~,f te Este capí tulo visa explorar um pouc o mais deta lhadamen er a tese da fron teira elab orad a por Fred erick Jack son Turn e nos para , em segu ida, pode rmo s tece r cons ider açõe s qu os perm itam , post erior men te, anal isar com mais dese nvoltura e seu livro s de Sérg io Buar que sobr e a conq uista do Oeste das diálo go com as disc ussõ es em torn o da histó ri a com um Amé ricas e com a obra de Turn er. Proc uro apre sent ar as cara cterí stica s prin ci p ais da hipóo seu tese turn erian a e o que seria , no meu ente ndim e nto, rior núcl eo - a adap taçã o do euro peu ao nativ o, para sua poste to, retom ada do lega do trans atlân tico, trans form ado, no entan com pela expe riênc ia amer ican a. Exp onho tamb ém, aind a que s pret ensõ es bast ante limit adas , o amb iente intelectu al e algun , ao inter locu tores de Turn er, restr ingin do-m e, por um lado a se que ilum ina a impo rtânc ia da tese no que diz resp eito genécons titui r em uma expl icaç ão situa cion al em op osiçã o às ar do ticas, e, por outr o, ao que cont ribu i p a ra n os ap roxim sua mod o p elo qual Sérg io Buar que p ossa ter d ialog ado com eram obra e com auto res que, por sua vez, tamb ém esta belec um diálo go com ela . J TURNER E A ESC OLA TEUTÔN ICA ·dade Q uand o Turn e r c ursa va seu d o utor ad o na Univ erst de de Joh ns Hop kins na déca da de 1880 , teve a opor tuni dade urna freq üent a r o curs o d e He rbert Baxt er Ada ms ' a uto r de -o das form ul açõe s ma is ace itas na é p oca p ara a inter p reraça novo da histó ria dos Esta d os Unid os. Ada ms logo viu e m seu car rei ra pro n1i sso ra e um int erl o uma . a,Jut1° d i·a vir a co ntn'b u1r cut or brilh par a o d ese nvo l . er 0 e, o . . v1ment O ant qua 1P d to~ nica. Ray All en Btl hng ton forn ec la reu e sua esc0 Iara da int erp ret açã o e do mé tode uma d . d esc nçao bastante e o essa escola .0 seg uid or cuJ ' -·a ape n as que co mp ara r um a ins titu içã o m d tel1 o e etnp lo um a cid a d e d a No va Ing l ate _ por rra _ com u rna ex . . . _ mstnui çao de um pas sa do re mo to - com o um tun med ievma al , . a 1ema_ · Par a pro var que um a des cen dia da o utra. Cas o as s·1 . 'd o _ m1 1an ades fossem suf icie nte me nte exa tas, n ão hav ia nec ess idad e d . , . l Os Passo s eva luc1 0na n os que eva ram do pas sad o ao e traça r , . pre se nte. Este era O sur pre end ent e rac1. ocm 10 que ger ou a "Escola Teutônica " dos ano s de 188 0 e com eço dos de 1890. Seus mem bro s acreditavam que ant es de Tac itus um a "irm and ade comum primeva" existiu com sua ling u age m e inst itui çõe s pró pria s. Qu and o eventual men te este s aria nos se dis per sar am , alg uns foram par a a Grécia par a est abe lec er as fun daç ões da cul tura grega, outros foram par a Rom a par a ali pla nta r as sem ent es de uma civilização e o me lho r da col hei ta des loc ouse par a a Ale man ha. Lá, na Floresta Ne gra , ess e pov o teu toaria no des env olv eu as instituiç ões dem ocr átic as que ser iam com par tilh ada s pela Alemanha , Grã -Br eta nha e Est ado s Un ido s . O pap el dos hist oria dor es "teu ton ista s" era ass oci ar tod a ins titu içã o nor te-a mer ican a a seu "ge rme " n a Ale ma nha me die val 1 . Ao cen tra r sua aná lis e nas ins titu içõ es dem ocr átic as dos Estados Unidos, a exp lic açã o vin ha ao enc ont ro dos interesses cultivados pel o jov em Tu rne r. To dav ia, est a int erp ret açã o const itui-se nu m exe mp lo rad ica l do qu e ten ho den om ina do ~e explicação genética, po is pro cur a as ori gen s e causas das in st ituições no rte -am eri can as no leg ado eur op eu tra nsp or~d 0 para o No vo Mu nd o. A pró pri a con - d cep çao e cienci a.da 01 :~c , ª_Teutônica, a qu al ma nti nh a for tes laç os com as teo n_as iolo g1c as d ,, ,. ,, . a cre r que a h1sa epo ti'd ano s tona só d . . . ca , lev ava seu s par . ,, . ª qu1 nna seu sta tus cie nti fic o se a 1can ç asse um upo de expl · _ B mo escreveu icaçao qu e rem ete sse à Eu rop a, poi. s, co axter Ad . • ar a Turner -, ams em 1883 - ano s ant es de 1ecw n • A • onde . se pro duz vid a org âni ca dev e exi.st · ma sem en te q ue a ir u expltq d crev er um . . ue . A his tóri a não dev e con ten tai: se em. es vável qu e e feito E tão tm pro a . qua ndo pod e exp lica r as cau , sas . s tns n1 . me ,·unto as m um . ger Praia s uiç oes loc ais livr es flor esç am se . . glês cres ça nor te-a me rica nas com o o e, qu e o wg o tn 95 . . t do dani a se Pro ,_ have r sido p 1an a . As insti tuiçõ es de. cida d . Pa~ sen I }ater ra segu ndo a raiz as antig as idé· ram na Nova ng . tas ga ingle sas e a 1ema-s trans porta das para este cont inen te pelos Per e~ . 2 grino s e Purit anos . Mesn10 tend o pen nan ecid o inte rloc utor e ami~ o. de seu prof esso r, Turn er não foi um cult or ~a ~sco la Teu~on_ica, Pois esta , be1n ao cont rário , vem a cons titui r-se no prin cipa l alvo da sua fonn ulaç ão acer ca da fron teira . Se Tur ner perm anec eu inte ress ado nas font es da cult ura e das inS t ituiç ões democráti cas nort e-am erica nas, proc urou -as no próp rio Continen te. A CON FER ÊNC IA DE TUR NER Herb ert B. Ada ms part icip a do com itê de orga niza ção da Reu nião da Ame rican Hist oric al Ass ocia tion (AH A) de 1893, que, nest e ano, se realiza em Chic ago, no âmb ito da Expo sição Mundial que com emo ra o Qua rto Cen tená rio do Desc obrimen to da Amé rica. Por uma dess as coin cidê ncia s da vida, Ada ms sanc iona o conv ite ao auto r d a Con ferê ncia que, pouc os anos mais tard e, seria con side rada um golp e de morte em sua próp ria teor ia. O Wor ld's Colu mbi an Exp ositi on é um gran de even to que dá pros segu imen to às feira s mun diai s, uma trad ição inici ada em 1852 com a expo siçã o real izad a em Lon dres . Nas palav ras de Lúcia Lippi, ª idéia que come ça em Lond res se espa lha pelo mun do dando opor tunid ade a cada naçã o de most rar suas reali zaçõ es mais mod e:~a s e repre senta tivas . É um even to que perm ite mostrar n~ ~rati ca os mais mod erno s méto dos de enge nhar ia, baratos e rapid os resul tados das nova s tecn olog ias do aço e do ferro. 3 Antes de tudo , a Feir a de Chic ago era um bom meio para os Estªdos Unid os apre sent arem as gran des mud ança s por que pass avam e d'd ' na me 1 a que sedi avam o even to que rep resentava a vang uard d . _ . . ª as rea11zaç oes mun diai s conf irma rem 5 ua ma1ondade para ' com por o conc erto das naçõ es dese nvo 1vi·das, Um - enor me con·JUn t d e prog ram açõe s expo siçõ es e d e eonstruço es com põem F . ' . •d deS, ª eira e, em mei o a toda s essa s auvi a ° 96 também um a série de "Congresso A . . . s uxl11ares" . c11izatn exemplo, sobre 11teratura, ciências 5e re e artes. todo . . . 10 por s '. b'etivo de reunir os n1a1s 1mporta nt con es espec1alist 111 o o J as na área -, dentre os quais O World' C co s ongress of . . época , J· a . s an d H1stoncal Students, organizado p or um comitê . J-fiston:in~ ., . ·d de de Chicago em con1unto con1 um da AHA , este ultimo . da c1 a 4 ecreta n ado de Adains. ·ob os . J A , s muitos transtornos e di fic uldad es entre os q ua1s uma ' ., . p0 . ,., , . de desentendimentos entre os lideres dos doi·s comttes 5ene organizadores, tudo estava pro~to para a realização da re união dos historiadores, que contaria com a presença do jovem e desconhecido historiador de 32 anos, Frederick Jackson Turner. Este desloca-se de Madison para Chicago, com a esposa e amigos, dias antes da abertura do encontro - ocorrida na noite do dia 10 de julho de 1893 - , não podendo, no entanto, aproveitar as atrações da grande e x posição devido ao seu hábito de adiar a preparação de seus textos até o último momento. Isto o leva a recusa r o convite dirigido especialmente aos historiadores p a ra assistir ao Buffalo Bill 's Wild West Show na manhã do dia 12 : é obrigado a permanecer no hotel para poder concluir su a conferência a ser proferida naquela noite. 5 Nesta noite e x trema mente quente, Turner é o último dos cinco participantes a apresentar o seu trabalho, e, talvez por isso , sua conferência The Significance of Frontier in America n History passa desapercebida. No mesmo ano , Turner volta a apresentar seu paper em duas outras ocasiões , sendo finalmente publicado no início de 1894 no Proceeds of the Forty-First A nnual Meeting 01 th e • Society of Wisconsin e em segui'da, n o Annual State H'tstoncal nd Report 0/ the American Historical Ass~ciation for 1B93. Ai ª f rn ais Apenas f . . . assim , as primeiras avaliações foram nas e O 1 · h simpatizantes . anos d . epo1s, quase uma década, passa a gan ar ., lo uma ace1até ale ançar, na segunda década de nosso secu ' ~ americanos . Se taçao . generalizada entre os historiadores nortete às etrcunsl a Prirn . . , . eira recepção é fria dev ido, provave men ' antagonismo a ' tanc1as b a teoria so as quais foi apresentada e O seu inte 'lh d s - como rpretaç er que oes amplamente comparti a ª teut' . demos esquec on1ca d Ad científica ams - , também não Pº e urna _ linguagem ., d · epoca um (cismo ansiosa por aplicar meto os e aos e 1 st Udos históricos deve ter ouvido e lido com ce 97 tex to que, como veretnos na se qüência, co nti nh a generalizaçõ e . / s arrisca d as e fora red igi do nu m a lin gu ag em qu as e poeti ca . / Para un1a prin1eira ap ro xi ma çã o, co nv em co ~e ça r ªPonon fer ên ci a de Tu rn er ch am a a ate nç ao para tand o qu e a C urna . ·f f d1 eren ça u nd am en ta l e nt re a fro nt eir a na Eu ro pa e no s / Estados Unidos: na qu ele Co nt in en te ela possu1a uma forte co no taç ão po lít ica , sig nif ic an do o lim ite qu e se pa ra dois pa íses , du as po pu la çõ es d e ns as ou - us_a ~~ o ~s termo s etn oc ên tri co s da ép oc a de Tu rn er - du as c1vil1zaçoes; e no s Estados Unidos, po r su a vez, fro nte ira sig ni fic av a um a linha en tre a ter ra po vo ad a e a ter ra livre ou ain da , o po nt o de en cont ro en tre o civ ili za do e o pr im iti vo . 6 Es tes do is signif ica do s do ca so específico da fro nteira no rte -a me ric an a, usados de forma intercambiável, estão , em últ im a an áli se , na base da tese turneriana. É interessante no tar qu e es sa complementarida de entre os dois sentidos de fro nteira já está presente no duplo significado da palavra inglesa wi lde rness, qu e de no ta, em nossa língua, tan to o se nti do do termo deserto, co mo o de selvagem. 7 A fronteira permite qu e os co lonos bu sque1n novas condições de vida nas terras livres , o qu e é um in ce nt iv o pa ra o espírito de iniciativa e pa ra a de fes a da igu ald ad e de op or tun ida de s. Se nd o assim, pa ra Turner, os valo re s da na çã o am eri ca na , a democracia e o individualismo, sã o ali me nt ad os pe la fronteira e não pelo ideário dos imigran tes an glo -sa xõ es . Porém, a din âmica do pr oc es so nã o é ex pl ica da ap en as pe la s op or tun ida de s ab er tas pe la ter ra livre, ma s ta m bé m po rq ue o pione iro , ao buscá-las, en tra em co nt ato co m a sim pl ici da de da sociedade pr im iti va , se nd o ob rig ad o a se ad eq ua r a padrõe s nativos de relação co m a na tur ez a. Po rta nt o, os va lor es norte am er ica no s sã o ge rad os , co nj un tam en te - e aq ui percebe-se co mo a tes e é pe rm ea da po r aq ue le du pl o se nt id o que a pa lav ra fronteira ad qu ire no s Es tad os Un id os (e , também, 0 pró_prio ter mo wilderness) -, pe las no va s op or tu ni da de s ofe reetdas pe las terras livres e pe lo co ns tan te re en co nt ro com ª na tur ez a e o mu nd o primitivo . A partir da ad ap taç ão a pa dr õe s pr im iti vo s , o pioneiro des~n~~lve no va s téc nic as de tra ba lh o, va lo re s e pa dr õe s de so cia bil ida de , inc lus ive re cu pe ra nd o su a ba ga ge m cultural - nu m pr im eir o mo me nt o ab an do na da fo rm an do uma na ça o co mp ós ita e to rn an do ' -se tip ica me nt e am eri ca no . Erl l 98 na fronteira o pioneiro volta a est,, . alavras, ,, ag10s primirras p acesso continuo , torna a evoluir rumo , . . . ou pr _ a c1v11ização 001 . 105 e, n ra uina nova naçao. Dessa m a n e ira , tt' do Pª • , amparad o con1 pa rtilha d a nos meios inte lectuais d f' 0 nGlt1 aP crença . . e 1ns do 111a · Turner conside ra que cada hnha de front . 10 1 ,tos, _ , eira segue oitocer de evoluç ao comum a huma nidade e p rocesso 1 . al ., havia p assado, com a diferenç a que na eA o ,qu 0 111 P . . Europa Jª menca ~. se dá em curto espaço d e te1n~o . Uma vez qu e a linha 0 1s~ . a atinj a O grau d e uma so cie dade industri al e se voluUV . d ' 'd e . democrá ticos e 1n iv i u a 1·1sta s e stej a m ameaça d us valo1es d ' ,. . d f . os esgotame nto, a ina n11ca a ronte ira , graças às terras l pe o . . disponívei s, pode se repe tir e o xigena r a d e mocracia e O individualismo , alimenta n~o esse s v~:ores n_ã o apenas na linha de fronteira, mas tamben1 nas reg1oes mais a Leste _ fadada s à saturação e envelhe cimento , se não fosse essa renovaç ão do processo. Contudo , a confe rência de Turner termina com um alerta: a fronteira já e staria esgotad a e com ela, de acordo com seu raciocíni o, a fon te da democr acia norte-am ericana. Um dos pontos mais d iscutido s em torno da tese de Turner é o que se refere às terras livres como uma "válvula de segurança" (safety valve), tendo elas o p apel de desafoga r os centros mais industri alizados , e vita ndo, assim, o acirram ento de conflitos sociais e econôm icos . Embora essa idéia venha à mente quando se lê a confe rê ncia de Turner, ela não é formulada explicitamente. De forma um tanto esquemá tica, seja dito de passagem que o foco de sua tese se dirige mais para o que ocorre na fronteira e suas conseqü ências do que para o que acontece fora ' mas graças a ela· inclusiv e cabe dizer que T , , urner não recorre ao termo safety valve no artigo e, no trecho que mais se aproxim a de fazê-lo escreve gate of scape (portão de esca pe), ainda assim - isso é' o que importa - para d'izer que "ca dª fronteira ~ d fornece u de fato [... ] um portao e escap e da escravidã o do passado " - e não um portão de escape Para o a · d. cirramen to dos conflito s sociais. Apesar d'isso, é difícil eixar d se e associar aos argume ntos de Turner ª v álvula de, . guranç " · de 1893, a1 sim ª e , em textos posterio res à con f erencia ) ele a f ,, • Dessarte , e m out . ormula de forma bastant e exp 11cita. ro irn . f O the West to Arn . Portante texto seu "Contri buttons erican D ' 03 • escre emocrac y" publica do pela primeira ve z emd19 m, ve que " , . ~ a se cr· todas as vezes que as cond1ço es so d ais ten era •mir istaliz . 1 ndeu a opr1 ar no Leste, sempre que o capita te 99 trab a lho ou res triç ões pol ític as a im ped ir a libe rda ct ma ssa , hou ve est e por tão de escape par a as con diç ões 1~ IVrda 0 da fronteira". 8 De qua lqu er nu ne ira ,9 ain da que nã o apa reç a de form cla es .. ra na sua con fer ênc ia Th e Sig nif ica nce of the Fro nuª _tao 1 American History, a concep ção de válvu la de seg urança p e i n estar pen nea ndo sua tes e por me io da noç ão da fronteira o po nto de encontro entre terra po voa da e terra livre.'º rno ;~ece NÚ CLEO DA TE SE DA FR ON TE IR A E SUA OR IG EM Creio, con tud o, que , en1 bor a não sej am exc lud ent es, podese ressal tar o out ro asp ect o da tes e de Tu rne r qu e não se enc ont ra na vál vul a de seg ura nça , ma s sim nu m pon to que , por assim diz er, se loc aliz a na pró pri a fro nte ira - e menos nas co nse qüê nci as del a nas po vo açõ es ma is ant iga s. Não me nos suj eito a con tro vér sia s , ess e asp ect o par ece um dos mais ori ginais de Tu rne r, qua l sej a o da ráp ida evo luç ão ocorrida na fro nte ira apó s o ret orn o ao pri mi tiv o. Nu m dos mo me nto s ma is viv aze s de sua con fer ênc ia, o aut or afirma: A selva e des erto 11 dom ina o col ono . Enc ont ra-o um eur ope u nos trajes, atividades, ferr ame ntas , form as de se des loc ar e pensamento. Tom a-o do trem e o col oca num a can oa de árvore. Arra nca-lhe os orn ame nto s da civi liza ção e o ves te com camisa de caça e mocassim. Põe -no num a cab ana de tora s dos Cherokee e dos Iroq ue e o cerc a com um a pal içad a ind íge na. Muito ant~s ele já com eço u a pla nta r mil ho índ io e a ara r com um baSrao pon tiag udo ; lanç a o grit o de gue rra e tira esc alp o pel a man e!ra orto dox a ind ígen a . Em sum a, na fron teir a o am bie nte é, a pnncípi o, mui to mai s fort e par a o hom em . Est e dev e ace itar as co nd içõe s que o amb i e nte forn ece , ou p e rec e, e ent ão ele se ada pta às cl are iras ind íge nas e seg ue as sua s trilh as. Pou c~ a pou co ele tran sforma a selv a e des erto mas o resu ltad o não e ª velh a Euro pa, nem sim ples men te o des ~nv olv ime nto de sement~S alemãs, até por qu e o prim eiro fen ôm eno foi um cas o de reversao do pad rão ge rm aA n 1· o f, . _ ato e que aq ui está um nov o P1-0 duto que e ame rica no. 12co. Pode-se dizer que ess a pas sag em con tém ~ leo dapod o nuc tesee de Tur ner , poi s com pre end e a din âm ica da fro nte ira que 100 e1n três n1omentos di'st·in tos o p . es qu ematizada rimeiro · ento é de quase absoluta adaptação d o adventíc' . 111,orn 10 , as . içõeS fornecidas pe 1o a1nbiente e aos me· 5er ios nativos " . . , . con d . f ' pois muito princípio a e, an1b1ente o ronteira mais orte pa ' na f ra mem". Somente num segundo 1nomento, "p ouco a pouco" 0 11 a europeu pode transfarmar o ambiente com b ase, pode-se, .i f . o . or nos n1e1os ornec1c os pelo seu legado t ransat l"anttco su P , d , resultando daí O que q ue passa a ser retomado po emos d . a fronteira , O prod u to ameri-. Co nsiderar o terceiro momento . ~ . cano, fruto do rearranJo da trad1çao européia sobre um fundamento de con1pleta adequaçã o aos padrões indígenas. Em suma, Turner interpreta a história norte-ame ricana como um recuo a padrões primitivos para a posterior retomada de uma evolução rumo à civilização , mas que, graças ao primeiro momento, não reproduz a velha Europa e aponta para uma civilização nova , democráti ca e com pleno vigor. Essa dinâmica da fronteira, em explícita oposição à teoria teutônica , constitui-s e num dos aspectos mais inovadores da teoria de Turner. Ou m elho r, na verdade a idéia de evolução linear dos povos era correntem ente aceita na sua época, mas sua aplicação para o desenvolv imento de uma nação num espaço histórico de tempo diminuto era bem menos comum - embora, veremos, não inusitada . E, se a concepção evolucioni sta de história dos povos é tida hoje como extremamente problemática, a maneira como Turner a aplicou, ainda que não o desvincule e não supere seu contexto, nos obriga a refletir com cuidado sobre as suas possibilid ades e desdobram entos. Para desenvolver esses pontos, parece necessário , de início, a referê n cia às idéias lamarckia nas que marcavam a época. " 13 . lS . Em seu texto "Lamarcki anism in American Socia cience , George Stocking demonstr a a presença de argumento s qu~ ,, t'1cas adqui. envo 1vem a noção de hereditari edade das caractens ck e ' em ,muitas " . . rid - as . as , vezes com referencia direta a 1 amar · anas nos ult1mos . . ~ out ras, nao , - nas Ciências Sociais norte-ame nc · · a decada do v· . mte anos do século XIX entrando pela pnmetr "ncia a Darwm ' ,, XX 14 •_ "d · Se e verdade que nesse contexto a recorre h 'd O como o arw1 era. ckiano o . tntensa, constituin do o que ficou con ect ' lamar argumento ao 1 n1smo social" 1s ,, mudanças "[ ~ , e com o ape o . q 1 .. ·f m cauua1ttnha seu peso no conceito de adaptaçao ,. . 0 que ora na est e foram rutura ou no comporta mento organic qu ou biente • . , d · sa as Por influencia s diretas do meio am 101 ~ pro dut o das res pos tas do org ani smo a tais infl "' . · 'd as por h ere d' · transm1t1 1ta ned ade dos pais par a a uen e . cias eram ..... . S . . e que as 1enc1as ocia1s enc ont rav am um a man rtança,,16 e· d , ira e , lec er um a aut ono mia relativa qua nto à Biologi a mes est abQ. del a. O lam arc kia nis mo , diz Sto cki ng forn ' ece u "mo Parr1n<.10 , uma t ~ . con1~o~ta1nental da . . ~vo luç ão bio lóg ica" e possibilitou e,~ria dos ult1n1os elo s teo nco s ent re a teo ria bio lóg ica e s . um oc1a[,, 17 De ntr e out ros asp ect os esp ecíf ico s, o lamarck ianismo ·. bili tou aos cien tist as soc iais a ela bor açã o de uma exp]i·Pos ~ipar a a for ma ção das raças e da estr utu ra men o tal que não caça f . log1 . . .ca. ape nas b1o osse A con cep ção seg und o a qua l os nov os háb itos adquiridos pel a ada pta ção ao am bie nte ger ava m mu dan ças no organism o dos ind ivíd uos e ess as, por sua vez , era m herdadas pelos des ce nde nte s per mit iu que os cientistas sociais , mesmo sem urna dif ere nci açã o clar a do bio lóg ico e do soc ial, formulassem exp lica çõe s par a as dife ren ças raci~is que se aproximam das que for am ela bor ada s pos teri orm ent e par a explicar as soci ed ade s a par tir do con cei to de cul tura . E com o as causas das mu taç ões gen étic as con tinu aria m em açã o, da mesma maneira que pod iam com pre end er a form açã o das raça s, aos cientistas fica va abe rta um a trilh a par a exp lica r tam bém as diferenç as nac ion ais e reg ion ais. Seg und o Stocking, um exemplo acabado des sa pos sib ilid ade é o con ceit o de raça hist órica, de Willia~ Issa c Tho ma s, que , em um tex to sob re Folk Psycbology, publicad o em 1895, esc lare cia: L.. ] a form ação de raça s artificiais ou históricas, por meio da infl uên cia do mili eu e da difu são de um fund o comum de cren ças, sent ime ntos , idéi as e inte ress es entr e uma população hete rog êne a e traz ida pela sort e e acas o a uma mesma zona geográfica, está tom and o lugar diante de noss os olhos no presente mom ento - e é um tem a da hist ória - e esta mos seguros em assu mir que ness e pro cess o a form ação de verdadeiras raças está se repe tind o. 18 O pró pri o Ge org e Sto cki ng sug ere a pro xim idad e entre ess a din âm ica f arm açã o de raç as hist óric as e a tese de Tur~e;~ afir ma ndo que "aq ui par eci a esta r a raz ão última que fun 110 me nta o 'cad inh o da fronteira' de Frederick Jackson Turn~doS qua l 'os imi gra nte s era m ame rica niz ado s, libe rtados e fun em um raç a mis ta"' .19 102 ~ 1 . do essa sugestão de Stocking e com segutn k' . o que apresenre O lamarc ianismo no ambiente • b os so inte 1ectual em raf11 r ner se formou, agora podemos compreend ue ur f' " er melhor q tor quando a 1rn1a que na fronteira O amb· ,. ste au . f 1ente e a e , . muito 1nais orte para o homem" A front . ' rinc1p1 0 , . ,. . . · eira consp ciru1. uina expenenc1a radical para . _ o adventício , ele van d o a . ' vel ambiental numa explicaçao de corte lamarck·1ano a va na uma Potência extren1amente " . elevada, .conseqüentemente _ , ne 1a, 1nan deve aceitar as cond1çoes que ela [a fronteira] Jrontier 0 oferece, ou perece" - no~ termos propriamente lamarckianos, ele é obrigado a uma radical adaptação ao meio. Daí resulta com rapidez, un1a nova raça histórica - para usar O termo d~ Thomas-, ou seja "a formação de uma nacionalidade compósita para tornar-se o povo americano". 20 No entanto, essa nova raça histórica não resulta apenas da adaptação, mas também d o fato de que o homem da fronteira "pouco a pouco [... ] transforma a selva e deserto" 21 num processo de retomada d o legado europeu, "mas o resultado não é a velha Europa" , pois não se pode esquecer que, após a adaptação, quem reto n1a o legado já é um novo homem . Ainda assim, há uma ev o luçã o que supera o estágio primitivo em direção à civilização, numa crença corrente entre os cientistas sociais da época. A diferença da experiência norteamericana é que nela essa evolução ocorre num ritmo muito rápido, o que segundo Turner, foi observado por Achille Loria. Este economista italiano [... ] estimulou o estudo da vida colonial como um auxílio para o entendimento dos estágios do desenvolvimento europeu, afirmando que o estabelecimento colonial está para a ciência econômica assim com as montanhas para a geologia, trazendo à luz estratificações primitivas. A 'América', diz ele, 'possui a chave P~ra O enigma histórico que a Europa buscou por séculos em vao, e a terra que não possui nenhuma história revela clara22 mente o curso da história universal'. Há muita verdade niSlo. Num conte xto intelectual . segund em que não era comum a idéia Turnerº ª qu_al seriam possíveis diferentes linhas de evolução, . · estava e cons1der ou que a particulandade norte-amencana . , medida que a f rontelía . avança ern dire m- seu rit mo intenso. A tante re·Çao_ .ao O este, os Estados Unidos conhecem um consin1c1o d e um processo evolutivo que, partindo · d as 103 ~ atividades de caça, alcança o estágio cara cter izad o pelas cidade e indústrias e, por esse motivo, era pos síve l encontrar ness: país dive rsos está gios evo luti vos con viv end o lad o a lado nurn mes mo tem po hist óric o . É com o se a viag em no esp aço se torn asse um des loca me nto no tem po. Ass im conf orm e vam os lend o linh a por linh a esta pági n a cont inen tal do Oes te ao Leste e ncon tram os o regi stro da evol ução social Ela com eça com o índi o e o caça dor e con tinu a para nos fala~ da desi nteg raçã o da selv ager ia pela entr ada do com erci ante , 0 bate dor da civilização; lemo s os anai s do está gio past oral na vida no rancho; a expl oraç ão do solo pelo cult ivo de safras não rotativas de milh o e de trigo em com unid ades fazendeiras espa rsam ente esta bele cida s; a cult ura inte nsiv a do asse ntam ento de dens as faze ndas e fina lmen te a orga niza ção man ufat urei ra com a cida de e o siste ma fabril. 23 Ta1 f enoAmen o, que , seg und o Tur ner, pas sav a des ape rcebido pelos historiadores, já era "familiar ao,, e~tu danteA de censos estatísticos" .24 Esta obs erva ção exig e um rap1do par ente se que nos ajuda a descobrir mais um asp ecto do cam in~ o perc~rrido pelo auto r até a formul açã o de sua tese , o que diz resp eito ao uso de mapas estatísticos. Seg und o nos info rma Ray Allen Billington, o pai das técnicas que sign ific am tant o para Turner era um cartógrafo russo , August Meitzen, que em 1871 publicou um atlas mon ume ntal que incl uiu vin te gra vur as coloridas retratando a den sida de pop ulac iona l por mei o de tonalidades de coloração. Foram env iada s cóp ias par a a Bib liot eca do Congresso e prov ave lme nte fora m vist as por Fra ncis A. Walker, sup erin tend ente do cen so de 1870. Wa lker com pre end eu a importância daquelas gravuras e ord eno u que foss em incluídos mapas e gráficos no mes mo esti lo nos vol ume s a sere m compilados com os dad os do cen so nor te-a mer ican o. O resultado foi o importante Estatísticas da Pop ulaç ão dos Estados Unidos, um trab alho volu mos o que se exp and iu não som ente com tabelas e gráficos esta tísti cos , mas que incl uiu doz e mapas st rand o a mo dist ribu ição do ana lfab etis mo da saú de, de . . imi gran tes e - mai s imp orta nte - a den ' sid ade da pop ulaçã o em seis níveis de gra daç ão. As técn icas emp rega das eram primitivas, mas a bas e hav ia sido esta bele cida e era prec iso ape nas um refi nam ento par a adic ion ar os traç os que permitiriam a Tur ner visu aliz ar o ava nço da fron teir a. 25 104 A essas prin1eiras estatísticas publicadas com mapas foram, década a década, se seguindo outras, com dados desde 1780 até 0 últin1 o ce nso . Os próprios organizadores dos censos vinham pe rcebe ndo qu e através dos tnapas era possível perce ber um padrão de crescin1ento econômico do país, a tal ponto qu e em un1 panfleto publicado pe lo "census bureau " e m 1890, segundo o con1e ntário de Billington, anotaram : 'No estabe lecime nto d e qu alque r país novo normalme nte as atividad es se sucedem em urn a ce rta ordem'. Caçadores e exploradores vêm usu alme nte e m primeiro lu gar, depois vaq ueiros, de pois agricultores , e m seguida indu stri ais e, fin almente, co m 0 grosso da população, os moradores da cidade. 'Vemos nes te país', diz o panfleto, 'todos os estágios deste prog resso' .26 En1bora não possa afirmar cabalmente, Billington chega a su gerir que Turner poderia ter reconhecido [. .. ] as áreas cada vez mais escurecidas [nos mapas estatísticos] já que a população torna-se mais densa década após década como representações simbólicas da transição de uma sucessão de comunidades desde o primitivismo até a civilização e constatado que elas repetiram de uma forma encapsulada toda a história do progresso do homem. 27 Esse parêntese sobre o uso dos mapas estatísticos na construção da tese reforça a percepção do forte aparelhamento de Turner, que se cercou de estudos de diferentes ciências. Creio que quando imaginamos esses mapas coloridos descritos por Billington, a tese da fronteira ganha ainda mais vivacidade. De fato, eles podem ter sido uma sugestão preciosa para Turner assumir e reforçar a idéia de Loria segundo a qual nas colônias estava se reproduzindo, num curto espaço de tempo, a evolução seguida pela Europa de forma extremamente lenta. Mas se o contexto neolamarckiano, as observações do economista italiano Loria e os mapas estatísticos coloridos ajudam ª compreender como Turner foi elaborando e imaginando SUa tese da fronteira - envolvendo, num primeiro n1omento, um recuo do estágio civilizado ao primitivo para, nun1 moment~ seguinte, seguir um processo evolutivo novamente rumo ª civilização - , continuamos sem saber a que co nd uz esse processo e qual a diferença de uma nação que passou por ele 105 l ,~ .. ,., ~ em relaç ão a outra s. Ou, em outra s palav ra~: re~ta saber : a que Turn er atrib ui a posit ivida de dess a expe nenc ia da fronteir 1 ª· Talv ez seja prud ente discu tir as respo S t ªs ª essa pergu nta subd ividi ndo- a em duas parte s, abo rd ªnd antes O primeiro · n1om ento da front eira para, em segu ida, anali sar O mom ento poste rior de evolu ção. Cabe então , para come çar, subdividind o a nossa quest ão, pergu ntar: por que O retor no a padrões prim itivos de vida é posit ivo? Boa part~ da r_es~oSla pode ser enco ntrad a no livro de Henr y Nash Smit h, Virgi n Land, publicado origi nalm ente em 1950, e no de Davi d Nobl e, Historians again st History, de 1965. O prim eiro dese nvol ve uma leitura da obra de Turn er inser indo -a na cont inuid ade da tradição agrária norte -ame rican a, a qual suste ntava que a conq uista das terras amer icana s abria a poss ibilid ade da cons truçã o de uma socie dade agrár ia que pode ria, conf orme algu mas versõ es significar a cons truçã o de algo com o o para íso terre no _ ' desne cessá rio notar que esta tradi ção é um prolo ngam ento dos mitos edên icos que nutri am as men tes anglo -saxã s nos temp os do desc obrim ento da Amé rica. Dent ro dess.a interpr~ta ç!o, a respo sta sobre o porq uê da valo ração positiva atnbu1da ao retor no a padr ões prim itivo s vem à tona sem muita dific uldad e. Num a linha não dista nte de Smit h, David Noble agreg a o traba lho de Turn er ao do grup o de historiadores ~ue, como uma espé cie de profe tas, anun ciam e zelam P_~ªdahança norte -ame rican a com a natu reza e com a simplic1 a e - em opos ição à comp lexid ade euro péia . Os dois autor es, cada um ao seu . passo ao consi'd mod o, avan çam mais um si próp rio ao aberar que Turn er prep arou uma arma dilha para raçar, ao lado d 1 . . , rusticidade a teori·a . . esse e ogio ao agra nsmo e a ' evo 1 vanta gem norte -am . ucion ista · se Turne r cons idera a grande na sua p . .d o prim itivo ao adeenca . roxim i ade com a natur eza e ' nr ao evolu · · progr esso chegaria m . d cion e sua conc epçã o de , ais ce O ou m ismo . . ~ sem soluç ão. Deix o de d ais tarde , a uma contrad1çao . 1a o essa prob l ,, . ,, 1 m~1s tarde , quan do emat ica para retom aa . inter preta ções Po recor ro a out ros auto res que critic am estas d . r enqu anto cab ~ e Smith e de . Nobl e reter que as inter preta çoes . . cons idera do prim e .escla recem espe cialm ente o que temos O ad ent d 0 aptaç ão e retor no e1ro mom . . a tese de Turn er - o da sive , ao vincu . lar a hi ao prim itivo - t ,, . 1 ,. , orna potes e da fro t . , ndo possi vel , inc dun eira a apolo gia da socieda e º 106 111111 e nti·e ver a ) e. ao,, ide a l de sim pli cid ade (N obl e) , ith (Sm ··a ,, gra11, ª .. •dade atn bu 1da a ele. posmv1 des ses aut ore s, cre io Todav ia, sen1 desca1,ta1 a per spe cti va rca do po r qu e , na t ese ace l un1a res po sta a pe rgu nta "ve . . . poss1 é con sid era do pos itivo da fronteira, um ret orn o ao pnn11t1vo art icu lad a lise da pró pri a teo ria evo luc ion ista aná da és •,]v 3 t 1a ali sam os com olh os de or Turner, ain da qu e, qu an do a an um a per spe ctiv a acerca iioje, ten den cia ln1ente atr ibu ím os a ela nen te neg ati va. Se ret ordo primitivo e do sel vag en1 abs olu ta1 liz e i há po uco , po dem os narmos ao tex to de Sto cki ng, qu e uti a épo ca e abr and ar ess a d al ctu ele int to tex con ao ar ont rem te, o pap el da do utr ina visão, rea val ian do, co nse qü en tem en evolucionista n a tes e da fro nte ira . ent os sob re a formação Ao a pre sen tar u:m con jun to de arg um tex to de Joh n De we y, dos instintos, Sto cki ng lan ça mã o do , pu bli cad o em 1902, no "The Int erp ret ati on of Sav age Mind" ão spe nce ria na da mentaqua l o autor critica "a neg ati va ava liaç po uco mais de qu are nta lidade dos sel vag ens ". Co nta nd o com we y, qu e ser á o pri nci pal anos nes se mo me nto , o lon gev o De na pri me ira me tad e do rep res ent ant e da filo sof ia pra gm ati sta teo ria s qu e adv og am a das 2, 190 m e a, tilh par com , XX ulo séc ntu do, isso não significa evolução unilinear da hu ma nid ade . Co esc ala da · evo luç ão não que, par a ele , um est ági o ant eri or na o que , lem bra Stocking, pud ess e ser val ori zad o. Nu m arg um ent nis mo e qu e, gos tar ia de pod e ser rel aci on ad o ao lam arc kia gm ati sta , De we y dis cor re acrescentar, já é o de um filó sof o pra l afi rm and o qu e sob re a for ma ção da est rut ura me nta ::3 • • • exõ es mentais de dem and a 'Massas rec ogn itiv as' e reg iõe s de con As ocu paç ões det erm ina m se ajustam às ativ ida des dom ina nte s. os pad rõe s de suc ess o e de as pri nci pai s for ma s de sati sfa ção , ocu pac ion ais é tão fun dafracasso [. .. ]. O gru po de ativ ida des e o esq uem a ou mo del o d a me nta l e dom ina nte que ele for nec tos me nta is. As ocu paç ões org ani zaç ão est rut ura l dos atr ibu 2 fun cio nal . ª o tod um em ais eci esp s nto me inte gra m ele nta qu e um tip o me nta l d A partir des se pri ncí pio , De we y apo c9m o neg ati vo ou abs oe caç ado r não de ve ser con sid era do · d d 1utamente tn · f en·or, ma s co mo ad eq ua d o a um a sac ie a e qu e ' e · 1'd ad es do mi na nte s as rel aci· on a d as a caç a. Ess tem. com o at1v ~ . al nã o é O pri nci pal pas so da arg um ent aça o rac1ocín.10 f unc1on 107 dewcyana, n1as ai nda assim, adquire u1n pape l importa na medida en1 qu e o filósofo rea li za, a partir de le, a recon:~1 liaçào entre o civilizado e o selvage m mesmo d entro de un1 quadro evolucio n ista: É ape nas obse rvando-as [_as ca pacidades selvage ns] parti cular- me nte e m se us aspectos pos itivos q ue compreendemo s O significado ge nét ico d a me nte se lvagem para o longo e tortuoso processo de desenvo lvimen to me nta l e que nos assegu ramos da su a va liosa ajuda para compree nde r a estrutura da mente de hoje. 29 Nun1 argumento co n1 viés bastante pragmatista, Dewey ressalta a continui dade e ntre as es truturas me ntais, pois, é bon1 len1brar, segu ndo o seu argun1ento , o desenvolvime nto das capacidades n1e ntais não é o resultado de grandes abstrações do es pírito n1as das "atividades o cu pacionais do grupo" e dos hábitos que elas requeren1. Sen do assim, tanto a mente primitiva quanto a civilizada são resultantes de uma mesma lógica de fo rmação. Muito ao contrário de envolver um corte absoluto entre o selvagen1 e o civilizado, a psicologia do caçador explica Stocking recorrendo ao texto de Dewey - é [... ] a 'forma estrutural sobre a q u al a inte ligê nci a e a emoção de hoje estão constru ídas'. Desenvolvime ntos subseqü entes não 'destruíram de todo o u deixaram para trás os a rranjos estruturais da mente relativos à caça já qu e [... ] [os m es m os] libertaram se us fatores psico-físicos co nstitutivo s d e m a ne ira a tom á-los disponíveis e interessantes e m todos os tip os de buscas objetivas e idealizadas - a caça de ve rd ade, b e leza, virtude, ri qu eza , be m-esta r socia l e até mes mo do cé u e De u s' .30 Dess e modo, o arra nj o es trutural d a n1e nte d o caçador ganha sentido no q uadro de evolu ção não n1ais por ser apenas u m antecessor da estru tura me ntal d o civilizado, n1as também por, de certa forma, a compo r. E, p ara ir m ais alé m, atentando para a frase de Dewey - '' [. .. ) bu scas objetivas e idealizadas-:a caça d e verdad e, be leza , virtude , riqu e za, bem-estar social e até mesmo d o cé u e De us" - pode mos p e rce ber qu e es sa co ntin ui dade e n vo lve um asp e cto altamente positivo . Dito de mane ira rápida, os substantivos se modificam e a continuid~de ' respe1to, esta,, d e p osn. a d a n o verbo (caça r/ buscar), o qua 1 d 1z 108 voltando a nos ampara r e rn Stock·rng, aos in t. .. s intos. Embora Dewey nao utilize o tenno no texto 'o que perm, da estrutura 1nent.a l de caçador no homern mo d erno ctnece ,. O · . . instinto , 0 e , qual se organiza de acordo coin O s h a, . b 1tos e , t'1 1'd ª v ades das sociedad es. Nesse sentido, poden1os a .. P'lra a pos1t1pontar e . . . t" . - d vaça o o es agio pnn1it1v o , na med t'd a e m qu e l e e e p ode ser consider ado coino un1a espé cie de fo t :., cJ n e e vontad e no mundo mo derno. Nele está o verbo . . Apesar de tern1os ren1onta do a um tex to posterior em qu ase ' d p ele Turner de cia conferên à dez anos, o e ser represe ntativo , . . , A do contexto em que o autor fonnulou sua tese . - continuid ade . ,, . . dos estagias evolutiv os .tan1béin está present e nos escritos de ,. ,, · b astante Turner e , e . poss1vel dizer ' através de uma l"og1ca ,, . ?roxi1;1a , ~ois , como e~ Dewey, a evolução se dá a partir do mterca mb10 com o ambient e. Creio que a partir daí podemos encontra r uma maneira de compree nder a positivid ade atribu ída por Turner ao process o de transform ação europeu / nativo/ a merican o q ue oco rre na fronteira . Se recordar mos que, d entro das concepçõ es neolamarckianas, as caracter ísticas a d quiridas p elo s organism os, inclusive pela estrutura n1ental, são herdad as pelos descende ntes, é lícito depreen der que a proximi dade a um estágio primitivo significa, para o mais adianta do, a renovaç ão dos instintos , e, nessa medida , pode ser conside rada positiva para ele. Em outras palavras , poderíam os comenta r que ao estágio civilizado muito próximo do primitiv o - "seu contínuo contato com a simpli31 correspo nde um reforço cidade da socie dade primitiv a" do verbo em detrime nto do substant ivo (buscar verdade , e na~o teve os instintos .. . ~ . b e 1eza ... ). Equivale a uma c1v1 1izaçao qu David com os dizer d 'd enfraque cidos e nesse senti o, po em ma natureza e numa 1· ' Noble que Turner pensa numa a 1ança co pal avras "temos a ' ' sociedad e mais autêntic a - ou, nas suas t precipita da pe 1a se 1va . ·t· as " 32 complex a vida européi a abru ptamen e ndições pnmt iv . d da tese de ,, e deserto para a simplici dade as co 1 eo nuc o sobre 1 · · · • 1·_ Retoman do minha exposiç ao micia os encontra r uma exp t d . ,, to eia fronteira : Turner, posso afirmar que J3 pu em ' momen eiro · d caçao para a positivi dade o pnm ado aos pa dro~es nativos. . ·1· 0 da complet a adaptaç ão do c 1v 1 iz d' mais um passo na 'déia de Turner Mas já possuím os element os para _ar_ • . J,,ª insisti na 1 compree nsão da tese da fronteira 109 , daptação ao nativo, há un1a retornact ,, a . ~ qual, apos a a do can1 inho da cvoluçao em direção " ª segun do legado europeu ete1nos considerado o segundo morncnt a o • 'I' ação - o qu e ., ~ a vez de dedica rmos 111 aior ate nção . c1v1 1z ª f • d da frontetra. Agota e ·a seguir O 1nes1no ttpo e en oque seguido 1 · este mome nto e, pai . por que Turner o va onza. . . :1té :1qui, perguntai . d passagem apontei qu e H. N. Smith e David Noble ~ d'f" ·1 . ' En1 b 01a e , t 1c1 ao tecer Turner se vê nu111a s1tuaçao .d . .. co ns1 era1n que abraçando d sinlplicidade e do .pnn11t1vo, , ao . . un1a apo 1og1•a a raciocínio evolu c1o n1 sta. Creio mesmo . qu e n1esmo tempo, U,11 . seja possível afi rm ar que estes autores e nxe rga~ uma 1n~o?gruência entre O primeiro e os 1nomentos seg uintes da dtnanlica da fronteira . Após tern1os desenvolvido uma resposta alternativa _ einbora não excludente - à articulada p elos dois autores quanto à positividade da adaptação ao nativo, é necessário agora dedicar atenção à valorização feita por Turner do segundo n1on1ento da fronteira e verificar se este é, de fa to ' incon boruente con1 o anterior. Como já disse, esse segundo momento caracteriza-se pela retomada do legado transatlântico pelo europeu e do caminho de evolução run10 à civilização, após ter, o mesmo europeu, retornado a padrões primitivos por intermédio da adaptação ao nativo. Se lembrarmos das concepções neolamarckianas comungadas por muitos dos cientistas sociais norte-americanos, podemos dep reender que, nessa fase, a evolução se desenvolve de manei ra orgânica com o ambiente e com as novas circunstâncias suscitadas por ele, de modo que, também é possível dizer, a retomada do legado europeu não ocorre de modo automático, mas de acordo com as demandas da vida no Novo Continente. Para esclarecer melhor esse ponto, podemos chegar mais perto da afinidade do raciocínio de Turner com 0 . p.ragmati~~º· O estudioso da obra turneriana, Ray Allen Bilhngton, Jª observou essa afinidade, pois, segundo ele, d ° · - como coerciva mas como e manetTurner viu a f ron tei·ra nao ~ado ra, libertando os pioneiros das pressõe~ da tradição e penni- · tmdo a ,eles expe1·1·me n t ar praticas e instituições melhor a de·1· ~ as nece ss t·d,a d es. Essas quadas . as su socieda d es des e nvolv1c as ~ so b a influenci a d e uma soma de forças um a do a mbiente ,, . , ' externo , outra da ' . semente representando o fator hereditano ; .. "' ji T: l0 unier requentemente · · escreveu sobre as contribuições f eitas pe 110 , tock' às comunidades pioneiras. Essa er a uma concep ·a . I s . ç o pragmatista de evo uçao social, baseada sobre O T ea zmdo o qual as sociedades eram-formadas t so tdo Princípio anto pelos recur. . / so sos dit;noníveis quanto pe .a capacidade da poh l . _ JJu açao de utilizar ~1 -r .. _ estes recursos. E e estava se movendo, precocem ente, em direçao d . . • ~ ~ e a explicaçoes que, mais tar e, mam ganhai· xpressao filos0, f' ica . or intermédio de John Dewey L.. ).33 (Ênfase P s acrescentadas) . e sua fornecidos pelo me10 Esse intercâmbio dos recursos . utili zaçã o conforme a capacidade da população insere uma dinâmica de form ação_ d_e~ta mesma população que, justamente, 1105 lembra o ponto 1nic1~l de ~ossa discussão aqui, quando Stocking sugere_ ~ma art1culaçao entre o conceito de "raça histórica" de W1ll1am Thomas e a noção de mixed race de Turner. E, como vimos na oportunidade, os argumentos neolamarckianos conduzian1 a un1a certa confusão entre O biológico e O cultural34 que acabava por permitir o estudo das sociedades numa dinâmica muito próxima do conceito de cultura, mesmo quando se falava em raça. No caso específico de Turner, vale ressaltar que ao trabalhar com a idéia de evolução na fronteira, além de se vincular com o papel do ambiente da visão neolamarckiana , o curto lapso de tempo para essa evolução ressalta o traço fortemente cultural da sua explicação - próxima realmente da noção de raça histórica, mas bem longe da concepção mais corrente de raça. Agora é o momento de analisar mais de perto esse conceito de quase cultura em seu dinamismo. Aqui creio que, de fato, vale a pena aprofundar o argumento pragmatista referido por Billington na citação anterior e, para isso, William James pode nos ajudar. Em suas conferências sobre o "Pragmatismo", proferidas entre 1906 e 1907, poucos anos depois do texto de Dewey sobre a mente selvagem, James explica qual é a interpretação deweyana para o desenvolvimento da mente, ou do, como eS tes autores pragmáticos diziam, "estoque de crenças"· Segu nd º ele, o processo observado por Dewey . . 'd uo es t a belece novas opiniões l... ] pelo qual qualquer rnd1v1 ,, tem um estoque de . d'1v1"d uo ,a l... ] e, sempre o mesmo. O tn ,. . va experienc1a que as _ . ve Ih as opiniões mas depara com uma no ou entao, contradiz· , ' . ' poe em processo de triagem. A1guem as las é que se cont1 ab d f em um momento de reflexão desco re que e nhecimento e atos ' . d tzem umas com as outras; ou toma co 111 ......... com os quais são incompatíveis; ou surgem desejos qu e 1 . l d ., deixam de satisfazer. O resu ta o e uma perturbação íntim e as, qual até então o se u espírito tinha sido estra nho, e da ~ ª ·r· ., . d q ai procura escapar mo d 1 1ca n d o .ª sua massa previa e opiniões. Salva O máximo que pode, pois nesse assunto. de. crença som os . ao extremo conserva d ores. Ass1m, tenta pnmeiro trocar ess opinião, e depois aquela (pois resistem à mudança com muit: variedade), até que, por último, algumas idéias novas surgem as quais pode enxertar no estoque ve lho, com o mínimo d~ distú rbio para esse último, algumas idéias que medeiam entre o estoque e a nova experiência e que as conduzem umas às outras, com facilidade e expeditamente . 35 Esse processo definido por Dewey para explicar as mudanças mentais de um indivíduo parece guardar uma grande afinidade com a maneira pela qual Turner concebe a formação cultural na fronteira. É como se o legado transatlântico fosse o "estoque de opiniões" referido por James, ao qual o adve ntício recorre realizando uma "triagem" das crenças, processos ou instrumentos mais adequados às novas situações e necessidades com as qu ais se defronta. Então, pode-se dizer que, a partir do segundo momento da fronteira, os adventícios passam a ter um desenvolvime nto de seus hábitos, condutas, técnicas e instituições em congruência com a vida na nova terra. E aqui chegamos a uma resposta à segunda parte da pergunta sobre a positividade d a fronteira para Turner. Dessa vez, é possível detectar o porquê da valorização do processo evolutivo que se segue à completa adaptação, pois, além da sociedade de fronteira adquirir autenticidad e nesse encontro contínuo com a simplicidade da sociedade primitiva - primeiro momento - , a sociedade que se forma na fronteira percorre, no segundo momento, um caminho autêntico rumo à civilização, no sentido de não estar subordinado a fórmulas exteriores e sim a respostas às exigências da vida no ambiente americano. Para encerrar o assunto, é necessário esclarecer que, embora tenhamos falado de dois momentos da fronteira pode-se dizer q ue d' " · ' ~ inamica em cada um deles é sen1pre a mesma e, nesse sentido, não há uma discrepância entre eles.36 os dois mome~tos devem ser pensados dentro do quadro neolamarck1ano a que t · " . e na emas f eito re ferenc1a vizinhança d ªs ~oncepçõ_es pragmatistas, nas quais os seres vivos se adaptam as novas situações ., . . , numa continua interação com o meio. O grande d 1.ferenc1al do p · · nmeiro momento da fronteira não esta/ n a 112 ,. . dessa dinân1i ca , mas si1n no fato de as experiê ncias sencia · · · 1d d "· au rrerem, n O encont ro m1cia oda vent1c10 1 'd com o novo mundo oco us m01·adores ' con1 ta g rau e nov1 ade, que exigem uma e use ase ab soluta revisão do estoqu e. de'f•crenças, recursos e instruq do coloniz ado r, o que s1gni 1ca, em outros termos, a mento~d É que, "na fronteira o ambicess1 a de · de se adapta . r ao nativo. . f ne , a princíp io, mutto mais ·orte para o homem . Este deve ente e'. 5 condiç ões que o ambien te fornece , ou perece, e assim ace1ta1 a . d" ele se a d ap ta às clareir as 1n 1genas e segue as suas tn•lh as ,, .37 EXPLI CAÇà O SITUA CION AL Creio que, a essa altu ra, já deva ter ficado claro que a tese de Turner constit ui-se no que ve nho chama ndo de explicação situacional, n1as, de qualqu er maneir a, não custa realçar esse ponto recorre ndo mais uma vez ao texto do próprio autor. Na sua conferê ncia de 1893 , ao escrev er "a frontei ra é a linha de mais rápida e efetiva americ anizaçã o" ,38 o historia dor express a o cerne do que temos compr eendid o como um enfoqu e interpretativo do Novo Mundo que transfe re seu peso para uma dinâmica contine ntal - decorr ente, nesse caso, da fronteira. Em certos momen tos Turner leva às últimas conseq üências sua concep ção - podem os dizer que chega a exager ar - e a transforma no supra- sumo do que seria uma explica ção situacional, conceb endo a experi ência norte-a merica na como um rom piment o radical com os valores transoc eânicos . Em uma conferência proferi da em 1914, por exempl o, em certa passagem, Tu rner afi rma que "a democ racia americ ana não nasceu do sonho de um teórico· não foi trazida à Virgínia no Susan Con 5tant, nem para Plymo uth no Mayflower. Surgiu plena e forte e cheia de vida da floresta americ ana, e ganhou nova força cada ve z que tocou uma nova frontei ra " .39 Mesmo lembra ndo dessa e outras passag ens con1 o mesmo d t ,, 1 t ntar qu e levan o eor nos seus textos parece -me razoav e sus e ' . ' T er formul ou um em consid eração o núcleo de sua tese, urn . . e • u mas o d111am1 za oncetto que não exting ue o legado europe ' . d' e0 . . l"f" ~ poder-s e- ta 1zer america niza Com o risco de s1mp 1 icaçao . qu · . . d"111 âmica do Contte ª americ anizaçã o - relacio nada ª . de ne t · ponta em gr an n e - propor cionad a pela fronte ira ª ' 1 113 para os valores associados àquela americanização da den1ocratização e igualização das condições sociais _ enfin1, ao significado que o termo adquiriu a partir da leitura desenvolvida por Werneck Vianna da obra de Tocqueville ,4o conforn1e vin1os quando falávamos de Raízes do Brasil 00 terceiro iten1 do Capítulo I. Para reforçar que não se está falando num rompimento con1 a Europa, pode valer a pena citar um trecho da "Introdução,, de un1 livro dirigido à esco la secundária que Turner vinha redigindo nos últimos anos do sécu lo passado, mas nunca ch egou a concluir, no qual, de forma didática, considera que a história norte-a111ericana é 111 edida, [. .. ] a estória da ocupação de uma vasta selva e deserto em um breve período. [. .. ] A evolução, a interação e a consolidação dessas seções fizeram uma nação americana, com um povo compósito; com instituições derivadas principalmente da Europa e profundamente modificadas para se adequar às condições americanas; e com um espírito americano e ideais democráticos diferentes daqueles da Europa, e fundamentalmente devido à experiência do povo na ocupação de um novo continente .41 Dessa maneira, o resultado do transporte do legado europeu ao Novo Mundo é uma novidade, ainda que não represente um total ron1pimento com a tradição ocidental - como certos críticos de Turner o acusam. 42 Parafraseando um texto de José Guilherme Merquior, ainda que trate de contexto e enfoque diversos, diria que a tese da fronteira, tal como forn1ulad a por Turner, é uma explicação situacional que permite abordar este "outro Ocidente" - a América. 43 11 4 ' ' 1 e A p T u L o V ornwrrnl oNAr1vo ~ O AMrniCANO Em depoimento recente, Maria Odila Leite d s·1 · • a 1 va Dias, ., . ex-aluna. de Serg10 Buarque na USP , conta que s eu pro fessor "digressivo e como que distraído, fazia incursões surpreen~ dent~s", __como, p_o_r _exemplo, as que levavam "do povoado paulista as especificidades da fronteira americana do século 1 XIX" . Maria Odila foi aluna e posteriormente assistente da cadeira de Civilização Brasileira dirigida pelo historiador, que permaneceu nos quadros uspianos e ntre 1956 e 1969. Nesses anos, Sérgio Buarque concebeu o texto "Movimentos da População em São Paulo no Século XVIII" - publicado em 1966 com um lapso no título, pois nele o autor se ocupa do século ÃrvII . Não parece exagerado afirmar que este texto está calcado na idéia de fronteira e seus desdobramentos, especialmente no que diz respeito ao seu p apel de válvula de segurança, aliás, o título de um dos seus tópicos: Safety Valve. 2 Neste tópico, um diagrama construído por Sérgio Buarque representando a dinâmica de populações na vila de São Paulo no Seiscentos combinado com as datas de fundações de vilas ' nas ca pitanias paulistas, demonstra de forma impres_si~~ante a relação entre saturação populacional do núcleo pnm.,ttivo e 3 ., fuga para novos nucleos. _ ,, e., pre c1·so chegar ate essas Mas nao ., . para se perceber que os " movi·mentas de populaçao paginas . d ·d.,· de válvula de sao enfoca dos, no artigo, a partir a i eia . ., · isto fica claro: . . segurança, pois desde a pnmetra pagina avoamento processou-se - d ntram quase _ Nas capitanias paulistas a expansao e P )d que nao enco da América durante longo tempo segundo mo es ., O urros lugares eral da própria ., . paralelo , pela mesma epoca, em · · ano em g ., de fora fluxo . ' ongm nucleo um de Partindo portuguesa. ' oderoso m . vila de S.Paulo, e sem contar com P .. grande porção do espaço utili zável da . hega ela a co b ni c formar terra a dentro, um rosário ds rect 01,. d de sorte a ' ezas, . em para marcar a paulatin a ocupaçã o de s-1t 1•os urbanos que sei v , o solo cada nova extensa o da area assim asse nh · Parece certo que ~ .. . . · oread, t do núcleo pnm1t1vo ou, em menor escal,1 se fa z a cus a f a, do , .· o des a lque s às vezes co . s secu n d a 110s, qu e vão re cebend _ , . . , . a popul ação. E nao e menos exa to dizer aindns1de. rave1s em su · . , . . . a que conw de ordinar w sucede nos movirne ntos ca l . essas sang1 .:as ,. · , · . oniza. verifi:ca r-se d epois de saturad os aqueles nu· l . d ores cost u ma1n· e eos1 (Ênfa,s es acresce ntadas) · Já aí , nas prin1ei ras frases do. text~, ~parec e delineada a tese da válvula de segura nça, cuJa princip al caracte rística _ aborda da no segund o iten1 do Capítu lo IV e que dissemos constit uir un1a das facetas d a tese de Turner , ainda que não a mais origina l - é a existên cia de terras livres para as quais os habitan tes de núcleo s "satura dos" possam se deslocar, característica esta presen te no Planal to paulist a e não em "outros lugares da América portug uesa", como Sérgio Buarqu e ressalta no início da citação - e nem, també m, na Europa , conforme notará o autor na seqüên cia do texto . No seu desenvolvimento, o historia dor trata, por exemp lo, da saturaç ão de terras - e conseq üente desloc amento para novas - provoc ada pelos método s predat órios de cultiv o , gerand o assim o que poderíamos chamar de uma frontei ra perversa. Além disso, em diferentes momen tos, refere- se à desest abiliza ção provoc ada pela corrida às minas gerais desde os fins do século XVII que, então, interro mpe o proces so de funcio namen to da válvula de segura nça, o qual pressu põe regula ridade e, na falta de melhor palavra, natura lidade dos fluxos popula cionais . Para não nos alonga rmos mais, cabe dizer que o autor detecta 0 funcio namen to dessa válvula , ainda que com limitações, no Planalto paulist a do Seisce ntos, pois, neste século , L.. ] ª criação de sucessi vos núcleos urbano s obedece ra [na_s e · · apttania s paulista s] a uma necessi dade vital dos seus hªb1 · tantes , · . · Pois se d e um lado era suscitad a pela propna es trutura . soc1al e ec d onomic a em que tradicio nalmen te assentav a a vida as mesmas e · · • apitania s, de outro devia servir para co nse rvar intacta aquela t f l_ eS rutura, ameaça da de deterior ar-se semP re que l' a tassem escoad e.i popul ouros por onde se verteria m os exce d e nces · açao das vilas.s A 118 • É O pr óp rio au to r qu em se re me te ao ca so qua ndo pe rg un ta: 11 01·te-a me . an nc o ' Não faz iss o le mb rar um po uc o cer ta do ut .· , 1111 do sec ul o pa ssa do c h eg ou a alc an ça r en ª. qu e no s, me ad os . . Es tad os Un ido s: a de qu e me prest1g10 no s o Oe ste no rte -amOt e,·i ·c , tea . l me nte de so cu pa da qu e se an o, a arg aab ria alé m da fro t · . d . . me nto reg ul ar, de v ia n e11 a o po vo aagi r ao mo do de um a va' lvu l d ~ . para res gu ard a r o Les te atlant 1co do risco de pei·turab e- seg ura nça • qu e se m ela pa rec iam ine es int ern as vit áve is? Do ad as as te aço · 11--as pu, 61'1cas po nti fic av am jor na lis tas do tem po , a me nd icâ nc ia fat alm ent ~ ter á de de sap are ce r, e os órf ão s ach arã o afinal am pa ro co ntr a a pe nú ria e_co nt: ª. a fom e . Qu an do os em pre go s vierem a mingu ar, ou for em m su f1c1 e nte s os so ldo s , nã o fal tar á ao op erá rio dilige nte o rec urs o àq ue las ter ras da div osa s, ve rda de iro jardim do mu nd o, qu e de sd e os dia s da Cr iaç ão est á à esp era de le , a fim de qu e o po vo e e de sfr ute . Me sm o as gre ve s irã o tor nar -se um a arm a su pin am en te ab su rda no mo me nto em qu e a cad a ci da dã o se ap res en te, co m be ne sse s inf ind as, a alt ern ati va de po de r lav rar aq ue les so los pa ra si e pa ra tod os. 6 E vo lta nd o ao ca so pa uli sta, Sérgio Bu arq ue ressalta a sem elhança entre os do is ca so s , em bo ra faça qu es tão de dizer qu e, aqui, a vá lvu la de se gu ra nç a nã o ga nh a tam an ho co lor ido e nem fu nc ion a de ma ne ira tão ce rta , ma s , em to do caso, L.. 1 à su a ma ne ira , a fun çã o qu e vin ha m ten do no séc ulo XVII os esp aço s liv res e uti liz áv eis ain da exi ste nte s ao red or do vel ho nú cle o p ira tin in ga no , de ass eg ura r a sob rev ivê nc ia do tip o de soc ied ad e al i for ma da de sd e os iní cio s da co lon iza ção , ass eme lha va -se , rig oro sam e nte , à esp éc ie de saf ety valve qu e há cem a no s infl a m a ra im ag ina çõ es an glo -sa xô nia s no no rte do Co nti ne nte . Se dif ere n ça ho uv ess e, est ari a nis so, qu e aq u ele s esp aço s li vre s , em ve z de tin giç!_os de co r~ s tão idílic as, ~evia1:1 pa rec er, em ge ra l, um a rea lid ad e de sco lor ida e chã , mai s ref n-~ o tal ve z do qu ~ esp era nç a. A fom e de ter ras segui~ -se s_~mp re à fom e de pã o e a ou tra s ap ert ura s, qu e mal se con 1u ran 1 ,u~ se pa rte do po vo na_o est ive . sse co ns tan te me nte ap ta a em igr ar pa ra on de lhe fos se da do rec om eç ar a vid a. 7 Levan d o- se em co . ns 1d er aç -ao es te tex to, e ✓ po ssí ve l afirmar . que Sérgio Bu ar qu e ch eg a a ex pl or ar co m pr of un di da de a hipótese do fu nc io na me nt o da vá lvu la de se gu ran ça em terras brasileiras. É de no tar qu e "M ov im en to s da Po pu laç ão em 119 ,, culo XVII", publica do na Revista do IEB 5 en1 1 d Ed' - ,, ,, . . . e no o Pau Sao Visa~ de içao a Segun a "Prefacio o do 196 6 ao 1a d o d o ment ', d 19 68 , parece ter sido. fruto do prossegui o de . Paraisa, e seu diálogo co1n os norte-ame ricanos e, m ais do que isso p 1, ,. de realizar em suas novas passagens e os . dos estu d os que Po na década de 1960. Com estadias mais prato nEsta d os U n1'd o 5 gadas que a de 1941, Sérgio Buarque p.assou uma temporada 6S e outra de 1966 até o a no seguinte, quando lecionou 1 19 , 'd d d I d' · en co1no professor visitante, n as Un1vers i a es e n iana, Nova York e de Yale. Nesta últin1a, se tomannos por b ase a canaconvite de Morse, Sérgio Bu arqu e desenvolv eu uma série de _ ativ idades, pois [. .. ] os principais objetivos (além dos fins de mais importância , os da cordialidade , a sua especializa ção) seriam os de dar alguns se minários em português p ara um punhado de estudantes graduados que estejam se especializa ndo em história do Brasil , talvez uma ou duas outras palestras , passar alg um tempo informalmente com nossos alunos e fazer o uso que lhe aprouver 8 da nossa biblioteca de mais de 5 milhões de livros. Além dessas atividades , em que se ressalta a de pesquisa en1 bibliotecas , ainda em Yale, em 1966, Sérgio Buarque participou da Banca Examinad ora do Projeto de Tese de David Davidson, um orientando de Morse "really extremely able" e autor da tese Rivers & Empire: The Madeira Route and the lncorporation of the Brazilian Par West, 173 7-1808, que Sérgio Buarque veio a considerar , na "Nota da Segunda Edição" de Monções, quase como um prolongam ento de seu trabalho sobre a conquista do Oeste.9 Mas, voltando àquela primeira viagem aos Estados Unido s, em l94l, e a todo o ambiente que a cercava vale estudarª 0_bra de Sérgio Buarque em torno da conquista do Oeste, especialmente Monções e Caminhos e Fronteira s com os olhos voltados para seu posicionam ento naqueles d~bates em torno de nov~s enfoques para a história das Américas. Recorda nd o 0 qu~ vimos no Capítulo III, a estadia na América do Noite parece . amento do tra b a lh 0 de relevante pa ra o re d•1mension ter . , sido a . Serg10 Buarque e , s e estamos longe de chegar a aftrmar q ue e~_c?lh_a do tema dos bandeiran tes tenha sido uma conse. que seja possível d'1zer que quenc1a daquele amb·iente, creio f .. o1 importante para a formulaçã o de seu enfoque de pesquisa, 1 120 . orme já estu dad o, o hist oria dor es c1e ve um a . f con · :- . rttgo logo imp a ar n qua l, apó s afir 1 e retorna, no nc1a de ~ orta . _ . . qu nao se 'd U s ado Est aos . lisar O Brasil em opo s1ç ao tece os ni s1 an a con u ' . es ace rca da obr a de Tur ner ob se1 van do ·açõ del . _q :ie es ta aderia sug erir un1 a ch ave p a ra sua viz ar esta opo s1çao. p SÉRGIO BUARQUE E A TESE DE TURNER de eami.n h os e Na passag,.en1. que a bre a seg und a seç ão rqu e esta bel ece um a com pa raça~ o com Ser g10 Bua Fronteiras, . . end o eco ao seu a fronteira nor te-a 1ne nca na seg und o Tur ner· Faz eric ani smo "_ artigo de 1941 - "Co nsid era çõe s sob re o Am par a um a exp eriê nci a reco rren te "e~ 0 autor cha ma a ate nçã o todo o Con tine nte ", poi s, afirn1a, que s, em parte ainda [... ] o recu rso a num eros as técn icas primitiva ame rica no , resultou , persiste ntes , de apro veit ame nto do solo os que manteve o sem dúv ida, dos con tatos mai s ou men os íntim com os an tigos naturais da terra nos tempos colonizador euro peu nte foram assíduos que se segu iram à con quis ta. Em todo o Contine ação transformaesses contatos, e não deix ara m de exercer sua emente recalcidora , mesmo ond e o bra nco se mostrou aparent trante. 10 (Ênf ases acre scen tada s) sa pas sag em se Gostaria de real çar, ant es de tud o, que nes seja, justamente enco ntra o tem a da ad apt açã o ao nati vo, ou leo da tese da o qu e con side rei um dos mo me nto s do núc 0 , uida seg Em . nte" tine Con o o tod fro nteira, apl icad o "em desses "contatos" autor alerta par a as dife ren ças de inte nsid ade e 1'd,. 'ad equ d ei __ a n com os anti gos nat ura is da terr a,,, refo rça colo ent es are as . "f oram mai s ou me nos ínti mo s nas d 1'fer ,. . h ,. de ter van ado em •. cia ª uen niais e, nes sa med ida , "su a infl • 11 grau cor resp ond ent e". lo norte-amencano . . ,. ,. . ata'd Ai sim, Sergio Bua rqu e exp lici ta o exe mp s refe n os ex c e omo con trap ont o e o faz a par tir de cas o ' m ente por Jac kso n Tur ner : ° . da Nova Inglaterra qu e, . urgiam em suas s Con hece -se o caso daq uele s pun'btano te, s,.ndios e falan d o Oes do s d 1 re gres sand o do cati veir o entr e tn os o mod ci'd ades pint ado s ou para men tado s ao ° 121 O u O das crianças mestiças, filhas· d . e th11 . . ·d· 111 5 nauvos. . · Uihe'es .,., J F. r o ad ri histo o , ntudo Co as. acJ _. .· 1 10 ª . 1 ur . , 1 as ap11s1 011 ner . ó dios a presen ta-os como 0 puntai casi 0 , . ' %e . .' . de a esses epis 1glo-saxô n1 as. Se n am o lado exce pc· na1s nas alu ionaJ sessoes a1 , quas da históri a dessas possessões. 12 pos · e escanda 1oso , ao nati es casos de extrema adaptação vo co . . Mas, se eSs ns. lact configuram U111dos, dos Esta nos ,ões . O o rn . . .. utuem exceç ais •. da experiência da fronteira brasileira·· . cornqueuo lu gares do mun do ame rican o sabemos , entretant Em algl1115 0 ao menos em parte , esses caso s puderam se r quase ,a regra, . . . , que, · na Amenca portuguesa, me1us1ve, onde e en E que O foram quanto , ' 'negro' da terra não cedeu lugar ao negro da Africa nas f . , a1nas 1 o agrá rias e domésticas. Em Sao Pau o, por exemplo, e nas terras descobeitas e primeiramente povoadas pelos paulistas [...] atestam . numerosos documentos a permanência generalizada do 61.1103 gü ismo tup i-português através de todo o século xvn.1 Podemos depreender dessa construção narrativa que Sérgio Buarque concebe as duas experiências como sendo da mesma natureza, embora com uma farte variação de intensidade dos contatos entre o adventício e o nativo e de adaptação daquele a este último. Estamos diante, portanto, de uma interpretação que leva em consideração o que há de comum entre experiências que , aparentemente , são tão-somente díspares. Se nos remetermos à passagem escrita por Turner referida por Sérgio Buarque, que se encontra no artigo "The First Official Frontier of the Massachusetts Bay", podemos deixar ainda mais claro esse ponto . Através de sua leitura é possível perceber q~e ª diferença é, como Sérgio observou na passagem citad_a ha pouco, de grau e não da natureza da relação. Ao introduzir 0 caso dos puritanos completament e aculturados, 14 Turner ~~m~çava dizendo .- -~uma frase que recebeu n~ exen;pl~r ~ ergio Buarque a s1gnif1cativa anotação Jnifluência do 1ndio que "0 ~ d'10 era uma influência muito' real sobre a mente e a rn Nova . moral assim como sobre as instituições da fronteira na . cion~us, ~ Inglaterra" E · d . . · , am a, apos a apresentação dos casos excep . f'r. fl "neta a~ 1es . o histonador norte-amencano reforça a idéia da m ue laço mando que " os exce . '. normalmente, assim como naquelas re corn . . pc1ona1s dos h dora omens das cidades fronteiriças . índ ios e rrna 15 . , existem ev'd 1 " encias claras da influência transio ,. .,, · . . da fr ingleS . onte1ra mdí e g na sobre o tipo puritano do colono 122 . que con1 essa referência ao texto d T o·e10 d ·d ·ar aberta uma sen a na aproximaç à ed urne r se pod e ns1 e1 . o a obra d S, co e com o qua d ro d e interpretaç ão . e ergio d 'f sugerido p 1Buarqu . reira e que as 1 erenças c 0111 0 ca e a tese da f1 on so no . - mais por conta do grau d e influ ê n . .rte-am , en ca no se dao ." eia tnd1gen . corre nas du as expe nen cias de colo . _ a, pois esta o . . n1zaçao. Para . -pressões do artigo de Jornal publicado p . S, . usai as ex 01 erg10 B 41, pode1n os dizer que ele lida com b d . ua_rque O em. 19 d . 'd " 0 sileiro "na zona e co1nc1 encia" con1 a exp an_.,, e1ranttsm . b1a e11e nc1a nortemericana e , mesmo que a note as dessemelh an _ a " b' . , ,, ças, nao se nstituem e m um a isn10 1nsondave l entre os d . , eO . 01s pa1ses. Nunca é demais ressaltar que essa proximidad e diz . , d ' ,. , · d . . respeito exatai~1ente a 1nam1ca e americani zação proporcion ada pela fro ntelfa - o europeu que se adapta ao nativo e so' d . , epo1s, etoma parcelas de seu legado, daí resultando sua am • . r encanização - , o que considero o núcleo da tese de Turner.16 UMA OUTRA FRONTE IRA Se é possível dizer que a leitura da obra de Sérgio Buarque a partir de um diálogo com a tese de Turner consiste numa chave de interpretaç ão frutífera , parece útil inquirir de que maneira este autor teria enfrentad o algumas questões que envolve m a transposiç ão e adequação da lógica da fronteira para um contexto diverso do norte-ame ricano. As principais questões que emergem daí já foram adiantadas por mim no terceiro item do Capítulo III - quando apresentav a o modo pelo qual os historiado res do Continent e analisaram a tese de Turner - e podem ser agregadas em três. Primeiro, cabe perguntar se em outras partes da América as terras disponíveis permaneceram razoavelm ente livres e , conseqüen temente , puderam servir à lógica da fronteira. É o problema da fronteira c_~ntrolada. Em segundo lugar, é preciso analisar se ª ~xpe: nencia norte-ame ncana . _ e,, devi'd a, em ande medida a nao gr ' concentração do processo de ocupação do Oeste num espaço de tem po razoavelm ente pequeno e concen t ra do no seculo XIX. Est 1 . ª concentraç ão leva a perguntar se O pa pel da tecno.. og1a nà 0 . . a permitir a tena sido fundamen tal - inclusive par . ,. . 0 cupaçã , . ma d1nam1ca O d f rapida - a ponto de impedir que a mes ,, a ront . d . d em epocas 0 elfa norte-ame ricana tenha se repro uzt 123 ·ra que stão já vem . u 1na terc ei ante rior es. b pul san do no de ., m dev e ser enf ren tad a: com o Vi cor rer men to e tam e rnos do argu ~ · de Tur ner nao elim ina o leg ado eur ope u, mas . , a sim teonaf Des te ino do rest a sab er qua l o pap el do lega ctº tran s orn1a. ' . p ,. . d'nâ tnic a da fron teir a. ost o o pro bler n o tran satl antt eo na 1 ' . a de . cab e a per gun ta: leg a d os d 1st1 ntos , lógi out ra man eira ca , . . . se pro dut os da fron teir a dive rsos ? E, o _1na1s im; o1 tant e, ern que grau e en1 que dl·reç ão se dá ess a dife ren ça. VISÕES DO PARAÍSO Con1 eça ndo por este últi mo pro blen 1a, cab e adia ntar que 0 por tug uês é apr ese ntad o nos tex tos de Sér gio Bua rqu e geralmen te asso ciad o com a idéi a de pla stic ida de. Não é exagero dize r que isto aco ntec e, com um a con stân cia de cha mar a aten ção , em pra tica men te tod os os tex tos do auto r, desde Raí zes do Bra sil até, por exe mp lo , o tex to "A Inst itui ção do Gov erno Geral", pub lica do na col eçã o His tóri a Geral da Civiliza ção Brasileira, em 1960. 17 Tam b ém nos trab alh os em que Sérgio Bua rqu e estu da a con qui sta do Oes te apa rece m, em algu ns mom ento s, cara cter ístic as do por tug uês e asp ecto s do legado ibérico, mom ento s este s que tere mo s opo rtun idad e de com enta r no Cap ítul o VI. Mas é em Visão do Par aíso, apresentado em con cur so par a pro vim ent o da Cad eira de História da Civilização Bra sile ira da USP, em 1958, que Sér gio Buarque real izou sua exp osiç ão mai s com ple ta e det alh ada sobre 0 ima giná rio por tug uês . Em cer to sen tido vin te ano s depois, eS te livro ava nça a com par açã o ent re o c~l oni zad or português e O es~ anh ol inic iada em Raí zes do Bra sil - no cap ítul o que a part ir da seg und a ediç ão rec ebe u o nom e de "O Semeador e o Ladrilhador" l'd d - , 1 an o ago ra com o ima / ·co gin ário 1'b en em torn o do des c 0 b · / . nm ent o de nov as terr as esp ec1·a lme nte os top1cos rela c· . . ton a d os à cre nça me die val 'e ren asc entt·s ta ~ue d/1z1a que em algu m lug ar des con hec ido se enc ontr aria o para1so terr eal" Est d não ape nas entr e os ·ib / ª· cren ça, am pla me nte gen era liza a e dad es • d' . enc os, gan hav a, con tud o, form as e ton alimui to ist1ntas d entr e os esp anh /. em ca a naç ão, de mo do que enq u anto tre os por tu ois era pin tad a em cor es fort es e vivas, en ses se ap d' eta e chã . Co gue • rese m isso, as nov a ntav a de man eira mai s discr 1 mun do ame ric s exp eriê nci as pro por cio na ªs pe_eso ano eram d • · duç 0 esc nta s ent re aqu ele s corn in 124 audaciosas e ~elirantes e, por sua vez, entre os portugueses, faz lembrar "o pedestre 'realismo ' e 0 de uma man eira ~u particularismo P;º?~,1os da arte n1e dieval, principalmente de fins da Idade Media : Arte em que até as figuras de anjos parecem renunciar ao vôo, contentando-se com gestos mais plausíveis e tímidos (o caminhar, por exemplo, sobre pequenas nuvens, que lhes serviriam de sustentáculo, como se fossem formas corpóreas), e onde 0 milagroso se exprime através de recursos mais convincentes que as auréolas e nimbos, tão familiares a pintores de outras épocas. is Este fenômeno , o das novas experiências serem descritas pelos portugueses com uma frieza e un1 realismo quase inusitados para a mentalidade quinhentista - tão alheia, como Lucien Febvre observou, ao "senso do impossível" - , 19 Sérgio Buarque nomeou de "atenuação plausível". Mas o contraste entre um fundo singelamente crédulo e o realismo é menos forte, avalia o autor, do que se pode supor à primeira vista, pois este realismo é, na verdade, "tributário [da] credulidade [do português], que constitui propriamente uma forma de radical docilidade ou passividade ante o real".20 Esta credulidade que nutre o realismo português, o qual se contenta em descrever o evidente , o imediato e utilizável, é um traço de "um fundo emotivo extremamente rico e que, por isso, mal atinge aquele mínimo de isenção n~cessário para poder objetivar-se nas representações fantásticas "2 1 relacionadas àqueles trópicos do paraíso terreal generalizados entre os europeus dos séculos XV e XVI. Dessa maneira no fundo o fenômeno da "atenuação ' ' plausível" nos remete à plasticidade característica dos portugueses que e ncontramos em Raízes do Brasil, "semeadores" antes que "ladrilhadores". Mas aqui é imprescindível abrir um parêntese e voltar a Raízes do Brasil, tecendo alguns comentários acerca de como 0 português aparece nesse trabalho de 1936, o que nos obrigará ª revisitar algumas interpretações já lançadas anteriormente por mim. Dizendo rapidamente, o português que já encontram~s em Raízes do Brasil não é muito diferente do descrito em Visao do Paraíso - e ressalte-se desde a primeira edição daquela ~ r~ - , pois c~mo pode~os ler em s_eu segundo capí~ulo, ssim foram nossos primeiros colonos: instrumentos passivos, 125 sob retudo , acli mavam-se facilmente, aceita ndo o que lhes sugeria O ambi ente , sem cuidar d e impor-lhe s normas fixas e indel éveis".22 É isso que configura a "extraordinári a plasticidad e social" do po rtu guês, qu e segundo Sé rgio Bu a rqu e, "mais do que ne nhum outro povo da Europa, [... ] cedi a com docilidade ao prestígio comunicativo dos cos tumes, d a lingu age m e das seitas dos indíge nas e negros. Ame ri ca niz ava-se ou africanizava-se , conforme fosse preciso" .23 Esta su a obse rvação nos obriga a perguntar se não estaria presente , d e sde o começo, em Raízes do Brasil, uma dinâmica de an1e ricanização por mim negada inicialmente no presente trabalho. Ainda mais levando-se em co nta que aparece no ensaio de Sérgio Buarque, mesmo qu e não explorados em detalhes, exe n1p los d e adaptação ao nativo em grande parte semelhantes aos que e ncontraremos no livro Caminhos e Fronteiras, pois o autor escreve naquela obra qu e os adventícios , onde lhes faltasse o pão de cada dia, aprendiam a comer e a prezar o pão da terra , e com tal requinte, que - . afirr1:ava Gabriel Soares - a gente de tratamento só consumia fannha de mandioca fresca , feita no di a. Habitu aram-se a dormir em redes, algumas vezes ao ar livre , como os índios. Outros, como Vasco Coutinho, o donatário do Espírito Santo , iam ao ponto de beber e mascar fumo , segundo nos referem os cronistas do tempo . Dos índios tomaram ainda muitos de seus instrumentos de caça e pesca, as leves embarcações que singravam os rios e as águ as do litoral, o modo de cultivar a terra e os sistemas de defesa rudimentar, em volta dos grupos de habitações. 24 Em suma , como veremos com vagar especialmente no primeiro item do Capítulo VI, quase todos esses exemplos encontram-se desenvolvidos em detalhes em Monções e Caminhos e Fronteiras, obras nas qu ais, queremos crer, esses casos funcionam como um fator de dinamização do legado europeu em direção à americanização_ quase que nos dois sentidos em que temos utilizado este termo. Mas, voltando à pergunta, essa dinamização já não acontece em Raízes do Brasil? Acredito que podemos começar a vislumbrar uma respoS ta na leitura da abertura do mesmo parágrafo citado acima, pois antes de se referir aos casos de adaptação dos portugueses 126 r costumes , recursos e métodos indígena s Sérgio Buarque ' . - f . . que . demonst rar que aqueles que nao azian1 mais va . . avisa homens, "procura ndo recriar aqui o ineio d e sua orige m , fize ram-no coin un1a destre za qu e ainda n ã o e n c ontrou 25 segundo exemplo na história ". Ou seja, toda a plasticidade do português , neste _rn~n1ent o, não aponta para utn mundo novo , mas para a recnaça o do Velho Mundo. Ne sse se ntido é qu e a pl asticidad e não se contradi z com a idé ia aprese ntada no primeiro capítulo de Raíz es do Brasil segundo a qual "podemo s dizer que de lá [de Portugal ] nos veio a forma atual de nossa cultura", pois , con1plet ava Sérgio Buarque , "o resto foi matéria plástica" - e acredito que esse "resto" compree nde todos aqueles casos de adaptaçã o ao índio que citamos há pouco -, "que 26 se sujeitou n1al ou bem a essa forma" . Com isso sou levado a continua r afirman do que, de fato, os casos de america nizaçã o quase não têm efeito sobre o legado transatlâ ntico e, conseqüe ntement e, a concepç ão de que "somos ainda uns desterrados em nossa terra " é um dos argumen tos-chav e de Raízes do Brasil, mesmo que a lgumas passagen s pareçam , à primeira vista, contradi zê-lo . Em outras palavras , conform e salientei no segundo item do Capítulo I, um pilar de Raízes do Brasil é constitu ído através de uma explicaç ão genética que resulta em nosso tradicio nalismo , o qual, quase congelado, só será transfor mado no século XIX com o processo de american ização. Assim , somente em Monções e Caminh os e Fronteiras a adaptação ao nativo torna-se produtiv a e passível de apontar para novas direções à nossa "forma" cultural. Para reforçar esse argumen to , convém chamar a atenção para que, se, já em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque aponta para esses casos · de adaptaçã o, ele ainda não está pensand o numa sociedad e fundada de modo especial e intensam ente nesse processo , ou seja , uma sociedad e de fronteira , tal como fará nos livros seguintes. Perceba- se, por sinal, que os casos citados pelo autor agregam tanto exemplo s relativos especific amente aos rnamelucos de serra acima como o uso das redes e das embar' ~ações indígena s - as quais, conform e exponho no segu nd0 '.tem do Capítulo VI, foram utilizada s pelos monçoei ros que iam em direção ao extremo ocidente do Brasil - , quanto um · que f oi· con:um exe mp 1O de adequaç ão a um produto nativo ªPenas no litoral e no nordeste - o uso da farinha de ma nd10 ca aos 127 Jl f'~ -- - ·----.. . __ . ta coin o vere mos no terc eiro\ tem d \ que no Plan alto pau 11s , 'lh o . Cap,ítulo VI, foi subs tituí da pela de tn1 o. . Em sum a, reafi rman do a difer ença entr~ os d~1s mo° :ento s da obra de Sérgio Buarque desd e outr o pont o de vista, creio que ·zer que en1 an1bos está pres ente a perc epçã o do se po d e dl . ona l'd i a d e de adeport ugue"s con10 o port ador de uma raci , . ~ es do Bras quaç ao il ela não ao 1nu1i,..,do - • , 111 as enqu anto em Raiz ., . é capa z de n1odificar o exte rior e o prop no self, n1esmo que gradualn1ente, através de refor mas_, na obra sobr e a c?~~ uista do Oeste Sérgio Buar que pare ce v1slu ~brar_ esta poss1b1lidade e, ao seu lado , certo can1inho de apro x1m açao de um proc esso de de1nocra tizaç ão e igua lizaç ão. Con vém conc luir a disc ussã o dess e pon to sobr e o legad o port uguês fech ando o parê ntes e em torn o de Raíz es do Brasi l: desd e a sua pritn eira vers ão já apar ecia um port uguê s que, graças à sua extra ordin ária plas ticid ade, é, diga mos , basta nte adeq uado à dinâ mica da fronteira; no enta nto, esta lógica não estava presente no livro. Já nos que abor dam a conq uista do Oeste , as n1esn1as cara cterí stica s do port uguê s vão se enco ntra r com a lógica da fron teira e, aí, duas obse rvaç ões são necessári as. Em prim eiro luga r, seu maio r grau de plas ticid ade em relaç ão ao angl o-sa xão cond uzir á a uma fron teira mais fluid a do que no caso nort e-am eric ano. Mas , com o já disse mos ante riorm ente ao analisar a com para ção que o próp rio Sérgi o Buarque de Hola nda realiza entr e a fron teira nos dois paíse s, esse fato não rom pe com a lógic a da fron teira - de certa form a a radic aliza , espe cialm ente seu prim eiro mom ento , 0 da adap taçã o. Con seqü ente men te, gost aria de ressaltar, a plas ticid ade do lega do port uguê s e suas dife renç as com 0 angl o-sa xão não impl icam que ele deix e de ser acio nado pela dinâ mica da fronteira. Este pont o é cruc ial para todo o argu~t q~e venh o dese nvol vend o e, para reto mar meu s termos iniciais, impo rta dize r que a fron teira ame rica niza - no sentido cont inen tal - o lega do ibéri co, poss ibili tand o que st e e apon te em d' • .1zaç · ireça- o a, ame ncan ão relat iva à democracia, de uma · man eira no enta nto part icula r o que nos remete ª, segu nda obse rvaç ão. ' Com análises um p . ., . lorar .f ouco mais exte nsas e., nece ssan o e:x:p as d i eren ças entr e 1 d ' . que angl o-sa xão e ibe., nco apar ecem sob nov 1os ega os . ~ . nte ª uz em Visao do Paraíso, espec1al me Q quando este livro é ~o nfro~ tado _com os ele outro s autor es que tl·a balha. n1 com. a 1nan1 . ,festaç ao .d,, e temas si'mi' la res nos Esta dos Unido s, pot n1 e10,, d aque le v1es propo rcion ado pelos tópicos em torno do para1 so te rreal. Neste ponto , cabe con1e ça r cham ando a atenç ão para fato O de que um deste s autor es, Geor ge Willia ms, chega a suge rir a substi tuição da tese da front eira pe lo estud o de motivos edênicos , que teria confi gurad o a co ncepç ão de wilde rness entre os coloni za dores norte -a1ne rican os. Nesse ca minh o 0 autor está na realid ade dialo gand o com a obra de Turne~ e ao mesm o ten1po n1ati za ndo e d e talha ndo sua tese. Para 0 Professor de Histó ria Ecles iástic a da Unive rsidad e de Harva rd "o wilde rness niotif, pode ria ser dito, exced e em impo rtânc ia a fronteira como uma categ oria na interp retaç ão não apena s da história amer icana mas da histó ria da Igreja em geral ". Creio que se ja possí vel trans por a argum entaç ão elo autor em prol de sua afirm ação dizen do que, ao mesm o temp o que recon hece a impo rtânc ia e a força trans form adora da vida na fronteira, consi dera neces sário que se escla reça qual a conce pção que o home m envo lvido neste proce sso possu i desta natur eza tão avass alado ra que se apres enta do outro lado. Assim, enqu anto a tese da front eira pode consi stir numa expli caçã o de cunh o pred omin antem ente ambi ental , o wilderness moti f "pod e ser um estad o d a ment e tanto quan to um estad o da natur eza". 27 Sem entra r propr iame nte no mérit o da quest ão se a tese de Willia ms é uma espéc ie de subst ituta d aquel a de Turne r, con10 ele chega a su gerir , va le subli nhar que suas obser vaçõe s alerta m para a impo rtânc ia de se verifi car, por mais avass aladora que seja a natur eza na fronte ira, a visão que dela possu en1 os atores. É como se nos lemb rasse que uma expli cação situacional , como a hipót ese d e Turn er, dinam iza, n1as não substitui o legad o transa tlânti co, para o que, aliás, tenho apon tado e que procu rei opera ciona lizar ao ressa ltar que no Brasil temo s urna "outr a front eira ". Ness e se ntido mesm o é possí vel ler Visão do Paraíso como um texto passí vel de ser comp reend ido, na obra de Sérgi o Buar que, dentr o do mesm o proje to que envolve Monç ões e Cam inhos e Fronteiras, como se ª tes~ ~e 1958 comp leme ntass e os livros anter iores abord ando ª tradiç ao transatlântica que foi dinam izada pela fronteira. Vale, porta nto, aborda r esse 1·tvro sob este pont d · ta. o e vis 129 .... . f ômen o da "atenu ação plausí vel" A despe ito daque 1e e11 " . ,. . d lastici dade do portu gues - , não e reforça a 1de1a e P " _ se qu . do Sérgio Buarq ue, que a se d uçao do tern ode dizer segun P . ,, ' . .do menor para os portu guese s, durant a arad1s iaco tivesse si ,. . e P a Idade Me"d'ia e a ei·a dos desco britne ntos mant1 mos, do qu e vos cristão s de toda a Europ a ou mesrn 0 fora para outros PO . o . d muçul manos ". 2a A n1ane1ra pela qual se deu para JU eus e . ~ ,. - poi· assim dizer a v1sao d o para1s o predorni· esta se d uçao, ' nante entre oS Portug ueses _ n1esn10 que ela se fosse desvanecendo à medida que a conquista da terra avanç ava-, parece ser uma indicação preciosa da marca que acom panha o processo de dinamização da fronteira e sua direção. Neste sentid o, Visão do Paraíso pode ser lido como fazend o parte do mesm o conjunto dos textos que aborda m a conqu ista do Oeste brasileiro, oferecendo - uma vez que não se perca de vista o camin ho explicativo sugerido pela lógica da fronteira - uma chave de leitura em torno do legado especí fico que está comp ondo o processo e, na mesma medid a, sua espec ificida de. Em suma, é como se a forma como o paraís o e as novas terras eram concebidas pelos colonizadores fosse uma espéc ie de ponto zero da tese de Turner - o que, na verda de, só vern reforç ar que uma explicação situacional dificil mente pode se concr etizar sem laços com enfoques mais relacio nados com uma explic ação genética. As descri ções das novas terras feitas por viajan tes e religiosos espan hóis e portug ueses eram marca das por motivos edênic os e de terras marav ilhosa s onde se mistur avam as ' funcio navam tradições cristã e pagã. Esses motiv os como uma espéci e de lente para enxer gar as novas terras e, ainda que pudessem ser revistas ou atenua das com as novas experiências, não ~eixar am de ter grand e longe vidad e. Sérgio Buarque mapeia um ,. · d . ª sene esses tópico s que se espalh am pelos textos, se1a nos que vis avam · ana s . a penas descr ever as terras americ se1a . nos . que pro curava m d emon strar que nelas se encon tra va o Jardim b"'bl' d O t,. . ~ ico qual Adão e Eva havia m sido expul sos ..O o pico mais const . ante nestas descr ições e apolo gias con s•·sua no e lima equili b d " .. trabalh d ra o, nem frio ne1m quent e", que des d e os ciad os e ,.Santo Isidor o de Sevilh a (560-636) estava assoo ao paraisa bíbl · 29 • da perman"' . ico. Assim, podem os tomar como exe rnplos enc1a dess ,. . .arn terras brasi'l . ª topica nos textos que descre vi b ara e1ras um 1 o censurado em se . reato publi cado em 1663 - e rn elos guida - no qual o Padre Simão de Vasconc 1 130 . de acordo con1 a tradição escrita , a possibilidade da , t . a1oca1Izaça . _0 do para1so em erras americanas. A certa altura escrevia: naI1sa, S. Boaventura [. ..] afirma claramente que si tuou Deus O Paraíso 1·unto à Equinocial: Quia secus Equinoctia est ibi magna temperies ,emporaris: porque junto à Eq uin ocial há grande temperança dos tempos. [.. .] Podemos acrescentar, que aq uele lugar na Equinocial é temperado, de copias de águas, e freqüente de ventos que purificam os ares porque tem a experiência mostrado ue as regiões que estão debaixo d a Zona tórrida, tidas dos qntigos por inabitáveis, são temperadas e se habitam com grande ª comodidade dos homens. 30 Dessa maneira, ancorado às tradições religiosa e pagã da Idade Média em associação com os relatos sobre os novos mundos, Vasconcelos argun1enta em defesa da idéia de que 0 pa raíso bíblico se localizaria em terras brasileiras. Nelas se acharia um lugar ameno qu e teria ficado imune às maldições advindas do primeiro pecado e onde, por conseguinte, não existiriam a dor, o envelhe cimento e a morte, e novamente o homem não necessitaria derra1nar o suor do seu rosto para obter o pão. Sendo assim, é de se notar que até mesmo o paraíso almejado pelos colonizadores da América portuguesa acabava por se assemelhar à "terra sem mal" que os etnógrafos como Metraux e Curt Nimuendajú detectaram em alguns grupos indígenas brasileiros. As características mais constantes desta terra, o paraíso indígena, são, escreve Sérgio Buarque, ª imortali dade, a ausência de dor e fadiga, o eterno ócio, pois que ali as enxadas saem a cavar sozinhas e os panicuns vão à roça buscar mantimento, segundo presunção já recolhida por Manue l da Nóbrega e Fernão Ca rdim, a abastança extraordinária de bens terrenos, principalmente de opíparos e deliciosos manjares [. .. l.31 . dosPara p os co 1on1zadores, diante dessa imagem do paraíso o Êdeovos nativ · os, "'impunh a-se naturalme nte o con f orto com árvoren das Escrituras onde, num horto de delícias cheio de - sós .apraz'iveis · e boas para comida, o homem se achana • nao · · d a de qualqu isento d a d or e da morte mas desobrigado a1n 32 er esfo rço f'1s1co . ' o pão', . para ganhar 131 A vi sã o do pa t.a1,, s0 pr ed o m in an te e nt re os co lo ni za i . .. ' ie das terra's brastle co n f un d ir 11 as, ql ch eg av. a a se S,, co m a e"ores . B sem rnal " guara ni, un1a ve z ter ra de sc rit a po_r . e rg io _ua rq ue ga ,, nh ou uffia sin te se p1.·111101.o sa de G eo rg e W ill ia m s. D ia nt e da le it . . . Ura do liv ro d e S,e1, .g1.0 Bu ar qu e , o es tu d io so n or te -a m e ric an . . ' do qu e nas pa rte s do sul do o 0 co nc entl ou d1z en Co nt in e nt e pr ed on1.mou a "v1. sa- o de u n1 pa ra íso te rres tre m e ra m en te à es pe . d e se r ga n1 l 0 ,, .·-,,3 Este é O po nt o q ue pr ec isa se r d es tacad o ra • Po r ou tro lad o , no se u es tu do p ub li ca do po uc os an os após Visão do Para íso, 0 111 es1no au to r ex plor ou os n1ot iv os ed ênicos qu e orquestraran1 a co lo ni za çã o an g~o- sa xã.' Ne sta: um a visão quase qu e antagônica àq ue la pr ed om in a, po is se ex ist e também un1a bu sc a do pa ra íso ele nã o se e nc on tra p ro nt o na s terras do Novo Mundo. Ao co ntrá rio, a se lv a e d e se rto cons titui-se nun1 lugar de refú gio prep ar ad o para a ve rd ad eira Igre ja perse guida pe lo mu ndo desd e os te m po s de M oi sé s. Es ta ter ra pode vir a to rnar -se o Ja rdin1 do Se nh or at ra vé s da su bj ug aç ão moral e es piritual n1a is do qu e pe la m er a co nq ui st a física. 34 Assim a selva e de se rto ga nh a ta nt o u m se nt id o po si tiv o de lugar de proteção e de mi ssã o do s cri stã os, co m o um ne ga tiv o, de terra devasta da e se m re de nção , e, en1 to do ca so , si gn ifi ca o local on de de ve rá se r co ns tru íd o o Éd en - a in da qu e poss a ser provisório - , m as qu as e nu nc a é on de e le es tá à espera de se r ga nh o. 35 Creio qu e um ex en1p lo escl arec e do r po de se r ex tra ído se obse rvarmos como um a da s tó pi ca s m ais co ns ta nt es do paraíso terreal de te ct ad a po r Sé rg io Bu ar qu e - o cl im a an 1e no po de tra ns m ut ar nas pr eg aç õe s do s pi on e iro s em m etá for a ~:daç~o transfo:madora do cri stã o, de ixa nd o d e se r un 1a qu alie 1~ere ~te as no va s te rras. Já no d a Uni ve rsidade sé cu lo XIX o fu nd ador de y l ::, T' . _ ª · a m1ssao das inst'1t · - e,d 1m ot hy Dw ig ht di sc or' re nd o so b ie uiçoes e en sin o em 18 12' , pr eg av a di ze nclo: :e A O Evan ge lho é a eh m d a e O bn.lh o d o so l d o u n o mo ral . On de uv p a raíso so bi.e o se u . w· ld 5 0 1 e rn e ss d es ab r h ra ios se d e rr a m a m e su as go tas ca en1 ' )·a r ct 1·m d o oc ª co m o a ro sa e o d es e rto co mo o en q , Egito on deSenhor· h · O ua n to mu nd o ao lad o é um de . do , a fo t . se ito on de a vid ane n um . n e Jor ra, e ne nh um a ve ge taç ão ílo resc e' e me sm o en fr , aq ue ce , en la n g ue sc e e ex . 36 pir a. parti.r d es se po nt d . a sin gu la rid ad e q e vi sta é po ss ív el qu alifica r rn li1 or ue a 1óg i e . ca e1,.a fro nt e ira . va i as su m ir ern eac1ti 132 ° , tes d e tudo é preciso le mbrar que d esc1e Raizes d , l . • aso, A11 o . e, . Sérgio Bua1 que a et tava que os povo s conq uistador • . Bras1 1 es érica devenan1 possuir, e n1 menor ou maior 1 ê qu um grau, ~ JJ 37 . da An . ventureiro. . ortanto, nao se pode assocjar ª conquista ~ , ,. • de a 1 . _ en lho traba do etJCa a o-saxa ang érica 1 1 opos1çao à • da J\ 11 . , ·i·ca portuguesa. Antes , con1 a aJuda da discuss~ ao antenor, • ( • • At11e 1 de (]!:!e tipo de aventureirof stam os f a 1ando e-se qua lificar, _ "-- ~- --· dev •r nUl11 e no utro caso. ao aventure iro de Simme l , qu e age D e forma semelhante . . como se as obscuridades do destino fossem transparentes 38 bomem, da fronteira possui a audácia de caminhar em direç~o 0 à névoa , mas, enqu a nto no caso norte-an1erica no predominou a concepção segundo a qual o desconhecido a ser conquistado deveria ser transformado , e ntre os portugueses O que estava além da fronteira poderia vir a ser desfrutado. Isto .deixa rá marcas nos resultados da dinâmica da fronteira brasileira de maneira que, se graças a ela se poderá falar num tradicionalismo menos congelado do que a parece en1 Raízes do Brasil e não tão incongruente com a racionalidade capitalista burguesa - como exploraremos com mais vag a r no Capítulo VII - , não significa que Sérgio Buarque passe agora a conceber a experiência brasileira con10 semelhante à norte-ame ricana - como se ao tentar superar o "abismo insondável entre os Estados Unidos e nossa América ", conforme suas palavras no artigo de 1941, tivesse acabado por identificar Caliba n a Ariel. FRONTEIRA MAL CONTROLA DA Prosseguindo, uma segunda questão a ser estudada é o problema da fronteira controlada. Uma boa entrada p ara o assunto e,. o tra tamento que em contexto bastante d'1verso daquele em qu e Sérgio Bu ar~ue escreveu a maiori a dos seus t textos sobre as bandeiras - a d éca d a de 1970, em contraS e o tem a recebeu no trabalho d e com as de 1940 e 1950 ' · Velho, Capitalismo Autoritário Otá vio e Campesinato. Recor" . . so b re rendo ª T urner e ao caso norte-americ ano p a ra re fl ew .. . as co ct· ~ d - n içoes de existência de uma front e ira livre e, ª partir va1l, construir um modelo analítjco generalizável, o autor desen·1 · nos 0 ve u qu • ma comparaçã o entre os casos russo e brasi eiro , em que a • ,. · ais o ca · . pita 1ismo e struturalment e autontano esf se vincula l" · era eco "' . nom1ca é subordinada à da po itica ,1 33 -~ a,I I º .,,. I ~ J nteira pelo Estado. Embora dedique-se 0 'ª ,, · d ao contro 1e d a fro .1 principalmente à analise e casos de nos so . . . ,, . ,, tratar d o Bras1 , Ota'v• Ricardo Cassiano autontano "Turner ,, 10 ' secu 1o e ao noss 0 Velho procura o traço que pern1anece no decorrer da história do país. Para ele, fato principal [. .. ) para o país como um todo, é que embora houvesse casos em que a repressão da força d e trabalho não fosse evidente , era estruturalmente o traço dominante. Para os indivíduos, em termos gerais, o preço de não estar ligado a ela era a marginalidade. Certas áreas para além da fronteira econômica efetiva tornaram-se, a não ser por fugazes momentos de expansão bandeirante que gradativamente desapareceram, um locus para esses marginais, e em o sendo constituíam um aspecto paradoxal mas complementar (tal como na Rússia) do sistema de repressão da força de trabalho. Deve-se notar - consistentemente com a hipótese de Domar - que nos tempos coloniais expedições não autorizadas ao interior eram proibidas e era explicitamente afirmado que isso era necessário a fim de evitar o perigo de desorganizar a agricultura e ~ comércio com a dispersão da mão-de-obra já escassa. 39 (Enfases no original) 0 Pensando nos textos de Sérgio Buarque e indo direto ao ponto , acredito que seja possível dizer que eles se coadunam com essas observações. No texto intitulado "Piratininga", de 1954, o historiador aborda exatamente o problema que a escassez de mão-de-obra representava para a Coroa portuguesa ao dificultar o controle da Colônia, afirmando que, as precisamente no Brasil, • , · [qu e manda queado . aquele prmc1p10 regiões de terra adentro não se povoem antes d e assegur Ias o povoamento a defesa e a posse da mann pe ha · h a ], d'tado 1 - d'is pun ' . ,c,·a de sua metrópole européia, que nao condições especiais de gente numerosa e nem, por isso mesmo, de po d eros·a dm111apa·' para ensaiar em seu longo império uma empresa de 11; 0 ~ s de ratoso, comparável à que se vinha realizando n as Io<lt a ·as é manifesto já nas canas de doa çã o das capt·ra n1 tas Castela, , ' d . . em tan . ·veis, que aos donatários será lícito engtr on e se estipula vilas quantas queiram junto ao mar ou aos rios navega se , .déi• que pe 1a terra ade ntro as não poderão f a zer, sa lvo porem e outra corra espaço mínimo de seis légu as . A 1 - es entre uma 1 era, caramente, conterem-se os povoadores nas ,m • ed1açoois dos portos de embarque e pontos vulneráveis da coSra, p 134 ..........-não seriam os colon os em taman ho núme ro que pudes sem ser e ncami nhado s ao sertão sem se despo voare m aquele s sítios . Em result ado de uma tal provid ência, o Brasil quinh enti sta não abriria exceç ão à regra então domin ante no mund o portug uês, que um h istoria dor dos nosso s dias defini u suges tivam ente di zendo que consta va de 'uma linha de fortale zas e feitori as 40 de dez mil milha s de comp rido' (Tawn ey). Em p o ucas palav ras , tamb ém para Sérgi o Buar que o contr ole da fronte ira foi a soluç ão enco ntrad a pelo gove rno portu guês para tirar melh or prove ito da escas sa mão- de-ob ra na manu tençã o da colôn ia. Em "A Instituição do Gove rno Geral ", texto publi cado em 1960 comp ondo o prime iro volum e da HGCB ( Histó ria Gera l da Civili zaçã o Bras ileira ), o autor reforça que essa saída se deve, de fato, a uma neces sidad e qu e as circu nstân cias criav am e não a um desej o inarre dável da Coroa , pois, tais medid as, que ao tempo de Tomé de Sousa e ainda antes, embor a com meno s ênfase , queria m limita r o povoa mento , tanto quanto possív el, à faixa costei ra , não devem ser interp retada s como uma espéc ie de veto, defini tivo ou provis ório, às entrad as pelas terras dentro . De outra forma , como concil iá-las com o empe nho , tão freqü entem ente manif estado pelo prime iro gover nador -geral e por certos conte mporâ neos seus, de ver conve rtido o Brasil num outro Peru? O que efetiv ament e denu nciam interd itos dessa nature za é, em geral, a vonta de firme da Coroa de te r sempr e mão, direta mente ou por interm édio de seus agente s, em quem entend esse de ir a d escob rir segred os e riquez as da terra visand o apena s ao seu inte resse pesso al, sem que deles resulta sse prove ito maior para a Real Fazen da:u Numa expre ssão, o que apare ce no texto de Sérgi o Buarq ue é o tema da fronte ira contr olada . Ou, seria melh or dizer, referindo-se ao sécul o XVI, a front eira é totalm ente reprim ida, não tanto , como Sérgi o Buar que escre veu, por não ser desejada, mas pela consc iênci a da absol uta falta de cond ições de mante r seu avan ço sob o contr ole de um gove rno centr alizado, repre senta nte da Coro a portu guesa . Tudo isso vem ao encon tro das obser vaçõ es de Otáv io Velho . Assim, numa situaç ão de repre ssão à entra da para o interi or, · · - E e,, JUSta • ocorr er como exceç ao. esta só p o d ena mente isto 135 ~ que parece ter fascinado Sérgio Buarque. Já no seu textO 1954, logo após ter chama d o a atençao para o controle de cido pelo governo, o autor escreve: exer. Mas a exceção existe. Existe, paradoxaln:1.ente . . , no ponto exato 0 a barreira das montanhas, que no Brasil acompanham ncte costeira, parece oferecer maior estorvo ao acesso e ª Orla . / . A' d . h d o terntono. m a mais: o empen o e triunfar penetraç' 5 Ob ao d natural obstáculo e de se instalar serra acima parece re esse os colonizadores logo depois de familia rizados cont~rs~guir vicentino." litoral No século XVII, a "exceção" passa a transforn1ar-s e num fluxo continuado de colonos demandando o sertão, mesmo que apesar do governo central, constit~ind~ assim º. movimento qu e ficou conhecido como bandeirantism o . Assim, para ser mais exato, com base nos textos de Sérgio Buarque que ficaram ausentes de Caminhos e Fronteiras e de Mo nções, deve-se considerar as comunicações entre castelhanos e paulistas através, especialtnente, do caminho que ligava São Vicente a Assunção na primeira metade do século XVI, como "u ma pré-história das bandeiras paulistas" .43 Sérgio Buarque dedicou uma série de textos sobre essa pré-história das bandeiras, relatando, basicamente , suas deduções a partir dos documentos sobre os primeiros viajantes e expedições. 44 Com um tom que beira, algumas vezes, o trabalho de um detetive, o autor tenta desvendar os nomes, as datas, o tempo levado em cada uma das expedições. Quando o .caminho entre São Vicente e Assunção, que fora interrompido en1 1554 por ordem do Governador-G eral Tomé de Sousa, foi reaberto no início do século XVII finalmente deu-se 0 início do movimento das bandeiras p,,ois como escreveu 0 ' ' , "[...] já agora não ~ut~r nu~ desses textos sobre a "pré-história" a~ia °;eios humanos que detivessen1, como tinham detido meto seculo ante·s • . ' um movimento in1posto pelas neces sidades mais imperi osas e ru d' ~ 1mentares de uma populaçao q ue 1utava contra a solidão e a penúria". 4s As bandeiras s · · · nã 0 d f e iniciam quando a fronteira mesmo q ue e orma avassal d f ; no século XVI t· , ª ora, oge ao controle. E como se d 1vessemos u f . seguinte u ma ronteira controlada e a par t'1r do ma mal contrO l d ten e control ou seja que se pre ar, mas sem eficiência. ' ª ª- 136 b Em suma, de uina forma bastante simplificada a sem e . , Ca usas é possivel dizer que enquanto na A , . ordar menca espa. ,. . ' as Ola 1 .l Pouco houve un1a expenencia de fro ntei·i·a no sentico . n1 curneriano - , devido ein boa p arte a form ações de cidad es b. e . adentrando o ?~tinente e a nga_ndo o núcleo de poder e controle, na Amenca portuguesa e inglesa foi possível ocorrer aquela experiê~cia._No_últin1~ caso, tendo havido um controle efeti vo nos dois pnn1e1ros seculos de colonização _ ou seja, 0 Àryn e o XVIII - , no seguinte, já livre do jugo britânico, pôde ocorrer a experiência n1ais acabada de fronteira aberta _ 0 que não quer dizer ausência de participação estatal, mas 46 incentivo. No caso brasileiro, há a colonização do litoral e o controle das entradas , mas, por uma deficiência deste controle, pôde ocorrer uma experiência de fronteira desde o segundo século de colonização, o XVII, ainda que apesar do governo de pessoas. 47 . d'1m1nuto , ce ntral e n1esmo com um numero QUANDO AS ARMAS NEGAiv1 FOGO Este argumento da fronteira mal controlada, que nos leva dirigir o foco aos primeiros séculos de colonização, traz à tona a última questão qu e ficamos de desenvolver: a da div.ersidade da época da conqui sta do Oeste no Brasil e nos Estados Unidos com suas conseqüentes diferenças tecnológicas. 48 Quando falava, no terceiro item do Capítulo III, de como os autores engajados no estudo da história das Américas buscaram o que há de comum entre elas, comentei a postura de Víctor Belaúnde e de Sílvio Zavala diante da aplicação da tese de Turner fora dos Estados Unidos. Disse, então, que se poderia inferir das razões indicadas pelos autores quanto à impossibilidade daquela aplicação a idéia segundo a qual O momento da conquista do Oeste norte-americano - século XIX .- e seu ritmo intenso - 1820 a 1890 - não pode~ ser desvmcule envolve tecno. . 1ad os de seu resultado 1nclus1ve porque e , · ocorresse antes. d ' . lagias . mais avançadas do que se o ominio ,, cas e tecnologias T d 0 as essas diferenças que envo 1vem epo _ ,, 1 uma comparaçao - ,, ' d' , . 'd tversas, poderiam sugerir que nao e passive "l recoce e t1m1 a, e ,, b entre a experiência da fronteira no Brasii ' P . Esta postura e em d a • , . Ro d ngues madura e avassa 1a ora., Honono r norte-americana ' a qu al . epresentada por certa argumentação de Jose n Rtco, Porto m 56 em uma conferência proferida em 19 e 0 historiador afirma: · 137 ~ Enquanto em 1776 os colonos anglo-saxões não se ti h belecido numa superfície da América do Norte ma 1or · n do arn esta França, os portugueses desbravaram o Brasil cedo dern _que a Foi a dispersão precoce do povoamento do Brasil no ais s, l.. .]. XVII (nos Estados Unidos começou em 1830 com as esteculo de ferro) que fez predominar a cultura básica brasil . ractas . l d' . . . d h eira co traços part1cu ares e tra 1c10na1s, arn a oje existent es ' rn ap das variações provocadas pelas mudanças técnicas' esar ur banas.19 Acredito que seja possível uma respost~ di~ersa, e esta aparece na obra de Sérgio Buarque, que nao ficou alheio a essas diferenças, chegando a estabelecer comparações entre os casos brasileiro e norte-america no em diferentes momentos de seu trabalho. De fato, quando se quer estudar a expansão dos europeus em terras americanas, o tempo em que ela ocorre e suas condições tecnológicas constituem-se em variáveis significativas e, quanto a essas últimas, um olhar para as arn1as européias utilizadas pelos colonos nos dois casos - brasileiro e norte-america no - pode ser esclarecedor. Conforme observa Sérgio Buarque, "[. ..] a simples posse de armas européias não conferia aos primeiros povoadores brancos, nas suas guerras e caçadas, tão manifesta vantagem sobre os naturais da terra quanto o sugerem certas observações superficiais" .50 Em certos aspectos, as armas nativas mostravam vantagens em relação às adventícias, especialment e se considerarmo s a u~idade das florestas do ~l~.!1ª~!º paulista e a conseqüente dificul<Jade de ma_mefa pólvora' seca[ou a mecha daquelas arr:nas_ anteriores a fins do século XVII, quando aparecem 0 pnm~ir?s arcabuzes de roldete - que dispensavam a mecha s~bs~ituida pela roda metálica que produz faísca. Como resume Sergio Buarque, "as frechas dos índios não tinham muitas vezes menor alcance do que um bom arcabuz ou uma escopeta. As alterações atmosféricas, as chuvas, a umidade, não chegavarn a causar-lhes estorv s d' ,, º· eu 1sparo não produz ruido, ou fogo ' ou fumaça, com que se denuncie o atirador" .s1 Um exemplo de e f ,, s no . on ronto entre europeus e ind1gena Brasll parece suf · ictente para ilustrar as dificuldades: / .,,,,.-· ( 138 ) ~ 1 / ·---- listas Os Guaicurú, que tanto trabalho deram às expe d iço . - es pau ,n (l áb ·1 1 nos caminhos fluviais para O Cuiabá, inventaram u ..... estratagem a para destr uir os comb oios com . . Assim enqu anto uns desp ediam ança. suas flechasmaior segur . ' . e out1o botes de azaga1a, os que rema vam tinha m a ast, ., ds davam . água sobre os fecho s das arma s, com que se esuc1.a e atirar O . . vam aos efeito s dos tiros e fazia m a abord agem sem maioqu1va r embaraço.si A rigor, som ente no sécu lo XIX com as pistolas com cilindro rotativo de seis cân1 aras, todo s esse s prob lema s em torno do uso das prim eiras arn1as de fogo - que fazia com que elas, se ossuíssem algu n1as vant agen s, tives sem nítidas desv antag ens ~iant e do arco e flech a , com o, aind a, o temp o levado entre ato de carre gá-la e o tiro - foram defin itiva men te supe rado 0 s. Aí sim, com o six-shooter, o instr ume nto civilizado demonstro u _ conf orme escr eveu Sérg io Bua rque em Extremo Oeste incon testá vel supe riori dade dian te das arma s nativas, e é deste momento a expa nsão nort e-am erica na para Oeste: O resul tado é que os pione iros obtêm, assim, um instru mento que os capa cita para triun far, ao cabo, sobre grupo s indíg enas armad os de suas rústicas armas, rústicas como as mesmas planíc ies onde vagu eavam e, por isso, natur alme nte feitas para defen dê-las dos intrusos. Foi a lição dos const antes reveses padecidos naque le mund o hostil o que os levou a apare lhar-se para poder subju gá-lo. É a parti r desse mom ento que vai princ ipiar a rápid a conquista do Oeste. 53 (Ênfa ses acres centa das) Assim , a mesm a evolução tecno lógic a do século XIX contribui para o ritm o da conq uista d o O este nos Esta dos Unidos, além do fato de que arma s de fogo mais dese nvol vida s - sem conta r as cons eqüê ncia s trági cas para os indíg enas , não difíceis de imaginar - poss ibili tam um dom ínio que man tém um gran de diS tanci ame nto dos colo nos em relaç ão aos povo s subjugado s e, cons eqüe ntem ente , um baix o índic e de adap taçã o aos mesmos - ao men os se com para do com os band eiran tes. Os band eiran tes e mon çoei ros não pude ram cont ar com armas de fogo que efeti va e inco ntest avel men te significas sem uma supe riori dade bélic a dian te dos nativ os. Assim, para ª conquista do noss o Oes te escr eve Sérgio Buar que::); , l. .. ] come ça d a mais de duze ntos anos antes , se ac h anam os · senan ·ISlas de São Pa ulo ai nda mais desam parad os d o que esses pio ne1ro . s d as selva s e prado s do Hem1.s f,eno . Norte, se a 0?v ~ comunicação ancestral e também a larga míscigena _ índios da te1·ra não os preparassem singularmentep ara Çao t coni os 11 empresa.54 ( Ênfases acrescentadas) ªnia ha Se, por um lado , a diferença da é:,~ca em que s_e processa . a expansão ang lo-an1e 11 ca na no Conttnente . , . . . faz co m qu e seia ranscenda os lin11tes naturais, no espaç t "um assun to que ,, . oe téria" do estudo de .Se rg10 Buarque ' poi·s "a no te mpo , da 111a . data da patente de Colt - 1835 - c_o1nc1de com a das nossas últimas e já muito diminuídas 1nonçoes de povoado", pode-se lembrar que , desde o ponto de vista do núcleo da tese de Turner, esta diferença não leva a um profundo distanciamento entre as duas experi ê ncias . Da mesma maneira que a plasticidade do português - ao contrário de se contradizer com aquela tese - é um reforço do caráter adaptativo do primeiro momento da lógica da fronteira, este desencontro no tempo aponta para o mesmo reforço . Desse modo, postas as desvantagens das armas de fogo dos séculos XVI e XVII, "[. .. ] entre portugueses e mamalucos, sobretudo nas terras vicentinas, o arco e a frecha entraram bem cedo no arsenal dos conquistadores, substituindo em alguns casos as próprias armas de procedência européia"_s; As entradas e bandeiras, que começam de forma tão miúda no Quinhentos, são levadas a sério nos textos de Sérgio Buarque não porque acabam por desembocar na conquista de um imenso território para o Brasil - ato considerado heróico por muitos autores - , mas porque desde o início já representam uma experiência de extrema adaptação ao nativo e começam ª c?nstituir uma experiência nova no Brasil que, do ponto de viSra de um enfoque que procure a dinâmica transformativa da co Iomzaçao, · ~ pode ganhar, por assin1 dizer, produtivida d e. Em suma, as três problemáticas 1·á abordadas e o modo pelo qu 1 S,, · . ª ergi o Bu arqu e as enfrentou confluen1 para a parti-· cul andade da fronteira no Brasil. Para concluir, é possível nos remeter às pr' · , . · te. imeiras p aginas de Monções - que, e,, tn ressa nte lembrar f 01· d'1 . rso ' re g1do para participar de un1 concu nos Estados Unid ,, gio B os poucos anos após o retorno de 5er uarque ao Brasil e f 01· b . 1945 _ , . pu Itcado logo em seguida , em nas quai s o hi stor· d ciedad ia or aborda a especificidade d a 50 e que nasce a p · d ufll argument artir O Planalto paulista com base n_ . o que e nvolv:, l ' . f ce1ra, e ª og1ca transformadora da ron 140 . - impor paulista , se vao com que , no Mas a len tidão . _ Planalto , . .: costu mes, tecnrcas.. ~ou .tradrçoe s vindos da metróp o 1e [ ... l te1<L . l'b nse qu e nc1 as. Desen vo lv e ndo-se corn mais I e rProfundas co dade e aba nd o no do que e m o utras capitanhe s • ea aça~o co 1o n1.za dora 1:e~liza-s e a_q_u i por um p~·ocesso de con tínua ·adaptaç ão a cond1çoes -~specif1cas do amb_ien te america no. Por isso mes mo, não se enrqa logo em formas mfl exíveis. Retrocede, ao contrário a padrões rude~ e p riniitivos: espécie d e tributo ex igido para u~ melhor conheci mento e para a posse final da terra. Só muito aos p oucos, embora com extraord iná ria consistência, consegue 0 europeu únplant~1: num país estranho, algu1;:asjormas de vida, que 56 já lhe eram Ja nuhares no Velho Mundo. (Enfases acresce ntadas) Creio_~e esse trecho sinaliza _que pode ser frutífero (~pro-r ximar_ o desenv olvime nto do argume nto de Sérgio ~uarqu e / '.'. _ do nucleo da tese de Turner e, ao mesmo tempo 1a forma r') específica pela qual , dada as condiç ões brasileiras, ~; desen- //.,' volveu a fronteir a no Brasil. Concen tram-se em duas palavras, · '1/ por um lado, a adequa ção ao esquem a de Turner - adap- { tação - e , por outro, a p articula ridade do ritmo da conquis ta / r do Oeste brasilei ro - lentidã o. 57 E para descrev er o process o J / ,: pelo qual essa socieda de da fronteir a veio a se formar, Sérgio Buarque encontr ou uma fórmula lapidar: "Com a consistê ncia do couro, não a do fe rro ou do bronze , dobran do-se, ajus58 tando-se, amolda ndo-se a todas as asperez as do meio." A imagem do couro ilustra de forma excepci onal o process o que temos procura do descrev er. Process o não representável, por exemplo , pela água, a qual adota a forma exata do recipien te onde se encontr a , e ' uma vez transfer ida para novo receptá culo, novame nte modific a seu contorn o sem guardar resquícios do anterior. Também não se trata do "ferro" ou do "bronze", que não se amolda m àquilo que os contém . Só o fazem através do radical process o de fundiçã o, de onde resulta urna nova forma também sem resquíc ios da anterior, a não ser a dureza. O couro é que ilustra a transfo rmação por meio de um process o que envolv e adapta ção, recuo ao primiti vo, mas também retomada do legado transatlântico e transformação das condições oferecidas pelo meio. Dobra- se, amolda -se, quase nunca totalmente e com a facilidade da água, mas nunca com a dificuldade do ferro. E mais, ajusta-s e aos novos ambien tes, mas sempre guardan do as marcas das dobras anterio res. J.' e A p í T u L o v, COMO O Of ~if ~~A~l f ~ 1 fOI CONQ~1m~~ .h tex to de 1939 - "Ca min o en qu pe os o e sd de , do ten Já tod de sc riç ão do s mé OS Util. i_e1a un o ad or ab el , " s ra tei Fr on . en ta r na mata ' em "I' nd'10s e on se ra pa s co lu me ma s lo za do s pe 49, Sérgio Buarque 19 de , a" ist ul Pa ão ns pa Ex na Man1elucos id os com os indíge nas nd re ap os od ét m s se es r ve re vo lta a de sc no s troncos ou simples as rc ma r po -se iar gu em em e qu e co ns ist identificar os rastros de , da ain e, ra, ter na s do ca ga lh in ho s fin stígios de acampamento. ve e s da ga pe as su de és av inimigos atr 1949, em se gu id a à apresentação Mas de ss a ve z, no tex to de ar qu e ac re sc en ta que de ss as es tra tég ias , Sé rg io Bu indí· , é um asp ect o da influência do ura ap m be ui, aq da ain [. . .] sª er em ter ra on de foram assídua ge na qu e ins ist e em so bre viv qu_e m co m o ge nti o. Influênci a 1 nd co mu nic aç ão e a me sti ça ge e• ssí ve is as gra nd es empresas ba viria animar, sen ão tor na r po quistadores ª ma nif est a ne sse s con era mo co s mo be Sa . tes . dª· Em seu. ran ta uis nq co a raç da m, , 1 qu e dev a sei m a rca do ch am ad o sel va ge he ran ça desprez1v.e e que cumpre ca so ela nã o rep res en ta um a ·,i·uo é um traço negativo edo epost , dis sip ad a ou oc ult ad a, nã o .,iova ecttn um elemento fi . asorea ,, superar; constitui, ao contrário, s vín cu los entre o inv ca pa z de estabelecer po de ro so · s) terra. 1 (Ê nfa ses ac res ce nta da osi, . 'd de e datapJas . ª i tiv du pro çã o da conquis erer Parece ba sta nte clara a in di ca . ª ra pa ire qu ad 111 · ·ct tiv o tivi ade qu e a ad ap taç ão ao na de nos . reado d0 0 . na s pe lo s ad ve nt íci os o qu e P te s am er ica ho retir pMte rra , '. 11. ·a c tre d ste de to àt en ese e Tu rn er. O pr os se gu im d a a pn. rn e·sa po55+ . to d te en artigo qu e eu or ig em a pr ati ca m . da mais. es a e,,,cl:1 h . a1n ça C or ro ref liv s do am in os e Fronteira ' . 1mitJv as, pr is "O ma es içõ bilidad e.. nd co a re tro ce ss o novo conta to com a selva e com O habit ante d , , . . 1va, e uma e tapa neces sana nesse feliz proce sso de acl· a se - ,, 2 1maça o. Este capítu lo visa ilustra r o que na obra de s, • B , . ergio uarqu e, é pass1vel de ser lido, guard ando' sua espec ifici'd d . . a e, a partir da te_se da_ fronte :ra de Turn~ r, espec ialme nte a partir do que considere~ seu nucle o. p~1meiro item deste capítu lo, baseado espec ialme nte na Pnme 1ra Parte do livro Cami nhos e Fronteiras, tem por tema a adapt ação do adven tício aos métod os e recur sos nativ os, o que, como vimos , pode- se consi derar 0 prime iro mom ento da fronte ira. O segun do item já config ura tanto a retom ada do legad o europ eu quant o amálg ama de O tecno logias - esses dois aspec tos corre spode m, respec tivamente , ao segun do e terce iro mom entos da fronte ira. O objet ivo geral do capít ulo é realça r como na obra de Sérgio Buarq ue é possí vel encon trar uma dinâm ica da fronteira em ação que vem dar moviment o aos valor es e crenç as de seus atores , aquel es relaci onado s à tradiç ão ibérica. Neste caso, porta nto, a ênfas e recai sobre o que temos cham ado de enfoq ue situac ional , no se ntido de que, mais do que o legad o transa tlânti co espec ífico e nvolv ido no proce sso, o que receb e luz neste mom ento é a dinâm ica transf orma dora em si. Como já foi dito, aqui as muda nças valor ativas ocorr em de forma orgân ica com as mater iais e tecno lógic as, logo, estas última s merec em atenç ão basta nte espec ial. ? BAN DEIR ANT ES TÉC NICA S INDÍ GEN AS ' E ADA PTA ÇÃO É no sécul o XVII, já foi dito, que come çam as ~an?e iras, ,e para esse sécul o somo s trans porta d os 1ogo no pnme 1ro paragrafo de Cami nhos e Front eiras : , xvn a resentam-nos a vila de Alguns mapas e textos do seculo . p de estradas expan sistem a Sao Paulo como centro _d e ª mplo _ ta Os toscos desen hos e dindo -se rumo ao sertao e a cos · _ quem preten da • tam nao raro, os nomes estrop iados d esone n ' 'd a~o de algum ponto . servir-se desses docum entos pa ra a e. 1uci Raç rdam- nos entre. h. , eco , obscu ro de nossa geogr afia i sto r ica · das para a região de tanto, a singul ar 1mportanc1a dessas estra • A • 143 cujos destinos aparecem assim represe . .. ntactos . b , 1· 3 Pirat1 n1nga, Con1 anorama s1111 o ico. a etn um P .· . d í Sérgio Buarque desenvolve um text o que t d d A partll a , em central a descrição a a aptação do ad . ventí . . l co mo eixo cio .~ s nativos espec1a 1nente aos tecnológi cos. Es . . . ' aos pa d ioe . se deslocando para os n1a1s variados aspect . . os, tlurn· d . . eixo vai se 1desde as maneiras de an ai na selva e de ca , Çar, até S d l. . nan do ' b 'tos alimentares e e 1ig1ene. e um certo tom deteti aos 11a i , .ue encontramos naqueles textos sobre a pré-h·istona . / vesco q das bandeiras permanece, agora ele esta a serviço não d nomes e datas , mas das descrições do cotidiano dessa sacie~ 4 dade que ve m se constituindo na fronteir~. • S!rgio Buarque utiliza diversos recursos para essa reconst1tu1çao, recorrendo a documentos históricos de outras regiões ou a métodos indígenas e sertanejos contemporâneos que possam dar sentido às pequenas pistas que encontra nos documentos e relatos concernentes ao Planalto paulista e à Cuiabá do século XVII, o que já levou a que se observasse o caráter, além de historiográfico, etnográfico desses estudos. 5 Assim, com todos esses recu rsos de inquirição propriamente histórica e de pesquisas etnográficas, Sérgio Buarque passa a reconstituir diversos aspectos do cotidiano na fronteira. Para ilustrar este processo de intensa adaptação vale a pena o estudo mais atento de ao 1nenos dois daqueles aspectos particularmente esclarecedores: os caminhos e as técnicas para melhor percorrê-los e, também, a caça praticada entre os conqu istadores. Começo pelo primeiro deles. No primeiro capítulo de Caminhos e Fronteiras, intitulado "Veredas de Pé Posto", são descritos os métodos e técnicas para d percorrer as trilhas indígenas geralmente estreitas, exigio º qu~ os caminhantes seguisse~ em fila simples. O processo mais. generalizado, "não só no Brasil como em quase rodo o ão de · Con ttnen t e amencano", é a quebra dos galhos com ª m t'liza-se espaço em s uI árvores, grandes entre trilhas Nas . espaço 0 carnPº E d recurso de gol pes e machado em certos troncos. m exte 1 ns cas 0 5 nsos anota S, . rcas _ergio Buarque, chegavam em a gu a extrem' d d ssas rna os e sut1lez "K h d umª a: oc -Grünberg viu uma e de caminh 0 ente eterra, I . na serra d e T unu1:,, constava s1mp esm vareta queb d e a outra ra ,.ª em partes desiguais a maior metida na 0·0. 6 do O ' ' em angul 0 reto com a primeira, mostran 1 ' 144 Essa última co nv en ção , qu e "só a um olh ar mui'to , ,, , . d ex ercita seria percept1vel , e um ex em pl~ ma rca nte qu e ajuda a lembraor que não :st ~m os tra tan do de s11 nples co leç ão de mé tod os de sobrev ivenc1a, ma s de alg o qu e en vo lve um ap ren diz ad o e um tre ina me nto ap ur ad o do s sen tid os . De sd e log o . _ , va 1e a pena lem bra r ne ssa d 1sc uss ao a no çã o de Ma rcel Mauss de técnica co rporal , co nfo rm e a qu al até me sm o um de ter mi na do "giro de mã o é len tam en te ap ren did o" .7 Ne sse sen tid o diz ant rop ólo go fra nc ês, "é pre cis o ve r téc nic as e a ob ra d~ razão0 prática coletiva e ind ivi du al, ali on de de ord iná rio vê em -se ape nas a alm a e su as fac uld ad es de rep eti çã o" .ª Ressaltando-se ess e asp ect o de len to ap ren diz ad o de técnicas corporais é po ssí ve l de lin ea r co m tra ço s for tes a pro fun didade da ad ap taç ão do ad ve ntí cio às téc nic as nativas po is segun do Sérgio Bu arq ue , ' , um sist em a de sin ali zaç ão con ven cio nal nad a seria [...] sem o socorro de um esp írit o de obs erv açã o per ma nen tem ent e desperto e como só se des env olv e ao con tat o pro lon gad o com a vida nas selvas. Essa esp éci e de rús tico alf abe to, uni cam ent e acessível a ind iví duo s edu cad os na exi stê nci a and eja do sertanista, req uer qua lid ade s pes soa is qu e dif icil me nte se improvisam.9 Se o calçad o po ssu ía um pre stí gio "qu ase mágico" nas terras portugue sas, inc lus ive no Pla na lto pa ulista, é no tór io o fato segundo o qu al os ba nd eir an tes a nd ass em , ao mo do índio, fre qü en tem en te de sca lço s. 10 Os sa pa tos era m va lor iza do s também en tre os pa uli sta s, ma s só era m úte is pa ra en tra r na s cidades ou vilas, po rq ue , na ma ta, o co mu m e aco nse lhá ve l era o pé de sca lço . Se gu nd o Sé rgi o Bu arq ue , os inv en tários e testamentos do s ser tan ist as nã o lev am a cre r na ab un dâ nc ia de calçados en tre eles. Há sim, po r ex em plo , o sap ato "no vo " de couro de ve ad o pe rte nc en te a um tal An ton io Olive ira. Mas, pergunta o his tor iad or "es se 'no vo ' nã o ser vir ia pa ra ind ica r , que so se de sti na va ao' u so na s , oc asi õe s ma is sol en es.?" 11 A ad eq ua çã o do s ba nd eir an tes às téc nic as ind íge na s pa ra pe rco rre r os ca mi nh os nã o se res um iu ao ab an do no do s calçados, envo lve u até me sm o um rea pre nd iza do na forma de ªnd ar, po is en qu an to os e uro pe us , po r dis po siç ão na tural ~u edu caç ão , ten de m a vo lta r as po nta s do s pé s pa ra fora, os 1nd ios american os, em ge ral , ca mi nh am co m os pé s ap on tad os 145 . te com os pole gare s volt ados mais para d a fien ' . d' . Para 12 . . dos pés perm ite uma 1stn buiç ào rn entro . • tssdispos1ça 0 ,, ais u 'f a do corp o sobr e eles , alem de ofer ecer rn ni or do peso " . ,, en 05 s 01e ,, . de resis tenc 1a aos galh os e obst acul os dos ca . Uper, . m1nh 0 tanc ial econ omi a de 111ane1•ra a perm itir uma subs . .. esfor sl de eqüe ntem ente , poss 1b1l tta r and anç as mais di t Ços e, co n S s antes 13 Não se pod e sube stim ar esse trein atne nto dos s . · ~ ,, . . • enttdos lanç ar mao de tecn 1cas indi,, ge n as para o apro veit am eo cam inho s já ab e rtos pelo s nati.vos. Na verd ade, nãoento d0 s " . ,, . se deve deix ar de dar i1np ortan c1a aos pro pno s cam inho s ai d , . ' n a que estre itos , para as entr adas e o dom irno das terra s americ . . não só no caso do Bras il - pois , segu ndo Sérgio anas _ Bu arque " [...) 0 que suce deu em outr ~s luga res da América, onde a~ Picad as aber tas pelo s natu rais da. terra serv iram mais ta d re aos euro peus , perm itind o sua exp ansã o atra vés do Continente ocor reu igua lmen te , e em mai or esca la , entr e nós" .14 E, em not~ de pé de pági na, com plet a com uma obse rvaç ão espe cífica da histó ria nort e-am eric ana, pois lá tam bém "[ ... ] foi graças às trilhas indí gena s, obse rva um hist oria dor [R. P. Bolto n], que euro peu s de vári as nac iona lida des pud eram expa ndir-se na Amé rica do Nor te" .15 Des se mod o, o apro veita men to das estre itas trilh as indí gena s, e das técn icas para as percorrer) mos trou -se fund ame ntal para a inco rpor ação das terras do Nov o Con tine nte pelo euro peu , e, cons eqüe ntem ente , para o iníci o do proc esso de sua ame rica niza ção. Um segu ndo aspe cto expr essi vo da adap taçã o do adven tíci~ ao nativ o no Brasil do sécu lo XVII enco ntra -se no quin to capi· tulo de Caminhos e Fronteiras e é relat ivo à caça, cujo grau de 0 adap taçã o está com o que dem onst rand o que na fronteira . . horne m ou acei ta suas cond içõe s, ou pere ce. Segu n d Sérgio Bua rque , f1e1e ° . , se )Unto as para gens povo adas o euro peu, graças sobre tu do à xadas, importação de instr ume ntos metá licos - machados,. e~ -elati· i cun has, anzóis de ferro - ao conh ecim ento de me10s . de cercos . ' vamente simples de obter fogo e finalmente ao P\anuo r entre . . ' d vegetais onun dos de outro s climas, consegut.ra vence plian nos muitas das limitações impo stas pelo am b'ien te.' darn de con5• com · isso a b ase econ ômic a onde desc ansava ª soc1e aeria01 as tituíd ª pe Ios seus descende ntes nestas terras, outra.s 5 rat1O5 ;e conct · ig 110 . içoes dura nte long as viag ens por /ug ares · . ·rarnence ~ incul to A • . · s. qu1, o adventício tinha de ficar qua se mtet ° 146 mercê dos expedie ntes inventa dos pelo selva . . , · 'd pois o equ ipamento tec111co traz1 o do Velho Mundo er gem, . . ª muitas vezes inútil em terras que nao estives sem prepara das para rece b ê -l o 16 (Enfases acresce ntadas) · A E, então, o histori ador passa a tratar, em minúci as, desses expedie ntes inv~nta dos pelos ~elvag ens para a caça e a pesca. Talvez valha n1a1s a pena focaliz ar a n1odali dade de caça im erante entre os índios e sertane jos, à qual Sérgio Buar;u e contrap õe o estatut o que a caça possui entre europe us, pois através desse jogo de espelh os o foco da minha apresen tação fecha-se sobre o tema em apreço - a nativiza ção do portugu ês no interior do Contin ente americ ano. As desvan tagens do uso de arn1as europé ias nesses lugares ignorad os e inculto s - ainda mais, como vimos no segund o item do Capítul o V, em se tratand o dos arcabuz es e escope tas anterio res ao século XIX - envolv iam, entre outras coisas , a dificuld ade de mantê- las, junto com a pólvora , livres da umidad e, a denúnc ia que seu estrond o causav a e o tempo consum ido para carregá -las e fazê-la s funcion ar, e, por tudo isso, segund o Sérgio Buarqu e, entre portugu eses e mamelu cos o arco e a flecha entrara m bem cedo no arsenal dos conqui stadores , substit uindo, em alguns casos, as própria s armas de procedê ncia europé ia. 17 Mas a situaçã o não se resolvi a apenas com a troca do instrumento de comba te aos perigo s da mata e as vantag ens dos meios indígen as não se limitav am ao arco e à flecha, pois na realidade estas armas envolv iam, novam ente, um treinam ento que só a proxim idade e o conhec imento da naturez a permitiam. Para o próprio nativo, a posse de a rmamen to mais apropria do ao seu mei_o e ~o seu ritmo de vida não conferia , por si só, [. .. ] uma situa7~ 0 em - dos advent1c1os. A muitos pontos vantajos a se compar a d a as _ d çao a verdade é que sua espanto sa capaci•d a de de observa . .· . natureza e das circunst âncias da vida animal sugeria ao~ P'. imi. , . d cursos inacess1ve1s ao tlvos morado res da terra uma sene e re europeu _ 10 p . d O s a se adequa r e ortanto , os mamel ucos foram o b nga . tamb d . d não da tentativ a em aprend er esses recurso s a v1n os, de d 0 . mi.nar a nature za, mas da busca d e ªJ,iustar-se a ela. Em 147 conse qüênc ia desse treina mento , Sérgio Buarq ue cons·ct . l ue "entre nosso s indíge nas e sertan eJos, os aços que I era q - b . . homen1 ao mund o am b'1ente sao em mais intens os dounern 0 · · naçao - ,, que tudo quant o pode alcanç ar nossa 1mag1 : A própria arte com que sabem copiar os movim entos, os g _ . .f' as vozes dos animai s d a se l va, nao s1gn1 1ca, ne 1es, uma si estos , 111 P1es , mímica· é antes o fruto d e uma comun h ao ass1dua com a . ' vida íntima da naturez a. Dessa harmon ia entre o homem e seu meio selvagem n uma inventi va fértil e pronta , uma imagin ação sempre al:;;e uma atençã o quase divinat ória, que para o civilizado parec: atingir os limites do miracu loso. 19 Só é possív el perce ber a dimen são dessa quase completa adapta ção ao ritmo e artima nhas sugeri das pelos seres da selva se compa rada à relaçã o com a nature za estabelecida de manei ra geral, pela civilização europ éia, calcada, sobretudo no objeti vo de ·subor diná-l a. Este tipo de relaçã o tem seu espíri to mais acaba do, exatam ente, na modal idade de caça cultiv ada em socied ades do Velho Mund o, nas quais constitui-se não em fonte de subsis tência , mas em um nobre passatempo . Nesta conce pção, escrev e Sérgio Buarq ue, 1 1 a arte de caçar passa a ser conside rada, não raro, como exercício aventu roso e galante , recreio de gente ociosa e sujeito por isso mesmo a um rigoros o código de decoro . [. .. ] A caça [tem], entre outros, o fito de [segun do Varnha gen] dar ao homem 'melhor idéia de sua superio ridade sobre todos os vivente s'. Superioridade que se afirmav a na tranqü ila consci ência do poder, raramente na astúcia . 20 E, prosse gue Sérgio Buarq ue, comp letand o o quadro de contra posiçã o: ~ú:· Como concili ar essa idéia dignifi cante com certos métodos . t icos, · hos e ate as on de o caçado r procur a nivelar -se aos b1c ,arvore s d f1 a aresta, a fim de engana r e melhor de st ru ir sua 5 U - remoto , presa.1 m de Ies, o do mbayá, até hoje usado em sertoes d . . l . ver es, consist e, com efeito, em cobrir- se o caçado r de pa mas ro· tomand o a feição de um coquei ro e por meio de pios ap as · d · ' ·, cus, n pna os, atrau macuc os inhamb us ' J'aós mutuns ou Jª d·zeS 1 ' ' matas espess as, e excepc ionalm ente' - nos campos - per 148 codorn as ou mesm o bichos de pelo, em p articul ar ca pivara s e ~iacac os. O pró prio se ntim e nto de ~omun idade e até de parentesco co m o resto d os se res n aturai s , a p e rfe ita integr ação no mund o traiçoe iro e agre ste que admir ave lme nte re trata em suas lend as , suge re ao índio e tamb é m ao m a maluc o , na caça na guerra, a vantag em desses exped ientes fraudu l e ntos. o certo , porém , é que , long~ de desap arecer em com O tempo , suas práti cas preval ecem mtatas , ou quase , ainda em nosso s dias .21 Creio que seja possí vel dizer que com essa recon struç ão dos métod os de caça apren didos con1 o nativ o da terra, dos meios fraud ulento s ao ponto de o caçad or se fazer passa r por um coqueiro para n1elhor engan ar os anima is, Sérgi o Buarq ue tocou num dos n1ais vívid os e escla reced ores exem plos chegando a alcan çar as vanta gens que possu i uma caric atura _ que se pode imag inar quan do pensa mos na idéia de adaptação à natur eza e aos mora dores origin ais da Amér ica, adaptação exigida, segun do Turn er e, como temo s visto, Sérgi o Buarque de Holan da, pelo ambi ente de fronte ira. Contudo, se é lícito traça r este paral elo com Turne r, não se pode esque cer, como o própr io Sérgi o Buar que alerta em outra passa gem, que aqu i, qu an do se fala em adapt ação, trata-se de algo muito mais radic al d o que nos texto s do historiador norte -amer icano . E isto se deve, segun do argum entei no segun do item do Capít ulo V, tanto às carac teríst icas do legado ibéric o e à plasti cidad e do portu guês, quan to ao fato de a empr esa band eiran te se realiz ar antes , por mais de duzentos anos, da conq uista dos pione ers. Na prátic a venat ória, aliás, estas difere nças se ressa ltam, pois já foi dito que some nte no sécul o XIX as desva ntage ns das armas europ éias diant e das indíg enas foram defin itivamente super adas, avanç o do qual o conq uista dor norte -an1e ricano já pôde lança r mão; assim , confo rme obser va Sérgi o Buarque, "conh ece-s e bem [. .. ] o alcan ce revol ucion ário que vai ter o síx-sh ooter na expa nsão anglo -ame rican a entre uma costa e outra do Conti nente ". 22 Pode r-se-i a até inferi r que, graças ao mom ento de expan são, o home m da fronte ira norte ~mericano já pode ter na caça - inclu sive ao índio - "n1elhor idéia de sua super iorid ade sobre todos os viven tes", depo sitancto assim, sua confi ança na tranq üila consc iênci a do poder , e não na astúc ia. 149 ""'111111111 além disso, pensando novamente em termos de trr ct· . . d . . a iça -ea"'ni·ca dificilmente se po e 1mag1nar, no caso o transoc , . nort uma adaptação tão intensa a ponto de , . t . ame n cano, . acena recursos fraudulentos que envolvem taman ha l r a que les .. . . . ac. ªP- ao 11 atívo e a natureza a ponto de se 1m1ta1 brami·ct taçao . os de • ais ou os pios d e algun1a ave. Como vimos, ao com anu11 entar ·a balho de George Willia1ns sobre a Norte América co o t1 . ,. ,. . ntraposto à Visão do Para1so de Serg10 Buarque, e nquanto entr os ibéricos predominava a crença de que o paraíso terre ~ estava etn algun1 lugar à espera de ser encontrado, e ntre ª anglo-saxões ele dernandaria un1a s ubjugação física e es.plfl·~s tu al. Neste ponto, p ara artic ul ar o leg~do anglo-saxão_ como sintetizado por Willian1s - com o tipo de adaptação pred _ 111 inante na fronteira norte-americana, é útil a referência : 0 livro de Richard Slotkin, Regeneration through Violence. Publicado em 1973 e com argumentos bastante compatíveis com os explorados en1 .Wilderness and Paradise in Christian Thought, o livro trata da literatura em torno da "mitologia da fronteira americana" entre 1600 e 1860. Dois momentos desta literatura podem ser elucidativos daquela articulação. Mas, r No capítulo sobre a origem das narrativas de guerras indígenas no século XVII, sugestivamente intitulado "A Home in the Heart of Darkness", Slotkin ressalta sua marca puritana, que vê -no Novo Mundo uma "imagem de espelho invertida e obscura de sua própria cultura e de sua própria mente". A partir desse ponto de vista, o wilderness (selva e deserto) era percebido como o universo Calvinista em microcosmo e também era uma analogia da mente humana. Ambos eram escuros, com possibilidades ocultas para o bem e para o mal. Assim, nas estórias de guerras do anglo-saxão contra os índios, estes • · d e Cristo. ou ·te [. .. ] se agitavam nas trevas como o secreto In1m1go 1 te no 1rn1 como os maus pensamentos que atormentam a men de as da consciência. Como o mal, os índios golpeavam on,. ado . enfraqueci'd as e, ten do rea. ,zeles d efesas do bem estavam mais sua obra, retiravam-se ao ocultamento. Com f reqL_•iêncta . fernal · eiro tn tomavam homens bons e virgens puras p ara o cativ ., um 1 tevan .. e a tentaçao sexual como um pensamento ma ' 23 homem bom eternamente para a distância da luz. , _ r 1 ,. disput~ Dessa forma, a analogia entre a guerra indígena e ª re oa entre o b em e o mal pela alma do homem era marcan 150 ,,.. , uritana e, por co nseqü ência , a conq uista d as te rras e.lo psrava impre gnad a de significado s religi osos e acaba va tc e . ~ J Oc~ ,. • • ~ -i•stir numa m1ssa o oe carat er acirn a d e tu c.l o mora 1 e r Lo ns Pº . . ,, 1 Conf onne as obse rvaçõ e s de Slotk in, a base e.la ·p1!'ltll ,• · e~., io Novo Mund o predo tnina ntc entre os purit anos era a ·1S c10 ( ' · . _ pçào de qu e o 1nais terrív el pode r sobre o Conti nente não pci cc selva e deser to físico s n1as, a ntes , estav a confi n ado eSI 3 \ " 113' " . _ • seus própr ios coraç oes e 1nent es. Jn1pe ltdos a se estab elece r 111 e u111 mund o novo e inform e, e les tinh atn a respo nsab ilidad e em de cri ar nele estab ilidad e e orden 1 . Se su as próp ri as ment e s hesitassem ou se e les fa lh asse n1 en1 n1ant er n a co nsciê ncia o ideal de orde1n, e ntão qu alqu e r mínil no orden amen to no Continente poder ia de fato deixa r de existi r. 24 É certo que ten1os que lemb rar que, neste caso, está-s e a fa lar do sécul o Ã'VII e , geog rafica ment e, os Mont es Apala ches ainda não fo ram ultrap assad os pelos pione iros; estam os, assim , antes da efetiv a conq uista da front eira das terras do norte do Continente pelos anglo -saxõ es. Assim , é hora de passa rmos para um segun do mom ento da histó ria da litera tura da conquista da fro nteira , salta ndo p ara os anos 20 e 30 do sécul o XIX, quand o emer gem os weste rn writers, que coinc idem "com a emergência do Oeste como pode r políti co e econ ômic o na nação". 25 Neste mom ento, desco lando -se um pouc o do quad ro construído pela litera tura purit ana de décad as anter iores , onde o bem e o mal eram nitid amen te separ ados, os n1c~1l~- , '1 Westerners admir avam home ns de ação e corag em, home ns que soubessem vive r como indíge nas, lutar como indíge nas, pensa r como eles, e tirar escalp os. Um herói real era alguém que pudes se bater os índios em seu própri o jogo, viver com pouco manti mento , matar mais anima is e, da mesm a form a, tirar ma is escalp os. 26 Assim, somo s de volta reme tidos à idé ia de inten sa adap tação . Contu do, e é isto que impo rta ressa ltar neste n1om ento, aquela missão de trans form ar um mund o sem forma , o qual con81st1 · · a mais em uma prom essa que numa realid ade, perm a~~ce ao lado desta adapt ação, pois esta, alerta Slotk in, não quer . izer que os Westerners viam a si mesm os como bárba ros, isent · est· os de t o d o inter . ·1·1zaça- o esse em esta b e 1ecer uma c1v1 aveJ 27 N urn · a verda de, Slotk in suge re que há para o purit. ano ª dupla missã o, a de torna r-se um índio para venc ê-lo no 151 ~ .· can1po de batal ha e, ao mesm o temp o a d . seu pi.6 p110 . .,... ' da consc1encia de int't 1na1nente se difer encia r dele por meio . . . 28 e se . . . taura r no n1un do a lei d1v1na. u obJet 1vo: 1ns . Dest a rnane ira, aque la tnarc a purit ana de uma Viol . d" ~ difer encia ção entre o euro peu e o tn igen a nao se deenta f . s az coinpletainente. D1fe rente1nente d os caso s d escri.tos por Sérg· Buar que, en1 nenh um mo1nento a~ d~1as hum anid ~des chega~ a ser iden tifica das e, pode -se ate dizer , aque la idéia que disse n1ina no itnag inári o angl o-sa xão dos prim eiros anos ~: conq uista - segu ndo a qual as nova s terra s have riam sim d ser O paraí so terreal, n1as por n1eio da cons truçã o de um jardi e fecha do que den1 anda uma subj ugaç ão espir itual e moral m ~ . .. . , ais aind a do que a conq uista fisica 29 - em mom ento nenh um se desv anec e com pleta men te - mesm o que em form a de conseqüên cias n1uito difus as e de difícil map eam ento . Em suma , vale lemb rar, com Sérg io Buar que de Holanda a obse rvaç ão de Turn er, segu ndo a qual na front eira norte~ amer ican a a mest içag em e uma mist ura cultu ral a pont o do bran co se conf undi r com o indíg ena é o lado excepcional, enqu anto aqui , segu ndo o auto r bras ileir o, cons titui- se como regra . Este fato pare ce mesm o se conf irma r nas narrativas purit anas de fins do sécu lo XVII que abor dam o tema do cativeiro de bran cos pelo s indíg enas , nas quai s, segu ndo Slotkin, os ex-c ativo s - tend o expe rime ntad o a Blac k Eucharist do wilderness e dos índio s - torn avam -se, e1n algu ma extensão, amál gam as simb ólico s de cara cterí stica s indíg enas e brancas e , por esse moti vo, se asse melh avam à mais terrív el figura da hagi ogra fia purit ana, o mest iço espir itual . 30 Port anto , se a influ ênci a indíg ena, a adap taçã o do adventício , é a cara cterí stica marc ante da fron teira no seu primeiro mom ento , ela ocor re, toda via, de man eira parti cular de acor~o com o legad o euro peu envo lvido no proc esso . Por isso é preciso anal isar com o as nova s assim ilaçõ es, espe cialm ente nu~a ex pene . ,. nc1a . ra d'1ca1 com o a do prim eiro mom ento da fronteira, se enqu adra m no imag inári o do adve ntíci o e com o são mo du-, lad as por e 1e. Ness e pass o é prec iso que estej a envo lvi·da urna•deter min d . a a conc epça~ o de soci. edad e e de cu 1tur a que ass1 ern m1le de ma . 1 ,, d danç a. e, ne1ra p a us1vel esse proc esso e mu deS certa altu d . ra e Cam inho s e Fron teira s falan do d as 50 c1eda ' 152 Sérgio Buarque acaba por prestar contas de forma l'cita sobre a concepçao com que trabalha . Segundo 1 . d'genas, 1 111 . (113.1·5 exP alavras, suas P . 3. análise histórica das influências que podem transfo rmar pa1a modos de vida de urna sociedade é preciso nunca perder o5 . . d de vista a presença, no mtenor o corpo social, de fatores que aj udam a adm_iti1~ ~u a rejeitar a, intrusão de hábitos, condutas, técnicas e inst1tu1çoes estranhos a sua herança de cultura. Longe de representarem aglomerados inânimes e aluviais, sem defesa contra sugestões ou imposições externas, as sociedades, inclusive e sobretudo entre povos naturais, dispõem normalmente de forças seletivas que agem em benefício de sua unidade orgânica, preservando-as tanto quanto possível .de tudo o que possa transformar essa unidade. Ou modificando as novas aquisições até ao ponto em que se integrem na estrutura tradicional.31 Realmente não é exagero dizer que, mesmo levando-se em consideração toda a obra de Sérgio Buarque, esta é uma das poucas passagens em que algun1a teoria acerca da sociedade e da cultura aparece de forn1a explícita e não, por assim dizer, incrustada no trabalho mais especificamente de historiador, como é o costun1e do autor. 32 E, se não podemos rastrear as origens dessas idéias expostas nesse raro n1omento - seja porque são passíveis de serem relacionadas a mais de poucos autores, seja pela infinidade de leituras, em diversas disciplinas, levadas a cabo por Sérgio Buarque - , também, creio, não podemos deixar de anotar sua afinidade com a concepção dos filósofos pragmatistas norte-americanos,. Dewey e Willian1 James, acerca do estoque de crenças, já exposta no terceiro iten1 do Capítulo IV. Convém citar novamente a passagem de Jan1es: O processo observável que Schiller e Dewey isolaram particu- larmente para generalização é o bem familiar, pelo qual qualquer indivíduo estabelece novas opiniões. O processo é sempre o mesmo. O indivíduo já tem um estoque de velhas opiniões, mas depara com uma nova experiência que as põe em processo de triagem. Alguém as contradiz; ou então, em um momento de reflexão, descobre que elas é que se contradizem umas c?m as outras; ou toma conhecimento de fatos com os quais ;ao incompatíveis; ou surgem desejos que elas deixam de satisazer. O resultado é uma perturbação íntima, à qual até então o seu e , . spmto tinha sido estranho, e da qual procura escapar 153 ~ modific ando a sua massa prévia de opiniõe s S ass unto de crenç · alva O , q ue pode, pois ne sse . . a somo l'ita~i conserv adores. Assim, tenta primeir o troe s ao ex inci . . , ar essa trelh ( deJJois aque la pois resistem a mud ança e . ºPin·- ·110 , . . . om rnunia.o até que, por ultimo, alguma s idé ias nova ª Vari ect ' e s surge ªele) pode e nxertar no estoque velho , com O míni rn, as qu .' . l ,. para esse u, l timo, a gumas 1'd e1as que medeia mo de ct·tstúrb·ais . ,. . entre 0 to e a nova expene ncia e que as condu zem umm -as , estoq as ue facilida de e expedit amente .33 outras, coin Apesar do fa to de Sérgio Buarqu e estar se referind , 0 dades e, Jan1es, as mudan ças de cre nças do indi 'da soe·1e. 'd a d e d e 'd "' un1a certa a f 1n1 1 e ias. p ara o primeir o a VI UdO, há mu ança cultural se dá a partir do mon1e nto em que os' hom ens de un1a socied ade se defron tam com hábitos conduta s te'c . ' , nicas e institui ções exógen os, os quais passam por uma triagema partir de critério s próprio s da estrutu ra tradicional daquela socieda de. De maneir a similar , para James - e Dewey _ 0 indivíd uo adquire novas crença s a partir de novas experiências, mas a mudan ça ocorre agencia da pelo estoque de velhas crenças que , a partir daí, sofre m um reo rdenam ento . Se lembra rmos que, quand o falamo s de James e Dewey pela primei ra vez, foi para ate ntarmo s para a afinidade entre a tese de Turner e o pragma tismo, sugerid a por Ray Allen Billing ton, é lícito que consid eremos certa afinidade entre.º trabalh o do histori ador norte-a merica no e a obra de Sérgio • Podemos Buarqu e desde esse ponto de vista pragma tista. . 1 se ef e uva pensar que, para os dois autores , a mudan ça cu 1tura . ,, . . ,, , rio deles d e maneir a semelh ante. Alem disso, e isso e prop . apon t",1 e não dos dois filósofo s a situaçã o de fronteir a is ' d cultural, P º para um modo particu lar e intenso de mu ança d urna ela signific a uma nova experiê ncia radical, obrigan daÍi ~ a part11 revisão avassal adora das velhas crenças . Entao, - 5 dos d. ~ os padroe isso que acaba signifi cando uma adapta çao ª , . pass,1rD morado res origina is do novo ambien te, os advent1c10 5 dut,1S, ª, ter .um desenv olvime nto orgânic o de seus ha'b1'toS ' considade5 neces t ecn1cas e · • .çoes, " · c om as nto 1nstttu1 em congru encia 0 me adv· d ,,, "urnrn 1a in as de sua labuta cotidia na. Mas esse Jª e a cr~1t~1c' seguint e · até agor res, , que sucede a adapta ção ao nativo . ce. fJ1 .. e, por iss 0 . eir º mesmo, deve ser enfrent ado pos teriorrnene prtf11 contud0 d e ness , e passarm os a ele cabe enfatiza r qu ' ° ~- l 154 1110 n1e1l to da fronteira, as experiências ocorre m mui'tas . . . , vezes, co!ll tal grau de novidade , _que ex1ge1:1 u1na quase _ e a compa- co m os Esta dos .Unidos nos raçao , .·, a1uda a sublinhar O quase e . dicar que seu g1 au, e. vai tado - . completa revisão do a ,n estoQ U e de crenças e habitos. do c olonizador' o que significa , em o Utros tern1os, a necessidade de se adaptar às cre nças e hábitos do nativo. Essa é a n1arc~ mais intensa na quase totalidade da primeira parte de Canunhos e Fronteiras, até mesmo • fo i·te do que a idé ia de "amálgama" entre as culturas mais nati vas e a d ventícia , e é interessante, nesse sentido, que, .á erto de seu fin a l, no Capítulo 7, Sérgio Buarque volte a linsistir p na idé ia de a d aptaça~ o a f·irn1an d o: Mas a co ntínu a prática da selva não estimula somente essa espécie de ad a p tação qu ase fisiológica às situações mais perigosas, co mpa rável, em sum a, à arte do acrobata ou do pelotiqu eiro. Representa, em primeiro plano, uma verdadeira educação moral, cujas conse qü ê ncias não podem ser apreciadas de modo abstrato e independe nte mente das condições particulares que a suscitaram. 34 (Ênfase acrescentada) Ao se referir à educação moral ocorrida nas condições particulares da fronteira , essa passagem nos permite uma rápida reflex ão sobre a apresentação que Sérgio Buarque elaborou para o livro Caminhos e Fronteiras, no qual, a certa altura, alerta que "a acentuação maior dos aspectos da vida material não se funda, aqui, em preferências particulares do autor p o r esses aspe ctos , mas em sua convicção de que neles 0 colono e seu descendente imedia to se mostraram muito mais acessíveis a manifestações divergentes da tradição e uropé ia d · · ~ s e 0 qu e, por exemplo, no que se refere às inStttuiçoe sobretudo à vida social e familiar em que procuraram reter, tanto , l" 3s Se isso é verda. quanto poss1vel seu legado ancestra · deiro d ' d 7ao aos recursos ' pu emos ver também que a a aptaç e ' ' ' · ··at" tecnicas nativos ou seja os "aspectos d a vida mate i i , envolv ' ' . . , ões uma reedu~ e, em grande medida, e em muitas situaç ' caçao . . , vimos no caso d ' por assim dizer, espiritual, tal como Jª , . a prát' <l 0 ção de tecn1cas · _ ica venatória que mais do qu e a ª lnd1ge ' dica! na connas de caça envolveu uma mudança ra Cep Çao , d ' ª relação entre o homem e a n a tur eza · 155 RECURSOS NATIVOS , TÉC NIC AS ADVE , DESENVOLVIMENTO Ntr crAs E , DAS CANOAS ""' Segu indo no ssa 111a rc h a pa ra o O es te bras ilc i . to segu 1 Sérai o Bua rque , pod e n1os d a r n1a1.s un1 p asso nlo v 110 t . ~ . , emp o e espa ço e de dica r a ate n çao b as1c an1e nte a o sec ulo XVI no . e n1 d ' ~ avanço da fro nte ira ire çao a o atua 1 Esta do do Mato GII e ao _ d . sã o as mon çoe s e pov oa d o . p a1.a isso , van1 os nos d rosso·. ~ fund ame ntal men te sob re o livro Mo n çoes, pub lica do e6ruçar em 1945 na verd ade o prim eiro text o sist emá tico de Sérg io Bua e, ,. ' . rque vind o a pub lico trat and o do tem a das entr ada s e bandeiras .36 Con tu do, isso não nos dev e ilud ir e con side rá-l o como um livro abso luta men te inde pen den te d e outr os textos. Aliás, é de se lem brar que o próp rio auto r che gou a afir mar que a obra de 1945 foi "não só pen sad a mas re dig ida, em sua vers ão inicial e aind a sumá ria , junt ame nte com o s cap ítul os que formam a p rime ira seçã o do atua l volu me [Ca min hos e Fron teira s] ".37 Num a prim eira apro xim açã o , as mon çõe s e as band eiras se dife renc iam , ante s de tudo , pelo mei o de tran spor te empregad o , po is, com o obs ervo u Sérg io Bua rqu e em uma conferênc ia sobr e o tem a, ao con trár io do que oco rre entr e os sertanistas - qua ndo "os rios con stitu em efet ivam ente obstáculos à mar cha e as emb arca çõe s, em gera l sim ples cano as de ~~sca ou tosc as J·ang adas são ape nas re curs o ocas iona l [ ...1, utiltzavel ' - "a ond e a mar cha a p é se torn ou imp ossí vel" - , nas mon çoes '. . ,. nave gaça~ o , d'1sc1 e se torn,1 plin ador a dos mov ime ntos , e qu regr a com um, e a mar cha a p é , ou a cav alo, ou e m rruagem ca , a ( na f azen d a · · exceçao ' de Cam apõ a, por exe n1p lo), con stitu i essa regr a" _3s - .gnifi Cíl Mas esta dife renç a nos mei os de loco moç ã o nao si ois uma ind dA . 5 . ·men to , P epe n enc1a abs olut a entr e os dois mov t d umª na real1'd d · iida ª e os dois pod em ser vist os em conttnL / e,·· a J ~1s ve z que ~ " hi ' escr eve o hist oria dor em Monçoes , ª sto!l to d11 mon ções d 0 e· . , ,. en . , . uiab a e, de ce rta form a , um pro lO ngam h iston _ ar~1 a d b . . ·r Br . as and eira s pau lista s, em sua exP,,ª .nsao] pj11s1s tt asil Central " 39 T ✓ ~ ,. · 11 uul [... rer no fat d · anto e assi m que ' nao e i _ paulo, o ea t' . . ecn1ca da nav ega ção fluv ial, em sao ° • 156 , ·do sua fase de maior desenv olvime nto b. u , . ;<Vlll, com o decl1n10 das bandei ras" _4o , so I etudo no séc u l0 Dessa maneir a, justific a-se nossa esqu .. _ . e matizaç ao na qual associam os o n1ovm1ento bandei rante pro .· . 1 tame nte dito . _ ao século À'VII e, ago ra, as rnonço es ao séc P ul o . ~ .. . . . significa d1ze1 que n1u1tos bandei.rantes não t· segutnt e. Nao • e ivesse m andado em terras boie mato-g rossens es, mas ma rchava in b. d so 1etu o a Pé ' apenas eve ntualn1 ente com barcos , e , ac 1·1113 d e tu d o, nao ch egaram a estabele cer uma rota sistemá tica de p - . . ene traçao Dessa maneir a , quando a travess ia de um rio era inevitável na tra jetória_dos bandei ra ntes, estes, como era de se esperar rend o em vista os exemp los expost os no tópico anterio r se adequ avam às técnica s indígen as de navega ção e acaba;a m por aprend er a constru ir canoas a p artir das cascas do tronco das árvores . Essas canoas de confec ção rápida, mas também de pouca durabil idade, vinham ao encontr o das necessidades daquele s que poderi am abando ná-las a qualqu er momen to para prosseg uir sua n1archa por terra, pois "os gêneros que transportava uma dessa s embarc ações [. . .] limitavam-se ao estrito necessá rio, já que os n1atos e rios constitu íam, nesses casos, as princip ais estalag ens do viajante, habituado a restringir sua dieta a frutos, raízes silvestr es, répteis e ao que alcançasse com suas esping ardas e anzóis" .41 Mas , para os monço eiros, essas canoas feitas de casca de árvore não se mostra vam adeq uadas a prosseg uir por via fluv ial em lo ngos percur sos e levar uma carga que não se limitava às suas própria s necessi dades , posto que conduz iam também mantim entos para comerc iar com as novas cidades e arraiais que nasciam no extre mo O este do Brasil em torno da extra ção de ouro e diaman te. Isso não signific a dizer que os monço eiros já a qui romp e ram com as téc nicas indígen as e as subs tituíram p o r métod os advent ícios. Na ve rd ªde, , na r·iv 0 ma is adequa do eles e Iegeram outro recurso , ta m b em , e • ,as suas . 1 ão contin uaram neces sidade s. Assim, se e es n a proven • ando as ca noa s de casca, passara m a utilizar as. de t ronco , també m constru ídas da mesma manei·ra que os _nativos an1encano · ~ s costum avam fazer. E nao so,, na constru çao, ,. mas . n - . . os advent1 c1os ª propna maneir a de conduz ir as canoas , se d • d" nas Isso leva ª aptaram às técnic as e re cursos tn ige · s-ergio . Buarqu e a afirn1ar: 157 Um fa to pos itiv o, em tod o o cas o, é que , rec . . orrenct eir os col ono s e s pru. ,,a ind íge na, os pnm , . eus d o à 111 atér'1 nbém ma ntiv era m a tec111ca de con stru ca1 ção , _ enct a. • naval esc: d a terra. Nao se pod e af1r ente ma1 que , dur ant d os nat lira- s e a era imigrante eur ope u ten ha acr esc ent 1 ado gra nde . Colonial s · · 1 ·, nav ega ção mte nor , ta com o ia a a à ,o enc ont rar a cois . arte , f b . d b gentio. Nao so no a nco as em arc açõ es , co prat1cact a entr ede mo na o os uso s est abe lec ido s, ant es do adv ent o do h l11areagen · b · · pud era m, ass im, so rev ive r 1ong am e nte à ome. 111 bran co1, 6 ant igos mo rad ore s. 42 su Jug ação do~ Co nst ruí das a pa rti r de um ún ico tro nc o as p· , eram mais pes ada s e den 1o rad as pa !rogas ra faz er do que as e ~ de cas ca n1as em co n1 pe nsa çao , du rav am ma is eramanoa.s ' ,, . . ' res iste nte s e pass1ve1s de co nd uz ir mais um pe so ma ior e, assi m ade qu ara m- se me lho r às ne ces sid ad es de um a rota comercial qu e vin ha se co ns oli da nd o à me did a qu e se estabeleciam po vo a do s no ext ren 10 Oe ste . Se as pir oga s ind íge na s de mo nst rar am um desempenho satisfatório par a o tra nsp ort e das me rca do rias, suportando seu pes o e sup era nd o os mu ito s ob stá cu los das viagens, também apr ese nto u def ici ênc ias , o qu e exi giu um seg un do passo para a rotinização do trá feg o com erc ial . Fo i nec ess ári a a adaptação das em bar caç ões ind íge nas par a est e obj eti vo e "os progressos nes se sen tid o ter iam de ser , po r for ça, mo ros os e orientados pel a con tín ua exp eri ênc ia" .43 Essa con tín ua exp eri ênc ia ne m sem pre foi fácil e sem c~ns~quenc1as d o 1orosas. Os cas os ma is rep res ent ati vos e 1ame ntav ' e1s ~ que a ilustram oco rre ram no s pri me iro s an os de regularizaçao da rota. Co nta Sér gio Bu arq ue: .. A • Ho uve , por exe mp lo, com boi o, saí 1 , do de Sao Pau O emos1120 que em que tod os os pas sag eiro s e trip ula nte s per ece ram . v· cio . iera m d epo1s enc ont rar am ma nti me nto s po d res ao longo . correu ca · h mm o e, nas can oas , cor pos mo · · ntes. rto s de viaJ a ao arrai ~d tod o ess e ano de 1720, sem que che gas se viv a alm a . , do no do e · , . oxi po, em bor a num ero sas pes soa emba 1c,t s tive sse m Tietê apand 0 , com ess e des tino . Do s que che gar 172 1 esc am em ' b g~1gen 5· a morte, alg uns tinh am per did o am igo s, esc rav os e a chegou Conta 5 d - e e um , o ca pit ão Jos é Pir es de Alm et•da ' que por ui'fl a dar um 1 . . simples peimu atin ha ' tido por ele em con ta de filho , ·rn Pº•de eh Só ass1 xe pac ue ega r com .d u, com que eng ana sse a fom e. inais q cons · vi ª• poi s per der a tod a a esc rav atu a e o 1go r lev ara .44 ,-~ 1 iss l I ~ ,,. Ili..._ nas Esses c aso s den 1on stra 1n qu.e ape urs o à tra diç ão f' . o rec d' 11 ão se n1o stra va 1na . díg ena e ian te das nec es· d1s su 1ci ent · 1 1n1·da des e dif icu lda des a dv1n . ,, as . co1n a 1mp ant açã o de um a s comei·ci'al · As sim ' e aqu i e 1n1portan te not ar que com eça a rota rum no vo pas so do hon1en1 da fro nte ira , foi pre cis o desponta_ de rec urs os adv ent íci os e ade lançar ma o quá -lo s aos tomados . d . ." . . Ne sse cas o, d epo1s do nativo e tris tes exp ene nc1.as, trat ou- se de rem edi ar a falta, faz end o told ar as can oas , a exe mp lo do que aco nte cia nas em bar caç ões fluviais do Velho Mundo. Usaram-se, com ess e fim , cob erta s de lon a, brim ou bae ta, sustentadas sob re um a arm açã o de mad eira , con stit uíd a de um a barra, que des can sav a sob re dua s forq uilh as, disp osta s de um lad o e out ro da par te cen tral da can oa, des tina da à carg a. Sob re a bar ra hor izo nta l , a que cha ma vam cum ieir a, col oca vam -se per pen dic ula rme nte , de pal mo a pal mo , bar ras men ore s, forman do com o um telh ado , cuj as ext rem ida des ultr apa ssa vam as bor das da can oa. 45 Portanto, foi nec ess ári o un1 rec urs o do Velho Mundo para se poder sup era r pro ble ma s qu e as nov as exp eri ênc ias traziam e, aqui , o leg ado eur op eu con 1eç a a ser ret om ado , ade qua ndo -se , por assim diz er, à bas e for ma da ini cia lme nte pel a com ple ta adaptação ao nat ivo . Ne sse cas o esp ecí fic o, o tol do, des conhecido ent re os índ ios bra sile iro s, pas sa a ser util iza do nas pirogas tom ada s de em pré sti mo del es pel o adv ent ício . E, nunca é dem ais enf atiz ar, tod os ess es pas sos são ori ent ado s pela con tínu a exp eri ênc ia. Gr aça s a ess e rec urs o adv ent ício a rota comercial tev e con diç ões de se rot ini zar e sup rir as minas mato-grossenses de sup rim ent os. Seg und o Sér gio Bu arq ue, ª inv enç ão , ou pel o me nos , a difu são des se eng enh oso sistema de abr igo , com o o das can oas told ada s, que pre ser vam os man tim ent os, per mit iu , com o dec urs o do séc ulo XV11l, que 0 com érci o ent re São Pau lo e Cui abá se fize sse, aos pou cos , sem gr~nde par te das imp ortu naç ões e pre juíz os qu e per seg uia m as Pnm eira s can oas . 46 seuAg s ora ' e s t am os dia . nte de um cas o on de os eur ope us e técnicnet os m O b 1·1·1zam tam bém os con hec im ent os, rec urs os e Prosseas do . lega d o do Ve lho Mu ndo , o qu e nos per mit e, par a forrnaçg?ir ª me sm a lin ha de com par açã o, ass oci ar est as tran soes ao seg un do mo me nto da hip óte se da fro nte ira. . 159 ~ and o ao tex to de Sér gio Bua rqu e d , efr 0 is ent ício ntalrto co m ma u 111 cas o _de un1 rec urs.o adv . ªPro . -n . ., s das mo nço es: o mo squ itei ro . Con fo v1 age 11 Venac.1 G~ . 0 n, s am inh os e Fronte1.ras, em tod o o séc ulo rrne 1 C XV e Poc.!e em ls _ . II O e" . ntes não alca nça ram un1 a sol uça o sattsfat óri· ra s banc t ,. a Para Se \:1. ' ,, ' oere m dos inse tos, p o is o un1 co rec urs o que . Prote. º , . tinh a111 rop na rou pa do cor po , e, dur ant e a noi.te, as cob P era a , l de bae ta. Son1en te ago ra, no sec erta s e u o XV III , com capas . . ue sur ge o mo squ itei ro. Da 1nes1na n1a ne ira qas rnon ~ q Çoe~é . . ue o tolJ ani age m sur ge a par tir das n1a 1s nov as d ern and as .· ola . . e, tadas reg ular izaç ão do can1 1nh o fluv ial e ntre os núc leos . Pela mais p loso s do Pl an alto p au list a e os pov oad os minerad ºPuores d0 extren10 Oes te, un1a vez que , nas pal avr as de Sérgio B uarq ue "de sde o n1o men to en1 que as exp edi çõe s ao sertão O 'd . e, ental se tran sfo rma ram de ent rad as mai s ou me nos aventuros as em viag ens reg ular es, met odi can 1en te org aniz ada s, essa prote ção aos tri pul ant es e pas sag eiro s de 'can oas de comércio passava a con stit uir nec ess ida de imp erio sa" .47 Alé m diss o, o mo squ itei ro tam bém par ece constituir-se em un1a con trib uiç ão adv ent ícia e seu uso par a a proteção dos pas sag eiro s das can oas con tra as pic ada s de insetos ocorreu ent re os ano s de 172 0 e 172 5, 48 just ame nte no momento em que a rota com erc ial com eça a ser reg ula riza da . A mesma data par ece ind icar que , de fato , ess e não foi um melhoramento resu ltan te da infl uên cia ind íge na , poi s, na verdade} Vo lt 1 1 . mos quit o pro, pno eiro não pare ce ter s1'd o ut1·1·1za do ou sequer • co nhec1 do [nos ) prim eiro s tem pos . Tud o · · dicar que, ten d ena am ,. dvenuc10, ao surg ir mai s tard e com as mon çõe s, foi elem ento ª _ , tra nsp lant ação , talv ez do trad icio nal mos . • da Europ .t, quit eiro . 1 de ' . so b retu do dos país es ban 1 0 nunco had os pelo Med1terr aneo, OL . • chts . . às ex1geri uma adap taçã o dos p av ilhõ es e cort inad os case uos da vida sert a ne ja. 49 1 1 A . dventíci OSi As s im, com a intr odu ção des ses elem ent os ª porre e orn o o told o e a ani age m com ple ta-s e o me · de trans w eoder trad· · ,, · para at icio nalm ente usa do nas ' mo nçõ es de comerc w. , · os as nov as nec ess ida des sur gid as com ess e omerct0 ' e destH mon ç · • oei ros aca bar an1 por cria r um a nov a can o a fruto ' sintetl' vez de ,, um ama lga ma de infl uên cia s e tra d'iço~es · ou, zan do e om as pró pria s pal avr as de Sér gio B ua rqu e: 160 r a .n avegação . dos rios do planalto , co m o . 1 Jnte ns1·f·cando-se 111 - 0 que só oco rre ,a cu1abanas das pz1das , ~ . desco b n. ento se transformam . do segu ndo decerno do seculo XVIII - , não . h d d _, . Partlí er a as da piroga indígena . A . .1st1cas . 110 ess encial as caractet . ao sertão longínquo , ass1.d u i·dade nas vias fluv1a1s , que conduzem e de resguard á- las . a nec e ssidade de tra_nsporta r mercadorias J' da canoa· _ vao, aos poucos, fixando o perfil dura nte as viagens, alterar sem no entanto da nas monçoes, b profundamente aquelas , . , . e que, em ora pouco superiores às . mesn1as caracteristicas. Assim prinútivas pirogas, sem. quilba, sem leme, s_e m velas, essas canoas .á comportam comodidades que denun~iani algum progresso: -~-emas à man eira de choupos de espanta, varas com juntas de Jen-o para subir os rios, cumieiras e cobertas de lona para proteger das chuvas. so (Ênfases acrescentadas) tiSa Mesmo com todo o risco de simplificação, vale a pena visualizar a imagem desta canoa descrita por Sérgio Buarque quase como um emb lema da dinâmica da fronteira. Num primeiro momento, o sertanista se adapta totalmente ao nativo e lança mão de suas técnicas e dos recursos da terra para, cortando um gran de tronco d e peroba e tirando-lhe o miolo, construir uma piroga sem quilh a, sem leme, nem velas. Posteriormente , graças a novas experiências e necessidades, evoca conhecimentos e tradições de seus antecedentes europeus para elaborar toldos e mosquiteiros , protegendo os estoques de alimentos e tecidos da chuva e a pele dos insetos . Daí resulta uma canoa indígena , coberta com toldo europeu, que, nesse raciocínio, não posso deixar de dizer, é um produto novo, tipicamente americano. Com o risco do exagero, mas a vantagem da força de uma imagem, pode-se dizer que nessa canoa estão sintetizados os três momentos da fronteira: adaptação ao nativo, recuperação do legado europeu e amálgama de tradições que resulta em algo novo . Lembrando da conexão entre as mudanças materiais e as dos indivíduos envolvidos no processo, vale arriscar di~er que esta canoa serve também como metáfora das transformaçoes n~s mentalidades e valores. É como se, desde as andanças a • ,. · até ao uso .de pe e quase restritas à luta pel a sobrev1vencia rota comercial, d ld canoa . . . . s to adas e ao estab e lecimento e uma estivesse indicado o disciplinamen to de um ind1v1dualisdmo d 'a começa ce er . quase a , . narqu1co, em cujo desenrolar a ousa 1 1 ócio Aplicando , . ugar ta b, , · m em a previd ê nci a e o oc10 ao neg _ no qual as Para ess e momento da obra d e Sérgio Buarque 161 _ rec urs o a tip os ide ais são evitad grandes caracten·zaçoes e om e1n Ra ízes do Brasil, poder-se-·os qu e ap are ce - os termos . . 1a ·d ' 11.da de len ta1 ne nte se d1s c1plina e s ora a cor 1a g dizer que, ª e ' ·viliza sem, co ntu d o , um rom pi1 ne nto rad ica l co m suas ci ' . . . . Mas an tes de ac om pa n h car act erí sti cas m1 ar est e discic1a1s . . . . de forma mais de tid a, va le a pe na, a ind a po r mais Plmamento ,, . foc o no s rec urs os e tec n1c as e mpreg um tempo, ma nter o adas , . . d res pois atraves entre os conquista do est ud o de um a imporo ' .. ,, . . ·m ent açã o adqu1nda do s 1nd1os tante fonte de al1 , o mi lho, tem os . ,. . . rec ed or so bre a d1nam1ca de mi stu ra ent um exemp 1o e Scla re o legado nativo e o eu rop eu . ENTRE A FARINHA DE MILHO E O FUBÁ Embora abandonemos po r um ins tan te as pir og as indígenas toldadas e a rota para as minas do ex tre mo oc ide nte do Brasil, permanecemos, de certa ma ne ira , tra tan do do me sm o assunto: a recuperação do leg ad o eu rop eu e o am álg am a for ma do ao lado de rec urs os e téc nic as ind íge na s . A pa rti r do estudo da adoção do mi lho na die ta ali me nta r do s ma me luc os pro du to mais ad eq ua do , ad ian tese , pa ra aq ue las longas viagens tratadas há po uc o - e da s téc nic as ad ota da s para o seu beneficiamento, pre ten do lan ça r mã o de ma is um caso ilustrativo das combinações variáve is en tre rec urs os e técnicas indígenas e eu rop éia s qu e, em tod o ca so , ap on tam pa ra um desenvolvimento org ân ico , co lad o às sit ua çõ es vividas na fronteira Voltamos t· , en ao, ao s tex tos qu e co nst 1tu · ira ,, m a b o ra Ca mi nh os e Fronte,; · esp · · ~ras, mais ec ifi ca me nte a su a seg un da parte. No prefáci 0 b , • sob a qual orga · ª esta o ra, Serg10 Bu arq ue ex po- e a c have . niz s du as últ im as pa rte s do livro, artigos publicados ou, na os . . . . an ter ior me nte em Jor na is ou revistas: O lento processo d sua dilui - d , a e rec upe raç ão des se leg ado [eu rop eu] , çao apo s' ura nte os · • ração . pri me iro 1pe s tem po s que con stit dil uiç ão e reCl ,uem tratado n . _ e ' em sum a, a ma tér ia des te livr as o .. ' rurais há partes sub seg uen , ·cas tes . Na seg und a, ded ica , da natura Imente às tecni ' . na última d 1uga r par a a her anç d ma is a ind íge na 0 que , on e se abo d . . aos me ios b r am at1v1dades qu e ten dem a aco dar-se ur mo . dóc e is aos infl ano s e se tor nam , nes te cas o , cad a vez 01 a1s uxo s ext ern os. si 162 ~ ·ir·i nossos term os, po<l críai nos e omp 1eta r b ., l ·-- . ' P· do 1 . ··1..: 1, ~lrtcs (1a o 1 ª. ( e d1carn -sc rlo seg un d o e ' ..i• ,n~11º'tC e~:,, l )S da front ettd . As va11a çoes acerc a <.l os graus • 1dtJ qL ,_, {11L' l1 1C ' i"l' 11 " ., .0 do legad o a<lv ent1c1 çao pera recu . Hgc n8 e de •. • ·it't1 111°. 1t • , ,c 1~1 ,nc ·1 1 1 e O exem p l dos caso a, caso ,nl lUL 1 . , 1,te se r trata o qu e ' • ;., _ . • , ., w~1:unc ,L' '-' proc deste , ,coui r C uma 1lu s lt clÇclO pc1rt1cular , ,,·t'lll,) esso. e, ~ .1 iro -1 ' ']] l ' · •il \ l) prod uto n a t·lVO ., ,ão para o caso e o m1 10 . Este 11L'~l 11 -q~tn OS L . J\L"" . ,, discuss8o da 11 Pa rte de Ca 1ninhos e Fronteiras 1 ~ l'cnt r:1 n.1 irem tmporta" nc·1a adqu tt1 go e a11 o z , ,ios t'l) • 'tLh·cn 11L . 11 asso ciam - 0 moin ho e 0 l . ~ • ~s técnicas que a e les se J•,·i~ll~~ · rcspectiYamen te. O cent ro d esse tópi co fo caliz a-se · e seu trata1111 t11 . lº '·t5ncia do m1·1110 p a t·a a soc·e a d e pau 1ista t dr 01 1., d · • 11·1 1t11P or técnicas ongm a as no a en1-n1ar. · inctl lO p Como tivemos opor tunid ade de ver no item dois do CapíBuar que afiançava que . desde Raíze s do Bras il Sé rgio \ [li() 1 da terra", feito de farin ha de mandioca, foi um alimento "pão 0 , que. cedo, os portu gues es pass aram a cons umir . No entan to -nesmo na Capitania de São Vice nte, sua prod ução conc entrara-se na costa , pois se temo s visto que a colon izaçã o do Pi:malto pauli sta vai se carac teriz ar pela extre ma adap tação a recurso s da terra, eis aí, ao men os à prim eira vista, uma exceção. Em parte por caus a dessa exce ção - a fraca presença Jo pão da terra - , ocor re nesta s terra s um caso de introdução Je produ to adventício, o trigo. Sérg io Buar que explica que "as condições certa ment e men os prop ícias , no planalto, ao cullivo da mandioca em esca la sufic iente para se abast ecer u~ centro de povo amen to mais estáv el do que os primitivos nucleos indíge nas, terão sido um dos incen tivos para o desen0 i~lvime nto adq uirid o ali pela lavo ura do trigo dura nte a da d secu lo XVII" s2 E · · sta lavo ura troux e cons igo a mu· anç · SL1a' . " rn Paisage vez . econo mica da regi ão que "[. .. ] acarr eta na, pot e urop éia , como 0 .' ª introdução de utens ílios da técni ca 1 noinho d', 53 agua, a azen ha ou a atafo na". Estarn os, portanto diant e da adoç ão de um recurso a d ven tír1· º ' - u ac a su ornpanhado das técni cas do Velho Mun do usad as para corre sem ~ ~ . . ª Proct uç~ ªº· Cont udo ' essa 1ntro duça od naos., 0 · Milliet (j 1ficu 1ct ades · e0 ntrap ondo -se aos estud os e ergio e· ' :itrgi 0 B marntnte ua rque cons idera que o trigo teve prese nça extre XVII. l ~ . O A. Pequ ~•f' í11p 0 rt ~ena no Planalto pauli sta até inícios Edo secu 01 era a 1 Lui .turop . em arga escala de seme ntes. da tosa açao ara destr wr . Pois O t · P iente sufic era m viage de empo , -- · . , V r ,. ,.. . · , 1 1 1 .. L • • • • , • • 1 1 1 163 .... seu pode r germ i nativ o. No segu ndo d ecên io d o sécl.t lo ) ÜS <J, r l • •f"' com cç~n ; indic ar um a urne nt o s1gn1 1célt1•vo na r ª\..los 1 1 . B q e 't1lg' l ;, · · i p ü du cuja s sem ente s S e/ rgto uar u J ,, e 1 v1nc O d a re ·~ ç:-elo, p,-;iw . com O ince n ti vo do gov erna dor D. Fran cisc o 1 d /:tº <lG O foto é que a part ir do segu ndo decê nio do S . ousa . pJss a a se dese nvo lver a prod ução d a farin ha dee ,s~en tGs . / . t11g 0 para isso - esse e o pon to que nos inte res sa_ sã . , e, 'd / d / · d / · e: o tntro d z1 n1eto os e tecn 1cas a ven llcta s para o trata º"' me LLprod u to ta rn bén1 de origc1n exte rn a. 54 O prin cipal . nto d esse . . tn de n1oa gen1 , e a qui entra1nos prop rtan 1ent e nos m e s trurn lh . e nto tecn ológ icos, era o 1noi nho d'ág ua . Nele, oiarnento s grão é desp ejado num vaso e m form a de pirâm ide i . . d . l tida exist ente em cima o mom 10 a tama nha _ e nver. ' , , . vai cair diret amen te sobre a mo . A rotaç ao da mo e, obtid a por inte , . do eixo verti cal, que por sua vez rece b e mov ime nto d rmed1 o o e·1xo da roda d 'água , graça s a um rode te de ntad o. 55 [ ... ] 0 Sérg io Bua rque proc ura a orig em do moi nho d'água no Con tine nte eu rope u, espe cial men te na Pen ínsu la Ibéri ca, e desc obre que "[... ] o mod elo é indi cado , com freq üênc ia , na pení nsul a hisp ânic a, em part icul ar na part e noro este . Sua pres ença em Port ugal - Trás -os- Mon tes, Min ho, serra da Estrela, Alga rve, ilha da Mad eira - e não só em Portu gal, pôd e ser assi nala da por vári os estu dios os" .56 Sua construçã o bast ante rúst ica, só exig indo mad eira e ped ra , facilitou sua "pro nta difu são na área bras ileir a ond e prim eira men te se introduzi u a lavo ura do trigo ". Esse s moi nho s, no deco rrer do século XVII , não exis tiam em gran de quan tida de e, gera lmente loca lizad os nas v ilas, ben efic iava m o trigo de te rceiros. Mas, emb ora tam bém já exis tent e nest e m esn10 século~ n? segu inte diss en1i nam -se os moi nho s de sítio , "[. .. 1 isto e, P quas e na fase de decl ínio da lavo u ra do trigo , que deve ter sofr ido rude golp e com o esco ame n to de 1não -de- obra p:r~ as lavr as de ouro , a part ir do ú ltim o dec ê nio do Seiscent os · Ap esar do dec línio da lavo ura de trigo , a pro du ção de l30 _ f ann · h a Ja · -- havi·a sido sufi cien te para cola bo rar cotn ª imP.. ta - d · çao e uma infr a-es trut ura de equ ipa m e nto s es t r.ange ll O5' 5as q ue pod · . ada d · Assi m, es ena ser apro veit com o u tro p ro uto. de máq u· inas pass aram a ser utili zada s p ara o be ne fic iame.nto 'trias: OUtr o " ge nero , e dess a vez orig iná rio das ter ras ame rtCt 164 ,. . Tanto os equipan1entos , explica O hi storiador "[ ] . • 1· .· . ' ... o as técnicas e os usos 01 e 1na11a111ente relacionados conl cot~~:du.ção do trigo, i~clusive o pró~rio pagame nto d a 111 aquia 3 ~ moleiros, transfenran1-se quase inte gralmente para O trata:io, to do milho " .58 Assin1, t e n1os un1a inte re ssante c ombi1nen d d. ,. . d f . dentro a 1nan11c-1 a ronteira . Nas palavras de Sé rg io naç a0 . Buarque, "ten1os, n e ste, rn a 1s un1 do s casos , ali ás pou co fre üentes, da assin1ilaç ã o de un1 a t é cnica adve ntíc ia a um ~roduto nativo durante o período colonial" .s9 }111 /bO , o milho, o dito produto nativo, g a nhou tal centralidad e na sociedade do Planalto paulista - e na verdade não só nela, mas desde o sul de Minas Gerais até ao sul do país que sugeriu a Sérgio Buarque, para se referir à sociedade do além-serra , a expressão civilização do milho. Embora essa civilização tenha incorporado as n1á quinas e técnicas adventícias - que originaln1ente foram constituídas para a moagem do trigo - para o tratamento d o p ro duto nativo, essa transfe rência de máquinas e técnicas "não afetou, tanto quanto se poderia esperar, os hábitos alimentícios da população", pois "[... ) a preferência geral [entre índios, mestiços, brancos aclimados) continuou a dirigir-se, não para o milho moído ou fu bá , que se destinava, em geral, aos escravos, mas para o grão pilado ou apenas pelado ao pilão, de acordo com os métodos usuais entre os índios". 60 O fato é que o milho moído, o milho de moinho, ficou associado à comida de escravos negros e dos anin1ais don1ésticos. Um documento anônimo de 1747, depositado na Biblioteca Municipal de São Paulo, indica que os produtos do milho preferidos nas minas gerais e, possiveln1ente, no Planalto paulista , segundo conta Sérgio Buarque, "em sua totalidade, prescindiam de moagem, por conseguinte de uma técnica sensivelmente estranha aos usos tradicionais e indígenas de tratamento do cereal" .61 Ou seja, os produtos dependian1 apenas de pilagem e outras técnicas como o cozimento, e não da moagem. Sem contar os alimentos que dispensavam qualquer tritura ção prévia do grão, "con10 era o caso do n1ilho verde, que se come assado e ainda em espiga". O milho verde, dessa ~ez triturado, dava ainda, "(. .. ] o curau que se fazia com auxílio 0 pilão , socando o s grãos ainda en1 leite e cozendo-os. Do b~gaço, amassado e posto embaixo das cinzas do fogão, faziam-se ainda as pamonhas" .62 165 ·•ncipal co nt rib ui çã o do mi lh o pa , ~ . vi nh a ra no a ct· en ta nt o, do s l' tas pi o gr ao s 1·á an--. , l~ta ,., . . pau lad l ente da farinha de u mi lh o "p ro pr iam en te ct· reqclo \\{.) rinc1pa 111 (\ s ' " P~ ,da Nas ininas era o ve r da de1.ro ~ tta' ' pa o da terra" e, , G\.l s~·\) ~ , nao mo1 . ,. l lto su bs tit ut a ge ra tn en t e a i e e ma nd io ca " ' e en1 tac1la, 0 plana d . . . . . vimos, teria sid o um ,. .os pn nc 1p a1 s pr od ut os na,t·que , c:0111() . s s · C) pora d o pe los advent1c1os no 11tora 1 e no No rd es t lVo b 1ncar. e ras 1·\ . 0 milho, po rta nt o, foi o P~ ?d ut o na tiv o qu e entro u na e'.ra. dos ma me lu co s e, en 1b or a Jª p~ de ss e se r beneficiado dieta ' quinas adventícias, co m o o 1no1nho d'á gu a, contin mª carn ,. . referido sob o tratan1ento ap uou se en as de tec n1 cas indígena p n.do · d e m1·11 ara fabricar a fa rin ~ f ,, ha s. A 10 , e na o o ub a, ss1 rn P "pilav , . grãos , de po is de po sto s po am -se r al gu ns di as de molho, a fim ~s se tor na rem n1enos re sis ten tes . A ma ss a res ult an te era t e . nu m gr an de tac ho de co br e d orrada e epo1s pa ss ad a po r uma pen . de largas ma lha s, a su ru ru ca ,, 63 eira . Mas a P11 i: ll Po uc os re cu rso s do Ve lh o M un do fo ra m introduzidos pe\ o ad ventício pa ra o m el ho ra m en to de ss as téc ni ca s, devend o-se ao eu ro pe u, qu an do mu ito , "a in tro du çã o do forno ou tac ho de co br e, us ad o na fa br ica çã o de fa rin ha " .64 Somente mais tarde , já no sé cu lo XVIII, fo i in tro du zi da um a melhoria significativa, um a ve z qu e "o sim pl es pi lã o de madeira, herdad o dos ind íge na s, ap er fe iç oo use no s vá rio s tip os de monjo lo, originários, to do s, do ex tre m o or ie nt e" .65 Ainda qu e um a téc ni ca ad ve nt íci a, o monjolo, dado às sua s se me lh an ça s co m o pi lão m an ua l, ve m qu as e que, com o diz Sérgio Bu ar qu e, ap en as ap er fe iç oa r o re cu rso indígena. Mas, antes de pr os se gu ir, co nv ém ex pl ici tar em qu e exatament e consiste es se m aq ui ni sm o em se us do is tip os básicos, 0 de pé e o de ág ua . O monjolo de pé consiste em um to co (''virgem ou pasmado' ') firmemente en ter ra do , co m um a fo rq ui lh a es cu lp id a no topo, na qua1 gira o eixo («tranqueta , · ou ca vil ha ") em qu e se apoia umda "b ta ua co mp rid a (« ha ste "). Na a ex tre m id ad e da ha st e ~0 lta para o « 1·1- ,, ,, ' 0 P ao , es tá en cr av ad o um ce · ("mao ). po cil índ ric mon1· ol · o ra . eiro, qu an do o eq ui pa m en to f'ici· nte Pª ' é pe cair com f sa do o su e . do . orça, po de fic , ~ 0 5ubtn ar na ex tre mi da de op os ta a ma ' na h aste e\~1 . pa ra 1ev an tá- la e de sc en do . ·r qu e caia sobre pa ra permiti o ' senane· '\ão. OLI, ~ ce re al de po sit' ad o no in' 1 ter io r do P . a qu e ~1 10 po e- se de pé , em cim a da ha ste , de maneira 166 l .,, ique entre os dois pés.. Quand o se inclina para um queta f rran f força sobre a. ponta livre da haste ' a mão levanta .' . do e az la . quando se 1ncltna para o outro, a n1ão desce e bate ,. . lo d e agua, depois, No caso d o n1onJo como o próprio Sérgio 1 . cerea • e esclare ce, o 1nesn10 movim ento no 1warqu é proporc ionado L•.1 pela queda da água sobre a extremi dade da haste oposta à da mão . Para isso ela traz uma cavidad e apro- priada, o 'cocho ', que , ao encher- se de água, desce, forçand o a mão a subir. Mas ao descer, com o peso da água, despeja -se esta, e a mão, por sua vez, irá cair com fragor sobre O cereal 66 deposita do no bojo do pilão . Após desenv olver erudita s consid eraçõe s sobre os trabalh os do estudioso portug uês Jorge Dias acerca das condiç ões e épocas do apareci mento e dissen1inação do monjol o na Europa, Sérgio Buarqu e, opond o-se a seu interlo cutor, lança a hipótese de associa ção, no Velho Contin ente, entre a difusão do monjolo d'água e do arroz, produt o que, no oriente asiático, 67 se acha estreita mente vincul ado àquele mecani smo. Dessa maneira, o uso do monjol o para pilar o milho seria uma transferência de maquin ismo de um produt o para outro, tanto na Europa como no Novo Mundo . Aliás, no caso brasile iro, "[. .. ] a existência [. .. ] de arrozai s, desde os tempos da colônia , terá facilitado ainda mais do que em Portug al a fixação e dissem inação desse maquin ismo asiático , a ponto de se ter ele integrado, cabalm ente, em alguma s das nossas paisag ens rurais mais características". 68 Portanto, é prováv el que - e aqui voltam os mais diretamente ao nosso assunt o - , com o cultivo do arroz, também tenham sido introdu zidos "os maquin ismos que, no Oriente , se associavam corren tement e à sua produç ão e benefíc io". Mantendo, então, a associa ção entre o monjol o e o arroz, Sérgio Buarqu e susten ta a hipóte se confor me a qual o uso "~o menos do monjol o de pé" pode ser fixado em fins do seculo XVII. 69 Desse modo, podem os dizer que, por mais uma v:z, foi associa da a um produt o advent ício que uma nova tecnica foi introdu zida no Brasil por essa época, seja se considerarmos o monjol o de pé, que pode ter vindo diretam ente d_e Portugal, seja o de água o qual origina l da Ásia, pode -ter ' ' . . sido introdu zido na Europa "em resulta do das navega çoes 167 nça en1 rel açã o ao n1o inh o é qu por tug ues_as ,, .70 A dif ere ~ . . . e, ag0 r, . t ·ui nen to e for ten 1en te 1nc o1p ora 0 nov o 1ns 1 do no trat , a, . ªrnent do mil ho, o pro du to nat ivo . o Se lern bra rn1 os tna is un1a vez do n1o inh o d'á gua , já intr a du zid o e 1n ter ras pau list as en1 co111e ços ~ do ~éc ulo XVII, ~ let nb ran no s tan1bén1 qu e sua co nst ruç ao na o pre cis a c.l mu ito tna is qu e O exi gid o pel os n1a is con 1pl exo s mo njo los : de se cha n1ar a ate nçã o a pt~ efe rên cia po r ess es últi mo s. s'ua dis sen 1in açà o foi ráp ida , poi s (... ] já em fins de Set ece nto s, fala -se na pre sen ça [do monjolo] em sítios mu ito dife ren te~ e apa1:tad?s uns dos out ros . Sempre, e, cer to , den tro da vas ta are a pri me iram ent e des bra vad a e e ' m gra nde escala, pov oad a por gen te de São Pau lo. Isso sugere a rapide z com que se teri a dis sem ina do ent re nós um instrumento que não req uer mã o-d e-o bra num ero sa e é cap az de tornar mais eficazes, sem alterá-las sub sta nci alm ent e, as técn ica s indígenas de elab ora ção de um pro dut o ind íge na. 71 (Ên fas es acrescentadas) Esse par ece ser, poi s, um cas o ma rca nte de sel eçã o de técnic as adv e ntíc ias a par tir das nec ess ida des e do s rec urs os e cos tum es pré vio s. Ca be um a rem iss ão, nov am ent e, à dinâmica da fro nte ira, a qua l, po r sua vez , ass oci am os ao "es toq ue de cre nça s" de De we y. Po dem os diz er, a par tir daí , qu e a incorporaç ão do mil ho e do pil ão equ iva lem a um pri me iro mo me nto da exp eri ênc ia de fronteira, ond e, pel a sua rad ica lid ade , predomin a a com ple ta ada pta ção do adv ent íci o ao nat ivo . Apenas num seg und o mo me nto há a rec up era ção do leg ado eur ope u , nes se cas o, atr avé s da inc orp ora ção do mo njo lo. A eleição de ste, e não do mo inh o d 'ág ua, oco rre po rqu e ele é igualmente cap az de tor nar mais efic az as téc nic as ind íge nas de preparação do n1ilho, sem , con tud o, e ao con trá rio da mo age n1, alterá-las sub stanc ial me nte . O mo njo lo foi, po r assin1 diz er, ma is adequa do par a O seg und o mo me nto da fro nte ira . No limite, quase se pod e par afr ase ar W. Jam es, qu and o fala do fun cio nam ent o da me nte , diz end o que a mo dif ica ção do est oq ue de técnicas e rec urs os oco r , , .~ . re, e e ate um a exi gên cia dia nte de nov expeas n enc1as e nec e 'd d ssi a es, ma s nes sas mo dif ica çõe s pro cu ra-se pre ser var ao má · xim o os rec urs os pré vio s. Gra ças a ess a r . . pça~ o sel eti va e org âni ca a, v1c 1a n a froW teir a, o mon1·olo ece b ,, . , nao o sta nte sua ori gem as1. at1 ca, 168 . li·mar-se tão admiravelmente em nosso rne10 . rural e .. . _ da te11 a, que pareceu logo pi aus1,ve 1 a [...l dar-se às cond1çoes . 10 _ aco11 ._ de que já tena entrado com os primeiros colo nos.. E nao in1ao . 1, esmo quem , como John Luccock chegasse ,a JU oP ga- 1o . JtoU 111 , :f.1 . les procedenc1a md1gena. Essa acl imação e adapt açao esta , . de s1111P ada sem duvida , ao fato de . se ter reve lado aux 1.11.ar . . , relac1011 • . . . 1 qu ase msubst1tu1ve l,. em muttos lu gares , no p rocesso serv1ça , de elaboração de_produtos altmen~ares qu e constituíam a verdadeira base da dieta de uma pa1te bastante considerável da vi ri a ac A - • • , ' 72 populaçao . como as pirogas ind~genas toldadas, qu e vimos anteriorutilização no pilar creio que o monJolo e sua extensa . ,. . . f representa de orn1a viva a d1nam1ca evolutiva na . o !111 1110 fro nteira. Pudemos ver como uma população que se adequou à dieta nativa , tendo preferência por um de seus produtos, pelo milho - preferência esta que, pela rápida germinação e fácil conservação do produto , esteve associada, não esqueçamos, a sua adequ ação à vida andeja dos mamelucos -, adquiriu também, com esse produto, o uso do pilão manual - um instrumento indígena. Posteriormente, no que temos chamado, um tanto esque maticamente, de segundo momento da fronteira , implantou u1na técnica adve ntícia que aperfeiçoasse a original da terra. E, neste último ponto, a preferência do monjolo ao moinho pinta, com cores vivas, esse aperfeiçoamento qu e recorre a conhecimentos e técnicas do legado europeu sem romper de forma absoluta com os co 5t umes e técnicas adquiridos dos nativos no primeiro momento da fronteira. 111 ente, 1 MONÇÕES E DISCIPLINAMENTO Já é possível focalizarmos o mesmo tema, o que temos · a par t·ir chan1ad O de segundo e terceiro momentos da frontetra, d , e um ponto de vista diverso mas absolutamente imbricado à a enfase d d , ª ª as transformações tecnológicas. E, ch ega d a ª h or d e anali sarmos a formaç ão dos homens envolvi'd os na con qu· 1st · d e u m novo olh a, do o este, o que é possível fazer a partir ate ar aquelas frotas de comércio de que falávamos há pouco , onduziam . . ntando ag ora para as pessoas que viapvam e e as ca f l mos da noas d ind'igenas toldadas e protegidas. Ao a ar escolha faz-se e uma rota fixa e das modificações operadas nos barcos, . a referência aos novos persona gens qu e necessá na 169 expe diçõe s de fund o emin entem ente e •am nessas . ornerc:·1 segui . con1 o não pode d eixa r de ser c·t al, sendo assim, , 1 arnos e, . Se em gran de parte , os prog resso s implo , . 0111 erc1ante. . ªntad o c f ·am respo stas às ex1g,..encia s de nova s s nas canoas o1 . . cialm ente O acon dicio nain ento dos mantinecessi dades, espe . rnentos _ para co nsumo dura nte as long as viag ens e para vend a nas . ram a esses novo s perso nage n . mmas -, tamb ém se deve ,. . s via. las trans form a , iantes. Como afirma Serg io Buar que,. aque . Çoes ser opera das n a cano a deve riam . ,. . sufic iente s. "[ ... ] para qu e se possam tornar O veículo ?rdi~ ano de come rcian tes, mais cautelosos , sem dúvid a, e mais exig ente s do que seus precursores · os band eiran ' tes )) .73 Esse perso nage m, caus a e cons eqüê ncia de todo esse grande empr eend imen to que foram as mon ções de comércio, repre senta , na verd ade, o iníci o de uma nova mentalidade em um meio hosti l a ela, pois o arbítrio e prepo tência dos gover nos, as leis fiscais opressivas, a vida econô mica embr ionár ia e m muito s dos seus aspectos, não são os único s emba raços que, n o Brasi l colon ial, se opõem ao tráfico regul ar e metó dico. Costu mes e preconceitos de uma população ainda mal afeita a consi derar o comé rcio como atividade respeitável const ituem uma barre ira, por vezes intransponível, à expan são dessa ativid ade. 74 (Ênfa ses acrescentadas) Com outras palavras, volta mos a enco ntrar o noss o mote lançado desd e o iníci o do traba lho - do amo r ao ócio antes que ao negócio. Num meio onde o com ércio é mal visto, nosso perso nage m - diant e, por exem plo, de com prad ores que nào pagam - se deba te para inver ter o dito e se dedi car ao negócio. E.m meio ª uma série de dific ulda des "os mais habilidosos ~nd ª conseguem venc er e acum ular cabe' dais" . É certo, contudo, que .essa trans fo - a inve . ~ rmaç ao, rsão do n1ote, nao e,. somente movi da pelo r't 1 mo d a fronte ira até porq . ue nem todo s os c0 rnerciantes têm orige m na soci edad e que se vinh a constituindo no Planalto 1· . pau 1sta, pois, na reali dade , [... ) sobre tud 0 . 0 já est· . ª partir de mead os do sécul o XVIII, q uand. dos a mais regul • d da met anza O o tráfeg o fluvial algun s são rece- 01. -vin câl· ropol e e t - . e cuJ 0 aind razem habtt o de previ'denc1 a, parc 1010~ n1a . ..,,,e11 re a mal acl.1 , d ma os naqu ele sertã o remo to. Efeova11• A 170 • • -o numerosos , e ntre essa gente, os ape lidos de fa míli a sa .. ein São Paulo. 75 11 :10 d·cioníi lS [fil I co m a a ju da d esses p o rta dores d 'd . . e 1 ea1s ,, ,, . 1da :iss1111 , Ali d Velho Mundo, e poss1vel qu e se fa le e m mud anças f . •dos o rr:1z1, . geradas , e e t1va111e nte, p e las novas atividad es e . 'd 'b 'l' d ]1ab1toS de reend'1111 entos poss1 1 1ta . o s, ex 1g1 os mesmo , p e la v1·ct-a emPfrontell. ·a· por isso , ao ab ord a r o s resultad os das mo nçoes, ~ . Buarque pode fa la r de "u111 a raça nova , portadora d e . d' ~ ~era10 , " ·deais novas tra 1ço es, nova m e ntalidade _ mental'1• _ , novos 1 de de retalhistas , n ao de ave ntureiros ou conquistadores. d . ,, d ~ da fato é que as monçoes e povoa o Jª n ao pe rtence m à r o d . ,, 76 história das ban eiras . Esta raça nova já não se ide ntifica completamente com 0 natirn , como no caso dos b a nde ira ntes, quando "o próprio primitivismo do seu viver protegia-os do primitivismo do adversário".n Agora sim , conforme obse rva Sérgio Buarque em seu Extremo Oeste, "é o confro nto de duas humanidades tão diversas, tão heterogênea s , tão verdad e iramente ignorantes [... ] uma da outra, que nã o d e ixa de impor-se entre elas uma intolerância mortal" .78 Tendo-se em conta os argumentos resgatados da obra de Richa rd Slotkin , no primeiro item deste capítulo, e mesmo as observações de Sérgio Buarque sobre a diferença de intensidade na adaptação do adventício ao nativo no caso norte-americano, é interessante notar que, se neste caso, mesmo no momento de m a is forte adaptação no encontro entre duas civilizações mantém-se constantemente a idéia de confronto entre duas humanidades distintas - conforme su st entavam os pu rita nos - , na conquista de terras brasileiras eS tª profu nda diferenciação só se d ará mais tarde, no que podemos . . considera r como segundo momento d a f ronte1ra · Ressalte-se que a nova me ntalidade surge de uma contínu~ · , d e adequaçõe s às lentas mu d a nças das necess1experiên eia d e rgentes de . . . d ades e t' ganho N irando partido das poss1b1lida es e m · as palavras de Sé rgio Buarque: te os qu e p artid . . Sern r b 'ções enuncia r à ex istê n cia m óve l do ban e!fa n ' A . tem am i G . c1parn d 0 . e ne rgi a rosso . comé rc io d e Cui abá e Ma to rn . 1 d a s1mp es ., - , ais dis . 1· inct· . cip ina d as. Um ritmo qu e ,a n ao e O . 'd d A própria a auv1 a e. d lV1dua11· . opressões. ivre d e expa nd ir-se re gula to a su Vict, h· vo s , a novas . . r-se n e les a limites a a de su1.e 1ta no 171 . . d. , os ú n ico s e,n . . freios t \ ,jnos . e na tur ais , . . . . Aos d' 11 mu ito s do s set \j d ta nis tas de , o u tr t ea ree n ia1 . ªde . co111P . d ve z ma is po de ro ora ' sa s, as t1r .. 1 -se ca a an ias le . ' acresc eC.\1.IQ . , . 1,1n . . da vid a so oa ga 1s e . 11ta. l e po 1tt1ca, as 1m po siç normas ' )llrí (li as pri ch osa s do s go ve rn an tes . . cas Ap en as su a oe s fr eqGent mente ca ' . d' f .. . , ua a pa ren te 111 1 ere nç a as corage e. a me · aç q utla e s as . . ,, . . . . . , ao s p 111 . . tran. res ca tas tto fes., ind mu iras v eze s ' às m.,aio ica m q u , er1g . 0s . . :- . . sepat aç ão mu i to ni ttd a en. tte o an im o qu e ge rou e nao h:a um.e, a . ba nd eir as e o q u e 111 . . sp11 a as na ve ga ço, es do tnovi d as . n1ento dec urs o do séc ulo XVIII. 79 o Cuiabá no Essa co rag ein tra nq üi la do ba nd ei ra nt e, q ue pe . . anece no 1n on ço eir o , ven1 no s le1nb1 a1 qu e a n1 ud a n ça de rm menta\i . da de é pr om ov i da sen1 um . co rte ra di ca l. O av e nt ur eir o e . ., . ind ivi du ali sn 10 an ar qu ic o - d'ig a- se d e p a ss ag en seu . ., h ., 1, aqu me sm o av en tu re iro qu e Jª av ia m os en co nt ra do em Ra e1e ízes do Br as il- tra ns fo rm a-s e em re tal hi sta , o ó cio co me ça a ceder lug ar ao ne gó cio , no pr óp rio rit m o do de se nv olv im en to da so cie da de de fro nte ira . Mas, e os ou tro s p er so na ge ns fu nd am en tai s de ss e empreendimento? É ce rto q u e ne m to do s os qu e se a rri sca va m nas via ge ns pe lo s rio s er am co m er ci an te s pr op ria me nt e ditos na ve rd ad e, a mi no ria - qu e vi nh an 1 de fe nd e r se us pró prios int ere sse s. De m od o ge ra l, ca da ba rc o tin ha um a trip ulação co mp os ta pe lo p ilo to, pe lo pr oe iro e po r cin co ou seis rem eiros qu e se gu iam , to do s, de p é - a fo rm a pr ed om in an te entre os índ ios de to do o Co nt in e n te - , na p ro a do ba rc o, tom and? em tor no de do is me tro s e me io d o ba rc o qu e co stu mava medir 13, 14 me tro s, ou até 17. Al ém de ss es , a tri pu laç ão contava co m um gu ia ou pr át ic o, às ve z es do i s, qu e, en tã o , tra ~alha va m alt er na da me nt e. Al ém da ca rg a qu e fi ca va ac nd o iciona da no ce nt ro da ca no a, es sa tri pu laç ão d e 8 a 10 ho co nd uz ia me~s ., um nu me ro nã o mu ito m ai · os or d e p as sa ge iro s , qu. ais "a mo nto av am -se " na p op a. Po sto qu e es sa s ca n oa s seg unm em fro tas · , 1 · . . ~ , iss o sig n ifi ca qu e as m o n • m de un çõ e s n e ce ss ita va nu me ro l · re ati va me nt e gr an de d e t ra b a lh a do re s . No br ev e e ,, 1 " traça u . " ., .o Bu arque ap nu O Se rta nis tas e M ar ea n tes 1 , Se rgt b ando, e~ P _m 1:1Pressionante ret rat o de ss es m on ço eir os, tem r, e se nm e1 ro lu em pr eg a ens qu ga r, qu e "o en ga jam e n to d os h ot n va m na cli ções m rei ún as t . ar ea ge m , es p ec ia lm e nt ex pe e em ,. qu ele 5 recrutam' em m ais d e u m po or n ª/lebres nt o d e se m e lh a n ça e en tos milita re s d a me sm a er a tã o tri ste me nte ce ' 172 1 •stória de São Paulo".ªº Como nos recrutamentos militares na l11 ão paulo, que, nos tempos em que o general Antônio em S Franca Horta f01. governador, chegaram a ser verda- / da caçadas de hornens, os tripulantes eram ' muitas vezes , _djo~~'ls ell c• 81 forçados a partirem em viagens. Cabe, no entanto, chamar a atenção para o fato de o autor escrever que assim se dava ~' especia lmente em expedições reiúnas", ou seja, nas oficiais. Embora casos assim não deviam deixar de existir nas monções comerciais e de povoado, com a lembrança que esses homens eram aventureiros e que , con10 tais - para usar os termos de Simmel -, tinham u1na visão espaçosa do mundo, é bom observar que, muito provavelmente, não desagradava de todo a esses remeiros partirem para terras distantes que, aliás, diga-se de passagem, poderiam guardar tesouros fáceis quase à superfície da terra. Mas, de qualquer maneira, com essa observação não se deve perder de vista os recrutamentos forçados e as viagens indesejadas, mesmo nas monções não oficiais, nas quais os tripulantes podian1 ter seus interesses, ainda que não tão claros e certos como o comerciante. Assim, com homens engajados, muitas vezes, por vias arbitrárias e violentas, não é difícil imaginar a dificuldade de mantê-los ao trabalho, inclusive [... ] conta-se de muitos remadores que, trabalhando ordinariamente nus da cintura para cima, costumavam untar-se de gordura, a fim de não poderem ser facilmente agarrados quando tentassem fugir. Junto aos pousos, onde os navegantes passavam as noites e mesmo parte dos dias, colocavam-se freqüentemente sentinelas de ronda, para impedir as deserções. 82 É bom enfatizar que esses homens encontrados aqui são, em certo sentido, os mesmos que acompanhávamos há pouco, no item anterior, numa vida andeja, adaptando-se ao modo de vida indígena, pois "as prim e iras monçõ es do Cuiabá deveriam recrutar a mesma gente fragueira e turbulenta qu e constituíra as bandeiras do século XVII" .83 Por isso, Sérgio Buarque pode afirmar que "não parecerão excessivas tamanhas precauções, quando se saiba que a escolha dos tripulantes recaía, geralmente, sobre indivíduos pouco afeitos a qualquer ocupação útil". 84 Logo a seguir, abrindo quase um parêntese no texto e recorrend0 a um enfoque que, a bem da verdade, não é muito 173 ~ qui sta do Oes t com um nes sa S sua s obr as sob re a con . . e, Sé . ão da obr a de Cai o Pt.a d o Jun ior Fo Bu arq ue 1an Ça' m rg10 . do Brasil Contemporâneo, pu~ li~a da P?u cos ~no, r,na "' s ante/ªº esc rev e que "os pro pno s v1c1os do sist ema Mon çoes, e de . d econ " . de pro duç ão tinh am cria do, em to o o Brasil col .o. mic o onia.\ uma ime nsa pop ula ção fl~t uan te, sem pos_. _ 1ç~o social nítida., v1.ven do par asit aria me nte a m a rge m das at1v1dades reg u1ares, e rem une ra d 01.as " .85 Cre io que esse enf oqu e a par tir do s_istem a eco nôm ico d rodu ção evo cad o pelo auto r não con trar ia sua próp ria inter e P ,, . pretaçã o e pod e, de fato, a e 1a ser arti.cu 1a do: o pro_pno movimento de exp ans ão par a Oes te trat ado com o exc eça o, as andanças ban deir ante s que se orig inam de um a fron teir a mal controlad _ con form e vist o no seg und o item do Cap ítul o V- , é exata~ men te uma con firm açã o da exi stên cia de um a população exc luíd a do sist ema eco nôm ico. Con tud o, o raciocínio que Sérgio Bua rqu e des env olve sob re os mar ean tes, que temos lido apr oxi man do de asp ecto s da tese de Tur ner , não é comportad o pelo qua dro arm ado por Cai o Pra do, aca ban do por tran sbo rdá- lo. Vej amo s esse pon to dan do pros segu ime nto ao estu do da narr ativ a do auto r. Sér gio Bua rqu e per man ece des cre ven do esse s homens "po uco s afei tos a qua lqu er ocu paç ão útil recr utad os para o serviço das can oas, e, na des criç ão, pod emo s enx erga r aqueles ban deir ante s do séc ulo XVII sen do obr iga dos a modificar gra dua lme nte seu mo do de vid a par a se ada pta r ao novo trab alho - um serv iço irre leva nte se obs erv ado com os olhos que vêe m o sist ema eco nôm ico vol tad o par a fora. No ponto de part ida enc ont ram os mui tos trip ula nte s que , criados na ocio sida de e inad aptá veis à disc ipli na rígi da que requerem tais trab alho s , 11 L.. ] parecem fazer jus às acusações frequent .. es que ontra eles se c _ presen- levantam em doc ume ntos sete cent istas . , on d e nos . sao d aourante tados como criminosos, amotinadores e insubord ina osde escala as viagens, era prin cipa lme nte em terra, nos pontos rdadeira . ona, , . que esses home o bngat . . am sua s horas. de ve ns v1v1 de carta s, animação e alegria, entr eten do-s e às noites nos Jogos f lguedos, nas músicas, nas danças nos desa fios e em outros ºansar. AS de modo que era pou co ' o tem po para dormlf • e desc , go tumu.Iexpansões alentadas pelo álcool tinham, não raro , ~pi 1Ovigilânc 1ª t uoso, e enta- o tratariam . . ous ado s d e iludlf a os mais da guarda, esca pan do para os matos. 86 174 ,,.. . ent ant o, é ape nas o pon to de par tida d o rac10este, . ele pro sse gue com o que inc orp ora nd µ o as novas . . po1 5 . , dos nos ao _ ',,, ct·as pro por cio nad as pel a nav ega ção cín'ºnen d 0 ~pe do a term ino log ia de. Wil liam Jam es _ est oque e rren env olv ido s. Ou seja , os trip ul ante s, reco ~ s dos hom ens . . . ,i<,a 1ent a ou a par tir de seu s difusos v10 eira man de c,e a··ados . er nov as exp eri'e"' neta ntu reir o, pas sam a viv s eng J sse 5 de ave . ,, _ . itere que s ncia eriê exp o, barc aço es ada pta das 11 . ao com.erci as em lado da resig. tn 0 trab alho en1 con Jun to e arti cula do ao nx1oe cea me nto de mov ime nto s e ' tud o e ~ pro voc ada pel o cerl'd d 1açao mar ean tes. De dete rta i a e des ses vem alterar a men '. . f d . 1sso, a em açã o ' mai s teir ron a o sen a tinu con , .111ada maneira 111 segundo momento , mad. o de seu ente o que tem os cha cam · 'fi ~ ,, espe c1 tran sfor maç ões is na verd ade , o que esta em Jogo sao as a de ~s ~renças dos ato res que resu ltam da pró pria dinâmic ado ra de um conquista do Oes te, no que ela tem de pro pici nec essi dad es ambiente de cria ção de solu çõe s par a as nov as ada ptat ivo ao e novos interesses, cria ção que tem algo de u. E, nisso, é nativo e também de reto mad a do leg ado eur ope melhor passar a pala vra par a Sér gio Bua rqu e: 00 õe o serta nista para Todavia, os elem ento s de que ago ra disp men or mar gem ao alcançar sua terra de prom issã o vão deix ar itáv el pens ar que o capricho e à inic iativ a indi vidu ais. É inev uma ação disc iplirio, que as long as jorn adas fluv iais tive ram e o ânim o tradicionadora e de algu m mod o amo rtec edo ra sobr próp ria exig üida de nalmente aven turo so daq uele s hom ens. A niza r o tum ulto , de das cano as das mon ções é um mod o de orga entâ nea conf orestimular, senã o a harm onia , ao men os a mom ncia dos espa ços midade das aspi raçõ es em cont rast e. A ausê o espe tácu lo ince silimitados, que con vida m ao mov ime nto, rcep tam à vista o sante das dens as flore stas cilia res, que inte tade s part icul ares , hori zont e, a abd icaç ão nece ssár ia das von cos ou de um só, onde a vida de todo s está nas mão s de pou na men talid ade dos tudo isso terá de influ ir pod eros ame nte Se o qua dro dess a aventureiros, que dem and am o sert ão rem oto. em sua apar ênci a, gente aglo mer ada à pop a de um barc o tem, rdem das paix ões qualquer coisa de deso rden ado não será a deso 7 issa s e resig nada s.ª em alvoroço, mas ante s a de a~b içõe s subm e1as d os diz er que as mu dan ças no esto que d e 1'd,,. e-se Pod sena . ,, .a d e . luta d.1an s vão se o per an d o a par tir da pro,, pna nista · . u conq 1sta do Oeste, ade qua ndo técnicas e recursos par a sup rir 175 i . i des 30 1nes n10 te mp o e m qu e es _ . ccess 1c a , .. sas l1'l n ·sos J Joss ibtl1t 110,·:1s am, e1e s u a p a rte e esin . e recUl . . , Xper' ., a~ récn10 1s ,, qu e oe rmite tn e exig e m a mud a nça d 1en('ia bétn novas t rntn . . be m di reto sob re o caso e m qu esc e '11 enta.~ ·J k Pata se i . 1t aL · ) iroga s ind íge nas told ad as, p e rco rre ndao ' bastaria d'12 er que as I • lado do orde na1ne nto d as paixõ es dos o un1ª l'Clta 30 ·ixa cfao-s e• l ' · 11a l11po · ,, tese fund senan1·Stas . , ciissc e essa e,, 111111 am ·. Como J3 - ' , . enta] , . ,. . a cfa fron teira q u e esta e n1 Jogo aqui e em últ· d,na1111c, ' 1n1a, 1ta ,. . ,, ela que pern1ite essas n1ud an ças no estoq ue d " n). tancia, e , e cren .d , •as Posto isso co nve n1 re to1na r o brev e come nt' . Ças e 1 e1 . · ' ." . ,, . C[ue fize mos há pouc o sob re a re fe t e n c1a d e Se rg10 Bu arquano e à obra de Caio Prado , obra que, no e ntan to, segu ndo d isse mos , . d . , . , nao oderia abarc a r o n1esn10 tipo e ra c1oc1 ni o d e quem . P O ,, . b ci ta Para concl uir esse con1 entan o, va 1e 1en1 ra r qu e O autor d~ Formação do Brasil Conte1nporâneo, no texto de abert ura d seu livro, "Sen tido da Colo niza ção" , a bord a de passage~ 0 trabalho de Fred erick Jack son Turn er. Aind a que breves suas palavras pode m deix ar m a is cla ro e m que medida ess~ fo rmação do hom em da front ei ra não é, e talve z nem pudesse ser, conte mpla da pelo autor . Ao tratar da colo nizaç ã o da Amé rica pelo s europ eus no fun do a cons tante de tod a no ssa discu ss ão - , Caio Prado cons idera que nas re giõ es tro pica is e subtr opicais do Cont inent e [... ] são trópic os bruto s e inde vassa dos qu e se apres e ntam, um_n natureza hostil e ames quinh adora do Homem, semea da de obs~tculos impre visíve is sem conta para que o colo no europ eu nao estava prepa rad o e contr a que n ã o con tav a com n enhum a . de fesa. Ali ás a dificu 1d ad e do es tab e le cime n to de europe us . ·1·1za d os . da ao livre civi nes tas te rras a m e rica nas , e ntre gu es am s ·J~go d a n atur e za, é comu m t a mb é m à z ona temp en' da .8 (Enfases ac resce ntada s) Essa afirm - ,, f' . açao e su 1cien te para a con1 parar mos e001 a tese da front · • 0 eira , ainda mais po rq u e Cai o Pra d o inclu i. no 01 esm ., caso as ,is n0 parte s temp e radas do Co n tine n te - como as ren . de rte-americ 1a co m 0 anas - , e de imed i ato p e rcebe -se a el'15parte . eiro Pe nsam e . prirn aspec to h" nto turne n a n o. Ou me lhor, nu m, orrne a urna f t . . força da ore apro x1ma çao, qu e d iz respe i·to a. en ,, urn natur eza N "host 1 t , 11 no ovo Mun do natu reza ' 176 r ido tambén1 para Turner - ou o civilizado se adapta erto Sent ' e erece - , mas, por outro lado, enquanto para Prado Junior ou pé "amesqum · h a d ora d o H ornem " , para o h'1stona . d or ameri1 ea d ~ cano é transforma ora e, ate mesmo, segundo a interpretação de Noble por exemplo, purificadora. Para ambos autores, e também para Sérgio Bua rque, o "colono europeu não estava prepa rado" para a co~ot;ização das "te:ras ame~ic~nas", n~ entanto , segundo a h1potese d a fronteira, a propna convivê ncia, mesmo violenta, com o nativo destas terras propiciava 0 ap rendizado necessá rio. Mas para não atribuir a Ca io Prado palavras que não redigiu, va mos continuar seguindo suas observações. Prossegue dizendo: Respondendo a teorias apressadas e muito em voga (são as contidas no livro famoso de Turner, Th e Frontier in American History), um recente escritor norte-americano analisa este fato com grande atenção, e mostra que a colonização inglesa na América, realizando-se embora numa zona temperada, só progrediu à custa de um processo de seleção de que resultou um tipo de pioneiro, o característico yankee, que dotado de aptidão e téc nica particulares foi marchando na vanguarda e abrindo caminho para as levas mais recentes de colonos que afluíam da Europ a. 89 Bastante próximo da chave de raciocínio calcada na luta entre barbárie e civilizaçã o ,9° vê-se que o ponto do autor tanto do norte-americano, Lee Hansen, como do brasileiro que o cita - é que o homem deve dominar a natureza, a adaptação significa sua derrota. A idéia de que a fronteira possa ter um caráter transformador - e positivo - sobre o legado europeu não é contemplada no seu raciocínio e deve ser considerada uma "teoria apressada". Em suma, no trecho discutido, Caio Prado concebe a discussão sobre a colonização do Novo Continente pelos europeus de forma diversa, para não dizer oposta, à maneira desenvolvida por Sérgio Buarque em sua obra sobre as entradas e bandeiras, nas quais, como temos visto, este autor explora a conquista do Oeste como um elemento dinamizador e transformador do legado europeu. E esta diferença, acredito, guarda relação com a escolha mesma do programa de pesquisa assumido pelos historiadores, levando Sérgio Buarque de Holanda a 177 duas década s de seus esforço s àq ueles qu e dedica r ao menos . . . Oeste e Caio Prado a, por ass im d'1zer, retroseguiram pai a o d " . " _ • , quando chega diante o setor 1norgan ico" ceder sua pesquisa ' ,, . , . ~ deixar de escreve r algum as pagina s notáve is amd a que sem . . plo a pecuár ia e as v ias de transpo rte e sob re, po1 exet11 , , . ,. io . 111 • tei·no 110 período colonia l. comerc Apenas para encerra r essa parte, con~ém ref~rça r ql~e, após termos aco mpa nh ado no ite n1 ante rior - . Bandei rantes, ,. • s 111 · d"genas e ada·ptação" - o sertani sta se adap tar tec111ca 1 quase comple tamente às técnicas e re~urso s dos nativo~ :m~ricanos, seguim os agora , de perto, mais um passo da dmam1ca da fron teira, no qual o adve ntício recorre também ao seu legado para atender às novas necessi dades e interess es surgidos no process o de conquista da terra. Provav elment e, o melhor exempl o desses passos seja a embarc ação de tronco adquiri da dos indígen as, ada ptada, no entanto , com toldos e mosqui teiros europe us. Mas não paramo s aí, e vimos que, lado a lado com essas mudanç as materiais, transfo rmaçõe s nas mentalidades dos sertanis tas se operav am. E, nesse ponto, bem podería mos ter recorri do às noções elabora das por Sim mel em The Ph ilosophy of lvloney em torno do conceit o de cultura . Para o sociólo go alemão há que se falar em cultura objetiva e cultura subjetiva, esta última para se refe rir à formaç ão dos indivíd uos e aquela relacio nada às "coisas que envolve m e preenc hem objetiv amente nossa vida" - como aparelh os, meios de transpo rte, produt os da ciência , da técnica e da arte. Deixa ndo de lado a problem ática da socieda de modern a - na qual há uma crescen te dispari dade entre uma cultura objetiv a altame nte cultiva da e a cultura subjetiva cada vez mais limitada compar ativam ente àquela -, vale ressaltar a organicidade prévia entre as duas noções , posto qu,.e na medida em que cultivam os as coisas, elevand o-as para alem de seus mecani smos natu rais , cultiva mos a nós n1esmos, ou, dito de forma rápida, "nos formamos ao formarmos as coisas".91 Voltand o ao texto de Sérgio Buarqu e é import ante reter ess_a organic idade das transfarmaçõ es m~teria is e espiritu ais, P?1s, ne ste caso, "não é só o empreg o de meios de locomo ção diversos é tamb,, . . ' em, e prmcip alment e, o comple xo de atitudes e compor tament os d · a d os por , eterm1n esses meios o que fara., compre ender a d' t' ' . is mçao essenci.al entre a primiti va bandeir a 178 r ,-...,.__ -ão de po vo ad o" .92 As sim um a fo rm aç ão do s su je ito s · . .·c_ios . ,1 ,11011<; e· na co nq uis ta do Oe ste oc or ria de um a ma ne ira 1,,o h i 1 c . , , ve zes ím pe rce pt1,, ve l , as . ~ pa 1x oe s se or ga ni za va m e os ,11u1ta:; . , -se s se fo nn av atn , con1 a " . "' co ns 1s ten c1. a d o co ur o" , e na~ o . 11 c 1cs~ , '. ' do ferro ou do br on ze . En1 "' . su a co nf er en cia 1 no Cu rso d e ' i .,· • \ogia ao le1 nb rar da p as B·111l L 11 O sa ge m de . M on çõ es on de se , . ~kri a ~s de so rd en s pr ov oc ad as p e los ma re an tes e m Po rto 1 ~eli z, 0 po nto de pa rti da da s via ge ns às mi na s, Sé rgi o Bu arq ue Ft ·ei·va qu e "e ntr eta nt o es sa ag ita çã o d e su pe rfí cie nã o de 0 1s ve esc onder-nos a fu nd a tra ns fo rn 1a çã o qu e se ia op er an do ao s poucos na me nta lid ad e de ss es no vo s se rta nis tas " .93 179 e A T p u L o DO Ot~Tt t AfO~MA~~~ DA MtNTAllDADt CMlrAll~i~ A CONQUl~TA à análise do resufrt·a este capítulo é dedicado . . Numa pa la\ , acompanham nquista do Oeste brasile1ro os ,, que ta do d a Co em alguns de seus n10111entos no Capitulo VI. Agora, aquele diálogo de Sérgio Buarque c~m a obra d_e Weber iniciado já uando discorríamos sobre Raizes do Brasil pode ser reativado. ~esmo que em Monções e Caminhos e Fronteiras este diálogo nunca ocorra de modo explícito como no ensaio de estréia ' sua retomada neste momento pode esclarecer um pouco melhor as "reavaliações" do autor sobre a obra do sociólogo alemão_ reavaliações estas que, quando analisava a segunda edição de Raízes, só foi possível indicar a direção , sem contudo uma percepção razoavelmente clara de seu significado. Mais do que isso, no entanto, colocar novamente a obra de Sérgio Buarque em diálogo com a de Weber, mais especificamente com A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo e com The Religion of China, é uma boa maneira de elucidar o tipo de formação proporcionado pela fronteira e seus resultados. Um pouco artificialmente, subdivido esta elucidação em três partes. No primeiro item deste capítulo, realizo um contraponto do processo de f armação ocorrido na fronteira com os que aparecem naquelas duas obras de Weber e enfatizo se~i e ,inalt.. . pos1t1vo resultado no q ue e le tem de mais ao 111enos s ' . 1·is ta' · Neste. ' capita d e uma mentalidade . sado do pont 0 d e vista mentaltcaso, até O q h,, d . d . ue ª e incompleto na forn1ação de uma d d • olha 0 d , 1 ª e mais compative , com critérios n1odernos po e sei mpletcl •• com olhos . positivos , como, por exemplo a ausência da co . · im 1erc1~us. ' ~ pessoalidade No item d . nas relaçoes humanas, mesn10 nas con d sen· volviment o1ds , sublinho que, para se compreender o ceessi· O . Buarque a ponta para a nencerto dade de se o Br ªs1·1 , s,,erg10 perceber a es pecificidade da América no co cidente. do O Em con1p ensaç ào, no tercei ro item d este capitu lo . . l 'd d ' . . sma ment a 1 a de capit alista abord ada nos d ois itens • a me lados mais o b scuro s e até ·iores é enfat iza a nos seus ' ~ anter d fato para ao atenç a -se O ando , ·cos chan1 e que a extre 1na ' cragr . teriza eza que carac a natur . xim idade con1 a co nqui sta do ~ . . . . _ pio · l nao signi ficou un1 1naior c u 1'dra do co m e la Oe ste no Brasi , . ' antes pelo contr a rio. A FRO NTE IRA E O ESP ÍRIT O DO CAPITALISMO As Monç ões repres entam , e m realid ade, uma das expres sões nítidas daque l a força expan siva que parec e ser uma consta nte histórica da gente paulis ta e que se revela ra, mais remota mente , nas bande iras. Força que depoi s impeli ria pelos camin hos do sul os tropeiros de gado, e que, já em nossos dias, iria determ inar o avanç o progr essivo da civiliz ação do café. Toma das no seu conjun to, o histor iador de hoje poder ia talvez reconhecer, nessas 1 formas, uma só const elação . (Ê nfases acresc entada s) É possível esque matiz ar os estud os de Sérgio Buarque através da corre spond ê ncia de certa s figur as embl emáti cas a cada século de conq uista do Oeste . Dess a mane ira, pode- se dizer que no sécul o XVII predo mina o band eiran te, no XVIII o monçoeiro, e ao segui nte corre spon de o tropeiro e o fazen deiro. Ressa lte-se que Sérgi o Buar que enxer gava uma linha de continuidad e entre essas figuras, vendo -as formar "uma só constelação" carac teriza da p e la "forç a expan siva" , a qual, pode -se 0 afirma r levan do-se em cons idera ção o que vimo s em todo decorrer do Capít ulo VI, diz respe ito ao avanç o da fronte ira. um Antes de pross eguir , no entan to, é bom que se abra que Buar · s,. • ~ " tese ressa ltand o a impo rtanc ta que ergio paren atribui aos trope iros no sécul o XIX, os quais , em gran~ e p~rte do século, form avam o grup o mais ativo das terras do mten ?r, transb ordan do inclu sive aque la "forç a expan siva" para muito ' ' ai em do Plana lto pauli sta. 2 . ar um es tudo detal hado - tenha cheg ado a realiz Emb ora nao do mu n d o trope iro, assim como o f ez_ d O band eiran te. e do · , parec e que Sérgi o Buar que atn'b ui· extre ma impo ro eiro Thonç ~ do a ponto de, tancia ' ga ao as ionad ª essas ativid ades re"lac 181 livro de suely Robles Reis de Qu eiroz, sobre a ,. . . 19 . d no pre faCto ao arnscar ' 77 em o publica Paulo, São em re'ª""ª 11. d . ,. Escravt ao iV ' o', dizer que até a primeira metade do seculo XIX [. .. ] é muito provável que, como ativ.idade ~con~mica, a Ia.vo ura, , car co 1110 do café ' a ind a nao tivesse m e ios de tanto d o açu desafiar a im portância, como fonte de lucr.os, do comé rcio de • • qu e os ti·opeiros iam buscar no Rio. , Gra nd e e mesmo animais, entre os 'castelhanos ' do Prata, para negocia-los n as feiras de Sorocaba. 3 Em outro prefácio, desta vez ao livro de Maria Thereza Schoerer Petrone sobre o Barão de Iguape , publicado em 1976, Sérgio Buarque chega a reclamar que a "tributação e comércio de gado, [. .. ] não obstante sua importância para a vida econômica de São Paulo e do Brasil, [é um tema que] ainda continua mal conhecido". 4 Posta esta importância atribuída por Sérgio Buarque à atividade trapeira - e fechando o parêntese - , podemos retomar a "constelação" formada pelo bandeirante, monçoeiro, tropeiro e pelo fazendeiro enfatizando , por meio de Caminhos e Fronteiras, o resultado da gradual mudança ocorrida nesses personagens no desenrolar do processo de ocupação do Oeste brasileiro, no qual "o tropeiro é o sucessor direto do sertanista e o precursor, em muitos pontos, do grande fazendeiro. A transição faz-se assim sem violência" .5 Nesta transição, em meados do século XIX, "com as feiras de animais de Sorocaba, assinala-se, distintamente, uma significativa etapa na evolução da economia e também da sociedade paulista. Os grossos cabedais que nelas se apuram, tendem a suscitar uma nova mentalidade na população. "6 Cabe acompanhar, assim, o surgimento desta "nova mentalidade" resultante de um processo de transformação gradu al "sem violência" que culmina com a atividade trapeira e através ,. · d e aventura, que admite e quase exige ª d 0 qua 1 " O espinto agressividad: ou mesmo a fraude, encaminha-se, aos poucos, ~ara_ ~ma açao mais disciplinadora". 7 Ou seja, aquele mesmo es~mto de ave~tura" que, de certo modo, já era encontrado em ~aizes do Brasil reaparece aqui em transformação - proporci?nada, pode-se afirmar com base no Capítulo VI, pela dinâmica da fronteira - rumo a uma "nova me ntalidade" mais 182 disciplinada. Com. isso, ;-- dos . , . "[.. .] à fasci· naçao tu rbulenta su bst1tu1-se O ainor à . . . . nscos e da ousadia s tni c1attvas . . cora1osas mas q ue ne m sen1pre d ao in1ediato pt.ove no o sucede ao gosto da rapina ".s · a mo r da pecúni a r ' Essas tra nsforn1ações faz e n1 e . ,. l . on1 qu e e ntre co mo Jª 1av1 a con1eç ado a acont :, . trope iros e ce1 n as monçõos , es, [. .. ] um a ambição menos impaciente d O e nsina a me d ir, a ca lcul ar o po ·t .d que ª do bandeirante 1 uni ades a c e perdas . Em um e mp reendimento . ' ontar com danos , · muitas vezes ai - · necess a n a certa d ose de previ'dA . . eatono, faz -se encia Virtude · burguesa e p o pular. Tudo isso va· f ' d ' eminenteme nte 1 a etar 1retament . dade ain da su jeita a hábitos de 'd . . e uma soc1e, . , vi a patnarca1s e a intimo a me rc anci a , tanto quanto , A. vessa no as a1.tes mecanicas.9 O disciplina mento do sertanista modifica os "h 'b· d ·d · · " ,. b a 1tos e v1,. ~ p atn arca1s - e om lembrar mais uma vez, os mesmos habttos. encontrados em Raízes do Brasil· Portanto, nas monçoes . e, mais ainda, entre os trop e iros, começamos a encontrar 0 cálculo , o planejame nto e a té mesmo "certa dose de previdên cia, virtude eminenteme nte burguesa". Contudo, o próprio autor alerta: Não convém , e m todo o caso, acentuar com demasiada ênfase a transformaçã o que a influência das novas ambições promete realizar. Há na figura do tropeiro paulista, como na do curitibano, do rio-grandense , do correntino, uma dignidade sobranceira e senhoril, aquela mesma dignidade que os antigos costumavam atribuir ao ócio mais do que ao negócio. Muitos dos seus traços revelam nele a herança, ainda bem viva, de tempos passados, inconciliável com a moral capitalista. A dispensa muito freqüente de outra garantia nas transações, além da palavra empenhada, ~ue stn se atesta no gesto simbólico de trocar um fio de barba em ªl de assentimento casa-se antes com a noção feudal de lealdade10 ' h • 'd d comerci al do que com o conceito moderno de onesti a e · (Ênfases acrescentadas) - moral capitalista D essa forma qualidades adequa d as a ' e ,. ' ,.. . em solapar de todo orno o calculo e a previdenc1a, surgem s . ~ xcluindo 1nclucaracterísticas de um mundo patriarca 1, nao e .. ' s· - comerc1a1s e uma ive, certo grau de personalismo nas transaçoes "ct· · . l" S gora começamos a ign1dade sobranceira e senhona • e ª ,. · antes que o ·1 0 vis umbrar um mundo que valoriza o negoci 183 aracterísticas qu e o acompa nham não estão d . ,. . este e as C absoluta. Com isto Ja po e mos supor urn f . ' . l ause ntes de o1ma 'eito oculto ao texto , espec1a me nte com A ' • . diálogo com um SUJ Eshíríto do Capitalismo de,. . Weber,, este t . , O . 'F Etica Protestan e e rido no li v ro de estreia de Sergio refe :>s auto r ta ntas veze alguma dúvida .,.quanto a possibilidade .. t'ndo i Buarque . Pe1s1s desse dialogo, vale prosseguir . a anutenção . a · de se perce b et 111 ,. . d o tex to no qual Sérgio Buarque compleme nta sua idéia·· analise 0,. cio r. !ta,, aqui, esse ascetisnio racionalizan te, que parece , Ja Tam b em , e! do 1·deal burguês, ao menos em su as origens · o .mse parav amor ao luxo e aos prazeres domina, em pouco tempo, esses indivíduos rústicos, qu e ajaezam suas cavalgaduras com ri cos arre ios de metal precioso ou qu e timbr__am em gastar fortuna s 11 nos caba rés, nos jogos, nos te atros. (E nfases acrescentadas) É de fato difícil que, ao ler essa passagem, não nos venha a mente, como contraponto, o estudo de Weber segundo o qual o espírito do capitalismo, nas suas origens - para falar como Sérgio Buarque - , envolveu u1n rompimento radical com o hedonismo e com o tradicionalismo, seu "oponente mais importante" 12 - em suma , com as forças que poderiam conduzir a um capitalismo aventureiro ou político, mas não a um do tipo burguês. Nesta chave clássica, o rompimento com aquelas forças foi proporcionado pelo protestantismo, por este exigir o exercício de um ascetismo racional não apenas dos monges mas também dos leigos, trazendo a ascese dos monastérios para "dentro do mundo". Assim, o espírito do capitalismo clássico ficou marcado, mesmo após perder sua motivação religiosa, por diversos traços daquele ascetismo racional que 0 ~~r:ou em seu nascedouro e, por isso, não incentiva a exi~ 1çao com adereços "de metal precioso" ou outras atitudes equivalentes. Em oposição ao brilho e ostentação da pompa . . • frouxa, pre fere-se feudal - na qual , sob re uma b ase econom1ca um~ : legâocia sórdida a uma simplicidade sóbria -, o portador , 1 l da ettca descrita por w, b we er e ege o conforto asseado e estave do lar de classe média como um ideal.13 . Assim ao inv ' d d es e espender seu tempo e su a fortun a ' nos "ca barés n · ' os Jogos, nos teatros" esse mesmo homem os . , evita, pois, para ele ) 184 . impulsi vo gozo d a v ida, o qual d esv1a tanto d o em urn a vo ca çao , como d a religi ão e , como tal o trabalh • · ' ra · . , 0 inirnigo do ' ascett smo rac1ona l, quer se a present asse d na fo . rm a o sa lão de al qu e r n a f senhori baile e d ou ·ogos J orma do g- 1 - de dança ' ª pao e d a ta berna do homem comum .11 0 Porta rito, 111uito ao contrá rio d e cultiva ._ "amor ao lux tem 0 " os qu e aos prazere s - con10 os tropeir rgio Sé o segund e, . . . ~ Bu arque , po1tan1 un1a nova n1ental idade em re 1açao ao ga nho . . meram ente aventu reiro. - , os,, ascéti cos pu n•t anos evitava m . . f l o lificad "o uso 1rrac1onal da riquez a ' exemp pe as armas feudal _ mente uma para exterio res do luxo que - naturai s eram conden adas p e lo seu código como idolatria da carne.is Em su ma , podem os dizer então que por meio da dinâmi ca de conqui sta do Oeste forma- se uma mental idade compatível com o modern o capitalisn10, sem, contud o, um completo rompimento con1 valore s e costum es associa dos normal mente a um mundo pré-bu rguês. De te cta-se uma mental idade capitalista sem ascetis mo racion aliza n te - o qual "parece inseparável do ideal burguê s , ao me nos em suas origens " -, e que, por isso mesmo , possib ilita a vazão dos sentim entos e prazere s . Ressalt e-se que es te re sultado descrit o por Sérgio Buarqu e 16 também envolv eu um "longo e árduo process o de educação", conform e se refere Weber ao surgim ento do espírito associado à vocaçã o , mas ao contrár io deste, aqui o process o de educação não signific ou um corte absolu to com o passad o. Ao chama r a atençã o para essa diferen ça entre o espíri_to burguê s clássic o , ascétic o, e a mental idade burgue sa descnta o ento absolut ~ h,,. ,. . Buarqu e , na qua 1 nao ,, a um rompim por Serg10 tes que se h,,.a " mo t'1v os constan ~ . · cal e nao com o mundo patriar s diante de uma ,, contrap onham a os "sentim entos , nos vemo t s veeme ntemen te d . pon situaçã o delica da já que um . os s de seus mter 1o_ ' . . . defend idos por Weber em opos1ç ao a. a 1gunenvolv ia o 1omp 1. 1 ,. . ismo cutores era que o espírit o do captta e assim, Sendo mo . . . 1is ·s · me nta com o hedon ismo e o trad1et.ona d d 0 a esse ponto, ma1 . ,. necessa rio que devote mos mais ,.cutd ª al We b er con cebe a . .. ,. .· do ca pitaespec1f1camente à manetr a atraves ª qu o esp111t d . O ~ f ormaça o desse homem afina O com rrer como foi feito no 1· Goldm an ' ismo. Para isso vale a pena voltar a reco ' Harvey de Ih , ,. ' . . . 0 of g shapin the nd . traba ao I, lo Capitu do Primeiro Item Max Weber and Thoma s Mann: Calling a ° . 185 ~ the Self, na parte d e dic ad a à concepção de personalidad e 1nobilizada por Web e r. Segundo argumenta Goldman, ao mesmo tempo que ajuda a fo rn1ar O en1presário n1oderno e o trabalhador especializado, 0 puritanistno é a fonte do qu e Weber _chamou personalidad e. Ou, para ser 111 ais exato, o que caracteriza aqueles personagens é, justan1ente, 0 fato de terem se torn a do uma personalidade no sentido forte do tern10, que para Weber significa, nas p alavras de Gold1nan, "un1a subjugação do self natural e sua u nificação a partir da interioridade por meio da devoção, 111 odelado por uma vida no serviço 'vigilante ' e sistemático . D eus " .17 para seu 1'd ea 1 u"l t1n10, Assin1, a forn1ação da personalidad e e aquele ascetismo puritano de que falávamos há pouco, enquanto um controle racio nal, andam juntos, pois este ascetismo, escreve Weber, envolve a tentativa de "habilitar um homem a sustentar e agir sob seus 'motivos constantes' , especialmen te aqueles que foram por eles adquiridos em contraposiçã o às emoções". 18 Uma conseqüência dessa busca de controle absoluto do self natural através do serviço sistemático a Deus em uma vocação, ilustra de maneira eloqüente esse controle em direção à fo rmação da personalidade . A conseqüênci a é o fato da moral puritana aceitar o ponto de vista judaico segundo o qual o preenchimen to sem amor do dever é eticamente mais valioso do que a filantropia sentimental. Não deixa de ser significativo o fato de Weber chamar a atenção para a conexão da filosofia kantiana com essa ênfase no dever. Aliás, Weber chega a afirmar que muitas das formulações de Kant estão intin1amente relacionadas a idéias do protestantism o ascético. 19 No mesmo caminho, mas na direção inversa, Harvey Goldman alerta para a forte inspiração kantiana da interpretação formulada por Weber para compreende r os efeitos do puritanismo nos seu s segui'd ores. Em primeiro lugar, , chatna a atençao ~ ~ t'.!.ID~ nte para a conexão entre dever e personalidad e no .· •.tra -lho" - que, en1 1 oso f O alemao .... \d 0 fl,. sua Crítica da Razao Prãti.ca, de 1788, escrevia: O .que não pod e ser nada menos senão o que eleva O horne_rn acima de si n1 esmo • ( como parte do mundo do _ senti·ct O ) [... ] nao e outr · ~ . ª coisa que a personalidade, i.e., a liberdade e in d ep endenc1a em rela ~ çao ao mecanismo da natureza, ao mesmo rernPº 186 considerado como uma capacidade de [ ser Wesen] . . laridade é, a saber, puras le is práti cas d d· cuia part1cu.. · razão; a pessoa, consequentemente, como ª as por sua pro' pna , . . d pertencente ao m 1 do senti do , e su1e1to e su a própria perso , l'd d une o , a e na m d'd em que pe rte nce ao mesmo tempo ao n1 n,t d . ' e I a un o inteligível. 20 e Encontran1os aqui, con1 o utras palav ras . , o mesmo tema dos motivos co nstantes en1 contraposição às em , oçoes. A1em disso ' avança ndo outro as p ecto do puritanism o segun d o Webe r, pode-se detectar na passagen1 uma tensão ent d . . . ' re OIS mundos , o 1ntehg1vel e o dos sentidos, nos termos de Ka É quando o in divídüõ continúa a pertencer ao mundo dnt. \ os . sentidos, mas age nele guiado pelo inteligível que pode vir a \ tornar-se uma personalidade. Não é muito diferente O caso do puritanismo que propaga um ascetismo intramundano _ ao contrário dos monges da Idadê M-é dia - · mãi com v aloies em tensão com esse mesmo mundo. Pode-se dizer qüe õ s puritanos - tanto os sacerdotes quanto os leigos, importante frisa r - põen1 em prática ce rta passagem bíblica, onde o apóstolo Paulo roga aos romanos: "E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa agradável perfeita ~ vontade de Deus. "21 Graças a essa tensão, no caso dos protestantes, entre o mundo e a vontade de Deus, queda-se fechado o caminho para que o indivíduo se forme a partir do intercâmbio com este mundo. Ao contrário, ele necessita de um princípio extramundano que se imponha ao século. E isso nos conduz a mais um ponto , o segundo, sobre o qual o trabalho de ~~_nt lança luzes. Ao discutir o bem moral em seu texto "A Rehgiao . . . les Razao - " , de 1793 ' afirma ' em Dentro d os L1m1tes da S1mp outra passagem citada por Gol d man, que Para alguém se tornar um homem de bem não apenas legalmente, mas moralmente, a n1udança 1 radual [. . .] mas dev e a convicção . d revoluçao n se r 1evado a efeito por meto e uma . gem para a . ou d is posição [Gesinnung] d o h orne m (uma _passade tornar-se m- · • - ) e ele nao po ax1ma d a santidade d a conv1cçao i . •mento como u , ·e de renasc i , m novo homem senão por uma espect - do coração. qu ] t ·ansformaçao e por uma nova criação [... e uma 1 .d i] do homem não [...] Disso se segue que a educação moral [Btl ung l. ..] não será efetivada por uma reforma g 187 --l . me lh oramen to das práticas [Sitten], mas pe! deve começa t pe 1o · _ de seu caminho de pen same nto lDen kungsarta] transfor maçao , . 22 fundação de um carate r. la e pe . . o utras bases u ma idé ia ca ra ao puritaKa nt reto m a e t11 . . 23 l . ,, do renasci me n to inte ri or, a q u a re m e te, por rnsmo que e a lh , alavras d e Jesus relatad as n o Eva nge o segundo 1 exemp o , as P d' 1 ,, ~ . "En ve rdade em ve rdade te 1go q ue se a g ue m não 1 Joao . ' 24 · nascer de novo, não pode ve r o re 1no d e D e us. " E , nesse ponto , chegam os a u ma caracter ísti~da ,,~ end t ra l da pe:son(ablidade q u e se mo lda fundam e ntada na 1 e ia e vocaça_o eruj). Como transp a rece no texto d e Ka nt , a person alidade não re sulta d e u ma refornia g_radu~ l d o seif n at ura l, m as, ao contrário de u ma revoluç ão radicàb qu e implica u m rompim e nto , ~ ,, . com ele a pa rtir "n ão do melhor a mento d as pratica s , mas da transfor mação de seu caminh o d e pe nsamen to", o qu e no protesta ntismo corresp onde à conver sã o , que signific a um "renasc imento ". Seguind o esses come ntários , podem os afirmar com Goldma n que o modelo kantian o é forma lmente similar ao que Weber acre d ita encont rar entre os se guidor e s d a s ·religiõ es purita n as , de onde vê surgir o que conside rou como uma efetiva estrutur a de persona lidade. Contud o, confor me apontei de p assagem no primeir o item do Capítul o I, existe uma diferenç a crucial entre os dois autores . No caso de Kant, a fonte da p e rsonalid ade deriva de seu pertenc imento ao mundo inteligível, o qu e possibil ita, por meio da afirmaç ão da vontade , cons iderar leis raciona is como impera tivos categór icos - "Age como se a máxima da tua ação se devess e tornar, pela tu a vontade , e m le i univers al da naturez a " .25 Em suma a ra zão . . ' cn an a os valo res u" lt1·m ~ os. p ara ,v, we b er, no enta nto, a razao nao pode prove r esse guia , e o self d eve encont rar uma outra fonte p ara o estabe le cime nto d . ,, . " . e seu s pnnc1p 1os - ou, p a ra se us motivos constan tes" f · • . d f" . - , como 01, por e x emplo, a do mode lo o n gm a 1 a ·e puritan a 26 In . d . . · c 1us1ve, ness e ponto n ão podemo s b e1xar de citar o texto de We b e r onde trat; a motiva ção urguesa para a acumul aç~ d . ao e nqu e za - e m oposiçã o à qu e re mo nta a Antigü id ad e _ "' . ,, como um 11npe rat1vo c ategon.co ,, · Seg un d o o a utor "o t d . ,, sollst ent ' m o to e asce ti s mo e En tsagen sollst du, sagen, o num 'd . ,, . ·· de Erwerben ll usand d se n ti o ca p1ta ltst1 c o pos1t1v o · irracion a l1' dsoa dst ,, u, sollst erwerb en . Em s u a pura e simples e e uma es ,, · d p e Cte e imp e rativo ca tegóric o"· 2. 1 r + \ r 188 i ., , o estudo de Weber Nesse sentido . ser e ons1'd e rado 1ógica qu e poc . e um a pesqui sa arqueo , visa enc ,, . como ontrar a base , • na do es p1nto do n1oder no capital is . mo, seu "'1 ' u1n1 mperat 1vo , re górico' , que, co ntudo, para e le , nà o e,, - nem d . . . ,, 1 ca .. po ena . _ . _ ;ust1fic av e apenas pela ra zão . A ss1m , seguind " . ,, ~e, o sua . afirmar q "a motiva . squisa, o soctolo go alen1ao,, pode ,ue . ,, pe çao para uritano s e ap enas a g lori a de Deu s e s e u eIever pes l s P o. soa , e -a0 a va idade hun1a n a ", enq u a nto atu rilm ente, num m d e . n un ° tão "é ganho o desenca ntado, o in1puls o p a ra de o te -somen ve r ao exercíc io da su a vocaçã o ". 28 Podem os extra ir e ntão dessa .di sc ussão qu e , para Weber, _. . a Deus conduz iram O crente a s erv1r os que pu11tan dogmas 05 . .. _ em uma vocaça o poss1b1lttara n1 a formaç ão da perso nalidade no senti do forte do termo, uma unidad e sistemá tica qu e domestica o self natural a partir, ressalte -se, de uma revoluç ão interior. Segund o o autor, son1en te o protest antism o ascético foi capaz disso, o que in1plic a dizer - voltand o ao nosso tema - que foi também a única religião cujos dogmas incen2 tivavam uma ação aj ustada a o espírito do capitali smo. 9 Voltand o agora aos trabalh os de Sérgio Buarqu e, já temos elementos suficie ntes para ilun1inar o sentido de sua afirmação segundo a qual, quand o fala em uma n1entalidade capitalista , ele não se refere ao espírito do capitali smo clássico . Isto ocorre fundam entalm ente porqu e a mental idade apresen tada por ele em Caminh os e Fronte iras não implica um rompim ento absoluto com o hedoni smo e nem mesmo com o tradicio nalismo . Mesmo assim ' em seus textos , como 1·á vimos, encontr amos co nsid e ráve is transfo rmaçõ es das pessoa s envolv idas no processo de conqu ista da frontei ra, a tal ponto qu e a _me nta5 lidade descrit a por Sérgio Buarqu e ao falar dos,, t.rop ~~ro:, : não corresp onde ao espírit o do capital ismo ascettco , P ~ao e eiro, o nte aventur . • ,ame ta mb,,em a de um ca pitalism o exc 1us1v . ,, . d B ai;il e no m1. c10 do ~ . ,, qua 1, altas , já encont ramos em Raizes . O r s~ outros ltvros, e •Processo de conqui sta do Oeste descnt o no te" 3o co nst1 . , •r ' par toda em o existid "tem ber We o segund que, ptn es elo títese ' tu · d d in o-se, p a ra este a utor, quase numa an d' ,. ica da fronda ina~ ·calismo e ~ capitali smo . Na realida de, o resulta do,, ··to do capt ~ , teira 1 analida des pu es certo u1n r, e e, por assi m diz cl aro p ers . ,, r· seus Portado res não são como Ja teouhe doni.'stas ou rradicio' nern t . passou por . ampou co indivíd uos puram ente na1is tas . o selj natura 1 ' , posto que também aqui ° 189 e!' i sformad o res qu e, co ntudo , não levaram a u processos tra t1 . tn.a ,• ofz,ça~o inte rior n1as s inÍ, pa rece >) a reformas g raduais- a 1 ev . "' , , .b ~ f. . s . . pai·a Kant ne tn para We e r, sao su 1c1e ntes Par· quais, ne1n · , ~ . aa . . ~. da personalidade . E nao resultou de princípios constttu1çao . . ,, se qu isern1os, advindos. do in undo 1nte hg1vel - qu e s~ impusera n1 ao inundo exterior - o u , ~o mundo ~os ~e nt1dos 111as, ao contrário , de um a inte nsa 1nterc~mu n 1caçao com este mund o. Todavia, se esse p rocesso a d v indo d a luta front eiriça de conquista do Oeste está mu ito dista nte d e p oder ser aprox iin ado de u n1a forn1ação o rie ntada pe la vocação, a que poderíatnos con1pará-lo? Creio qu e, n1 antendo-nos no mesmo universo intelectual que transitávan1 os ao fa lar d a tese webe ria na, pode mos e ncontrar u n1 1narco compa rativo no ideal de Bildung, o qual, segundo as rá pidas palavras de Goldman, do mesmo modo que o ideal de vocação, era uma dis_c iplina que moldava o selj, mas era orientada para o seu desenvolvimento sem envolver sua dominação por me io do serviço. 31 No caso , não há "motivos constantes " qu e se sobreponham às "emoções" e estas são discip linadas no próprio intercâmbio co m o mundo exterior e, por isto , ao co ntrário do seif formar-se em tensão com o mundo, vem a constituir-se numa totalidade m inimamente coerente que incorpora a variedade deste mes mo mundo. 32 Entre 1904 e 1905, com a pri meira publicação de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber diagnostica as novas condições de um mundo especializado que obrigava à "limitação d o trabalho especializado, com a renúncia à Faustiana universalidade do homem", o que significava a falência da bildung, conforme aliás, indicava o autor já havia percebido 1m:~·u m--sé culo' Goethêfc"; mais ilustre rep~esentante desta tradi ção .33'' Enquanto isso, poucos anos mais tarde, a certa altura da v ida, Simmel procurou reler este ide a l de forma conseqüente às novas condições de um mundo especializado, _ como demonstra seu te x to Subjective Culture, de 1908 .34 " Certamente não é o caso~ ntrar no mérito do debate, cabe apenas indicar que lançar mão da tradição da bildung pode ser útil a penas e Justamente · ,, ern porque esta concorrente e, certos . . aspe e t os, o oposto do ideal de beruf e, na mes rna me dida ' pod 1 , . . desse e ançar a 1gumas luzes para a analise processo de f ~ , ormaçao que detectamos na obra de 5er gio Buarque tão d· 1stante d o processo descrito por Weber. 35 ' 190 Alétn de recorr er ao ideal de bildun g, para 1nante r o diálog o Weber vale a pena lembr ar que este autor, e1nbo ra não com . ,. . redigi do estu d os s1ste1 nattco s exata mente sobre O tema ren 11 a . , ·derou u1na de suas n1ono graf1a s sobre religiã o estud o O conLSl . . ,. . . ' i confu cion1sn10, con10 1nu1to prox1 mo do ideal de bildu ng c. l~mão. Vin1os no prin1eiro item do Capítu lo I que, confo rme conta ;chluc hter, na prime ira versã o deste seu estud o, publi cado em 1915 no Archi v für Sozia liviss ensch aft und Sozial politik , \Xleber chega a intitul ar un1 dos seus capítu los como "The 'Spirit' of Confu cian Bildu ng and the Econo 1ny". 36 E, co1no detec ta Goldn1an a partir da descr ição webe riana do ideal confu ciano como "a n1odelagen1 do self rumo a uma perso nalida de harmo niosa1nente balan ceada ", a religi ão chine sa "não é distin ta do ideal de Bildu ng do sécul o XVIII na Alem anha" .37 Porta nto, vale a pena que nossa rápida incurs ão sobre o tema seja realizada, cotn certos cuida dos, atravé s do estud o de Webe r sobre 38 Mais tarde isto será impor tante porqu e o 0 confu cionis mo. autor discut e as afinid ades - ou falta de - do confu cionis mo com o espíri to do capita lismo , dond e podem os ampli ar as mesmas obser vaçõe s para o ideal de bildun g, o que pode facilitar a interp retaçã o dos trabal hos de Sérgio Buarq ue e sua comp araçã o com as formu laçõe s webe rianas . Portan to, prete ndo nesse mome nto extrai r algum as características da forma ção do self envol vidas no confu cionis mo que tenha m simila ridade s com o ideal de bildu ng e, por sua vez, possa m ajuda r a enten der o proce sso descr ito por Sérgio Buarque. Em segui da, é possív el segui r o racioc ínio de Webe r quanto as afinid ades dessa "bild ung confu ciana ", confo rme ele escrev eu certa vez, com o espíri to do capita lismo , o que nos permi tirá um passo adian te na comp reens ão do trabal ho do histor iador brasil eiro. Conv ém come çar com a contr aposi ção traçada por Webe r entre o confu cionis mo e o Purita nisn10 , na qual ressal ta as carac terísti cas cosm ológi cas das doutr inas. 39 Escreve o soció logo: Em marca do contra ste com a atitude ingênu a do confuc ionism o perant e as coisas desse mundo , a ética purita na as explic ou como uma extrao rdinár ia e grandi osa tensão em relaçã o ao 'mundo '. [. .. ] Em toda religiã o que opõe o mundo com o raciona l, impera tivos éticos se acham na mesm a medid a em um estado de tensão com as irracio nalida des do mundo . [. .. ] Confu cionis mo 191 11111 [. . .} era (e m in tenção) wna ética que reduz a tensão com O mund a um m ínimo absoluto. l. ..] O mund o e ra o me lho r de todos 0 os mun d o s poss1,ve1.s ; a n atureza h um an a e ra ct 1·sp osta ao eti came nte bom. f. .. ] O caminh o correto para a salvação consistiu em u m ajusta m ento às ordens eternas e supradivinas do m.undo Tao, e co11seq i'i.entenie nte à d em a n~da da vida social, a qua't segu iu-se da harmonia. cósmica.'10 (Enfase s ac resce ntadas) A esta cosn1ologia confuciana corre s ponde , para seu seguidor - e é isto que nos interessa - , o ideal de elaboração do self con10 un1a personalidade universal e harmoniosamente b alanceada - un1 "n1icrocos1no", como afirma Weber. Para 0 ideal de hon1en1 confuciano, o gentleman, "elegância e dignidade" era n1 expressas no desempenho de obrigações tradicionais. Por isso, a virtude e objetivo cardinal no aperfeiçoamento do self corresponde à propriedade ritualística e cerimonial em todas as circunstâncias da vida. Os meios apropriados para esse objetivo consistian1 no autocontrole racional e atento e na repressão de quaisquer paixões irracionais que pud~ssem quebrar o equilíbrio. 41 Este ideal confuciano que possui como conceito central a "adequação", pode , justamente por isso, ser conectado com a tradição alemã d a bildung, pois implica no ideal de "homem cultivado", que é aquele que tanto interiormente quanto na sua relação com a sociedade corresponde e se equilibra harmoniosamente em todas as situações sociais, seja nas altas seja nas baixas; comporta-se de acordo e sem comprometer sua dignidade. 42 Se o cumprimento das "obrigações", o controle das paixões, o autocontrole racional pode, eventualmente, nos lembrar o que vínhamos afirmando sobre o ideal de vocação, o homem cultivado confuciano se distancia do puritano e do profissional do mundo moderno Ocidental num ponto extre1namente crucial, pois sua educação para o cumpri1nento de suas funções envolve um conhecimento da universalidade e não uma ênfase na especialização. Nesse sentido, . . , racional essa visão se caracteriza pela ausência de espec1altzaçao .rante nas funções oficiais do Estado patrimonial. [... ) O. ~s~~ente confuciano ao ofício, formado pela tradição antiga, ~ 1f'.ct do do poderia ver em um treinamento profissional, especializa mais · º · menta tipo europeu a 1go mais do que um con d 1c1ona , no homem impuro espírito filisteu . [...] A asserção fundamental, um 192 ultivado não é um a fe rra me nta ' si gnifica qu e e le e ra um fim e m ~i próprio e não ape nas um meio para um propós ito útil específico .13 Mui to d ífere nte, p o rta nto, d a direç ão apont ada p e lo puriideal . 0 homen 1 c ultiva do confu cia no portav a um . . ran1s1110 ' de edu caça o que, n1es1110 sendo so~1aln1ente orie ntado, e ra , seaundo Weber, totalm ente oposto ao ideal platôn ico, 0 qual "era es~abelecido sobre o te rreno d a pólis e proce di a d a convic ção segund o a qu al o home 111 pode alca n çar a re alizaç ão se ndo " 44 bom em apena s uma t are f a . Ao lado disso , o confu ci a no n ã o estava em tens ão com 0 mundo pois n ão h avia profet as leva ntand o den1a ndas é ticas em nome de um d e us supra mund ano, ou seja, que estive sse até mesmo acima do cosmo s, de modo que "a 'alma' chines a 45 nunca foi revolu cionad a por um profet a" . Como afirma Weber, é uma verdad eira profe cia qu e cria e orient a de forma sistemática a condu ta e m torno de uma medid a intern a de valor, em face da qual o mund o é visto como um materi al a ser moldad o eticam ente d e acord o com a norma . Nada disso acontece no confuc ionism o que signifi ca "ajusta mento ao exterio r, 46 às condi ções do 'mu n d o "' - e se u racion alismo resulta daí. Tanto o confu cionis mo, com se u ideal de gentleman, como o Taoísmo e sua busca da unio my stica atravé s do treina mento na atarax ia, não origin am, c o mo a é tic a ascéti ca do leigo no puritan ismo , uma tensão e ntre as orden s do mund o e a 47 vontade de Deus ou de uma força e xtram undan a. Assim, nesta cosmo logia, um home m de bem racion aliza sua condu ta somen te no grau requis itado para o ajusta mento ao mundo e, conse qüente mente , não consti tui, como na personalidade constr uída dentro do purita nismo , uma unida de sistematizada a partir de uma norma , e sim "un1 con1p lexo de traços úteis e partic ulares " . Chega mos, então, na exata contraposição da person alidad e purita na analis ada há pouco - _que, para Weber, é associ ada ao espírit o do capitalisn10 - , pois na menta lidade chines a L.. ] uma forma de vida não pode ri a permit ir ao home m uma aspiraç ão inte rior em direção a uma 'person alidade unifica da ', um esfor ço que associa mos à idéia de person alidade . A vida Perman ece uma série de ocorrê ncias. El a não se torna um todo st0 metodicamente sob um objetiv o transce nde ntal. 48 (Ênfase s Po acresce ntadas) 193 form ado por Assim, par a com ple tar ess e qua dro de um self pel a vocação, é um cam inh o div ers o daq uel e apo nta do nês com o ideal nec essá rio fazer mais um a apr oxi maç ão do chi não con sist em de bild ung alem ão no sen tido de que am bos o obs erv a Harvey num a fon naç ão bas ead a em uma norma. Com ra des te ideal Gol dm an ao com ent ar a já cita da gra nde figu ' da pela dita t, Kan de al ent dam fun ima máx à re ade Goe the não um qua dro de razã o, com o a fon te de dev er. Ant es , abr aça no inte rior do self aut ode sen vol vim ent o en1 que o din ami sn1 0 ajus ta aos obstácon fron ta, dom ina ou, da mes ma form a, se 49 culo s e situ açõ es de fora. lev ada a cab o Com o na des criç ão da Religion of Chi na self natu ral em por Weber, Goe the pen sa num a form açã o do , que nes te caso, con stan te inte rcâ mb io com o mu ndo exte rior nfrontos", "domileva a um "dinamismo" que pod e env olv er "co do selj, mas, em naç ão" do mu ndo ou mes mo "aju stam ent o" mu ndo a par tir tod o cas o, não um a dom ina ção do self e do o em Kant, seja de um a nor ma , seja dita da pel a razã o, com s equ iva len tes dita da pel a cre nça na pre des tina ção ou cre nça rela ção a Kant no pur itan ism o. É bom mar car a dife ren ça em um a vez que , com ple ta Gol dm an, s Leh rjhr e é de fato Geo rg Lukács afirm a que Wilh elm Meister o um desp rezo para uma gran de polê mic a con tra Kant, reve land os por mei o de 'um cód igos mor ais imp osto s sob re os indi vídu pod e dele derivar. siste ma unit ário de regr as', e tudo qua nto se saci ávei s 'pela [. .. ] Para Goe the, os sere s hum ano s torn amnica e traz end o o virtu de da libe rdad e, pela espo ntan eida de orgâ ade em conc órdi a dese nvo lvim ento múl tiplo de sua indi vidu alid imo s'. 50 com a felic idad e e inte ress es de seus próx ", no dize r de Fal and o em Kant - este "an típo da de Goe the 51 em sua cita da há Nie tzsc he - , é bom lem bra r um a pas sag lica um a revopou co na qua l afir mav a que o bem mo ral imp ema uni tári o luç ão inte rior - vale dizer, a ade são a "um sist gór ico . Agora, de regras", uni tári o gra ças ao imp era tivo cate s dian te, pod e-se per ant e Goe the e a religião da China, esta mo um ren asc ime nto , afirmar, de um a form açã o que não env olv e , ao con trár io, um a rev olu ção em rela ção ao self nat ura l, n1as dec orre de refarm as gra dua is des te. e, de que vale Mas reto rna ndo aos tex tos de Sér gio Bua rqu já está clar o que este per cur so de raci ocín io se a esta altu ra 194 no Planalt o paulista dos primeir os sécul , d . há a busca de equilíb rio, 0 cultivo e ~sd e coloniz ação não · d envolv idos na bildun g dos homen o . 1 eal de p ropne · ade _ · s t 1ustrado s do tismo alem ao ou dos funcion ários d E roman,. . chinê ? A das a parenc1 as, o resgate pode ser o,, t 'lstado r • s. pesar 1 na medida u e apresen ta un1 1nodelo de formaç ão d lf m que ~ o se quase que o 0st0 ao de vocaça o e, na mesma medida . P ,, . , possui determ inadr caracte nst1cas que ajudam a refletir b. . ,, . as 5o . d 1 I e a traJetor ia do sertane Jo o P analto paulist a descrita p . s,, . . 1 Buarqu e Destaq ue-se o fato de ser um modelo que 0 - e1g10 . · ,, . _ nao supoe um principio geral de açao, portant o não implica nem l . . . ~ uma revo uçao 111teno1, nen1 uma tensao com o mundo ext · _ enor. A construçao da pessoa ocorre num contínu o intei·ca" mb· 10 com este mundo e a mudan ça ~m ambos se dá de maneir a gradual e com boa dose de aJustam ento. Tudo isso fica quase que consub stancia do na fórn1ul a de Weber segund o a qual enquan to o raciona lismo advind o do puritan ismo signific~ domínio raciona l do mundo , o raciona lismo confuc iano- e do ideal de bildung - corresp onde a um ajustamento racional ao mundo . 52 Assim, embora adaptaç ão signifiq ue coisas muito diferen tes para um burocra ta chinês e para um homem da fronteir a, não parece implaus ível interpre tar a raciona lidade daquele longo proces so de aclimat ação do bandeir ante que acomp anham os em alguns momen tos cruciais no Capítulo VI - como um ajustam ento racional ao mundo - e não uma domina ção raciona l do mundo . Contud o, perman ece a pergun ta relativa à formaçã o de uma mental idade capitalista, dado que Weber aponta justame nte a afinida de entre a raciona lidade puritan a e o surgime nto do espírito do capitali smo, e, contrar iamente , procura descobr ir por que , a despeit o de alguma s semelh anças exterior es entre o confuc iano e o puritan o, a raciona lidade de ajustam ento ao mundo não levou a caminh os que indicass em uma mentalidade capitali sta. E a argume ntação de Weber remete ~xat~mente ao ponto que temos abordad o, dizendo respeito as diferen tes formaç ões da persona lidade, pois o utilitaris mo severa e religiosa mente sistemati zado peculiar ao ascetism o racional, viver 'no' mundo sem ser 'do' mundo, contribuiu para produzir atitudes racionais superior es e, por meio delas, o espírito do homem vocacion ado que, em última análise, 195 '1111 e ra negado ao confuci on ismo. Quer dizer, a forma de . · d 'a, d 1'fe re nte n1 e Vida 1 mas d e te1·mina · · e ra raciona confuc1ana nte do Puritanis mo, de fora antes que de dentro. O contraste ~odde nos ensinar que a me ra sobriedade e. frug alid ade combi na as com o impul so pa ra o ganho e a estim a pela riqu eza estav am , . d , .. lon ge d e representar e d e permitir o espmto o capitalismo' no sentido que este é enco ntrado no home m vocacionado d~ eco nomi a mode m a .53 Estamos diante de uma si tu ação na qual temos, de um lado Sérgio Buarque descrevendo um longo processo de desenvol-' vimento material e de formação dos atores envolvidos em que não há asce tisn10, 1nas u1na série de reformas graduais sem rompimento radical con1 o passado e que, ao cabo, resulta em uma mentalidade capitalista. De outro lado, encontramos Weber discorrendo acerca de um processo, digan1os, estruturalmente semelhante - ou melhor, também comparável ao ideal de bildung - e que, justamente por não impiicar em revolução no self e tensão com o mundo, está longe de conduzir ao "espírito do capitalismo ". Para uma melhor percepção dessa diferença, até porque, co1no vimos no início, a mentalidade descrita por Sérgio Buarque não corresponde exatamente à descrita por Weber como "espírito do capitalismo", é preciso analisar alguns pontos mais sobre estas descrições para perceber em que medida elas têm algo em comum e, por outro lado , em que medida se pode dizer que na obra de Sérgio Buarque está presente algo que podemos conside rar uma mentalidade capitalista. Lembremos, antes de tudo, que uma das características fundamentais do espírito do capitalismo é relativa ao seu significado social, ausente da ação de indivíduos puramente hedonistas. Para Weber, dentro do universo puritano, aprovaram-se os usos racionais e utilitários da riqueza que era desejada por Deus para as necessidades do indivíduo e da comunidade. Os puritanos não desejavam impor a mortificação do homem para ª riqueza, mas o uso de suas possibilidades para coisas necessárias e práticas.54 Voltando para Caminhos e Fronteiras é interessante res~a ltar que Sér~io Buarque, ao falar do a~arecimento de urna nova mentalidade " n as terras da fronteira, faz questão de chamar ª atenção para a forma particular com que os tropeiros, apesar da aparência, eram socialmente úteis: 196 Ning ué m du v ida q u e a o cupaç ã o a qu e se e ntre g a vam tais ho me ns fosse, e m todos o s se ntidos, produtiva e ú til à coletividade. Mas o espírito eni que a condu z iam tendia a mascarar de qualqu er.form a essa f eição utilitária, e e m rea lidade e ra me n os de bu fa rinh e iros do qu e de b arões. A oste ntação de ca p ac idade fin ance ira vale aq ui qu ase p o r um a d e mon stração d e fo rça físi ca.~' (Ê nfases ac resce ntad as) Po rta nto , ta nto nun1 cas o qu a nto n o outro , a riqu e za indivi du al n ào ge rav a a pena s o betn-es ta r p a rtic ul a r, 1nas, também, de modos difere ntes, o b e m público . Assim pode-se dize r que, ta111bé n1 na "nova menta lidad e" anunci a d a por Sérgio Bu arqu e, a atividade de seus portadore s g e ra va a o mesmo ten1po un1a nova sociedade que deixava de ser puramente tradicionalista e patriarcal, apresentando na verdade , ao lado dessas características, traços modernos e utilitari sta s, ai nd a que disfarçados. Outra característica fundan1ental do "espírito do capitalismo ", que 1narca justan1ente a diferença com o capitalismo aventureiro , a qual Weber insistia sempre en1 ressaltar, diz respe ito ao cálculo. Este é um itnportante n1arco da transi çã o do tradicionalismo para o "novo espírito" , a qu al, escreve o autor no segundo capítulo de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, não foi levada a cabo por ousados e inescrupu losos especuladores, aventureiros econômicos como encontramos em todos os períodos da história econômica, nen1 simplesmente por "grandes financistas". 56 Para ocorrer a muda nça foi necessário, ao contrário, homens que não ap e n as estivessem desejosos de lucros e dispostos a arriscar, n1a s que ta mbém "[... ] cresceram na dura escola da vida, ao n1esn10 te mpo calculando e arriscando, de forma acin1a de tudo sóbria e confi áve l, p e rspicazes e completamente devotados aos seus negócios , com opiniões e princípios estritan1ente burgueses" .57 Já vimos no início do capítulo que Sérgio Buarque falava de uma ''nova mentalidade" que se vinha delineando con1 os monçoeiros e com os trope iros que, con1 todas as diferenças, apontava nessa mesma direção, pois eram. hon1ens que, "na dura escola da vida " - poderia-se dizer lançando mão das P~lavras de Weber-, aprenderam "a medir, a calcular oportunidade s, a contar com danos e perdas" .58 Talvez de fato neste noss 0 ' ' ca so, d eva-se falar nun1a proporção maior de risco que 197 j t . ~ ,, ainda assi1n, o suficiente para dizer de ca/cu1,o, " que an b "ao mesmo te1npo . 1 os arecem · ap ,, . . Buarque não explora, contudo, a ma . sei g1O ,, ,, . ne1ra , d pelos quais esse calcu 1o e incorporado à .. e o meto o . . at1v1dact "' ni· ca dessas nossas figuras paradigmátic as e eco not . . com 0 · . e tropeiro. Creio que, neste caso não d . o monç Oei 10 O. ,, ' e1xa de . pei·tinente 1nvocar um texto de outra epoca e out sei ,, . . . ro estilo do próprio autor, 0 prefacio do livro de 1976 de Maria Thereza Schoerer Petrone, onde apresenta um personagem particul "comerciante paulista" Antônio da Silva Prado feito b :r, O ' ara 0 em 1848. Segundo Sérgio Buarque, o barão de Iguape "começou em São Paulo como começaram alguns dos homens mais ab astados do lugar, ou seja, como arrematante de contratos de cobrança de impostos, continuou como negociante de açúcar animais e variados gêneros, foi momentanea mente senhor d~ engenho em Jundiaí e, finalmente, banqueiro". E, apresentando o livro alheio, complementa o historiador o perfil do barão de Iguape: À custa de um esforço continu ado, de um raciocm10 sempre alerta, da intuição certeira - um desce ndente dele fala em sua 'esperteza e vivacidade' - e não menos do conhecimento da boa regra mercantil, especialmente da escrituração em partidas dobradas, que desde a era pombalina passava por ser a pedra de toque por onde se distingue o negociante de grosso trato do simples 'mercador', que vende a varejo de mão a mão e usa c~vado ou a vara, pode-se dizer que foi filho do próprio trabalho? (Enfases acrescentadas) "' . feita . por. Sérgio Não deixa de ser instrutiva a referencia ais · stenor m Buarque - ainda que num texto bem postenor, po ,, rio de 20 anos, ao que estamos tratando - a um empresa . da a paulista que, segundo ele, é um personagem q ue XIX aJU não ' desmontar o mito segundo o qual o Brasil, no sec~ ,, 110 do_ ' o vinha diversificando sua economia e se modernizan , ·a a 0 "mito · o b stinado da avassaladora preeminenc · "' ia agrart ssa f ormaçao - brasileira", . nas palavras do autor. E • P.ara n0vale com paraçao - com o "espírito do capitalismo ,, w ebenan 0' d . aten e O a pe na b servar este personagem · dizer, que por assim seus - " aos ai, se uma observação de Weber em sua , "lntroduçao trabalhos s 0 b . .. . ndo a qu ·d a " ,, re as reltg1oes mund1a1s segu ~ esi e t no calcul 0 d 0 • " nao r capital em termos de dinheiro 198 mais fundamental entre O capital' ismo de todas as dt·ferença d ,, • , pocas e o com esp1nto, nao eixa de ser uma t d" . ~n denci~ neste : ]timo qu e o cálculo seja realizado "[... ] por meio e metodos . 1· u dernos de 1vro comercial ou através d e qua 1quer outro .· . . . n10 . . meio, por mais p1m11t1vo e tosco que ele se,·a" N · o capitalismo próprio do n1un d o mo d erno, nas palavras de Weber "tud 0 , e 'd. feito em termos de balanço: no começo do em preen 1mento · - · · · 1 . d'1v1'd ual uma prev1sa o 1n1cia , antes de qualquer deci·s~ao 111 um cálculo para apurar sua provável lucratividade , e, ao f'1m, _ 'f' . ,, 60 um ba 1anço f 1na 1 para ven 1caçao do lucro obtid o. _ Numa comparação vale ressa~ta_r que O barão de Iguape nao ap enas era, segundo a descnçao de Sérgio Buarqu e, um comerciante que calculava seu capital em dinheiro, como 0 faz ia através do mais moderno instrumento contabilístico na época, as "partidas dobradas" - o cálculo e controle dos lucros e investimento s estabelecidos sob o princípio de que a todo registro de débito deve corresponder um de crédito. A figura do barão de Iguape, ao lado do tropeirismo, completa o quadro que apresenta uma "nova mentalidade" no Planalto paulista no século XIX, mentalidade esta resultante em grande parte da lenta conquista do Oeste descrita no Capítulo VI e das transformaçõ es que ela proporcionou . É possível concluir que essa formação paulista possibilitou uma mentalidade compatível com o capitalismo, querendo isso dizer que , bem ou mal, os homens da fronteira controlaram minimamente seu hedonismo natural e, de certa forma, colocaram em movimento seu tradicionalism o. Aqui, diferentemente do que encontramos na Sociologia da Religião de Weber, um processo que lembra ·em alguns aspectos específicos mas significativos - o ideal de bildung pôde resultar numa mentalidade capitalista moderna particular. No entanto para que ao desenrolar deste constante contra· · t' com sua ' não se acabe por cometer 1n1us iça ponto com Weber - . Trata-se de lembrar ,. . duas observaçoes - necessanas 0 b ra, sao . espec1almas parte d . . que, em pnmeiro lugar em mais e uma . . ' , · d O Cahttalismo ' ' r . ,, mente no fim de A Ética Protestante e o Espirita h1potese a defende ·, o d soc10 1ogo alemão deixa claro que nao o h 51·d0 a causadora s . . fl , . egundo a qual a ética protestante ten a como a m uencia . h es ,, . . pinto do capitalismo pois outros camm os, podenam ser ~ , ' d0 . . 0 econômico sobre as idéias, tambem nao 11sm , capita do . d O escartados. 61 Além disso, uma vez 1mp1anta ' 199 desenvolvimento, torna-se um "imenso cosmos" com seu ·egi·as aos indivíduos independe ntemente d _que 1 . õe sua s 1 1111 P 'd r eles .62 Isto nos leva à segunda observ a _er ca assumi a po .. h' " açao , . ·espe ito espec1f1camente ao caso e 1nes. Web '_a qua I d12 1 . . . , f ~ , er nao . ele a impossibilidade de con ormaçao a ordem capi't 1. via n a 1sta mod ern a. Ao contrário, segundo su as palavras, chinês com toda probabilidade poderi a ser co mp 1eta.. me nte capa z, provave lm e nte m a is cap a z que o japonês assi milação do capitalismo que tem s ido, té cnica e econo '. de 'd , micamente completamente d esenvo 1vt o n a are a de cultura mod ~ , . erna. Isto na~ e ~~vian;ente uma questao de supo.r º. chinês 'naturalmente mab1htado para as dema ndas do capitalismo. Mas e parado ao Ocidente , as variadas condições que externa'm om. d . . ente 1 avoreceram a origem o capita ismo na China não foi· f·!su f 63 cie nte para criá-lo. [ .. .] O A partir do ponto de vista dessas observações, podemos evitar a afirmação segundo a qual a lógica da fronteira pura e simplesmente levou ao nascimento da mentalidade capitalista no interior do Brasil. Na verdade, quando nos voltamos para a obra de Sérgio Buarque não estamos lidando, é certo, com uma hipótese que defende o surgimento da mentalidade capitalista num lugar do Brasil de forma absolutamente independente da expansão do capitalismo mundial. Para ser mais correto é necessário recordar que quando Sérgio Buarque está fa lando dos grandes fazendeiros e dos tropeiros no interior do Brasil , estamos às portas do século XIX, do qual o autor, nesses estudos acerca da conquista do Oeste, não chegou a desenvolver um estudo mais sistematizado; 64 apenas aponta, como temos visto, para um certo resultado daquele processo que ele vinha seguindo tão de perto desde séculos antes. Creio que para clarificar o ponto vale a pena começar ª ~et~mar O ponto de partida deste trabalho e lembrar da primeira obra de Sérgio Buarque, Raízes do Brasil. Como vimos no terceiro item d 0 e , . ap1tu 1o I, uma das bases de argumen taçao deste livro d ,, - • · · se era a e que no seculo em questao m1c1avaurna revoluçã O I . ·• d enta e silenciosa que na ocasião a parttl os estudos de Wi . ' ' o de d . erneck Ytanna, comparamos a um process emocrat1zaçã 0 t . . · nização _ ocquev1l11ano nomeando-o amenca no caso ~ ' ,, · ao continente t ' nao no sentido de uma dinâmica propna ' 1 a como s . · nal. Argumentam upoe uma explicação do tipo s1tuac 10 osemsegu·ct . ,, lO I que 1 a, no item quatro do Cap1tu ' 200 este processo, ao se defrontar co 1n o nosso t d·1 • ra c1onalismo , . . resultava numa espécie de cui·to -circuito b na circunstância do homem cordial , . ' . em representado b , ao inseri r-s ,, . e na urocracia da maquina estatal, acaba por se to . . . l t na1 pura e simp esmente, ' um funcionário patrimonial 6s E 11 o Ponto a q L d 1. , · _ . ie ec. icctmos mais atençao, no relativo ao trotios d ,, . • o oc10/negó · Y cio, vimos . que não encontrávamos homens que , . cu 1t1vassem O negocio antes que o ócio e, desta maneira que s d e a equassem àquele ' . p1ocesso que apontava para a moderniz açao e para o mai s ,, d . . efetivo ingresso o pais no Ocidente Parec e ser extremamente · ,, . . util e esclarecedor se nos perguntarmos sob re a maneira pela digamos , encontram os no f'ma 1 do qual os hon1ens que, . processo de ,, conquista do Oeste se comportari·a m neste novo mundo do seculo XIX anunciado em Raízes do Brasil. É possível dizer que, ao contrário do que ocorre em Raízes do Brasil, os homens que resultam da fronteira não têm um completo desencontro com o processo de americanização que toma curso naquele século, parecendo ser mais plausível dizer aqui que há a possibilidade de as dinâmicas interna e externa se compatibilizarem. Ou, em outras palavras, a americanização tocquevilliana - que se reforça no Brasil desde a vinda da família imperial - e a herança colonial - no que tem de ligada à conquista do Oeste - apontam, de certa maneira , para a n1esma direção, e isto parece indicar um caminho particular de modernização, no qual não há um rompimento com o legado ibérico, mas sim sua dinamização. É nesse sentido que podemos interpretar a pergunta de Sérgio Buarque em certa altura de Caminhos e Fronteira~, pergunta esta formulada antes de descrever a nova mentalt. 1·ismo e logo após ter quase,, ,, com o capita d ade compativel . t do Oeste·· "Não havera completado sua narrativa d a conquis a - es possíveis para o . aqui entre parêntese uma das exp 1icaço d t do antes de outras ' ' ,,66 . . fato de justamente São Paulo se ter a ap ª ' _ d O oderno capita 1ismo.1 m regiões brasileiras, a certos pa d roes O CULTIVO DA TRADIÇÃO ~érgio Buarque deixa essa sua pergunta sobre a modernizaçao de São Paulo sem uma resposta; no entanto, como num 201 . ula çã o da qu es tão pa r ece rm fo ria óp pr na , ico ór ret o M se de sej áss em os ex erc íci . . as . f va at1 1rm a sta po res en co ntr ar- se un1a is ex plí cit a po de ría mo s ma o uc po un1 a rm fo ~e sta es ta res po de po uc os an os de po is. Qu an do tal ve z en co ntr a-l a en1 un1 tex to Itá lia en tre os an os de na a íli fam a n1 co o cid ele es tá es tab os Br as ile iro s na Un ive rsi da de tud Es o nd na io lec , 55 19 e 53 19 ur a de 1954, de slo ca -se alt rta ce a , ue arq Bu io rg Sé de Ron1a, co nf erê nc ia int itu lad a "Le BrésiJ na u1 ere of pr de on íça Su a ra pa ern ati on ale s 9ém c Re nc on tre s Int no e" ain ric 1é An e Vi da ns la no res ult a da su a pa rti cip aç ão e qu igo art No . ve ne Ge de jo tem a ge ral versava cu , co es Un la pe ido ov om pr En co ntr o e o No vo M un do , o historiador lho Ve o tre en s õe aç rel as e so br oc ult ar o fat o de qu e os ve de o nã o isã div ta es e qu arg un 1e nta rte da me sm a civilização, a pa em faz o tic lân At do os lad do is no iní cio de su a pre leç ão , alerta Oc ide nta l. An tes po rém , ain da tra tar os do is co nti ne nte s, 0 o nã to an qu rio ssá ce ne tão qu e "u nid ad es co mp ac tas e ho mo an 1e ric an o e o eu ro pe u, co mo õe s es ter eo tip ad as en tre os iaç nc ere dif as r ita ev é ", as gê ne tor , dig a-s e, já ab or da do pe lo au pa íse s do No vo M un do . Te ma çõ es so br e o Am eri ca nis mo ", era sid on "C , 41 19 de igo art no Ca pít ulo III. Agora, do o atr qu m ite no o ad nt se re po r mi m ap "u ma da s sim pli fic aç õe s mais e qu a rv se ob o rgi Sé , 54 19 em s lat ino -am eri ca no s co mo apreco mu ns [. . .] é im ag ina r os po vo as te po nt o po r po nt o co m os ntr co um t, -cu ar cle um do an se nt -sa xõ es ', co mo sã o ch am ad os po vo s de fala ing les a (o u 'an glo nte ". 67 Ad mi te em seg uid a que ne nti Co o sm me do s) ze ve as alg um l en tre as du as Am éri ca s, po is há , sim , um a dif ere nç a cru cia noa rep res en tad a nas naç ões lati é ve rda de qu e a tra diç ão ibé ric a tod o, tem sid o des fav orá vel par am eri can as, tom ad a co mo um que s val ore s e ati tud es da me nte a pre do mi nân cia de alg un s do lóg ico e da civ iliz aç ão capita no tec sso gre pro do z rai na est ão s da rso nif ica da no s Es tad os Un ido pe ora ag dia mé sse cla de a list ter nç a em pe rsp ect iva pa rec e ere dif a sm me a est e ca, éri Am da act erí sti cas ex tem po rân eas ain 68 alg o a ve r co m alg um as car ue ibé ric o no mu nd o mo der n0 exi bid as pe los po vo s de est oq (Ên fas es acr esc en tad as) o po de se r dit o qu e essa nã , ue arq Bu io rg Sé o nd gu se Mas, a ine rra dic áv el en tre os iberoten dê nc ia co ns erv ad or a é de tod dê nc ia à ina da pta bil ida de ten a e qu r va ro mp co ra Pa s. no 0 am eri ca é ine ren te, pr os se gu e s lhe o nã sta ali pit ca o çã pa ra a civ ili za 202 ,,....~ . recorrendo a u1n dado que obrigaria a matizar 'd d . "[ ] , . d' tomia entre as Atnencas, pois .. . uma c1 a e ªrgumento uei'l tCO - lJaulo , que ten1 crescido e1n poucos a nos co m uma aq ' ao 5 110 11nente) , e, d 1·f'1c1·1 • co1 ara le lo (ho ri zo ntalme nte e ve rtica . P . taxa sem ~ · 1. com a pintura que muitas pessoas suste ntam das · c1•t 1a C0 11 .• , anas " .69 lat1no-an1e11c ·edades soei De certa maneira, esta observação nos devolve àquela ergu nta fo rmulada e1n Caniinbos e Fronteiras e, d e algum podo constitui u1na resposta n1ais explícita à questão da ' 111 adaptabilidade de São Paulo ao n1oderno capitalismo. No entanto, mais do que isto, toda esta linha d e raciocín io, na qual se admite a dificuldade n1aior d a A1né rica ibé rica - em comparação aos Estados Unidos - para aquela adequação ao moderno capitalismo, remete-nos novamente ao debate sobre a validade explicativa de enfoques genéticos - a partir do legado europeu - e situacionais - procurando uma dinâmica continental - e os resultados destes desenvolvimentos iniciados con1 o transplante de uma cultura de um Continente a outro. Sérgio Buarque dá indícios da forma pela qual compreende a singularidade da inserção d a América Latina no mundo moderno - indícios esses que se coadunam com aquela "nova mentalidade " que ele descrevia no seu texto historiográfic o que abordáva mos há pouco no primeiro item deste capítulo - afirmando que ele "entre os povos da América Latina, esse tipo de dinamismo [encontrado em São Paulo] pode ser encontrado, é verdade, lado a lado com uma economia e uma estrutura social primitiva e em certos casos semicolonial".70 Mesn10 assim, esse dinamismo é suficiente para levar em direção àquela "civilização capitalista" que, observava Sérgio no começo, muitos vêem como incompatível com os povos ibéricos, e para permiti r também o "progresso tecnológico", ainda que este siga "[. .. ] linhas inesperadas entre eles, visto que parece ser O resultado do puro acaso e desconectado d e qualquer processo lógico de evolução" .71 De qualquer ma neira, í.. .] deveria se r notado [. .. ] que muitos desse s avanços [tecnoló- gicos], que estão crescentemente sendo feitos sem qualquer assistência imediata de fora, indicam uma determinação para 203 get tbing dane, o que é uma negaçã o da image m mais ou menos conve nciona l que tem cresci do dos povos da Améri ca Latina. 72 E, enLào, ao insistir na partic ularid ade e não anorm alidad e desse progr esso tecno lógico , Sérgio Buarq ue avanç a uma argumenta ção apena s suben tendi da quan do fa lava, em Cami nhos e Fronteiras, da forma ção da menta lidad e cap italist a na fronteira - aqui é neces sário frisar que os trech os deste livro sobre os quais temos reflet ido nas últim as págin as, foram' origin almen te escrit os em 1949, tendo const ituído o texto "Índio s e Mame lucos na Expa nsão Paulis ta". Agora , em 1954 ' reflet e o auto r: De mais a mais, quand o dizem os que não tem havido um desenvo lvimen to norma l no progre sso tecnol ógico desses povos, poderí amos muito bem pergun tar a nós mesm os se o que é conceb ido como 'normal' pode não ser, em essência, o que é normal para os povos cujas tradiçõ es cresce ram atravé s dos século s por meio de um proces so de evoluç ão contín uo e orgâni co. 73 Por conse qüênc ia, torna ndo a olhar para a Amér ica ibérica, pode- se enxer gar não simpl esn1e nte o atraso ou desen volvimento anorm al, mas um proce sso partic ular de evolu ção, onde "a apare nte falta de seqüê ncia lógica na assim ilação , seja de técnic as, seja de institu ições e forma s de vida comu nitári a [. .. ] pode ser parci alme nte expli cada por sua histór ia " .74 Embo ra o Novo Mund o comp onha a mesn1 a civili zação que a Europ a, como insist e Sérgi o Buar que na abert ura e na concl usão de sua confe rência , não se dever ia esper ar dele os mesm os passo s deste Conti nente , pois entre os a merica nos - e aqui tenho em mente não apenas os latino- americ anos - os hábito s e institu ições ago ra estabe lecidos não são todo s o fruto de um d ese nvolv iment o natura l e ininte rrupto ; e m muito s casos, tem sido necess á rio saltar alguns dos estág ios interm edi ários pelos quais eles p:issaram no Ve lh o Mundo . 75 Aqui Sérgio Buarq ue reflete propr iamen te sobre a temática do Novo Mund o, o fato de a Amér ica ser colon izada pelos europ eus e confi gurar em uma exper iência de transp lante _d e uma cultura adven tícia . Um pouco na linha do fim do primeiro 20 4 . , , o po nt o é sa. lie nta r qu e ni"o 11a um a rncom ·cem de ste ca pít ulo . . " 1ca d.1nan1 , • • • ern a do s pdr 1se int J an os a e ric 1 me ent a s e ad tltd tib b Pª . nu xo s exte1 no s do Ve lho M un do en1 o ra est e en co ntr o , os 111 e . ias nc pâ re sc possa su ge rir di rla 01 ai•s se p e ns arm os lad o d,es. te te ma ' 'tin ~ ' Ma s també1n, ao . , . ' -s e 0 co ntr as te en tre tn on nc e ca en 1b a 1e nc An de s ' mo ter m ' e rn as ' se nd o qu e , 11 es t e e.Ie b ate , e od n1 e s da sa a atr s a mi no eco , . . o a rq u e d e n1on str av a oti mi sm Bu 0 rg1 Se to, vis os tem mo co ap on tan do pa ra a mo de rte, as ntr co o ar nd ra ab ra pa suficiente inh o pr óp rio . nização do atr as o po r un1 ca n1 s ac o1 np an ha do e a ob ra no te1 e qu s nto 1e un arg os o Re un ind sta do Oe ste po de mo s diz er, ui nq co a e br so a fic rá g rio hi sto qu e, ne ss es an os en tre ar Bu io rg Sé e qu a, tic té sin de fo rm a nc eb e o de se nv ol vi me nt o e co , 50 19 e 40 19 de as d ca as dé oa ve lm en te au tôn om a. raz a eir an n1 de l asi Br do o mo de rni za çã ão ibé ric a po de se ad ap tar ao diç tra a e gu , nte rta po in1 is Ou , ma o res qu íci os do atraso, ao co ntr ári mode rno ca pit ali sm o e qu e os es so , po de m diz er res pe ito uc ins nte me ria ssa ce ne r ica de signif o p elo p aís , se nd o qu e ao contrári o d lha tri lar cu rti pa o nh mi ca ao se es pe rar do s pa íse s atraao se, tar un erg p ria be ca os de criticá-l a m ais ad ian tad os , nã o se estari s do os ss pa os sm me os os sad m su as tra jet óri as históricas. ex igindo alg o in co mp atí ve l co es ta trilha de de sen vo lvi me nto er nd ree mp co te en lm rea ra Pa na mi za do r do leg ad o :.. di nto ne le1 e o rto be co es K.â teria qu e se mo str av a de sfa vo ráv el pa ra se s ze ve s ita mu al qu o o ibéric o em qu e se pu de ss e en rai za r a pr ed om inâ nc ia de va lo re s za çã o ca pit ali sta - , qu e ili civ a um e co gi ló no tec pro gre sso co ns id er aç ão os tex tos so br e em -se do an lev , ue arq Bu o rgi Sé din âm ica da fro nte ira . na u ro nt co en , ste Oe do a co nq uis ta or do pa ís, co ntr ibu i pa ra qu e, eri int do ras ter s na , ica âm din Esta asse o leg ad o co lon ial nã o r~sul~ ao me no s em pa rte do pa ís, l con1 a mo de rn iza ça o. ve atí mp co in te en tam lu so ab em alg o r e.> e> . TERRA DEVASTADA me lh or o res ult ad o ' l'f 1 1car a qu eon tu do pa re ce t mp o ' art icu lar de ve z d ess e pr oc es' so hi stó ric o e ao me sm o e rre r ·da s no . de co . ' 'f' n ge su tiv er am · int erp ret aç õe s cu ja lig aç ão es d 0 Oe ste s1gn1 1cam ras ter s da d 0 tra ba lho . Se a co nq ui sta , . ne ce ss an o . . •~ eia qu e a prox ima o Brasil dos Estado s lJ n1ct ma experi en Sérgio Bua rque a le rta na confer ên . os, u ·r· a como . cta d ão signt 1c , . ess a d e d e s e nvo 1v 1men to e 111 d a n ue o pt oc ,, . . o u nesco, q sinas ca racte n st1cas nos dois casos perni , suma as n1e 1 zaçâo as . entrad a p a ra esc arece r e ste Pont. ossi, a me11101 ... . o velmen te, . - dos legado s transa tlantic os confro nt sei·,ª ar a d1scussao resgat t ras e le mbra r qu e, se tanto para O anadas s novas er d g1o, com ª ibéric o O Novo Mun o e ra uma prome 0 ão como para ' . ssa, sax . ·r· a algo difere nte e n1 cad a caso, pois, con10 vim esta s1g111 icav . d . os, so norte- a n1en cano pre omino u a conce pça ~ Ca enqua nto no . . ual O desco nhec ido a ser conqu istado deveriao q segun d o a ser trans1.r.0, r1nado , e ntre os portu guese s o que estava além da fro nteira poderi a vir a ser desfru tado. Nessa altura, em prime iro lugar, vale abrir um parênt ese para esclare cer O fato de que a re~a ção entre moder nizaçã o e tradiçã o cultura l, nos Estado s Unido s , nem sempr e tem sido tranqüila, como divers as vezes somos tentad os a pensar. Se lembrarmos das discus sões em to rno d os dilem as apontados por Henry Nash Smith e David No ble na o bra de Turner, dilemas aborda dos no terceir o item do Capítu lo IV, devem os admitir que , por aquele viés, o desen volvim e nto norte- americ ano també m seria proble mático , p o is os auto res apont am para o fato de Turne r ter prepa rado uma armad ilha a si própri o ao esposar eleme ntos do evoluc ion ismo a o mesm o tempo em que realizava uma apolog ia do ag rarism o e da rusticidade. Esta armad ilha desem bocari a na antino mia entre o primitivism~ e o indust rialism o. Confo rme a formu lação de Smith, a convicção básica de Turne r L.. 1 era de que os valores sociais mais . e 1eva dos e ram encondentro trados na socieda de relativ amente pnmtti . . .va exatam ente . . punha da fronteir a agrícol a. Mas a teoria dos e s ~ t· a sg sociais i a i•ai na os valores mais altos na outra ponta d o proc essa soe anufa' socieda de urbano -indust rial, entre o desenv o 1vim · ento m óricos . e a vida . na cidade que Jeffers on e, . tar de ' .os teTurner tureiro mais , . . raram perigos os para a pure za soet a1. agranos conside oscilou entre as duas visões. 76 Naq uele mome curei nto em que expun ha a tese de Turn er pro ·d por traçar um l ·. srn1th, . argum ternat1va a esta interp retaçã o d esen volvi a Juento ev 1 c · 0 nista . o, através da anális e do pensa m ·f·ca 0urn qu entand ~ ·gnt 1 ' e nao necess ariame nte esta corren te si ªª 206 . . . E' h ezo em rela ção •aos destá.gios iniciais de evol uçao ora . r desP ,, . por o taçã 1 rpre inte e tipo alisar aqu e e Ih outr o v1es o .,, . b de an ' wde Geo rge t 11 .tams e pelo ·do pelo tra da o Jª cita do . sugen s San for . Este s dois. estu dios os arg ume ntam em 1 arle Cl . d d de ss1d. a. e e se anal isar , se não a ob ra d e Turne r nece da 11ro l e cu 1tura l , . nort e-am eric an as, d o pon to' adiç ões relig iosa r . ~ d as tr t pon to es e para iso e de natu reza • Ese v1so ,ista das suas \ . de apo nde vista pod e aJud ar a repe nsa r as opo siçõ es e dile mas th ,,qua ndo abo rda o que ele cha ma d e "agra por Smi s do . . ta rist110 a1n enca no em sanf ord, por exe mpl o, con side ra que sua abo rdag do primienvolve un1a tradiç~o. que . eng loba tant o os "filósofos lização tivismo" q~a n:o os pione~ros do prog ress o"' pois a idea natu reza edênica nao e nem uma ima gem agrá ria está tica de plex o cultivada, nem uma opo siçã o ao wilderness, mas um com ca em imaginativo que , ao incl uir amb as as ima gen s, as colo 77 dire ção, uma relação dinâ mic a com outr os valores. Na mesma a qual 0 é bom lem brar da obs erva ção de Williams segu ndo o para wilderness pos sui tant o sen tido posi tivo com o neg ativ even tos a tradição juda ico- cris tã - form ulad a a part ir dos do do que giram em torn o do aco ntec ime nto bíbl ico do Êxo ado s no povo de Isra el do Egit o e de seus qua rent a ano s pass tano s da deserto. Nes ta trad ição que é reto mad a pelo s puri luga r de América, o dese rto pos sui tant o a idéi a de abri go e devasmeditação e arre pen dim ento qua nto significa uma terra a terra. tada e, enq uan to tal, ape nas a prom essa de uma nov também Desse mod o o wild erne ss mer ece ser con serv ado mas ' s. Nesse transformado de aco rdo com os desí gnio s de Deu ford, os sentido, da mes ma man eira que na con cep ção de San tar algu ma motivos bíbl icos par ece m con greg ar e poss ibili 78 assim, resolução entr e o prim itiv ism o e o prog ress o. Sen do mas das ainda que Wil liam s e San ford reco nhe çam cert os dile nto ao tradições inte lect ual e cult ural nort e-am eric anas qua st zação, tema do des env olvi men to eco nôm ico e da indut' riali s a pon ·f· • ~ • , . .to. --os con side ram intr ansp oniv e1s e tao signi ica ivo nao 1t1resultar em um jogo de opo siçã o abso luta entr e o pn1n · o. . d ustn.a 1ism v1smo e o 1n nsta ntem ente a Est e prob lem a pare ce ter desp erta d O co ner tigos de Tur d ~ ate nçao d de Sérg io Bua rqu e ao estu ar os. ar e ser ou h'isto riog rafia ame rica na. Este seu 111 tere sse po ª grif ado s em seu h . depr een dido os trec dos o, mpl exe , por d: 207 ~ . i }'vro de Turner, The Frontier in American 1_1. , ·ct11pla1 e o 1 d. 0 h. ex , " alguns livros que 1scuten1 o tstoriad · ist ,,,.,, ·y, , u1mbe tn e m ,, . . . or non " e • . ., . como por exemplo, o propno Virgin Land d e 1-r e.1111encano, , . h ' i1enr ' •tI e Do the A mericas ave a Common H· Y Nash 51111 i, . ,, . " istory? ·ga nizado pot Hanke. Alem d1sto , no Pref" . , vo lum e 01 · ,, ac10 à .J Edt'çào" de Visão do Paraisa, de 1968, onde ct 1• 1 Scgu noa . . _ . a oga co m autores norte-america nos qu,,e tratam do mesmo tema do .,. a concepção do Para1so Terreal corrente ent 10 se u 11, . re os eu rope us na época das D ~sc_o b e rtas, aplicad~, no entanto, aos Estados Un idos - , Serg10 Bu a rqu e a nalisa a obra d Charles L. Sanford , The Questfo~'° ~~radíse, focalizando a apro~ ximaçào entre o selvagen1 e o civilizado. Escreve que Sanford persegue O ten1a do Paraíso Terreal n a história dos Estados Unidos na sua dinân1ica, percebendo sua adequação a cada novo contexto. Assin1, a idéia segundo a qual a regeneração moral era uma n1issão coletiva se impôs ao povo dos EUA desde que seus antepassados identificaram a nova terra com o Éden restaurado e pôde permanecer nos diferentes momentos da história norte-an1ericana. Dessa maneira, escreve Sérgio Buarque, Embora optando conscientemente, na prática, por uma posição de meio termo entre o primitivismo da 'fronteira móvel ' e os requintes da civilização européia , tendessem a formar um conceito de natureza predominantemente silvático e rural, não deixaram os norte-americanos de associar ao progresso material a elevação moral. Isso lhes permitiu adaptarem-se sem maiores atritos ou artifícios a toda a complexidade da civilização industrial. 79 Nesse mesmo plano de problen1atização da relação entre modern iza çã o e legado cultural, pode-se retornar à Visão do Paraíso para a análise do caso brasileiro em con1paração com o debate norte-americano. Assim, incorporando a discussão de Visão do Paraíso em nosso argumento, temos dois legados tran satlânti cos diferentes - cujas visões do paraíso parecem e . .· · d a deles. ons t1tu1r-se e m uma chave de leitura priv1.1eg1a mesmos - que são dinamizados e até certo ponto aproxtd . .d'l' ma os, no caso do Brasil e dos Estados Unidos, por meto d·tnamica " · da fronteira. Em nosso país se a tradição 'b,e nca 1 podes ]'d ' gosto 1 er a como associada à ação aventureira, com O , . da pecún• . ~ ana1. ta, mas sem esforço continuado, a af1rmaçao , qui ca do se!f, 0 ~ ,, . sum,1, , amor ao ocio antes que ao negoc1o, en1 d 0 qu e rer peg tista 0 ar pronto, acompanhamos que a conqL 208 ~ . ste possibilita u1na relação mais O rganica com Oe . . ,, . a terra, um to disc1phna n1ento do se!f e O amo r ao negocio 0 len , que não . . sulta, no entanto, no exato contrár'10 d as virtudes inicia.15 1e · Nesse se ntido, a dinân1ica da front . . d . eua aponta n , os 01s d ~asos para uma 1nesn1a direção qu e po emas relac 1· ' ,, ' e onar ao . aumento do vinculo da cultura com a · s necessidad es 1 mais b' nov uin em vida pela uta da rementes 0 am 1e nte le vando P ,. . a uma evo 1uçao 1na1s organica e autêntic D , d ' ª· a1 ecorre um disciplinan1ento co 1ado con1 as necessidad es e com as mudanças . . d . d materiais a v1n as no decorrer da conquista do 0 este, a qu al . , . . . ,, · d'1v1·c1 ual. De a energia e à iniciati'v a 111 1ncent1vo é tam ben1 un1 ,, . se a fronteira ' que podem os cons1'd erar e como certa maneira, _ . . uma amencan1 zaçao no sentido continenta l , ap on t asse em algum grau para os valores relacionad os ao processo de americaniz ação e democrati zação que Sérgio Buarque detectava já em Raízes do Brasil. Em todo caso, sendo direto, o objeto que passa por este processo de dinamizaç ão é diferente em um e em outro caso e seus resultados da mesma forma. Neste sentido, como já apontamos em outras oportunid ades, a rigor uma explicação situacional dificilme nte p o de se propor a eliminar completamente a abordage m do legado transatlânt ico. No "Prefácio à Segunda Edição" de Visão do Paraíso, Sérgio Buarque faz justamente um balanço deste tipo de estudo, realizado, no caso, desde o ponto de vista da concepção de paraíso e de natureza predomina nte em cada tradição, apontando para as possibilidades interpretat ivas que seu próprio trabalho sugere ao lado de obras como de Williams e Sanford, o que leva o autor a observar: O resultado mais fecundo do exame que se tentou aqui de algumas pesquisas ultimament e realizadas acerca do qu adr~ ideal que do Novo Mundo forjaram os europeus - ou melh~ot, castelhanos e portuguese s de um lado, do outro anglo-saxoe s está em que , obedet • - na era dos grandes desco b nmen os, mum fornecido pelos . . cendo geralmente a um para d 1gma co duas variantes tanto . . . . , motivos edênicos esse quadro ad mtt1a, no en ,., · s se proJetanam ' . consideráve is que, segundo todas as aparencia , . ,, . d te hem1sfeno. Assim, 'd s no ulterior desenvolvi mento dos povos es , . , I lesa vinham movi o a uma se os primeiros colonos da Amenca ng e se Iv ' deserto do . O . . sas e civis _ ngor pelo afã de construir, vencen d d · O pressoes re 1igto . d enfim se . comunidad e abençoada, isenta as ongem e on e d ' Por eles padecidas em sua terra e ° 209 ~ realizaria O puro idea l evangé lico, os da Améri ca 1 atina . de ixavam atrair pela espera nça d e achar em suas con . se 5 um paraíso feito de riquez a munda nal e beatitu de celes~ º' las a eles se ofere ceria sem reclam ar labor maior, mas sim ' que um dom gratuito. Não há, neste último caso, contrad ição como , . d sária entre o gosto da pecuni a e a evoçao cristã. Um e neces · f .. em ver d ad e, se lfm anam requen temen te e se confun deoutra ..1~ Cristóvão Colom bo exp rimira isto ao dizer O que com ou ro m. . tudoª se pode fazer neste mundo , e ainda se m andam almas a o C,eu. 80 Cabe acresc entar apena s que, nas leitur as de Sanfo rd e \X'illia ms, també m no caso norte- ameri cano não há un1a incongruênc ia profun da entre o espiri tual e a riquez a, pois dentro da tradiç ão relativ a à conqu ista moral e transformaç ão do desert o e selva é possív el a identi ficaçã o do ava nço n1oral e espirit ual com o progr esso mate ri al. 81 Nes te ponto , a referência à estrut uração do mito do Jardim d o Éden elabor ada por Sanfor d pode abrir uma brech a que nos p e rmi ta ilumin ar a difere nciaçã o dos dois casos e suas conse qü ê ncias. Para o autor, neste mito funde m-s e co nti nua mente d o is pólos, o da auto-a firmaç ão e o da sub1ni ssão. 82 As irnage ns do paraís o associ am-se aos dois pólos . Pode, p o r e xe mplo, significar, ao mesm o tempo , afirma ção do self e su a a nulaç ão , aventu ra e novas experi ências ao lado de rotina e desejo de segura nça. Nesta chave poder- se-ia talvez associ ar o imagi nário norteameric ano a uma ênfase maior no pólo da auto-a firmaç ão, enqua nto o ibero- ameri cano ao da submi ssão. Naque le caso, uma nature za avara, signif icand o ameaç a e ao mesm.o tempo p · romes sa, exige do anglo -saxão , segun d o sua matnz cultura l t b lh • , . ,, , ra a o s1stemat1co para transf ormala 0 que nos remete à d· iscuss ao desen volvid a anteri ormen te em torno de Weber e à . l'd raciona 1 ade de domin ação do mundo , ao mesmo tempo que d .. . . nos evolve a espec ificid ade da fronte ira norte- americ ana nà 0 . . . seu , ' signif icando com isto a invali dação de carate r transfo rmat' demonstrand ivo e de adapt ação do pione iro, mas 0 a penas seu b · . · se compa rad 1,nd1ce aixo de mistur a com o nauvo 0 com o caso p l'1st . ,, · portug uês . au a . Por outro lado o imagin ano .. , se analis ado d O . ' . edenic as na ép d ponto de vista de suas image ns oca a colo · ~ e mesm o apo's t erem perd. d nizaça o - que , como deuse s qu exerce ndo seu d I o seu lastro de crenç a contin uam P 0 er nas a çoes ~ d os home ns , parece in d'ica r 210 numa direção que envolve a idéia de natureza dadivosa à espera de ser desfrutada. Nesta matriz, não a crença dos homens, 11135 a bondade da terra os transformará moralmente. É como se O dever-ser estivesse nas novas terras. Nesse viés, na fronteira das terra s paulistas a formação e o disciplinamento do conquistador se dá de maneira colada às novas necessidades mais chãs e resoluções e ncontradas para a conquista do Oeste, em suma de forn1a orgânica co1n o ambiente - o que é exatamente sugerido por Turner na su a tese da fronteira mas no ' ' caso em questão, nun1 grau inusitado . Nesse contexto, se no item a nterior ressaltamos o que poderíamos ver, do ponto de vista da integração ao capitalismo , quase con10 o lado positivo do processo de conquista da fronteira no Brasil, não podemos deixar de enfatizar agora tambétn o que poderíamos tomar como os aspectos mais negativos e mesmo trágicos desse tipo de desenvolvimento aliado co1n o iberismo. Para isso, é preciso alertar que aquela maior proximidade com a natureza vinculada a esta tradição, que está à procura do paraíso pronto e conduz, na fronteira , a uma forte adaptação à vida na selva e ao modo nativo, não significa um cuidado extremo com a mesma natureza. Escreve Sérgio Buarque en1 Visão do Paraíso que seria engano cuidar que nisso se denuncia, quer entre espanhóis, quer entre portugueses , um gosto acendrado pelas formas naturais e concretas que ofereciam as terras descobertas. Aquela extren1a adaptação que acompanhamos especialtnente no primeiro item do Capítulo VI, "[ ... ] a facilidade extrema com que, desde o início, assimilaram eles, muitas vezes, os métodos predatórios dos índios no trato do mundo vegetal, agravando-os ainda mais graças às suas ferran1entas civilizadas, mostra precisamente o contrário" .83 Mesmo entre os ibéricos eruditos, cronistas e religiosos, que com suas descrições acuradas deratn uma grande contribuição para o conhecimento da natureza do Novo M~mdo, não havia, no grau que se tenderia supor, o gosto e o CU1d_a do com as novas plantas e animais que tinham diante da ~1sta, posto que, na realidade, "o que d e preferência os atra ia na natureza , além do préstimo que dela podiam tirar, _e ran:1 os . aspectos vistosos, e raros, que so b ressai"a m , por assim dizer, . . l" Dessa maneira e ltbertavam-se da própria ordem natura · · ~ ' 211 não admira [... ] que vicejas se fa cilm ~nte , e ntre e les , um mo do apa rente d e ver a n atu reza q u e co n siste antes e m ve r através , . . e apesa r d a naturez a. A su a o ri ge m esta ri a noçao, a rra iga d a e i vel has trad ições, de q u e o esp iritu a l h á de prevalece r sob re n , . ca rn al e o co ncreto . O m un d o e m p m co , e m s u a baixez a s,o ) o vale na medida em que nos descob re os d egra us necessá rios para asce ndermo s, d e ntro dos lim ites hum a n os, até o co nhe cime nto d as co isas invi síve is e, po rqu e invisív e is, isto é , in co rpó reas o u espiritu ais, ce rtame nte mais di gnas d e estima d o qu e as riqu ezas as com od idades, as ho n ra ri as e to d os os bens da Te rra.ª4 ' Cabe ressaltar que o acentu ament o d a prox imida d e com a nature za e da adapta ção a ela, propo rciona do p e la lógica da fronte ira , não signif icou altera ção - talvez tenh a até agrava do - ne1n do descré dito para com os seres vivent es, nem da relaçã o muitas vezes preda tória estab elecid a com e les. Neste sentid o , é quase desne cessár io d izer que a maior proxim idade dos europ eus com os nativo s da terra, en1 comp a ração com o que ocorre u nos Estado s Unido s , não signif icou menos violên cia e crueld ade - basta le1nbr ar que a proxim idade envolv ia a caça às "peças " e escrav ização .85 Outro exemp lo da relaçã o pred atória com a nature za pode ser encon trado nas monçõ es do século XVIII .- mome nto no qual , ressalt e-se , confo rme notam os no segun do item do Capítulo VI, há um significativo discip linam ento das energi as individ uais e uma certa rotiniz ação e organ ização das rotas co merciais . Já dissem os, nas viagen s fluvia is eram utiliza das ca noas de tronco , sendo neces sária uma árvore de mais de l S metros de altura para cada embar cação constr uída . Isto l~vou a uma "destr uição sistem ática e progr essiva desses gig~ntes florestai s, em extens as áreas" , o que só não chego u ª. c~t ar um proble ma para o comér cio de Cuiab á porqu e coinc1d1u por um lado com . ' , o esgota mento tambe, m progre ssivo, das minas de ouro do B1• ·1 e ' l' · . ,., asi d a 1mpor tancia ec ,., · d entral e conse qüent e dec 1n10 . onom1 ca essa região e, por outro , com o mcrem ento das v·a 1 gens terres tres atravé s de Goiás. 86 Mas, segun do Sérgio Bua " . rque, a escass ez dos paus de canoa e ma d eiras de constr uç~ [ ] escass ez e ncontr a e ao ··· e a preoc upaçã o causa da por essa tem ,, E , co em nume rosos docum entos oficia is d 0 po · , a 1en1 do corte d , "[ ] o sistem d . as arvore ª as qu eimad as e roças para s por si n1esmo, . •• a lavou ra vinha agrava r 212 . da inais a situação, transfonna ndo e 1n campos ge . ,, .. 1eguas ; uas de te11 eno en1 1 edo1 dos sttios povoad ,,ra1s 87 e Ieg os . Jensando que o desenvolv imento capitalista elevr l ~ . a a capa·d de de exp loraçao da natureza em seu mai·s alt c1 a _ . o grau, a combinaça o ope1 ada ~otn esta nossa tradição predatória de vista, re.s·ulta · , desse ponto . . num desenvolvi ·n1ento p erverso, quase como se Juntasse o pior de dois mundos numa equação de imediatisrn o e grande escala. a1n :> • • ,, • Assim , dentro desta nossa dinâmica hi stórica que não resulta en1 a lgo con1 pletan1en te a ntagô nico com O moderno capita lisn10 , con10 muitas vezes parece estar s uge rido em Raízes do Brasil, este desenvolv imento por dentro da matriz ibérica significa, para o bem ou para o n1al, algo muitas vezes surpreende nte e avassalado r. Para provar isto, temos em nosso sécu lo, por exemplo, dizia Sérgio Buarque na Conferênc ia de 1954 na Unesco, "o desenvolv imento surpreend ente do transporte aéreo en1 países cuja malha ferroviária é completam ente inadequada para arcar con1 suas necessida des mais elementaresJ' ,88 ou mesmo o já referido crescimen to "em poucos anos" da cidade de São Paulo "com uma taxa se1n paralelo". De toda forma, então, parece que este surpreend ente desenvolv imento brasileiro está vinculado , sim, a um certo disciplina mento e a avanços singulare s mas também nunca perdeu totalmente seu caráter predatório e quase de milagre. Nesse sentido, para concluir, vale lembrar a maneira pela qual Sérgio Buarque encerra seu livro Visão do Paraíso: Teremos também os nossos eldorados. Os das minas, certamente, mas ainda o do açúcar, o do tabaco, de tantos outros gêneros agrícolas, que se tiram da terra fértil, enquanto fértil, como o ouro se extrai, até esgotar-se, do cascalho, sem retribuição de benefícios. A procissão dos milagres há de continuar assim através de todo O período colonial, e não a interromper á 89 a Independên cia, sequer, ou a República. Outros milagres haviam de se seguir. E outras devastaçõe s. 213 p o e e N L u s à a . do en 1985 com o Intr odu ção 1 ao volume N0 texto pu bl ICa 1 ~ G d . tistas ,, . . Bu'l rque na Co eçao ran es Cien d.1 d O a Sei g10 de c_a d servir de guia ao leito r de sua obra , Maria Sociais e que po e ~ C . h e1 ' • ' . d 1 Dias com enta Monçoes e Odila Leite a s·1 va . bsei·v a que O histo riad or teu-as e o ami n os e Fron- sugere um proce sso dialé tico na expe nenc ia do pione irism o paulista: os valor es ibéri cos neg~ dos e ª1:1ea_çad~s ~elo meio hostil ; a adoç ão da cultu ra mate rial e de tecn1 cas md1g enas de sobrevivência; a supe ração paul atina deste impa sse inicia l na lenta recup eraçã o e reafi rmaç ão das form as de conv ívio trazidas da Península Ibéri ca, no sécu lo XVIII. 1 Mais rece ntem ente , em um text o de 1997 sobr e a vida cotidiana no interior do Brasil colô nia, insp irad a na obra de Sérgi o Buarque, Laura de Mello e Souz a escr eve: Como deco rrênc ia do cami nho do mov imen to const ituiu -se ª ci:ilização paulista. Para ent~ nder -se os prin~ órdio s de um sentim · · i'd a d e no , . ento, d e mtim Cent ro-Su l da Amé rica portu guesa, e obng atorio repo t · s cotid iano r ar-se aos h,ab1to s dese nvo Iv1'd os pelos sertanistas d p · • . . . e tratm rnga: num prim eiro momento, distan ciam-se dos trazid d , . , .· _ os ª maepatna 105 euro péia e adota m os propi as popu laçoe s 1. d' , desen 1 , ~ igena s da regiã o; em segu ida, come çam ª vo ve r habtt os c , • ·a sobretud ' ompo sttos , nos quai s a mesc la repou s 0 ' · o, adve ntíc' no proce sso ana log1c que selec iona , na cu Icur,' t ia , os elem ent cu ltura origin al N os que se harm oniz am melh or corn. a é sem pre Sé ·. um terceiro mom ento - e o pont o de referência h'b• rgio Buar qu d a itos europ eus [ ] z Ae e Hola nda - ocor re a adoç - de ao .. . (Enfa ses acre scen tada s) Não , Por e exagero ct· Mari tZer que • ·w ª Odila D'ias e L JUSlamente este proc esso desc n. ·a aura de Mel lo e Sou za - a primell ara apontar sua importância na obra de Sérgio Buarque e a ~egunda para, ao anotar a mesma importância, apropriar-se dele como chave para seu estudo sobre "a vida cotidiana nos caminhos, nas fronteiras e nas fortificações" _ constitui 0 tema em torno do qual o livro que ora concluo foi dese nvolvido. Procurei explorar a possibilidade de desvendar O referido processo a partir do trabalho de Frederick Jackson Turner, apontando para a proximidade do tipo de dinâmica encontrado nos dois autores, proximidade esta que se concentra 110 que denominei núcleo da tese da fronteira - num primeiro momento, diante de um ambiente hostil, o adventício se adapta ao nativo, para só depois , num segundo momento, retomar elementos da sua tradição que passam a se amalgamar com os de origem nativa para, daí, no terceiro momento, haver a retomada do legado europeu sobre novas bases . Contudo , o objetivo não se esgota num exercício detetivesco de busca de influências e de afinidades entre trabalhos de autores só ' podendo ser compreendido de modo mais amplo caso se leve em consideração a reconstituição do contexto das discussões sobre a América - que procurei apresentar no decorrer do Capítulo III - e as questões mapeadas por Sérgio Buarque já em seu ensaio de estréia. Na Parte 1, a partir de uma leitura de Raízes do Brasil, detectamos a presença, neste livro, de um dilema entre a tradição ibérica e a modernização. Concluí que a tensão do livro está calcada na incongruênci a radical entre aquela tradição e o que pudemos chamar de americanizaçã o. Em mais de um momento do livro fiz o exercício de transportar termos que Sérgio Buarque utilizou apenas em Raízes do Brasil para o momento seguinte de sua obra. Num caminho inverso, aplicando naquele ensaio as reflexões desenvolvidas a partir dos textos que abordam a conquista do Oeste, poderia chegar a dizer que naquela tensão entre os dois eixos de argumentos está depositada a necessidade de uma revolução que inserisse em nosso tradicionalism o uma racionalidade de dominação do mundo. Parece que só através de uma racionalidade deste tipo seria possível a conciliação entre tradição e nosso processo civilizador, que, neste caso, quase implicaria a anulação do primeiro termo. 3 Na Parte 2 do livro focalizei em linhas gerais o debate da hi st0 riografia do No;o Continente no período da Gra nd e 215 . ein torno de novas possibilid ad ,, . es ex 1. Guerra, qu . tória das Amencas que enfatizass P 1. ara a 111 s . e o q canvas P con,un,. Pe rcebe u-se que a discussão ll e uem em . rernet elas poss . _ dos pa íses an1e ncanos e que, pode-se n e 1 s à 111oder1112 e da problen1á tica levantada em Ra -- e rno roxuna-s izes d 0 dizer, ap que a tese de Turner tenha sido cont . 1 uma vez . . extua. B1ast.,, , ca de seu surgimen to, no fim do século XI 112 · ada na epo . . f. d enfatizava na h1stonogr a 1a norte-ame rican X - qu an o se ,, ,, aa . _ lo-saxã do p ais - , e, ta1nbem, posta em diál trad1çao ang ,, d d ogo de bate de fins da dec a a e 1930 , ve m à tona 1 com aque e . . 'd d d ern que me d 1·da ela abre un1a poss1bili a e e abrandam ento da dicotomia entre a An1érica do No~t: e a do Sul e_, também, de refletir sobre O dilema entre trad1 çao e moderniza ção. Com este quadro em mente, realizan1o s, na Parte 3, a aná lise das obras de Sérgio Buarque que tratam da conquista do Oeste brasileiro enfatizan do a relação presente aí entre tradição ibérica e moderniza ção, relação agora propiciada pela lógica da fronteira. Aproxima do este processo da tese da fronteira de Turner e caracteriz ado por sua vez como uma relação com a natureza e co1n o na tivo da terra representável por uma racionalid ade do tipo de "ajustan1e nto ao mundo", pudemos iluminar uma relação entre tradição e moderno na qual aquela não chega a se romper para o surgiment o deste, chegando até ao que considera mos como uma mentalidade capitalista - sui generis e, de certo ponto de vista, contraditória, pois apartada da "racionali dade de dominaçã o do mundo" da qual parece depender na versão clássica de Weber. Assim, se já em Raízes do Brasil detectamo s uma colonizaçã o que pod~ ser caracteriza da por aquela noção de "racionalidade de ªJ~ stamento ao mundo", apesar de sua importânc ia paraª colonização de terras tropicais ela não parece possibilitar, ne stª obra ' o. de senre d ' amento da rotina e a adaptação ao mo dern o· Postenorm ent d e, entro da chave da dinâmica da frontell. ·a ' a mesma racional 1·d d d d. _ ª e, por assim dizer rege un1 constante ren ovar a tra içao d . ' e maneira orgânica com as demandas do tem po · Contudo pro . • ando o trab lh ' curei nao esquecer que mesmo aproxirn a o de s , • ' · ta 1 como a ergio Buarque da dinâmica da fronteira parece na b .. mente, compara d o ra de Turner - e, conseque nte 1·s n o caso b · 1 • por 01 a qu e se e rasi eiro ao norte-am ericano-, t.iO ncontre u aso n,, reproduz O ma experiênc ia em comum, um e ais outro N 0 ·mos m · segundo item do Capítulo V vi e girava ª?ªº ° 216 um motivo para a diferença. Gostaria d de lusão a espec1'f'1c1'd a d e do legado ibe'r• e ressa 1tar nesta co nC ico - que para 0 m ou para o n1al, de acordo com ponto d . ' ~ O be ,, . d f . e vista , nao se ,ringue na log1ca a rontetra - cu 1·0 cara't . ex . ' er aventuretro e orte dose de pessoalidade que aparecem R ,. f a . . em aizes do B,·asil - ' sua plasticidade e busca de um éden a ser encontra d 0 pronto na nova terra. - ?e a~ordo com Visão do Paraíso -, deixam 1narca no, po1 as. .s1_n1 dize r, resultado da fronteira. Ainda que de forma proble~at1ca, d~sta tradição dinamizada pela fronteira nasce um pais, por s1, compatível com um mund 0 em processo de americanizaç ão. Numa divisão um tanto simplória, diríamos que chegamos num campo no qual o erudito historiador encontra O homem com esperanças e projetos para o país e revela, nesse momento boa dose de otimismo . Para esclarecer melhor este ponto'. mais prudente do que tentar, agora, uma contextualiza ção do otimismo de Sérgio Buarque no Pensamento Social brasileiro pode ser a retomada do paralelo que traçávar.nos no terceiro' item do Capítulo VI, comparando o trabalho de Sérgio Buarque com um livro escrito por um contemporân eo seu na mesma época de Monções: Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior. Já falamos da crítica deste autor à tese de Turner, crítica esta fundamenta da, vimos, na descrença em \ 11,.., relação a uma colonização adaptativa em prol da dominação de ) r: uma natureza hostil , característica da América Tropical. Vimos / também, de passagem, que o quadro armado pelo autor aponta os vícios do sistema econômico de produção instalado no Brasil colonial, calcado no latifúndio e na mão-de-obra escrava e, acima de tudo, voltado para o exterior. Em famosa passagem de seu Formação do Brasil Contemporâneo, observa: - ve 1·emos que na realise vamos à essência da nossa formaçao, dade nos constituímos para fornecer açúcar, tab~co, alg~ns outros generos; mais tarde ouro e d'1ªmantes·, depois ' algodao, . ,. · i·opeu Nada mais e em seguida café, para o comerc10 eu · _ que . , . lt d para Fora do pais e sem isto. E com tal objetivo extenor, vo a O J' d - r. m O interesse aque 1e A • atenção a considerações que nao J osse . brasi· dade e a economia comércio, que se organizarao a sacie leiras. 4 (Ênfases acrescentadas) e C0 1 rtunidade, Sérgio mo também já vimos naque ª opod . 1·nciusive Bua d e 10 · Pra o pois, ' rque não era alheio à tese e ª ' considerações partindo da referên . . c1a q ~ nossa 5 faz a esse autor em Monçoes, quando f 1 Lle in1c1a111< aad . Bu 'Hque e colonial Lembremos agora que ale"'n d i os ' · Sé rgio 1 ' . · · , . . Jo siste1na tece os comentários finais de Visão do p sso, vicios e araís . s , ·g io Buarque ... c1 . . . desta n1es1na passagem que ora cito. Neste se nt ·d o 1 o ~ ·et,trc os autores nao a pa.1t11 c h egam exatamente a . , s1gni. as d tfere nças luta. abso ância rd ·sco fica r u1na dl reforçar O sig n1·r·1tanto nesse ponto é necessário d' , . . . , No en cado qu e a interiorização _do Bras11 e a 1na1;11c_a da fronteira Planalto paulista adqu1re1n na obra de Serg10 Buarque. É 11 0 lembrar que O historiador costumava chamar a aten çã b o 111 o l . l pa ra O descontrole que o governo co on1a teve, especialmente nos prilneiros séculos, sobre essas terras do além-serra o que permitiu un1 desenvolvimento rel ativamente contínuo e pecu li ar. Assitn sendo, a colonização que se dá desde 0 Pla nalto paulista é como uma brecha dentro daquele país "voltado para fora" e, para explicar o desenvolvimento dessa fraçã o do país que nascia a partir de entradas para o interior com un1a sociedade e uma econornia que se organiza voltada para dentro, a tese de Turner, aliada à noção de "racionalidade de ajustamento ao mundo", pode ser sugestiva. A partir da arquitetura do seu quadro relativo à história colonia l, Caio Prado pode ser quase taxativo e afirmar: .., )S • J J Es te início , cujo caráter se manterá dominante através dos três séculos que vão até o momento em que ora abordamos a históri1 brasileira , se gravará profunda e totalmente nas feições e na vid a do país. Haverá resultantes secundárias que tendem para algo de mais elevado; mas elas ainda mal se fazem notar. O 'se ntido' da evolução brasileira que é o que estamos aqui indagando, ainda se afirma por aquele caráter inicial da colonizaç 1o [voltado para fora).5 . o ttp d es m entir esse • ~ observar visa De seu lado, Sérgio Buarque nao de afi rma ção de se u colega Caio Prado, n1as pode-seª'quele . , que, dentro disso, busca caminhos secun. que e scapen1 tambem "sentido" e apontem para "resultantes" que, mais qo~ alterdárias , indiquem um desenvolvimento e orna formaçao cesso Este pro ~ • ~ homens envolvidos na colonizaçao. · sernpre c,os nativa se caracteriza por uma transformação contínua mas que ' rn os e n1ante ,. . , d- , ·ih rnas guar 0 10 a vinc ulas com o passado. Serg10 Buarqu 11 s atentos para os problemas e dilen1as dessa trt a, 218 ,. no que de certo ponto de vista é uma justaposição e ntre ve , nentos do atraso e do moderno, uma característica da . d . tória da conquista O 0 este e uma possibilidade do desen/JtS ·mento d o Bras1·1 contemporaneo. " 1 l eJe1 VO V Retornamos assin1 ao início de no ssa discussão, pois as tentativas de explicar a Atnérica são, na verdade, o tema em foco. Neste caso, a tese da fronteira ofereceu um instrumento lausível para o historiador estudar o Brasil através da chave ~o transplante de uma cultura européia para o além-mar, chave esta que o fascinava desde seu primeiro livro, Raízes do Brasil, até os seguintes, sobre a conquista do Oeste , poi s na nota da primeira edição a Monções registrava seu interesse no estudo dos aspec tos significativos da implantação e expansão, em terra brasileira, de uma civilização adventícia. Aqueles aspectos precisamente, em que tal civilização, colocada perante contingências do meio, pôde aceitar, assimilar e produzir novas formas de vida , revelando-se até certo ponto criadora e não somente conservadora de um legado tradicional nascido em clima estranho. 6 Como discu timos, agora neste seu segundo livro já manifestava, no estudo do mes1no tema do livro anterior, a ênfase no enfoque situacional, no lugar do genético. Mas o importante neste momento é atentar para o relevo dado por Sérgio Buarque ao tema do transplante e a conseqüente busca, pelo autor, de explicações para a peculiaridade do desenvolvimento brasileiro. Esta vinha do fato de o Brasil, visto sob a perspectiva daquele enfoque, possuir a característica de pertencer a um novo Continente, que trazia, por exemplo, a circunstância que obrigava a encontrar alguma solução acerca da incorporação à cultura européia de muitos milhares de seres humanos com uma cultura diversa, sem contar a própria dificuldade de ocupar terras desconhecidas. E, do ponto de vista genético, a peculiaridade se relacionava à característica brasileira de ter recebido seu legado europeu através da Península Ibérica - a qual Sérgio Buarque em certo momento chamou de "fronteira da Europa"-, via aparentemente incongruente ao progresso tecnológico e à civilização capitalista. Com esses elementos, não se pode negar que, por um lado, conforme afirma Sérgio Buarque na Conferência da Unesco, de 1954 , 219 ~ s povos do Novo Mundo pode vangloria nen 11u111 do - ' . . , . r-se de . a uma civilizaçao ongrnal , no sent ido en" pertencei · . , . que 0 . 'original' pode ser aplicado as contnbuições d a Ch · teimo , . . 1na po1. e xeiiip lo , ou d a India - . e, .estou mclmado a acresc entar, da Rússia, apesar de geograficamente conectada à Europa. 7 ' 1 E, por outro lado, não se deve esqu ecer que a face que a Civilização Ocidental assume n a Arnérica é , g raças às suas circunstâncias especiais de ser un1 transpla nte, p eculiar, mesmo naquela América que recebeu um legado qu e, seg undo a noção corrente, mais se coadunava com os valores modernos. Deste modo , o desenvolvimento do Novo Mundo segue caminhos muitas vezes inesperados, posto que, como escreve Sérgio Buarque em passagem já citada no item dois deste capítulo, entre os americanos - e aqui tenho em mente não apenas os latino-americanos - os hábitos e instituições agora estabelecidos não são todos o fruto de um desenvolvimento natural e ini nterrupto; em muitos casos , tem sido neces sário saltar alguns dos estágios intermediários pelos quais eles passaram no Velho Mundo. 8 Na intersecção dessas duas variáveis se configura a peculiaridade da história brasileira, que, em grande medida, é a problemática do historiador Sérgio Buarque de Holanda e dela não podemos esquecer para compreender a mentalidade capitalista singular que este autor vê nascer entre os homens que conquistaram as fronteiras - mentalidade que conta com certa "dose de previdência, virtude eminentemente burguesa" e, ao mesmo tempo, com uma "noção romântica e feudal de lealdade". E a mesma problemática deve iluminar a nossa percepção do fato de que, ao lado desta mentalidade, Sérgio Buarque e nxergava , em seu tempo, em n1eados da década de 1950, um desenvolvimento econômico no país que era uma pro~e~sa de "progresso tecnológico" e de un1a "civilização cap1talis_ta de classe média" ainda que "lado a lado com uma economia e estrutu · l · • · l" ra sacia pnm1tiva e às vezes semicoloma · E nisto a tese da fronteira possibilitou uma maneira de pensar uma d" - · d mam1ca contínua e sem grandes sa 1tos , em que a trad.e modernização , moderno e este nã O içao esta em transformação run10 ao tanto q ' d O rompe com aquela. Un1 processo, por' ue ponto de vista da formação do self se assemel h a, 220 os menos ao ideal de vocaçã o que ao de bildung . ' co __ "' sentido , pode-s e dizer que, para Sérgio Buarqu e, o Nesse · ,, · d " O 'd l - .1constitui u1na espec1e e outro c1 ente" - para vo tar 13 1·-1s1 ' • um termo já en1pre gado e1n outra ocasiã o-, que não se •1 usai • , cia de forma absolu ta dos valores ociden tais clássic os dista 1 . . ,, ·opeus mas que, dito de um a maneir a um tanto esquem acu1 , . _ . a é marcad o pelo signo da reforma, e não da revolu çao. uc ' Utilizan do os mesn1o s tern1os que mobili zei para discuti r Raízes do Brasil, é con10 se a relação entre o tradici onalism o e O modern o fosse n1arcad a por transfo rmaçõe s gradua is que não costum an1 envolv er utn corte drástic o com o passad o. E é justame nte nesse viés que poderi a ser compr eendid a a convivê ncia do dinan1 isino econôn 1ico e social com uma estrutur a social prin1iti va, e de virtude s como a previd ência com uma certa sobran ceria, pois na ausênc ia de revolu ções interiores há un1a sobrev ivência do que, compa rado a padrõe s clássicos, são consid erados traços do atraso. No primeir o item do Capítu lo VII chegam os a dizer que alguns aspecto s de un1a mental idade capital ista como a que resultou da frontei ra no Brasil, sua articula ção com o personalismo, por exemp lo, que se manter ia presen te mesmo nas relações comerc iais, poderi am ser tomado s como positiv os. Mas, se nesse ponto entram os no plano da avaliaç ão, caberia a pergunt a sobre a determ inação da tábua de valores em jogo. A bem da verdad e, a idéia de otimism o de Sérgio Buarqu e ganharia contorn os mais nítidos se explorá ssemos a trajetór ia modernista do historia dor. Nessa linha, parecer ia necessá rio , então, resgata r a crítica modern ista da profun da impess oalidade reinant e no moder no capital ismo europe u, o que ficou por ser feito neste livro. Talvez nem teria sido preciso ir muito longe para encontr armos uma porta de entrada para o assunto , urna vez que Weber, o crítico da jaula de ferro, bastan te presente no decorre r do livro, pode ser associa do àquela crítica e relacio nado, no contex to de um certo modern ismo alen1ão , ª Thomas Mann, como fez -Harvey Goldm an. 9 Vale lembra r que ª impess oalidad e está ligada à raciona lidade de domina ção do mundo , que descart a, por exemp lo, qualqu er relevân cia da amizad e para a formaç ão da person alidade - o calvinis ta, ensi nou Weber, é antes de tudo um solitári o, nem mesmo Deus pode ajudá-l o 1º - e cuja caracte rística revoluç ão interior e auto-im posição de uma norma teve conseq üência s trágica s ,· 1110\ 1111 221 .... , Thom as Mann um . iiogra f a d as P or, dentre outros - . , autor i ac. "' "ntrev istado por Serg10 Buarq ue em seu pe - , assina le-se, e nodo • nagem de Mort na Alema n 1,a. 11 Von Asche nbach , perso . e em, . ·ece ser exem plo mais acaba do da expl ~ O Veneza, pa 1 _ os ao . . t que ameaç a O self forma do em tensao com O mund nmen e · 11 . . o pode nos sugeri r a lembr ança de amda outro per e tam b em soAzul, filme de 1930, não conseg u nagem: o Pt·ofessor de O A rijo · . mante r a coesã o de sua perso nalida de no tnome nto em que ea paixão por Lola O domin a, c~t:1º _que d_emon strand ~ a impossibilid ade de qualq uer conctl 1açao entre seus motiv os constantes e as emoçõ es. 12 Talvez não seja totalm ente destitu ído de signifi cado O fato de o filtne dirigid ~ ~o_r Josep ~ von Sternberg ter tido as legend as, dissen 1os no in1c10 do livro, traduz idas pelo jovem Sérgio tan1bé m em sua estad a na Alema nha. De todo modo, a trajetó ria moder nista do histor iador merec e uma pesqui sa aprofu ndada , que, na realid ade, já tem sido realizada, como indica m os trabal hos de Maria Célia de Morai s Leonel ' Georg e Avelin o Filho e Antôn io Arnon i Prado . 13 Gosta ria de encerr ar lembr ando a obser vação de Paulo Arantes, segun do a qual a "meto dolog ia dos contrá rios" envolvida na dialéti ca de Anton io Candi do foi inspir ada na obra prime ira de Sérgio Buarq ue, confo nne é possív el deduzir, seguin do Arante s, pelo prefác io a Raíze s do Brasi l escrito por Candi do em 1967. 14 Neste prefác io, o autor apont a para a particularid ade com que Sérgio Buarq ue utiliza o recurs o típico ideal de corte weber iano: modif ica-o "na medid a en1 que focaliza pares, não plural idades de tipos, o que lhe permi te deixar de lado o modo descri tivo, para tratá-l os de manei ra dinâmica, ressalt ando princi palme nte a sua intera ção no proce sso histórico" .15 Desse modo , Raízes do Brasil é constr uído sobre uma admirá vel meto d ologia dos contrár ios, que a larga e aprofu nda a ve lha dicotomia d a re fl exao - 1atmo-a · · na. Em vanos menca - · - · e t1'pos do real , rnve1s nós vemos o pensam ento do autor se consti tuir pela exploração de concei tos polares . O esclare ciment o não decorre da opção prática ou teórica por um deles como em Sarmie nto ou ' Euclide s da Cunha; mas pelo jogo dialéti co entre ambos. 16 Assim, 0 livro de Sérgio Buarq ue de 1936 era conS truído c_om uma série de pares em n1ovi mento dialét ico tais corno, st li ª Anton io Candi do, trabal ho/av entura , métod o/capr icho, 222 . l/ urbano, norma pessoal/impulso afetivo. Poderíamos ru 1a entar outros pares, par t·1cu 1armente importantes · para acresc e . tese, que, de certa 1orma, pern1eiam todos os outros citados e5tª candido: c1v1 · 'l'd i a d e / cor d'ia l'd 1 ade cujo estudo foi marpelos trabalhos de Luiz Costa Lima e George Avelino ca . / . . . 0 _ e ibensmo a1nencan1sino - tema desenvolvido sobreA111 ' rudo, pela reflexão de Luiz Werneck Vianna. 17 Se pensarmos, seguindo os passo~ de Antonio. Can~ido, numa dialética desses elementos en1 Raizes do Brasil, creio que se pode falar mais numa dialética negativa, un1a dialética sem síntese, na qual 0 pólo da cordial!dade d~saparece e reapare~e sem se encontrar com a sua antitese. Diferentemente, se lessemos Monções e caminhos e Fronteiras coin as chaves fornecidas pelo livro de estréia de Sérgio Buarque e procurássemos detectar neles, 00 espírito de aventura, nas ações impulsivas, a cordialidade e, de outro lado, no trabalho, nas ações minimamente planejadas, encontrássemos a civilidade, poderíamos falar numa dialética com síntese, processo em cujo fim não nos defrontamos com nenhum dos pólos puros mas, por assim dizer, com uma civilidade sem rompimento com a cordialidade. Encontramos agora o negócio valorizado antes que o ócio, mas sem a dispensa absoluta do prazer e do luxo, a conquista do Oeste levada adiante por meio do ajustamento da tradição ao mundo moderno, sem, porém, que isso implique total rendição aos valores ocidentais, ou, nos termos de Luiz Werneck Vianna, o americanismo se realizando por intermédio do iberisn10. Pº;0 223 T o N A s INTRODUÇÃO DIAS. Sérgio Buarqu e de Holand a, historia dor, p.56. 2 Publicad o pela primeir a vez em 1974, o texto de HOLANDA (O atual e 0 inatu al na ob ra de Leopold von Ranke, p.162-2 18) é estratég ico para um estudo deste tipo, pois constitu i-se num extenso mapeam ento e numa espécie de acerto de contas com a tradição historio gráfica dos séculos XIX e XX. Por sua vez, 0 texto já citado de Maria Odila é o mais abrang ente na tentativa de mapear influências e diálogo s nos diverso s momen tos da trajetór ia intelectual de Sérgio Buarque (DIAS. Sérgio Buarqu e de Holand a, historia dor). Especificamente sobre Visão do paraíso , vale a pena a leitura de uma comuni cação recente de Ronaldo Vainfas, na qual o autor procura evitar a tentação de estabelecer urna conexão demasia dament e imediat a e enfática entre o trabalho de Sérgio Buarque e a Escola dos Annale s (VAINFAS. Sérgio Buarqu e de Holanda: historiador das represe ntações mentais , p.49-57 ). 3 Penso em SKINNER. Meanin g and underst anding in the history of ideas, especialmente p .63 e 64. Vale também transcr ever uma observa ção de outro texto deste autor: "Minha principal razão [... ] para propor que nos concentremos no estudo das ideolog ias [matriz mais ampla, social e intelect ual, de que nasceram os textos clássicos] é que isso nos dará as condiçõ es de retornar aos clássicos com urna melhor perspec tiva de compre endê-lo s ." O autor prossegue, esclarec endo mais adiante , "podem os começa r assim a ver não apenas que argume ntos eles apresen tavam mas também as questõe s que fo rmula vam e tent ' • avarn respond er, e em que medida aceitav am e en d sst sav~m'. ou conte avarn e repeliam ou às vezes até ignorav am (de forma polem1ca) as 1'd ,. ' · N' ' eias e conven ções então predom inantes no debate po I'ittco. ao podemo s espe · • tã rar atinglf esse nível de compr eensão estu d an do o-somente os própri t [ ] texto e os extos. .. • Quando tentam os situar desse mo d O um, rn seu contexto ad d histórico pa . equa 0 , nao nos limitam os a fornece r um ,qu adro,, - • . · pretar SK INNER pra nossa f' . interpreta çao: ingressa mos já no próprio ato de inter · • re ac10 ) p • 13 • 4 1 ° HOLANDA. O Estado d VerBLAJ S' . eS.Paul o, 13 de janeiro de 1948. p.5 . . erg10 Buarque d H 1 6 ·, 1 p 34. HOLAND A , e O anda: historia dor da cultura rnatena ' · 7 • O Estado de S p l GOLDMAN Oh · au o, 13 de janeiro de 1948. p.5. 5 histori .· Umilde e agra fi a pau1· lSla, p .70. bl . · ante na su ime: a represe ntação do ban d eir O . Sérgio Buarque de Holanda, historiador, p . l l. s l)JAS .,, . "''ERNECK VIANNA. A 1evoluçao passiva: iberismo ~ .• . 9 ver w e am e , ican1smo 13r:1sil. 11 0 NDJDO. Introdução, p .9-10. 'º CA . de observaçao - ., f . f . Jª 01 e ito e m MORSE. Introductio d' - f . n, p .3 e 30-31 ,1 cs1e llP 0 i.;,, · ,,temente esta 1scussao 01 re tomada em LIMA Um se t - h · rece . r ao e amado ·s 11 ~1: • ·t · intelectuais e representaçao geográfica d a identidade nacional li l -lili J3r(l,SI · . , . , p. 1. l 1. ·ealidade, ao optar por manter o te rmo conquista ao me f . 1J Na 1 . . . re e nr aos . ntos para Oeste tanto nos Estados Unidos como Lambe' B . . . . m no ras d, v1111e 110 ~. a prática de out1?s a uto_,_ e s, como a ~s tud1o sa do tema Janaína Amado. 0 •ig AMADO . Construindo mitos : a conquista do Oeste no Brasil eEUA \ ver . . nos . J,.,.. comparaçao da povoaçao do interior do Brasil a um arqui·p , 1 l'lr , i 50 bre a . , .~ e ago ver: , fronteira movei. a margem do p e nsamento do Presidente G t , 1. ,.v sOD RE · . e u 10 · s· MORSE. Introductton , p .4; LIMA . Um sertão chamado Brasil· int 1 _ varga , _ d 'd .d . e ec . representaçao geogra 1ca a 1 entr ade nacional p 43 ua 1s e ' · · 1 -r· .·.. CAPÍTULO I LEGADO I~ÉRICO E A~~fICANI?MO ~ lb.Lá<.t • "'¼ur. /1, Para suposições do que pod:r~a ~ i~1 c· (l, ,;. , 1 .r, , .. J /Jc,,_.J..,,A,<. r<'c', , •" •✓ , J ( Jy . ,t>Y•/ \ < x~ ·~t~ 1:\Jt-'v,,,.·rl -~ ~ 1 ,. , , 0 rf ·~~ rv' 0r ~) ,Y Y 01,JI 1' Vlf ~ ser o proje~o da "Teoria da América "/~ ver CABRAL DE MELLO. Posfac10. Ratzes do Brasil e depois, p .190. e 2 . • CANDIDO. O significado de "Raízes do Brasil", p.xi. 3 LEITE. 4 Ver r , . }-v , O caráter nacional brasileiro: história de uma ideologia, p.291. RICARDO. O homem cordial, p. 17. , - • · J# .. e,.?· ; Além da crítica manifestada em seu Ideo logia da cultura brasileira (MOTA . ; Ideologia da cultura brasileira 1933-1974: pontos de partida para uma revisão .,,.f;w histórica, p .31) - e sem contar a avaliação elaborada por Alfredo Bosi na 1vr Apresentação do mesmo livro (BOSJ. Um testemunho do presente, p.II) - , Carlos Guilherme Mota retoma a polêmica e m novas ocasiões, sempre ressai- v-tando que Raízes do Brasil consiste em uma "obra ideológica sobre o caráter 1 nacional brasileiro" (MOTA. O escrito1~ p.11). A polêmica entre os historiadores .i..-· inicia-se com um artigo de Sérgio Buarque publicado em 1973 (HOLANDA . ~ OEstado de S.Paulo. Suplemento lite rário, n.829, p.6; O Estado de 5.Paulo. ~ Suplemento literário, n.830, p.6) e prossegue até 1980, com MOTA . O escritor, J,,) p. ll. Para um resgate da discussão ver MONTEIRO. Lua Nova, n,4.8.-~;,.l.,.· fs ~u..rtw..L '>' 6 0 crescente interesse acadêmico por Raízes do Brasil na ,.decada êle \ 1990 pode ser percebido começando pelos artigos de George Avelino Filho (AVELINO FILHO. Revista Brasileira de Ciências Sociais, p.5-14; Novos Estudos 7 . . ~;brap, p-33-41). Seguem-se as dissertações de Mestrado: CARVALHO. Raízes , d· BraSil, 1936: tradição cultura e vida · EUGENIO. O outro Ocidente; e a ~ issenação defendida em 1996 no Departa~ento de Ciências Sociais da Unicamp que result • · cor . . ou no livro de MONTEIRO. A queda do aventureiro: aventura, trabdilalictade e os novos tempos em "Raízes do Brasil". Vale citar ainda O a pr0ªdho ,de Cªst ro Rocha, originalmente uma tese de doutora d o, que ana l'isa' · d "h e n uçao lit - · cordial" (RO erana ~o Brasil a partir de uma relei_tur~ do conc_e,to o om 1 bras 1·1 · CHA. Literatura e cordialidade· o publico e o pnvado na cultura eira). · · ~ cJ.. " (\. \\J J.> ~.i 225 . ·r·1ca d O o sign1 de "Ra ízes do Brasil''. AVELINO FlLHo . . Nov " 0s TEIRO. A queda do aventure iro: aventura , cordial· J;,s mdos Cebrap; MON "Raízes do Brasil"; MACHA DO. Estudos Bra ·1'd_ade em si ezros, e os novos tempos . 169-193· d P· , d ' 1tarque T avv"ney aJ)arece somente a partir a segunda ect·, Çaocte s rode-se a tat . significa do disso no segundo item do Capít , do Brnstl. Retomo 0 u 1o II. Raiz es . d 1a ·- l'd d e e os n do aventur eiro: aventur a , cor I a d 9 11.AONTEIRO . A que a ovos ,,,, "Raízes do Bras1'l" , P· 23 4 · tempos em .. ,r . 1· TI protestan.t ethic an d tI'Je spint oJ capita ism, p.58. 10 Ver WEBER . , ne . . _ ?aíz es do Brasil, p.4. A grafia } das c1taçoes da primeira NDA 11 cf. HOLA · · . · d _ , do Brasil (1936) foi atualiza a. ediçao de Raizes · 12 HOLANDA. Raízes do Brasil, p.12. ; cANDlD O · 13 14 1s 16 11 Ibidem. p.21. Ver SIMMEL. A aventura , p.176-17 7. Ver HOLANDA. Raízes do Brasil, p.26-27. Citado por HOLANDA. Raízes do Brasil. 2.ed., p .168. HOLANDA. Raízes do Brasil, p.62. Ibidem . p.79. 19 Ver HOLANDA. Raízes do Brasil. 2.ed., p.46. 20 WEBER. The protesta nt ethic and the spirit o/ capilali sm, p. 57. 21 HOLANDA. Raízes do Brasil, p.87. 18 22 Ibidem. 2.ed ., p.214. 23 AVELINO FILHO. Revista Brasilei ra de Ciênc ias Sociais, p.8 original. 24 25 26 ênfases no Ver TOCQUEVILLE. A democra cia na América , p.32 et seq. HOLANDA. Raízes do Brasil, p.11. MACHADO. Estudos Brasileiros, p.179. 27 Ver HOLANDA. Raízes do Brasil, p.11. Mesmo levando -se em conta queª reação à doutrina da predesti nação tenha um papel importa nte na configuração da doutrina católica da Contra-R eforma e possa represe ntar uma direção 0 ~ 0st a à adotada pela ética protesta nte, pode parecer apressa do, à primeira vi sta, abordar o Catolici smo e, principa lmente, a Compan hia de Jesus no mesmo quadro do tradicion alismo brasileir o - ainda que se diga que esse quadro não con st itui um todo coerent e - , o qual, além de associar mos ~ cultura da pers . I a d e, . ·ct de E . ona l'd temos vincula do à aventur a e à plastici ª · sabido no entanto s, · . '. , que erg10 Buarque , em Raízes do Brasil, apresen ta um catolic1smo extrem . HO amente transige nte até mesmo cordial pode-se d',zer (ver LANDA. Raízes do B ·t ' , ·f· mente Sérg 10 · n rasi, p.82, 107-110 ). E aos jesu1tas espec 1 ica nuarque não d d ' uso p e ica um tratame nto tão diferent e como ao apon taro ' or e Ies da língu ' d m alto grau de 1 '. . ª gera,. 1 no trato com os índios demons tran u , p ast1c1dade ( V 1-J ' , da parti o tema dos i·e , er OLANDA . Raízes do Brasil p.38-39) . Atn oa suitas alé d H ' l a pe ver o artigo de HOLAN m e OLAND A. Raízes do Brasil, _p.6 6 , va e _ _ . 28 HOLAND . _ DA. S.I., em Cobra de vidro, especia lmente P 97 98 A. Raizes do Brasil, p.13. ° 226 do Brasil, p.12. f . . . f Ch ma: · . 1 z9 I-f O co n u c1o ni srn and tao i .s rn 1 21.18 rEI3ER. Tbe re 1g w 11 q • ' 1• . .' ~ 3o ver ~ ,;propíci o para unn conip·a r,,l Ç<.Lo d ,1 ix ut i r da re!tg1ao -. -"te rre no co m ' - .1 ) "nsa o , LANDA - Ra ízes -' 1e . 0 ncepç •;-- d ões de \Xlebe r - , esse pon to f i ca claro no tex to "A re i"1g1 ao entro . ,' ,, ( . .· . m,·te li dos ntro de ,ao da sunp les I az.10 K ANT. A , e !tg s ela s11np 1es :is l. jjt11 1. re:,• ' cJo:i- esp ecialme nte p.368) . r:-i zJO, · GO LJ)MAN · Max Weber and 12 • •e., · ;- • g o f th e Tboma s Mann: ca ll ing a nd th- e slla P111 ~ lf, p.120-125. . · e . scHLUC HTER. Ra tionali sm, religion and domina tion·. a we b e nan 5.i ve1 , erspec rive , p .360 . dd 1· . ;· · P ·'" sCJ-fLUC HTER. Rat1011a 1s111, re ig10 11 an ominalion: a weberia n pe rspective, p 87. .WEBER. Tb e religion of Ch ina: co nfu cio nism a nd tao ism, p .162, em o p os ição 55 a WEBER. Tbe p rotestan t etbíc and tbe sp írít of cap italism, p.10 7 . re to m ad a, co m ma is _, 6 Esta d iscussã o so bre ti p os d e ra ci o n a lid ad e se rá eleme ntos , n o ite m um do Capítul o VII . r SOUZA. o malan d ro e o protest a nte. Tra ba lho aprese ntado no XIX Encontr o An ual da Anpocs . Caxa mbu - MG , 1996. p.9. 3S WTE I3ER . Tbe religion of Ch ina: confuc ionism and taoism, p.152-1 5 3 . 39 HOLANDA. Raízes do B rasil, p .11 4 . 40 SIMM EL. A av entura, p.1 7 1-172. um tex to de 1965 , a In tro du çã o à coletân ea de textos The bandei rantes, Richard Morse fazia e ssa mesma diferen ciação de tipos de explica ção. Todavia, denomi nava o enfoqu e situaci onal de funcion al (MORSE. Introdu ction , Já em 41 p.28). MORSE . O espelh o de Próspero: cultura e idé ias nas Améric as, p.13. 43 HOLANDA . Raízes do B rasil, p.55 . 42 44 45 Ibidem. p.166. As ligações de Raízes do B rasil com as teses de Oliveir a Vianna merece ria m J• uma análise detida. Angel a de Ca stro Gomes ~ a utor-a--Ei~ um texto campa - 1 ; rando Raízes com o livro póstum o d e Olive ira Vianna , História social da economia capitalista no Brasil, no qu a l justam ente procur a mais a finid a des que divergên cia s. Encont ra-as entre a idéia de "cordia lidade " e de "e sp írito ~e pré-capi talismo " e no fato de que na obra de ambos a percep çã o de um processo de transfo rmaçã o social real (no Brasil] tem sempre sólidos pontos de apoi o numa dial é tica da tradiçã o '' ( GOMES . Revista Brasile ira de Ciência s Sociais, p .26). Deve-s e fazer referên cia tamb é m a texto do ano se g uinte, l ' ·· 1 t Ih · · · · Vianna sobre o1 ive1ra , de autoria de Jose,, Munia de Ca rva o, o qu a , e nc o · " ·a d e ; · fl uenc1a do escrito r flumin en se sobre o 11·v ro d e esttei ªPontad . 0 ªm s· " d' Bu arque de Holand a observ a a semelh an ça no 1a gnost 1co qu e o s . 0 derg1 ' ade brasile ira e por outro la d o, a d;r. Ots aut ores f azem d a socied t.J erença d A ' º1 as entre so uçoes de um autor moder no e ihs propos tps d e um d e fen sor o ., , rn r Undo rur 1 (C a ARVALHO. Estudo s Históri cos, p.96) . 46 V ,, er HüLA 47 liOL NDA. Ratzes do Brasil, p.45. ANDA J? ,, 48 · aizes do Brasil, p.135 . lbicte rn. P-138-1 40. A • • í;~ ...... 49 HOLA N 1)A · Ra ízes do Brasil, p .137. so 1det11. 1bidet11. p.l OZ. _ Ml\AEL La moda p ./45 . To da s as traduções de p assage n . sz S1 ' I . '. )' • s ret1rac[, . _ ço· es estra nge ll'aS (ou em ingua esp,inh o la, ou inglesa) ;as de pu bl 1ca _ sao de n11. nha responsa b 1•J'd 1 a d e. ~1 r , • COSTA LIMA . Literatura e s ocieda d e na Am é rica hispâ ni ca ( , . seculo XIX começos do sécu lo XX), p.69-185; AVELINO FILHO . Revista Br ·t . e 53 . . as1 eira d Ciências Soc1ais. e s4 Ver ELIAS. o processo civilizado r: uma históri a d os costumes , p. 51-55, Sobre O q ue poderíamos considerar os dil e mas do individualismo rn ·d d · ld ade e as dificuldades d e se conC1·1·1a r l'b é e lucidat·Ivooderno . . 1 e1 a e e 1gua . . outro texto de Simme l (S IMMEL. Ind1v1du a l a nd soc1ety m Eighteenth a nd N' teenth -Century views of life, p.58-84) . ine55 56 AVELINO FILHO . Revista Brasileira de Ciências Sociais, p.10. LAFER. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com mento de Hanna h Arendt, p.151. 57 58 O pensa- Ibidem. p .152. 59 HOLANDA . Raízes do Brasil, p.89 . 60 Ibidem. p .100. Raimundo Faoro faz qu estão de fazer um reparo conceituai na afirmação de Sérgio Buarque. Segundo Faoro , este a utor, "supostamente apoiado numa citação de Max Weber, afirma que o funcionário patrimonial faz da gestão pública assunto de seu interesse particular. Ocorre que Max Weber não disse o que a citação faz aparentemente supor: o que e le disse é que o funcionário patrimonial faz d a sua gestão 'puro assu nto pessoal do senhor'." "Na ve rdade, Sérgio Buarque n ão quis dizer que a ordem político-social era 'patrimon ialista' [. .. ], mas exatamente o contrário: que o patrimonialismo seria impossível, como orde m política, impe dido pela ambiênci a patriarcal, incapaz de sair da o rdem privada" (FAORO . Sérgio Bua rque de H o la nda : analista das instituições b rasileiras, p .61). 61 LAFER. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo co m mento de Ha nna h Arendt, p.270-271 . , " 62 e O pensa- d na O por HOLANDA. Raízes do Brasil, p.1 56. 63 , Talve : a te- ~ p ossa~ afirmar que, de fato, se to rn a um a bsurdo se ap ricada as relaçoes d e intimidad e . 64 Ye HOL Gs r ANDA . Raízes do Brasil. 2.ed., p. 2 14. HOLANDA R , 66 • aizes do Brasil, p.94, 150. WERNECK YIA NNA o ueville, p. 89-124. · proble m a do a m e ri ca ni s mo e m Tocq Va le lembrar també m . . açflo de Raízes co que Bolivar Lamounie r su gere um a aprox im . p r't rn pro bl e m t • . ele, o pont 0 d . ª ocq ue vdli a no d e prese rvaçã o ela d e m ocrac1a. ªxis' e partida d s , • d de AIe d. e Tocquevi ll . d e e rg io Buarque "p ode ser compa ra O ao 'stica - , racten d a sociedade e· bo e que . ª crescente ' ig u a lda d e de condiçoes ca d rno· · ·, 1 • ce em e crac1a poJít· ., ur ano-mdust na mode rna só resultará efet1vamen , de ica caso se v"' 'f' . de arte e n iqu e o conco mita nte d ese n volv ime n to ,- ~ ° 1,:2~ • 1 d e d'1ca d O ( LAMOUNI ER. Revista do Brasil' p.57 . Número espe Cla ·ação"' . a). nd la o 1-I de e rqu a Bu · , . io . d , . 3 seig A interpretação qu_e ~e sl· edg u ~'Ce tn ~p l1ra a nda su gestão de Wernec k Vianna . amin 10s e escamin h os d a rev o I uçao do e m texto mtitu a o passiva " , . ,, qu r1n , ssa, pa mudança rmo te o Ratzes, em que, si lei ra obse1va a co mportar . . ' à, bl'<lc ~o nseqü ê ncias que escapam rnte}rame nte à previsão do ato r" (WERNECK VJANNA. D~dos, v ._39 , n.3 , p .383 - e nfase no _original)-, na refe rida passage m de 1,amoun1er e, a inda, em CO STA LIMA. Literatura e soc iedade na Amé ri ca hisp ânica (séc ulo XIX e começos do sécul o XX), p.1 22- l ZS. ;.!SSOCl 67 rocQUEVILLE. A democracia na América, p.13 . Ver TOCQUEVILLE. A democracia na América, p. 8, 13 , 18-20, 30 _ 69 WERNECK VJANNA. O problema do ame ricanismo em Tocqueville, p .90 _9 1. 68 oHOLANDA. Atra vés d a Alemanha, p .134. 7 Em outras palavras, pode-se dizer qu e nos Estados Unidos há a manutenção de uma esfera pública na qu al os indivíduos podem exercer a sua igualdade, não oco rrendo , ao contrário, a privatizaçã o dos indivíduos ou, ai nda, a abolição completa das diferenças e da liberdade, resultados que constituem, aliás, o s perigos que rondam as sociedades democráticas segundo Tocqueville. Sobre JASMIN. Alexis de Tocqueville: a historiografia como 0 tema pode-se consultar ciência da política, capítulo IV. 71 12 WERNECK 73 VIANNA. O problema do americanismo em Tocqueville , p.93 . CANDIDO . A visão política de Sérgio Buarque de Holanda, p.84. Ressalte-se, nesse se ntido , que, para Sérgio Buarque, a República não significou a superação do d escompasso: "O s velhos senhores rurais tornados impotentes pelo golpe fatal da Abolição e por outros fatores decisivos, não tinham como intervir nas novas instituições. A República, que não criou nenhum patriciado mas apenas uma plutocracia, ignorou-os por completo . Daí o melancólico silêncio a que ficou reduzida a casta de homens que no tempo do Império dirigia e animava as instituições, assegurando ao conjunto nacional uma certa solidez orgânica, que nunca mais foi restaurada. Essas condições não foram mais virtudes do regime monárquico do que da estrutura em que assentava o que desapareceu irremediavelmente. A urbanização 14 contínua, progressiva, avassaladora, f enômen o social de que as instituições republicanas deviam representar a forma exterior complementar, destruiu esse poderoso esteio rural, que Jazia a força do regime decaído, sem lograr substituí-lo por nada de novo" (HOLANDA. Raízes do Brasil, p.1 41 - ênfases acrescentadas). 75 V, er HOLANDA. Raízes do Brasil, p .144-145. 76 MILLIET. Revista do Brasil, p.98 (número especial dedicado a Sé rgio Bua rque de Holanda) . 77 AVELINO FILHO. Revista Brasileira de Ciências Sociais, p.9, nota 4 . 78 \/; er LEITE. O caráter nacional brasileiro: história de uma ideologia, P-291 - 293 · 79 80 81 Ho LANDA . Raízes do Brasil, p.117, 100 . CANDIDO. A visão política de Sérgio Buarque de Hola o d a , 84 · , liOLAND A. Razzes do Brasil, p.135. 229 .........- / ·uLO II cAPll . R RELÊ SEU LIVRO UM AlJ 10 . __ . r"tn -,ublicadas pela edito ra José Olyrn pio -oes 1o ,, 1 1 . 1 1 . , co 111 r odas :1 s cL ~ , C ledo Docu ment o 11ras1 1 1eiras , exce to a oo , ,cro da o ~ -1· 6 1ri111ciro nun quan -1 . . d· Universid ade e1e 13 ras11 a, em 19 )3, com e- , ' 1 . 1 ela Ed1to1a a ., . apa dur ubl1ca c ar . , _ . , 1 sexta qu e lª conta com l re 1mpressões foi . :- a v1ges 1111 " ·1 , d , anç da. A últi11la e içac~ , ' ras em 1995 . ·ª ª ela Com panht a das Let P , -~ . do Brasil. 2.e d ., p .11. 2 HOLAN DA . Ra u.C5 . ,.. , - ". . " . para Oeste: a 111flu enc1.a da, " band eira na formaçà . ·' RICARDO. Mai c1.Ja o social )olítica do Bras il, p.XX ll. e1 o incit ou, da parte de Ricardo a inte . Pode-se d'1ze1. qlie esta vi nculaçã · , . , . , '. rpre.d ,. d cord ialida de de uma mane ira ate mais prox taçao da 1 eia e ima ao , . .. qu e ; . derou como seu po 1o opos to, a c1vtl1 Serg1 0 13 uarqu e consi dade e , ne . , sse - - .d - parece casua l que 1 a certa altur a do d ebate, Cass iano senti o, nao assoei , • ea cor d1.a11.dade ao 1·aponês enqu anto Serg10 Buar que lemb ra do oriental e de sua polidez que beira a rever encia relig iosa - ~o discorrer sobre a ci\"ilid ade (ver RICARDO. Variações sobre o hom em cordial, p.310; HOLA NDA. Raízes do Brasil, p.101-102). Sobre os prob lema s impl icado s na associação da ciYilidade ao oriental ver SOUZA, Jessé , 1996. s HOLANDA. Raíze s do Brasil. 2.ed ., p.21 4. 6 HOLANDA. Carta a Cassiano Ricardo, p.314 . - Handler, segui ndo lições de Heid egge r, expli ca que "de acordo com o senso comum Ocidental uma coisa é concebida como algo limitado e contínuo no espaço e no tempo, e caracterizável verd adeir amen te em termos das propriedades que ela 'porta' (cf. Heidegger). Os ocide ntais acreditam que uma coisa, objetivamente existente no mund o real ou natural, se apresenta de forma não-am bígua aos sujeitos humanos que pode m (ao meno s no melhor dos casos, que é, além disso , rotineiramente alcançável) apre ende r a coisa como verdadeiramente é. Acreditamos que pode mos sabe r onde e quan do as coisas co~eçam e terminam e o que lhes 'perte nce' como uma parte ou propriedade - 1st0 é, que nós podemos conhecer os fatos objetivos que distinguem uma coisa das outras " (HANDLER. Nationalism and the polit ics of cultu re in Quebec, p.1 4). 8 HANDLER N t · t · . . . tona ism and lhe polit tcs of cultu re m Queb ec, p.16· 9 Ver HERZFELD r'h ~ · l . 1 . . the rrerence: explonng roots of west, • b' e sacia ·prod uctio n of mdi.1.1• sym b0 lic ern ureaucracy p.22-25 10 As obse rvaçõ es de o . M . au . " 'd p, ra este tor, os estudos co tante ,.ore1ra Leite vão no mesm o senti o. d ( tudo 0 . n empora neos do carát er nacio nal revelam, ape sar de que dizem os se substitu ir 1•ct ele . us au tores , um nacio nalis mo exac e rb a d o, ca p ~'lZ d 1 0 pelo n · eo og1ca ment e O raci•smo pois este já tinha sido d esmou-,iJ1za _ az1srno. Em outras l , . o 1·á nao pode ser a · , •r· . , no mom ento em que o racism . ' ,._ 1ust1 1cat1va dO ·pa avras . . , , ncterts ti cas psico ló ica impenaltsmo, este se justifica atraves O 1 ee ' . de dtterrn inada sg . ls, suposta mente criad as pelos proc esso s educa ciona 1~. ·t't \ l. cu luras . . . ressts ... sua s co nseq ü" .· . E~ bora a teona seia apare ntem ente mais prog . ncil' brus·1·t . enc1a s nao <•7 • eiro: ·, "ªº muito diversas" (LEITE. O cara- 1e r nactO Go , . • histo' na . stana de act 1·, ,·d e um ai·ct eologia, p.124-125) . CCJ ffi r) . <1 e antar que , _ srocklílo veremos n a noça o de rara como demo nstro u o terce· . d' de :r- , 1 a no item do Capí tulo IV, pode ser (e foi) utlTza 1 L 1 , ,.. ·ª 1 230 • ' . • • • - ... ~ 111 .. m·iis e xa do que é suposto n essas observa ções d e H e rzfe ld e :ine11 a · . co mpl . • ~ Moreira Lei te. o~nte 1 li 12 1., )-10 LA _ . NDA . Ra1zes do Brast./, p .10 1. Ibidem . 2.ed., p. 213 -21 4 . RICARDO . O homem cordial, p.17 . seguind o a primeir a e a terceira edição _de Raízes do Brasil, res pe ctivaas J)assage ns se e ncontra m n as segumt es p ág inas : HOLAN DA Raízes _ 111ente , do Brasil, p.101 e HOLAN DA . Ratz es do Brasil. 2.cd., p.213; p.1 42 e· p .Z6 ; 3 e p.264-2 65; p.144 e p .265 . P·143 ií RICARDO . Va ri ações sobre o h omem cord ia l, p.295 . Gostari a d e ap o nta r em gra nd e medida , tanto a obra literár ia quanto a e nsa ística d e Cassian o que, . Ri ca rdo se volta m de forma muito vee m ente para a formu lação do caráte r acio nal brasilei ro. Ma rcha pa ra Oeste, publica do pe la prim e ira ve z em 1940 : Jogo amp liado, con_stit~i .um f~rte exem plo di sto. Para o autor, bras ile iro 0 é caracter izado pelo tndivtd ualtsnio contrab alançad o p e la bondad e que, por sua vez , tem seus exce ssos restring idos p e la desconf ian ça. A estas ca racterísticas associa- se o que Cassian o Ricardo denomi nou d e dem ocracia hierárquica, constitu íd_a fund~m ~nta~m ente no movim ento b a ndeiran te, no qual ocorre a integraç ao - h1era rqu1ca - dos e lemento s raciais nele envolvi dos: ·o índio entra com a mobilid ade social, o negro com a abundâ ncia d e sentimento e d e calor human o , o branco com o seu espírito de aventur a e de comando " (RICAR DO . Marcha para Oeste, v.2, p.50). A importâ ncia deste processo repousa no fato de que, para Ricardo , "não é possíve l pensar em democra cia sem a orga nização hierárq uica da socieda de, que possibil ita a utilizaçã o de todos os valores humano s pela capacid ade viva de cada um e não pela igualda de abstrata , irracion al ou estanda rtizada" (RICARDO. Marcha para Oeste, v.2, p .50). Ressa lte-se que o autor insiste na formaçã o de um caráter naciona l esp ecífico sobre o qual deve se r constitu ída a nação, como pode-se percebe r, por exempl o , na seguint e passage m: "Só quem não v iajou pelo interior, onde há mais Brasil d o que nas cidades , não terá observa d o esse costume [de ho sp edagem ] que faz parte do sangue e que é uma forma viva de solidari eda de social ou de individ ualis mo corrigid o pela bondad e própria do bras ileiro que nasceu assim e que n ão muda mesmo " (RICAR DO. Marcha para Oeste, v.2 , p.XXIV ). Note-se que a rgumen tos como este rela tivo ao "nasceu ass im e que não muda mesmo " e às metáfor as de sangue - "faz parte do sangue" - são típicas da idéia de caráter n a cional (ver HERZFE LD . The social produc tion o/ indifference, especia lmente o capítulo 1). 16 AVELINO FILHO. Revista Brasile ira de Ciências Sociais, p.8 - ênfases n o original. i1 H OLANDA . Raízes do Brasil. 2. ed., p.21 4. 1s H OLANDA. Raízes do Brasil, p .114. 19 Ibidem . p.114 , nota 35. 20 y er HOLANDA . Raízes do Brasil, p .13 . 21 V er MACHADO . Estudos Brasileiros, p.171. 22 O volume de Religion and the rise o/ capista lism pertenc ente a Sérgio ~~a~que é uma edição de 1936 _ conform e pude verifica r na Col eção ergio Buarque de Holand a da Bibliote ca Central da Unicam p - , a mesma que consta na · - d e Ratz - es· s citaçõe s feitas pelo autor a partir da segun d a ect·içao 14 231 ~ _ do Brasil. 2.ed . , p. 228 -229 . NDA. Ra1zes · . . 1-101.A .. _ , 0 surg imen to do capi talis mo, p .202 rY A re/igiao e . . zq TA\X! N ~ · -· t e, faz uma relei tura de s f.' -· eS CII O 11 1936 ' Taw ncy , , 2, No Pre a cio .- . as Não é ne cess ano para meu argu men to Uas 1 t _ ci llicas 1 ·d ·a ndo a gun · 1 recon s e, s que , porv entu ra se ratar d essa' . 1. ou mesm o de outra s ate nu açoe . _ . ' Poss a f· rele1t u a , e ntos eIo ,.aLitor · Mesm o ass im nao poss o d eixa r d e tran . azer scre v aos arg.u i: d ., "ney · 1 çoes e 1 .:J_\,v . sobr e o tópic o• resg atad o por• Sérg io l3u er as arque, " obse l\ ª - , . ] • 11· - [ ·nt1 ca - ele qLJe ,0 d ese n vo lv im e nto do Capi talis mo na H · A pnmc ª e sécu los XVI e XV II era d ev id o não ao fato de se_o 1anct ªe rra nos 1,a ln glate . iem elas . ) I_ t st-int es mas aos g rand es mov im e nto s econ om icos em Potê nnas 1 o e ' . ' d- , d . , . ' , .._ Partibe cul ar as 11esco rtas e aos resu ltado s <11 eco n ente s - fot desd e _ _ " entao _ 11 certa amp litud e por Robe rtson ; mas n ao clese nvo 1v,.d a co1 e ra talve z . , . , muno .usta . ,v, b e . tet·ia rep licad o sem duvi da, qu e ta l obse rvaç _ ' ,~ e , ao não imp ' 1 . ' Orta _ ve1·da de,·,·a era no toca nte aos seus es tudo s quao , um igno ralio elen h . ,, , , . e 1. Diria que se algue m prete ndes se cont esta- lo hon: stam ente , deve ria conte stá-lo e m seu próp rio camp o, que no mom ento nao era o da histó ria econô. gera l , mas O pens ame nto relig io so sobr e ques mica tõe s socia is" (TAW NEY . A religião e o surg inien lo do capi talis mo, p .1 6). 26 TA\XINEY. A relig ião e o surg imen to do capi talis mo, p.20 1. 21 Ver TA\XINEY. A relig ião e o surg imen to do capi talis mo, p.202 . 2s Se Sérgi o Buar que não se refer e diret ame nte a essa terce ira critica em Raízes do Brasil, em artig o publ icad o em 1951 , nos jorna is Diár io Carioca e Folha da Man hã, ele traça cons idera ções b e m próx imas de algu mas observaçõ es de Tawn ey sobre a comp lexid ade do pu ritan is mo e a postu ra, segundo uma leitur a retro spec tiva, amb ígua de Calv ino. No artig o "Vá ria história" cita uma passa gem do capít ulo "Les idée s éco nom ique s de Calv in", de Les débuts du capilalisme, do profe ssor Henr i Haus e r de quem Sérg io Buar que foi assistente na UDF, em 1936 . A inter essa nte citaç ão guar da uma enorme prox imid ade com as idéia s expo stas por Taw ney em seu capít ulo "Calvino" (terc eiro item do Capí tulo II): "Pod e-se dize r[. .. ] que até àque la data (1545 ) os inter esses são inter ditos em prin cípio , post o que sejam admi tidos em um sem- núme ro de caso s espe ciais . Com Calv ino eles se torna m lícitos em princ ípio, embo ra cont inue m inter ditos cada vez que pare çam contr ariar as regras da eqüi dade e da carid ade. São estas regra s, não é a inter dição da usura, 0 que se faz obrig atóri o" (cita do por HOL AND A. Vária histó ria , p.20S ). 29 TAWNEY · A re 1· · · igiao e o surg imen to do capi talis mo, p .2 15. 30 Ve rTAWNEY · A 1· ·re igiao e o surg imen to do capi talis mo p.217 -2 27 · 31 ' HOLANDA . Raíz es do Bras il. 2.ed. , p.22 9 . Na ediç ão brasi leira cio livro de Tawn ey as obse · rva çoes extra 1das por Sérg io Buar que se e n cont ram en tre as p.228 e 230 . 32 D eve "N , se r citad o a·tn d ª um segu ndo artig o de Sérg io Buar que. Trata - se de a ta s sobre o rom ,, postura d ance , publ icad o n o iníci o de 1941. Nele é reve 1· da a ª ' _ oau torac e rca d . 1-· d HOLA NDA ª te eia e voca ção a qual é chav e para We ber(ve1 . · Nota s sob re O .' intere sse que , , pesar e10 roma nce , es p ec ia lmen te p . 59-6 0). Mas 0 argu ment o a co d es . de questõe • · atamen perta , deix o-o de lado por ex igir o tr, s que nos de · • 33 . sv ianam do foco de discu ssão . 0 artigo foi publi ca d .- . em deze mbro d no Diar io Cari oca (RJ) e na Folha da Ma 11 hã (SP) . · • de e 1951 e · . m1t ologi a (liO LAN rr tativas •-n~o rpora do post erior men te no livro .1 en DA . Vana histó ria, p.20 5-20 9). 1 2. A ° 232 • 34 • HOLANDA . Vária hi stó ri a, p.206. Jbidel11 - p.207. .is 1deJ11~rGUES Capita li smo e protestantismo, p .35 )Dl' .1· RC . . DA . Elementos básicos da nacionalidade: o hom e m p 4 ' . . .'~ H OLA N _ir, .19 1de111 . 40 Jd cm . 41 A passage m a que Sérgio Bu arqu e se refere e ncontra -se em HOLANDA. 43 Ibid em. p .11 . Raízes do Bmsil. 2.ed ., p.24 -26. -12 HOLANDA . Raízes do Brasil. 2.ed ., p.25 . CAPÍTULO III UJ\1 OUTRO AMERICANISMO Na realidade o Handbook teve um atraso de mais de cinco anos. Resultou em: Ru bens Borba d e Moraes & William Berrien (Dir.). Manual bibliográfico de estudos brasileiros. Rio de Janeiro: Souza, 1949. 895 páginas . No prefácio, escrito por Berrien, toma-se conhecimen to de que "[. .. ] circuns tâncias de vária natureza e de todo imprevistas retardaram o aparecimento do livro , cuja publicação fora calculada para 1943, quando os seus diretores pla nejaram uma bibliografia crítica e seletiva , que pudesse servir de guia introdutório aos estudos brasileiros [... ]" (p.V). A decisão para a criação do Manual foi tomada numa conferência bibliográfica realizada em julho e agosto de 1939 na Universidade de Michigan, p elo Institu to de Estudos Latino-America n os. Em 1941, William Berri e n (professor da Universidade de Harvard) veio ao Rio de Janeiro e a São Paulo para entrar em contato com os colaboradores escolhidos. Agradeço a Vera Neumann pelas informações. 1 2 Ver HIRST. O processo de alinhamento nas relações Brasil-Estados Unidos, 1942/45, p.35; MOURA. Autonomia na dependência: a política externa brasileira de 1935 a 1942, p.58. 3 Ver McCANN. A aliança Brasil-Estados Unidos, 193 7-1945, p .125 -1 45. 4 MOURA. Autonomia na dependência: a política externa brasilei ra de 1935 a 1942, p .130-131. 5 6 McCANN. A aliança Brasil-Estados Unidos, p.126. Ver MOURA. Autonomia na dependência: a política ex tern a brasileira d e 1935 a 1942, p.132. 7 Ibidem. p .136. ªH ALPERJ N DONGHI. Estudos Históricos, p.167-168 . Ver O d . . . M epoimento do historiador norte-americano em MORSE. Richard M. orse , p .141-150 9 10 ' MORSE R· 11 ,. ichard M. Morse, p.141. liOLAND . A. Brazil in american life, p .2 17-2 18 . 233 . ie,·ic a n stud ies com eçou a s er publ icad o ,. ( /att11 a n -. . , /Ja11d boo/(. « · e 1111936 ' te~ 1 0 • . • , do com i d e Es tudo s . Lat1 no-A m e ncan os _ e . nact 0 b 3 inic1 a u va la do Soci al Sc1e 11ce Rese arch Cou nci/ (SSR .so no b a ch a nce _ a nte rior, so _ .,·ca na· re laçõ es a ca d~em1. cas entr e Bras il e EC) (ver .11 10 -, sao ame1 • · · . . _ stad MICE LI- A dest u (194 7) foi e ditad o pela Un1v ers1d a de d e y :~"'f' ~ .1 1 '1--' H os 12) Don .lao 13 . 'd d d Fl' . Unid os , P· · arvar ct ublic ado pel a Urnv e rs1 a e a ond a ( Gain esvil !e) · A parti r de 19 4 8' p . 'd a d e do T e xas (Aus tin). e, . J111 e nte, pel a Un1v e rs1 atu a . de Char l e s '\f/ . Wag ley e de Stan ley J. Stein a Sebe dep 01 men to 1 13 om . 3 Ver os Cl N . Stan 1e y J. Stein . (WAGLEY. 1ar le s W . Wag ley '· STEl p 70 Sl) . .' . ' ; ver Me ihy SEN Lewis /--/anke: histo nan and prop agan d1s t, p.80 . tat11b é m BERTEL · ' rgio Bua rque de Hola nda. São Paul o, 24 de junh 14 MORAES . Carta a Se o de 1940 _ • 0 ·t a Sérgi o Bua rque de Hola nda. Sao Paul 1s Ver MORAES. ea1 a o, 1 de deze mbro d . e 40· NOGUEIRA. Sérgi o Buar que de ~olan da,_ o hon: em,_p.6, G1:AHAM . Revista 19 '. . do Bms1 1., p. 109 ,. GUTHRIE. 17:JeHis panicAm erica nHis toricalRe view, p.678. . 16 De po une n to de Alfre d How er a Sebe Bom Meih y ( HOW ER. Alfre d How er , p. _131 ); NOG UEIR A. Sérg io Buar que de Hola nda , o hom em, p.7. 130 17 So bre sua parti cipaç ão, Sérg io Bu a rque cont aria m a is tarde um caso em tom aned ótico . Com o na époc a "não falav a muit o bem inglê s" e com o "não sabia nada de econ omia mod erna ", estav a preo cupa do c om sua parti cipaç ão: "No entan to , na sessã o da man hã , um parti cipa nte fa la ndo sobr e o prov ável pape l da Amé rica Latin a na guer ra qu e e stava p or vi r, a bord ou o terna da borra cha , que, com o ele disse , o Bras il já hav ia ex p o rtad o gran des quan tid ades do prod uto, e não o fazia mais . E a cres cen to u que, com o have ria um brasi leiro parti cipan do do pain el da ta rde, ele iria esp e rar até entã o, para retom ar o assun to. Sent ado ao m e u lado estav a Fran klin Fra zie r, um soció logo amer icano negr o , e eu lhe perg unte i o q ue o orad or hav ia falad o sobr e o Brasil - eu só sabia que ele havi a se re fe r ido a m inha pres ença no paine l. Frazi er respo ndeu , 'Borr acha '. Assim , na hora do almo ço , e u corri para o Cons ulado brasi leiro e copi ei tudo que eles tinha m s o bre a prod ução brasi leira de borra cha. Naqu ela tarde , com algu ma dific ulda de , e u ench i os ouvid os da platé ia com aque les dado s. Dest a form a, não prec isei re spon der a nenh uma pergu nta sobr e o assu nto" (GRA HAM . Revi sta do Bra sil, p.10 9). 18 HOLANDA. Erud ição e imag inaçã o, p .236 . 19 HOLANDA. Raíz es do Bras il. 2 .ed. , p.79 . 20 HOL~NDA. Carta a Paul o Duar te. New York , 18 de julho [de 1941]. Na carta nao cons ta o ano de 1941 , mas foi desc ober to por Vera Neum ann, com ba_s_e nas carta s subs eqüe ntes troca das entre Paul o Dua rte e Sérg io Buar que. Altas esta s .. : _equ encia d e carta s refor çam a hipó tese da inten · sa troca de mfor · mf açoes_ e impr essõe s entre Sérg io Buar que e Lew is Han ke e, mesm o, a orma çao de um g . , d . rupo com .mter esse s intel 1 ectu ais próx imos com post o por, ª ·emd os dois pes · d quisa Rube ns Borb a de Mor aes e aind a, Bern•en, cita o na mesm a cart d ores, - . 21 ª e Sergio Buar que refer ida no texto'. E bom lemb rar aind d Sérgio Bu . ª e uma outr a conv ersa com Han ke refer i' d a P0 r arqu e rnun os an · . estive em . tarde , em entre vista a Rich ard Gra 11am.• "Eu conta to com h'1stos mais . d Em 1941 . . ona ores nort e-am erica nos dura nte muit o temp o. ' rece 6 I um conv ·t d 1 Unid os . Naq O Dep artam _ e ento de Esta do e visit ei os Estªdos 1a epoc a L · . ue 1ivro ' sobre ' um , . este pa s?"' ' ewis Han ke me perg unto u 'Voc ê escre vera sena exag ero ct· 1 · (GRAHAM . Revi sta do Bras il p .109 ). Crei o que 0 ª-o izer que a perg unta de Han ke tem ' muit o a ver com esse A 234 • ~ exto da é poca de e nfocar os países do Contin ente de _ , . con t . . pontos e.1e vista . 1 1-sos e em busca de afm1d ades . li l \ e -, 1 ,Sobre a conexã o entre o d ebate polític o e o inte lectual vei·a-se , , por exe m p o a afirn:aç ~o ~e Eug~n e Bolto~ en: 19~2: "~ tempo para uma mudan 1 ça. A importanc1a c_1 esce nte das relaçoe s mteram encana s torna impera tivo que cada [p 3 ís d~ c~~tm :1:te] c~mpr ee~da melho r a histó ria e a cultura de todos. Uma \'isào 5111 1e~1c~ e m11~,01 tante nao apenas por suas atuais impli cações polític as e co merciais; e des~ia vel o bastan te do ponto ele vista ela própria hi storiografi a" (I3OLTON. The ep1c of greate r Amenc a, p .68) . Silvio Zavala é um dos re ~p~1'.sáveis pe la criação de um proj eto que foi denom inado de Progra ma Histo ria da Améric a, criado no Prime iro Encon tro da comiss ão sobre Históri a do Institu to Panam ericano de Geogra fia e Históri a realizado na Cidade do México , em 1947 (ver HANKE . Introdu ction, p .3 7)'. 24 ZAVALA. La.filosofía polít ica en la conqu ista de Améric a, p .15 . 2s HANKE . La !ucha por la justici a en la conqu ista de Améric a, p .19. 23 Em texto public ado origin almen te em 1951, a observ ação d e Arthur Whitaker sobre os estudo s recent es em torno do Estado nas Améric as aponta para a mesma direçã o: "Parec e agora que o regime coloni al da Améric a espanhola foi menos central izado e absolu tista, enquan to nas colônia s inglesa s foi menos liberal e popula r do que geralm ente era supost o há meio século ou mais" (WHITAKER. The Ameri cas in the Atlanti c Triang le, p.149). Ou ainda: "Apesa r de diferen ças de detalh e, há uma similar idade básica entre as medidas pelas quais o govern o britâni co de George III provoc ou a Revolu ção Americana e as celebr adas reform as coloni ais de Carlos III da Espanh a e do Ma rquês de Pomba l de Portug al. Todos os três buscav am resolve r proble mas imperiais mundi ais por meio de ma ior centra lização de poder, pelo cumpri mento mais efetivo d a lei e pelo increm ento dos rendim entos públic os" (WHITAKER. The Ameri cas in the Atlanti c Triang le, p.150- 151). Chamo a atenção para o fato de Whita ker ser, ao lado de Zavala , respon sável pela criação do Progra ma Histór ia da Améri ca citado na nota 23, deste capítul o (Ver HANKE. Introd uction , p.37). 27 Ver OLIVEIRA. A Améri ca e a frontei ra : Turner e Roosev elt, p.11-16. 26 28 Morse já observ ou que a tese da frontei ra é uma explica ção situaci onal, ou, como denom ina em seu texto de 1965, funcio nal - em oposiç ão ao enfoque genéti co (ver MORSE. Introd uction , p.28). 29 TURNER . The signifi cance of the frontie r in americ an hi st ory, p.3- 4- Ver HOFSTADTER . Los histori adores progresistas: Turner , Beard, Parring ton, p,13 . Ray-Allen Billing ton estudi oso da obra do histori ador americ ano, confirm a que, passan do por ~m boom que perma nece até fins da d~cada de l9~0, ª F1·o 1· , • d . 'ti'cas no penad o n ter Thesis passa a recebe r uma sene que vai e cn . dos anos de 1930 até início da década de 1950 (BILLINGTON. The geneSis th of e f;ro 11 1 . . 3 4) De forma semelh ante, ter thesis: a study in histori cal creativ ity, P· - · ,. , da Gerson Moura localiz a na década de 1930 as primei ras cnt1cas a tese fro • •, 1 ia sido "discre tament e . ~teira, mas não esquec e de lembra r que e 1ª lª rnv . - . . . s da c~1t1cada" por Charle s 13eard (MOURA. História de uma historia. i un10 hist . . , 33) Segund o George Rogers 1' onograf1a norte-a merica na no seculo XX, P· · . eu ápice ª Ylor "pode- se dizer que a voga da doutrin a da fronte iraª 1cançou s 30 235 ~ ano em q ue .John C. Alm ack pub lico u. o que par torno de 19 25 ' 0 " d .. ece ter e t11 1 à tese " (TAYLOR . Tntr oc1u c t1on, p .Vl!J) . ·- 'ttaq ue 11 eo . 1 JJ ri 111 e II o , s1c o o . on . . ele críti ca e, um text o e1e Georg e Wils dest e Pie upo 1 O ,1 f .11 um exer np . rson e m 1942 ( PlER SON . 11e ront ter . and rigin ame alme . nte · . ) publ icad o O rtcan . . . f th e Turn er theo 1y, p.70 -97 . . titutions : a cnttc1st11 o . . ins TH \lirg in /and: th e ame nca n wes t as sym bol and myth .~2 Cit ado por SMl . , p.29 8. . . 1. ·a ,1 Turn er é n e cess á ri o lem bra r qu e, ao cont rário d ue se fa ça JUS IÇ , ' . . •· ' Para q d f nde r a espe c1·r·1c1·d ade da fron te ira nort e-am e i 1can a, e le acom panh av e ee . . . tativ as de apli caçã o de sua tese em com s1mp atta as_ ten outr os cont exto s. Ema , . d . ·) C t' _ um a luno de seus u, 1t11no s ano s e enst no - data da de carta a Met e ur t . " ~ ~ , . . Turn er resp ond ia: Nao , eu nao te ntei. ap . agosto d e 19 28 , li car mtn ha idéia ~ b . de fro nte1ra , e 111 nenh um aspe cto ' a outr as naço es, em ora eu tenh a visto que e 1a se ap ll·ca , e tenh a dito isso em sala de aula . [Car l Russ el] Fish p ossui um trabal ho sobr e O assu nto e Ua_mes WesAtf~ll] Tho _mp son da U[n_iversidade] de Chicago a utili zou à exp ansa o germ antc a ; [Vic tor A.] Bela und e (AHA [Ass ocia ção Ame rica na de Hist ória ]) à Am éric a do Su l e algu ns alun os de história Clássica diss eram -me que ela se apli ca tam bém nest e caso . Acho que em gera l a idéia deve ria ser testa da" (BIL LIN GTO N. The gene sis of the Jron tier thesis, p.27 6). 33 HANKE . lntro duct ion, p.3. Conforme as info rmaç ões obti das por Alla n Bog ue, "He rber t E. Bolt on curs ou o bach arela do em Mad ison na met ade da déc ada de 1890 e lá matr iculo u-se para um ano de trab alho de pós- grad ua ção ante s d e segu ir para a Universidade da Pensilvânia para o dou tora do, mas ele busc ou a orie ntaç ão de Turn er recorren teme nte nos anos em que eme rgiu com o a auto rida de reco nhec ida em terras fronteiriças do Sud oest e" (BO GUE . Fre deri ckja ckso n Turn er: strange roads goin g dow n, p.23 0). 34 Ver BOLTON. The epic of grea ter Ame rica , p.97 . BOLTON . The epic of grea ter Ame rica , p.69 . 36 HANKE. Intro duct ion, p .21. 37 BOLTO N. The epic of grea ter Ame rica p 100 38 ' ' ' Prov avel men te o , , . ' pe . ruan o Vict or A. Bela únd e tenh a ava 11a r expl i ·r a s ido o prim eiro autor . .. Am' . ' b' . cia men te, a poss 1bd1 dacl e de apli caçã o ela tese ele Turn er. a, en ca I enca Co citada h, · . mo se pod e dep reen de r de sua cart a a Mer le Curti, Bela úndea poucfo . na n ~ tª 32 , d este capí tulo , Tur ner con h ece u o text o de que o1 pub lica do em 1923 35 39 40 BELAúNDE The . . Jb · . Rrce lnst itute Pam phlet p.21 1 213. idem . p .2 03 _ ' ' 41 V er BELAÚNDE. Th . " . 42 BELA, ~ e Rrce lnst itut e Pam phle t, p .206 . UNDE. The Ri , / · 43 ll) 'd ce nsti tute Pam phle t p 210 i em. p.20 3 ' . . 44 lb'd i em. p .212 . •S ZAVALA . Th .· . Mais rce fr o nt1 e rs of lf' . . . ecen tem tnte (erra ispa n1c Ame rica p 57 ' · · ta rn Js: manifesto u-s'e ob ens aista d das. urug uaio Ang el Ram a, em se u A cida "' )em e -es . reve men t b letra s mun o próx imas racaç o d e so re a mes ma disc ussã o com cons 'P -34 ). as de Víct or l3el aúnd e (ver RAMA. A cida d das e · 236 ii6 47 K VIANNA. O problem a do american i s mo e 1· ver "''ERNEC w 111 ocquev1.11 e. · HOLANDA. Consider ações sobre o american ismo, p. 24 . rdem. , É ínteressa_n te no~~r que,_ tom_a~las ao ~e ~a letra, _as afirmaçõ es de Sé rg io apenas. um recurso de retori ca mas , 13u:11·que n:.:io co nstituem . , e• corres. pon d e m a um novo JUigamen to sobre a opinião antes comparti· 11 , 1 f . de fa lo ' •. 1ac. a e e t1 va. · · oelo :rntor de que os Estados Unidos e o Brasil formam 11 ,en te r < e10 1•s po, 1os " e antago11 1cos. Melhor sina 11105 l di sto consiste num ,·irt,·go d • e:-:tre . . . · e iu ve ntu d e ., Sérgio Buarque, publicad o o n g1na lm ente n a Revista d o Brasil ,. de • · 1 d " · l" f , em m a ,o de 1920 , e in~1tu a o ~n e . ·. N~ uror el e seus 18 anos in co mpletos, Sé rgio Buarque sublinha que o util1tans mo ya nkee não se coa dun a abso luta me nte com a índole do povo bras}1eiro , que não tem semelh ança alguma co m a do norte -america no , da qual e o ex tremo oposto" (HOLAND A. Arie l, p .44). 49 HOLANDA. Cons id e ra ções sobre o american ismo, p.26. ;o Ibid em . p .25. 48 A ;i • • • • • Idem . sz Ibidem. p.25-26. ;~ Ibidem. p.26. Vale a pena ob servar que, no texto de juventud e publicad o em 1920 e citado na nota 4~ deste capítulo, era a esta mesma imagem que Sérgio Buarque recorria em defesa do nosso caráter nacional contra o utilitarism o norte-ame ricano: "O nosso desidera tum é o caminho que nos traçou a natureza , só ele nos far á próspero s e felizes, só ele nos dará um caráter nacional de que tanto carecemo s . E o caminho que nos traçou a natureza é o que nos conduzirá a Ariel, sempre ma is nobre e mais digno do que Caliban. Ariel , o gênio do ar, em A tempesta de de Shakesp ea re, represen ta a espiritua lidade em contrapos ição a Cali ban, símbolo do utilitarism o, e que além do mais é um savage and deforme d slave" (HOLAN DA. Ariel, p.46) . 4 ; HOLANDA. Consider ações sobre o american ismo, p.24 . s; Para urna crítica recente às dualidad es abordada s aqui ver WERNEC K VIANNA. Dados, v.34, n.2, es pecialme nte p.174-182 ; WERNECK VIANNA. Apresentação , especialm e nte p.9; SOUZA. O malandro e o protestan te. Deve-se lembrar também do volume organiza do por este último autor: SOUZA (Org.). O malandro e o protestan te: a tese weberian a e a singulari dade cultural brasileira. . 56 57 HOLA NDA . Consider ações sobre o american ismo, p.26-27 • Ibidem . p.27. 58 TURNER. The problem of the west, p.205. Um constataç ão semel hante é sugerida em MORSE. Introduct ion , p .30. Ressalte-se, todavia, que Sérgio Buarque não procura, como s~u~ colegas, elementos comuns a todo o Continen te, incluindo a hispano- Amenca. BaS tªlhe ª aproxima ção entre Brasil e Estados Unidos. 6o WJRTH. Entrevist a a John D . Wirth, para The Hispanic America n HiSforica l Review, p.265. A importânc ia de Capistra no de Abreu para a historiog rafia brasileira , com manifesta ênfase para o estudo do sertão, foi abordada por Sérgi~ Buarque . m t_exto publicad o originalm ente em 1951 e republica do, traduzido para o :~gles, em Perspectives on Brazilia n history (HOLAN DA. Hi 5t0 rical th ºught twentieth -century Brazil, especial mente p .18l-lB3) . 59 :ua ...._ 237 . d · /2 em Raízes do Brasil, Sérg io 13. ua rq u e n o ta.va a imp ortâ n . N::.i rea 1K 1ª e, )'' deir as e com o este . . 1mp llcav ,t, u m cert o d escolam ento c1 da do tema e1as b ane's· "A obra gra ndio sa . d . das b a n e iras . pa ulis tas n ão p o de o proJClO portugu · _ bem com _ pree ndid a em toda a sua exte nsso ser , se nao a dest acar mos um po uco do esforço português, com o um emp reen d ime nto qu e enc ontr a e m si mes mo , sua explicação, emb ora aind a não ouse desí azer-se de seu s vínc ulos com a metrópole euro pé ia, e q ue, desa fi and o toda s as le is e todo s os p e rigo s, va i daí ao Brasil a sua atual silh ueta geog ráfic a . l .. ._l ~º. p lan~ lto de Pira tin inga nasce em verd ade um mom ento nov o de noss a h1 ston a n acio nal" (HO LANDA Raízes do Brasil, p .72) . É lícit o grifar aq ui a imp ortâ ncia de p rime i ra hora d ; Capistra no de Abre u pa ra Sérg io Bua rqu e d e Ho la nda . MORAES. Carta a Sérgio Bua rque de Hola nda. São Pau lo, 28 de março de 194 3_ 62 3 ANDRADE. Carta a Sérgio Buarque de Holanda. São Paulo, 15 de setem bro de 194Z 6 . 1,1 CAPÍT ULO IV FR ED ER ICK JAC KS ON TU RN ER E O O ES TE BILLINGTON. The genesis of the Jron tier thesis: a stud y in h istorical crea tivity , p.89-90. 2 Cita do por HO FSTADTE R. Los hist oria dores prog resi stas : Tur ne r, Bea rd , Parri ngto n, p.73. 3 OLIVEIRA. A Amé rica e a fron teira : Tur ner e Roo se velt , p .12. 4 Ver BILLINGTON. The genesis of the Jron tier thesis: a study in histo rical crea tivity, p. 161- 162. 5 Ibid em. p .166. 6 Ver TUR NER. The signifi cance of the fro n tier in ame ri can hi sto ry, p .3. 7 Nesse sentido, vale obse rvar qu e, em o utro con text o, o próp rio Sérg io Bua rque aten ta para esse dup lo sent ido da pala vra wild erne ss, trad uzin do-a , em seu "Pre fácio à segu nda ed ição " d e Visã o do para íso, com o "selva e dese rto" e obse rvan do, e ntre p arê ntes es, q u e "a pala v ra tem em inglês esse dupl o significado" (HO LAN DA. Visão do para íso: os m o tivo s edê nico s no desc obri men to e colo niza ção d o Bras il, p.Xl ll) . 8 TURNER. Contribu ti o ns of the wes t to a me rica n d emo crac y, p.25 9 . 9 M . . ais tar d e, e m um d iscu rso de fo rma tu ra (Co mm e n ce m e nt Add ress ) p rofe ndo .na Univ ersid ade d I d ' • ava ,rurn e r: e n 1a na em 1910, afirm "Ma s no 1o ng o cam inho .a fo rça efet' , d a d e moc iva por tras raci a a m e rica n a fo i a pres en ça d'a terra. praticam ente l' 1os h ivre na q ua ome ns pod iam esca par d a o pres são ou d as des1gualdades que p b 'b•i· . esav am so re e les n os p ovo ame n tos ma is poss1 1 idad e com pel• a nti. gos . Essa d . f st iu os e a os cost e iros a a mpl ia r o di reito de . ru strou a form ação de voto · e 1sto . se ·a . ' , uma se dom ina nte se1·a base ada n a pro prie dad l no cost ume " (TURNER clas e, . . ' E mom ent d . · Pio neer 1dea ls a n d the Stat e U nive rs ity, p .274 ) . - aind a qos epo1s ' na mes ma pa 1estra, usav a o te rmo válv ula de segu ra nça ue para se ref · desenvolvime t , . d en r ao seu esgo tam ento : "Um n ovo mo me n to o d e segu ranç a nd naci onal está ct·iante d , · ' l la e ., e rsos abL1 d . . nos ago ra sem m a is a anti ga va vu ª1canç ar" (TU RNErecu R . _n an tes abe rta p a ra aqu e les que p u dess em 0 s - · Pion eer idea l , d h s an t e Stat e U nive rs ity, p .280 ) . 1 ° 238 q ualque r for ma este é um dos aspect os do traba lh o d •r diferen tes autore s tem demon strado mais tive ram ant . e, urn er que ' co fllO ' . . ecipac1ores . He nry mith por exemp 1o, apo nta• como Benp1m 111 Frank lin m, •. d )'Jas l1 S , ul ' . , ais e um sec o .; 1.:í formul ara de forma bastan te clara o qu e veio a se r co h 'd , an te., ITJ--J \/ ' . . d . r. 11 , va/ve (Ver SM . 11 gm 1.an : the Amenc an \Vest as sy n1 ec1 od como sa,e. • · m )o 1 an myt h -6 B) Ri chard Hofsta dte r nos lembra que fora da trad ição ele ' P· • · . "· 'd,. d _. '. . pe nsa me nto norte-a me ri ca no , a t e,a e qu e,, a f1o nte1ra constit uía um a saída para a c]asse trabalh adora teve rep erc ussão inte rnaci o nal, e dese mp e nh o u urn a arce la impo rtante na r~s.p osta à p~rgun t a que obceca va We rn e r So mbart e ~ra rão vital para os teonco s marxi stas , W'a1·um gibt es in den Vereiní ten Staaten 'kein en' Sozial ismus? (Por que não ex iste nenhum tipo de sociali~ mo nos Estados Uni dos?) " (HOFS_TADTER. ~os histori adores progresístas, p.l SO) . Diga-se de passag em q ue Smith , no cap itul o XX de se u livro, formu la críti cas violent as à idéia de safety valve. Em capita lismo auto 1·itário e campe sinato, Otávio Velho rea liza um estu do sobre a disc ussão agrária e ntre os pensad ores russos e nfocan do-a atra vés da reflexão de Turn e r. Não é exager o dizer que o ponto fund amenta l d e sua análise seja a terra livre como "válvu la de segura n ça" - qu e segund o algun s deve ser contro lada e segun do outros não . O autor não dis cute apena s 0 pensamento dos, m~rxist~s, ma~ ta,mb_é m, por exemp lo, o d e Stolipin , Ministr o do Interio r da Russ1a apos os d1sturb1os campo neses de 1905. Mas que vale O ressaltar desse estudo é qu e a conce pção da válvul a de segura nça está presente , com diferen tes conota ções, no debate russo (VELHO. Capita lismo autoritário e campe sinato : um estudo compa rativo a partir da fr o nt eira em movim ento, parte I - e specia lm e nte Capítu lo V, no tópico rel ati vo a "O capital ismo autorit ário e a Esque rda", em que o autor desenv olve uma compar ação entre os progra mas de Stolipi n e de Lênin) . 11 Em todos os casos optei por traduz ir a palavr a "wilde rness" como "selva e deserto" - ver nota 7, deste capítu lo. 12TURNER. The signifi cance c;f the frontie r in americ an history , p. 4. 1,1 oc _ A 13 Os argum entos a seguir e o própri o recurs o ao texto de Stocki ng se baseiam em ARAÚJ O . Guerra e paz: casa-g rande & senzal a e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30, p.38-4 1. 14 Este argum ento lamarc ki a no da heredi taried ade das caracte_rísticas adq uiridas , estraté gico para a argum entaçã o de Stocki ng, é explic ado pelo biólog o François Jacob a p artir da obra d e Lama rck, Philosophie zoolog ique: "Se a heredita riedad e cria, ela n ão ada pta. Suas novas produ ções, seus aperfe içoamentos são regula res, sem fantasi a, sem desvio . Elas não estão e m condiç ões de enfrent ar o imprev isto das circ un stâ nci as esp ecífi cas. Daí a necess idade de fazer com que o m e io aja sob re a h e redita ri ed ad e atravé s d e desejo s, n:cessidades, hábito s e atos. Modif icada ass im a organi zação d e certos indiv1du os, ' a geraçã o entre os indi víduo s em ques tão conser va as mo d I'f'ica çoes adq uirida s'. A pla sti ci dade d as estrutu ras do vivo, a fl ex ibilida de d e se us mecanismos permi tem então não que o organ ismo se insira no mu nd0 que 0 cerca' mas inserir pouco · dade" a pouco este mu ndo em sua here d I·1 ane ~ACOB . A lógica da vida: uma hi s tória da heredi ta riedad e, p .156 - ê nfases crescentadas) 1 5 • Yerl-JOFST 16 . . ADTER. Social darwi nism in ameri can thoug h l. STocKI NG JR . Lamar ckiani sm in americ an social sc ience: lB90-l 9 lS, P·243 · 239 . ·kian ism in ame rica n soci a l scie nce . NG1 JR . Larna1c , 11 •238 sTOC Kl • I"lNL~1 JR I ·rnia rckia nism in arne rican social se· . . sTOC " • • J, 1~ Cit:~do pot - 1ence . . .· , - ·, 1 . ,· L , rcki anis • P-245 m tn ame i 1cM1 soc1c t sc1 e n ce p 2 1, i q sTOCKJNG JR. ama f 5 .· . . . . , . i . · , . . •nca nce of the ront1 e 1 tn ame ncan ht story io TURNER . 1 be s1grn 1, . ' p. 1, 22. 21 Ibi de m. p.4 · 22 lbick rn. P-11. 1 - 23 Idem. ~-1 ldem . Ver l31LLlNG TON · T/Je ge11esis of · th e.fro n lier th esis: a stud y in hist Ort.ca] crea tidty , p .1 08-109 . 26 I31 LL1NGTON . Th e gene sis o.f the fro11tier thesi s: a stud y in hi stori cal creati,·ity , p. 113. 2- Ibide m. p. 115. 28 Citado por STOCKING JR. Lam arck ianis m in ame rica n soci al scien ce, p. 248 _ 29 Ibide m. p.24 9. 30 STOCKING JR. Lam arck ianis m in ame rica n so cial scie nce, p .249. 31 TURNER. The sign ifica nce of the fro ntie r in ame rica n histo ry, p.2-3 . 32 Ibide m. p.9. 33 BILLING TON . The gen.esis of the Jro n.tie r th esis: a stud y in histo rical creat ivity, p.10 2. Por via dive rsa, Hofs tadte r tamb ém obse rva uma afin idad e entr e Turn er e o Prag mati smo. "A histo riog rafia prog ress ista (Tur ner, Bea rd, Parr ingto n) fez pela história o que o prag mati smo fez pela filos ofia, a juris prud ênci a sociológica pelo direito, o espí rito de inqu iriçã o pelo jo rnal ismo , e o que Parringto n cham ou de 'real ismo críti co' p ela liter atur a . Se o prag mat ismo [... ] prop orcion ou ao liber alism o nort e-am eric ano sua veia filos ófic a , a histo riogr afia prog ressi sta lhe deu a mem ória e o mito , e o natu raliz ou na tram a glob al da expe riênc ia histó rica norte -ame rica na" (HO FST ADT ER. Los histo riad ores progresistas, p.12 ). Se Billi ngto n ilum ina uma afin idad e, por assim dizer, inter na entre as duas corr ente s de pens ame nto, Hof stad ter obse rva o pape l exer cido por elas no pens ame nto nort e-am eric ano. 34 Ver STOCKING JR. Lam arck ianis m in ame rica n soci al scie nce , p.251. 35 JAMES . Prag mati smo e outr os texto s, p.22 -23. 36 ESle pont o da inco ngru ênci a pres ente na trad ição n orte -a meri cana e ntre ª apologia da simpli cida de e agra rism o e da evol u ção e indu stria lism o apon tado s por Smith e Nob le será reto mad o repi to atra vés de uma crítica de Williams e Sanf ord cons truíd a a part ir de um ;on to d e vista difer ente do avan çado aqui . i, 37 . m . ame n.ca n h1sto e s 1·gn1·r·1ca nce of the fron t1er · ry , P· li1. '~ Ibidem . p .3-4 . E interessa nte O b . l3 arque de Hola nda an t serv ar qu e, logo em segu ida a essa fras e , Se, rg,o LI , 0 a . . mencan1zação ." o u ª marg em de se u exem plar : "Fro ntei ra com o fª ror de 39 C' ttado por · A conf ~ .SMITH · v·irgm land : the ame rican wes t as sym bol and myt h p 253erenc1a profe 'd ' · de 1914 en ' n ª na Univ ersid ade d e Was hing ton em 17 d ·unh o • contra-se e l ·d pu bl'ica d a em TURNER. T h e wes t a n' d ame n- n I ea Is , ca TURNER Th · 240 r _ 210 _ A passagem cit;.icla encontra-se na p ág in a 293 e foi mo difi cada. l ) 2 JO :J bl. - 1· . . ,'. . 1 · , , . 0 texto para pu 1caçao, ume r om1t1u os auiettvos "ple na e forte e \1 re, et . . . º,·,11 de vida'' (ver SMil H. Vtrg tn land: the amcncan west as symbol a nc.l 6). C;.ibe obse rvar ainda que o referid o trecho é um dos p o u cos chl'. ' nwr h, p.29 .f I S , . 1> · . ) que fo i gn ac o por erg10. >Uarque e m seu exemplar. Nesse a rti go , do arllg( :ipenas S eis· f)assag e ns foram e nfati zadas p o r e le. 40 WERNECK VJANNA. O proble ma e.lo ame ri ca nism o em Tocqu ev ille . •, Citado por 13OGUE. FrederickJackso11 Turn er: strange roac.ls go ing down , p.1 5 l. 0 principal fo rmul ador ~essa críti~a é , possi_ve lmente , Carlto n J. H. Hayes , com •Sel·1 artigo "The amen can front1 e r - frontJ e r o f what?" ' publi cado o ri g inalme nre e m 1946, na Tbe A 111e1•íca11 Historical Review (HAYES. The a me ri can frontier - fro ntie r o f what?, p.106-107) . 42 A pará frase sobre o título do artigo de Merquior (ve r MERQUIOH . Presença, ).69-91) não sign ifica dizer que suas idéia s estejam próximas e.las qu e dese n!,olvo neste li vro. Aliás, suas críticas a O espelh o de próspero, de Mo rse, s ão bastante afinadas com as desenvolvidas por Hayes ao trabalho de Turn e r_ no texto citado na nota anterior. Com o perdão do exagero de usos de paráfrases, ao construir a frase p e nsava no título do livro de Stanley Cavei! , Esta América Nova, ainda inabordável. 4.1 CAPÍTULO V O EUROPEU, O NATIVO E O AMERICANO 1 DIAS. Estudos Avançados, p .270. 2 HOLANDA. Revista do IEB, p.103-1 05. 3 Ibidem. p.103 . 4 Ibidem. p.55. 5 Ibidem. p.104. 6 Idem . 7 Ibidem. p .105. 8 MORSE. Carta a Sérgio Buarque de Holanda, New Haven, 14 de julho de 1966. No "Prefácio à segunda edição" de Visão do parafso, redigido em n ovembro de 1968, Sérgio Buarque dá conta das s uas atividades de pesquisa nestas estadias: "Três visitas que posteriormente fiz aos E. U.A., uma das quais se prolongou por perto de um ano, deram-me a ocasião ele a ume ntar muito e ~rualiza r meu cabedal de co nheciment os sob re o tema aqui estudado. Para isso foram de inestimável valia as pesquisas que pude efet ua r, sucessivamente, n_a Lil!y Library, especialme nte na su a opulenta coleção 13. Meneie !, ela Universidade de Indiana, onde me levo u co n vite recebido por intermédio cio Professor James Scobie para dar curso sobre matéria de minha espec ia lidade naquela casa ; na biblioteca ela Universidade de Yale, facilitada esta por um Co · M nv1te semelhante, partido de velho e caro am igo, o Professor Ric h a rd (I orse; p o r fim , mas n ot least n a Livraria Públi ca da cidade de New Yo rk " íOLANDA. Visão do paraíso: p.X:XIV) . 241 ? ·vers & Empire, foi defendida em 1970 e , 'd Davidson, } i 'd dA . se se de oav1 abandonou a v1 a aca em1ca em 197 3 nao a 9 A t e. 1· da Seu autor . 1 13 ·1· , os 32 ontra pub 1ca · . ' onível é "How t 1e raz1 1a n West Was ,,.,, enc , . 0 arugo d 1sp . ,, won• anos, e seu un!C Mato Grosso Frontter, 1737-1752 , publicado · I Freelance & State on t 11~ . organizado por Oauril Alden, Colonial Root no de 1973 no iv10 , 1 s oJ mesmo ano _ 'd . , de ser cu rioso observar que o t1tu o de seu arr ~ •t Nao e1xa tgo 6 Modem Era.d ·· , 1 do épico dirigido em 19 2 por Jo hn Ford é uma paráfrase do tttu o George Marshall-, How the West Was Won-quªº H 11. , Hathaway e , e, lado de e'. _) a ão de John Wayne e James Stewart, conta a saga de quatro cotn a particip ç f ' J'a pioneira de Janners da Nova Inglaterra na su , es de uma am1 t, d , 1 a geraço te americano no decorrer o secu o XIX. No entanto a ·sta do Oeste nor . . . , conqui. . é inspirada em bibltograf1a norte-amencana - Turner 7 tese de Davidson nao . b ·1 . , onsta na bibliografia - , mas em ras1 e1ros. Conforme 1o, nao c or exemp . . . P . t pessoal concedido a Vera Neumann, em 1997, sua inspiração seu depo11nen o . _ foi a obra de Sérgio Buarque, especialmente Monçoes e Visao do Paraíso, e a de Jaime Cortesão, com sua tese sobre a crença na Ilha Brasil. Alé~ de ter trocado cartas com Sérgio Buarque sobre o andamento d~ su~ pesquisa, nas suas viagens ao Brasil, Davidson hospedou-se na casa do h1stonador brasileiro, a quem dedica um carinhoso agradecimento em sua tese: "Aos meus pais br2.sileiros, Professor e Sra . Sérgio Buarque de Holanda, estendo minha profunda gratidão por seu vivaz encorajamento e por me acompanhar na última grande bandeira ao extremo Oeste" (DAVIDSON. Rivers & empire: the Madeira route and the incorporation of the Brazilian Far West, p.iii). A última oração diz respeito ao encontro que os dois tiveram em 1967 no arquivo de Cuiabá, referido por Sérgio Buarque em sua entrevista a Richard Graham (ver GRAHAM. Revista do Brasil, p.107) e no Prefác io à Segunda Edição de Monções, de 1976, onde seu autor afirma que foram companheiros "de pesquisa na minha última estada em Cuiabá, nossa admirável e ntrada de 1967, como costuma dizer" (HOLANDA. Monções, p.12) . Agradeço a Vera Neumann pelas informações em torno da trajetória de Davidson . 10 HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.183. Embora tenha sido publicado em 1957, Caminhos e fronteiras é fruto de uma reunião de textos publicados entre 1946 e 1952, com o Prefácio datado de sete_mbro de 1956. Como o próprio autor esclarece neste Prefácio, a Segunda Seça~ do livro, relativa às Técnicas Rurais, tem origem numa série de artigos publicad~s na revista Anhembi, entre 1951 e 1952. Estes artigos, por sua vez, consistem numa ve rsao ~ · amp 1·1a d a da conferência proferida por S'ergio Buarque .no Colóq uio · I nternac1onal · · d0 de Estudos Luso-Brasileiros realiza em Washington no a d 195 ' e d ,8 . . ' no e O, por "iniciativa do historiador Lewis Han k e ' la epoca , p.ª , tspanic . _ Foundat' . ion ' , aque sob sua direção" - como lem b ra 0 ropno Serg10 A pa d' . encont · ssagem 1scut1da a seguir na sua primeira versao, ra-se, portanto em HOLAND ' o século XVIII ' A. As técnicas rurais no Brasil durante ' p.26 O. 11 H OLANDA Cam. h 12 • in os e fronteiras p 183 Idem. ' · · 13 ld em. 14 Q caso foi d . · escnto por T · ' d·os 1 casionais de p • urner com as seguintes palavras: "Os ep iso teiriç untanos regressa d d . 'd d fron- as, n . ·n o cativeiro para visitar as c1 a es 1ingua 1. católicos 1 d' n igena e, .a re. tg1ao ' p·tnta d os e vestidos como índios e fa 1an do a ) as Crtanças mest' d . . d velarn iças e maes puritanas apns1ona as, re 242 0 ° r ·te exce pcional da hi stória!. .. ]" (TU RNER. The fir st o fficial fronti e r of 4,1) •Aassac hus etts Bay, p. 'I • 1he i, ' 1 ~ TURNER . The first official frontier o f th e Massachus etts l3a y, p .44-45 . 1 sse p o nto , chamo a a tenção para o interessan te fato de Sérgio íluarque 10 1 ~~eito um a t1ni ca anotação na última página de seu exemplar de Tbe (~·~ntier ín Ameríca n hist_o ,y: qu: f~i a seg u_inte: "Influ ê nc ia _d o fndi o - 2, 44. " ·os números di ze m respeito as pagina s do livro, se nd o qu e a p. 44 localiza-se passage m sobre os J?uri~anos q_u e sofre m influ ê nci as d~s índi os re fe rida p o r 3 Sérgio Buarque no pnme 1ro c~ p1tulo da li Parte d e Caminhos e.fronteiras, no trecho por mim comentad o h a pouco. Além de grifar seus exe m plares e fa ze r anotações à ma rge m, Sé rg io Bua rqu e anotava os temas que lhe interessav am e suas res p ec ti vas páginas na ú ltim a fol ha do lino. Agra deço a Vera Neumann por esta observaçã o, infe rid a, diga-se, nos seus a nos de co~vivênc ia com os livros do autor qu a nd o fun cionária da Bibli o teca SBH (Unicamp ). 1; ver HOLANDA. A instituição do Governo Geral, p.115-117. 11111::I pal HOLANDA. Visão do paraíso: os motivos edênicos no d escobrime nto e colonização do Brasil, p.1-2. 18 19 Ibidem. p .5. 20 Ibidem. p.105. 21 Ibidem. p.1 48. 22 HOLANDA. Raízes do Brasil, p.26-27. 23 Ibidem. p.38. 24 Ibidem. p.25. 25 Idem . 26 Ibidem. p.15 . 27 WILLIAMS. Wilderness and paradise in Christian thought: the biblical experience of the desert in the history of Christianit y and the paradise theme in the theologica l idea of the university , p.4. 28 HOLANDA. Visão do paraíso: os motivos edênicos no descobrim ento e colonização do Brasil, p.149. 29 Sobre os temas deste parágrafo , além de Visão do paraíso, ver CURTlUS. European literature and the Lalin Middle Ages, capítulo 10 . 3-0 . 31 H 32 Ibidem . p.1 41- 142. Citado por HOLANDA . Visão do paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonizaçã o do Brasil, p .363-364. OLANDA. Visão do paraíso: os motivos edênicos no de scob rim e nto e coloniza ção do Brasil, p .14 1. 3 ~ WILLIAMS . Wilderness and paradise in Christian thought: the biblical expe- rhien ce of the desert in the history of Christiani ty and the paraclise theme in e theo] ogica · 1· tdea of the universi ty, p .100. 3 4 Ibidem. p.5 . 35 S, . v· :rgio Buarque comenta o livro de Williams inclusive a síntese que faz de v',s~o do Paraíso, no "Prefácio à segunda edição" deste seu livro (HOLAND A. 15 - os mottvos . ~ · ento e co , I001zaçao · - do Bra . dopa raiso: edenicos no descobnm t ªº s1 1, P-XII e XIII) . 243 AMS \'(l i/de rn ess a nd paradi se in Chrislí an lh . o ug h1 1 f CI . . 1 1. ,. wn.LI r : t 1e 1nst1a nity and the o PO .· ce of the dese rt in t 1e 11story o .16 Ciwc1 Paradise ·ca l idea of th e uni ve rsity, p.124 . biblica l expeiie n in the th eo 1og1 d o Brasil, p .2 2-23 . , th ern e DA. Ra1zes IOLAN .11 Ve r J. . , . ~s SJMMEL. A Ave ntura, p .17~-, . _ . . /' 11 0 auto nta n o e ca mpes rn ato. um e studo co m parat1vo a 11 6- 11 7 . . 39\l ELJ-10 . capita is1 . . d f nte ira em movim e nto , p . . parllí a ro 4o HOLANDA . Piratini n ga : 1532-1 560, p .37-38. •nstitui çào d o Go ve rno Gera l, p .131. 41 HOLAN DA · A 1 ' . ~ 4i HOLANDA . Piratini nga : 153 2-1560 , P;,37-_38. . A institu1 çao do .Go verno Ge ra1,, , . tarde , naquele texto sobre . ,. Anos mais mais d e detalhe : "Se com um pouco , . Buarqu e volta a explora r a ideia . . . . . b Serg10 a inic1at1va p. a rti cular em lut as e ar-se exacer esas portugu as ' vemos, e m terr ações de conquis ta, é justam ente n~s _c_asos em _que ?r~uns tâncias locais tendem a afrouxa r ou de todo imposs ibilitar uma ingeren c1a eficaz do poder central. As entrada s e bandeir as paulista s, que acab a rão por mudar a primitiva silhueta geográf ica do Brasil, amplia ndo-a sertã o adentro , surgem em geral à revelia das autorid ades. " E conclui o parág rafo c o m uma pergun ta, a mesma que aparece em outras p a rtes e à qual tra tare mos de forma mais detida no último capítulo : "Não haveria alguma rela ç ão e ntre e sse fato e a posição quase extrínse ca, de exce ção, que ocu pa Sã o Pa ul o por longo tempo, e desde o começo , no conjunt o da Améric a lusita na? " (HOLA NDA. A instituição do Govern o Geral, p .132). 43 HOLANDA. Piratini nga : 1532-15 60 , p .43. 44 Os textos são os seguint es: HOLAN DA. Pu blicaçõ es do Institut o de Administração, p .3-23; HOLAN DA . Piratin inga: 1532-1 560; HOLAN DA. A instituição do Govern o Geral; e a série de a rtigos public ados ainda em julho de 1948 no jornal O Estado de S.Paulo que corresp onde a uma versão ampliada do texto publica do pelo Institut o de Admin istraçã o, série intitula da exatame nte de "A pré-hist ória das Bandei ras". 45 HOLANDA. Publica ções do Institut o de Admin istraçã o, p.20. 46 _E ~ uma série de artigos sobre a obra de Oliveir a Vianna , publica dos ongmal mente em janeiro de 1950, no Diário de Notícia s, Sérgio Buarque rte· · ~ observa . ·· "Sob re ª suposta geraça o espont ânea das cidade s colonia is no por ª °:en_c anas, que é um dos argume ntos utilizad os em mais ele um passo tema · d f Oliveira Vianna em avor e sua antítes e um tanto caprich osa entre O 1sistino e ~ , d O ª anglo-s axonico - on e a parte das autorid ades seria nula - e . . ergias · ·1 b principa lmente O rasi eiro - onde ela seria absorv ente de todas as ,en co do . ind · . 1v1dua1s - tudo · 1. me ina a supor que não passari a de mais um equivo autor A b urbanos . d • o · o servaçã do 111st0 , na or F. J. Turner relativa aos centros da Nova 1 . an histon , , ., nglaterr a em ob Jª · e 1assica (The rrontie r ín Amertc · rnento• ra ' New y k J' or , 1920 p 74) , • to ªJuda- nos a verific ar a sem raz ã o do argu .' · A criação d rno pon I tais centro e d e panida s naque as colônia s tinha geralm ente co eava u rna um requeri rn veento endere çado à Corte Geral. Esta nom . comissã o in d sua con . cumbid a dei ·~ . nspecio nar o terreno e inform ar acerca Ie s á reas, ern . nienc1a . Em s b . d era egu1da e aixa a ordem fazend o a conces são •eª distan rede . Xten sões var", 1 ' . d qu e ave1s . se·15 ·dade e evenam perfaze r um total não muito milh as qu, d d urna c1 ~ a radas E · sse era o proces so 'típico' de fundaç ao e 244 . . uc , Ji -lo expressame nt e Turner. E acresce nta que a dita Corte logo i:i nq d''t i·egu· lame ntos acerca das terras comuns , d as condi<'ões pai·a ac.lmi·s .,:,;pe lt '.',· , sao ~!-e ni oradores, _e tc., asseg ura1~do-se.·de"qua l,,q uer ma ne ira 'pul so firm e sob re . tura so c ial ci o n ovo estabe le cimento (HOLA NDA. Cu ltura & J) o l' t' :1 c stJU 1 1ca, 1 ;),5 5-56). . 47 É curioso observa r que , ~o m toda s ;_1s d1fe re nc;as , nos casos e m qu e pôde h:iver uma lógica de f ro nt e 1ra no Co ntinente ame ri ca no _ casos bra s ile iro e ·te-ame ri ca no - correspo nd eu, paradoxalmente , um pri v il e giam e nto 001 1· ~ 1 ' .Jll IL. ·-·:1 J do JJovoame nt o . 1toraneo em e e tnm e nto do inte ri o r. Sohre este ponto I, , . , "er l3ELAUNDE. Tb e R1 ce lnslitut e Pampblet, p .204 -205 . No caso d a Amé ri ca hispânica , o nde as cid ~d~s foram e stab_e lec id a_s no inte ri o r, houve um a esp écie de abo rt ame nto da log1ca da front e ira, p o is as terra s li vres puderam se r controladas, e controla das de maneira eficie nte. Sob re as cidades_ sobre sua hipertrofia - n a Amé rica espanhola vide RAMA. A cídade da s letras. Sobre 0 caso da América espa nhola comparada com a p o rtugu esa, ver HOLA NDA. Raízes do Brasil. 2.ed. ca p ítulo iv; A instituição do Govern o Ge ral, p .130-132. Sobre os Estados Unidos e a resistência inglesa ao povoame nto do interi o r, rer SMITH. Virgin land: the american west as symbol and myth , p .4-8 . o probl em a da diferença entre os momentos em que a lógica da fr o ntei ra funcio na em cad a um dos dois países n os isenta de enfrentar outro prob lema ainda mais complexo, o da fronteira brasileira nos séculos XIX e XX. Contu do , não posso deixa r de fazer uma breve referência à emblemática difere nça entre a Lei de Terras n o Brasil, promulgada em 1850, e o Homestead Act, nos Estados Unidos, de 1862, estabelecido em pl e na Guerra Civil - justame nte quando os sulistas são expurgados do governo federal. Enquanto a lei americana estabelecia um plano qu e visava facilita r o acesso à terra, a lei de 1850 ia na direção contrária. Uma comp araçã o entre as duas leis é realizada em COSTA. Política de Terras no Brasil e nos Estados Unidos, e o Homestead Act pode ser lido em SYRETT. Docum entos h istóricos dos Estados Unidos. Otávio Velho também ressa lta a o pos ição' e ntre as duas le is e, contrariando aqueles que viam na Le i de 1850 "a in a u g uração d a propriedade capitalista no Brasil", argumenta que se deve procurar as diferenças entre as leis na articulação entre o político e o econômico em cada uma das duas formaçõe s capitalistas (VELHO. Capitalismo autoritário e campesinato: um estudo comparativo a partir da fronteira em movimento, p .140-141). Na opinião de Claude Fohlen a importância da lei norte-a mericana não deve ser supe restimada, pois "n a realid ade, os res ultados ficaram abaixo das ex p ec tati vas: entre 1862 e 1890, dois milhões de pioneiros instalaram-se, a proveitando a Lei do Homestea d , enqu a nto sete milhões adquiriam terra ou se estabeleciam de forma diferente, isso num período em que a popul ação tota l aumentou em 45 milh ões de habitantes" (FOHLEN . O Faroest e: 1860-1890, p .18-19). Ai nda assim, lembrando da discussão sobre a te rra livre como vá lvula de segurança comentada p áginas atrás e na imposs ibilidade de nos determos à campa raçao - por mai s te mpo é importante fazer uma re f e re~ nc1a · a' o b servaçao de R' h ' . . te ard Morse anotada por Emíli a Viotti: "O professo r Morse sugenu com muna inteligê ncia e pers picácia que os brasileiros procura ram usar a política de terras . , · , , co mo um 'c into de segurança' enquanto a Amenca usou-a como urna' ·1 ' . d u . va vu la d e escape"' ( COSTA. Política de Te rras no Bras il e nos ES t a os n1dos, p.159). 49 R 12 1~DRIGUES. Conhecimento dos países hispano-a mericanos no Brasil, p .ll9, 4s 245 . I e fron teir as, p.7 1 . A pri me ira e ma ior par te d ~º ]-{OLAND A• cam.tn'JOS d .!'qua l foi reti. d · 't . ra a a c1 aça · o tev e orig em e e r e.,r on teir _ as· - una1 tex to pub lica do em 19 49 ( Ca minhos d'f' ' 0 111 HOLAND A. Índ ios em poucas mo , ,c aço es ';o pau list a, p .17 7-2 90) . 1ame\ucos na exp ans a . n DA Caminhos e fron teiras, p .71 . 51 HOLAN · sz Ibid em . p.73 . ;3 HOLANDA . Extremo Oes te, p.5 4 . e Idem. HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.7 6. 56 HOLANDA. Monções, p .16. . . . ent e flui do e len to da fro nte ira bra 57 o cará ter ext rem am sde Ha só vem d , . • • da idé ia de cam inh o nos tex refo rçar a 11. nportan tos e Serg10 Bua rqu e de c1a ., . Hol and a. A1ias, 0 mes mo fato faz com que , som ent e com gra nde libe rda de .b • term o conquista do O este , larg am ent e ut1·1·1za do por mim ' se possa atn u1r o d para o pro ces so des crit o pel o a uto r. Est a libe r a d e, tom a d a inc lusi ve ' no , utu 1o d o tra b a lho , so' pod e ser 1·ustificada pel a con sta nte re fere nc1 a ao cas o . . norte-a men·can o , refe rên cia esta mo tiva da pel o am bie nte rem ant e ent re os hist oria dor es do con tine nte am eric ano na épo ca da Seg und a Gu erra . 58 HOLANDA . Monções, p.1 6. 54 5; A • CAPÍTULO VI COMO O OESTE BRASILEIRO FO I CONQUISTADO 1 HOLANDA. Índ ios e ma me luc os na exp ans ão pau list a , p.1 80. HOLANDA. Anais do Museu Paulist a, p.1 80. Acr edi to até que não seria dem asia do forçado rela cio nar a con stru ção da fras e de Sér gio Bua rqu e a um trecho do livro de Tur ner - por ele grif ado em seu exe mp lar e ao lad o do qua l ano tou "Im por tân cia da fron teir a na hist [óri a] am eri can a"- , no qu al o hist oriador nor te-a mer ican o afir ma: "As sim o des env o lvim e nto am eric ano ~ão exibiu merame nte ava nço s ao lon go de um a linh a úni ca, ma s um reto rno as condiçõ es primitiv as à me did a que fos se con tinu am ent e ava nça ndo a linh a d_a f~~nteira, e um des e nvo lvim ent o nov o p a ra ess a á rea " (TURNER. The s1gn1f1cance of the fron tier in Am eric an his tory , p .2). 3 HOLANDA. Cam inh os e fron teir as, p .15. 4 Para a i f . mp ortancia do cot idia no nos tex tos de Sér gio Bu arq ue sob re ª /ºnt eira ver BLAJ, MALUF. Rev ista de His tóri a, p.1 7-4 6. ºf? rdme cha ma ª aten ção , por exe mp hci·sºtona lo DIAS Sér gio Bu arq ue d e Hola nd or a, ' Resenhas. 'p. )~ 4-55 ; MELLO E SOU d ZA. Fol ha de· S.P aul o, p.1 0-11 . Jo rna l e Ou, como sali enta Man I e. e fron teir a b. oe ava lcant1 Pro enç a e m um ens · hos aio sob re Camtn . s, pu lica do em 195 8 " poss1bilidade b . . . · ; o que d esd e log o 1m , . pre ss1o na e' e ssa [· .. ) tecn1 . r· , . cas tract · •ras,1.eira. de 'assis . , ir , ain da ho1 e a prá tica d os nos sos h: bitoS e , ona is Bast . a ate o per íodic1 o ·. ou irª orar Sor oca ba e d'epo is a Cui abá par co1on1 al e a re mo · ' onv ive ' ndo com as re nde iras , com o po d , mos en a ' 2 A 246 • ,.,ste momento fazer que os relógios caminhassem para a esquerda e ass1st1r . . _ nc à bateage m do o_uro, à plant_a çao do milho , à lida do gado, à pesca de arco" (PROENÇA. Revista do Ernst!, p.68). 6 HOLANDA. Caminbos e fro nteiras, p.16 . i MAVSS. As téc nicas corporais , p .2 13. s Ibidem. p. 214 . 9 HOLANDA. Caminbos efron.teiras, p.17 . 10 Se os ca lçados apareciam entre alguns grupos indígenas brasileiros sua função , na maioria das vezes, não era proteger ou ornamentar os pés'. Em muitos casos seu papel era en~anar os inimigos . Entre os Caingang, por exemplo, enrolar a planta do pe em um atado de folhas servia para quem visse suas pegadas, não soubesse em que sentido estavam indo. Já entre os Xerente, um calçado provocava, não a dúvida, mas o erro, pois levava 0 observa dor a tomar, pela marca deixada pelo calcanhar, a da ponta do pé , fazendo-o acreditar que os donos desses sapatos seguiram justamente o sentido inverso do efetivamente tomado. Nessa preocupação de dissimular o inimigo, Sérgio Buarque supõe, pode estar repousada a criação de entidades mitológicas como a do curupira, certa versão de saci que o apresenta com duas pernas e os calcanhares voltados para a frente, e o upupiara, no Rio Grande do Sul , um ser que possui dois pés em cada perna, sendo um voltado para trás, outro para frente. Dessas técnicas de dissimulação indígena pode vir, ainda, a explicação dos "fabulosos rnatuyu ", os quais, segundo a descrição do Padre Cristóvão de Acufi.a, são "pessoas que possuem, todas, os pés ao revés, de modo que quem, não os conhecenào, quiser seguir suas pegadas, caminharia na direção contrária à tomada por eles" (Citado por HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.30). HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.25. 12 A partir de uma observação de Mauss sobre o andar, no texto citado a pouco, torna-se possível supor a ligação entre o abandono dos calçados e o reaprendizado na forma de andar, posto que, segundo o autor, "o fato de andarmos com sapatos transforma a posição de nossos pés; quando andamos sem sapatos sentimos muito bem isso" (MAUSS. As técnicas corporais, p.216). 13 HOLANDA . Caminhos e fronteiras, p.35-36. 11 14 Ibidem . p.34. 15 Ibidem. p .34 , nota 43. 16 Ibidem. p.68 . 17 Ver HOLANDA . Caminhos e fronteiras, p.76. lª HO LANDA. Caminhos e fronteiras, p.77. 19 Ibidem. p .77-78 . ui Ibidem. p.79. 21 Ibidem . p.79-80. 22 H OLANDA. Extremo Oeste, p.52. SLOTK f IN . Regeneration through violence: t h e my tholog· y of the american rontier, 1600-1860, p .77. 23 24 2s . Ibidem. p.77-78. Ibidem. p .402 . 247 . eration. through víolence: the mythology of the arn erican SLOTKIN . Regen · · frontier, 1600-1860, p.403. 26 Idem . Ibidem. p.90-91 . 27 2s bibl ' thought: the Wílderness and. paradise ín. Christian 1ca 1 . . . ·· Ver WILL IAMS . the paradise the and Chnst1an1ty of story h1 the in desert e tl f . me . . expenence o 1 in the theological idea of the urnverstty, p.100. through violence. the mythology of the american 30 Ver SLOTKlN. Regeneratio n 29 . .. . . frontier, 1600-1860, p .114 . As observações de ZUCKERMAN (Ident1ty in British Ame nca: unease in eden, p. l4S) apontam para a mesma direção. 31 HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.62. 32 Ver DIAS . Sérgio Buarque de Holanda, historiador, p .18 . JAMES . Pragmatism o e outros textos, p.22-23. 34 HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.143. 33 Ibidem. p .V. 36 Corno dá a entender em sua afirmação que se refe re a Monções como urna versão inicial e sumária, Sérgio Buarque perma n eceu trabalhando no seu livro, chegando a redigir novas versões para três dos se us seis capítulos, das quais apenas a do primeiro capítulo, "Caminhos do se rtão ", ele publicou em vida, ainda que em forma de artigo (HOLANDA . Revista de História, p.69-111). Somente em 1990, quando a Editora Brasiliense editou a terceira edição da obra, os leitores puderam conhecer os outros d ois capítulos refeitos, graças à iniciativa da casa de reeditar a versão da pri meira e d ição, seguida dos capítulos reelaborado s, em anexo . Através de ca rta s d e David Davidson pode-se saber que o Capítulo II, "O transporte fluvial ", fic o u pronto não muito tempo depois que a nova versão de "Caminhos do sertã o ", pois em missiva de 22 de fevereiro de 1970 este orientando de R. Morse acusava o recebimento de "chapter on 'transporte fluvial' " (DAVIDSON . Carta a Sérgio Buarque de Holanda, Ithaca, 22 de fevereiro de 1970). 35 37 HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.III. HOLANDA. As monções, p .129 . 38 39 HOLANDA. Monções, p.43. Ibidem. p.73. 40 41 Ibidem. p.59-60 . 42 Ibidem. p.28. 43 Ibidem. p.59. 44 · HOLAND , . ,, A. Caminhose fronteiras, p.170. O capítulo intitulado "Frotas de comercio origina - se d ª con ferencia proferida anos antes há pouco cita da (HO ' LANDA. As monções). 45 HOLA NDA. Monções p.60 A 46 47 Ibidem. p.6 3 . Ibidem . p .60-61. 48 ~ 49 ' • • . er HOLANDA C . aminhos e Fronteiras, p.171. HOLAN DA . Monções, p.61. 248 • ,l, HOLANDA . Mon ções, ~ p.31. 51 HOLANDA. Ca minh os e f ronteiras, p.V, Vl. 52 lb ide m. p .205. ,.\ Idem. ;, Prov,n·el rnente , a debu lha e a limpeza eram praticada s nos próprio s sítios da roça de uma mane ira bastante rudime ntar, sendo que "as espigas e ram primeiram ente malhadas a va ra, e os grãos que se desprend iam, misturand o-se à terra e à are ia, limpava m-se, em seguida, co m o au xílio de pene iras" (HOLAN DA . Caminho s e f ronteiras, p .211) . A partir daí o produto ou era vendido aos comercia ntes, ou era enviado aos mole iros, os quais, pelo trabalho de moagem , recebiam o pagamen to e m forma de "maquia" , já tradicion al entre os portugue ses, que co nsistia em receber uma p orcentag em do produto que aca bou por se fixar e m uma parte em sete. "No século XVII a moagem ai nda seria feita mais freqüent emente nas vilas", não sendo muito g ra nde o número de senhores de moinho. O dispêndi o com o moinho não compens ava a sua construç ão e manuten ção por parte de quem plantava o trigo, pois a qua ntidade não seria suficient e para compens ar aq uele dispêndi o. 55 HOLANDA. Caminho s e fronteira s, p .212. 56 Ibidem. p .21 3. 57 Ibidem. p.212 . 58 Idem. 59 ldem. 60 Ibidem. p.215 . 61 lbidem . p.216. 62 Ibidem. p .217. 63 ldem. 64 Ibidem. p.225 . 65 Idem. 66 Ibidem. p.230. . Apesar do monjolo do personag em n ão funciona r muito bem, a le itura do conto "A vi ngança d a peroba", de Monteiro Lobato, é bastante esclarece dora sobre a con strução, funciona mento e n omes d as peças do m o njolo d 'águ a (LOBATO . A vingan ça da p eroba). 67 Ver HOLANDA. Caminho s e front eiras, p.234. 68 HOLA NDA. Caminho s e fronteira s, p .236. Contudo, a hip ótese d a associaçã o da dissemin ação do maquinis mo asiático, 0 monjolo de água, com a do arroz, produto também de origem asiática, traz consigo uma dificuldad e para o estudo de sua difusão no Brasil, dado que os docume ntos, após manifesta re m a presença d o produto no litoral vicentino já e m meados do século XVl, apresent am um "laconism o" no "lo ngo intervalo que vai daque la data até fins do século XVIll" . Este era um problem a de difíci l resoluçã o que já ha via merecido a atenção de Sérgio Bua rque e m diferente s ocasiões , com conclusõ es diversas - o que escapa ao tema do prese nte trabalho . 10 H OLANDA. Caminh os e front eiras, p .236. 69 71 Ibide m . p.225 . n lbidem . p .243. 249 7J HOLANDA . Monções, p .57. 74 Ibidem. p.111-112. 1~ Ibidem. p. l l 3. Idem. -, 7 HOL ANDA · Fxtremo Oeste, p.59 ~ 76 78 79 Idem. HOLANDA. Monções, p .113. Ibidem. p .67. . dº . 1· , . 13 ·que de Holanda veio a 1scuttr esses a 1cia. ente Serg10 uai 81 d Postenon11 ' Sao _ P au 1 no período que antecede a ln epe ndência T sem o, , mentas mi itare _ P lo tomo 2, v.2, especialmente p.432-440 . no texto HOLANDA. 5ao au ' sz HOLANDA. Monções, p.67. 80 83 Ibidem. p.72. 84 Ibidem . p.67 . Ibidem. p.67-68. 85 86 Ibidem. p.68. Ibidem . p.72. 88 PRADO JÚNIOR. Formação do Brasil contemporân eo: colônia, p.27. 89 Ibidem. p.27-28. O referido "recente escritor n o rte -a mericano " é Marcus Lee Hansen, e o seu livro intitula-se The immigrant in a merican history. Caio Prado indica o capítulo "Immigration and expa nsion". Não custa observar que o parêntese constante na citação, que fa z re ferê ncia à obra de Turner, é do próprio autor, Caio. 87 °Conforme argumenta Werneck Vianna, esta chave d e 9 uma luta nítida entre barbárie e civilização é, na verdade, mais característica da tradição do pensamento hispano-americano - Sarmiento, por exemplo - do que dos pensadores brasileiros (WERNECK VIANNA. Dados, v.34, n.2, especialmente p .156). 91 SIMMEL. The philosophy of money, p.449. A historiadora Ilana Blaj reflete sobre essa organicidade presente nos textos de Sérgio por meio das noções de "cultura material" e "cotidiano" (BLAJ . Sérgi o Buarque de Holanda: historiador da cultura material especialmente p .30-31) . ' 92 93 HOLANDA . Monções, p .72. HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.161. CAPÍTULO VII A CONQUISTA DO OESTE E A FORMAÇÃO DA MENTALIDADE CAPITALISTA HOLANDA Ca . · minhas e front eiras, p.160 . e-se percebe 1· dif . r ª mportanc1a at ºb 'd · erentes textos. Em HOLA n ui a p e lo histo ria d o r a o s trope iros em NDA (Extre mo Sul, p.85-90) pode-se p e rceber i 2 P0 d A 250 • relevânci a que Sérgio Buarque p e rce be no comérci o de muares e nos tropeiros não apenas para São Paulo, mas també m para o Su l do país. Anos depois , em texto d~ 19?0, Sérgio l3uarque retoma o assunto da importân cia do comércio de an1ma 1s, ressaltan do o papel das fe iras de So roca b a e dos tropeiros para o desenvo lvime nto da Capitania paulista até meados do sécu lo >-lX. Ve r HOLANDA. Metais e pedras preciosa s, tomo I, v.2, p.310 . :i ., HOLANDA . Escravid ão negra em São Paulo, p.295-29 6. • HOLANDA. O barão de lguape, p.238. s HOLANDA. Caminh os efronleir as, p.158. Jdem. 6 - Jdem . s Idem. Idem. 9 1° Jbidem. p.158-15 9. 11 Jbidem. p.159. 12 WEBER. The protesta nt ethic and the spirit o/ capitalism, p.58 . 13 Ibidem. p .171. H Jbidem. p.167-16 8. 1 ; lbidem . p.171. 16 Ibidem. p .62. i- 18 19 GOLDMAN. Max Weber and Thomas Mann, p .116. WEBER. The protesla nl ethic and lhe spirit o/ capilalism, p .1 19. Ibidem. p.270-27 1 . ° Citado por GOLDMAN. 2 Max Weber and Thomas Mann: ca lling anel th e shaping of the self, p .121. 21 EPÍSTOLA de Paulo aos romanos , capítulo 12, verso 2. Citado por GOLDM AN. Max Weber and Thomas Mann: calli ng a nel the sh aping of the self, p.123 . 23 O rena scimento é uma idé ia cara nã o tanto ao calvinism o - cuja doutrina de predestin ação em última análise não conduzi a a idé ia de conversã o mas ao metodism o, pietismo , e, mais especial men te, às seitas batistas (ver WEBER . The protesta nt ethic and lhe spiril of capitalism, capítulo 4). 24 EV ANGELHO segundo João, capítulo 3, verso 3. 25 Ver KANT. Fundam entação da metafísic a dos costume s, p.224 e 248ss. 22 Ver GOLDMAN. Max Weber and Thomas Mann : calling a nel the shaping of the self, p .124-125 . 27 w EI3ER. The protesta nt ethic and lhe spiril of capitalism, p.276. Em uma tr~dução aproxim ada, Entsagen sol/si du, sollsl entsagen quer dizer "Tu deves dizer não aos prazeres da vida, sempre dizer n ão aos prazeres da vid a "; enquanto Erwerben so!lst du sollst erwerbe n significa aproxim adament e "Tu ~eves fazer co nquistas através do trabalho ordenad o, sempre pelo trabalho" • gradeço a Jennifer Gay os comentá rios sobre essas sente nças. '8 w EI3ER. The protesla nt ethic and the spirit o/ capitalis m, p .276 . : 26 9 ;h Ver GOLDMAN. Max Webera nd Th omas Mann: ca lling and the shap in g of e self, p .149. 251 . . d the spirit o.f capitalism, p.20. a11t et/Jt Can . :R 71Je protest d Thomas Mann : ca llmg and the shaping of 30 wmHL · ~ía '>,: \fleber a11 · ~or oMAN - I ' ver l 1 ]1 6. tlle se Ir, 1 . JI 1 J . • 12 Jbidetn - p.1 20-121. ll ic and th e sp irit o.f capilalism, p.180-181 · 'h p ·otestant e .lJ · b , d b · ·'·' Ver WEBER. Ti. e_ 1_ - o da bildung, in clusive corro oran . o a .º servaçào , bre Goethe e a u ad1ça -ri ge1·man tradition of self-cultivatton: bildung so uroRD 1ne ·· · de Weber, ve r BR . Mann capítulo s 2 e 4. olt to Th omas ' fro 111 Hum b S ib ·ective culture . 34 SIMMEL. L l e · a citar de passa ge m Goe the , cabe desde qu e e I1egu 1 _ 1 3; A esta altu ra , en . te com este p a rale lo , n ao estamos querendo . ue Iog1ca men , . Jogo sa li entar q ' . d lanalto oaulista e ram ho me ns ilu strados preocuO 1: supor que os. ,sertaneJO f S -P ma s apenas que os processos de formação do 0, , a auto ·orn1 aça · 1 pados com SL _, eis e contrapostos ao ideal de voca çã o . seif podem ser compa1av . . . - ,,atism religion and dommatwn: a w ebe nan pe rspec36 SCHLUCHTER. Ra t t 0 1• , tive, p.87. , GOLDMAN. Max Weber and Thomas Mann: calling and the shaping of the 3 self, p.154-155. 3s Os cuidados envolvem não esquecer que na tradição da bildung ainda se pode falar em personalidade - mesmo que n ã o determinada a partir de dentro , e, sim, num intercâmbio contínuo entre self e mundo exterior. Enquanto isso, no confucionismo, torna-se mais d ifícil fal ar em personalidade . Como não recupero a argumentação de The religion of China de forma mais completa, não me preocupo em resgatar, por exe mplo, as diferenças entre o confucionismo, tratado corno a doutrina ortodoxa articulada à buro~racia estatal, e o heterodoxo taoísmo, ligado ao n o me de Lao Tse, mas que incorpora também crenças mágicas populares. 39 40 WEBER. The religion of China: confucionism and ta oism, p .227-228. Ibidem. p.228. 41 42 Ibi dem. p.156. 43 rb· , idem. p.160. Pode-se e f t' d or Webe r faz b n ª izar que, e fato, o confucionismo descrito P Iem rar nesse sent'1d seu auto r escreve ' o, a passagem de Raízes do Brasil na qual , que, com o trabalho ~ b a propria sati sfa ção el . , no Bras1·1 , "[ .. .] nao uscamos sena- o r· , e tem o seu f1m , Jtnis operantis e na~o r.· . em nos mesmos e não na obra, um um 1 mis ope ·" (HO 44 WEBER T.'h " t· . ris LANDA . RafzesdoBrasil, p.11 4) . . e re igion of Chi . . . "" 4s Ibidem . p.142. na. confuc1on1sm and taoism, p.160-161. 46 WEB ER. Th e religion orch . Jb· 'J ma· confu · • . idem. p.182-183 188 . c1on1sm anel taoism, p.235. 48 Ibidem. p.235 . , . 47 49 ~ er GOLDMAN the self, p.12 . Max Weber and Tho 9· 50 ldern . mas Mann: calling and the shaping of 51 Ü s três últ' falarn d imos aforismos d (N1E e Goethe co as "Incursõe d . _s e um intempestivo" de Nietzsche, repusc l gem nao · ' u o dos Ídot muno diferente da explorada aqUI· os, p.131-133). .TzscliE. e 252 1:1 uma aborda r p 248 · w,EBER . The religion o.f Cbina: confu cionis m and taoism • · ver W 5j Tbidem. p .247. lism , p . 17l . 1. . ca,Jita w,E13ER. The protestant ethic and the spirit of 54 \ er w ' NDA . Cami nhos e.fron teiras, p .159 . ~ HOLA 52 5 56 . ver WEBER. The prote stant ethic and th e spirit o.f capilalism, p.6 9 si Idem . HOLANDA . Cami nhos e.fron teiras, p .289. 59 HOLANDA. O barão de Iguap e , p.231 . 5s , de fato , WEBER. The prote stant ethic and lhe spirit o.f capita lism, p.18. Mas mode rnos de no argum ento de Webe r, pode- se consi derar que métod os , no entant o, contab ilidad e consti tuem uma tendê ncia do capita lismo burgu ês The prote stant estão muito longe de serem sinôn imos . Ver també m WEBER. etbt:c and the spirit of capila lism, p.66-6 7. the spirit of capita lism, p .182-183 . 61 Ver WEBER . The prote stant ethic and 62 Ibidem . p .54, 180-1 81. m and taoism , p.248. 63 WEBER. The religi on of China : confu cionis 60 a dedic ar-se Não se deve deixa r de menc ionar que Sérgio Buarq ue viria desne cessá rio ao século XIX no volum e da HGCB , Do Impér io à Repúb lica, dos livros que dizer, no entan to, que a p artir d e um enfoq ue difere nte ao temos tratad o. faz 65 Confo rme já obser vado à n ota 60 do Capít ulo I, Raim undo Faoro a incorr ereparos conce ituais a Raízes do Brasi l dizen do que seu autor cham buroc racia em tamente de "func ionári o p atrim o nial " o indiví duo que age na da: analis ta prol de intere sses própr ios (ver FAORO. Sérgio Buarq ue de Holan 64 das institu ições brasil eiras , p.61). 66 67 HOLANDA. Cami nhos e front e iras, p .158. HOLANDA. Brazil in ameri can life, p.205 . 68 Idem . 69 Idem . 70 Idem. 71 Idem. 72 Idem. 73 Idem. 74 Idem. 75 HOLANDA. Brazil in ameri can life, p.206 . 6 a nas palav ras de Hofs.ta~t~r: ~ SMITH. Virgin land, p.256 . O mesm o dilem com a h 1st0 na: E aqui reside o núcle o da íntim a desav ença norte -amer icana t ª dificu ldade de comb inar o sentid o pasto ral, ou pior ainda , 0 primitiviSndª• ela º: ª ,,,, . . . co nd ição huma na ideal ' com outro ansei o intele ctual igualm ente profu que ia m1_c1ou cre~ça no progr esso. [. .. ] Como pode progr edir um povo es progreSiSlas, muno próxi mo da perfei ção?" (HOF STAD TER. Los histor iador P- 22 - 23). Ver també m p.82. 77 d the ameri can moral . Ver. SAN FORD . The quest for parad ise: an e Europ . tmagi nation , p.VI. 253 - d aradise in christia n thought: the biblical JAMS . W'i/demess an. · p . of c hri st ian ity a n<l the paradis e theme 129 130 l sert in th e h1 sto1y ver WILL . f th e univers ity, p. . , ri e ncc of the e e~ 1, b . . " o idea ai . c;-;pt:: edenico s n o e esco nm en to e motivos . , c log1 eo th . _, . 11 os 78 111 t e OLANDA . -o H . ,,- . _ \/1sao do paraisa: 1 Brasil, p .XlV. co lon1 za~ :w e o d h XVI XVll . . r. , paradise: Europ e an t e america n moral ' ~º Jb1dern . P· Tbe quesl .1º' SANl::oRD. Ver !) .11. ' ' tton, imagina si nativos edê ni cos n o d esco brim e nto e , Ibidem . p.l9. do paraisa : os t F ~ s_, HOLANDA. \ tsao colo nização do Brasi l, p .230. 82 84 . d I p a uli sta do sécul o XIX, e vio lê n c ia exe rcida Idem . ac e socie na lência . 8 ns livres na ordem escravocraLa. H ' Sobre a ,·io ente iguais , ver FRANCO. ame . Ve r HOLANDA. Monções, p.33. s6 Ibidem . p.34. . Rs HOLANDA. Brazil in america n life , p .206 . ·· os motivos edênico s no des cobrim ento e . - d paraíso · s9 HOLAN DA. V1sao .o · coloniza ção do Brasil, p .334 . 87 CONCLUSÃO DIAS. Sérgi o Buarque de Holanda , histori ador, p.26. 2 MELLO E SOUZA . Formas provisó ri as de existên cia : a vida cotidian a nos camin hos, nas fronteira s e nas fortifica ções , p .45-46. 1 Na realidad e, levando -se em conta, por exempl o, o último parágra fo de Raízes do Brasil - no qual Sérgio Buarqu e observa que "podere mos ensaiar a organiza ção de nossa desorde m segund o esquem as sábios e de virtude provada , mas há de restar um mundo de essênci as mais íntimas que , esse, permane cerá sempre intacto, irredutív el e desdenh oso das invençõ es humana s. Qu e rer ignora r esse mundo será renunci ar ao nosso próprio ritmo espontâ ne o, à lei do fluxo e do refluxo, por um compas so mecâni co e uma harmon ia fal sa" (HOLANDA. Raízes do Brasil, p.161) - pode-se pensar o contrári o . ~ontudo , 0 que pretend o apontar é que, mesmo já estando present e neste 3 livro O que podemo s conside rar uma racionalidade de ajustamento ao mundo, que teve u_m papel importa nte no período de co loniz ação, ela n ão parece adequad a a resoluçã o d o "contrap onto ,, - para usar um termo do autor entre tradição ibe' n·ca e O mun d o ame ri ca nizad o 4 . . - d PRADO JÚ NIOR Fo O Brasil contemporâneo: colônia , p.31-32 . rmaçao · . 5 Ibid em . p .32. 6 7 fj HOL ANDA. Monções, p .13. HOLANDA 13 .1 . raz1 in america n life, p .219 • . · Ibidem. p. 206 _ 254 N. Max \Yleber and Tho,~as Mann: calling and the _ . mo derni smo e Ci ê ncias Soc 1.a1.s vshaping of th e GOLDMA a re laçã o entre I3en za qu en na "Intr ocIuçào"eraas c.onsld eJí sobi e d'1cações de Ricardo , in ~e · se u li vro freyre (ARAUJO. Gu erra e paz· "Casa g ·•ílções e 1 ea nzala" se & - rance . i, IJíC Gilberto . Freyre nos anos 30). so d Gilberto . olJfª e ER Tb e protestan t etb ic an.d tbe spiril of capita/is m, especial mente · 10 ver \~Eíl 0 • ° 5 p.1 0 · LANDA. Thoma s Ma nn e o Bras il. Ve r também HOLA NDA. Th omas 11 ver HO Mann. A morte em Veneza . . . 11MAN N· . al - e modernismo· AVELI NO FILH JEL Estética - Revista trimens O. ' . ,, d O "R , · 1~ 1EON , L' •tudos Cebrap; PRAD . . d a1-zes. do ' Brasil , e O moderni smo· De carater ~r0 vosµ~• · am a sao m 1dspensaveis para fal ar sobre a tra1.eb' gráfi co dois textos . , ' mais 10 . h'istoeles do punho do próp no dernista de Serg10 Buarqu e,, um . . tóna mo e de Holand a: ensai·o so 6 re Buarqu de Serg10 . d . BARBOSA . Verdes anos . ,, d , " , na or. sua formaçã o intelectual ate Ra1zes o Brasil , p.27-5 4; HOLANDA . Tudo em cor-de-ro sa, p .4 12-425. dialétic a na experiê ncia intelectual brasileira: 14 Ver ARANTES. Sentime nto da dialética e dualidade segund o Antonio Candido e Roberto Schwarz , p.20-22. 1 • 1s CANDIDO . 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