O encontro era previsível. Se
alguma imprevisibilidade havia,
ficava por conta do modo como
se daria algo há muito esperado.
E por que não dizer desde logo:
valeu a pena esperar!
Tendo como objeto principal de
análise os textos em que Sérgio
Buarque de Holanda tematiza
as bandeiras, as monções e os
tropeiros - isto é, a conquista da
parte ocidental do atual território
brasileiro a partir do Planalto paulista-, este livro de Robert Wegner
é o fruto melhor, porque a um só
tempo inteligente , desafiador e
cativante , do encontro entre aquele
que , sem renunciar às práticas de
crítica literária, começava a enveredar de modo decidido e marcante
pelos caminhos da historiografia,
e alguém que, embora anuncie
não pretender fazer um trabalho
de historiador, seja lá o que se
entenda por tal, empreende uma
das mais instigantes reflexões no
campo da história da historiografia.
Caminhando pelas páginas de A
Conquista do Oeste, torna-se
possível compreender não apenas
como Sérgio, à semelhança de
outros pensadores vinculados à
tradição modernista, parecia
encontrar na viagem ao exterior a
energia intelectual necessária para
viajar por seu próprio país, em
um exercício que não pretendia
senão alcançar que deixássemos
de ser uns desterrados em nossa
terra. Ou ainda como, ao seguir
por veredas de pé posto ou ao
participar da já regular aventura
das monções, Sérgio buscava a
justa e exata compreensão de uma
conquista, pondo em relevo formas
inusitadas de adaptabilidade que
forjavam homens com a consistência do couro . Por meio de um
texto sempre claro, seguro , elegante e generoso em sua forma
de argumentar, Robert possibilita
muito mais ao leitor interessado
em participar desta aventura intelectual. Ao sublinhar a importância
tanto de uma "fase americana"
de Sérgio Buarque de Holan da
quant o do diálogo sempre renovado que seu autor mantinha com
suas próprias raízes, Robert nos
revela como aqueles textos até
certo ponto fundadores contêm
um modo própr io do seu autor
operar com a relação entre tradição
ibérica e os valores vinculados ao
mundo moderno, diverso daquele
que distingue sua obra inaugural.
E ao fazê-lo franqueia a cada um
de nós outras fronteiras, horizontes
para novas reflexões e conquistas.
Um livro desafiador, que, ao exercer
sobre aqueles que por suas p>áginas
caminham uma atração em parte
semelhante à que o sertão exercia
sobre os homens de Piratininga,·
não deixa de evidenciar também
de modo enigmático que a obra
de Sérgio - ou ao menos aquela
fração que para muitos constitui
a "prime ira fase de sua produção
historiográfica" - aguardava por
Robe rt Wegn er, ao passo que
Robert parecia estar à espera de
Sérgio Buarque de Holanda para
se apresenta,r a todos aquel es
intere ssado s em comp reend er
um pouco melho r nossas raízes e
caminhos.
ILMAR RoHLO FF DE MAno s
Robert Wegn er é mestre e douto r
em Sociologia pelo IUPERJ. Atualmente é pesqu isado r da ~asa de
Oswa ldo Cruz e pesqu isado rassociado ao PRONEX do Dep~rtamen to de Histór ia da PUC- R10 .
•
ACONQUl~TA DO Ot~Tt
Af~ONHl~A NA OB~A De ~f ~GIO BUA~QUe De HOlANDA
ROBERT W EGNER
•
ACONQUl~TA DO Of ~H
Af~ONTcl~A NA º~~A De ~~~GIO ~UA~QUe De HOlANDA
Belo Horizonte
Editora UFMG
2000
. I © 2000 b YEditora UFMG
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Este livro ou P
arte dele nao poc1e
ser reproduzido por qualquer
- escrita do Editor
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f · teim na obra de Serg10 uarque
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·d u rMG 2000
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de Holanda / Robe
ª
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275 p. _(Hu111:rnitas)
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l. Cultura - B1~1sil 2. Civilização - 13 r,,
1. Título
3. Historiografia
11 . Série
CDD : 306
CDU : 316.7
,
blic 1ção : Di vis ão de Planejame nto e
Ca talogaç:10 na pu
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Biblio
teca Uni vers1ta n a - UI·
Divu gaçao e
ISI3N : 85-704 1-242-8
EDITORAÇÃO DE TEXTO
Ana Ma ria de Moraes
REVISÃO DE TEXTO E NORMALIZAÇÃO
Olga M. A. Sousa
PROJETO GRÁFICO
Gl ória Campos (Manga')
CAPA
Marcelo Belico (sobre obra de Tarsila do Amara l, Estrada
de Ferro Central do Brasil, 1924 , Óleo s/ tela,
142,0 x 126,8c m . Co leção Museu de Arte Contem porâ nea
da Universidad e d e São Paulo)
REVISÃO DE PROVAS
Alexandre Vasconcelos ele Melo
Clá udi a Pé re ira
PRODUÇÃO GRÁFICA E FORMATAÇÃO
Marcelo Belico
UN IVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Re itor: Francisco Césa r de Sá Ba rre to
Vice-Reito ra: An a Lúcia Alme ida Gazzola
EDITORA UFMG
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Campus Pampulha
31270-901 - Be lo Horizonte - MG
Tel. : (31 ) 3499-4650 Fax : ( 31 ) 3499-4768
E-mail: Editora@bu .ufmg.br
www.editora .ufmg .br
CONSELHO EDITORIAL
Helois M .
TIT ULARES
D·
ª an a Murgel Starling, Luiz Otávio Fagundes Amaral Maria He le na
arnasceno e Silva M
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e· ega e, Rom e u Cardoso Guima rães , Silvana Mana Lea
ose r, Wander Me lo Miranda (Presidente )
Cristiano M
SUP LENTES
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Viei acN1a do Gontijo, Maria da s Graça s Santa Bá rba ra, Maurílio Nunes
ra, ew to n n·
d
tgn o tto e Souza, Reinaldo Ma rtiniano Marques
A Ricardo Benzaq uen de Araújo
e Luiz Wernec k Vianna, mestres .
À memóri a do meu pai, Ronald Wegner.
AGRADEC
M
E
N
T
O
S
Tornando pública minha gratidão, gostaria de lembrar as
diversas pessoas e instituições que, por motivos vários, estiveram ligadas à feitura deste livro. Eurico Schoernadie; os
professores José Miguel Razia, Angela Duarte Damasceno e
Josefina Kawamura, da Universidade Federal do Paraná; CNPq;
o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, instituição na qual defendi minha tese de doutoramento que deu
origem a este livro, Ricardo Benzaquen de Araújo, meu orientador, Luiz Werneck Vianna e Cesar Guimarães, da banca examinadora, e, também, José Murilo de Carvalho e Edmundo Campos
Coelho; Elide Rugai Bastos, da Unicamp, Lúcia Lippi Oliveira,
do Cpdoc/ FGV-RJ, e Ilmar Rohloff de Mattos, da PUC-Rio, também
membros da banca; Arquivo da Casa de Rui Barbosa, Fundo
Sérgio Buarque de Holanda (Siarq-Unicamp) e, da mesma Universidade, Biblioteca Sérgio Buarque de Holanda, coordenada
por Tereza Cristina Oliveira Nonatto de Carvalho; Grupo
de Trabalho sobre Pensamento Social no Brasil, da Anpocs;
Departamento de História da PUC-Rio e Berenice Cavalcante;
Casa de Oswaldo Cruz e Gilberto Hochman; Vera Neumann;
Pedro Meira Monteiro; Conrado Pires de Castro; Marcos Chor
Maio; Elisa Goldman; Jessé Souza; Fábio Faria Mendes; Doroti
Jablonski; Beth Cobra; Heloisa Starling; Renato Bittencourt;
Nilton dos Santos e Wilca Suzana; Ernestina, minha mãe,
Junior e Elizabeth, irmãos, Edilton e Miriam, cunhados, e meus
sobrinhos, Neto, Jessica, Pedro e Eduardo; meus sogros, João
Barbosa de Queiroz e Cristina, e Cláudio, Leni e Lucilene.
Minha esposa, Liene.
Um [...] benefício ainda poderá ter ficado dessas audac iosas
peregr inaçõe s [.. .]. Elas nos oferec em uma lição de prude nte
sabed oria. Lição para o presen te e també m para o futuro, mas
que perten ce igualmente à História, na parte em que a História
é mestra da vida. O primeiro passo para a integração no mund o
de nossa cultura de todo o imens o território, que constitui o
coraçã o deste contin ente sul-americano, nasceu da aventu ra e
pode- se dizer que foi, todo ele, uma teimosa e magnífica
aventura. Era inevitável que assim suced esse.
O que resta fazer, porém , para compl etar esse esforço, não
poder á ser obra de aventura. Exigirá, prova velme nte, o
trabalho atento de algumas geraçõ es de home ns pacien tes,
metód icos e modes tos. Nascerá das nossa s legítimas neces sidades e das nossas possibilidades efetivas, não de projetos
espetaculares, bons apena s para a declam ação e a lisonja.
Significará uma luta penos a e de resultados talvez remotos, mas
que há de ser realizado, porqu e somen te com sua realização
nos mostraremos verdad eiram ente dignos do esplên dido legado
das bandeiras e das monçõ es.
Sérgio Buarq ue de Holan da, 1946.
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38
40
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71
72
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94
96
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100
Explicaç ão situ acio nal
113
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CAPÍTULO V
CA PÍTUL O Vl
E
BRASIL AM ERICA NO
O EUROPEU, O NATIVO E O
AMERICA NO
Sérgio Bua rqu e e a tese de Turner
Um a out ra fron teir a
CO MO O OESTE BRASILEIRO
FOI
CO N Q UIS TA DO
Ban dei ran tes, técnicas indíge nas
e ada ptação
Rec urs os nati vos , técnicas adventí
cias e
des env olv ime nto
CAPÍTULO VII
A CONQUISTA DO OESTE E A
FORMAÇÃO
DA MENTALIDADE CAPITALI STA
A fronteira e o esp írito do capitali
smo
O cultivo da trad ição
Ter ra dev asta da
CO NC LU SÃ O
11,
1
21
123
143
156
1%
181
201
205
214
NOTAS
BIB LIO GR AF IA
256
N
T
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D
u
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Ã
o
Este livro se conce ntra mais detid amen te naque la parte da
obra de Sérgi o Buarq ue de Holan da que gira em torno do
ten1a das bande iras, das monç ões, dos tropei ros: em suma, da
conqu ista do Oeste brasil eiro a partir do Plana lto paulis ta.
É neces sário desde já alerta r que nele não é conte mplad a a
grand e maior ia dos textos do histor iador escrit os nas décad as
de 1960 e 1970. A ausên cia diz respe ito, porta nto, princ ipalment e àquel es texto s publi cad~;s n a História Geral da Civilização Brasi leira, inclus ive o volum e Do Impér io à República,
redig ido integr almen te por Sérgio Buarq ue. Ainda assim, algun s
" textos da Coleç ão, alén1 de outro s como "Movi mento s da População em São Paulo no Séc~l o XVII" (1966 ) e o livro póstu mo
O Extre mo Oeste (1986 ) , não deixa ram de ser analis ados e
referi dos quan do neces sário por trataren1 do tema em foco.
Mas mesm o conta ndo com as exceç ões, é possí vel dizer que
o prese nte traba lho se dedic a à obra de Sérgio Buarq ue das
décad as de 1940 e 1950, porta nto ao perío do que Maria Odila
Leite da Silva Dias - autor a do estud o mais abran gente sobre
a obra do histo riado r - consi dera como a "prim eira fase
da produ ção histor iográ fica de Sérgio Buarq ue de Holan da,
delim itada pela publi cação de Monç ões (1945 ) e Visão do
Para íso (1958)',' .1
Desd e então , embo ra perm anece sse exerc endo a atividade de crític o literá rio, Sérgio Buarq ue já enver edara definitiva mente para sua carrei ra de histor iador. Contu do, por
outro lado, talvez não seja possí vel dizer que a persp ectiva
que lanço sobre sua obra seja comp osta por quest ões que,
pelo meno s à prime ira vista, intere ssem imedi atame nte a um
histor iador . E isto ao meno s em dois sentid os. Em prime iro
lugar, minha intenç ão está longe de procu rar mape ar diálog os,
influência s ou co1nparaç ões dos enfoques historiogr áficos de
Sérgio Buarque co1n os de autores que marcaram o estudo da
história e que certan1en te não foram seus desconhe cidos. 2 Se
esta é u 1na tarefa instigante e que pode ser bastante frutífera
na interpreta ção dos trabalhos do historiado r, não possuo
a forn1ação mínima necessári a para enfrentá-l a. Em segundo
lugar, não procuro recuperar de maneira sistemátic a a história
do Brasil e da conquista do seu Oeste tal como interpreta da
pelo autor. Quando, no entanto, isto é realizado - especial1nente nos Capítulos V e VI-, o é apenas através dos textos
de Sérgio Buarque, sen1 o apoio dos de outros autores. Portanto, não discuto suas interpreta ções, comparan do e contrapondo-as , por exemplo, a interpreta ções de outros estudiosos
recentes ou da época. Sobre este caso, vale a pena tecer
alguns breves comentár ios.
Levando- se em considera ção os trabalhos de Quentin
Skinner, 3 a grande ausência do presente trabalho para a realização de uma pesquisa contextua l mais abrangen te - e,
possível e conseqüe ntemente, para um estudo mais completo e
esclarece dor da própria obra de Sérgio Buarque - é marcada
pela não-recon stituição do diálogo entre os seus escritos e os
de autores seus contempo râneos que se dedicava m ao tema
dos bandeiran tes e da conquista do Oeste - que não eram
poucos. Aliás, pode-se dizer que, quando Sérgio Buarque
começou a estudar o assunto, no limiar da década de 1940, já
se podia falar numa tradição historiogr áfica que lidava com
as entradas e bandeiras , a qual, é lícito dizer, remonta à obra
de Capistran o de Abreu. Livros de autores como Paulo Prado,
Alfredo Ellis, Alcântara Machado já eram consagrad os. Além
disso, é necessári o lembrar, essa tradição contava com uma
legião de continuad ores, muitos, porém, nomes esquecido s
nos dias de hoje, que não estavam distantes do público não
acadêmic o, pois tinham seu lugar assegurad o nas páginas da
Imprensa. Basta dizer, por exemplo, que boa parte do livro
Caminhos e Fronteiras , editado em 1957, foi publicada antes
em forma de artigos, entre os anos de 1946 e 1948 na segunda
página de O Estado de S.Paulo. Mais importan te ~ue isso, no
_mom~nt_?, é indicar que os artigos de Sérgio Buarque não
~on s tituiam exceção ao abordar o tema na nobre página do
Jornal_ ~aulista, pois dividia espaço com outros autores, corno
0
cuntibano Ernani da Silva Bruno - autor de História e
14
Tradições da Cidade de São Paulo (1953/1954) e Viagem ao
País dos Paulistas, livro vencedor do Prêmio Octávio Tarqüínio
de Sousa de 1963, cuja comissão julgadora era composta por
Sérgio Buarque de Holanda, ao lado de Antonio Candido e
Francisco de Assis Barbosa - e Virgílio Correa Filho.
Sem a pretensão de suprir essa ausência dos interlocutores brasileiros com un1 só golpe, vale a pena trazer à tona
um desses artigos de Sérgio Buarque publicado no jornal O
Estado de S.Paulo, no que ele tem de representativo das visões
correntes na época. Com o título "Um Aspecto da Iconografia
Bandeirante", o autor publicou uma série de três artigos no
mês de janeiro de 1948. No ano seguinte, com algumas modificações, eles fizeram parte das páginas de "Índios e Mamelucos
na Expansão Paulista", publicado na Revista do Museu Paulista,
texto que, por sua vez, com pouquíssimas alterações, constitui
quase toda a primeira parte do livro Caminhos e Fronteiras,
surgido anos depois. Os artigos argumentam que os sertanistas paulistas dos primeiros séculos da colonização, nas
suas andanças na mata, usavam os pés descalços e as pernas
descobertas, ao contrário do que muitas vezes se pensava. A
principal modificação por que passa o primeiro artigo da série,
ao transformar-se em texto mais acadêmico, é a supressão
dos parágrafos iniciais, justamente onde Sérgio Buarque se
referia às imagens correntes da iconografia bandeirante à qual
vinha se opor. Abria assim o. seu estudo:
A silhueta convencional do bandeirante, com o sombreiro largo
de feltro, o arcabuz ou escopeta, e a respectiva forquilha, o
terçado, a cinta, o gibão de armas acolchoado de algodão, as
calças tufadas, as botas altas de cordovão, parece já definitivamente incorporada a nossa imaginação histórica. Como tentar
corrigir uma imagem tão largamente difundida pelos retratos
supositícios, sem ao mesmo tempo suprimir certas convicções,
que à força de repetidas, se tornaram inseparáveis da idéia que
fazemos do antigo devassador do sertão? 4
Com tais características e a elevação à categoria de herói
normalmente a elas vinculada, essa era a representação do
bandeirante que Sérgio Buarque contestava - para usar os
termos de Skinner citados em nota - e, de certa maneira,
passava a ignorar quando, ao reaproveitar o artigo, suprimiu
esse parágrafo, o que não significa dizer que agora deixava
15
·d ,, .a presente no seu horizonte de d b
e ate
1 e1
a
de ser u01 ,, ·io Em outras palavras, podemos ct·1zer qu-... a.1 111~8
.
contrai ·
e, ta~t'
to con1 o no outro , sua intenção inclu"
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omen
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e' con~ a
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rJana Blaj, entre autores vinculados a
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Geográfico de Sao Paulo. 5 Para Sérgio B
o bse,, .
uarque
Histo n co e
J
la de fi cções, em bora generosas ou inofensivas q
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a te
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tos fatos do passado, a e ser primeiramente d fena
es
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quisermos chega r a un: a Justa e. exata compreensão de , ~e
fatos. Precisamente a 1conograf1a das bandeiras, u ta15
,, · d eve se r rq e. Pou e
d a h.1stona,
.
· prestimoso
tornar-se aux1·11ar
evista ern
6
mais de um pon to .
Não deixa de ser irônico, contudo, que, se corrermos
páginas do Curso de Bandeirologia, publicado pouco
de um ano antes , e atentarmos para os desenhos de Belmonte
apostos entre as páginas das conferências proferidas por estudiosos do assunto, como Affonso de Taunay, Alfredo Ellis Jr.
e Joaquim Ribeiro, vamos nos deparar com figuras que correspondem à imagem criticada por Sérgio Buarque. Diga-se de
passagem, o desenho inserido no estudo a presentado ·por
este autor, "As Monções", corresponde exatamente à descrição
que ele elaborou, citada há pouco.
ma~:
Na sua ironia, esse fato nos faz lembrar que, muitas vezes,
idéias em conflito convivem lado a lado e que as pesquisas e
interpretações de Sérgio Buarque nem sempre deviam ser aceitas e , nem mesmo, compreendidas imediatamente. Para
esclarecer melhor esse ponto, podemos recorrer novament~
à trilogia de artigos "Um Aspecto da Iconografia Bandeirante'
e lembrar que, nela, o autor argumentava que os sertaniS!aS
ªnd ªvam descalços e não com as grandes botinas dos desenho:
de Belmonte. Contudo, esse era realmente apenas "um aspecto
que vinha compor toda a argumentação de Sérgio Buarque, ª
VI - tel11
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qual com 0
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veremos - especialmente no Ca p1tu 1O
'
tíciO ao
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e seus .eixos centrais a adaptação do a ven
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rras americanas. Isso significava rebaixa
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e1rante que
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se e evava acima dos selvagens e
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ara O umilde lugar de quen1, Pª . b igado
hostilidad
foi o r
es do m ·
hábitos
eio e os índios que subjugou,
a aprenct
,, ·cas e
er com e s t es mesmos indígenas tecnt
16
mais adequados para sua sobrevivência . Se com isso não
pretendo afirmar que Sérgio Buarque tenha sido o único, ou
mesn10 o primeiro autor a despir os bandeirantes e monçoeiros de suas vestes heróicas - pois, como já observou Elisa
Goldman, pode-se ler a sua obra estabelecendo -se, a partir
do laço da humildade, um vínculo com O livro anterior de
José de Alcântara Machado, Vida e Morte do Bandeirante de
'
1929 -, 7 é possível, com essas observações, que se tenha
idéia das possíveis dificuldades para a difusão de sua interpretação, a despeito de seu reconhecime nto como historiador. Contudo, somente a partir de um estudo mais acurado
e que contemplasse os diversos autores brasileiros envolvidos
no debate, poder-se-iam fazer essa e outras afirmações com
mais segurança.
Voltando ao que é abordado nas páginas que se seguem,
é certo que num sentido mais específico este trabalho pode
ainda ser considerado de historiador, ao menos naquela área
que costuma ser chamada de história intelectual. Mesmo assim,
a reflexão desenvolvida em torno dos trabalhos de Sérgio
Buarque possui um fio condutor bastante específico, passível
de s~r sintetizado na indagação sobre a forma pela qual a
relação entre tradição e modernidade é mobilizada pelo autor.
Talvez seja possível dizer que este tema esteja mais pr_ó ximo
de constituir-se numa constante do Pensamento Social Brasileiro , sejam os trabalhos de cunho ensaístico - e aqui um
exemplo eloqüente pode vir do próprio autor em questão:
Raízes do Brasil-, sejam os considerados na área da Socio1o gia já institucionaliz ada nas Universidades. De todo modo,
pode-se dizer que o livro acompanha o "fulcro inspirador
comum" a todos os trabalhos de Sérgio Buarque, que, conforme
detecta Maria Odila, consistem na "reconstituição das tensões
entre as tradições e a mudança histórica, sucessivamente retomadas em suas obras sob ângulos de abordagem diferentes".ª
E, como já disse, o momento a que me dedico diz respeito às
décadas de 1940 e 1950 e gira em torno do tema da conquista
do Oeste. Contudo, percebendo a continuidade apontada por
Maria Odila e a possibilidade de abordagens diferentes se
esclarecerem mutuamente, discuto também como a mesma
chave tradição/muda nça aparece em Raízes do Brasil. Desse
modo, abordo também o livro de estréia de Sérgio Buarque,
que, publicado em 1936 e com um caráter mais ensaístico,
17
rabalho de interpretação d a história do Brasil
representa seu t
.
.
. , ela fa se a qu e nos referimos como a pnn1e1ra
da
anterior aqu
.
.
d
d'
- h ·storiográfic a do autor, a qu al nos e 1caremos
pro d uçao 1
com mais vagar.
o objetivo central deste trabalho é demonstrar que, enquanto
em Raízes do Brasil há um qu ase absoluto desencontro entre
nossa tra dição ib érica e os va lores vinculados ao mundo
moderno , nos textos de Sérgio Buarque que abordam a conquista do Oeste detecta-se uma nova configuração da relação,
que agora aponta para urna possível via de continuidade . A
noção de fro nteira - que neste caso específico deve ser compreendida associada ao conceito weberiano de racionalidad e de
ajustamento ao mundo - adquire um papel estratégico como
elemento dinamizador dos valores ibéricos em direção ao que
Luiz We rneck Vianna chama de americanismo - 9 com o duplo
sentido de estar relacionado a uma lógica do Continente e de
suas terras livres e, ao mesmo tempo , p or representar valores
democráticos e igualitários. Assim, pode -se d izer que, agora,
o iberismo não aparece como inapelavelme nte incompatível
com o moderno e que ·, neste momento da sua obra, Sérgio
Buarque explicita, na história do Brasil, um caso de americanização do iberismo - num processo n o qual este último
elemento não é aniquilado.
Devo dizer que o fato desse desenvolvime nto se dar numa
p~rte :e st rita do país - o que leva à possibilidade de se
d1sc~t1r_ um contraponto, presente neste momento da obra
df_e .Serg10 Buarque, entre sertão e litoral ou ainda a espec1· 1c1dad d s'
'
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ra ão e e~ a~ p au 1~ em relação a outros
Estados da Fedeç . - nao
·
T a 1vez um
• e focalizado no decorrer do 11vro.
motl vo su r·1c1ente
para isto di
.
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do autor ter obJ'eti· d
gda respeito ao fato de o trabalho
va o tratar a co
• d
cende o atual Estado d s~
nqui st ª o Oeste que transe deseJ·oso de incorp e ao Pdaulo, englobando o Mato Grosso
orar as escid
entradas para O N t C
as para o sul do país e as
ore. ontudo
· d
pesou na minha opção f .
b'
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.
mais
isso, o que
01 0 0 Jetivo d d o ,que
l1'd ad e de se perc b
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e ar enfase à possibie er, nos textos d S,, .
pend entemente do 1
e ergio Buarque e inde'b, ·
oca 1 geográf
I enca não como legad r·
ico onde se aplica, a tradição
O ixo, mas em
de fa t
·
o, o tema do trabalho
movimento - e este é,
s .
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egumdo esta 'lh
detalhad
tn a, na Parte 1
.
ª de Raízes
do Br .
. ' sem realizar uma leitura
asi 1, sugiro u
.
ma interpretação
acerca
18
da forma con10, neste livro, Sérgio Buarque trabalha a relação
entre a tradição ibérica e a modernização da sociedade brasileira. Esta interpretação é forte1nente inspirada pelos meus
estudos dos textos seguintes de Sérgio Buarque e, em contrap artida, al é n1 de significar por si mesma uma sugestão de
leitura do ensaio, funciona como quadro de referência para
a análise, nos capítulos seguintes, dos trabalhos relacionados
à conquista do Oeste. Neste sentido, as questões abordadas
no início pern1anecen1 no decorrer de todo o livro, e as diferentes respostas elaboradas nos dois 1nomentos distintos se
ilu1ninan1 111utuan1ente.
No Capítulo I sustento que o ensaio de estréia de Sérgio
Buarque é construído con1 dois eixos paralelos de argumentação. De um lado , a con1preensão de que a cultura brasileira
é profunda n1ente marcada pelo legado ibérico, caracterizando-se pela ausência de culto ao trabalho e por relações
interpessoais n1arcadas diretamente pelos impulsos do coração,
impossibilitad as assim de serem regidas por leis abstratas. De
outro lado , tendo dito que a cordialidade tem como fonte de
manutenção o ruralismo, o segundo conjunto de argumentos
aponta para sua diluição operada pela urbanização, a qual
segue seu curso desde meados do século XIX. Mas, por sua vez,
a importância adquirida pelas cidades não é suficiente para a
configuração da civilidade, que significa valores e atitudes
mais adequados para um país em processo de modernização .
Daí, do cruzamento destes dois eixos - ou, da falta de resulta a tensão constitutiva do livro: nosso tradicionalism o
não contribui para o processo de modernização , não há pontos
de encontro efetivos entre a cordialidade e a civilidade.
No Capítulo II, por meio da análise de algumas revisões
realizadas pelo autor para a publicação da 2ª edição de sua
obra, em 1948, procuro vislumbrar modificações na forma de
Sérgio Buarque pensar o Brasil, tentando indicar em que
pontos isto pode revelar um relativo mal-estar com a estrutura de Raízes do Brasil. Neste momento, fico distante de
avaliações mais conclusivas sobre as revisões. As análises se
resignam a tecer algumas observações mais como perguntas
do que como respostas e sugeren1 que estas poden1 ser mais
bem estudadas nas obras seguintes de Sérgio Buarque.
Posto que Monções - a primeira destas obras seguintes
- foi publicada em 1945, entremeando as duas primeiras
19
. _ d Raíz es do Brasil, pod e-se sug e rir que inau
gura
ed1ç oes e
~
f
uma fa se da obra de Sérgio Bua rque on d e as_revdi· ~oes
e etua das
• de estré ia ·á pass am a ser, por assi m izer, operacio
no ensaio
1
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Mas
ante
s
de
efetivam ente anal isa r os text os que
na 11za as .
.
abor dam a con quis ta do Oes te, realizo
, na Part e 2, um breve
estudo de caráter mais contextu al, tran spor tand o o foco
para 0
deb ate da historiografi a do Con tine nte ame rica no no
perí odo
da Segunda Gue rra Mundial e p ara a n1an eira p e la qua
l Sérgio
Bua rque se posi cion ou dian te dele. Un1 mom e nto estr
atég ico
é a viag em de algu ns mes es que o hist oria dor
faz para os
Esta dos Unidos em 1941.
No Cap ítulo III proc uro retr açar as linh as gera is
dess e
deb ate , salie ntan do que os hist oria dore s da Am éric
a proc urava m, num clima de pan -am eric anis mo , ress alta r
ante s as
prox imid ades que as disp arid ades entr e a Am éric a
ibér ica e
a anglo-saxã. Para isso, dois cam inho s eram poss ívei
s: um
enfo que inte rpre tativ o que enfa tiza sse as cara cter ístic
as das
tradições transatlânticas (explicação genética) e, no caso
, procurasse pon tos de cont ato entre as duas ; ou um que ress
alta sse
algum tipo de dinâmica própria à lógi ca de con quis ta
do Continente que , de alguma manei ra, apro xim asse aqu elas
trad içõe s
(explicação situacional). A prim eira opçã o pare ce ter obti
do mais
sucesso entre os historiadores. No enta nto , Sérg io
Bua rque ,
perc eben do as poss ibili dade s inte rpre tativ as d a noç ão
de fronteira, pare ce opta r por um enfo que situ acio nal o que já
si~nifi_ca, a~iás , um dist anci ame nto de seu prim eiro livro
, cujo
~nme1ro eixo de argu men taçã o está mai s próx imo
do outr o
tipo de expl icaç ão .
Como Sérgio Bua rque indi ca em um artig o pub lica do
logo
que re~orna de ~ua primeira visita aos Esta dos Uni dos,
é difícil
falar de fronteira sem se refe rir ao trab alho do hist
oria dor
nort e-am
eric ano Fred eri· k J k
T
.
c ac son urne r. Até cert o pon to
por is~o , o __capí tulo IV é todo ded icad o à tese da
fron teira ,
que, vmd o a tona em um
f
"'
.
a con erenc1a pron unc iada por este
autor em 1893 é um
,, .
se o trabalh
caso t1pico de exp lica ção situ acio nal. Mas
sobre a b ºd e :ur~ er pod e ser estr atég ico nest a disc
ussã o
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uentes da h' o e. que sua obra con stitu
.
i-se num a das mais
1stonografia no t
.
r e-am eric ana e, qua ndo proc urei.
d
20
estabelecer um diálogo da trajetó ria de Sérgio Buarque com
autores norte-americanos ou que debatem com eles mostrou-se
' em que
quase incontornável. Isto fica evidente na medida
outros autores mobilizados p ara esclarecer ou fornecer marcos
de comparação con1 a obra de Sérgio Buarque, seguidamente
se referem à tese da fronteira de Turner. Como se poderia
esperar, isto ocorre com aq ue les qu e discutem as possibilidades de se focalizar a história das Américas a partir de chaves
explicativas em comum, como o norte-americano Bolton e o
peruano Belaú nde - autores analisados no Capítulo III. Mas
também ocorre com a bibliografia norte-americana so bre a
imagem de paraíso q u e predomina entre os colonizadores
anglo-saxões, como é o caso dos trabalhos de Charles Sanford
e George Williams - discutidos nos Capítulos V e VII.
Creio que a reconstituição do diálogo de Sérgio Buarque
com a historiografia das Américas fica muito longe de esgotar
seus trabalhos da referida primeira fase de historiador, contudo
parece lançar luzes importantes sobre ela, ajudando a compreender, por exen1plo, a dita relação entre tradição e modernização neste n1omento de sua obra. E, nesse sentido, desde que
se fizesse necessário resumir o presente livro em um mínimo
de palavras, lembraria, em primeiro lugar, uma observação de
Antonio Candido segundo a qual "seria possível falar, na história
1nental [de Sérgio Buarque], de uma 'fase italiana' (1952-1954) ,
como tinha havido uma 'fase alemã' (1929-1930)" .10 Vinculada
a uma permanência em país estrangeiro ainda mais curta que
os poucos anos passados na Alemanha e na Itália, exploro
uma outra fase de Sérgio Buarque de Holanda. Intermediando
aquelas duas, a fase "norte-americana" é marcada, antes
de tudo, pelos meses de 1941 em que esteve nos Estados
Unidos. Portanto, para dizer rapidamente, meu trabalho é
uma inquirição sobre a fase - ou, talvez, face - an1ericana
de Sérgio Buarque.
Na Parte 3 ana liso efetivamente os textos do historiador
brasileiro que tratam do tema da conquista do Oeste, especialmente - mas não só - os livros Monções e Caminhos e Fronteiras, além de resgatar um único argumento, porém decisivo, de Visão do Paraíso. Nesta parte, procuro demonstrar como
Sérgio Buarque opera com a noção de fronteira, dando-lhe
um caráter particular, vinculado à história brasileira . Esta idéia
p arece adquirir bastante importância nestes textos do autor,
21
~
do leg ad o ibé ric o n a América.
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nu m co nti ne nte _ 13
22
Capítulo VI anali sa casos exem plare s de como , na obra
de Sérgi o Buar que, apare ce a dinâm ica da front eira em ação.
últim o
A organ ícida de dos exem plos nos leva ao sétim o e
capít ulo onde se anali sa o resul tado do proce sso de conq uista
do Oeste . Neste passo , a obra de Webe r - autor que apare ce
nos capít ulos inicia is do livro - , espec ialme nte os traba lhos
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo e The Religíon
of China, é crucial. Desd e o ponto de vista da noção de "racionalid ade de ajust amen to ao mund o", anali so em que medi da
pode -se falar em uma ment alida de capitalista quan do nos
refer imos aos resul tados da conq uista da front eira - e, de
uma form a um tanto esqu emát ica, d..iscut o o que pode ser
toma do como posit ivo da persp ectiv a daqu eles valor es consa grado s nas socie dade s capit alista s mode rnas, para depo is
focal izar o que pode ser tido como negat ivo.
Em todo caso, e esta é minh a conc lusão , neste mom ento
da obra de Sérgi o Buar que, e espec ialme nte nos texto s. da
segu nda meta de da déca da de 1940, surge urna relaç ão entre
tradiç ão ibéri ca e mode rnida de na qual estas não são incom patív eis de todo, a pont o de se ·pode r até pens ar em um
otimi smo do autor em relaç ão à mode rniza ção da socie dade
brasi leira atrav és de um cami nho prom issor e rico, ainda que
não isent o de prob lema s.
o
23
p
A
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I
~~A~ll l~c~ICO
E
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A
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L
o
ltGADO !~~RICO t
AMcRICANl~MO
Em 13 de janeiro de 1931 , aportava no Rio de Janeiro o
navio Bajé, do Lloy d Brasileiro, trazendo de volta da Alemanha
o co rres pondente Sérgio Buarque de Holanda. O envio de
artigo s para O Jorn al, de Assis Chateaubriand, a tradução de
filmes dos estúdios da UFA, como o Anjo Azul, com Marlene
Dietrich , a colaboraçã o na revista Duco - especializa da em
relações comerciais teuto-brasil eiras - e a intensa vida boêmia tnão impediram que Sérgio Buarque ass,i~t--i~.s e...à,.s__::a,;1;:Üas ~cl,e- L
r J J_
História. e Giênci-fts~~E>€-iaci&,- -es-tudas&€ Meinecke , Sombart e ,v{,f\L ...(};Weber e voltasse com qu atrocentas páginas de anotações
sobre o Brasil , a p artir das quais pretendia elaborar um livro ot· / J;
com o título Teoria da Améríca.1 O livro não foi escrito, mas l , ... :, d .. ' , . 1
,;
a partir daqu elas anotações o autor elaborou um artigo publicado em 1935 na Revista Esp elho, intitulado "Corpo e Alma do
Brasil". Com alterações , esse artigo compôs dois capítulos
do ensaio publicado no ano seguinte, Raízes do Brasil. O
mais conhecido livro do autor, e tamb ém o mais polêmico,
e ncontra-se h~
1r--'1tgésirn--sé-tima ediçào brasileira e em
traduções para o italiano (1954) , o espanhol (1955); t em du as
versões japonesas (1971 e 1976) ,-{;. li.a~ ?) , l-1lDi~ )
1
Embora seja o livro mais famoso de Sérgio Buarque, a trajetória de Raízes do Brasil foi tortuosa em termos de crítica e
mesmo de venda. Desde 1975 vem tendo edições quase anuais
e , no entanto, talvez porque atuou "menos sobre a imaginação dos moços" 2 sua segunda edição apenas foi publicada
'
vo,-,\,,
quase doze anos após a primeira,(Essa edição, de 1948, desencadeou um debate em torno d{ idéia de cordialidad e entre
~
autor e o escritor Cassiano f ~icardo .. Poste_riormente , em
1969, aparece a crítica que Dar e Moretra Leite formul a na
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. - _ revista e atnpli ada - d e O Caráter Nacion l
a
,.,
segunda e d 1çao
. . p . e le Raízes do Brasil pauta- e e m tres corre nte
s
Brast.leiro. ai a
. , • 11 eterogêneas que acabam or resu ltar nun--.
. " lª
de rac1oc11110
. ~ lo' gi·ca" alé m de uma delas ser uma generaltzaça~o
,, 3
. .
'
"contra d 1çao
e classe a lta para
, '' descrição intuitiva do brasileiro
. , .
de uma
•edade portanto uma ideologia. E interessante notar
.
. . ~
..
.
,
to d a a soct
que, enquanto Cassia no Ricardo cnt~ca. a diluiçao sofrida pela
descrição do caráter nacional brasileiro na ;eg.unda edição
de Raízes,4 Moreira Leite ce nsura a pennanencia d esse tipo
de construção . Esta últin1a crítica foi incorporada e divulgada
por Alfredo Bosi e Carlos Guilhern1e Mota,na década. d~ 1970,s
ao mesmo tempo em que as edições de Raizes se multiplicavam.
Além das edições quase _anu ais que, desde então, vem tendo,
a d é cada de 1990 assisté~ um crescente interesse acadêmico
~de ✓ -~
f-"''
pelo livro de Sérgio Buarque / ~
1
t•.b'IA-'-'-l
A-..
•• -,..
r.k /;;;
,i/,r
Essas ráp idas p assagens da trajetória ·d e Raízes do Brasil °'
~k--i@s-oo-i-ntg·i:es-sam-g...tr-a.balh,1_q~ue p_odcria r..esultat:,vEla .
a-Rátis,e -da recepção - -à a obra -à5 .5é-t=gio .. Buarque. No entanto, íJÁ
,. para a finali dade deste livro , a.,Í:; ~i~ão a uma breve leitura e.,.;.
de Raízes do Brasil que ressalte os dilemas da modernização J_, ..
brasileira parece sut:ki-~. O resgate do modo pelo qual seu &-~<
4autor interpreta este processo p ermite, devo adiantar, a consti- r-~
., tuição de um quadro que facilite a leitura - em capítulos )' .·
dos textos de Sérgio Buarque acerca da conquista
_r-- posteriores . . do Oeste brasileiro, nos quais é possível inferir algumas reconfigurações do pensamento do autor quanto ao mesmo tema
,µ ,_relativo à modernização.
J
'·
· - Ao menos desde "O Significado de Raízes do Brasil" que, a partir
nio Candido
-j,_ aprese~tação ~s~rita por A~
t da quinta ed1çao, de 19~~ acompanha a obra de Sérgio ,..
f Buarque - se tem chamado a atenção para a importância da
?bra de Weber na construção de Raízes do Brasil. Vinte anos
1 ~
,,, m~is tarde, George Avelino Filho \ l,'9$,V.). concluía seu texto "As
~aizes de Raízes do Brasil", lançando, em forma de perguntas,
ive rsas tarefas para a interpretação do livro dentre elas a
·
'
,
b
" · d
de
'4-.. uencia e We er alem da construção de tipos
. iit 1~a infl
·ct analisar
d
1 ea1s
0
>Jzmente esta tarefa foi levada a cabo por Pe ro
. · ~('@~
Meira Monteiro
~
AQ d
ue a do Aventureiro. Este mesmo autor
f .., . em
f
d
•
az re erenc1a a
um texto escrito por Brasil Pinheiro Macha 0
em h
0 menagem a
·t o
os quarenta anos de Raízes do Brasi , n
.
q ual 0 h'istonador
te
·
pa~anaense teceu, em 1976, uma insttgan
t
_
1
_ 1 1M ,.,_ ~
)'\Jz . / :..t.u.,.-h ~"•.r,._1; (
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~- - ./!~ " . t
í
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}
t rJ.. f.vv
J/JI ,,' , - ,.,
1~
u,{X_,.~l\-ii ·
interpr etação da primei ra edição do livr de Sérgio Buarqu e,
realizando em boa n1edida a tarefa de det nstrar a itnportância
7
de Weber na constru ção do argum ento e e Raízes do Brasil.
Ch"4"L ·~
i "l .
À,
n
o 1,,,-...._ _
ce
Brasil
o
_aízes,d
e
1tu-r$cl
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~ugere
d
~
a
M
o
Pinheir
~~
un1 reexan1e da historia da socieda de bri tleira a luz da problen1ática e da n1etod ologia weberi ana" .~n.11•Nesse exame , Sérgio
Buarqu e lançari a tnào da obra de Weber "sem o seu 'diálog o
con1 Marx' e sen1 as reelabo rações que os pensad ores não
alen1àes lhe dera1n", o que neste caso quer dizer que o ensaíst a
não incorpora, dentre outras, as análises de Tawney, elabora das
8
en1 Religion and the Rise of Capitalis1n, de 1926; e, naquel e
caso da ausênc ia de diálogo com Marx, significa que em Raízes
o capitalisn10 é interpr etado não como um sistema, m,as fundamental mente como uma raciona lidade específ ica. Com esse
quadro en1 vista, o comen tador conside ra que o livro de Sérgio
Buarqu e repous a basicam ente em três catego rias princip ais
elabor adas por Weber para a compr eensão do capital ismo: 1
uma ética religio sa em funçã_<? da raciona lidade capital ista; a 6}···
burocr acia patrim onialis ta e o Estado liberal; e a tipolog ia
das cidade s. Podem os dizer então que, para Macha do, Sérgio
Buarqu e elabor ou uma interpr etação do Brasil espelh ada nas
teses de Weber sobre o surgim ento do espírito da raciona lidade capital ista burgue sa, ou , na boa expres são de Pedro
,~ ,.,,.,, Montei ro, que "o 'espírit o do capital ismo' é, pois, segund o
esta interes sante interpr etação , o ponto de fuga de toda a
compo sição do autor" .9
Desse ponto de vista, Raízes do Brasil é um trabalh o sobre
a moder nizaçã o brasile ira. E creio que seja possíve l detecta r
dois eixos básicos na argumentação que Sérgio Buarque constrói.
Em primei ro lugar, lembra ndo que Weber conside ra o "tradicionalismo" como o princip al opone nte contra o qual o "espíri to
10
do capital ismo" é obriga do a lutar, pode-s e dizer que un1 dos
eixos do livro diz respeit o ao nosso tradicionalismo: partind o
de uma análise do legado ibérico até a constru ção do tipo ,dl"'
~ lativofü homem cordial, Sérgio Buarqu e realiza u1na gênese
dos obstác ulos à moder nizaçã o . O segund o eixo é relativo
justam ente ao que o autor chama de nossa revolução, a qual,
lenta e sem alarde ' segue seu curso desde meados do século XIX\9t', ,
aponta ndo para a urbani zação e a constit uição de um Estado \
burocr ático no Brasil. Acomp anhand o essa esquem atizaçã o, · ·
passo a aborda r cada um desses eixos para, em seguida, avaliar
a tensão existente e ntre e les, a qual vem à tona com toda
força no último capítulo de Raízes do Brasil.
SUa
O TRADICIONALISMO BRASILEIRO
_.,,.
tipo ético que informa o espírito
rque const101 u n1
Serg10 ua
1 .
que pode ser dito
.
l'1d d da cu tu1 a bras1'le1·ra
,
,
'
'
da raciona ª e d. . ati·smo específico desta sociedade.
de ao tra icion , ,
corres pon
~
t . parte da caracterização do homem
construçao o au o1
Para essa .
'd ·a que a cultura brasile ira permanece
ibérico pois cons1 e1
f'
'
. d
legado
transatlântico
que
a
con
1gurou.
fortemente ma1 ca a pe 1O
d
_
.
·1
tei·
recebido
esse
legado
e
uma
naçao
o fato d e o B1as1
.
.
.ibenca
, . - un1a " na fronteiriça" "indecisa entre a Europa e
zo
'
· " _ lhe dará uin caráter peculiar, menos carregado de
a A,, f nca
. ,. .
"europe1sn10
,,
" a1·nda que este constitua um patnmonio seu. 11
o principal traço ibérico é o desenvolvitnent? extremado da
cultura da personalidade, a qual elege como virtude suprema
a independência pessoal, o bastar-se a si próprio. Gera-se,
desse modo, um individualismo com elementos anárquicos
que firma como valor - paradoxalmente, de sde cedo - a
competição entre os indivíduos. Contudo , essa competição
não possui um mínimo de sentido para além dos indivíduos,
restringindo-se a mera luta pela supremacia do próprio eu e
o que
1 sem permitir a estabilização de interesses comuns ~}' impede a organização com base na solidariedade de interesses."º~
Assim, a associação política só é possível entre esta gente se
instaurada por uma força exterior ou com base na obediência
gerada pelos sentimentos, e não pela racionalidade: 1 5 ~
lad
·
º'. es te 1.2,d'_ivi'd u~ 1·ismo incapaz
de fazer com que cada um se . ..r-·
desvincule
ât "
Si )J::i rltQ.~•.H ' c ~.Q.Ll~ - n~c1-...
.
__,."
- ~. =~
~te.__.a ttll:)leHte--se-FeStnRge .,'..
..,. busca de suprem · d '
d
.
acia 1ante os outros ..fÃt leva ao cultivo ·\
1
de vutudes inativas
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- pots~ açao sobre as coisas sobre o
universo material i
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ob1·eto
exterior
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st ranha ad''--i-n_divíduo" - 12 e a canse-,
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e
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., . neta a mo if1car a face do'·rnundg.
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A renuncia em transfor
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Y:,,, ventura O "
mar
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face
do
mundo
nos
remete
a
1emento orquest d " d
,~ b
'
e
\ a ordado po S,, .
ra or a colonização do Bras1·1
\.P .
r erg10 Buarqu
A aventura não . ·r·
e no segundo capítulo do seu livro.
s1gn1 ica p
.
\
ropnamente
a ausência de ação,
·!\
,,
. B
0
-
·
N
J-
<
30
__
"f- •
ºA.
n1as tan1bém não envo lve o esfor ço conti nuad o e plane jado,
como a ética do traba lho. Ao avent ureir o intere ssa apen as o
objet o final de seus esfor ços, dispe nsand o os proce ssos intermedi ários para alcan çá-lo . No dizer de Sérgi o Buar que "seu
13
ideal ~'11·iq_ colhe r o fruto sem plant ar a árvor e".
As li.ç~~s de Sin1n1el e1n seu texto "A Aven tura" pode m ser >
escla reced oras, espec ialn1 ente quan do afirm at#qu S> enqu anto ,,
o traba lhado r estab elece uma relaçã o orgân ica com o mund o,o v·
aven turei ro mant ém un1a relaçâ'o inorg ânica . Ao contr ário da
ativid ade consc iente de explo ração das força s e mate riais do
n1undo para a cuhn inaçã o de propó sitos huma nos previ amen te
fixad os, na cond uta aven turei ra a ação e a passi vidad e - o
9s e o que nos é dado - enco ntram -se
que nós conqE lsra1n
clA.../.,,. tJ.. - ~
. , á. conq uista portu guesa é feita com certo
entre laçad as. 14
aban dono , ao sabo r das circu nstân cias, quan do o objet ivo
n1aior era a rique za fácil, alcan çada sem méto do ou plane jament o e com o maio r nún1 ero de atalh os possí vel.
Esta carac teríst ica aven turei ra - na qual ,iuj),a1~.a~·~ 1,m ~ ·
ativid ade e passi vidad e se entre laçam - é respo nsáve l pela
extra ordin ária plast icida de do portu guês, fazen do com que os
prim eiros colon os se fizes sem instru ment os passi vos, sobre tudo se aclim atand o facilm ente, aceit ando o que lhes suger ia
15
o ambi ente, sem cuida r de impo r norm as fixas e indel éveis .
Este domi nar ajust ando -se às cond ições da nova terra acaba
por deixa r suas marc as na histó ria da socie dade brasi leira, e
isto fica repre senta do, talve z de form a mais inten sa, na constituiç ão das cidad es, as quais , segu ndo a bela expre ssão Gt'é ~ S
a~ , foram como que seme adas , e não cons truíd as por
s, como
ntos e critérios rígido
ladri lhado res com seus plane1·ame
.
'º,,,,.,
as cidad es da Amér ica hispâ nica~ Se fosse dito que as cidad es '
1
const ruída s pelos portu gues es visav am orden ar o mund o a
parti r de um mode lo suge rido pela natur eza, este mode lo
seria aque le que se mani festa na pergu nta de Antô nio Vieira: ' ') ·
16
"Não fez Deus o Céu em xadre z de estrel as?" Na reali dade , (Z: f.
"[. .. ] a cidad e que os portu gues es cons truíra m na · Amé rica
não é prod uto ment al, não cheg a a contr adize r o quad ro da
17
natur eza, e sua silhu eta confu nde-s e com a linha da paisa gem" .
Porta nto, as prime iras cidad es brasil eiras não corre spon dem
exata ment e àque la pode rosa mani festa ção do espír ito e da
vonta de em opos ição à natur eza que norm alme nte carac teriza
a const rução de cidad es e, ao lado disso , não se const ituem
~L 1,._A_ v-5,
» •fr .,
1= ,
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PJ,,..-. ~. ~~.., L A-J,,. , t-
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. d d minação. Ao contrário, o centro gravitacional
e
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,,
em cen t1 o e O
, configu
. e da sociedade esta no mun o rura
,
1 d
da economia
ea
rural
or
en
esp
o
entre
"desequilíbrio
do
f
.
,. .
ra ndo um pro un
do rura fenomeno
ao
corresponde
que
s
a"1
bai
.
,,
.
~
1111sen a ur 1
no
povoaçao
_
. concentrada
f
l 1.s1n 0 . Este fenômeno, associado à
litoral , destaca O acentuado caráter de eitonzaçao, r:1uito mais
do que de colonização, e nos remete novamente a natureza
aventureira desta, da busca de ganho fácil, quase como dádiva
das circunstâncias. Un1a colonização que espera muito mais
receber de pronto as riquezas do que transformar o mundo
em prol de seus propósitos. Aliás, não à toa, Sérgio Buarque
destaca , a partir da segunda edição de Raízes, que a agricultura colonial da cana acaba por ser bastante próxima da mineração, pois os processos utilizados eram simplificados ao
máximo para que a riqueza custasse o mínimo de trabalho.19
Em suma , se pensarmos o empreendimento colonial - com
sua ânsia de ganho fácil e lucros por meio do comércio _
como capitalista, devemos nos referir àquele capitalismo que
Weber considera como aventureiro, no qual seu condutor até
mesmo "se ri de todas as limitações éticas" - 2º limitações
que caracterizam, aliás, o espírito do capitalismo racional
oderno , ao menos em suas origens .
. A supr:macia do ambiente rural que resu~ta desse empreen-
dimento e, por_ ~ssim. dizer, a geradora d 6"'personagem que
sintetiza o tra_d1c1onalismo próprio da sociedade brasileira, o
home1!1 cordial. Os do_m!nios rurais alcançam, no período
d d
1 t·
colonial , uma extraord1naria autonom1·a
a
- re,, a 1va es
.
d e alimentos,
d
. e
móveis e
pro uçao
roupas ate aos cuidados
espirituais_ e ti· h
d
n am como centr 0 d
e po er o senhor rural,
f ,, .
em torno do qual gi a
.
,,
1
r va a amtl1a que
, pe o seu cara ter d1latado, lembrava as da A t' .. 'd
n 1gu1 ade Cl -- ·
" . assica, pois incorporava
os escravos e agregados C
filhos aterrados" seg d. om pai soturno, mulher submissa
' t
.
un o a expr ~ d
,
,, . .
essa o e Ca p1strano de Abreúc,,
.
e5t a familia "se ach
,
a estreitamente v·
v·ct~
µ,..
escrade
idéia
à
inculada
f'
_1 ao, e em que mesm
O os tlhos
/
livre d
sao apenas os membros
s esse organismo inte·
iramente s b d'
Nada 1· ·
. u or inado ao patriarca". 21
d , _imita a autoridade d
f
nenh
pai'
o
1
ru
om1n10
uma orça externa ao
ra o detém , f azendo co
.
se1a absorv
m que o núcleo familiar
ente da vida dos h
absolut
·
omens
a Prepo d "
' CUJa educação ganha
n erancia dos 1
homem
aços de s
cordial
angue. Assim nasce o
.
' que, tornandod
1ncap
se
az e compreender
32
' '
O\} I ,,1, • ,.,,,L.
regra s abstr ~as e seguf f um oroen amen to impe ssoal , segue os
itnpu lsos e s timen tos que, bond osos ou não, nasce m do
cora ção_ "pr ceden1, assitn, da esfera do íntimo, do familiar)
;-/
l/'•' - •·
' ,l,,J,~
~
~
'
I
1; A(_ 0\ o{-,
?-,-,
l9t,,. ,
22
.
do priva do".
Sérgio Buar que faz quest ão de cham ar a atenç ão para o
fato de que o Estad o e seu funci onam ento atrav és da burocracia não resulta 9.ª depu ração suce~~§t a...dalamília e d~ suas -~ ~ .
Multo ao •2.:.:
relações marcadas t ela se1:timentq t((pe~~on~li~
contr ário, some nte âasu bstitu ição dos laços de afeto e de
sangu e por princ ípios gerai s e abstr atos pode surgi r o cidad ão
adeq uado a um apara to estata l com funci onam ento buroc rático e uma ordem legal in1pessoal. Nesse sentido, a cordi alidad e
é dificiln1ente comp atíve l com esta ordem e com a distin ção
., ~
entre -'ª~ e~furas públi ca e priva da, corr_:o verem os com mais
_/
vaga ~_(es te capít ulo, ~9 ~ ~~rce iro item. ·
Esse é, em linha s gerai s, o racio cínio segui do por Sérgi o
Buar que na const rução do que se pode consi derar um dos
eixos de argum entaç ão de Raízes do Brasil. Cabe lemb rar aqui
a obser vação de Avelino Filho: "A cordi alida de é o resul tado
direto da mate rializ ação da 'cultu ra da perso nalid ade' na
colôn ia [.. .]. Hera n ça ibérica, rural ismo e cordi alida de são
23
coisas que anda m junta s." Nesse senti do, pode -se consi derar todos esses aspec tos como const ituint es de um mesm o
feixe de quest ões. Dito de outra forma: desde a apres entaç ão
do legad o ibéric o, assoc iado à cultu ra da perso nalid ade,
até a const rução da idéia de cordi alida de, passa ndo pelo
rural ismo e pela avent ura como elem ento orqu estra dor da
colon izaçã o, Sérgi o Buar que está descr even do o tradi cioE1JJ~ Cl-'
nalis mo pecu liar à socie dade brasi leira.
Para escla recer outro aspec to desse nosso tradic ional ismo
e levar adian te a suges tão segun do a qual Raíze s do Brasi l
consi ste num diálo go com a obra de Weber, vale a pena
explo rar outra trilha indic ada por Pinhe iro Mach ado. Ante s
de tudo, este autor recor da que com as guerr as relig iosas
o mund o catól ico europ eu ficara reduz ido e que, então , a
Cont ra-ref orma empr eend e, como uma espéc ie de comp ensação , a conq uista espir itual da América, do Extre mo Orien te
e da África. Com isto, o Brasil torna-se um cenár io privil egiad o
dessa conqu ista, a qual, pode -se dizer, consi ste quase que
em um exper imen to de mater ializa ção do clima da Contr areforma no Novo Mundo, da mesma maneira que s: _ ,que _a
!~
t~r111,
~~
•
;
,, das crenças puritanas. 24
.
Inglaterra o e
leitura de Raízes do Brasil como
colonização da No~a d
. Mac h a d o e1ege
egu1n .o sua b ·anas Pinheiro
'd
Nesse senti do, s tegonas
'
we en
rime iro ca pítulo , onde Sé rgio
d
um espelho as ca
"
•
, ·da passage n1 o Ph 'a de Jesus - " que 1mpos
seu
uma rap1
e · à Compan 1
e ·T o de Trento" - 25
Buarque se reiete
,
fri to ao inundo católico , desde o onct t
.
transportada
ibérica
cultura
desta
t'
.
esp
,, 'd 1 ~
como chave exp 1ica iva
do comentador "nessa rap1 a a usao ao
'
Segundo as pa1avr as
. de Trento está um dos pontos chave para o desen,
.
·
eonet 110
·t
volvin1ento da problemática de Raízes do Brasi , ~01s que é
aí que seu autor identifica uma ética religiosa diretamente
26
.,. '
pro t es tan te ' " .
oposta a' ' ettca
Seguindo a mesma linha de interpretação torna-se importante dizer que Sérgio Buarque faz referência ao Concílio de
Trento quando comenta o reaparecimento da querela do pelagianismo, na qual a Companhia de Jesus teria tido um papel
fundamental contra os princípios predestinacionistas, reação
que, para o autor de Raízes, é uma espécie de prolongamento,
na teologia, da cultura da personalidade que predomina entre
os povos ibéricos e que gera uma desconfiança em relação às
teorias negadoras do livre-arbítrio e do mérito pessoal. 27
Como a doutrina da predestinação é justamente a base do
{üiifu~to"
' puritanismo e, na argumentação weberiana , hlot s_
~apitalismo, aquela reação contra os princípios
,_>;: d.Q espí~ito
· fred~s~1~ac1o·n·1stas concertada pela Companhia de Jesus, uma
1 st1
n_ tuiçao nitidamente ibérica", é significativa para levarmos
adiante .ª forma de leitura sugerida por Pinheiro Machado. Sem
a d~utnna da predestinação - ou mesmo alguma concepção
~ h
equivalente - 0 trabalh
1 :? nao e ega a ganhar a conotação
religiosa do ter
maneira nunca mo ta emao beruf e do inglês calling; dessa
d
se ornou uma tarefa
,
que pu esse, por seus
. ~
resultados vir a 1, d'
n tear a e 1e1çao d . d. "d
,
º. in 1v1 uo por Deus,
ficando ausente do rol d . d
lica. Nessa linha é l"1c ·t edvirtu es cultivadas pela ética cató1 o estacar d ·
,, . ois pontos presentes no
argumento de Raízes- 0 a
mor ao oc10 a t
.
,
n es que ao negócio e
ª renuncia à modificaça~0 d
o mundo.
.
.
O primeiro, "o ócio que im o
que o negócio" é como
mais
~a
p
confirmaremos em capítul
' '
os seguintes
no t b 1
' uma expressão recorrente
ra ª ho de Sérgio B
uarque E n
como c
.' ' esse momento aparece
omponente da ·
'
imagem invertid d 0
protestante ,l pois
ª
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-
'
".-• 34
',l._
,
1
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.,,L\;1í- ~/ ,,-r,---/\A:
/ l . , ::-:', .
1~
J
.,
~
'?L- - · ~
e_.,_
ct_
".,~ ~J...,._, L
"li
( ~
)
[. ..) enqu anto os p ovos protestantes, herde iros nesse ponto do
mund o medieval, que não des preza va o trabalho físico, eleva m
e exalta m o esforç o manu al, as nações ibéricas coloc am-se ainda
largamente no ponto de vista da antigü idade clássica. O que entre
elas predo mina é a conce pção antiga de qu e o ócio imp orta mais
que o negócio e de que a ativid ade produ tora é, em si, me nos
28
vali osa que a conte mpla ção e o amor. (Ê nfase s acres ce ntadas)
cor
1
c,.w,( ~"~-,., fj 1
o cons eqüe nte culti vo de virtu des
O amo r ao ócio ,
inati vas, nos leva ao s gund o pont o, em qu e mais uma vez
pode mos enco ntrar un1 cont rafac e do argu men to webe riano ,
pois por essas virtu des o indivíduo "se refl ete sobr e si mesm o
29
e renu ncia a modi ficar a fa ce do mundo". Vale lemb rar aqui a
contrapos ição estab elecida por Weber, em Religion of China,
entre o racio nalismo que resulta do prote stant ismo , um racionalismo de dom inaç ão do mu ndo, e o racionalismo de ajustame nto ao mun do, com o qual Web er carac teriz ou a form a
de vi da confucian a.30
Nest e pont o, as liçõe s de Harvey Gold man em seu livro
sobr e Max Web er e Tho!llas Man n pode m ser úteis . Com o
deix a claro este auto r ao fazer uma apro xima ção entre a
conc epçã o de voca ção em Web er e o impe rativ o categ órico
kanti ano , o racio nalis mo de dom inaçã o do mun do exig e que
o self natu ral pass e por uma revol ução. Mas enqu anto para
Kant essa revo luçã o seria o resul tado de um princ ípio criad o
p ela razão p ara direc iona r toda decis ão mora l e ação do indivídu o31 - um imperativ o categ órico , porta nto - , para Web er
32
o contr ole do self natu ral só pode ria estar calca do na religião.
E o prote stant ismo foi a únic a das relig iões mun diais que
prov ocou essa revo luçã o inter ior, exat ame nte por estab elece r uma tensã o entre o indiv íduo e o mun do que não pode ria
ser solu cion ada pela ausê ncia de ação ou pela ação fora do
mun do, mas some nte abra ndad a pelo trabalho em uma voca ção
p ara a glóri a de Deus .33 Esta ação no mun do, mas em tensã o
com ele, exig e a conf orma ção do selfde acor do com a vont ade
dess e Deus supr amu ndan o - e não por meio de valor es secu lares -, conf orma ção esta que, desd e a conv ersão - que
cons iste num "rena scim ento ", num a revo luçã o inter ior - ,
orde na e racio naliz a a vida, perm itind o o surg imen to do que,
para Web er, é a pers onal idad e par excellence. A parti r do
cont role e orde nam ento do self o indiv íduo está apto a agir
no mun do , ou melh or, a conq uistá -lo.
3S
. 010 0 de acom odaçã o ao
1
,, , , ·1 l b
,
is
a
. de racion
f c1·onis1no. E utl em rar a
t1po
ndo
segu
o
,
Ja
· u ao co n u
S hluch ter ao apont ar que no texto
assoCJO
\X'eber
,
mundo
al de u origem a Religion of
esquis a de Wolfgang c 0
P
qu
• · " de 1915
de proxi midad e entre 0
..
"Confuc1an 1s1n ,
~
Weber ident1f1ca u1na gran
.
alemã,
açao)
(form
ng
Bildu
de
~
'
_. d
.
China - ,
.
,,
"
içao
a
t1
a
e
es írito confuc1ano
to da
esp1n
de
,
texto
do
io
sun1ár
-l
r
p
1
,,
no
o,
chega ndo a non1ea
e pensa r o
,, 34 Nesse camin ho é passiv
•
.
'
f
.
a
Bíldung con ucian
como
· ado a esse espíri to carac teriza ndo-o
. a 11.smo 11g
_
.
racion
resultante de reformas gradu ais no seif natura l. Aqui a açao
no mund o não se dá a partir de princí pios de um Deus que
está em tensão con1 o mesm o, mas a interi oridad e, ao invés
de transforn1á-lo a sua image m e se1ne lhança , molda -se por
, meio do interc âmbio com a exteri oridad aj a amiza de, por
ndo
exemplo , ao contrário do que ocorre no calvin ismo, ganha
~ 35
um lugar proem inente nesse proce sso d e f ormaç ao.
A esse último tipo de racion alismo , consid erado por Webe r
con10 o mais próxim o de uma antíte se daque le que surge com
o protes tantism o, é possív el aprox imar a renún cia do portu36
guês em modif icar a face do mund o . Neste caso, no entan to,
esta renún cia e sua ausên cia de tensão com o mund o não
está associ ada a nenhu m tipo de comp ortam ento rituali zado,
como no caso do confuciano, e, nesse sentid o, nosso tradicionalismo corres ponde ria a uma acomo dação ao mund o até mais
ra dical , no sentid o de que, se nos dois casos a condu ta é
determ inada a partir "de fora", enqua nto o confu ciano ten1
sua condu ta determ inada a partir de um conju nto de regras
minim ament e orden ado, o portu guês rotini zaria suas atividades apena s pela adequ ação às .circun stânci as exteri ores.
Como chego u a sugerir Jessé Souza, ao falar do hotne m cordial
no texto intitulado "O Malan dro e O Protes tante"
.
'
.
. e 1e e h ega d o muito
tivesse Weber estuda do o Brasil [•·. ] te na
prolv~v elm~hnte, ª uma conclus ão semelh ante a de Sérgio B'uarque,
,, .
e e eito O ornem cordial '
como o contrar io perfeit o do protesE"
tante nó d'
~
que como eh
r 1co.
ama atença o Sérgio Buarqu e,
d''
falta ao homem
,, .
.
cor 1a 1 até mes mo O d a d o ntual1s
t1co das boas
.
maneir as que
caracte riza O e f .
on uciano e o orienta l em geral e
f
que implica alg
.
uma orma a· d que superf1.c1al
e ditada pelo
exterio r de reg 1 _ d ' m ª
u açao a condut a.37
'
No que diz respeit o ao trabalh o, é necess ário dizer que ele
não se encontra ausente desse contexto, mas não adquire o significado que recebe nurna vida protest ante - sua central idade
na sisten1atização da vida - e nen1 mesmo o sentido que tem
para um confuc iano, o qual - dentro da sua raciona lidade
de ajustan 1ento ao mundo - subme te-se ao ordena mento
burocr ático do Estado , até porque , para ele, "a ordem cósmic a
do mundo era consid erad a fix a e inviolá vel e a ordem da
38
socied ade era apen as un1 caso especia l disso" . Antes, nosso
tradicionalisn10 pern1an ece associa do à aventu ra e, no trabalh o,
[. .. ] não buscamo s senão a própria satisfaçã o, ele tem o seu fim em
nós mesmos e não n a obra, um finis operant is e não um finis
operis. As atividad es profissi onais são, aqu i, -111-eros aci~ent es
na \·ida dos indivídu os, ao oposto do que suce de -entre-o utros
povos, onde as próprias palavras que designa m semelha ntes
39
ativida des adquire m um acento quase religios o.
Ressalt e-se que o trabalh o com o "fin1 em nós mesmo s"
não implica, neste caso, uma idéia de ordena ção do self- é
bom lembra r que estamo s lidand o com um individ ualism o
quase anárqu ico - , mas u ma satisfaç ão de impuls os e necessidade s imedia tas. O trabalh o não cumpre , por isso, aquele
papel de articul ador da sistem atizaçã o da vida que tem
no puritan ismo e, por descol ado da rotina, encont ra, no seu
íntimo, o seu oposto - a aventu ra. Lembr ando mais uma vez
do texto de Simme l:
Contrap osto à imbrica ção dos anéis da vida, ao sentime nto de
que , apesar de todas essas contraco rrentes, essas viradas, esses
embaraç os, se tece, finalmen te, uma linha contínu a, está aquilo
que chamam os aventur a: uma parte da nossa existênc ia à qual
- pela fre nte e por trás - se ligam imediat amente outras, mas
que , ao mesmo tempo, em seu sentido profund o, corre por fora de
40
qualque r continu idade desta vida. (Ênfase s acresce ntadas)
Se, é certo, o trabalh o não chega a equiva ler ao seu oposto
a ponto de adquir ir o caráter épico da aventu ra, ele, como
esta, não represe nta nesse contex to uma experiê ncia que signifique um elo que liga o antes e o depois , ligação esta que,
através da sistema tização da vida, permiti ria o ordena n1ento do
self e a formaç ão da person alidade , como no caso protest ante.
37
Recapitulando, 0 tradicio nalism o brasile iro está associa do
à aventura e à ausênc ia de ordena mento do self, este permanecend o diretam ente ligado aos impuls os do coraçã o, sem
intermediação de princíp ios gerais. De forma esquem ática
essa situação corresp onde, de um lado, à ausênc ia de trabaih~
sistemático e ao amor ao ócio antes que ao negóc io e d
outro, à dificul dade da formaç ão de uma esfera públic a d e
e
ordena mento social por regras abstrat as.
~
EXPLICAÇÃO GENÉ TICA
A esta altura temos elemen tos suficie ntes para explor ar e
sublinh ar a maneir a pela qual Sérgio Buarq ue pensa a relação
entre o Novo Mundo e os legado s transat lântico s a ele transportado s. Com esse objetiv o, preten do classif icar o tipo de
explica ção que aparec e em Raízes do Brasil recorr endo a uma
tern1inologia aprese ntada por Richar d Morse1 em A Volta de
McLuhanaíma. A classificação visa, dentre outras coisas, estabelecer uma chave que permit a, poster iorme nte, a compa ração de Raízes com os livros do autor sobre a conqu ista
do Oeste brasile iro.
Na Introdu ção ao seu livro, Morse retoma o debate surgido
na década de 1930 sobre a "histór ia comum das Améri cas" e
discute os tipos possíve is de explic ação do Contin ente. O
projeto de uma história contin ental foi impor tante para as
interpr etações constru ídas por Sérgio Buarq ue em seus livros
acerca da conqui sta do Oeste, e, por isso, recons tituire mos o
debate em seus traços gerais no Capítu lo III. Por enquan to,
apenas adianta rei os diferen tes enfoqu es histori ográfi cos
perceb idos por Morse, para avaliar, então, qual perspe ctiva é
adotad a em Raízes do Brasil.
.
d
O historiador norte-ame ·
s enfoqu es
emarca dois
ncano
41
,, . grande
no estudo histórico do Cont·
•
ona
o genet1 co e o situaci
tnente:
1.
.
O . . o interpre
M d
ta O N
pnme1r
. . içõ ovo un o fundam entalm ente a partir
d as 1'd,,.
e1as e 1nst1tu
q uase
es transp ortada s do Velho , tratand o-o
como uma folha e b
m ranco a ser preenc hida com 0
legado transatla... n t·ico Nessa
li h ,
·. _ao _ en ta, e comum a compa ração e, geralmente , a opos1ç
n re a anglo- Améri ca e a iberoAmérica. o exem 1
p o recente mais conhe cido - e tambér n
\38\
\~. J
polêmico - desse tipo de explicação pertence ao próprio
Morse. Publicado no Brasil em 1988, O Espelho de Próspero
analisa a América espanhola a partir das opções culturais e
intelectuais ibéricas do fim da Idade Média. A partir daí, o
livro é marcado pela oposição entre as duas Américas, como
já fica explícito na justificação do seu título:
sabido que um espelho dá uma imagem invertida. Embora as
Américas do Norte e do Sul se alimentem de fontes da civilização
ocidental que são familiares a ambas, seus legados específicos
correspondem a um anverso e um reverso. Assim, a metáfora
do espelho parece-me apropriada ao caso. 42
É
A segunda perspectiva, a situacional, procura alguma
dinâmica própria ao novo Continente que possa significar a
impressão de uma marca particular nos valores do Velho
Mundo para ele transportados. A dinâmica pode variar, mas
em todo caso podemos chamá-la de americanização - no
sentido continental. Mais uma vez, o exemplo conhecido mais
recente vem do punho de Morse: A Volta de McLuhanaíma especialmente os seus quatro primeiros artigos. O primeiro
deles, "A Linguagem na América", fornece-nos um bom exemplo
de enfoque situacional, pois procura analisar como as línguas
européias foram transformadas no Novo Continente.
Quase desnecessário dizer que, a rigor, dificilmente uma
interpretação pode ser totalmente restrita a uma ou outra
perspectiva. Como ficará claro no decorrer do trabalho, uma
explicação situacional, por exemplo, não elimina a análise
da tradição do Velho Mundo - vinculada mais especialmente
ao outro enfoque. Desse modo, quando me refiro a esse
tipo de classificação estou indicando a ênfase de uma chave
interpretativa.
Voltando aos comentários acerca de Raízes do Brasil, pode-se
dizer que no seu primeiro eixo predomina uma explicação com
perspectiva genética, pois sua construção do nosso tradicionalismo está fundada na reconstituição do legado ibérico.
Para completar, cabe ressaltar que o ruralismo - por assim
dizer, o elo entre iberismo e cordialidade e, por isso mesmo,
um dos conceitos centrais do livro - é, para Sérgio Buarque,
"antes um fenômeno típico do esforço colonizador dos portugueses do que uma imposição fatal do meio durante longo
39
da pt aç ão " _43 Es ta é, in cl us
iv e, a pr in ci pa l di ve rpr oc es
d
so
e•reªstada pe
.
lo au to r em re la ça~ o a O 1·1v · v·
gênc1a 1n an w
eira 1anna, cu)·a
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ia da "f or ça ce nt ríf ug a" lh
.
"
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f'
e pa re ci a ar tl 1c·:o s~ e ex
tra va an te ", co ns tit ui nd o-se , co
nf or m e re cl am a Se rg 10
g
em no ta
co ns ta nt e ap en as na pri1ne
ira e d'1ç~ao d e Rai. .ze s, em "
um do s
as pe ct os de um a te se te nd
en te a m os tra r qu e as fo rm
as so ci ai s
institu íd as e n1 no ss o m ei o,
de po is d e al gu m te m po
de co lo ni za çã o, resultan1 ex cl us iv am
en te d a aç ão tir ân ic a do
am bi en te
an1ericano ag in do so br e
a ge nt e de ul tra m ar " .44
Se m en tra r
em de ta lh es em to rn o da
di ve rg ê nc ia en tr e os au to
re ~ pa ra
m eu ar gun1 e nt o in te re ss a
ap en as di ze r qu e, ne ss e
m om en to
Sé rg io Bu ar qu e de fe nd e
um a ex pl ic aç ão de cu nh
o ge né tic ~
en1 de tri m en to da te se de
O liv ei ra V ia nn a, qu e, se
gu in do a
te rm in ol og ia de M or se , se
ap ro xi m a m ai s da si tu ac
io na l.
--=
,,
AME R IC A N IZ A Ç Ã O
Ce rta m en te , Ra íz es do Br
as il nã o se lim ita a o de se
nv ol vi m en ta do ar guVm en to ge né
tic o. Sé rg io Bu ar qu e an a 1·
is a ta mb"em
as tra ns fo rm aç õe s qu e se
op er ava1n na so ci ed ad e br
as ile ira o qu e co rr es po nd e ao se
gu nd o ei xo de ar gu m e
nt aç ão do
liv ro - e de te ct a a ag on ia
do ru ra lis m o. C on ce nt ra
da s pr in ci pa lm en te no úl tim o ca pí
tu lo , m as ta m bé m no te
rc ei ro , su as
ob se rv aç õe s co nd uz em o
le ito r ao di le m a do liv ro
e, po r as si m
di ze r, da co rd ia lid ad e.
D es de m ea do s do sé cu lo
XIX vi nh am su rg in do "t
ra ço s de
civilização material mais ca
ra ct er ist ic am en te ur ba no s"
e el em en to s
qu e ap on ta va m pa ra a m od
er ni za çã o do pa ís , co m o
a fu nd aç ão
do Ba nc o do Brasil (1 85 1)
e a pr im ei ra es tr ad a de fe
rr o (1 85 4) , 46
m as é o an o de 1888 qu e Sé
rg io B ua rq ue el eg e co m o
um m ar co
da s tra ns fo rm aç õe s qu e re
co nf ig ur am a so ci ed ad e
br as ile ira .
A A bo liç ão e a pr oi bi çã o
do trá fic o de es cr av os em
18 50 sã o
~u ro s go lp es e m um a da
s ba se s do do m ín io ru ra
l e si gn ific am , po r isso, 0 de sm or on
ar
da
tra di çã o co lo ni al ib ér ic a,
m in am su a fo nt e de
pois
t
su s en ta ça o, o ru ra lis m o.
Pa ra o au to r,
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se a da ta da Ab ol içã o ma
rc a no Br as il o fim do
pr ed om in
agrário, o qu ad ro político ins
,, t·o
tituído no an o se gu in te qu
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re
sp
ond_er
à co nv en iên cia de um a
fo rm a ad eq ua da pa ra a no
va co m po siç o
1
social. Existe um elo secreto estab e lece ndo com esses dois
acontecim entos e numeroso s outros uma revolução lenta, mas
segura e concertada, a única que, rigorosaniente, temos experimen tado em toda a nossa vida nacional.17 (Ênfases acrescenta das)
Essas transform ações que indicam a mesma direção constituem a "nossa revolução" - título do último capítulo de Raízes
do Brasil- , uma revoluçã o sile nciosa qu e escapa ao controle
dos atores e que promove a democra tização, apontan do para
un1 "maior nivelam ento da sociedad e", di ss ipando "os obstáculos à especial ização" e levando à "q ueda do prestígio do
48
antigo sisten1a rural ". A urbaniza ção que segue a passos lentos
mas seguros desde a segunda metade do século XIX dissolve
os valores e hábitos rurais e anuncia um novo Brasil que
Sérgio Buarque chama de americano:
Ainda testemunh amos presentem ente, e por certo continuare mos
a testemunh ar durante largo tempo, as ressonânc ias últimas do
lento cataclisma , cujo sentido parece ser o do aniquilam ento
das raízes ibéricas de nossa cultura para a inaugura ção de um
estilo novo, que crismamo s talvez ilusoriamente de american o,
p orque os seus traços se acentuam com maior rapidez em nosso
hemisfério. 49 (Ênfases acrescenta das)
O que cabe ressaltar neste moment o é o fato de este
processo ocorrer de forma independ ente do legado ibérico,
discutido nos primeiro s capítulos do livro - aliás não apenas
de forma indepen dente, mas também, e sobretud o, conflituosa - , e é por isto que se pode falar da american ização
como um segundo eixo de argumen tação de Sérgio Buarque .
Contudo , se essa revolução lenta desagrega a herança ibérica,
não é capaz, por si só, de substituí -la por uma nova mentalidade, pois para Sérgio Buarque o americanismo caracteriza-se
pela falta de poder de criação de novos padrões de sociabilidade. Assim, se o american ismo rompia com a cordialid ade,
não a substituí a, e isto
[... ] deve atribuir-se [... ] sobretudo às insuficiên cias do 'a mericanismo ', que se resume até agora, em grande parte, numa
sorte de exacerbam ento de manifestaç ões estranhas, de decisões
impostas de fora, exteriores à terra. O americano ainda é interiormente inexistent e. 50
41
Dess a man eira, o tipo idea l da civil idad e - r~lativo a urna
configu ração da pers onal idad e mais adeq uada à vida na cidad
e
regid a por regr as impe ssoa is - , apre sent ado
Sérgio
Bua rque em um capítulo anterior de forma cont rapo sta a cordi
alidade, não passa, con10 talvez se pude sse esperar, a se insta
urar
no Brasil por meio da revoluçã o en1 curso. Talvez, ness e senti
do,
mais exat o do que dize r que em Raízes do Brasil exis te
uma
tens ão entr e cord ialid ade e civil idad e sej a afirm ar que
aparece un1 dese quilí brio que envo lve a deca dênc ia daqu ela
ea
necessidade desta .
Convén1 expl orar um pouc o mais deti dam ente o porq uê
do surg imen to dess a nece ssida de de civil idad e no cont exto
da
urba niza ção. A civil idad e é asso ciad a à "mím ica delib erad
a"
e , com o um disfa rce, perm ite "a cada um pres erva r intac
tas
sua sens ibili dade e suas emo ções ", assim , "arm ado dess
a
másc ara, o indiv íduo cons egue man ter sua supr ema cia
ante
o socia l. E, efeti vam ente , a poli dez impl ica uma pres
ença
cont ínua e sobe rana do indiv íduo " .51
Aqu i não se fala mais daqu ele indi vidu alism o quas e anárquic o que asso ciam os à figur a do ibéri co - e sua cultu
ra da
pers onal idad e - e mesm o ao hom em cord ial. Esta mos diant
e
de uma outr a espé cie de indiv idua lism o. Mais uma vez,
as
refle xões de Simmel, desta vez no texto sobr e a mod a, pare
cem
úteis para a cara cteri zaçã o dest e pont o.
Den tre as difer ente s form as de se relac iona r com a mod
a,
certa s pess oas serv em-s e dela com o de uma másc ara:
Pº:
A cega aceit ação de todas as norm as da colet ivida de em
todo
o aspec to exter ior é para elas preci same nte o meio consc
iente
e desej ado para reser var sua sensi bilid ade e gosto s pesso
ais.
Dese jam a tal ponto guard á-los para si mesm os que não quere
m
que apare çam nem se mani feste m de form a acess ível a
todos.
Assim, um delic ado pudo r, uma delic ada timid ez, é o que
leva
algun s espír itos, decid idos a evita r que a pecu liarid ade
de sua
aparê ncia exter na revel e talve z algum a pecu liarid ade
de sua
natur eza mais íntim a, a refug iar-s e no nive lame nto dissim
ulador da moda . 52
Em suma , a adeq uaçã o a norm as e cond utas exter!o.'."es ;~
ness e senti do, a quas e abso luta soci aliza ção e aboh çao
indiv idua lidad e está a serv iço, na reali dade - e muit
o ao
42
contrário do que parece à primeira vista-, da preservação do
particular, da singularidade individual. A máscara cumpre o
papel , portanto, de proteção do íntimo e da liberdade pessoal.
Podemos associar a civilidade de que fala Sérgio Buarque a
este meca nismo, um eleme nto crucial, ali ás, para o individualismo moderno.
Nesse ponto é importante le mbrar as observações de Luiz
Costa Lima e de George Avelino que, iluminando a noção de
civilidade em Sérgio Buarque a partir das obras de autores
como Rich ard Sennett e Norbert Elias, chama m a atenção para
sua importância na constituição de um espaço público. 53 Desde
os trabalhos de Elias é possível dizer que a polidez, a regulação
da conduta, o autocontrole, relacionados ao mundo moderno
burguês envolveu um longo e até árduo "processo civilizador"
que já vinha se desenvolvendo desde a sociedade de Corte, que
no caso francês - ao contrário do que ocorreu na Alemanha não foi avessa à participação de círculos burgueses emergentes.
Desse modo, com a burguesia e a classe média afeita aos modos
corteses da aristocracia, já no século XVIII não havia mais
nenhuma grande diferença de costumes entre os principais
grupos burgueses e a Corte, e, posteriormente, com a instauração da sociedade burguesa, antes que uma ruptura com esses
costu mes, houve tentativas de melhorá-los e adaptá-los. 54 Já
Sennett, conforme expõe Avelino, detecta uma deterioração
do mundo público na cidade do século XIX, vinculada à substitu ição da noção de indivídu o que exalta a singularidade no
lugar daquela que envolve reserva. Retornando ao texto "La
Moda" de que falava há pouco, pode-se dizer que esta substituição apontada por Sennett envolve a desconfiança em relação
à máscara, que, de uma ferramenta para a manutenção da
singularidade, passa a ser vista como massificadora e vinculada à falsidade. 55 Assim, a procura dos interesses comuns
e o cultivo de uma arena pública são substituídos pela busca
da identidade aliada à manifestação exterior - e a todo
custo - do singular.
Tanto em Elias , com a construção da civilidade na Corte,
como em Sennett, que aponta para a sua deterioração, importa
ressaltar, conforme a consideração de Avelino, que ambos
l.. .] colocam como condição principal para o surgimento da
civilidade a quebra do localismo e da intimidade . A contenção
43
. le a à cri açã o de for ma s arti
.
ficiais de
dos unp
u 1sos· pes soa is v
;- cap aci taç ão d ·
• b'li d' de rec onh eci das por to d
os, e ª
soc ta t a
o tndivíd uo em lida, r com seu ext e rio r de f
··
.ºr~ a/ ma i s ~e·u·t r~ .d o pon to
de vista afetivo. Assim , forja -se
o md1v1du~ c1v il1z ado , cap az
de det erm ina r de for ma ind epe nde
nte seu s int e res ses e constituid or de um esp aço pu/ bl.1co .S6
É po ssí ve l tan1bém cla rea r ess
e po nto so bre a co ne xã o
en tre civi lid ad e e esp aç o pú b lic o
e a co ns eq üe nte dificulda de de co nst itu içã o de ste nu m
co nte xto de co rdi ali dade,
mo bil iza nd o algun1as liçõe s qu e Ce
lso La fer - em A Reconstrução dos Direitos Hu nia rw s - ex
trai de seu diá log o co m 0
pen san 1en to de Ha nn ah Ar end t, pa
ra qu em a dif ere nc iaç ão
en tre as esf era s do pri va do e do
pú bli co est á no ce rne dos
dir eit os hun1ano s no s qu ais se b ase
ia um a so cie da de de mo crática 1nodern a. Se gu nd o Lafer, ess
a dif ere nc iaç ão rep o usa
na plu ral ida de int rín sec a do s ser es
hu ma no s, a qu al po ssu i
um a característica on tol óg ica du pla
: a igu ald ad e e a diferença.
"Se os ho me ns nã o fos sem iguais,
nã o po de ria m en ten de r-se.
Po r ou tro lad o, se nã o fos sem dif ere
nte s nã o pre cis ari am nem
da palavra, ne m da açã o pa ra se faz
ere m e nte nder." 57 Arendt
insere a diferença na esfera do pri va
do e a igu ald ade na esfera
do público. Co mo ex pli ca o au tor bra
sil eir o ,
l.. .1 na esf era do púb lico , qu e diz
res pei to a o mu nd o que
com par tilh
am os com os Ou tro s e que , por tan
to, não é pro pri edad e pri vad a de ind iví duo s e/o u
do pod er est ata l, dev e pre valec er, par a se alc anç ar a dem ocr aci
a, o pri ncí pio d a igu ald ade .
Este não é dad o, poi s as pes soa s
não nas cem igu ais e não são
iguais nas suas vidas. A igu aldade
resulta da org anizaç ão hum ana.
Ela é um me io de igualiz ar as dif ere
nças atr avé s das ins titu içõ es .
É o cas o da pólis, que tor na os
hom e~s igu ais por me io da lei nomos. Por isso, per der o ace sso à
esf era do púb lic o significa
per der o ace sso à igu ald ade . Aq
uel e que se vê des titu ído da
cid ada nia, ao ver -se limitad o à es
fer a do pri vad o fica pri vado
de dir eito s, poi s est es só exi ste m
em fun ç ão da plu ra lida d e dos
hom ens , ou seja, da gar ant ia tác ita
d e qu e os me mb ros de um a
com uni dad e dão -se uns aos out ros
.sa
Vemos qu e na leitura de Ha nn ah Ar
en dt rea liz ad a po r Lafer
as diferenças nã o de ve m ser eli mi
na da s, ma s pre cis am ficar
restritas ao ãmbito privado, en qu an to
na esf era pú bli ca devem
ser igualizadas através das leis, institu
ições e, po r qu e nã o dizer,
44
da polid e z e da civili dade. Con10 natur alme nte as pesso as
não são iguais , para que sejarn tratad as como tal é neces sário
que se realiz e a distin ção entre as esfera s do públi co e do
priva do. Enqu anto nesta preva lecer á a natur eza e a difere nça,
naqu ela preva lecer á a const rução huma na e a igual dade.
Em Raíze s do Brasil, charn ando atenç ão para a força do
patria rcalis n10, Sérgi o Buar que nota a dificu ldade de difere nciaçã o entre as duas esfera s no Brasil. As relaçõ es afetiv as que
Hann ah Aren dt consi dera do do1nínio da natur eza se espra iam
p ara alén1 da intin1idade e da esfera priva da para se aposs arem
da públi ca. Resu ltava dessa circu nstân cia, escre ve Sérgi o
Buar que, '' [. .. ] um predo mínio quase exclu sivo, em todo o
n1ecanis1no socia l, dos sentit nento s própr ios à comu nidad e
don1é stica, natur alme nte partic ularis ta e anti-p olític a, uma
59
invas ão do públi co pelo priva do, do Estad o pela Famíl ia" .
Dent re as mani festa ções dessa invas ão do públi co pelo
priva do uma das n1ais claras está no que Sérgi o Buar que,
confo nne a defin ição de Webe r, cham ou de "func ionár io
patrim onial ". Para este funci onári o,
[. .. ] a própri a gestão polític a aprese nta-se como assunt o de seu
intere sse partic ular; as funçõe s, os empre gos e os benefí cios
que deles aufere , relacio nam-s e a direito s pessoa is do funcio nário e não a intere sses objetiv os, como suced e no verda deiro
Estado buroc rático , em que preva lecem a especi alizaç ão das
funçõ es e o esforç o para se assegu rarem garant ias jurídic as
aos cidadã os .60
Dessa mane ira, segui ndo o racioc ínio de Sérgio Buarq ue,
nãó havia se conso lidad o no Brasil um espaç o públi co autên tico, distin to do priva do, no qual, como ensin a Lafer, as instituiçõ es e as leis igual izam as difere nças entre os indiv íduos .
Com a não separ ação das esfera s, as difere nças, que dever iam
perm anece r no espaç o priva do, são trazid as à tona na esfera
públi ca, na qual, dessa mane ira, os indiv íduos não são tratad os
a partir de critér ios impe ssoai s que os igual izem.
Para que pude sse haver a distin ção entre as esfera s seria
neces sário, porta nto, que os sentim entos particularistas, fortes,
natur ais e impre visíve is fosse m trans cendi dos por outro s que,
em certo senti do são artific iais ' pois se esten dem a seres
'
huma nos que não se conhe ce. É isso que leva Hann ah Arend t
45
. ~
e sol ida ried ade . Em bor a um senti~
a dife ren cia r com pai xao . ~ por ser p arti
cul aris ta, pod e ser
.
a con1pa1xao,
me nto virt uo 50 '
d
ndo púb lico . Par a Are ndt
cata stró fica se lev a a p ara O mu
.
'
seg und o Cel so Lafer,
[ .. .] é a soli dari eda de, por que part icip a
da razã o e,_ por tanto, da
gen era l1.d a d e, qu e e' cap az de apr ee nde r con ceit ual men te 0
. .
· l o [.. .1 A soli dari eda de [. .. 1 pod e se r. sus .
mu, l t1p
.
cita
da
pelo
sofn
,
.
men to, mas não é guia da por ele. E ela que
perm ite com pree nde r
forte e O rico não men os qu e o fraco e o
pob re. Com par ada
~om a piedade, ela pod e par ece r fria e abstrat
a, por que está li~a~a
a idéias e não ao amor pelo homem; com par ada
com a compaixao,
ela pode parecer ina utên tica . Entretanto,_ é,
a soli dar~eda de ~ue
enseja a con diçã o de pos sibi lida de do JUlZ
O refl exiv o, pois a
pied ade requ er o info rtún io , e a com paix
ão per de a per cep ção
da sing ularidad e no turb ilhã o da alm a div
idid a entr e o oce ano
do sofrimento exte rno e o mar d e emo çoe
~
.
s mte
rna s. 61 (E" n fases
acre scen ta das)
A com pai xão , por tan to, não pod e con duz ir
a açã o no mu ndo
dos hom ens , poi s ou ela per ma nec e ina ção
ou tor na- se rea ção
imp uls iva , sem coe rên cia e dir eçã o, o que
não con diz com
o mu ndo púb lico . A sol ida ried ade , atra vés
da raz ão, per mit e
a inte rme dia ção dos sen tim ent os e da
açã o, ou, em out ras
palavras, per mit e ao ser hum ano sair da
sua inti mid ade e do
seu mu ndo priv ado par a a par tici paç ão
no púb lico . Não é
algo muito dife ren te do que é not ado por
Sér gio Bu arq ue, em
1936, sob re o pen sam ent o libe ral- dem ocr átic
o, que seg und o
ele pod e resu mir -se na fras e de Ben tha m:
"A ma ior feli cid ade
par a o ma ior núm ero " ,62 que , de cer to pon
to de vis ta, par ece
um abs urd o. 63
__ Pod em os me smo diz er que um a dif ere
nci açã o sen 1el han te
a traç ada por Are ndt ent re sol ida ried ade
e com pai xão está no
cer ne do par cor dia lida de e civ ilid ade ela
bor ado em Raízes
d~ ~ra sil. Nes sa dire ção , é bom lem
bra r da not a de pé de
pag11~ª acresc~ntada por Sérgio Bua rqu e na
seg und a edi ção de
seu ivro em v1rtude de s d b
_
nota, o aut or pro cur a eeuf t'e ate con1 Cas sian o Ric ard o. Nessa
poe ta 1
. n a tzar sua dif ere nça em rela ção ao
"b00d d ~ qua sug eria sub stit uir o term o
"co rdi alid ade '' por
ªe ~
com o bon d declarando que nao
se trata de afir mar o brasileiro
oso
em
opo
siçã
o
ld
imp uls ion ado p
.
ª
ma
oso , ma s de per ceb ê-lo
1
e os sen tim ent
os, b ons ou ma us nas cid os
'
46
64
que
dire tame nte do cora ção - e não pelo s sent imen tos
cteparti cipa m da razã o. É justa men te esta opos ição que cara
o do
riza O par cord ialid ade/ civil idad e, com o fica claro no iníci
o
capí tulo "O Homen1 Cord ial", quan do o auto r afirm a que
ao
Esta do não é uma cont inui dade do círcu lo fami liar mas,
sua
cont rário , nasce em opos ição à família. "A orde m familiar em
ento
forma pura é abol ida por un1a trans cend ênci a" e o elem
65
o
racional supe ra o emo tivo. Mas, com o já disse, essa supe raçã
não ocor re no Brasil, pois a civil idad e não subs titui auto mati
ocam ente a cord ialid ade, e, cons eqüe ntem ente , não se cons
lida a disti nção entr e as esfe ras do priv ado e do públ ico.
Não deix a de ser inter essa nte mais uma refer ênci a às disum
cuss ões suge rida s por Costa Lima e Avelino para , por
difilado , refo rçar que Elias dem onst ra a gran de lenti dão e
,
culd ade envo lvida s no proc esso civil izad or e, por outr o lado
sufile1nbrar que Senn ett alert a que a vida na cida de não é
ção
cien te para gara ntir essa civil idad e que perm ite a man uten
cido espa ço públ ico. Isso não deix a de guar dar uma certa coin
rque
dênc ia com o racio cínio dese nvol vido por Sérgio Bua
segu ndo o qual a "nos sa revo luçã o", cara cteri zada pelo forta
talecim ento das cida des, desa greg ava o rural ismo e sua men
lidad e sem, cont udo, subs tituí -la pela civil idad e.
a
Dess e mod o, toma ndo- se em cont a não apen as o que
a de
"nos sa revo luçã o" significa, mas tamb ém o que ela deix
operar, creio que seja frutífero asso ciá-l a à ame rica niza ção,
conf orm e o sent ido que este term o ganh ou a parti r da inter
na \
pret ação ~ ~ de Wer neck Vian na para A Dem ocra cia
Amé rica - espe cialm ente em "O Prob lema do Ame rican ismo
em Tocq uevi lle" .66 O estu do dese nvol vido pelo pens ador
em
franc ês ganh a uma sign ifica ção mais com pleta tend o-se
os,
vista que seu inter esse não está restr ito aos Esta dos Unid
mas sim ao proc esso mais abra ngen te do "gra dual dese nvol
uma
vime nto da igua ldad e", equi para do por Tocq uevi lle a
l,
"rea lida de prov iden cial" ao adm itir que "[ ... ] é univ ersa
os
é durá vel, foge dia a dia à inter ferên cia hum ana: todo s
seu
acon tecim ento s assim com o todo s os hom ens serv em ao
dese nvol vime nto" . 67
Pode-se entã o falar de americanização para se fazer referência
eito
ao proc esso de igua lizaç ão socia l que, emb ora diga "resp
o
[... ] a todo o univ erso civilizado", se enco ntra mais adia ntad
. •ado nos Esta dos Unidos , de modo que este
e melhor con figui
"tocha " para as outras nações.6s
. na como que uma
país func10
.
d- s estudo s sobre iberism o e ameri'á 111 enc1ona o
J
Em seus
.
plora e esclare ce a con f'1guraçã 0
.
Wernec k V1 anna ex
.
canismo,
. d
. cesso tocque vil11an o em nosso
e co ns eqü ênci as esse p1 o
Co ntin ente :
.
d'd do mode rno na América do Norte, mais
O caso be m-suce t o
, .
· .
"
. ..
. 1
.
nde rânci a pol1t1ca , m1·1 1ta1
e
econoue
s1g111f1ca
r
s1mp
es
pt e po
q
f'lh
d
.. .
, .·
mica sobre a Amei ica d o Sul _ 'esses últimos 1 os a'b.,civ1li.
, ,
o
atraso
1
enco,
zaçao
_ apontai.·1a pai.a um process o e m que
.
. .
.
' d as. d t'f . t s i'nflu ências exe rcidas pelo seu v1zmho
sob impacto
e1 e n e
. .
,conveite
ria
'às
luzes'
e
se
moderm
anglo-saxao, se
, .
. , . 69 zan a, rompend o
com os fundam entos da sua propna h1ston a .
Antes mesn1 o de prosseg uir já vale a pena atentar para a
similari dade dessa situaçã o com a revolu ção lenta e gradua l
de que fala Sérgio Buarqu e em Raízes do Brasil, inclusi ve principalmente, pode-s e dizer - pela corrosão do iberismo. E
é interess ante registrar também que a atençã o do histori ador
já vinha sendo despert ada para o tema antes mesmo da publicação de seu primeir o livro , confor me podem os depree nder
de sua observ ação sobre a Aleman ha quand o lá esteve como
corresp ondent e de OJornal. No artigo "Atravé s da Aleman ha",
publica do em setemb ro de 1929, Sérgio Buarqu e observ a que
"[ .. .] na Alemanha, como, de resto, em todo o n1undo, a agitaçã o
modern izadora se realizo u segund o os moldes anglo- saxões
e , em particular, segund o os norte-a merica nos" .70
Contud o, a anotaç ão dessa proxim idade entre as idéias
d: revolução de longo termo em Sérgio Buarqu e e Tocque ville
nao parece ter grande signific ação e poder de esclare ciment o
não foss e a possibilidade de levar mais a fundo a semelh ança.
Segund o O escritor francês, o proces so que corrói as bases
de sustent ação das so · d d
• .,
.
.
c1e a es l11erarq
u1cas substit uindo- as
pedla igualdade de condições sociais encont ra-se mais adianta o nos Estados Unid
os, no
termos de cultura e i t' · ~ entanto , sua config uração em
esp 'f·
ns 1tu1çoes política s - que neste caso
eci tco, resulta na
'
manute nça~ d
preserv açao da liberda de, graças à
o a arte de as
· ~
chamou de doutrin a d .
soc1aç ao e ao que Tocq ueville
é predete rminad O ºb_1n~eresse bem compre endido 11 - não
ª· o Jet1vo aqu·1 nao
- e., d esenvo
lver em mais
48
detalhe s a obra de Tocqueville, mas apenas reter o fato segund o
o qual sua monog rafia possui uma intençã o bastan te precisa
que vai alén1 da idéia de ler nos Estado s Unidos o futuro de
outras nações . O fato crucia l consist e em que a revolução da
iguald ade é inexor ável, 1nas seu resulta do na esfera polític a
não é auto niático e necessário. Ou, nas palavra s de Werne ck
Vianna, "o social não explica o polític o, a iguald ade não traz
consig o a liberda de". 72
No caso de Raízes do Brasil a revolu ção socia l envolve, se
quísern1os usar as palavr as de Antoni o Candid o em conferência sobre este livro, "o fin1 da tradiçã o colonia l luso-b rasileira (ou seja, a nossa fórn1ula originá ria)" e "o advent o das
n1assas popula res", 73 n1as não se sabe ainda a config uração
polític a deste proces so. Con10 já disse, a americ anizaç ão no
Brasil golpei a a aristoc racia rural e dilui a cordia lidade mas,
por outro lado, não traz consig o, automa ticame nte, a civilidade e nem novas institu ições política s. 74
Não se deve dizer que as proble mática s sejam idênticas,
mas como em Sérgio Buarqu e a revolu ção da iguald ade de
condiç ões sociais encont rava-se , lenta e muitas vezes imperc eptivelme nte, em curso sem, contud o, signific ar uma definiç ão
na cultura e institu ições políticas, o concei to de americ anismo
parece ser bastan te elucida tivo para sintetiz ar o que consid ero
o segund o eixo de argum entaçã o de Raízes do Brasil.
A TENS ÃO DE RAÍZE S DO BRASIL
Já começ a a transp arecer o fecho quase trágico do livro.
Com o que vimos até aqui, é possív el avaliar a ausênc ia de
fecho progra mático - fecho que era comum entre os autore s
da época - e ilumin ar as tensõe s presen tes en1 Raízes. O
último capítul o do livro, o lugar que poderi a ser o da aprese ntação de uma visão prospe ctiva e de progra ma, não aprese nta
soluçõ es. Sérgio Buarqu e indica que é necessá ri~ a formul ação
de um camin ho própri o que leve em consid eração as particu laridad es brasile iras, inclusi ve esse parece ndo ser o sentido
de sua retoma da da crítica à distânc ia entre o Brasil real e o
legal. 75 Assim é possível consid erar o livro em si como uma resposta a esse descom passo, na medida em que consist e em uma
>
.
·ntei·pretação razoável da história
s t ruir u tn a 1
ressão de Sérgio Milliet, "buscava abrir
le nrattva e e e O 17 ,
1· t " 76 N~
.
naci ona l que, na exp
ao é
. 1 para uma política construtiva e rea is a .
.
J
10
um camm Jo
.
~
no sentido
enta nto um programa de açao
'
apresen tae (_J ' 110
mais corrente.
George Avelino Filho, interessado na ausê nci a de fecho
programático em Raízes, observa que esta característica "[. .. ]
resultava das dificu ldades de conci li ar uma defesa da espontaneidade nacional, plural e desarmônica, com um programa
77
democrático e toda a sua carga de instituições e leis abstratas" .
Essas dificuldades podem ser vistas a partir de, pelo menos,
dois ângulos. Em primeiro lugar, levando-se em conta a dinâmica do eixo de argumentação relacionado ao americanismo,
pode-se dizer que o espelho presente em diversos momentos
do livro - a matriz formada pela ética protestante, a democracia liberal e a ética do trabalho - não constitui, como se
poderia pensar, o resultado da revolução silenciosa que segue
desde me~dos do século XIX. Como vimos, nossa revolução
t~nde a mmar a cordialidade sem substituí-la pela civilidade.
Ja se.pode falar aí de uma primeira dificuldade de resoluçã 0
do dilema brasileiro.
De um segundo ponto de vista, esse processo não é apres~nt~do de forma a ser totalmente avassalador a onto d
~:g
~~ª~{i::e~:ap~t~~ofadzer _referên ~~as a traços Je cordia~
o 1ivro A 1ias a amb' .. 'd d
1gu1 a e de
'
.
cordialidade
de
traços
ora realçar
do "fluxo
parte
fazem
que
.
.
,
d
e refluxo"
. ~
o pais' ora indicar a sua de
. stru1çao, chegou a ser
"
lida como o resultado d
e uma contrad1ç~ 1-- ·
ao ogica na estrutura"
d e Raízes do Brasil 7B O
utros autores
.
'lh
,.. ' como George Avelino
f
F1 o e Pedro Monteiro
' pre erem ve-la c orno um dos sintomas
d d' " . que dá vida
1·
a 1nam1ca
ao 1vro De
~
um modo ou de outro
.
a tensao oscila entre o des
'
moroname t d
,. .
a
n o e traços ibéricos e
d
permanenc1a deles ge
neste caso ' ou o que Sérgio
ran
Buarque eh amou em ' certo
nordte-americana, de cultur:t,mento, seguindo a Sociologia
·
ag, ou um d
mo erno _
a esfiguração do
.
como no caso do "f
unc10 -- ·
e ·
nano patrimonial" _79
•
d reio que desses dife
rentes angulos subsi
. esencontro . Para
~te um mesmo
o desenvolviment d
importante ob
em dois eix servar que à estrutura _? e mtnha análise é
çao de Raízes do Brasil
os corresponde a
percepção d S,, .
e erg10 Buarque
so
°,
segundo a qual do iberis1no não pode surgir algo compatível co 1n
o anzerica nisnio. Da cordialidade não surge a civilidade, e apenas
con1 aquela não é possíve l ne n1 que o amor ao negócio supe re
o an1or ao ócio, nen1 a constituição de uma esfera pública .
O desencontro do ensaio resulta, portanto, d a impossibi lidade de cruzamento dos dois e ixos . O prime iro é um argun1ento historiog ráfico que, no que diz respeito ao Continente,
é genético, pois trata a cu ltura brasileira como um fruto do
legado ibérico. Por essa via, chega ao "homem cordial", o
qual n ão passou por u1na revolução interior qu e lh e p e rmitisse se tornar o que p a ra Weber seria uma p ersonalidade
par excellence. So1nente com a formação dessa personalidad e
poderi a surgir un1 indivíduo que amasse antes o negócio que
o ócio e que ass umisse a autonomizaç ão da esfera pública
e1n relação à privada. O segundo eixo diz respeito ao rápido
processo de america nização tocquevillian a que se opera na
sociedade e que tende a diluir a cordialidade sem, no entanto,
criar novos princípios. É um processo que exige civilidade
sem produzi-la . Ou, nos ter!:11º~ -~eb_e ria nos, que exige uma
revoluç_ã <2__90 si{f nat_u ral em direção à.personalidad e, mas ·
não _a _p r_?voca.
Con10 observou Antonio Candido em texto recente, "no
capítulo final de Raízes do Brasil poden1os dizer que há uma
espécie de oposição entre duas trincas: luso-brasileiro -domínio80
rural-agricult ura versus imigrante-cid ade-indústria " .
Nun1a p alavra, e usando os termos que venho elaborando,
os dois eixos que estruturam o raciocínio de Sérgio Buarque
se constituem e m paralelas e, logo, não se encontram. O fato
81
é que a "revolução lenta, mas segura e concertada" que opera
transforma ções na sociedade brasileira desde n1eados do
século XIX encontra um tradicionalism o - caracterizado pelo
ruralismo e' pela cordialidade - absolutamen te incon1patível
com o processo de americanizaç ão que aquela representa. Se
a americanizaç ão não traz consigo uma n1entalidade que se
encontre dentro do círculo traçado pelo tipo ideal da civilidade,
tampouco - e é isto que pretendo ressaltar - se poderia
esperar do legado ibérico algum traço que pudesse vir a ser
compatível com uma sociedade burguesa, pois desta tradição
nasce a cordialidade, que dificulta a form ação de uma esfera
propriamente pública e a inversão da equação do amor ao
ócio antes que ao negócio.
51
e
A
p
T
u
L
o
11
UM AUTOR Rcl~ ~tU llYRO
Para a publ icaçã o da segu nda ediç ão de Raíz es d~ ~rasil,
Sérgio Buar que de Hola nda reali zou uma ~mp l~ ~evt sao do
texto. A versão consagrada, que se lê nas atuai s ed1çoes, correspond e ao texto da terce ira ediç ão, e a disp osiç ão das nota s
e a diagran1açã o fora1n defin idas pela quin ta, mas a maio r
parte das n1odificações subs tanti vas já havi am sido inser idas
na segu nda edição. 1 Gran de parte dos com enta dore s de Raízes,
como Geor ge Avelino Filho e Brasil Pinh eiro Mac hado , cons cient es dessa s difer ença s, fazem ques tão de reco rrer em suas
análi ses à prim eira ediç ão. Mas, aind a que Pedr o Meir a
Mon teiro tenh a se preo cupa do em com para r as ve rsõe s das
passa gens por ele traba lhad as, está para ser reali zada uma
comp araçã o sistemática entre elas, espe cialn 1ent e entre as duas
primeiras edições. É prov ável que este emp reen dime nto viesse
~ contr ibuir en1 gran de med ida para o estu do
da traje tória
mtelec,tual de Sérgio Buar que e mesm o para a inter preta ção
de Raiz es do Brasil.
Devo avisa r que, mais uma vez, meu s obje tivos são bem
meno s prete nsios os do que a taref a a ser reali zada . Além de
algum
. .as obse
_ rvaç ões gera i s, a b or d arei. apen as dois tipos de
mod1ficaçoes, ou talve z seJ·a melh . d'
,, . '
01
1zer, aten uaço~ es, reali.d as por Serg10 Buar que
za
. _ao
U
na segu n d a ed1ç
de seu livro.
ma trata das ressa lvas às teses d
, .
Espírito do Capitalismo, de We
e A Etica Prot estan te e o
diz respe ito à capa 'd d
ber, acre scen tada s agor a. A outra
c1
a
e
expl
ic t'
d
a histó ria do Brasil A
,, .
ª
iva O lega do ibéri co para
,,
. s ana 1ises dess a
d'f
~
.
e claro, a com pleta r minh
a .
s mo 1 1caç oes aJud am,
tamb ém são úteis p 1
leitu ra de Raíz es do Brasil, mas
or
ança
rem
su
~
d os texto s de Se" . B
gest oes para a inter preta ção
.
rgio uarq u
CUJO prim eiro livro M
_ e,, acer ca da conq uista do Oest e,
'
onço
.
porta nto, das dua
. .es' e la nça d o em 1945
, no inter valo,
s prim eiras ed · ~
içoe s daqu ele ensa io.
COR DIAL IDAD E E CARÁTER NAC IONA L
Trata ndo das obser vaçõe s gera is, convé m inici ar pelas
consi deraç ões do própr io auto r relati vas às muda nças impri midas na reedi ção de Raíze s do Brasil, que chego u às livrar ias
em janei ro de 1948, com o "P refác io da Segu nda Ediçã o"
datad o de junho do ano anteri or, onde Sérgio Buarq ue escrev e
que repro duzi r o livro
[... ] e m sua forma origin ária, sem qualqu er retoqu e, seria re e ditar
opiniõ es e p e ns ament os que em muitos ponto s deixar am de
satisfa zer-me . Se por vezes tive o receio de ousar uma revisã o
verdad eiram ente radica l do texto - mais valeria , nesse caso '
escrev e r um livro novo - , não hesite i , contud o, em alterá- lo
abund antem ente onde parece u necess ário retific ar, precis ar ou
amp liar sua substâ ncia. 2
.. - 4 ~
Dois ponto s é neces sário desta car: a insati sfaçã o do autor
com algun 1as "opin iões e pensa ment os" e a ausên cia de uma
"revis ão verda deira ment e radical". Neste últim o caso, convé m
atenta r para o fato segun do o qual Sérgi o Buarq ue manif esta
uma perce pção dos lin1ites de uma revisã o, como se o autor
se torna sse refém , e1n grand e medid a, de seu texto. Em outra s
palav ras, é possível dizer que as partes reescr itas não escap am
da estrutura do argum ento do livro e, nesse sentido, uma "revisão
ve rdade irame nte radica l" só seria possí vel escre vendo -se um
"livro novo ".
Para ilustr ar a encru zilha da em que se encon trava o autor
va le a pena abord ar as linha s gerais do debat e de Sérgi o
Buarq ue com Cassi ano Ricar do após o lança ment o da ediçã o
de 1948 . O debat e entre os dois escrit ores se inicia ra quatr o
anos a pós o lança ment o de Raíze s do Brasil, com o livro de
Cassiano Ricardo Marc ha para Oeste (1940), no qual o autor, em
certa passa gem, procu rando esclar ecer sua noção de "bond ade
típica do brasil eiro", a difere ncia da "simp les cordi alidad e".
Nas suas palav ras,
/),~,...
J
J
o 'home m bom do povo ' não se escon de por trás do que diz,
como o homem cordial. É mais sincer o, mais tosco, mais brasileiro. Naque le há uma grand e riquez a de seiva, de sentim ento,
de colori do. Neste, tudo é meia tinta, perfíd ia, faculd ade de
00
~/
. . . 1 pos sív el sob a a p a rê nci a
fa ze r O ma 101
enc ant ado ra de
ma
q ue está pra tica ndo o ma ior d e
tod os os b e,ns , e tud o mui
. 1me te Tod o O mu ndo co nhe ce a fr
cor d 1a
ase e les se e ntre den .
var a m cor dia lme nte' , tão em uso par
a car act eriz ar ce rtas inimi3
zad es 'lib e rais ' .
A res po sta de Sérgio Bu arq ue apa rec
e em for ma de not a de
rod apé na seg un da edi ção de Ra íze
s do Brasil, on de ,~ au: or
argun1enta que a palavra cordia l dev e
ser t~m ada no seu se~t1do
exa to e est rita me nte etin1ológico " rel
aci on ado ao cor aça o, e
não , con10 faz Ca ssi ano Ricardo, est
and o vin cul ada aos senti1n ent os evo cad os pel as cor dia is sau
daç ões apo sta s em fec hos
de car tas . 4 No ent ant o, ma is qu e o
des enc on tro das int erp retaç ões , Sérgio Bu arq ue rea firm a e ref
orç a ~ dif ere nça ent re a
idéia de cor dia lid ade e a de bo nd ad
e ela bo rad a po r Ca ssi ano
Ric ard o - dif ere nça já apo nta da po r
est e aut or - esc rev end o
que seu con cei to "nã o abr ang e (.. .] ape
nas e obr iga tor iam ent e
sen tim ent os pos itiv os e de con cór dia
. A ini mi zad e be m po de
ser tão cordial com o a am iza de, nis to
qu e um a e ou tra nas cem
do coração, pro ced em , assim, da esf
era do íntin10, do familiar,
do privad o".5 Cassiano Ricardo dá pro
sse gui me nto à que rel a na
Revista Colégio de jul ho de 1948, rea
firm and o sua s pos içõ es
no tex to "Variações sob re o Ho me m
Cordial", en qu ant o Sérgio
Bu arq ue ten ta dá- la po r enc err ada
em sua "Ca rta a Ca ssi ano
Ricardo", pub lic ada na Revista Colég
io, n.3 , de set em bro de
1948, on de con clu i dem on str and o o
rec eio de "qu e já ten ha
gas to mu ita cer a com ess e po bre def
unt o (o ho me m cordial]" .6
É bas ica me nte des ses doi s últ im os
tex tos da Re vis ta Colégio,
rep ubl ica dos na terceira edi ção de Ra
íze s do Brasil, qu e extraio
a dis cus são qu e se seg ue.
Mi nha est rat égi a de aná lise pri vil egi
a sab er até qu e pon to
·, e de qu e for ma Sérgio Bu arq ue
ten cio na apr ese nta r /JO que
con sis te Fi? caráter nac ion al brasileiro
. Po de- se afi rm ar que um
aut or visa esp elh ar o car áte r de um a
naç ão na n1edi da em que
se apr ox im a do qu e o ant rop ólo go
no rte -an1eri can o Richard
Ha nd ler - ent re out ros - cha ma
de "ob jet ific açà o cultural"
(cu ltu ral obj ect ific ati on) , ou seja, na
me did a em qu e obs erv e
(e esc rev a sob re) um a cul tur a com o
um a "co isa " _ um objeto
nat ura l. ou :nt ida ~e con stit uíd a de
obj eto s e tra ços . 7 Assim
con ceb ida , a naç ao ou gru po étn ico
é tom ado com o sen do
del im itad o, con tín uo e pre cis am ent
e dis tin guí vel de outras
ent ida des aná log as. Além dis so, des
sa per spe cti va, o que
r-
é sua cultura, qu e pro vê
ico
étn
po
gru
ou
ção
na
a
cad
e
gu
tin
dis
e e a ind ivi du ali dad e do gru po ".ª Os
0 'co nte úd o' da id~ nti dad
o sof rem , par a usa r uma
"traços" qu e const1tue1n est e co nte úd
a "co rro são da con tin um
o,
log
pó
tro
an
tro
ou
de
o
ssã
ex pre
itu ir um qu ad ro d e ete rgên cia his tór ica " e pas sa1 n a co nst
cip em do s aco nte cim en tos
nid ad e e n1 qu e, ain da qu e pa rti
9
sse sentido, alerta Michael
históricos , o te1npo é irre lev ant e. Ne
objetificaçào da cultura
a
um
va
mo
pro
e
qu
o
ud
est
um
,
eld
Herzf
erm ini sm o qu e caracteriza
não se enc on tra n1uito dis tan te do det
am à no ção de raça. 1º
as ex pli caç õe s bio lóg ica s qu e rec orr
açã o da ob ra de Sérgio
O po nto de par tid a par a un1a apr ox ün
1nodifica ção em um tre cho
Bu arq ue po de ser un1a sinto1nática
ion al. Na pri me ira edi ção
crucial pa ra a te1nática do car áte r nac
e "a lha nez a no trato, a
qu
e
rev
esc
tor
au
o
l
asi
Br
do
s
íze
de Ra
tud es tão ga ba da s pe los
ho spi tal ida de , a ge ne ros ida de , vir
um asp ect o bem definido
est ran gei ros qu e no s visitam, formam
11
dep ois , Sé rgi o Bu arq u e
do car áte r na cio na l" . Do ze an os
acr esc ent a qu e isto oco rre
qu ase rep ete o tre ch o e, de sta vez ,
rm an ece ativa e fec un d a
pe
e
qu
em
s,
no
me
ao
a,
did
me
na
]
"[...
con vív io hu ma no , infora inf luê nci a anc est ral do s pa drõ es de
12
ma do s no me io rur al e pat ria rca l" .
Bu arq ue na dis cus são ,
O pri nc ipa l int erl oc uto r de Sérgio
isõ es co mo ess as for am
Ca ssi ano Ric ard o, co nsi de ra qu e rev
seg un da edi ção , o au tor
cru cia is, sig nif ica nd o qu e ago ra, na
na l. Co nfo rm e exp lic ita
cio
na
nio
gê
o
bre
so
te
ba
de
o
ta
evi
seu "Variações sob re o >:
o esc rito r nu ma ve rsã o rev isa da de
a en1 1959 no liv ro O
Ho me m Co rdi al" ·_ ve rsã o pu bii cad
tudos Br as ile iro s-, "o
Ho me m Co rdi al e Ou tro s Pe qu en os Es
no sen tid o contrad_itór~o, ~-:. '
ma is gra ve da qu est ão [.. .] nã o est á
iu con1 a no va exp ltc aça o
sen ão co nfu so, qu e o co rdi al adq uir
s acréscin1os, nã o def ine
de Sé rgi o. Es tá em qu e, co m os seu
ço de fin ido ' do car áte r
'tra
un1
a
av
ach
ele
e
qu
o
uil
aq
is
ma
13
do bra sil eir o".
, qu e o ho me m cordial,
Ca ssi ano Ric ard o con sid era , po rta nto
pri me ira edi ção de Ra íze s
da for ma co mo é ap res en tad o na
tue m o car áte r nac ion al
do Brasil sin tet iza os tra ços qu e con sti
aec ido co m ~s m~d.ifibrasileir~, tra ços est es qu e ter iam esm
o Bu arq ue: O dia~~oStlco
caç ões op era da s no tex to po r Sé rgi
: é pre ets o venf1car se
ões
est
qu
as
um
alg
ere
sug
r
rito
esc
do
oco rre u; e se em um a das
est a sig nif ica tiv a alt era ção de fat o
0-:,1
áte r na cio n al re al me nt e co
rno
du as e d1.ço~ es, se{; t•gio d~ ei inc O e ..
de fi n id o e co nt mu o .
wi ço
.
, , imitir qu e e m ~un ba s
~
,ss jrio i111.c1.
as
.. ,
"lr
alrne ntc L1c
edi çõ es
' .
d'
S
~.
.
Bu
ar
q ue in tro du z a 1sc ussa~ o'
to
0
no mo me n em qu e et g1
, b. co rd ialid ad e e e rn a l m as ou tra s pa ss ag e ns , a co ns~
gu
so I e
, 11 elas pa lav ras p arec e m
. , do tex to e a es.co
su po r traços
1a -' e:
t1• uç ao
.
d'
i'dl
1
ali'
z,1
111 o br as ile iro . Po de -se en
·' r
'
co nt ra r
im uta , ei• S qu e, 111 1V
_.
. "d ar e m os ao m un do
trech os qu e sa o de mo ns t1 aç ~::, d '
oe s iss ~ . . " " ~
0
'11o me m co 1·d'1al' "·, "ci oç ur a de no sso ge mo ; na o amb1..
c1. onamos
,
, . d
a's
co
nq
ui
sta
do
o pr es t1g
r
e
1
de tes ta rn os no to ria me nt e
10 e P
· b
as so lu çõ es vio len tas . De se
jam os se r o po v~ m a is ra
~d o e o
. co
mais
mpo1.ta d o do n1 un do "., "e sp on ta ne id ad e n ac ion al" 14
.
~
. , d es
Assim
se po nt o de vi sta , na s du as ve rs oe s po de m
os
,,
.
en co nt ra r d esc11·· ço~es de atr ib ut os do ca ra ter
na cio na l.
Todavia nã o se de ve sin 1p les
me nte ap on ta r a pr es en ça
de
ex pr es sõ es' es pa rsa s re lac io
na da s à de sc riç ão de um
gê nio
nacional pa ra co mp ro va r a pr
es en ça de ste tip o de co ns tru
çã o.
Para iss o , pa re ce mais in di
ca do ve rif ica r o pa pe l da
qu ela s
ex pr es sõ es na ar gu me nt aç ão
ge ral do liv ro e, se nd o ass
im,
va le ret om ar a pa ss ag em de
Raízes do Brasil há po uc o tra
nscrita e ac om pa nh á- la de fo
rm a ma is d eti d a . No te- se
qu e, na
ve rsão da se gu nd a ed içã o, se
sin tet iza m o qu e co ns id er ei,
no
me u pri meiro ca pít ulo , os do
is eix os bá sic os de ar gu me
nt aç ão
do livro. De um lad o, a "lh an
ez a no tra to , a ho sp ita lid ad
eea
ge ne ro sidade", virtudes , em
su ma , re lac io na da s à pe sso
ali da de
e à co rdialidade, rep res en tam
o eix o qu e dis co rre so br e o
legado
ibé rico e su a pe rm an ên cia
na hi stó ria co lo ni al, co mp
on do ,
assim, o no ss o tra dic ion ali sm
o; de ou tro lad o, a ob se rv
aç ão
de qu e es sa s ca racterísticas,
po rq ue as so cia da s ao "m eio
rural
e pa triarcal ", es tão fa da da
s ao de sa pa re ci m en to graças,
deve -se lem brar, à revolu çã o
lenta e gr ad ua l da ur ba ni za
çã o -,
vincula-se ao qu e co ns id er ei
o se gu nd o eix o de arg un 1e
nta çã o
do li vr o . Ne ste se nt id o , a pa
ss ag em ac re sc en ta da na se
gu nd a
edição, po de -se dizer, ap en as
sublinha O raciocínio geral do
livro.
. Assim, to ma nd o- se a ar gu me
nt aç ão co m o um to do , po de
-se
diz er qu e, na s di fe re nt es ed
içõ es do liv ro , nã o se en co
ntr a
um a co nc ep çã o de ca rá ter na
cio
na
l
qu
e,
co m o qu er ia Ricardo,
fo sse alg 0 " ,, · d b
. .
pr op no o ras1le
1ro qu e na sc eu as sim e qu ~
m ud am es " 15 1" ·
e nao
mo
·
a
vi
mo
s
no
~
Ca
1936 0
pí tu lo I qu e já na ed iça o de
, qu e po de ria se r to ma do co
m o o ca rã ter do brasileiro
en co ntr a-s e em fra nc a mo di
fic aç ão .
E necc . .
~~
•
para as ediço~es s egu1ntes,
Contudo, e isto é válido
se
.
· Buarque
elaborado por Se"r g10
tomarn1os
,
. o raciocínio
. apenas
.
.
no pnn1etro eixo de Ratzes a situação e" um p ouco mais
complexa, pois o tradicionalismo brasileiro parece constituir
un1a entidade quase congelada que não possui dinâmica
própria e que, por isso, tende a ser interpretado como caráter
nacional - con10 faz, aliás, Cassiano Ricardo. Mas não se
deve esquecer que, no argun1ento de Sérgio Buarque, esta
in1utabilidade não está descolada das contingências históricas,
e sin1 ancorada na configuração econô1nica e social caracterizada pelo ruralis1no. Nesse raciocínio, deve-se concordar,
acredito, con1 George Avelino quando anota que "Sérgio não
concebe a cordialidade como caráter nacional, ou qualquer
tipo de 'essência' que permaneceria ao longo da história.
[. .. ] Hera nça ibérica, ruralísmo e cordialidade são coisas que
andam juntas. "16
Em suma, mesmo ao se falar do primeiro eixo de argumentação de Raízes do Brasil, apenas aparentemente estamos
diante de um argumento que remete à idéia de caráter nacional.
Isto , todavia , não o deixa imune a reavaliações e críticas, pois,
tratando novamente d a relação entre os dois eixos do livro
de Sérgio Buarque, podemos ser levados a perguntar se não
. ponto
há um desencontro muito extremado entre eles. Dess~_
,..,,.
de vista , é como se a tradição se remetesse a uma noç~o de
--~
<'-----...
cultura quase parada e a modernização, no limite, apontasse
p-ara o movimento e a anulação da tradição. Assim, de algun1
~odo, nossa herança ibérica representa o que pouco se move
- como quer Cassiano Ricardo - e só a modernização virá
alterá-la. De certa maneira, esta problemática continuará nos
acompanhando em todo o decorrer deste livro.
Se, do ponto de vista do argumento aqui desenvolvido,
Cassiano Ricardo viu alterações demais na nova edição de
Raízes do Brasil talvez não se deva deduzir daí que tenha
sido apenas iss; que ele tenha feito. Por um lado, acredito
possível concluir que, na segunda edição, Sérgio ~uarque
reforça a historicização da noção de cordialidade, sublinhando
sua ancoragem no ruralismo através da intensificação do
nd
recurso à Sociologia, como na nota de rodapé que respo e
a Cassiano Ricardo, onde recorre a Charles Horton Cooley
. l'd d "pertencem ,
para afirmar que as características da cord 1a 1 a e
57
.
n e nte p ara reco rre r a term o con sagr ado pela mod
erna
,
. ,, . ,,, 11 T d
.
ao dom ín io dos 'gru pos pnm
a nos .
o avia , essa
.
'd ,, •
~
e
'
p
i·op
riam e nte um acré scim o, ante s con stitu
1 e1a nao
.
. ~i um_
refo rço à co nce p ção qu e já pod e ser perc ebid
a na ed1ça 0 de
6,
e
n
esse
sent
ido
pare ce qu e Ric ardo enx ~rg ou mes mo
193
den1ais na segu nda ediç ão - o u , talv e z, te nha vist
o pou co na
p rin1e ira. Por o utro lad o, n ão se d e ve des ca rta r que
dete~minad as alte raçõ es p ossa m te r d esto ado d a estr utur
a do livro
tal con1o con figu rad a na su a prim e ira e diçã o e que
, por este
âng ulo , Cas sian o Rica rdo tenh a se d ado con ta
de efet ivos
dile in as de Sérg io Bua rque , com o pod e re mos indi
car mais
adia nte . Mas , d eixa ndo de lado uma resp osta defi niti
va qua nto
a este ú ltin10 pon to, con vém ana lisa r dua s alte raçõ
es espe cíficas en1p reen dida s por Sérg io Bua rque , tent and o
lanç ar luzes
sob re o que elas pod em ter sign ific ado par a o
cam inho de
seu p e nsa men to e de sua obra .
e fe t1v a1
.
•
SOC l O 1ogia ,
REAVALIAÇÃO DE WE BE R
Pas san do para a prim eira mod ific açã o m a is esp ecíf
ica que
imp orta para o dese nvo lvim ento de meu a rgu men
to, abo rdo a
nota de rod apé pres ente no iníc io do sex to cap ítul
o de Raízes
do B rasi l, na qua l o auto r se refe re à tese cen tral
do livro de
Web er, A Étic a Pro test ante e o Esp írito do Cap ital ism
o. A nota
apa re ce logo apó s Sérg io Bua rqu e afir mar que
no trab a lho não busc amo s senã o a próp ria s atisf
aç ão, ele tem
o seu fim em nós me smo s e não n a obra , um finis
oper antis e
não um f inis oper is. As ativi dade s prof issio nais são,
aqui , meros
acid e ntes na vida do s indi vídu os, ao opo sto do
que suce de
e ntre ou tros po vo s, ond e as próp rias pala vras
que desi gnam
sem elha nte s ati vida des adqu irem um acen to quas
e relig ioso . 18
Essa é a tran scri çã o do pará graf o da prim eira
ediç ão, e,
salv o um peq uen o deta lhe, o auto r não faz nen hum
a modificaçã o para a seg uint e. Des taqu e-se que , com o já
foi dito no
prim e iro ite m do Cap ítul o I, no text o apa rece a
ima gem do
bras ileir o con tra pos ta ao prot esta nte, e, com o não
pod ia deixar
de ser, o auto r rem ete, em nota de roda pé, ao trab alho
de Weber.
58
Na segunda edição, Sér?iº. Bu:rque aumenta consideravelmente ,,.\;
esta nota e lembra as l11n1taçoes da tese do sociólogo alemão. ) 1
Na versão de 1936, no pé de página, Sérgio Buarque começa
especificando o que está subentendido no texto: os "outros
povos " - opostos ao brasileiro - são os "protestantes". E,
prossegue:
O mais eminente sociólogo moderno salienta justame nte, como
nos idiomas de países predominantemente católicos, assim como
nos da antigü id ade clássica, fa lta às palavras que designam as
atividades profissionais, a tonalidade distintamente re ligiosa que
lhes corresponde em todas as línguas germânicas. 19
Sérgio Buarque conclui len1brando que as traduções da
Bíblia para o português, tanto católica como protestante , usam
o termo "obra", e não "vocação" - que seria o equivalente a
beruf ou calling - , resguardando este termo apenas para
as referências diretas à "idéia de chamado à salvação eterna".
É importante lembrar que não é a primeira vez que o autor
aproxima os países católicos da "antigüidade clássica", como
faz nessa nota. Em passagem já citada no primeiro capítulo ,
Sérgio Buarque fazia a mesma aproximação lembrando que
nos dois povos importava antes o ócio que o negócio. 20
Os acréscimos e ressalvas feitos, para a edição seguinte, na
mesma nota de rodapé podem, de modo geral, ser encarados
como a inclusão das "reelaborações que os pensadores não
alemães" deram à obra de Weber, ausentes da argun1entação
21
central de Raízes, conforme apontou Brasil Pinheiro Machado.
Ausente da primeira edição, Religion and the Rise of Capitalism
de R. H . Tawney passa a constar na segunda edição do livro
22
em três momentos distintos, um deles na nota em questão.
Contudo, /~a---i-Reer-por-açã-0 .n0-p,e-de páginà)É.!o_j,J_gnTfica .
f ecessarja-tne11.~ qu~ Sérgio Buarque a· tenha realizad1 tambén1
no corpo do texto, mesmo porque, como já te1rnos observado, o
autor era até certo ponto refém da primeira versão. Ainda assim,
analisar a modificação pode ser importante para pensarn1os d
a trajetória da sua reflexão.
Dessa vez, sobre a obra de Weber, Sérgio Buarque observa que
devem-se acolher com reservas as tendências, de que não se
acha imune O grande sociólogo, para acentuar em demasia, na
_
d
. inad os fenô m e nos , o sign ific ado das
.
d .
fl ,. ·as pura men te mot·ais ou inte lect ua is e m etnm ento d
e
in uenfc1 ·es porv entu ra mais deci sivos. No
caso , o da influ ência
outros atot
d
,. .
,. d
·
do 'esp mto
ta l'd
t a e capitalista.
p1.otes t an te ' na form ação a men
.
.
. ·u"
em pteJ 1zo de mov ime ntos econ ômi cos, CUJO efei to se fez sentir
.·
. .
em part icu lar nos país es nórd icos ~nd e v .
m ga1ta a p1 e d1ca ção
prot esta nte, prin cipa lme nte calv ini sta. P:re
cem proc ede ntes,
nest e sent i'd o, algu 111 as das limitaçõ es que a tese cent ral de Ma"
Weber, no ensa io acim a cita do [A Ética Pro
testante e o Espírito do
Capitahsnw], opu sera m historiad ores com o Bre ntan
o e Tawney. 23
--açao de
exp 1ar.
ete1 01
I\
A observ ação termina com un1a me nçã o ao, pro
vav elm ente ,
mais imp orta nte aut or não alem ão que deb ate
com a obr a de
Weber, R. H. Taw ney, que em seu livro The
Rel igio n and the
Ríse of Capítalism , de 1926, pro cur a as orig e~s
do esp írito do
capitalismo ante s da vitória do pur itan ism o. E
nec ess ário aqui
um breve leva ntam ento das prin cipa is con clu
sõe s a que chega
este pro fess or inglês nes sa sua obr a.
Gra nde adm irad or da obr a web eria na, Taw ney
con side ra
contudo que, "tanto o 'espírito capitalista' com
o a 'ética protestante', [. .. ) eram mui to mais com ple xos do que
We ber parece
indicar". 24 A partir dos resu ltad os de seu s estu
dos, sistematiza
três pon tos nos quais os arg um ento s web eria
nos lhe parecem
"unilaterais e dem asia do forç ado s" .
O primeiro diz resp eito ao fato de hav er nas
cid ade s do
século XVI - como Veneza e Florença, e as do
sul da Alemanha
e Flandres - muito do "espírito do cap ital ism
o", "pe la simples
razã o de que essas área s era m os mai ore s cen
tros con1erciais
e fina nce iros da épo ca, emb ora tod as fos sem
, pel o menos
nominalmente, cató lica s". Por out ro lad o par
a ele O desen'
vol vim ent o capitalista e do espírito do cap,ital
ism o nos séculos
XVI e XVII das pro test ant es Ho lan da e Ing
late rra se devia
a gra nde s mo vim ent os eco nôm ico s com o
as des cob erta s.
Note-se que é a essa obs erv açã o esp eci fica me
nte que Sérgio
Bua rqu e par ece se referir ao afir mar que
a tese de Weber
ace ntu a as infl uên cias mo rais em det rim ent o
"de n1ovimento 5
eco nôm icos cuJ·o f 't
f
•
,. .
O
'
,. s
e
nord1cos ond e · ei . se ez sen tir en1 par ticu lar nos paise
. l
. . vin gar
mente calv inista".2s ia a pre dic açã o pro test ant e, principa A
60
partir des ses el
eme nta s, Taw ney con clu i que
é cl aro que mudanç as m ateria is e psicol ógicas andavam juntas,
e é cl aro qu e a segunda ag iu sob re a p rime ira. Mas pa rece um
pouco arti ficia l fa lar como se a empresa cap italista não pudesse
aparece r até qu e as mud an ças re li g iosas ti vesse m p roduzid o
26
um espíri to ca pitalista.
o segund o
ponto é que Webe r quase ignora os movim entos
intelect uais que , n1esn10 não sendo re ligioso s, també m d e ram
impuls o ao de senvol viment o d a e mpresa come rcial, ao individu a lis1no econô n1ico e à con ce ntraçã o p ec uni ária com
fins à acun1u lação de capital , como o p ensame nto político
renasce ntist~ _e as refl exões dos homen s d e negóci o- e ecÕno·
n1istas do mes n10 períod o ."2 7 . .. A úl tin1a ressalv a é que até mesmo o movim ento calvini sta
era n1u ito n1ais con1ple xo do que o aprese ntado por We be r.
Tawney escreve um capítul o (IV, 2 - p.200-216) para demon strar
que , d e ntro d o pu ritanism o , até o século XVII, houve uma
luta intensa entre u ma tend ência coletiv ista e defenso ra de uma
discipli na férrea e un1a individ ualista que aliava o bem comum
ao livre curso dos in teresse s .28 Na verdad e, as tendên cias do
movim e nto religio so que mais tarde haveria m de torná-l o um
aliado p o te n te da corren te social contrá ria ao contro le das
relaçõe s econôm icas - quer em nome da moralid ade social, quer
do interess e público - , tendên cias estas estudad as por Weber,
não se consol idariam , diz Tawne y, "antes que as mudan ças
política s e econôm icas prep arassem um ambien te congen ial
ao seu crescim ento".29
Mesmo com as ressalvas, Tawne y não se cansa de afirmar que
a percep ção da conota ção econôm ica que a vocaçã o religios a
ganhou no protest antism o e suas conseq üência s socia is e
econôm icas é uma contrib uição primor osa de Weber. Inclusiv e,
nas passag e ns de seu livro em que estuda a idéia de vocaçã o
e o ascetis mo puritan o, o autor segue de forma explíci ta e
30
colada os argum entos de Weber.
Não é muito diferen te o proced imento de Sérgio Buarqu e de
Holand a. Voltan do à nota de rodapé de Raízes, após afirma r
suas reserva s, nosso autor prosseg ue dizend o que a tese central
de Weber, a conexã o entre protest antism o e ética do trabalh o,
não deve ser invalid ada. A partir dessa observ ação, retoma a
constru ção da nota redigid a para a primei ra edição referin do-se à ausênc ia de timbre religios o às palavra s que design am
61
traba lh o no caso das nações católicas. E, lo~o en1 seg~1icta,
tnnscreve uma série de observações sobre ª moral puritana
" 31
'
admiravelmente exposta por Tawney ·
O ponto que prete ndo reter é o fato segu nd 0 qua[,
enquanto em 1936 Sérgio Buarque segue O a~gume~to ~e Weber
. - o que se torn a percepttvel nao so atravé s
de fo rn1a estrita
da nota de rodapé isoladamente, mas p ela linha argumenta. d o 1·1vro -, agoi·a , e 111 1948 , o autor manifesta uma relativa
tiva insatisfação. Passa a considerar a nece ~si~ade ~e se compreender a formação da mentalid.ade capitalista nao ap~~as
en1 função das influências morais. Os breves comentanos
sobre a obra de Tawney que desenvolvi acima são suficientes
para marcar a direção da releitura da interpretação weberiana,
ai nda mais considerando que, das críticas elaboradas pelo
au tor inglês, a que parece ter despertado maior interesse
em nosso autor é a que alerta para as transformações éticas
provocadas pelas mudanças econômicas. Sem analisar mais
detidamente o reflexo das teses do historiador inglês na obra
de Sérgio Buarque, o importante é enfatizar que elas contribuíram para uma ampliação do horizonte de explicação da
formação da mentalidade capitalista .
º
Devo admitir que com essas observações não é possível
dizer que passamos a ter uma noção clara da nova interpretação
que Sérgio Buarque assume da obra de Weber. Contudo, considero que a percepção desta ampliação já é suficiente para, além
de indicar uma alteração crucial da primeira para a segunda
edição de Raízes do Brasil, abrir uma senda para a leitura das
suas obras seguintes, especialmente Monções (1945) e Caminhos
e Fronteiras 0957). Como procurarei argumentar, esta reconsideração do autor parece guardar afinidades con1 suas interpretações sobre a conquista do Oeste brasileiro na medida
' dos atores
em que nestas ocorrem transformações nos valores
de uma forma orgânica com as mudanças materiais. Dessas
~bras parece correto dizer que a idéia de fronteira possibiltta , em grande medida, uma outra maneira de refletir sobreª
-o
·
• ~
~
história
,
e modern1zaça
entre trad1çao
. do Brasil e a rel açao
nd
sug~n o, por exemplo, um tratamento do tema do ócio e do
. d'f
ne
gocio 1 erente do que aparece em Raízes do Brasil.
Ante_s de analisar outra alteração em Raízes do Brasil · as
d
prometi falar de um
a segun a - , essas observações relaUV
62
às mudanças na nota sobre Weber nas edições separadas por
doze anos nos levam para além dos limites do livro, e nos
remetem a certo artigo de jornal publicado por Sérgio Buarque
na época. Este artigo ajuda a perceber a força que O problema
básico de Weber, o surgimento de uma mentalidade capitalista,
aplicado ao Brasil, exercia sobre a reflexão de Sérgio Buarque,
e auxilia o acompanha1nento das diferentes perspectivas lançadas
pelo autor para analisar o proble1na. A análise das modificações
na nota de rodapé sobre Weber já demonstrou, em certo grau, a
ampliação da problen1ática. O artigo vai na mesma direção. 32
Publicado em dezembro de 1951, quase quatro anos após
a segunda edição de Raízes, e intitulado "Vária História", 33 é
uma pequena resenha do livro de José Honório Rodrigues,
Notícia de Vária História, editado pouco antes. No artigo é
perceptível, em primeiro lugar, o interesse que Sérgio Buarque
mantém sobre o tema da mentalidade capitalista no Brasil.
Após realçar o caráter fragmentário do livro comentado, o
autor observa que sua parte mais importante são os estudos ·
"dedicados às relações entre a religião e o desenvolvimento
do capitalismo e da burguesia , em sua aplicação à história
do Brasil". E completa:
Sejam quais forem as reservas que podem merecer suas tentativas nesse sentido, é inegável que o simples fato de abordar,
de um prisma brasileiro e ibérico, os resultados de pesquisas,
que a partir sobretudo de Max Weber (e de Sombart) puderam
inaugurar todo um novo e sedutor capítulo da historiografia
contemporânea, já reclama, por si só, atenção especial. 34
Além de demonstrar a importância que o autor continuava
a atribuir ao tema, a principal objeção, apesar de rápida, vem
ao encontro das modificações às quais a nota sobre Weber foi
submetida. Segundo Sérgio Buarque, a tese fundamental de
José Honório - exposta nos capítulos "A Expansão Capitalista
versus Ideologia Canônica em Portugal" e "O Pecado Danado
da Usura" - é a de que "os povos ibéricos não puderam
desenvolver as mesmas virtudes econômicas suscitadas especialmente nos países calvinistas, porque, fiéis aos princípios
canônicos, seus governos estorvavam por todas as formas a
iniciativa individual e estabeleceram desde cedo uma espécie
de capitalismo do Estado" _3 5 Nessa linha, a diferença essencial
63
• t ' portuguesa e o domínio holandês estaria n
a
. ,. .
entre a conqu1s a
no segundo caso, das ideias medievais .
ocorrida
;.
'b
li . er taç('.10,
A objeção central de Sérgio Buarque "_[. .. ] há d~. relacionar-se con1 a explicação unilateral e exclusivamen te idealista'
que O autor, forte1nente atado à teoria inicial de Weber sobre a
forn1ação do 'espírito' capitalista, tende a oferecer dos fatos" .36
Trata-se, poderíamos dizer, do reparo que o autor empreendeu
en1 sua própria obra, quando passa a evitar explicações demasiado idealistas. Nesse sentido, não deixa de ser irônico e
significativo que no prin1eiro artigo do livro Notícia de Vária
História, intitulado "Capitalismo e Protestantism o", em que José
Honório desenvolve o mesmo raciocínio dos dois artigos
resenhados por Sérgio Buarque, ele o faça a partir de Raízes
do Brasil. Após tecer consideraçõe s acerca da tese de Weber
e um inventário das observações de seus críticos, o autor
passa a abordar o caso de Portugal e da Espanha, no qual "a
tese de Max Weber encontra confirmação" , e, em seguida,
discute o brasileiro. Aí a "rara e magnífica interpretação de
Sérgio Buarque de Holanda" é central para o desenvolvime nto
da concepção de José Honório, que cita a passagem de Raízes
segundo a qual, entre as nações ibéricas, predomina "a
concepção antiga de que o ócio importa mais que o negócio".37
Como poderemos confirmar a seguir, este é justamente um dos
aspectos que Sérgio Buarque procura abrandar nas versões
seguintes de Raízes do Brasil.
INSATISFA ÇÃO PERANTE A
EXPLICAÇ ÃO GENÉTICA
Passando para uma outra modificação presente na segunda
e~ição de Raízes do Brasil, é possível iniciar pelos comentários
feit~s pelo autor acerca das reformulaçõe s anos depois de tê-las
realizado. Em uma conferência pronunciada junto à Escola
Superior de Guerra, em 1967, Sérgio Buarque afirma ter sentido
necessidade delas porque, em alguns casos "[. .. ] fazia-se
dªs
.
'
e
necessária [.. ·] uma ra d'1ca1 re1ormulaçao
antiqua
de opiniões
. retratação" .38
ou, se o quisere m, uma verdadeira
ct·12 respeito a um aspecto já con st·de~
Uma dessas retrat açoes
te
,.
ra d O no primeiro ite m d O eapitulo
I e relaciona-se justamen
64
.
po rta nto
O
co m a me nta lid ad e ibé ric a e,
ide
~u e co nss,, rei
ne nta ' _comdo liv
ur
arg
de
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o
eix
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pr
o
ça o
co mo
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erg
e
an do na me sm a co nfe rên cia :
Bu arq ue , qu e pr os se gu e afi nn
lo . . . 1 do m
1·
Assim , po r ex em plo ' no capi'tu . 1nic1a
o ivro ,tratara
esm
.
,
d
ico
típ
.
eu do qu e jul gar a
e ce1ta me n tal ida d e 1'b,enc
a , cuja
d .
nu
e
qu
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1
var
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pre
ara
ça
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he ran
nca
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ra_ l~~r~se ent re
a' t' 'd d uti
rno
de
mo
o
reç
ap
o
s
ico
ân
p
ª ivi a , e litana: ent re
po vo s his
·
a t' .. 'd d
·
ess es po vo s, co mo e ntr e os da n 1gu1 a e cl assica , im po rtaria
o.
ant es o óc io do qu e O neg óci 39
r
• pli· · sta, qu e sim
uito de te.1m1n1
1n
ão
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a
rar
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pr ob lem a , "m a 1·s tard e ", fa la Serg10
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fica m as na" o es cla rec
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ate nu ar a for mu laç ão "
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pa ssa nd o a
am
stic as ass ina lad as pre do mi nar
[. .. ] q~ e se algumaAs c~r act erí
se
po vo s ibéricos, não se pen sas
com s_rngular co nstanc1a ent re
ou,
ine lut áve l fat ali dad e biológica
qu e vrn ham ela s de alg um a
eà
pu des sem sub sis tir à .ma rge m
co mo as est rel as do céu , qu e
40
ssa vida pre sen te.
dis tân ci a do s suc ess os de no
os no pri me iro ca pít ulo de
raf
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pa
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41 Sé rg io Bu arq ue faz est a afi rm aç
il,
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Br
Ra íze s do
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au sên cia de um mo do de pe ns
co nte xto em qu e his tor ici za a
rca nti l ibé ric a, rel ac ion·a nd o
me
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ito co m as cla sse s tradinfl
co
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sse em erg en te "n ão pre cis ou
cio na is, de ma ne ira qu e a cla
ns ar ab so lut am en te no vo , ou
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42
de
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pe rm an en tem en te se u pr ed
ca rac ter íst ica s ibé ric as "co mo
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se rv e ao au tor nu m co nte xto
co nd içõ es da vid a ter ren a,
nã o po ssa se r ge ne ral iza do
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1967, ao ap lic ar O me sm o arg
ibé ric os im po rta ria , de forma
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65
de un1 elen1en t0 t-ransfonna dor exterio r a ele_. Tendo em ,
01
a ref~;ê~cia do histori ador ao tópico ócio/n egócio , 0 que
destaca r é que, especia ln1ente na primei ra edição , a tradi ~ ~
,, .
1 d ,, .
Çao
ibérica avessa ao negoci
o em pro o oc10
era um elemen
to
explica tivo fundam ental do Bras1·1 . Recap1.tu lan d o, havia sim
un1a revolu ção en1 curso que vinha alterar esse estado de
coisas, destrui ndo en1 boa parte a tradiçã o ibérica e podendo
inverte r a equaçã o en1 favor do negóci o, mesmo que tenhamos
repara do que o argun1 ento guarda uma certa ambigü idade
não sendo conclu sivo quanto ao resulta do do process o. D~
qualqu er n1aneira, seria fruto da americ anizaç ão em andamento que estanca a fonte de alimen tação do legado que até
então era detern1 inante. O iberism o, por si, não é capaz de
aponta r para a valoriz ação do negóci o antes que o ócio.
Certas n1udan ças, como esta referid a por Sérgio Buarque
em sua conferê ncia na ESG - que significa, como diz, quase uma
retrata ção - , parece m constit uir uma tentativ a de abrandar
esta postura e, nesse sentido , enxerg ar e sugerir brecha s para
que o tradicio nalism o brasile iro, ainda que ancora do no ruralismo, não seja tomado como uma paisage m quase estagnada.
Em outras palavra s, é como se o autor estives se tentando
imprimir mais movim ento no que temos consid erado o primeiro
eixo de argume ntos de Raízes do Brasil, corresp ondend o a
uma relativa insatisfação perante a explica ção do tipo genético,
a qual , no seu limite, pode se aproxi mar de interpretações
calcada s em "algum a inelutá vel fatalida de biológi ca", para usar
a expres são do historia dor. E neste caso sim, resgata ndo o
que já foi dito, parece que Cassian o Ricardo havia se dado
conta de um dilema efetivo de Sérgio Buarqu e.
Antes de caminh ar para o fim do capítul o, gostaria de deixar
claro que as duas reform ulaçõe s aqui analisa das separadamente estão de fato vincula das, como talvez já possa ter transparecid o. Quand o Sérgio Buarqu e passa a levar em conta os
autores como Tawne y, que dialoga ram com a obra de Weber,
e procur a escapa r do que ele chamo u mais tarde, ao comentar
textos de José Honóri o Rodrig ues, de explica ção demasiado
idealist a, passa tambén1 a conceb er o iberism o de maneira
mais dinâmica. Se os legados transatlânticos são tratados funda,
mentalmente como tipos éticos, o que tende a se constituir
numa forma de explica ção genétic a, há um grande risco de
objetifi cação cultura l. Mas certam ente é necess ário cuidado
:n;e
66
Wieb e que ele
é o caso de
inferir daí que esse
er
·
.
Para não . se .
,
se r poss1ve
a
venha
talvez
seJ·a urn idealista . Mesn10 assim,
~
1
de
direta
muito
ncia
transferê
dizer que, quando se fez uma
suas interpre tações para analisar o Brasil e a América, isto foi
0 qu e muitas v~zes ocorreu e n~o se pode dizer que Sérgio
Buarque tenha ficado totalmen te imune à objetificação cultural
e ao idealisn10.
É necessár io sublinha r também que as duas alterações focalizadas no presente capítul o, e percebid as como sinais de
reavalia ções de Sérgio Buarque sobre suas interpret ações da
história do país, não chegara in a se enquadr ar no livro de
maneira con1pletan1ente orgânica a ponto de podermo s dizer
que os argun1en tos fundame ntais de Raízes do Brasil tenham
sido 1nodificados de uma edição para outra. Vale lembrar as
palavras do autor no prefácio à segunda edição, já citadas no
início do capítulo , segundo as quais se fosse para empreen der
"uma revisão verdade irament e radical do texto mais valeria
[. .. ] escrever um livro novo,,. 43
Sintetizo este capítulo reafirma ndo que uma das principais
direções das reelabor ações de Raízes do Brasil é a atenuaçã o
da ênfase na explicaç ão genética . Pensand o nessas revisões
e lembran do que no período compree ndido entre a primeira e
a segunda edições do ensaio Sérgio Buarque publica Monções ,
seu primeiro livro acerca das entradas para o Oeste, torna-se
importan te acompa nhar o autor mais de perto nesses anos
de intensas reflexõe s e reformu lações. É possível estudar seus
livros sobre as entradas e bandeira s como uma tentativa de
traçar um outro tipo de explicaç ão do Brasil. Antes de tratar
desse outro enfoque , acompan hemos, então, um moment o da
trajetória intelectual de Sérgio Buarque no intervalo compreendido entre Raízes do Brasil e Monções: sua primeira viagem
aos Estados Unidos, realizad a em 1941.
67
p
A
E
T
o~ c~TADO~ UNIDO~ fICAM NA AMc~ICA
I
e
A
p
T
u
L
o
111
UM OUHO AMrn!CANl~MO
No ano seguinte à publicação de Raízes do Brasil, Sérgio
Buarque, então con1 34 anos, torna-se assistente de Henri Hauser,
na cadeira de História Moderna e Econômica, e de Henri Trouchon,
que conduzia a cadeira de Literatura Comparada, ambos professores da missão francesa vinda por iniciativa de Anísio Teixeira
para a recétn-inaugu rada Universidade do Distrito Federal (UDF).
Após o retorno dos professores à Europa em 1937, Sérgio
Buarque torna-se Professor Adjunto de História da América e
Cultura Luso-Brasile ira. Contudo, não duraria muito a sua
primeira experiência acadêmica, pois no ano seguinte, após
continuada interferência dos militantes católicos reunidos em
torno do Centro Dom Vital, especialment e a de Alceu Amoroso
Lima, o Ministério da Educação declararia extinta a Universidade fundada pela Prefeitura do Rio de Janeiro.
Em seguida à sua primeira e rápida experiência acadêmica,
Sérgio Buarque, convidado por Augusto Meyer, passa a trabalhar
no Instituto Nacional do Livro. Nessa época, mantém correspondência com Rubens Borba de Moraes - que então morava
em São Paulo e era gerente da Editora Martins - e se torna
quase um consultor desta editora, além de traduzir, em 1939,
para a mesma, Memórias de um Colono, de Thomas Davatz.
O livro é editado em 1941, com extenso prefácio do tradutor.
No ano seguinte, a Martins publica também sua tradução de
Etnologia Sul-America na, de Wilhelm Schmidt.
Nesses primeiros anos da década de 1940, Sérgio Buarque
é ainda convidado para escrever um dos capítulos do que era
para ser o Handbook of Brazilian Studies, editado sob os
auspícios do Committee on Latin A merican Studies e organizado por Rubens Borba de Moraes e por William Berrien, este
1
último integrante do American Council of Learned Societes.
O Handbook editado por um brasileiro e por um norteamericano representa muito bem o crescente interesse que o
come Ça
Bras1.1, ao lado d e outros países do Continente,
.
dos Estados Unidos. O a~b·
despertar no S meios acadê1nicos
.
_ .. 1 tentea
intelectu al criado por e~se ~nte resse e as qu e stoes Por ele
susci•tadas p arece n1 ter sido importante s 'p ara as redefini·ç"'Oes
da refl exão de Sérgio B~arque. Cabe,
isso, determo-nos um
ou co inais neste ambiente, re const1tu1ndo-o em suas linh
P
·
1
1 h'
·
as.
g erais e dando atenção à n1ane ira pe a qua o 1stonad or braS1
leiro nele se inseriu.
?º~
AMBIENTE INTELECTUAL AMERICANO
Qu ando se pe nsa nos fins dos anos de 1930, o que talvez
nos venha à mente, em primeiro lugar, é a situação conturbada
em que se enco ntrava o mu ndo e a gradativa polarização entre
as potências do Eixo e o p aíses que vieram a compor o lado
dos aliados . Ne ssa circunstância mu ndial, o ambiente do
Co ntinente americano era bastante delicado.
O discurso de p osse de Franklin Ro osevelt, em 4 de março
de 1933, marcara o início da "Política de Boa Vizinhança" e, em
abril , dia 14, dia do pan-americanisn10, o presidente americano restringia a expressão às nações d o Novo Mundo. Nesses
anos , uma nova geração de políticos norte-americanos, os new
dealers, entra em cena procurando reestruturar as relações
dos Estados Unidos com os países do Hemisfério, onde, ao
menos desde a intervenção no Caribe em fins do século XIX,
os Estados Unidos vinham tendo uma imagem de intervencionista. 2 No entanto, essa boa vizinhança não é consumada
automaticamente, até porque Argentina e Brasil, possivelmente
os aliados mais importantes para seu bom funcionamento,
titubeiam no seu exercício, sendo que O primeiro tem um longo
flerte com os regimes fascistas e resiste às propostas norteamericanas de política conjunta de segurança, sob a alegação
de quebra da autonomia. De sua parte, aproveitando-se da luta
entre as potências e devido às próprias indefinições internas,
0 Brasil adota uma postura que Gerson Moura, em seu uvr_o
Autonomia na Dependência, conceituou de eqüidistâncta
, •
Pragmatica,
mantendo-se, até 1939, numa política pen dular
de aproximação com os Estados Unidos e com a Alemanha·
Ess ª po l"itica
· nao
~
· ~ o EJ11
era simples capricho ou indefiniça
·
termos comerciais,
· · por exemplo , as transações com a A1e rnanhg
72
ancoradas no sisten1a Aski (Contas Esp . .
.
ec1a1s de Estra
nge1ros
.
ostravamn
Internos)
Pagamentos
ara
1
P
se vantaJosas pa
. .
.
ra uma
econon11a descapitalizada como a brasi'l . .
eua. Estabelec'd
. .
.
1
. 0 em
. .
1934, Aski cons1st1a em contas bancárias espec1a1s
·
f
que
,, .
uncio_
navan1 con10 u1na espec1e de câmara de e
ompensaçao em q
ue,
, '.
de ambos os lados, as exportações ge
ravam credito para
.
~
importaçao, registrado en1 1narcos de e
ompensaçao Este
. ·
sisten1a nao agradava aos Estados Unidos
, que pressionava 0
. ,,
b d ,, 1
·
, .
Brasil a a an ona- o para substitui-lo por um a cord o d e comercio
.
.
mediante o uso d e moeda
estabelecido en1 _linhas liberais
'
.
. " .
3 A ·
corrente e reduçao
1ns1stencia
. de tarifas e de controles •
.
,,
a contrariar mesmo um diplomata ni·t·d
chegava
1 amente pro.
' ~
amencano como Oswaldo .Aranha , que v 1·a uma "con t ra d 1çao
entre un1 New Deal reform~sta e uma Boa Vizinhança liberal,
e procurava alertar as autoridades americanas para essa contradição que itnpedia a criação de 'aliados fortes"' .4 Essas nuanças
indicam que as negociações não eram simples e claras, pois
os interesses brasileiros não combinavam automaticamente
com nenhum dos dois lados, uma vez que, como afirma 0
historiador norte-americano Frank McCann, "se a luta americano-germânica pelo mercado brasileiro era ideológica, parece
que a ideologia ali envo lvida n ão era nem totalitarismo nem
democracia, mas n a cionali smo econômico" .5
:.>
Todavia, conforme a interpretação de Gerson Moura, antes
do alinhamento definitivo com os aliados em 1942, desde 1939 a
eqüidistância pragmática brasileira começava a ser quebrada,
pendendo para o lado norte-americano. 6 Os importantes papéis
de Oswaldo Aranha, ministro das Relações Exteriores brasileiro, e de Sumner Welles, subsecretário de Estado norteamericano, no desenrolar desse processo, são desempenhados
no contexto do ideário pan-americanista que se contrapunha,
nesse momento às correntes fascistas. Estas nutriam suas
' ao liberalismo, a proposição de un1a nova
forças com a crítica
ordem contra a dissolução moderna e a capacidade de mobilização das massas, mas, aponta Moura, possuíam também
elementos de fraqueza pela contradição insa~ável ~ntre sua
pretensão internacionalizante e sua dimensão trredutivelmente
nacional. De outro lado, o internacionalismo pregado pel.o
à soberania
.
.
.
procurava acentuar O respeito
pan-americanismo
sohdanea
regava
d e cada nação ao mesmo tempo em que P
d
a
nome
em
icano
.
'
d a d e entre os países do Continente amer
73
tra as
arneaças extern as quf.:
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d cada um
7
defesa e
lh Mundo.
rca da siruaçao mundial
vinham do Ve o . res detalhes ac~ o da "Política de Bo
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Sem entrar e d andamento
o ambiente proporcio,
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rra / e o /vel a f'1rm ar que
.
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sclarece Tulto Halperin
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do Conttn
. to recente , co d Guerra Mundial , em 1939
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d Europa e da Es~a .
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canos a
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·canos se estruturam, sendo
Enquan
h'15 ano-amen
.
.mace ssível , arquivos. eiros a f aze,. -lo , contando inclusive com
nhóis identificados com a facção
0 México um dos pn~
a emigração de estudio_s~s despaeu país de origem. Além disso,
uerra c1v1l e s
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derrota da n~ g
h. "mais decisiva ainda e a su st1tu1çao
1
para Halpenn Dong d' U 'dos como principa l refe rencial
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nunca haviam alcançado no passa d O ·
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vale destacar que, já em fin s d a d écada de 1930 e tendo
como reforço a entrada dos Estados Unidos na Seg und a Guerra,
,. houve grande incremento ,nas instituições de e ns ino norte, americanas1 do estudo das línguas espa nhola e portug uesa, e
também de outros estudos sobre os p a íses ib é ricos, como os
históricos. As Universidades criaram departamentos especializados em estudos americanos e o número de bol sas para
pesquisa e viagens a outros países do Hemisfério cresceu significativamente Ness ,,
1·,,
•
.
. ·
a epoca, a ias, surgem os chamados latinoamericanistas e os b,..ns-i/ · · t b
.
'""' ~ ianis as; asta lembrar, por exemp lo,
que Richard Morse viajou pela primeira vez a Cuba em 1940 e
~
1947
ªº
, vei~
Brasil estudar a cidade de São Paulo
sa concedida pel 0 D
americano 9 Al',,
epartamento de Estado norte. ias, seu dep ·
tiva do ambiente
l" . oimento pode ser bastante ilustra~
po ltlco, cultural e intelectual da época:
ebml
0
L..] abria-se a fase da 'P l' .
o ltlca d B
.
at,ca de aprox·
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e iniciava-se u[113
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.
imaçao que r l
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esu tou em práticas culrura1s ..
açoes entr
. 3.1"
e os Estados Unidos e os dertl t, ·
74
'países irmãos' [. ..]. Foi nessa onda qu e d epois voltou Carmem
M,ir.a nd a ~ a pa rece ~ o Ari _Barroso [... ]. Neste mesmo impulso,
va n os artistas amencanos tiveram oportunidade de ir à América
Latina exercitar a 'Boa Vizinhança' [. .. ]. Internacionalmente este era
um projeto enorme e qu e tinha alguns desdobramentos o nde
até cabiam aventuras como a que pretendia para mim [... 1.10
Do lad o brasileiro, un1 depoimento significativo do aumento
do interc â1nbio intel ec tual na s Atnéricas no contexto da
Segunda Guerra foi dado pelo próprio Sérgio Buarque, em 1954,
numa conferência en1 GenebJ~. Esclarece o historiador que
durante a úl tima Guerra Mundial, a redução de publicações
europé ias atu alizadas levou, no Brasil, a uma grande demanda
por livros ame ricanos em geral, e não apenas por livros norteamericanos. Isto inevitavelmente produziu condições favorá veis
à expansão do intercâmbio cultural com os países vizinhos. 11
Quanto à historiografia, cabe letnbrar, ainda, que já em
1918 havia sido criada a The Hispanic American Historical
Review, e que em fins da década de 1930 os estudos latinoamericanos tomam grande impulso com, por exemplo, a criação
da Fundação Hispânica na Biblioteca do Congresso norteamericano em 1939. Essa divisão de pesquisa desempenhou
um importante papel na articulação e no intercâmbio dos
historiadores do Continente.
No ambiente intelectual que se formava entre os historiadores americanos podemos destacar, então, como figuras-chave,
além de Rubens Borba de Moraes e William Berrien, editores
do Handbook of Brazilian Studies, o nome de Lewis Hanke,
que foi editor do Handbook of Latin American Studies, 12 entre
1936 e 1940, além de ter sido diretor da Fundação Hispânica
desde sua criação até 1951, quando se torna professor da
Unive rsidade do Texas, Austin .13
Existem indícios que levam a crer numa importância acentuada de Lewis Hanke nessa fase da carreira de Sérgio Buarque
de Holanda. Embora as correspondências recebidas por este atualmente depositadas no Fundo SBH do Sistema de Arquivo
da Unicamp (SIARQ) _ não permitam o esclarecimento de
quando eles vieram a se conhecer e quais os assuntos abordados em suas conversas, certa carta de Rubens Borba de
Moraes nos permite acreditar que, já sendo conhecidos, se
75
1
encont raram e1n fins de junho d e 1940, no Rio de Ja .
Pela import ância da carta, não apenas por clarificar data neira.
sobretu do por transn1itir o clima americ anista do am~,. ~as
de qu e Sérgio Buarqu e particip ava nesse 1nornento, talvez ~entt
a pena transcr evê-la:
alha
S.Paulo , 24/ 6/ 40
Sérgio,
O Lewis Hanke , editor do Handbo ok of Latin America di
.
. F
.
' retor
d a H 1spanic
oun d.at1on
esta,, aqui. em S.p au 1o e vai para
R·
O
am anhã. Ele estará aí no hotel Gloria, 4.feira. Quer muito ver ; 0
o Mario e o Meyer. Eu te peço o favor de telefona r a ele (ele d ·,
,,
eve
chegar pelas 3 horas da tarde) e leva-lo ao Instituto do Livro
V. sabe que o Hanke é hoje um dos homens mais cotados nos
Est.Un. nesses negócio s de relações com o Brasil.
Precisam os tratar bem dele.
Conto com V. para isso
Logo escreve rei + longam ente
Um abraço do
Rubens . 14
A VIAG EM AOS ESTADOS UNID OS
Em 1941, no ano seguin te à carta de Rubens Borba e ao
prováv el encont ro com Lewis Hanke, Sérgio Buarqu e, a convite
da Divisão Cultura l do Depart amento de Estado - a esta altura
encarr egada de promo ver os "valore s pan-am ericano s" - ,
parte em viagem aos Estado s Unidos , lá chegan do em junho,
na compa nhia de Luis Jardim . An1bos foram como represen~
tantes do Ministé rio da Educaç ão, aquele como chefe da Seção
de Public ações do Institu to Nacion al do Livro, e este como
funcio nário do Serviço de Patrim ônio Históri co e Artí 5cico
Nacion al (SPHAN). Sérgio Buarqu e perma neceu nos ESrad:
Unidos em torno de três meses, passan do por Nova Yot '
Washin gton, Wyom ing e Chicag o. 15
Em Larami e (Wyom ing), segund o Lewis Hanke P1ªnejara,
sil
,, .
,, . do Bra
Serg10 Buarqu e proferi u confer ência sobre h.1stona
f ·o
, ., Este oi
para os alunos do curso intensi vo de portug ues.
76
1
. i·ro de u1na série ,,de cursos de verão organizados por
pnme
. ·en que lecionava ltngua portuguesa e procurava "estabeBet n '
.
b .l . "
.
r um atnb1ente ras1 eira convidando escritores e intelece
.
.
· ·
16 ,.
,.
Iectuais do Bra~1l Pª,1 a part1c1p_ar . - a1 entra Sergio Buarque.
Em agosto, o historiador bras1le1ro participou de debates na
Universidade de Chicago sobre relações políticas e econômicas interan1ericanas, compondo uma mesa-redonda sobre
,. ·
L atina.
·
17
econon1ia da Amenca
Não estão disponíveis n1uitas outras infarmações sobre as
atividades de Sérgio Buarque nos Estados Unidos, mas, ainda
assim, é possível encontrar indícios da proximidade estabelecida
com Lewis Hanke. É interessante que, nove anos após sua
viagen1, em artigo de jornal, Sérgio Buarque ainda se reporta a
"certa conversa que, em 1941, mantive na Library of Congress,
em Washington, com ilustre pesquisador norte-americano, bem
versado em coisas da América Latina". Com o que já vimos
sobre Hanke, não é preciso muito esforço para concluir quem
era o "ilustre pesquisador" e, embora o assunto da "conversa"
traga à tona um outro conjunto de questões, vale a pena transcrevê-la por demonstrar a mútua preocupação com a atividade
do historiador. Segundo conta Sérgio Buarque:
O mal dos scholars brasileiros - dizia-me ele - é que são, na
sua quase totalidade, homens incompletos. Assim é que na obra de
A [... ] é profusa a documentação e perfeitamente nula a imaginação. Em B, ao contrário, a imaginação é devoradora e consome
toda documentação. Que imenso historiador não teriam vocês
no dia em que pudessem associar A e B numa só pessoa. 18
Podemos saber também que Hanke, como diretor da Fundação
Hispânica, permitiu e auxiliou Sérgio Buarque na pesquisa
aos documentos da casa. Lembre-se, por exen1plo, que, após
sua viagem, o historiador brasileiro escreveu um artigo sobre
ª "Persistência da Lavoura de Tipo Predatório" - o qual foi
apenso como "nota ao Capítulo II" de Raízes do Brasil que tem como um dos textos-base a obra de R. Cleary - um
norte-americano que foi médico em Lajes, Santa Catarina,
durante as últimas décadas da monarquia. Sérgio Buarque
comenta no texto que esta obra se encontrava "ainda inédita"
e que seus "manuscritos se encontram na Library of Congress,
em Washington"_ 19 Assumindo que Sérgio Buarque escreveu
77
sse texto entre 1936 e 1948 - entre a prim eira e a segu
.
ediçã o de Raíz es do Bra sil-, pode mos d e d uztr
que reat ·Oda
.
.
.
tzou
sua pesq uisa na v1agen1 de 1941 e, pode -se suspe itar,
com
auxíl io de Hank e. Esta últin1a susp eita ganh a mais força 0
,, . B
Ievarn1os em conta a form a pe 1a qua 1 Serg10
uarq ue se ref se
aos "n1anuscritos" e1n carta escri ta de Nova York, em 18 ere
de .
julho de 1941 , na qual aco nselh a o amig o Paul o Duarte: "Se
for a Wash ingto n peça ao Hank e para lhe most rar na seçà
,,
dos manu scrit os o que há sobr e o Brasil. E pouc o, mas deo
inter esse. "20
O pont o que é nece ssári o subli nhar diz respe ito à possibi~
lidad e dess a visita aos Estad os Unid os ter perm itido a Sérgio
Buar que um cont ato mais cont inua do com a historiografia
amer ican a num mom ento em que esta se preo cupa va em
prod uzir refle xões sobr e os paíse s latin o-am erica nos.
e
HIS TÓR IA CONTINENTAL
O diálo go com Lewis Hank e pode ter sido impo rtant e nesse
senti do, pois ele era, então , uma espé cie de articu lador do que
pode ríam os cons idera r como um gran de proje to de História
Com um das Amé ricas, que se prop unha a estud ar o Novo
Mun do enfat izand o as seme lhan ças e as expe riênc ias compartilha das por seus paíse s, ao cont rário das inter preta ções mais
corre ntes que carre gava m a tinta nas difer ença s e mesmo nos
antag onism os. 21 Proc uran do expli car as Amé ricas não a partir
de opos ições , mas ressa ltand o suas carac terís ticas comuns,
esse objet ivo não era desv incu lado do clim a de comb ate ao
isola cion ismo norte -ame rican o. Entre os intel ectua is envolvido s no deba te, os laços entre o proje to de reinterpretação
do Cont inent e e o reali nham ento político eram reconhecidos. Em
certo s mom ento s, para a defe sa ou para o ataq ue ao projeto,
tais laços eram expli citad os. 22
De todo modo , pode mos dizer que o cerne do projeto consi stia
na busc a de uma alter nativ a para a opos ição corre nte entre ª
anglo -Am érica e a ibero -Am érica , em que a prim eira representa va o mod erno , enqu anto a segu nda o tradi ciona l e .0
atras o. Em term os lógic os, duas alter nativ as eram P0551"veis
.
. -ao dessa
para a rev1s
opos ição. Uma era a busc a de uma d'ina"'nuca
78
con1um na histó ria. do Con tine.nte '. o que corr es pon d e ao
que
.
ne,
conf
orn1
e
vim
os
no
item
d
.
d
Rtc 11 ard Morse defi
,
.
_
.
.
ois
o
Cap1
com
o
expl
icaçao situacional; ou ao que pod
tu lo I,
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_
emos c amar
-ame
rican
istno
nao
exat
ame
nte
naqu
ele
senti'd t
de
.,. .
.
.
evillia no , n1as no de un1a ;og1 ca d1nam1zadora próp riao aoocqu
Novo
_Mundo , a qual pod e. ate a~o ntar para a dem ocra tizaç ão
e a
igualização sem que is~o SeJa o que nece ssar iame nte a cara
cterize. A outr a alter nati va para a aten uaçã o do anta goni
smo
entre as Atné ricas seria a revi são da expl icaç ão que Mor
se
chamou de gené tica. Isto é, perm anec er abor dand o a histó
ria
das An1éricas a part ir dos seus lega dos euro peus , mati zand
o,
enta
nto,
suas dife renç as. Tal alter nativ a envolveria, princi110
palmente, u1na rele itura da trad ição ibér ica que apon tass
e
para sua com pati bilid ade com a dem ocra cia, o conh ecim
ento
científico e crité rios de justiça, enfim , que dem onst rass e
sua
adeq uaçã o ao mun do em proc esso de ame rican izaç ão.
Não é exag ero afirm ar que as prin cipa is cont ribu içõe s dos
histo riado res inte ress ados na rein terp reta ção do Con tinen
te
ficaram, efet ivam ente , no âmb ito da reto mad a da explicaç
ão
genética em nov as base s 1 reav alian do os lega dos euro peus
tran spor tado s ao Nov o Mun do. O mex ican o Silvio Zava
la,
com seu La Filosofía Política en la Conquista de Amé rica
,
publ icad o em 1947, e o próp rio Lewis Han ke, com La Luch
a
por la Justicia en la Con quis ta de Amé rica , de 1949, pod em
ser dest acad os ness a vert ente . 23
Sem expl orar os argu men tos espe cífic os de cada um, cabe
salientar que amb os prom ovem uma relei tura do iber ismo
focalizando os elem ento s pres ente s na filosofia esco lásti
ca e
no pens ame nto dos relig ioso s espa nhó is que sign ifiqu em
a
afirmação dos idea is de justi ça e igua ldad e, valo rizad os
no
mun do mod erno . A prob lem átic a trata da pelo s auto res
fica
clara, por exem plo, nas pala vras de Silvio Zavala, ao falar
do
objetivo do seu livro :
Tem -se pens ado que a idéia de liber dade na~c : _na Am_é
rica
Espa nhol a com a vitór ia que obtiv eram os parti dano s da
m~e.. .a sobr
. b n·0 passa do colonial.
pendenc1
e os defe nsor es d o som
. .
_
N0 entan to, acred itam os desc o b .
,
es
de
uma
mclm
açao
nr as raiz
.. .
f avora, vel a esta prerr ogat
d
sde
a
ocorr
enc1
a do
iva hum ana e
·
.
d
Primeiro cont ato do Novo Mun o com a cultu ra da Euro pa.
79
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situacional na medida em ~ue - embora concebida especificaao
.
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.
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. contrário de sa 1tentar
os
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puritanos
e
1ndiv1duahstas
vindos
da
Europa
f
.
va1o r
,,
, en attzava
o que havia de novo no pais graças à sua dinâmica particular. 2s
Devido à centralidade da obra de Turner na historiografia
norte-americana e c~n10 ~rete~do focalizar O diálogo de Sérgio
Buarque com esta historiografia - sej a mais diretamente com
a tese da fronteira, seja com outros autores e abordagens -,
vale a pena determo-nos naquela possibilidade de aplicação
da tese da fronteira na história do Continente americano.
Assim, avisando que a ela retornarei com mais atenção no
Capítulo IV, apresento a seguir um resumo desta tese e do
tratamento que recebeu entre os historiadores dedicados ao
Novo Mundo.
Até a formulação da tese de Frederick Turner, de maneira
geral, predominava na historiografia americana uma explicação
genética. Nesta linha, os Estados Unidos teriam sido o resultado do estabelecimento de valo res puritanos e individualistas
em uma terra nova, sem passado feudal. O Novo Continente
corresponderia a uma folha em b ranco a ser preenchida.
Opondo-se a tal concepção, Turner imprimiu uma dinâmica à
nova terra, e defendeu que a singularidade americana era
fruto da fronteira. A terra livre nos EUA teria tido a função de
uma válvula de segurança para os conflitos sociais, permitindo
que , na medida em que as cidades e vilas se saturassem, os
indivíduos tivessem a oportunidade de partir para uma região
não desbravada, e, basicamente por seus próprios esforços,
constituíssem uma nova sociedade. Esse processo criava
indivíduos igualitários, com iniciativa e amantes da liberdade.
Dessa maneira a democracia americana teria seu fundan1 ento
'
mais na dinâmica
da fronteira do que no puritanismo e nos
valores trazidos da Europa.
O que cabe ressaltar aqui é que a tese da fronteira continha
uma dinâmica de "americanização" dos traços europeus. De
forma muito vivaz , Turner considera que, na fronteira, ª natureza domina o adventício fazendo com que O europeu se
.
'
ob ngu
.
. 1n
· d"genas
1
e a a d otar maneiras
e utens1..110s
· Somente em
um se gun d o momento, apos
,, a adaptaçao
~
ao novo ambiente. e
ao nat·ivo, o colonizador poderia
. reart1cu
• lar se u legado anterior,
81
adequando-o então às novas condições de vida . Os va l
europeus são, nesse processo, transformados . Por isso ores'
· e., a 1m
· h a d e mais rápid
' nas_
pa 1avras d e T urner, " a f ronteira
29
efe Uva americanizaç ão ".
ae
Fora do círculo dos pesquisadore s e nvo lvidos na hist, .
ona
con1utn das An1éricas, o trabalho de Turner vinha sofrendo u
série de críticas. Richard Hofstadter observa a simultaneida~ª
do surgimento desses questionamen tos e o estabelecimento d~
New D eal. 30 Algumas d essas críticas irão duvidar da consistê ncia da tese, 31 enquanto outras negarão seu valor explicativo
n1as provavel mente a posição dominante em relação à hipó~
tese da fronteira é resumida pela visão de James Malin em texto
de 1943: "un1a interpretação isolacionista em uma era internacion al". 32 As opiniões originadas dentro do círculo de historiadores do Continente não parecem ter ficado muito distantes
desta posição. Ainda assim, vale a pena segui-las de forma
um pouco mais detida e verificar por quê, neste caso, não se
optou por estender a tese para outras regiões do Continente.
Pode-se começar pelo texto "The Epic of Greater America",
conferência proferida por Herbert Eugene Bolton à American
Historical Association ao assumir sua presidência, em 1932,
p ois é considerada por Lewis Hanke como um marco na "idéia
de que as Américas - do Norte e do Sul - compartilharam
uma exp eriência histórica comum". 33 Esta tentativa de estabelecer em marcos mais claros a história em comum pode ser
considerada como estando dentro do círculo delimitado pelo
que temos chamado explicação situacional, uma vez que
procura ressaltar os pontos compartilhado s pelos países no
decorrer de sua aventura no Continente.
Para Bo lton, a "unidade essencial do Hemisfé rio Ocidental
foi revelada" p ela Primeira Guerra Mundial. Nela, as nações
americanas, "do extremo Norte ao extremo Sul", ou estiveram
a liadas ou permaneceram neutras, demonstrando "enfática
solida ried ade " e como que lançando luz ao seu passado em
comum, à existência de uma unidade anterior.34 Este passado
em comum merece agora ser desvendado. Escreve Bolton que
nossos historiadores nacionais , especialmente nos Estados Unido~,
, . amert·
são inclinados a escrever dessas fases amplas da h 1.ston
a
_
6
cana como se fossem aplicáveis apenas a um país. Meu pro~as
sito é, por meio de alguns exemplos-chave , sugerir que e
82
S 'ão •
na verdade , fases comuns à maio .
1
·
, .
cidental
como um todo; que cada histo' ._parte d o H em1•sfeno
O
1oca) te ~
•
fic ado mais cl aro quando estudad o à lu z na
d
ra se u s1gni'd
.
e outras · e que
.
_,
d o que tem s1 o escrito da história de e a d-a naçao
muno
,
ponta do fio de um grande novelo. 3s
·
e ape nas a
r
Nessa linha , Bolton passa a explora r as simi'la 'd d
. ., .
,,
n a es entre
rocessos h1stonc os dos pa1ses a1ne ricanos busca d
..
P
. '" .
. . ,
n
midades das suas expe11e nc1as colon1a1s nas lutas o as proxi. ,, .
.
pe 1a d e 11-.
l11itação de tern tono,
. ., .nas conqu istas da indepen d"e nc1.a e na
ocu paçã o dos ternton os.
Segund o observ a Hanke, "a pritneir a reação ao 'The E ic
. , f .
.
p
of Greater An1enc a 01 a apatia e o silêncio " _36 Em outras
palavras, Bolton não obteve sucesso na sugestã o de element os
explicativos que pudess em efetiva r um program a de pesquis a
da história do Contin ente. Em parte, ao menos, esta recepçã o
pouco caloros a pode se dever à fa lta de foco na conferê ncia
de Bolton . Embor a propon ha pontos de compar ação entre
eventos históric os de · diferen tes países da Améric a e argumente que um lança luz sobre o outro, não há propria mente
a indicaç ão de alguma dinâmi ca que pudess e sugerir uma
chave explica tiva para a história das Améric as. Há, sim, o
incentivo para o estudo de temas específicos desde o ponto de
vista do Hemisfério Ociden tal - e não a partir de países -,
como o das missõe s cristãs, das política s indígen as, dos efeitos
das culturas indígen as sobre as europé ias e, dentre outros
mais, da "impor tância da frontei ra em termos das Améric as".37
Contudo, neste último caso, existem poucas demarc ações e
sugestões para a aplicaç ão da tese de Turner em diferen tes
partes do Contin ente.
Mas, dois outros autores , um anterio r a Bolton e outro
posterior, procur am levar mais adiante a mesma sugeS tã 0 de
aplicaçã o da tese da fronteir a: o peru a no Víctor Be laú nd e, já
em 1923 com seu texto "The Frontie r in Hispan ic America" 33
e, na dé~ada de 1950, Silvio Zavala, citado há pouco , e m "T h e
Frontiers of Hispan ic Americ a".
Belaúnd e escreve "The Frontie r in Hispan ic America" quase
co
mo um manife sto de estabel ecimen to d e " no vas bases" p ara
.
a "S •
1
·
d
a
"idéia
gema
O
ociolog ia do Contin ente" , que, segum
.
do Profess or Turner " e enfatiz ando a idéia de fr~n~e 1~ª -,,
antes
1
.
que os tradicio nais pontos de v 1st
ª de "raça ' e ima ,
83
"religião " e "siste ma de gov_erno no re gi~e ~olonial,, . . . ._
lançaria um "novo ponto de vista na verdadeira 1nterpret . . ,
da América hispânica". Isto não significa que o autor Per:Çao
. ap 1·1cavel
,,
a tocta
p arta do suposto de que a tese d e Turner sep
a Amé rica e que em outras parte s se reproduzam proces.
sos
'
.
de o cupação da terra se me lh antes aos ocorndos nos Estad
,, . d'f
Un idos . Ao contrá rio . No e nta nto, a proprta
1 erença os
lança r luz sobre a dinâ n1ica d e o cup ação e controle de terras
p o deria , e1n ce rtos caso s d a América Ibé ri ca , sugerir urn~
explicação p ara "os obstáculos no caminho da democracia,,
n1ais plausível do que aquelas que ap e lam p ara as "raças aborígenes" ou à "e du cação espanhola " .39
ªºº
,
' ªº
Para e ssa ope racionalização do conceito de fronteira,
Be laú nde ale rta que o mesmo possui uma dimensão quantitativa e ta1nbém uma qualitativa. Isto é, para que a dinâmica
descrita por Turner ocorra, a existência de terras livres é neces- ·
sária, poré m não suficiente, pois
[. .. ] o fator fronteira n ã o é constitu ído exclusivamente do
elemento m aterial do te rritório , mas principalmente daquele
lento processo de assimilação d e n ovas terras que a ação civilizadora - q u e se consolida n e las graças à sua situação em
relação ao núcleo antigo d e n acio nalidade e graças, também,
a sua disponibilidade para p rodução agrícola e trabalho humano
- oferece. 40
Partindo desse ponto de vista o autor realiza um levantamento da situação dos países da América ibérica e, numa
comparação geográfica geral entre as Américas do Norte e do
Sul, contrasta o Vale do Mississipi com o do Amazonas e
também os Montes Alleghanies com a Cordilheira dos Andes.
Observa que o território central e o do norte do Mississipi
eram disponíveis para a agricultura e facilmente acessíveis
para os centros habitados, cujas populações acabavam encontrando nos Alleghanies caminhos para o Oeste, enqu anto,
por outro lado, os territórios do Vale do Amazonas consi 5riarn
em flore st as tropicais que não poderiam ser convertidas ern
terra arável , além do acesso a eles a partir da região dos And es
ser mu 1·t 0 d'f"
ara
1 1 ·1 41
c1 • Essa grande caracterização é suficiente P. ,
o autor apo n tar a d'f'
ld
d' "0110
t 1cu ade do funcionamento da ma
da fronteira nos países andinos, como Colômbia, Equador,
Peru e Bolívia.
84
argun1ento , como disse, não se esgot
.
_Mas 0
b ,,
a nas dtferenç
-" f cas envolve tatn em a forma pela qu 1
as
1 ,
d
,, .
,,
a as terras livre
g_eograropri
adas. O caso o Mex1co e exemplar
.
s
sao ap
d
. ,, . ,,
, pois em torno
,. s quintos e seu terntono e composto de t
de tre
_
_
erras capazes
similaçao, no entanto, essa porçao "[ ] f .
.
de as..
.
. . . _
.. • 01 apropriada
cm sua maior parte,d ou por 1nst1tu1çoes eclesiást'1cas ou por'
. um
grat,des senhores os ten1pos coloniais
.
, donde surgiu
. -111 e de grandes fazendas, e , praticamente a f lt
1
1eg
.
,
a a, ou ao
os
escassez,
de
te
rra
livre
para
colono"
'
O
me n ,
. . ,
•42 p or esse
ivo , os 1nd1v1duos. .da
classe média não ti·veram em
111 Ot
.
seu horizonte de poss1b1ltdades o deslocamento para t
~
. d d' ~
erras
livres, e, daí, a ausenc1a e 1namica da fronteira e de suas
"du as grandes derivações", o "individualismo" e a "igualdade
de oportunidades ".
Além de terras assimiláveis e não controladas, para se assemelhar ao caso dos Estados Unidos sua ocupação deve ocorrer
num determinado ritmo, pois é necessário que O processo
seja lento, ou talvez sej a me lhor .dizer, com uma relação orgânica com os antigos núcle o s de povoamento, para que assim
se estabeleça uma ação civilizado ra. Segundo Belaúnde, isto já
não ocorreu em outras partes do Continente desde os primeiros
séculos de colonização, uma vez que a "América Latina apresenta
o princípio da fronteira no brilhante e quase miraculoso começo
da descoberta e da conquis ta, mas não em sua forma lenta e
efetiva de avanço assimilador e co!onização progressiva" .43
No mesmo ponto repousa u m dos principais motivos, em
tempos mais recentes , p ara o insucesso de efetivação de uma
experiência similar à no rte-americana numa região do Continente que guardava maiores condições para realizá-la, as terras
da região do rio da Prata e do sul do Brasil. Dentre outras
coisas, o malogro é representado pela figura do gaúcho, pois
enquanto os pioneiros norte-americanos são a guarda avançada
dos colonizadores que imediatamente os seguem, "o gaúcho
não avança a partir de centros habitados, ele é um produto
da planície em si ".44
Através da argumentação do autor é possível reforçar que,
apesar de propor uma nova Sociologia do Continente suS tentada na tese de Turner isto
.
. ser re ali·zado ' na sua
po d ena
visão , mais
• por contraste' que por seme lh anç as , posto que o
Padrã 0 d
.
ão se reproduz
e ocupação de terras norte-americano
n
em outras regiões do Novo Mundo.
85
-,
Apesar de Víctor Belaúnd e publicar seu texto ern 192
3
antes, portanto , da configur ação mais clara do contexto in ,
lectual a que tenho remonta do, sua avaliação parece paract~e~
tg.
p
Zavala
Silvio
s.
seguinte
mática da que vinga nos anos
exemplo , autor interessa do na história com um das Arné~ica~r
e m 1neados dos anos de 1950, concl ui se u texto "The Frontier~
o f Hi sp anic Am e ric a" resgatan do as inferê ncias do autor
peruano , e escreve quase como fecho do artigo: "O qu e
Belaúnd e enfatiza é a diversid ade da situação e concl ui que
a tese de Turner não se a plica. "45
Val e repetir que se rá preciso retom ar com mais vagar
a tese de Tu rner, e já se pode adiantar qu e necessitaremos
enfrenta r dois problen1as vislumbr ados no texto de Belaúnde:
o do tempo e o da política. Pode-se pergunta r, em primeiro
lugar, até que ponto a experiên cia dos Estados Unidos não
depende u do moment o em que ela ocorreu? Tendo seu maior
n1on1ento de expansã o entre as décadas de 20 e 60 do século
passado , a fronteira american a e suas conseqü ências podem
estar vinculad as à tecnologia da época. Segundo, até que ponto
a tese de Turner pode ser válida nun1 contexto em que a fronteira é controla da? Enquant o todo o Capítulo IV será dedicado
ao trabalho de Turner, em um moment o oportuno , no item
dois do Capítulo V, retornar emos a essas questões interpelando a obra de Sérgio Buarque para percebe r de que modo
estas aparece m em seus textos.
Por enquant o, podemo s sintetiza r dizendo que o contexto
intelectu al do qual Sérgio Buarque participa após a primeira
edição de Raízes do Brasil envolvia uma ampla discussão sobre
o Novo Mundo, o que no meio historiog ráfico americano se
refletia no plano de se interpre tar a história do Continente
e nfatizan do menos as diferenç as e oposiçõ es do que as experiências comuns aos seus países. Para manterm os os mesmos
termos já usados anterior mente, diríamos que a preocupaçã~
central passava pela expansã o do process o de americanização - aproxim ado por Werneck Vianna da idéia de democratizaç ão em Tocquev ille -, 46 especialn 1ente no que concern~
aos países america nos com un1 legado ibérico. Vimos que'
/ ·cas
'a
Amert
das
comum
história
a
r
reavalia
se
principa l via para
foi uma releitura desta tradição ibérica, apontan do para;:;.
compati bilidade com a expansã o da democra cia e co~. ª ~o urn
nização. A via explicat iva situacio nal - que significaria
86
. nismo no sentido de dinâmica continental _
_
menca
nao
a
inuito sucesso. Mesmo uma tese conhecida con , d
.
.
10 a e
não foi be1n aceita pelos historiadores que a c
.
Turner
,.
..
." .
,
ons1. 1 inaplicavel as expenenc1as de colonização do N
dera1an
ovo
empreendidas
pelos
hispâ
nicos,
sendo
tomada
dessa
Mun do
.
_
,
or
uma
1nterpretaçao
que
ressalta
a
excepcionalia
form , P
.
_
. .
de
norte-americana,
nao
contribuindo para uma história
da
,. .
com Un1 das Amencas .
0 bteve
Com O quadro do d eba te esboçado, podemos agora focalizar de que maneira Sérgio Buarque nele se posicionou . Com
base em cartas e artigos de jornal podemos suge rir que esse
debate foi importante para que ele repensasse os caminhos
de sua explicação historiográfica do Brasil. Vejamos, então ,
qual foi a postura particular do autor brasileiro diante das
questões e respostas nutridas pela reflexão produzida na época
em torno da história das Américas.
A FRONTEIRA NO BRASIL
Assim que retorna dos Estados Unidos, Sérgio Buarque
escreve "Considerações sobre o Americanismo", artigo publicado no jornal do Co mmércio em 28 de setembro de 1941, no
qual explicita a importância de sua viagem que durou apenas
"algumas semanas". Em primeiro lugar, assinala a crescente
influência que aquele país vem assumindo sobre o Continente,
a qual deixa de ser apenas econômica e política para se tornar
também cultural. Em seguida lembra que, entre a intelectualidade nacional, o Brasil é freqüentemente pensado em oposição
aos Estados Unidos e, na mesma medida, aquela influência é
avaliada ou como absolutamente perigosa, ou salutar - em
todo caso, a avaliação é realizada no plano do absoluto.
Na realidade, esse tipo de visão é advindo da dualidade
segundo a qual, diz o autor, "lusismo e americanismo pare~em-n~s freqüentemente duas noções incompatíveis e. ~nti:e
s quais é indispensável optar" .47 A partir de sua expenenc1a
recente Sérgio Buarque aprende a olhar com desconfiança
esta dualidade, pois, observa, "na viagem de algumas se_manas
que acab d
·
e realizar à América do Narte, acostumei-me a
1
JU gar melhor semelhante opinião" .48
°
87
Em suma, Sérgio Buarq ue de Holan da se alinh a com a pri
cipal preoc upaçã o então prese nte entre os histo riado res dnAméricas. Antes de ressal tar as difere nças entre o Brasil e as
· preci·so ana 1·isar
Estados Uni'd os, sena
aque 1as carac teríst i os
.,
. ~ b
d
que os paise
s comp arti'lh am. As d escnç
0 cas
. d
" oes asea as em Po~
sições eram qua d ros pmta os com traço s gross os", que mais.
serviam para o desca nso do intele cto do que para um efet·lVo
equac ionam ento dos nosso s dilem as e da nossa história. 0
autor refere -se, então , a Lewis Hank e - que, como já vimos
foi um propa gador dos estud os acerc a da histó ria comu m da'
Américas - afirm ando que
s
todas essas considerações não servem para atenu ar o fato real da
existência de um abism o entre os Estado s Unido s e a América
Latina. Apenas, conforme notou o Lewis Hanke em artigo recente,
esse abismo é feito princi palme nte de incom preen sões mútuas,
e para vencê- lo é precis o antes de tudo explo rar cautelosamente o terreno, exami ná-lo sem ponto s de vista precon cebido s
e definitivos, sonda r os obstác ulos reais ou ilusóri os, e verificar
até onde poder ão resistir a um esforç o bem dirigid o. 49
Aquela dualidade entre lusismo e an1eri canis mo deve-se, em
grand e parte, a essas incom preen sões mútu as , e, por essa via,
tanto os defen sores de um lado quan to os de outro constroem
seus argum entos sobre carica turas enge nhos as delas resultantes. Segun do as palav ras de Sérgi o Buar que,
[. .. ] o que [. .. ] preval ece nos quadr os da vida norte- americ ana
fornec idos pelos notici ários dos jornai s , pelos cinem as, por
certos livros, por certos propa gandis tas, bem ou mal dispostos,
são decidi damen te as cores gritan tes. Com esse mund o absurdo
e inuma no, onde o excepcional se fez regra, dificil mente pode ser
concebida qualq uer composição basea da em termos de reciprocidade e igualdade. 50 (Ênfas es acresc entada s)
Com um quadr o desse s em mente , ''[. .. ] ou devem os aceitar
em bloco toda essa civilização, assim reduz ida a seus ge ta 5
5
mais frené ticos - e nesse caso terem os de renun ciar a nós
mesmos, à nossa indiv idual idade - , ou deve mos rejeitá-la
para viver" .51 Assim, de um lado, os amer icanis tas consideram
que devem os aceita r esta civilização norte -ame rican a e, levando-se em consi deraç ão a simp licida de na const rução do
88
. seguido, "não admira" a Sérgio Buarque que "L .. ]
l as el
·
~
•
.
de uma aproxtmaçao maior com os Estados
111 ode o 'dártOS
5
o partt5 ão rec rutados insistentemente. entre almas elementares
. ,
vnidos
; .5 apenas ao apelo do superlativo e do grandiloqüente" ."
'b .
.
tro
lado
os
1
enstas,
para
os
quais
o mesmo
'
.
; orou
grossos da vida norte-ameriE ha,
P core
. s vivas e traços
. de
.
.
qu adto rve d e f'gura
simetricamente
oposta
para
a
afirmação
1
.
cana se
ideal de latinidade americana :
de um vago
1s1ve1
set
Para esses não só existe um abismo insondável entre os Estados
Unidos e nossa América, como é preciso que esse abismo exista
sem O que pode perecer a imagem tão carinhosamente forjada:
Assim O materialismo, o utilitarismo, o dinamismo norte-americanos, com todos os aspectos negativos e detestáveis que costuma
exibir, têm verdadeiramente uma função precípua, a de explicar
em nós, americanos de estilo latino, o culto acendrado das
virtudes contrárias, de que desejaríamos deter o privilégio. Nossa
confiança em nós mesmos necessita dessas muletas para não
se abalar, como um Ariel q u e necessitasse de Caliban para nele
ter sua justificação. É difícil não perceber que a própria ênfase
com que afirmamo s esse antagonismo constitui muitas vezes
uma confissão mal velada de penúria e fraqueza. 53
Todavia, a dualidade entre este grupo e aquele dos americanistas não está calcada apenas na imagem caricatural dos
Estados Unidos, mas também sobre a concepção segundo a
qual o Brasil é fruto tão-somente das tradições e instituições
lusitanas, das quais seria herdeiro e guardião. E "[ .. .] a circunstância de sermos uma nação americana parece afetar-nos como
~m fato acidental, cujas conseqüências podemos transformar
a vontade" 54
De fato, com essa concepção o terreno em que é travada
'
a ct·
tsputa entre americanistas e iberistas parece completar-se,
uma vez que, se tínhamos a figura dos Estados Unidos como
repres
· 1·
e
d
entante indisputável do utilitarismo do matena ismo
0 dinam·
'
h d as atrib . ..
ismo, agora temos o Brasil dese1npen an
Utçoes e
,, .
•
ns restaria
at . . ontranas. Com a fixação das duas 1mage ,
ri 6u1r val
,,
.
argumentos
e
or a cada uma delas e dai, deduztr os
rn Prol
'
· ano ou
da
ou do aprendizado do modelo norte-amenc
'
rnanut
~
d'ções
menos
Prár
ençao das autênticas mas vagas, tra 1
icas e
. .
,
mais idealistas. 55
°
.
89
ia sobre certas in
Assin1, para alcan çar uma "vitór
co111
.
,,
d
"
"
,,
preen sões recipr ocas que nos ara maior es energ ia ,
s e
enfren tar nosso sb própr ios dile rnas"
melho res instrun1entos para
.
.
.
a lén1 de un1 estu d o mais minu cioso so re a América ,
·do
olhar para O Brasu
sário tainbé m um novo
Norte ' faz -se neces
.
.
que não o consi dere result ado exclu sivo do legad o ibérico
leve e111 conta "[ ... ] que, apesa r de tudo quant o nos disting e
· d a restam zonas de coi·n ue
,, · a, ain
.
CJ,
-saxo- es d a A- menc
dos anolo
b
dênci a nascid as já nas prin1e iras é pocas da colon ização e que
56
o ten1po não apago u".
Enfati zando este aspec to, Sérgio Buarq ue se aprox ima do que
ten1os cham ado explic ação situac ional e, e m vez de investi r
n a releitu ra do legad o ibéric o - abrin do mão do caminho
segui do, entre outros , por Lewis Hank e em seu La Lucha por
la Justic ia en la Conqu ista de Amér ica - , alerta para uma
situaç ão comu m ao Brasil e aos Estad os Unido s, a experiência
da fronte ira tal como defini da por Turne r:
Porque em nosso Contin ente, não obstan te todas as diversidades
étnicas e cultura is, existem de norte a sul feições sociais com
raízes idêntic as, gerada s da aplicaç ão de velhas instituições e
velhas idéias a uma terra nova e livre. Nesse sentido pode-se
mesmo dizer que, como o Oeste do histori ador Freder ick Jackson
Turner, a Améric a é antes uma forma de socied ade do que
uma área geográ fica. 57
O trecho a que Sérgio se refere está em um texto de Turner
intitul ado "The Probl em of the West", publi cado originalmente
em 1896 na Atlan tic Monthly. Litera lment e: "O Oeste é, no
fundo , uma forma de socied ade antes que uma área. É o termo
aplica do à região cujas condi ções sociai s result am da aplicação
de instituições e idéias mais velha s às influê ncias transformado ras da terra livre. "58 Esse trecho deixa claro em que
medid a a fronte ira é um enfoq ue situac ional, pois enquanto
a visão genéti ca consid era o Novo Mund o quase como se fosse
uma folha em branc o onde são impre ssos os valore s transos
ceânic os, aqui o Novo Mund o, atravé s de suas terras livre ,
possu i influê ncias trans forma doras sobre eles.
Em outras palav ras, ao se referi r a Turne r, Sérgio Buarq~e
apont a para a possi bilida de de se aplica r uma explicaçao
situac ional na interp retaçã o da histór ia brasil eira, uma chave
que ressal ta a ameri caniz ação no sentid o contin ental. Dessa
90
,....
.....
. uma possibilidade explicativa, qu
.
e parece u d esin.
'
. d os h istonadores
neira, à maiona
d as A ,, .
ma
mencas . .
.
. ssante
como
é considerada instigante por Sé .
ceie
rg10 Buarqu e s9
•i vimos -,
. que seja possível e frutífe ro ler os text os que s,, · .
l
c reJO
. · ergio
e publica na décad a de 1940 sobre 0
movime nto
Buarqu
·rante e as monçoe s com e ssa discussão em mente
ba nd et
·
.
operac·
como se, nesses trabalhos , estivesse
tona 11zando
.
.
.
Quase
.
to de vista manife stado no artigo d e 1·ornal "C ons1de,,
.
.·
0 pon
~ s sobre o A1ne11can1sm o .
raçoe
Não se pode , contudo, cair no exage ro de afirmar qu e foi
raças à valorização d a tese da fronteira qu e Sérgio Buar ue
q
d a conquista do Oeste
·
gdescobriu as poss1'b'l
1 1'd a d es exp 1·1cat1vas
ara a história do Brasil. Não se deve esquecer, por exemplo
· · uma b em f orn1a d a tradição de estudos'
p
que então já existia
sobre os bandeirantes , iniciada por Capistrano de Abreu, autor
pelo qual , aliás , Sérgio Bua rque nutria grande admiração.
Lembre-se do depoime n to d e José Honório Rodrigues conce: ·
dido em 1982 para a Hispanic American Historical Review, no
qual o historiador carioca comenta sua convivência com Sérgio
Buarque e conta que "quando voltei dos Estados Unidos fui
trabalhar com Sérgio Buarque de H olanda, diretor da seção
de publicações do Instituto Nacional do Livro, cujo diretor era
Augusto Meyer. [. .. ] De Sérgio a prendi a ser um admirador
incondicional de Ca pistrano de Abreu". 60
Aliás, antes de sua viagem aos Estados Unidos e de ter
tido um contato tão direto com o debate em torno da história
comum das Américas, Sérgio Buarque já havia publicado um
artigo sobre os bandeirantes na Revista do Brasil. O breve
artigo de sete páginas, intitulado "Caminhos e Fronteiras", f~i
publicado em março de 1939 e 1·ustan1ente devido sua brevidªde, pode-se pensar que o autor' estava começando a se de d'icar
nd
assunto. 61 Outra indicação disso é o fato de que, qua
Sergio Buarque foi chamado para escrever no Ha ndbook. of
Brazilian Studies conforme con1entei inicialmente, 0 convite
era para redigir ~ capítulo de história colonial, te nd0 ficado
ª Parte so bre os bandeirantes a cargo d e Al'ice c anabrava.
Sérgio Buarque
.
Na ve d d ,, algo secundário descobrir
.
se
r a e, e
d Bande iras a
começo d
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Part· u e fato a interessar-se pelo tema as
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so br e o tem a, 1 '101 1 çôes , foi es cri to co m a 1n
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um
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s
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1
os
Un id os, no qu al recebeu
sen ta o a
,.
· l M
mençao
110111•osa - 111 as nã o O pre mi.o pt.·mc1pc
1 . onço~es foi
pu bli ca do em 1945, mas Sérgi
o vin ha tra ba lh a~ ~º n e le de
sd e
s an tes po is e m 15 de seten1b
ro
de
an o
19
42
Ma
110 de An dr ad e
lhe escrevia, faz en do um pe did
• "l'
"
o um po uc o ins
o ito: Co nc ebi a
idéia de ter os or iginais, pro jet
os , ras cu nh os , etc . do liv ro
qu e
vo cê est á es cre ve nd o pr o tal
co nc ur so no s Sta tes , é po ssí ve
l?"63
Em su ma , 0 qu e n1erece se r
de sta ca do é a po siç ão ad ota
da
po r Sé rgi o Bu ar qu e de nt ro do
de ba te da hi sto rio gr af ia am
eri ca na - de ba te a qu e, em lin
ha s gerais, re mo nt am os aq ui
-,
po stu ra a qu al , um a ve z co mp
ar ad a co m a ch av e ex pli ca tiv
a
ge né tic a ad ot ad a em Ra íze s
do Brasil, in di ca um a mu da
nç a
de pe rsp ec tiv a qu e , co nf or me
ve rem os ma is ad ian te, pe rm
iti u
ao au tor um a no va ma ne ira de
pe ns ar a rel aç ão en tre tra diç
ão
ibé ric a e mo de rn iza çã o. As
sim , é pr ec iso an ali sa r co
mo o
int ere sse pe la tes e da fro nte
ira , ma ni fes tad o pe lo au to
r no
art igo pu bli ca do qu an do de
se u re to rn o ao Br as il, ap are
ce
na s su as ob ras so br e a co nq
ui sta do Oe ste .
Mas , an tes de rea liz ar es ta
tar efa , faz -se im pr es cin dí ve
l
es tu da r co m ma is cu id ad o
a já tão cit ad a tes e da fro
nte ira .
Esta an áli se é ne ce ssá ria na
me di da em qu e é po ss ív el
estabe lec er um diá log o en tre a
ob ra de Sé rg io Bu ar qu e e
a tes e
de Tu rn er e m si e, tam bé m,
gr aç as à já re fe rid a im po rtâ
nc ia
ad qu iri da po r es ta na his tor
iog raf ia no rte -a me ric an a, in1
portân cia tal qu e , em div e rso s
ca so s, to rn a dif íci l fal ar de
ou tro
his tor iad or do s Es tad os Un ido
s se m qu e se te nh a no çõ es
de la.
Ad ian to qu e es te se rá o ca so ,
po r ex em pl o, de Ge or ge Willi
ams,
au to : de Wilderness an d Pa
radise in Ch ris tia n Thought,
livro
pa ssi ve i de se r co mp ar ad o
co m Visão do Pa ra íso de
Sé rgi o
Bu ar qu e - do qu al fa lar em
os no ite m do is do s Ca pí tu
lo s V e
VII - , e qu e dia log a co m
a ob ra de Tu rn er e co m es
tu di os os
92
.,
1u a1s
}1
r
da mesma - co m o H en ry N
as h Sm it h. P or tu do isso,
0 pr óximo
capí tulo te m po r ob je ti vo
o e st u~ o d a hi pó te se d
e Frederick
Jackson T ur ne r p ar a, em
s : g~ 1d a, p o d er m o s no
s de di ca r
efetivamente ao s te xt os d
e Se rg 10 B ua rq ue so b re
a conquista
do Oeste brasileiro.
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A
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L
o
IV
fRcDrnlCK JACK~ON iU~Nt!
t OOé~,f
te
Este capí tulo visa explorar um pouc o mais deta lhadamen
er
a tese da fron teira elab orad a por Fred erick Jack son Turn
e nos
para , em segu ida, pode rmo s tece r cons ider açõe s qu
os
perm itam , post erior men te, anal isar com mais dese nvoltura
e seu
livro s de Sérg io Buar que sobr e a conq uista do Oeste
das
diálo go com as disc ussõ es em torn o da histó ri a com um
Amé ricas e com a obra de Turn er.
Proc uro apre sent ar as cara cterí stica s prin ci p ais da hipóo seu
tese turn erian a e o que seria , no meu ente ndim e nto,
rior
núcl eo - a adap taçã o do euro peu ao nativ o, para sua poste
to,
retom ada do lega do trans atlân tico, trans form ado, no entan
com
pela expe riênc ia amer ican a. Exp onho tamb ém, aind a que
s
pret ensõ es bast ante limit adas , o amb iente intelectu al e algun
, ao
inter locu tores de Turn er, restr ingin do-m e, por um lado
a se
que ilum ina a impo rtânc ia da tese no que diz resp eito
genécons titui r em uma expl icaç ão situa cion al em op osiçã o às
ar do
ticas, e, por outr o, ao que cont ribu i p a ra n os ap roxim
sua
mod o p elo qual Sérg io Buar que p ossa ter d ialog ado com
eram
obra e com auto res que, por sua vez, tamb ém esta belec
um diálo go com ela .
J
TURNER E A ESC OLA TEUTÔN ICA
·dade
Q uand o Turn e r c ursa va seu d o utor ad o na Univ erst
de
de Joh ns Hop kins na déca da de 1880 , teve a opor tuni dade
urna
freq üent a r o curs o d e He rbert Baxt er Ada ms ' a uto r de -o
das form ul açõe s ma is ace itas na é p oca p ara a inter p reraça
novo
da histó ria dos Esta d os Unid os. Ada ms logo viu e m seu
car rei ra pro n1i sso ra e um int erl o
uma
.
a,Jut1° d i·a vir a co ntn'b u1r
cut or brilh
par a o d ese nvo
l .
er
0
e, o
. .
v1ment O ant
qua 1P
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to~ nica. Ray All en Btl
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Iara da int erp ret açã o e do mé tode uma d
. d
esc nçao
bastante e
o essa escola
.0 seg uid or
cuJ
'
-·a ape n as que co mp ara r um a ins
titu içã o m d
tel1
o e
etnp lo um a cid a d e d a No va Ing l ate
_ por
rra _ com u rna
ex
. . . _
mstnui çao
de um pas sa do re mo to - com o um tun med ievma
al ,
.
a
1ema_ ·
Par a pro var que um a des cen dia da o utra. Cas o as s·1 . 'd o _
m1 1an ades
fossem suf icie nte me nte exa tas, n ão
hav
ia
nec
ess
idad
e d
. , .
l
Os Passo s eva luc1 0na n os que eva ram do pas sad o ao e traça r
, .
pre se nte.
Este era O sur pre end ent e rac1. ocm
10 que ger ou a "Escola Teutônica " dos ano s de 188 0 e com eço
dos de 1890. Seus mem bro s
acreditavam que ant es de Tac itus um
a "irm and ade comum primeva"
existiu com sua ling u age m e inst itui
çõe s pró pria s. Qu and o eventual men te este s aria nos se dis per
sar am , alg uns foram par a a
Grécia par a est abe lec er as fun daç
ões da cul tura grega, outros
foram par a Rom a par a ali pla nta r as
sem ent es de uma civilização
e o me lho r da col hei ta des loc ouse par a a Ale man ha. Lá, na
Floresta Ne gra , ess e pov o teu toaria no des env olv eu as instituiç ões dem ocr átic as que ser iam com
par tilh ada s pela Alemanha ,
Grã -Br eta nha e Est ado s Un ido s .
O pap el dos hist oria dor es
"teu ton ista s" era ass oci ar tod a ins
titu içã o nor te-a mer ican a a
seu "ge rme " n a Ale ma nha me die val 1
.
Ao cen tra r sua aná lis e nas ins titu
içõ es dem ocr átic as dos
Estados Unidos, a exp lic açã o vin ha ao
enc ont ro dos interesses
cultivados pel o jov em Tu rne r. To dav
ia, est a int erp ret açã o
const itui-se nu m exe mp lo rad ica l do
qu e ten ho den om ina do
~e explicação genética, po is pro cur
a as ori gen s e causas das
in st ituições no rte -am eri can as no leg
ado eur op eu tra nsp or~d 0
para o No vo Mu nd o. A pró pri a con
- d
cep çao
e cienci a.da
01
:~c , ª_Teutônica, a qu al ma nti nh a for
tes laç os com as teo n_as
iolo
g1c
as
d
,,
,.
,, . a cre r que a h1sa epo
ti'd ano
s
tona só d . . . ca , lev ava seu s par
.
,, .
ª
qu1
nna
seu
sta
tus
cie nti fic o se a 1can ç asse um upo
de expl · _
B
mo escreveu
icaçao qu e rem ete sse à Eu rop a, poi.
s, co
axter Ad
.
• ar a Turner -,
ams em 1883 - ano s ant es de 1ecw
n
• A
•
onde
. se pro duz vid a org âni ca dev e exi.st · ma sem en te q ue a
ir u
expltq
d crev er um
.
.
ue
.
A
his
tóri
a
não
dev
e con ten tai: se em. es vável qu e
e feito
E tão tm pro
a . qua ndo pod e exp lica r as cau
,
sas .
s tns n1 . me ,·unto as
m
um
.
ger
Praia s uiç oes loc ais livr es flor esç am se
.
. glês cres ça
nor te-a me rica nas com o o e, qu e o wg o tn
95
.
. t do
dani a se Pro
,_ have r sido
p 1an a . As insti tuiçõ es de. cida
d
.
Pa~
sen
I
}ater
ra
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raiz
as antig as idé·
ram na Nova ng
.
tas
ga
ingle sas e a 1ema-s trans porta das para este cont inen te pelos Per
e~
.
2
grino s e Purit
anos .
Mesn10 tend o pen nan ecid o inte rloc utor e ami~ o. de
seu
prof esso r, Turn er não foi um cult or ~a ~sco la Teu~on_ica,
Pois
esta , be1n ao cont rário , vem a cons titui r-se no prin cipa
l alvo
da sua fonn ulaç ão acer ca da fron teira . Se Tur ner perm anec
eu
inte ress ado nas font es da cult ura e das inS t ituiç ões
democráti cas nort e-am erica nas, proc urou -as no próp rio Continen
te.
A CON FER ÊNC IA DE TUR NER
Herb ert B. Ada ms part icip a do com itê de orga niza ção
da
Reu nião da Ame rican Hist oric al Ass ocia tion (AH A) de
1893,
que, nest e ano, se realiza em Chic ago, no âmb ito da Expo
sição
Mundial que com emo ra o Qua rto Cen tená rio do Desc
obrimen to da Amé rica. Por uma dess as coin cidê ncia s da
vida,
Ada ms sanc iona o conv ite ao auto r d a Con ferê ncia
que,
pouc os anos mais tard e, seria con side rada um golp e de
morte
em sua próp ria teor ia.
O Wor ld's Colu mbi an Exp ositi on é um gran de even to que
dá pros segu imen to às feira s mun diai s, uma trad ição inici
ada
em 1852 com a expo siçã o real izad a em Lon dres . Nas palav
ras
de Lúcia Lippi,
ª
idéia que come ça em Lond res se espa lha pelo mun do
dando
opor tunid ade a cada naçã o de most rar suas reali zaçõ
es mais
mod e:~a s e repre senta tivas . É um even to que perm ite
mostrar
n~ ~rati ca os mais mod erno s méto dos de enge nhar ia,
baratos e
rapid os resul tados das nova s tecn olog ias do aço e do
ferro. 3
Antes de tudo , a Feir a de Chic ago era um bom meio para
os Estªdos Unid os apre sent arem as gran des mud ança
s por
que pass avam e
d'd
' na me 1 a que sedi avam o even to que rep resentava a vang uard d
.
_
.
.
ª
as rea11zaç
oes mun diai s conf irma rem 5 ua
ma1ondade para
'
com por o conc erto das naçõ
es dese nvo 1vi·das,
Um
- enor me con·JUn t d e prog ram açõe s expo siçõ es e d e eonstruço es com põem F .
'
. •d deS,
ª eira e, em mei o a toda
s essa s auvi
a
°
96
também um a série de "Congresso A . .
.
s uxl11ares"
.
c11izatn
exemplo, sobre 11teratura, ciências
5e re
e artes. todo
. .
.
10 por
s
'.
b'etivo de reunir os n1a1s 1mporta nt
con
es espec1alist
111 o o J
as
na área -, dentre os quais O World' C
co
s ongress of
.
.
época
,
J· a . s an d H1stoncal Students, organizado p
or um comitê
.
J-fiston:in~
., .
·d de de Chicago em con1unto con1 um da AHA , este ultimo
.
da c1 a
4
ecreta n ado de Adains.
·ob os
.
J A , s muitos transtornos e di fic uldad es entre os q
ua1s uma
'
.,
.
p0
. ,.,
, . de desentendimentos entre os lideres dos doi·s comttes
5ene
organizadores, tudo estava pro~to para a realização da re união
dos historiadores, que contaria com a presença do jovem e
desconhecido historiador de 32 anos, Frederick Jackson Turner.
Este desloca-se de Madison para Chicago, com a esposa e
amigos, dias antes da abertura do encontro - ocorrida na
noite do dia 10 de julho de 1893 - , não podendo, no entanto,
aproveitar as atrações da grande e x posição devido ao seu
hábito de adiar a preparação de seus textos até o último
momento. Isto o leva a recusa r o convite dirigido especialmente aos historiadores p a ra assistir ao Buffalo Bill 's Wild
West Show na manhã do dia 12 : é obrigado a permanecer no
hotel para poder concluir su a conferência a ser proferida
naquela noite. 5 Nesta noite e x trema mente quente, Turner é o
último dos cinco participantes a apresentar o seu trabalho, e,
talvez por isso , sua conferência The Significance of Frontier
in America n History passa desapercebida.
No mesmo ano , Turner volta a apresentar seu paper em
duas outras ocasiões , sendo finalmente publicado no início
de 1894 no Proceeds of the Forty-First A nnual Meeting 01 th e
• Society of Wisconsin e em segui'da, n o Annual
State H'tstoncal
nd
Report 0/ the American Historical Ass~ciation for 1B93. Ai ª
f rn ais Apenas
f .
. .
assim , as primeiras
avaliações foram nas e O 1 ·
h simpatizantes
.
anos d
.
epo1s, quase uma década, passa a gan ar
., lo uma ace1até ale
ançar, na segunda década de nosso secu '
~
americanos . Se
taçao
.
generalizada entre os historiadores nortete às etrcunsl
a Prirn .
.
, . eira recepção é fria dev ido, provave men '
antagonismo a
'
tanc1as b
a teoria
so as quais foi apresentada e O seu
inte
'lh d s - como
rpretaç er que
oes amplamente comparti a ª
teut' .
demos esquec
on1ca d Ad
científica
ams - , também não Pº
e
urna _
linguagem
., d
·
epoca
um
(cismo
ansiosa por aplicar meto os e
aos e
1
st
Udos históricos deve ter ouvido e lido com ce
97
tex to que, como veretnos na se qüência, co nti nh a generalizaçõ e
.
/
s
arrisca d as e fora red igi do nu m a lin gu ag em qu as e poeti
ca .
/
Para un1a prin1eira ap ro xi ma çã
o, co nv em co ~e ça r ªPonon
fer
ên
ci
a
de
Tu rn er ch am a a ate nç ao para
tand o qu e a C
urna
.
·f
f
d1 eren ça u nd am en ta l e nt re a fro nt eir a na Eu ro pa
e no s
/
Estados Unidos: na qu ele Co nt
in en te ela possu1a uma forte
co no taç ão po lít ica , sig nif ic an
do o lim ite qu e se pa ra dois
pa íses , du as po pu la çõ es d e
ns as ou - us_a ~~ o ~s termo
s
etn oc ên tri co s da ép oc a de Tu
rn er - du as c1vil1zaçoes; e no
s
Estados Unidos, po r su a vez,
fro nte ira sig ni fic av a um a linha
en tre a ter ra po vo ad a e a ter
ra livre ou ain da , o po nt o de
en cont ro en tre o civ ili za do e
o pr im iti vo . 6 Es tes do is signif
ica do s do ca so específico da fro
nteira no rte -a me ric an a, usados
de forma intercambiável, estão
, em últ im a an áli se , na base da
tese turneriana. É interessante
no tar qu e es sa complementarida de entre os dois sentidos de fro
nteira já está presente no duplo
significado da palavra inglesa wi
lde rness, qu e de no ta, em nossa
língua, tan to o se nti do do termo
deserto, co mo o de selvagem. 7
A fronteira permite qu e os co
lonos bu sque1n novas condições
de vida nas terras livres , o qu e
é um in ce nt iv o pa ra o espírito
de iniciativa e pa ra a de fes a da
igu ald ad e de op or tun ida de s.
Se nd o assim, pa ra Turner, os
valo re s da na çã o am eri ca na ,
a
democracia e o individualismo,
sã o ali me nt ad os pe la fronteira
e não pelo ideário dos imigran
tes an glo -sa xõ es . Porém, a din
âmica do pr oc es so nã o é ex pl
ica da ap en as pe la s op or tun ida de s ab er tas pe la ter ra livre,
ma s ta m bé m po rq ue o pione iro , ao buscá-las, en tra em
co nt ato co m a sim pl ici da de da
sociedade pr im iti va , se nd o ob
rig ad o a se ad eq ua r a padrõe
s
nativos de relação co m a na tur
ez a. Po rta nt o, os va lor es norte
am er ica no s sã o ge rad os , co nj
un tam en te - e aq ui percebe-se
co mo a tes e é pe rm ea da po
r aq ue le du pl o se nt id o que
a
pa lav ra fronteira ad qu ire no s
Es tad os Un id os (e , também, 0
pró_prio ter mo wilderness) -,
pe las no va s op or tu ni da de s ofe
reetdas pe las terras livres e pe
lo co ns tan te re en co nt ro com
ª
na tur ez a e o mu nd o primitivo
.
A partir da ad ap taç ão a pa dr
õe s pr im iti vo s , o pioneiro
des~n~~lve no va s téc nic as de
tra ba lh o, va lo re s e pa dr õe s de
so cia bil ida de , inc lus ive re cu
pe ra nd o su a ba ga ge m cultural
- nu m pr im eir o mo me nt o ab
an do na da fo rm an do uma
na ça o co mp ós ita e to rn an do
'
-se tip ica me nt e am eri ca no . Erl
l
98
na fronteira o pioneiro volta a est,, .
alavras,
,,
ag10s primirras p
acesso
continuo
, torna a evoluir rumo , . . .
ou
pr
_
a c1v11ização
001
. 105 e, n
ra uina nova naçao. Dessa m a n e ira
,
tt'
do Pª
•
,
amparad
o
con1 pa rtilha d a nos meios inte lectuais d f'
0 nGlt1
aP crença
.
.
e 1ns do
111a ·
Turner
conside
ra que cada hnha de front .
10
1
,tos,
_
,
eira segue
oitocer
de evoluç ao comum a huma nidade e p
rocesso
1
.
al
., havia p assado, com a diferenç a que na eA o ,qu
0 111 P
. .
Europa Jª
menca
~. se dá em curto espaço d e te1n~o . Uma vez qu e a linha
0
1s~
. a atinj a O grau d e uma so cie dade industri al e se
voluUV
. d ' 'd
e . democrá ticos e 1n iv i u a 1·1sta s e stej a m ameaça d us
valo1es
d ' ,. .
d f
.
os
esgotame nto, a ina n11ca a ronte ira
,
graças
às
terras
l
pe o
.
.
disponívei s, pode se repe tir e o xigena r a d e mocracia e O individualismo , alimenta n~o esse s v~:ores n_ã o apenas na linha
de fronteira, mas tamben1 nas reg1oes mais a Leste _ fadada s
à saturação e envelhe cimento , se não fosse essa renovaç ão
do processo. Contudo , a confe rência de Turner termina com
um alerta: a fronteira já e staria esgotad a e com ela, de acordo
com seu raciocíni o, a fon te da democr acia norte-am ericana.
Um dos pontos mais d iscutido s em torno da tese de Turner
é o que se refere às terras livres como uma "válvula de segurança" (safety valve), tendo elas o p apel de desafoga r os centros
mais industri alizados , e vita ndo, assim, o acirram ento de
conflitos sociais e econôm icos . Embora essa idéia venha à
mente quando se lê a confe rê ncia de Turner, ela não é formulada explicitamente. De forma um tanto esquemá tica, seja dito
de passagem que o foco de sua tese se dirige mais para o que
ocorre na fronteira e suas conseqü ências do que para o que
acontece fora ' mas graças a ela· inclusiv e cabe dizer que
T
,
,
urner não recorre ao termo safety valve no artigo e, no trecho
que mais se aproxim a de fazê-lo escreve gate of scape (portão
de esca pe), ainda
assim - isso é' o que importa - para d'izer
que "ca dª fronteira
~ d
fornece u de fato [... ] um portao
e escap e
da escravidã o do passado " - e não um portão de escape
Para o a ·
d.
cirramen to dos conflito s sociais. Apesar d'isso, é difícil
eixar d
se
e associar aos argume ntos de Turner ª v álvula de, .
guranç
" · de 1893, a1
sim
ª e , em textos posterio res à con f erencia
) ele a f
,, • Dessarte , e m
out .
ormula de forma bastant e exp 11cita.
ro irn
.
f
O the West to
Arn . Portante texto seu "Contri buttons
erican D
'
03
•
escre
emocrac y" publica do pela primeira ve z emd19 m,
ve que "
,
. ~
a se cr·
todas as vezes que as cond1ço es so d ais ten era
•mir
istaliz
. 1 ndeu a opr1
ar no Leste, sempre que o capita
te
99
trab a lho ou res triç ões pol ític as a im
ped ir a libe rda ct
ma ssa , hou ve est e por tão de escape
par a as con diç ões 1~
IVrda
0
da fronteira". 8
De qua lqu er nu ne ira ,9 ain da que nã o
apa reç a de form
cla
es
..
ra na sua con fer ênc ia Th e Sig nif ica nce
of the Fro nuª _tao
1
American History, a concep ção de válvu la
de seg urança p e i n
estar pen nea ndo sua tes e por me io da noç
ão da fronteira
o po nto de encontro entre terra po voa
da e terra livre.'º
rno
;~ece
NÚ CLEO DA TE SE DA FR ON TE IR
A
E SUA OR IG EM
Creio, con tud o, que , en1 bor a não sej am
exc lud ent es, podese ressal tar o out ro asp ect o da tes e
de Tu rne r qu e não se
enc ont ra na vál vul a de seg ura nça , ma
s sim nu m pon to que ,
por assim diz er, se loc aliz a na pró pri
a fro nte ira - e menos
nas co nse qüê nci as del a nas po vo açõ
es ma is ant iga s. Não
me nos suj eito a con tro vér sia s , ess e asp
ect o par ece um dos
mais ori ginais de Tu rne r, qua l sej a o da
ráp ida evo luç ão ocorrida na fro nte ira apó s o ret orn o ao
pri mi tiv o. Nu m dos
mo me nto s ma is viv aze s de sua con fer
ênc ia, o aut or afirma:
A selva e des erto 11 dom ina o col ono
. Enc ont ra-o um eur ope u
nos trajes, atividades, ferr ame ntas , form
as de se des loc ar e pensamento. Tom a-o do trem e o col oca
num a can oa de árvore.
Arra nca-lhe os orn ame nto s da civi liza
ção e o ves te com camisa
de caça e mocassim. Põe -no num a cab
ana de tora s dos Cherokee
e dos Iroq ue e o cerc a com um a pal içad
a ind íge na. Muito ant~s
ele já com eço u a pla nta r mil ho índ io
e a ara r com um baSrao
pon tiag udo ; lanç a o grit o de gue rra e
tira esc alp o pel a man e!ra
orto dox a ind ígen a . Em sum a, na fron
teir a o am bie nte é, a pnncípi o, mui to mai s fort e par a o hom
em . Est e dev e ace itar as
co nd içõe s que o amb i e nte forn ece ,
ou p e rec e, e ent ão ele se
ada pta às cl are iras ind íge nas e seg ue
as sua s trilh as. Pou c~ a
pou co ele tran sforma a selv a e des erto
mas o resu ltad o não e ª
velh a Euro pa, nem sim ples men te o des
~nv olv ime nto de sement~S
alemãs, até por qu e o prim eiro fen ôm eno
foi um cas o de reversao
do pad rão ge rm aA n 1·
o
f,
.
_
ato e que aq ui está um nov o P1-0 duto
que e ame rica no. 12co.
Pode-se dizer que ess a pas sag em con tém
~ leo dapod
o nuc
tesee
de Tur ner ,
poi s com pre end e a din âm ica da fro nte
ira que
100
e1n três n1omentos di'st·in tos o p .
es qu ematizada
rimeiro
·
ento é de quase absoluta adaptação d o adventíc'
.
111,orn
10 ,
as
.
içõeS fornecidas pe 1o a1nbiente e aos me·
5er
ios nativos " .
.
,
.
con d
. f ' pois
muito
princípio
a
e,
an1b1ente
o
ronteira
mais orte pa
'
na f
ra
mem". Somente num segundo 1nomento, "p ouco a pouco"
0 11 a
europeu pode transfarmar o ambiente com b ase, pode-se,
.i
f
.
o
.
or nos n1e1os ornec1c os pelo seu legado t ransat l"anttco
su P ,
d
, resultando daí O que
q ue passa a ser retomado
po emos
d
.
a fronteira , O prod u to ameri-.
Co nsiderar o terceiro momento
. ~
.
cano, fruto do rearranJo da trad1çao européia sobre um fundamento de con1pleta adequaçã o aos padrões indígenas. Em
suma, Turner interpreta a história norte-ame ricana como um
recuo a padrões primitivos para a posterior retomada de uma
evolução rumo à civilização , mas que, graças ao primeiro
momento, não reproduz a velha Europa e aponta para uma
civilização nova , democráti ca e com pleno vigor.
Essa dinâmica da fronteira, em explícita oposição à teoria
teutônica , constitui-s e num dos aspectos mais inovadores da
teoria de Turner. Ou m elho r, na verdade a idéia de evolução
linear dos povos era correntem ente aceita na sua época, mas sua
aplicação para o desenvolv imento de uma nação num espaço
histórico de tempo diminuto era bem menos comum - embora,
veremos, não inusitada . E, se a concepção evolucioni sta de
história dos povos é tida hoje como extremamente problemática,
a maneira como Turner a aplicou, ainda que não o desvincule
e não supere seu contexto, nos obriga a refletir com cuidado
sobre as suas possibilid ades e desdobram entos. Para desenvolver esses pontos, parece necessário , de início, a referê n cia
às idéias lamarckia nas que marcavam a época.
" 13
. lS .
Em seu texto "Lamarcki anism in American Socia cience ,
George Stocking demonstr a a presença de argumento s qu~
,, t'1cas adqui.
envo 1vem a noção de hereditari edade das caractens
ck e ' em ,muitas
" . .
rid - as
.
as , vezes com referencia direta a 1 amar
· anas nos ult1mos
. .
~
out ras, nao
,
- nas Ciências Sociais norte-ame nc
· · a decada do
v·
.
mte anos do século XIX entrando pela pnmetr
"ncia a Darwm
'
,,
XX 14
•_
"d
· Se e verdade que nesse contexto a recorre
h 'd O como o arw1
era.
ckiano o
. tntensa, constituin do o que ficou con ect
'
lamar
argumento
ao
1
n1smo social" 1s ,,
mudanças
"[
~
, e com o ape o
.
q
1
.. ·f m cauua1ttnha seu peso no conceito de adaptaçao
,. . 0 que ora
na est
e foram
rutura ou no comporta mento organic
qu
ou
biente
•
.
,
d
·
sa as
Por influencia s diretas do meio am
101
~
pro dut o das res pos tas do org ani smo a tais
infl "' .
· 'd as por h ere d' ·
transm1t1
1ta
ned
ade dos pais par a a uen
e . cias eram
.....
.
S
.
.
e
que as 1enc1as ocia1s enc ont rav am um a man rtança,,16
e· d
,
ira e
,
lec er um a aut ono mia relativa qua nto à Biologi
a mes
est abQ.
del a. O lam arc kia nis mo , diz Sto cki ng forn '
ece u "mo Parr1n<.10
,
uma t ~ .
con1~o~ta1nental da . . ~vo luç ão bio lóg ica" e
possibilitou e,~ria
dos ult1n1os elo s teo nco s ent re a teo ria bio
lóg ica e s . um
oc1a[,, 17
De ntr e out ros asp ect os esp ecíf ico s, o lamarck
ianismo
·.
bili tou aos cien tist as soc iais a ela bor açã o de
uma exp]i·Pos ~ipar a a for ma ção das raças e da estr utu ra men
o
tal que não caça
f
. log1
. . .ca.
ape nas b1o
osse
A con cep ção seg und o a qua l os nov os
háb itos adquiridos
pel a ada pta ção ao am bie nte ger ava m mu dan
ças no organism o
dos ind ivíd uos e ess as, por sua vez , era
m herdadas pelos
des ce nde nte s per mit iu que os cientistas sociais
, mesmo sem urna
dif ere nci açã o clar a do bio lóg ico e do soc
ial, formulassem
exp lica çõe s par a as dife ren ças raci~is que
se aproximam das
que for am ela bor ada s pos teri orm ent e par a
explicar as soci ed ade s a par tir do con cei to de cul tura . E com
o as causas das
mu taç ões gen étic as con tinu aria m em açã o,
da mesma maneira
que pod iam com pre end er a form açã o das raça
s, aos cientistas
fica va abe rta um a trilh a par a exp lica r tam
bém as diferenç as
nac ion ais e reg ion ais. Seg und o Stocking, um
exemplo acabado
des sa pos sib ilid ade é o con ceit o de raça hist
órica, de Willia~
Issa c Tho ma s, que , em um tex to sob re Folk
Psycbology, publicad o em 1895, esc lare cia:
L.. ] a form ação de raça s artificiais ou históricas,
por meio da
infl
uên cia do mili eu e da difu são de um fund
o comum de
cren ças, sent ime ntos , idéi as e inte ress es entr
e uma população
hete rog êne a e traz ida pela sort e e acas o
a uma mesma zona
geográfica, está tom and o lugar diante de noss
os olhos no presente
mom ento - e é um tem a da hist ória - e
esta mos seguros em
assu mir que ness e pro cess o a form ação
de verdadeiras raças
está se repe tind o. 18
O pró pri o Ge org e Sto cki ng sug ere a pro
xim idad e entre
ess a din âm ica f arm açã o de raç as hist óric as
e a tese de Tur~e;~
afir ma ndo que "aq ui par eci a esta r a raz ão
última que fun 110
me nta o 'cad inh o da fronteira' de Frederick
Jackson Turn~doS
qua l 'os imi gra nte s era m ame rica niz ado s, libe
rtados e fun
em um raç a mis ta"' .19
102
~
1
. do essa sugestão de Stocking e com
segutn
k' .
o que apresenre O lamarc ianismo no ambiente •
b
os so
inte 1ectual em
raf11 r ner se formou, agora podemos compreend
ue ur
f'
"
er melhor
q
tor quando a 1rn1a que na fronteira O amb·
,.
ste au
. f
1ente e a
e
, . muito 1nais orte para o homem" A front .
'
rinc1p1 0 ,
. ,. .
.
·
eira consp
ciru1. uina expenenc1a radical para
.
_ o adventício , ele van d o a
. ' vel ambiental numa explicaçao de corte lamarck·1ano a
va na
uma Potência extren1amente
"
. elevada, .conseqüentemente
_
, ne 1a,
1nan deve aceitar as cond1çoes que ela [a fronteira]
Jrontier
0
oferece, ou perece" - no~ termos propriamente lamarckianos,
ele é obrigado a uma radical adaptação ao meio. Daí resulta
com rapidez, un1a nova raça histórica - para usar O termo d~
Thomas-, ou seja "a formação de uma nacionalidade compósita para tornar-se o povo americano". 20
No entanto, essa nova raça histórica não resulta apenas
da adaptação, mas também d o fato de que o homem da fronteira "pouco a pouco [... ] transforma a selva e deserto" 21 num
processo de retomada d o legado europeu, "mas o resultado
não é a velha Europa" , pois não se pode esquecer que, após
a adaptação, quem reto n1a o legado já é um novo homem .
Ainda assim, há uma ev o luçã o que supera o estágio primitivo em direção à civilização, numa crença corrente entre os
cientistas sociais da época. A diferença da experiência norteamericana é que nela essa evolução ocorre num ritmo muito
rápido, o que segundo Turner, foi observado por Achille Loria.
Este economista italiano
[... ] estimulou o estudo da vida colonial como um auxílio para o
entendimento dos estágios do desenvolvimento europeu, afirmando que o estabelecimento colonial está para a ciência econômica assim com as montanhas para a geologia, trazendo à
luz estratificações primitivas. A 'América', diz ele, 'possui a chave
P~ra O enigma histórico que a Europa buscou por séculos em
vao, e a terra que não possui nenhuma história revela clara22
mente o curso da história universal'. Há muita verdade niSlo.
Num conte xto intelectual
.
segund
em que não era comum a idéia
Turnerº ª qu_al seriam possíveis diferentes linhas de evolução,
.
·
estava e cons1der ou que a particulandade
norte-amencana
.
, medida que a f rontelía
. avança
ern dire m- seu rit mo intenso.
A
tante re·Çao_ .ao O este, os Estados Unidos conhecem um consin1c1o d e um processo evolutivo que, partindo
·
d as
103
~
atividades de caça, alcança o estágio cara cter izad
o pelas cidade
e indústrias e, por esse motivo, era pos síve
l encontrar ness:
país dive rsos está gios evo luti vos con viv end
o lad o a lado nurn
mes mo tem po hist óric o . É com o se a viag
em no esp aço se
torn asse um des loca me nto no tem po. Ass im
conf orm e vam os lend o linh a por linh a esta
pági n a cont inen tal
do Oes te ao Leste e ncon tram os o regi stro
da evol ução social
Ela com eça com o índi o e o caça dor e con
tinu a para nos fala~
da desi nteg raçã o da selv ager ia pela entr ada
do com erci ante , 0
bate dor da civilização; lemo s os anai s do
está gio past oral na
vida no rancho; a expl oraç ão do solo pelo
cult ivo de safras
não rotativas de milh o e de trigo em com unid
ades fazendeiras
espa rsam ente esta bele cida s; a cult ura inte nsiv
a do asse ntam ento
de dens as faze ndas e fina lmen te a orga niza
ção man ufat urei ra
com a cida de e o siste ma fabril. 23
Ta1 f enoAmen o, que , seg und o Tur ner, pas sav a des ape rcebido pelos historiadores, já era "familiar ao,, e~tu
danteA de censos
estatísticos" .24 Esta obs erva ção exig e um rap1do
par ente se que
nos ajuda a descobrir mais um asp ecto do cam
in~ o perc~rrido
pelo auto r até a formul açã o de sua tese , o que
diz resp eito ao
uso de mapas estatísticos. Seg und o nos info
rma Ray Allen
Billington, o pai das técnicas que sign ific am tant
o para Turner
era um cartógrafo russo , August Meitzen, que em
1871 publicou
um atlas mon ume ntal que incl uiu vin te gra
vur as coloridas
retratando a den sida de pop ulac iona l por mei
o de tonalidades
de coloração. Foram env iada s cóp ias par a
a Bib liot eca do
Congresso e prov ave lme nte fora m vist as por Fra
ncis A. Walker,
sup erin tend ente do cen so de 1870. Wa lker
com pre end eu a
importância daquelas gravuras e ord eno u que
foss em incluídos
mapas e gráficos no mes mo esti lo nos vol ume
s a sere m compilados com os dad os do cen so nor te-a mer ican
o. O resultado
foi o importante Estatísticas da Pop ulaç ão dos
Estados Unidos,
um trab alho volu mos o que se exp and iu não
som ente com
tabelas e gráficos esta tísti cos , mas que incl
uiu doz e mapas
st rand o a
mo
dist
ribu
ição do ana lfab etis mo da saú de, de
. .
imi gran tes e - mai s imp orta nte - a den '
sid ade da pop ulaçã o em seis níveis de gra daç ão. As técn
icas emp rega das
eram primitivas, mas a bas e hav ia sido esta
bele cida e era
prec iso ape nas um refi nam ento par a adic ion
ar os traç os que
permitiriam a Tur ner visu aliz ar o ava nço da
fron teir a. 25
104
A essas prin1eiras estatísticas publicadas com mapas foram,
década a década, se seguindo outras, com dados desde 1780 até
0 últin1 o ce nso . Os próprios organizadores dos censos vinham
pe rcebe ndo qu e através dos tnapas era possível perce ber um
padrão de crescin1ento econômico do país, a tal ponto qu e
em un1 panfleto publicado pe lo "census bureau " e m 1890,
segundo o con1e ntário de Billington, anotaram :
'No estabe lecime nto d e qu alque r país novo normalme nte as
atividad es se sucedem em urn a ce rta ordem'. Caçadores e exploradores vêm usu alme nte e m primeiro lu gar, depois vaq ueiros,
de pois agricultores , e m seguida indu stri ais e, fin almente, co m
0 grosso da população, os moradores da cidade. 'Vemos nes te
país', diz o panfleto, 'todos os estágios deste prog resso' .26
En1bora não possa afirmar cabalmente, Billington chega a
su gerir que Turner poderia ter reconhecido
[. .. ] as áreas cada vez mais escurecidas [nos mapas estatísticos] já que a população torna-se mais densa década após década como representações simbólicas da transição de uma sucessão
de comunidades desde o primitivismo até a civilização e constatado que elas repetiram de uma forma encapsulada toda a
história do progresso do homem. 27
Esse parêntese sobre o uso dos mapas estatísticos na construção da tese reforça a percepção do forte aparelhamento de
Turner, que se cercou de estudos de diferentes ciências. Creio
que quando imaginamos esses mapas coloridos descritos por
Billington, a tese da fronteira ganha ainda mais vivacidade. De
fato, eles podem ter sido uma sugestão preciosa para Turner
assumir e reforçar a idéia de Loria segundo a qual nas colônias
estava se reproduzindo, num curto espaço de tempo, a evolução seguida pela Europa de forma extremamente lenta.
Mas se o contexto neolamarckiano, as observações do economista italiano Loria e os mapas estatísticos coloridos ajudam
ª compreender como Turner foi elaborando e imaginando SUa
tese da fronteira - envolvendo, num primeiro n1omento, um
recuo do estágio civilizado ao primitivo para, nun1 moment~
seguinte, seguir um processo evolutivo novamente rumo ª
civilização - , continuamos sem saber a que co nd uz esse
processo e qual a diferença de uma nação que passou por ele
105
l
,~
.. ,.,
~
em relaç ão a outra s. Ou, em outra s palav ra~: re~ta saber : a que
Turn er atrib ui a posit ivida de dess a expe nenc ia da fronteir 1
ª·
Talv ez seja prud ente discu tir as respo S t ªs ª essa pergu nta
subd ividi ndo- a em duas parte s, abo rd ªnd antes O primeiro
· n1om ento da front eira para, em segu ida, anali sar O mom ento
poste rior de evolu ção. Cabe então , para come çar, subdividind o a nossa quest ão, pergu ntar: por que O retor no a padrões
prim itivos de vida é posit ivo? Boa part~ da r_es~oSla pode ser
enco ntrad a no livro de Henr y Nash Smit h, Virgi n Land, publicado origi nalm ente em 1950, e no de Davi d Nobl e, Historians
again st History, de 1965. O prim eiro dese nvol ve uma leitura
da obra de Turn er inser indo -a na cont inuid ade da tradição
agrária norte -ame rican a, a qual suste ntava que a conq uista das
terras amer icana s abria a poss ibilid ade da cons truçã o de uma
socie dade agrár ia que pode ria, conf orme algu mas versõ es
significar a cons truçã o de algo com o o para íso terre no _ '
desne cessá rio notar que esta tradi ção é um prolo ngam ento
dos mitos edên icos que nutri am as men tes anglo -saxã s nos
temp os do desc obrim ento da Amé rica. Dent ro dess.a interpr~ta ç!o, a respo sta sobre o porq uê da valo ração positiva
atnbu1da ao retor no a padr ões prim itivo s vem à tona sem
muita dific uldad e. Num a linha não dista nte de Smit h, David
Noble agreg a o traba lho de Turn er ao do grup o de historiadores ~ue, como uma espé cie de profe tas, anun ciam e zelam
P_~ªdahança norte -ame rican a com a natu reza e com a simplic1 a e - em opos ição à comp lexid ade euro péia .
Os dois autor es, cada um ao seu
.
passo ao consi'd
mod o, avan çam mais um
si próp rio ao aberar que Turn er prep arou uma arma dilha para
raçar, ao lado d
1 .
.
,
rusticidade a teori·a
. . esse e ogio ao agra nsmo
e
a
'
evo 1
vanta gem norte
-am . ucion ista · se Turne r cons idera a grande
na sua p
. .d
o prim itivo ao adeenca
.
roxim i ade com a natur eza e
'
nr ao evolu · ·
progr esso chegaria m
.
d
cion
e sua conc epçã o de
, ais ce O ou m ismo
.
. ~
sem soluç ão. Deix o de d
ais tarde , a uma contrad1çao
.
1a o essa prob l
,, .
,, 1
m~1s tarde , quan do
emat ica para retom aa
.
inter preta ções Po recor ro a out ros auto res que critic am estas
d
.
r enqu anto cab
~
e Smith e de . Nobl
e reter que as inter preta çoes
.
.
cons idera do prim e .escla recem espe cialm
ente o que temos
O
ad
ent
d
0
aptaç ão e retor no e1ro mom
. .
a tese de Turn er - o da
sive , ao vincu
. lar a hi ao prim itivo - t
,,
. 1
,.
, orna
potes e da fro t . , ndo possi vel , inc dun eira a apolo gia da socieda e
º
106
111111
e nti·e ver a
) e. ao,, ide a l de sim pli cid ade (N obl e) ,
ith
(Sm
··a
,,
gra11,
ª .. •dade atn bu 1da a ele.
posmv1
des ses aut ore s, cre io
Todav ia, sen1 desca1,ta1 a per spe cti va
rca do po r qu e , na t ese
ace
l un1a res po sta a pe rgu nta
"ve
.
.
.
poss1
é con sid era do pos itivo
da fronteira, um ret orn o ao pnn11t1vo
art icu lad a
lise da pró pri a teo ria evo luc ion ista
aná
da
és
•,]v
3 t 1a
ali sam os com olh os de
or Turner, ain da qu e, qu an do a an
um a per spe ctiv a acerca
iioje, ten den cia ln1ente atr ibu ím os a ela
nen te neg ati va. Se ret ordo primitivo e do sel vag en1 abs olu ta1
liz e i há po uco , po dem os
narmos ao tex to de Sto cki ng, qu e uti
a épo ca e abr and ar ess a
d
al
ctu
ele
int
to
tex
con
ao
ar
ont
rem
te, o pap el da do utr ina
visão, rea val ian do, co nse qü en tem en
evolucionista n a tes e da fro nte ira .
ent os sob re a formação
Ao a pre sen tar u:m con jun to de arg um
tex to de Joh n De we y,
dos instintos, Sto cki ng lan ça mã o do
, pu bli cad o em 1902, no
"The Int erp ret ati on of Sav age Mind"
ão spe nce ria na da mentaqua l o autor critica "a neg ati va ava liaç
po uco mais de qu are nta
lidade dos sel vag ens ". Co nta nd o com
we y, qu e ser á o pri nci pal
anos nes se mo me nto , o lon gev o De
na pri me ira me tad e do
rep res ent ant e da filo sof ia pra gm ati sta
teo ria s qu e adv og am a
das
2,
190
m
e
a,
tilh
par
com
,
XX
ulo
séc
ntu do, isso não significa
evolução unilinear da hu ma nid ade . Co
esc ala da · evo luç ão não
que, par a ele , um est ági o ant eri or na
o que , lem bra Stocking,
pud ess e ser val ori zad o. Nu m arg um ent
nis mo e qu e, gos tar ia de
pod e ser rel aci on ad o ao lam arc kia
gm ati sta , De we y dis cor re
acrescentar, já é o de um filó sof o pra
l afi rm and o qu e
sob re a for ma ção da est rut ura me nta
::3
•
•
•
exõ es mentais de dem and a
'Massas rec ogn itiv as' e reg iõe s de con
As ocu paç ões det erm ina m
se ajustam às ativ ida des dom ina nte s.
os pad rõe s de suc ess o e de
as pri nci pai s for ma s de sati sfa ção ,
ocu pac ion ais é tão fun dafracasso [. .. ]. O gru po de ativ ida des
e o esq uem a ou mo del o d a
me nta l e dom ina nte que ele for nec
tos me nta is. As ocu paç ões
org ani zaç ão est rut ura l dos atr ibu
2
fun cio nal . ª
o
tod
um
em
ais
eci
esp
s
nto
me
inte gra m ele
nta qu e um tip o me nta l
d A partir des se pri ncí pio , De we y apo
c9m o neg ati vo ou abs oe caç ado r não de ve ser con sid era do
· d d
1utamente tn
· f en·or, ma s co mo ad eq ua d o a um a sac ie a e qu e
'
e
· 1'd ad es do mi na nte s as rel aci· on a d as a caç a. Ess
tem. com o at1v
~
. al nã o é O pri nci pal pas so da arg um ent aça o
rac1ocín.10 f unc1on
107
dewcyana, n1as ai nda assim, adquire u1n pape l importa
na medida en1 qu e o filósofo rea li za, a partir de le, a recon:~1
liaçào entre o civilizado e o selvage m mesmo d entro de un1
quadro evolucio n ista:
É ape nas obse rvando-as [_as ca pacidades selvage ns] parti cular-
me nte e m se us aspectos pos itivos q ue compreendemo s O significado ge nét ico d a me nte se lvagem para o longo e tortuoso
processo de desenvo lvimen to me nta l e que nos assegu ramos
da su a va liosa ajuda para compree nde r a estrutura da mente
de hoje. 29
Nun1 argumento co n1 viés bastante pragmatista, Dewey
ressalta a continui dade e ntre as es truturas me ntais, pois, é
bon1 len1brar, segu ndo o seu argun1ento , o desenvolvime nto das
capacidades n1e ntais não é o resultado de grandes abstrações
do es pírito n1as das "atividades o cu pacionais do grupo" e dos
hábitos que elas requeren1. Sen do assim, tanto a mente primitiva quanto a civilizada são resultantes de uma mesma lógica
de fo rmação. Muito ao contrário de envolver um corte absoluto
entre o selvagen1 e o civilizado, a psicologia do caçador explica Stocking recorrendo ao texto de Dewey - é
[... ] a 'forma estrutural sobre a q u al a inte ligê nci a e a emoção
de hoje estão constru ídas'. Desenvolvime ntos subseqü entes não
'destruíram de todo o u deixaram para trás os a rranjos estruturais
da mente relativos à caça já qu e [... ] [os m es m os] libertaram
se us fatores psico-físicos co nstitutivo s d e m a ne ira a tom á-los
disponíveis e interessantes e m todos os tip os de buscas objetivas
e idealizadas - a caça de ve rd ade, b e leza, virtude, ri qu eza ,
be m-esta r socia l e até mes mo do cé u e De u s' .30
Dess e modo, o arra nj o es trutural d a n1e nte d o caçador
ganha sentido no q uadro de evolu ção não n1ais por ser apenas
u m antecessor da estru tura me ntal d o civilizado, n1as também
por, de certa forma, a compo r. E, p ara ir m ais alé m, atentando
para a frase de Dewey - '' [. .. ) bu scas objetivas e idealizadas-:a caça d e verdad e, be leza , virtude , riqu e za, bem-estar social
e até mesmo d o cé u e De us" - pode mos p e rce ber qu e es sa
co ntin ui dade e n vo lve um asp e cto altamente positivo . Dito de
mane ira rápida, os substantivos se modificam e a continuid~de
' respe1to,
esta,, d e p osn. a d a n o verbo (caça r/ buscar), o qua 1 d 1z
108
voltando a nos ampara r e rn Stock·rng, aos in t.
..
s intos. Embora
Dewey nao utilize o tenno no texto
'o que perm,
da estrutura 1nent.a l de caçador no homern mo d erno ctnece
,. O · .
.
instinto , 0
e
,
qual se organiza de acordo coin O s h a, . b 1tos
e , t'1 1'd
ª v ades das
sociedad es. Nesse sentido, poden1os a
..
P'lra a pos1t1pontar
e
.
.
.
t" .
- d
vaça o o es agio pnn1it1v o , na med t'd a e m qu e l
e e e p ode ser
consider ado coino un1a espé cie de fo t :., cJ
n e e vontad
e no mundo
mo derno. Nele está o verbo .
.
Apesar de tern1os ren1onta do a um tex to posterior
em
qu ase
'
d
p
ele
Turner
de
cia
conferên
à
dez anos,
o e ser represe ntativo
,
. .
, A
do contexto em que o autor fonnulou sua tese
. - continuid ade
.
,, .
.
dos estagias evolutiv os .tan1béin está present e nos escritos
de
,.
,,
· b astante
Turner e , e . poss1vel dizer ' através de uma l"og1ca
,, .
?roxi1;1a , ~ois , como e~ Dewey, a evolução se dá a partir do
mterca mb10 com o ambient e. Creio que a partir daí podemos
encontra r uma maneira de compree nder a positivid ade atribu ída por Turner ao process o de transform ação europeu /
nativo/ a merican o q ue oco rre na fronteira .
Se recordar mos que, d entro das concepçõ es neolamarckianas,
as caracter ísticas a d quiridas p elo s organism os, inclusive pela
estrutura n1ental, são herdad as pelos descende ntes, é lícito
depreen der que a proximi dade a um estágio primitivo significa,
para o mais adianta do, a renovaç ão dos instintos , e, nessa
medida , pode ser conside rada positiva para ele. Em outras
palavras , poderíam os comenta r que ao estágio civilizado muito
próximo do primitiv o - "seu contínuo contato com a simpli31 correspo nde um reforço
cidade da socie dade primitiv a" do verbo em detrime nto do substant ivo (buscar verdade ,
e na~o teve os instintos
.. . ~
.
b e 1eza ... ). Equivale a uma c1v1 1izaçao qu
David
com
os dizer
d
'd
enfraque cidos e nesse senti o, po em
ma natureza e numa
1·
'
Noble que Turner pensa numa a 1ança co
pal avras "temos a
'
'
sociedad e mais autêntic a - ou, nas suas
t precipita da pe 1a se 1va
. ·t· as " 32
complex a vida européi a abru ptamen e
ndições pnmt iv .
d
da tese de
,,
e deserto para a simplici dade as co
1
eo
nuc
o
sobre
1
·
·
·
•
1·_
Retoman do minha exposiç ao micia
os encontra r uma exp t
d
. ,,
to eia fronteira :
Turner, posso afirmar que J3 pu em
'
momen
eiro
·
d
caçao para a positivi dade o pnm ado aos pa dro~es nativos.
. ·1·
0 da complet a adaptaç ão do c 1v 1 iz
d' mais um passo na
'déia de Turner
Mas já possuím os element os para _ar_
• . J,,ª insisti na 1
compree nsão da tese da fronteira
109
, daptação ao nativo, há un1a retornact
,,
a
.
~
qual, apos a a
do can1 inho da cvoluçao em direção "
ª
segun
do legado europeu ete1nos considerado o segundo morncnt a
o
• 'I' ação - o qu e
., ~ a vez de dedica rmos 111 aior ate nção
.
c1v1 1z
ª
f
• d
da frontetra. Agota e
·a seguir O 1nes1no ttpo e en oque seguido
1 ·
este mome nto e, pai
. por que Turner o va onza.
.
.
:1té :1qui, perguntai
. d passagem apontei qu e H. N. Smith e David Noble
~ d'f" ·1
.
'
En1 b 01a e ,
t 1c1 ao tecer
Turner se vê nu111a s1tuaçao
.d
. ..
co ns1 era1n que
abraçando
d sinlplicidade e do .pnn11t1vo,
, ao
.
.
un1a apo 1og1•a a
raciocínio evolu c1o n1 sta. Creio mesmo
. qu e
n1esmo tempo, U,11 .
seja possível afi rm ar que estes autores e nxe rga~ uma 1n~o?gruência entre O primeiro e os 1nomentos seg uintes da dtnanlica da fronteira . Após tern1os desenvolvido uma resposta
alternativa _ einbora não excludente - à articulada p elos
dois autores quanto à positividade da adaptação ao nativo, é
necessário agora dedicar atenção à valorização feita por Turner
do segundo n1on1ento da fronteira e verificar se este é, de
fa to ' incon boruente con1 o anterior.
Como já disse, esse segundo momento caracteriza-se pela
retomada do legado transatlântico pelo europeu e do caminho
de evolução run10 à civilização, após ter, o mesmo europeu,
retornado a padrões primitivos por intermédio da adaptação
ao nativo. Se lembrarmos das concepções neolamarckianas
comungadas por muitos dos cientistas sociais norte-americanos,
podemos dep reender que, nessa fase, a evolução se desenvolve de manei ra orgânica com o ambiente e com as novas
circunstâncias suscitadas por ele, de modo que, também é
possível dizer, a retomada do legado europeu não ocorre de
modo automático, mas de acordo com as demandas da vida no
Novo Continente. Para esclarecer melhor esse ponto, podemos
chegar mais perto da afinidade do raciocínio de Turner com
0
. p.ragmati~~º· O estudioso da obra turneriana, Ray Allen
Bilhngton, Jª observou essa afinidade, pois, segundo ele,
d
°
·
- como coerciva mas como e manetTurner viu a f ron tei·ra nao
~ado ra, libertando os pioneiros das pressõe~ da tradição e penni- ·
tmdo a ,eles expe1·1·me n t ar praticas
e instituições melhor a de·1·
~
as nece ss t·d,a d es. Essas
quadas . as su
socieda d es des e nvolv1c as
~
so b a influenci a d
e uma soma de forças um a do a mbiente
,, .
,
'
externo , outra da ' .
semente representando o fator hereditano ;
..
"' ji
T:
l0
unier requentemente · ·
escreveu sobre as contribuições f eitas pe
110
, tock' às comunidades pioneiras. Essa er
a uma concep ·a
.
I s
. ç o
pragmatista de evo uçao social, baseada sobre O T
ea zmdo o qual as sociedades eram-formadas t so tdo Princípio
anto pelos recur. .
/
so
sos
dit;noníveis quanto pe .a capacidade da poh l . _
JJu açao de utilizar
~1
-r
.. _
estes recursos. E e estava se movendo, precocem
ente, em direçao
d . .
•
~
~
e
a explicaçoes que, mais tar e, mam ganhai· xpressao filos0, f'
ica
.
or intermédio de John Dewey L.. ).33 (Ênfase
P
s acrescentadas)
. e sua
fornecidos pelo me10
Esse intercâmbio dos recursos
.
utili zaçã o conforme a capacidade da população insere uma
dinâmica de form ação_ d_e~ta mesma população que, justamente,
1105 lembra o ponto 1nic1~l de ~ossa discussão aqui, quando
Stocking sugere_ ~ma art1culaçao entre o conceito de "raça
histórica" de W1ll1am Thomas e a noção de mixed race de
Turner. E, como vimos na oportunidade, os argumentos neolamarckianos conduzian1 a un1a certa confusão entre O biológico
e O cultural34 que acabava por permitir o estudo das sociedades
numa dinâmica muito próxima do conceito de cultura, mesmo
quando se falava em raça. No caso específico de Turner, vale
ressaltar que ao trabalhar com a idéia de evolução na fronteira,
além de se vincular com o papel do ambiente da visão neolamarckiana , o curto lapso de tempo para essa evolução ressalta
o traço fortemente cultural da sua explicação - próxima realmente da noção de raça histórica, mas bem longe da concepção
mais corrente de raça.
Agora é o momento de analisar mais de perto esse conceito
de quase cultura em seu dinamismo. Aqui creio que, de fato,
vale a pena aprofundar o argumento pragmatista referido por
Billington na citação anterior e, para isso, William James pode
nos ajudar. Em suas conferências sobre o "Pragmatismo", proferidas entre 1906 e 1907, poucos anos depois do texto de Dewey
sobre a mente selvagem, James explica qual é a interpretação
deweyana para o desenvolvimento da mente, ou do, como eS tes
autores pragmáticos diziam, "estoque de crenças"· Segu nd º
ele, o processo observado por Dewey
. . 'd uo es t a belece novas opiniões
l... ] pelo qual qualquer rnd1v1
,, tem um estoque de
. d'1v1"d uo ,a
l... ] e, sempre o mesmo. O tn
,. .
va experienc1a que as
_
.
ve Ih as opiniões mas depara com uma no
ou entao,
contradiz·
,
'
.
'
poe em processo de triagem. A1guem as
las é que se cont1 ab
d f
em um momento de reflexão desco re que e
nhecimento e atos
'
.
d tzem
umas com as outras; ou toma co
111
.........
com os quais são incompatíveis; ou surgem desejos qu e 1
.
l d .,
deixam de satisfazer. O resu ta o e uma perturbação íntim e as,
qual até então o se u espírito tinha sido estra nho, e da ~ ª
·r·
., . d
q ai
procura escapar mo d 1 1ca n d o .ª sua massa previa
e opiniões.
Salva O máximo que pode, pois nesse
assunto. de. crença som os
.
ao extremo conserva d ores. Ass1m, tenta pnmeiro trocar ess
opinião, e depois aquela (pois resistem à mudança com muit:
variedade), até que, por último, algumas idéias novas surgem
as quais pode enxertar no estoque ve lho, com o mínimo d~
distú rbio para esse último, algumas idéias que medeiam entre
o estoque e a nova experiência e que as conduzem umas às
outras, com facilidade e expeditamente . 35
Esse processo definido por Dewey para explicar as mudanças
mentais de um indivíduo parece guardar uma grande afinidade
com a maneira pela qual Turner concebe a formação cultural
na fronteira. É como se o legado transatlântico fosse o "estoque
de opiniões" referido por James, ao qual o adve ntício recorre
realizando uma "triagem" das crenças, processos ou instrumentos mais adequados às novas situações e necessidades
com as qu ais se defronta. Então, pode-se dizer que, a partir
do segundo momento da fronteira, os adventícios passam a
ter um desenvolvime nto de seus hábitos, condutas, técnicas
e instituições em congruência com a vida na nova terra. E
aqui chegamos a uma resposta à segunda parte da pergunta
sobre a positividade d a fronteira para Turner. Dessa vez, é
possível detectar o porquê da valorização do processo evolutivo que se segue à completa adaptação, pois, além da sociedade de fronteira adquirir autenticidad e nesse encontro
contínuo com a simplicidade da sociedade primitiva - primeiro
momento - , a sociedade que se forma na fronteira percorre,
no segundo momento, um caminho autêntico rumo à civilização,
no sentido de não estar subordinado a fórmulas exteriores e sim
a respostas às exigências da vida no ambiente americano.
Para encerrar o assunto, é necessário esclarecer que, embora tenhamos falado de dois momentos da fronteira pode-se
dizer q ue d' " ·
'
~
inamica em cada um deles é sen1pre a mesma
e,
nesse sentido, não há uma discrepância entre eles.36 os dois
mome~tos devem ser pensados dentro do quadro neolamarck1ano a que t
·
" . e na
emas f eito
re ferenc1a
vizinhança d ªs
~oncepçõ_es pragmatistas, nas quais os seres vivos se adaptam
as novas situações
.,
.
.
, numa continua interação com o meio. O grande
d 1.ferenc1al
do p · ·
nmeiro momento da fronteira não esta/ n a
112
,. . dessa dinân1i ca , mas si1n no fato de as experiê ncias
sencia
· · · 1d d
"·
au rrerem, n O encont ro m1cia
oda vent1c10
1
'd com o novo mundo
oco us m01·adores ' con1 ta g rau e nov1 ade, que exigem uma
e use
ase ab soluta revisão do estoqu e. de'f•crenças, recursos e instruq
do coloniz ado r, o que s1gni 1ca, em outros termos, a
mento~d
É que, "na fronteira o ambicess1 a de
· de se adapta
. r ao nativo.
. f
ne , a princíp io, mutto mais ·orte para o homem . Este deve
ente e'. 5 condiç ões que o ambien te fornece , ou perece, e assim
ace1ta1 a
. d"
ele se a d ap ta às clareir as 1n
1genas e segue as suas tn•lh as ,, .37
EXPLI CAÇÃ O SITUA CION AL
Creio que, a essa altu ra, já deva ter ficado claro que a tese
de Turner constit ui-se no que ve nho chama ndo de explicação
situacional, n1as, de qualqu er maneir a, não custa realçar esse
ponto recorre ndo mais uma vez ao texto do próprio autor. Na
sua conferê ncia de 1893 , ao escrev er "a frontei ra é a linha de
mais rápida e efetiva americ anizaçã o" ,38 o historia dor express a
o cerne do que temos compr eendid o como um enfoqu e interpretativo do Novo Mundo que transfe re seu peso para uma
dinâmica contine ntal - decorr ente, nesse caso, da fronteira.
Em certos momen tos Turner leva às últimas conseq üências
sua concep ção - podem os dizer que chega a exager ar - e a
transforma no supra- sumo do que seria uma explica ção situacional, conceb endo a experi ência norte-a merica na como um
rom piment o radical com os valores transoc eânicos . Em uma
conferência proferi da em 1914, por exempl o, em certa passagem,
Tu rner afi rma que "a democ racia americ ana não nasceu do
sonho de um teórico· não foi trazida à Virgínia no Susan Con 5tant,
nem para Plymo uth no Mayflower. Surgiu plena e forte e cheia
de vida da floresta americ ana, e ganhou nova força cada ve z
que tocou uma nova frontei ra " .39
Mesmo lembra ndo dessa e outras passag ens con1 o mesmo
d
t
,, 1 t ntar qu e levan o
eor nos seus textos parece -me razoav
e sus e
'
.
'
T
er
formul
ou um
em consid eração o núcleo de sua tese, urn
.
.
e
•
u
mas
o
d111am1
za
oncetto que não exting ue o legado europe '
.
d'
e0
.
. l"f"
~ poder-s e- ta 1zer
america niza Com o risco de s1mp
1 icaçao
.
qu
·
. . d"111 âmica do Contte ª americ anizaçã o - relacio nada ª
.
de
ne t
·
ponta em gr an
n e - propor cionad a pela fronte ira
ª
'
1
113
para os valores associados àquela americanização
da den1ocratização e igualização das condições sociais _
enfin1, ao significado que o termo adquiriu a partir da leitura
desenvolvida por Werneck Vianna da obra de Tocqueville ,4o
conforn1e vin1os quando falávamos de Raízes do Brasil 00
terceiro iten1 do Capítulo I.
Para reforçar que não se está falando num rompimento
con1 a Europa, pode valer a pena citar um trecho da "Introdução,,
de un1 livro dirigido à esco la secundária que Turner vinha
redigindo nos últimos anos do sécu lo passado, mas nunca
ch egou a concluir, no qual, de forma didática, considera que
a história norte-a111ericana é
111 edida,
[. .. ] a estória da ocupação de uma vasta selva e deserto em um
breve período. [. .. ] A evolução, a interação e a consolidação
dessas seções fizeram uma nação americana, com um povo
compósito; com instituições derivadas principalmente da Europa
e profundamente modificadas para se adequar às condições
americanas; e com um espírito americano e ideais democráticos
diferentes daqueles da Europa, e fundamentalmente devido à
experiência do povo na ocupação de um novo continente .41
Dessa maneira, o resultado do transporte do legado europeu
ao Novo Mundo é uma novidade, ainda que não represente
um total ron1pimento com a tradição ocidental - como certos
críticos de Turner o acusam. 42 Parafraseando um texto de José
Guilherme Merquior, ainda que trate de contexto e enfoque
diversos, diria que a tese da fronteira, tal como forn1ulad a
por Turner, é uma explicação situacional que permite abordar
este "outro Ocidente" - a América. 43
11 4
'
'
1
e
A
p
T
u
L
o
V
ornwrrnl oNAr1vo
~ O AMrniCANO
Em depoimento recente, Maria Odila Leite d s·1 · •
a 1 va Dias,
., .
ex-aluna. de Serg10 Buarque na USP , conta que s eu pro fessor
"digressivo e como que distraído, fazia incursões surpreen~
dent~s", __como, p_o_r _exemplo, as que levavam "do povoado
paulista as especificidades da fronteira americana do século
1
XIX" . Maria Odila foi aluna e posteriormente assistente da
cadeira de Civilização Brasileira dirigida pelo historiador, que
permaneceu nos quadros uspianos e ntre 1956 e 1969. Nesses
anos, Sérgio Buarque concebeu o texto "Movimentos da População em São Paulo no Século XVIII" - publicado em 1966
com um lapso no título, pois nele o autor se ocupa do século
ÃrvII . Não parece exagerado afirmar que este texto está calcado
na idéia de fronteira e seus desdobramentos, especialmente
no que diz respeito ao seu p apel de válvula de segurança,
aliás, o título de um dos seus tópicos: Safety Valve. 2 Neste
tópico, um diagrama construído por Sérgio Buarque representando a dinâmica de populações na vila de São Paulo no
Seiscentos combinado com as datas de fundações de vilas
'
nas ca pitanias paulistas, demonstra de forma impres_si~~ante
a relação entre saturação populacional do núcleo pnm.,ttivo e
3
.,
fuga para novos nucleos.
_ ,,
e., pre c1·so chegar ate essas
Mas nao
., .
para se perceber que os " movi·mentas de populaçao
paginas
. d ·d.,· de válvula de
sao enfoca dos, no artigo, a partir a i eia .
., · isto fica claro:
. .
segurança, pois desde a pnmetra pagina
avoamento processou-se
- d
ntram quase
_
Nas capitanias paulistas a expansao e P
)d que nao enco
da América
durante longo tempo segundo mo es
.,
O urros lugares
eral da própria
., .
paralelo , pela mesma epoca, em
· · ano em g
.,
de fora
fluxo
.
'
ongm
nucleo
um
de
Partindo
portuguesa.
'
oderoso m
.
vila de S.Paulo, e sem contar com P
.. grande porção do espaço utili zável da .
hega ela a co b ni
c
formar terra a dentro, um rosário ds rect 01,.
d
de sorte a
'
ezas,
. em para marcar a paulatin a ocupaçã o de s-1t 1•os
urbanos que sei v
,
o solo
cada nova extensa o da area assim asse nh
·
Parece certo que
~
.. . . ·
oread,
t do núcleo pnm1t1vo ou, em menor escal,1
se fa z a cus a
f
a,
do
, .·
o des a lque s às vezes co . s
secu n d a 110s, qu e vão re cebend
_ ,
.
.
, .
a popul ação. E nao e menos exa to dizer aindns1de.
rave1s em su
·
. , .
.
.
a que
conw
de
ordinar
w
sucede
nos
movirne
ntos ca l .
essas sang1 .:as
,. · ,
·
.
oniza.
verifi:ca
r-se d epois de saturad os aqueles nu· l
.
d ores cost u ma1n·
e eos1
(Ênfa,s es acresce ntadas)
·
Já aí , nas prin1ei ras frases do. text~, ~parec e delineada a
tese da válvula de segura nça, cuJa princip al caracte rística _
aborda da no segund o iten1 do Capítu lo IV e que dissemos
constit uir un1a das facetas d a tese de Turner , ainda que não a
mais origina l - é a existên cia de terras livres para as quais os
habitan tes de núcleo s "satura dos" possam se deslocar, característica esta presen te no Planal to paulist a e não em "outros
lugares da América portug uesa", como Sérgio Buarqu e ressalta
no início da citação - e nem, també m, na Europa , conforme
notará o autor na seqüên cia do texto . No seu desenvolvimento,
o historia dor trata, por exemp lo, da saturaç ão de terras - e
conseq üente desloc amento para novas - provoc ada pelos
método s predat órios de cultiv o , gerand o assim o que poderíamos chamar de uma frontei ra perversa. Além disso, em diferentes momen tos, refere- se à desest abiliza ção provoc ada pela
corrida às minas gerais desde os fins do século XVII que,
então, interro mpe o proces so de funcio namen to da válvula
de segura nça, o qual pressu põe regula ridade e, na falta de
melhor palavra, natura lidade dos fluxos popula cionais . Para
não nos alonga rmos mais, cabe dizer que o autor detecta 0
funcio namen to dessa válvula , ainda que com limitações, no
Planalto paulist a do Seisce ntos, pois, neste século ,
L.. ] ª criação de sucessi vos núcleos urbano s obedece ra [na_s
e
·
·
apttania
s paulista s] a uma necessi dade vital dos seus hªb1 ·
tantes
, ·
. · Pois se d e um lado era suscitad a pela propna
es trutura
.
soc1al e ec
d
onomic a em que tradicio nalmen te assentav a a vida
as mesmas e · ·
•
apitania s, de outro devia servir para co nse rvar
intacta aquela t
f l_
eS rutura, ameaça da de deterior ar-se semP re que
l'
a tassem escoad
e.i
popul ouros por onde se verteria m os exce d e nces
·
açao das vilas.s
A
118
•
É O pr óp rio au to r qu em se
re me te ao ca so
qua ndo pe rg un ta:
11 01·te-a me
. an
nc
o
'
Não faz iss o le mb rar um po
uc o cer ta do ut .·
,
1111
do sec ul o pa ssa do c h eg ou
a alc an ça r en ª. qu e no s, me ad os
.
.
Es tad os Un ido s: a de qu e
me prest1g10
no s
o Oe ste no rte -amOt
e,·i
·c
, tea
. l
me nte de so cu pa da qu e se
an
o,
a
arg aab ria alé m da fro t · . d
.
.
me nto reg ul ar, de v ia
n
e11
a
o
po
vo aagi r ao mo do de um a va' lvu
l d
~
.
para res gu ard a r o Les te atlant
1co do risco de pei·turab e- seg ura nça
•
qu e se m ela pa rec iam ine
es int
ern as
vit áve is? Do ad as as te aço
·
11--as pu, 61'1cas
po nti fic av am jor na lis tas do
tem po , a me nd icâ nc ia fat
alm ent ~
ter á de de sap are ce r, e os
órf ão s ach arã o afinal am pa
ro co ntr a
a pe nú ria e_co nt: ª. a fom e . Qu
an do os em pre go s vierem a
mingu ar,
ou for em m su f1c1 e nte s os
so ldo s , nã o fal tar á ao op erá
rio dilige nte o rec urs o àq ue las ter
ras da div osa s, ve rda de iro
jardim do
mu nd o, qu e de sd e os dia s
da Cr iaç ão est á à esp era de
le , a fim
de qu e o po vo e e de sfr ute
. Me sm o as gre ve s irã o tor
nar -se
um a arm a su pin am en te ab
su rda no mo me nto em qu
e
a
cad a
ci da dã o se ap res en te, co m
be ne sse s inf ind as, a alt ern
ati va de
po de r lav rar aq ue les so los
pa ra si e pa ra tod os. 6
E vo lta nd o ao ca so pa uli sta,
Sérgio Bu arq ue ressalta a sem
elhança entre os do is ca so s , em
bo ra faça qu es tão de dizer qu
e,
aqui, a vá lvu la de se gu ra nç
a nã o ga nh a tam an ho co lor
ido e
nem fu nc ion a de ma ne ira tão
ce rta , ma s , em to do caso,
L.. 1 à su a ma ne ira , a fun çã o qu
e vin ha m ten do no séc ulo
XVII
os esp aço s liv res e uti liz
áv eis ain da exi ste nte s ao red
or do vel ho
nú cle o p ira tin in ga no , de
ass eg ura r a sob rev ivê nc ia
do tip o de
soc ied ad e al i for ma da de
sd e os iní cio s da co lon iza
ção , ass eme lha va -se , rig oro sam e nte
, à esp éc ie de saf ety valve
qu e há
cem a no s infl a m a ra im ag
ina çõ es an glo -sa xô nia s no
no rte do
Co nti ne nte . Se dif ere n ça
ho uv ess e, est ari a nis so, qu
e aq u ele s
esp aço s li vre s , em ve z de
tin giç!_os de co r~ s tão idílic
as, ~evia1:1
pa rec er, em ge ra l, um a rea
lid ad e de sco lor ida e chã ,
mai s ref n-~ o tal ve z do qu ~ esp era
nç a. A fom e de ter ras segui~
-se s_~mp re
à fom e de pã o e a ou tra s ap
ert ura s, qu e mal se con 1u ran 1
,u~ se
pa rte do po vo na_o est ive
.
sse co ns tan te me nte ap ta a em igr ar
pa ra on de lhe fos se da do
rec om eç ar a vid a. 7
Levan d o- se em co .
ns 1d er aç -ao es te tex to, e ✓ po ssí ve l afirmar
.
que Sérgio Bu ar qu e ch eg a
a ex pl or ar co m pr of un di da
de a
hipótese do fu nc io na me nt o
da vá lvu la de se gu ran ça em
terras
brasileiras. É de no tar qu e
"M ov im en to s da Po pu laç ão
em
119
,, culo XVII", publica do na Revista do IEB
5
en1
1
d Ed' - ,,
,, . . .
e
no
o
Pau
Sao
Visa~
de
içao
a
Segun
a
"Prefacio
o do
196 6 ao 1a d o d o
ment
', d 19 68 , parece ter sido. fruto do prossegui
o de
.
Paraisa, e
seu diálogo co1n os norte-ame ricanos e, m ais do que isso
p 1,
,. de realizar em suas novas passagens
e os
.
dos estu d os que Po
na década de 1960. Com estadias mais prato nEsta d os U n1'd o 5
gadas que a de 1941, Sérgio Buarque p.assou uma temporada
6S e outra de 1966 até o a no seguinte, quando lecionou
1
19
,
'd d d I d'
·
en
co1no professor visitante, n as Un1vers i a es e n iana, Nova
York e de Yale. Nesta últin1a, se tomannos por b ase a canaconvite de Morse, Sérgio Bu arqu e desenvolv eu uma série de
_
ativ idades, pois
[. .. ] os principais objetivos (além dos fins de mais importância , os
da cordialidade , a sua especializa ção) seriam os de dar alguns
se minários em português p ara um punhado de estudantes
graduados que estejam se especializa ndo em história do Brasil ,
talvez uma ou duas outras palestras , passar alg um tempo informalmente com nossos alunos e fazer o uso que lhe aprouver
8
da nossa biblioteca de mais de 5 milhões de livros.
Além dessas atividades , em que se ressalta a de pesquisa
en1 bibliotecas , ainda em Yale, em 1966, Sérgio Buarque participou da Banca Examinad ora do Projeto de Tese de David
Davidson, um orientando de Morse "really extremely able" e
autor da tese Rivers & Empire: The Madeira Route and the
lncorporation of the Brazilian Par West, 173 7-1808, que Sérgio
Buarque veio a considerar , na "Nota da Segunda Edição" de
Monções, quase como um prolongam ento de seu trabalho
sobre a conquista do Oeste.9
Mas, voltando àquela primeira viagem aos Estados Unido s,
em l94l, e a todo o ambiente que a cercava vale estudarª
0_bra de Sérgio Buarque em torno da conquista do Oeste, especialmente Monções e Caminhos e Fronteira s com os olhos
voltados para seu posicionam ento naqueles d~bates em torno
de nov~s enfoques para a história das Américas. Recorda nd o
0 qu~ vimos no Capítulo III, a estadia na América do Noite parece
. amento do tra b a lh 0 de
relevante pa ra o re d•1mension
ter
.
, sido
a
.
Serg10 Buarque e , s e estamos longe de chegar a aftrmar
q ue
e~_c?lh_a do tema dos bandeiran tes tenha sido uma conse. que seja possível d'1zer que
quenc1a daquele amb·iente, creio
f ..
o1 importante para a formulaçã o de seu enfoque de pesquisa,
1
120
.
orme já estu dad o, o hist oria dor es c1e
ve um a .
f
con ·
:- . rttgo logo
imp
a
ar
n
qua l, apó s afir 1
e retorna, no
nc1a de ~
orta
. _
. .
qu
nao se
'd
U
s
ado
Est
aos
.
lisar
O Brasil em opo s1ç ao
tece
os
ni
s1
an a
con
u
'
.
es ace rca da obr a de Tur ner ob se1 van do
·açõ
del
.
_q :ie es ta
aderia sug erir un1 a ch ave p a ra sua viz ar esta opo s1çao.
p
SÉRGIO BUARQUE E A TESE DE TURNER
de eami.n h os e
Na passag,.en1. que a bre a seg und a seç ão
rqu e esta bel ece um a com pa raça~ o com
Ser g10 Bua
Fronteiras,
.
.
end o eco ao seu
a fronteira nor te-a 1ne nca na seg und o Tur ner· Faz
eric ani smo "_
artigo de 1941 - "Co nsid era çõe s sob re o Am
par a um a exp eriê nci a reco rren te "e~
0 autor cha ma a ate nçã o
todo o Con tine nte ", poi s, afirn1a, que
s, em parte ainda
[... ] o recu rso a num eros as técn icas primitiva
ame rica no , resultou ,
persiste ntes , de apro veit ame nto do solo
os que manteve o
sem dúv ida, dos con tatos mai s ou men os íntim
com os an tigos naturais da terra nos tempos
colonizador euro peu
nte foram assíduos
que se segu iram à con quis ta. Em todo o Contine
ação transformaesses contatos, e não deix ara m de exercer sua
emente recalcidora , mesmo ond e o bra nco se mostrou aparent
trante. 10 (Ênf ases acre scen tada s)
sa pas sag em se
Gostaria de real çar, ant es de tud o, que nes
seja, justamente
enco ntra o tem a da ad apt açã o ao nati vo, ou
leo da tese da
o qu e con side rei um dos mo me nto s do núc
0
,
uida
seg
Em
.
nte"
tine
Con
o
o
tod
fro nteira, apl icad o "em
desses "contatos"
autor alerta par a as dife ren ças de inte nsid ade
e
1'd,. 'ad equ
d
ei
__
a
n
com os anti gos nat ura is da terr a,,, refo rça
colo ent es are as
.
"f oram mai s ou me nos ínti mo s nas d 1'fer
,. . h ,. de ter van ado em
•.
cia ª
uen
niais e, nes sa med ida , "su a infl
•
11
grau cor resp ond ent e".
lo norte-amencano
. .
,.
,. .
ata'd
Ai sim, Sergio Bua rqu e exp lici ta o exe mp s refe n os ex c
e
omo con trap ont o e o faz a par tir de cas o
'
m
ente por Jac kso n Tur ner :
°
. da Nova Inglaterra qu e,
.
urgiam em suas
s
Con hece -se o caso daq uele s pun'btano
te, s,.ndios e falan d o
Oes
do
s
d 1
re gres sand o do cati veir o entr e tn
os
o
mod
ci'd ades pint ado s ou para men tado s ao
°
121
O u O das crianças mestiças, filhas· d
.
e th11
.
.
·d· 111 5 nauvos.
.
· Uihe'es
.,.,
J
F.
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o
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histo
o
,
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Co
as.
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1 10 ª
. 1 ur
. , 1 as ap11s1 011
ner
. ó dios a presen ta-os como 0
puntai
casi 0 , . ' %e
.
.'
. de a esses epis
1glo-saxô n1 as. Se n am o lado exce pc· na1s nas
alu
ionaJ
sessoes a1
, quas
da históri a dessas possessões. 12
pos ·
e
escanda 1oso ,
ao nati
es casos de extrema adaptação
vo co
.
.
Mas, se eSs
ns.
lact
configuram
U111dos,
dos
Esta
nos
,ões
.
O
o rn .
.
..
utuem exceç
ais
•. da experiência da fronteira brasileira··
.
cornqueuo
lu gares do mun do ame rican o sabemos , entretant
Em algl1115
0
ao menos em parte , esses caso s puderam se r quase ,a regra,
.
.
.
,
que,
·
na Amenca portuguesa, me1us1ve, onde e en
E que O foram
quanto
, '
'negro' da terra não cedeu lugar ao negro da Africa nas f . ,
a1nas
1
o
agrá rias e domésticas. Em Sao Pau o, por exemplo, e nas terras
descobeitas e primeiramente povoadas pelos paulistas [...] atestam
.
numerosos documentos a permanência generalizada do 61.1103
gü ismo tup i-português através de todo o século xvn.1
Podemos depreender dessa construção narrativa que Sérgio
Buarque concebe as duas experiências como sendo da mesma
natureza, embora com uma farte variação de intensidade dos
contatos entre o adventício e o nativo e de adaptação daquele
a este último. Estamos diante, portanto, de uma interpretação
que leva em consideração o que há de comum entre experiências que , aparentemente , são tão-somente díspares. Se
nos remetermos à passagem escrita por Turner referida por
Sérgio Buarque, que se encontra no artigo "The First Official
Frontier of the Massachusetts Bay", podemos deixar ainda mais
claro esse ponto . Através de sua leitura é possível perceber
q~e ª diferença é, como Sérgio observou na passagem citad_a
ha pouco, de grau e não da natureza da relação. Ao introduzir
0 caso dos puritanos completament e aculturados, 14 Turner
~~m~çava dizendo .- -~uma frase que recebeu n~ exen;pl~r ~
ergio Buarque a s1gnif1cativa anotação Jnifluência do 1ndio
que "0 ~ d'10 era uma influência muito' real sobre a mente e a
rn
Nova
.
moral assim como sobre as instituições da fronteira
na .
cion~us,
~
Inglaterra" E · d
. . · , am a, apos a apresentação dos casos excep . f'r. fl "neta a~ 1es
.
o histonador norte-amencano
reforça a idéia da m ue
laço
mando que "
os
exce . '. normalmente, assim como naquelas re
corn
. .
pc1ona1s dos h
dora
omens das cidades fronteiriças
.
índ ios
e rrna 15
.
, existem ev'd
1 "
encias claras da influência transio ,. .,, ·
. .
da fr
ingleS
.
onte1ra mdí e
g na sobre o tipo puritano do colono
122
. que con1 essa referência ao texto d T
o·e10
d
·d ·ar aberta uma sen a na aproximaç à ed urne r se pod e
ns1 e1
.
o a obra d S,
co
e com o qua d ro d e interpretaç
ão
.
e ergio
d
'f
sugerido
p
1Buarqu
. reira e que as 1 erenças c 0111 0 ca
e a tese
da f1 on
so no
.
- mais por conta do grau d e influ ê n . .rte-am
,
en
ca no
se dao
."
eia
tnd1gen
.
corre nas du as expe nen cias de colo . _
a,
pois
esta o
.
.
n1zaçao. Para
.
-pressões do artigo de Jornal publicado p . S, .
usai
as ex
01 erg10 B
41,
pode1n
os
dizer
que
ele
lida
com
b d . ua_rque
O
em. 19
d
. 'd "
0
sileiro "na zona e co1nc1 encia" con1 a exp an_.,, e1ranttsm
.
b1a
e11e nc1a nortemericana e , mesmo que a note as dessemelh an
_
a
" b'
.
,
,,
ças,
nao
se
nstituem e m um a isn10 1nsondave l entre os d .
,
eO
.
01s pa1ses.
Nunca é demais ressaltar que essa proximidad e diz
.
, d ' ,. , · d
.
.
respeito
exatai~1ente a 1nam1ca e americani zação proporcion ada pela
fro ntelfa - o europeu que se adapta ao nativo e so' d
.
,
epo1s,
etoma
parcelas
de seu legado, daí resultando sua am • .
r
encanização - , o que considero o núcleo da tese de Turner.16
UMA OUTRA FRONTE IRA
Se é possível dizer que a leitura da obra de Sérgio Buarque
a partir de um diálogo com a tese de Turner consiste numa
chave de interpretaç ão frutífera , parece útil inquirir de que
maneira este autor teria enfrentad o algumas questões que
envolve m a transposiç ão e adequação da lógica da fronteira
para um contexto diverso do norte-ame ricano. As principais
questões que emergem daí já foram adiantadas por mim no
terceiro item do Capítulo III - quando apresentav a o modo
pelo qual os historiado res do Continent e analisaram a tese
de Turner - e podem ser agregadas em três. Primeiro, cabe
perguntar se em outras partes da América as terras disponíveis
permaneceram razoavelm ente livres e , conseqüen temente ,
puderam servir à lógica da fronteira. É o problema da fronteira
c_~ntrolada. Em segundo lugar, é preciso analisar se ª ~xpe:
nencia norte-ame ncana
.
_ e,, devi'd a, em ande medida a
nao
gr
'
concentração do processo de ocupação do Oeste num espaço
de tem
po razoavelm ente pequeno e concen t ra do no seculo
XIX. Est
1 .
ª
concentraç ão leva a perguntar se O pa pel da tecno..
og1a nà 0
.
.
a
permitir
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tena sido fundamen tal - inclusive par
. ,. .
0 cupaçã
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rapida - a ponto de impedir que a mes
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123
·ra que stão já vem
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1na terc ei
ante rior es.
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pul san do no de
., m dev e ser enf ren tad a: com o Vi cor rer
men to e tam e
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· de Tur ner nao elim ina o leg ado eur ope u, mas . , a
sim
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Des te ino do rest a sab er qua l o pap el do lega
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tran s orn1a.
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fron teir a. ost o o pro bler n o
tran satl antt eo na 1
' .
a de
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cab e a per gun ta: leg a d os d 1st1
ntos
,
lógi
out ra man eira
ca
,
. .
.
se
pro dut os da fron teir a dive rsos ? E, o _1na1s im;
o1 tant e, ern que
grau e en1 que dl·reç ão se dá ess a dife ren ça.
VISÕES DO PARAÍSO
Con1 eça ndo por este últi mo pro blen 1a, cab e adia
ntar que 0
por tug uês é apr ese ntad o nos tex tos de Sér gio
Bua rqu e geralmen te asso ciad o com a idéi a de pla stic ida de.
Não é exagero
dize r que isto aco ntec e, com um a con stân cia
de cha mar a
aten ção , em pra tica men te tod os os tex tos do
auto r, desde
Raí zes do Bra sil até, por exe mp lo , o tex to "A
Inst itui ção do
Gov erno Geral", pub lica do na col eçã o His tóri a
Geral da Civiliza ção Brasileira, em 1960. 17 Tam b ém nos trab
alh os em que
Sérgio Bua rqu e estu da a con qui sta do Oes te
apa rece m, em
algu ns mom ento s, cara cter ístic as do por tug uês
e asp ecto s do
legado ibérico, mom ento s este s que tere mo s opo
rtun idad e de
com enta r no Cap ítul o VI. Mas é em Visão do Par
aíso, apresentado em con cur so par a pro vim ent o da Cad eira
de História da
Civilização Bra sile ira da USP, em 1958, que Sér
gio Buarque
real izou sua exp osiç ão mai s com ple ta e det alh
ada sobre 0
ima giná rio por tug uês . Em cer to sen tido vin te
ano s depois,
eS te livro ava nça a com par açã o ent re o c~l oni zad
or português
e O es~ anh ol inic iada em Raí zes do Bra sil - no
cap ítul o que
a part ir da seg und a ediç ão rec ebe u o nom e de
"O Semeador
e o Ladrilhador"
l'd
d
- , 1 an o ago ra com o ima
/ ·co
gin ário 1'b en
em torn o do des c 0 b ·
/ .
nm ent o de nov as terr as esp ec1·a lme nte
os top1cos rela c·
. .
ton a d os à cre nça me die val 'e ren asc entt·s ta
~ue d/1z1a que em algu m lug ar des con hec ido se
enc ontr aria o
para1so terr eal" Est
d
não
ape nas entr e os ·ib / ª· cren ça, am pla me nte gen era liza a e
dad es
• d' . enc os, gan hav a, con tud o, form as e ton alimui to ist1ntas
d
entr e os esp anh /.
em ca a naç ão, de mo do que enq u anto
tre
os por tu
ois era pin tad a em cor es fort es e vivas, en
ses se ap
d' eta e
chã . Co gue
•
rese
m isso, as nov a ntav a de man eira mai s discr 1
mun do ame ric
s exp eriê nci as pro por cio na ªs pe_eso
ano eram d
•
· duç 0
esc nta
s ent re aqu ele s corn in
124
audaciosas e ~elirantes e, por sua vez, entre os portugueses,
faz lembrar "o pedestre 'realismo ' e 0
de uma man eira ~u
particularismo P;º?~,1os da arte n1e dieval, principalmente de
fins da Idade Media :
Arte em que até as figuras de anjos parecem renunciar ao vôo,
contentando-se com gestos mais plausíveis e tímidos (o caminhar,
por exemplo, sobre pequenas nuvens, que lhes serviriam de
sustentáculo, como se fossem formas corpóreas), e onde 0
milagroso se exprime através de recursos mais convincentes que
as auréolas e nimbos, tão familiares a pintores de outras épocas. is
Este fenômeno , o das novas experiências serem descritas
pelos portugueses com uma frieza e un1 realismo quase inusitados para a mentalidade quinhentista - tão alheia, como
Lucien Febvre observou, ao "senso do impossível" - , 19 Sérgio
Buarque nomeou de "atenuação plausível". Mas o contraste
entre um fundo singelamente crédulo e o realismo é menos
forte, avalia o autor, do que se pode supor à primeira vista,
pois este realismo é, na verdade, "tributário [da] credulidade [do
português], que constitui propriamente uma forma de radical
docilidade ou passividade ante o real".20 Esta credulidade que
nutre o realismo português, o qual se contenta em descrever
o evidente , o imediato e utilizável, é um traço de "um fundo
emotivo extremamente rico e que, por isso, mal atinge aquele
mínimo de isenção n~cessário para poder objetivar-se nas
representações fantásticas "2 1 relacionadas àqueles trópicos do
paraíso terreal generalizados entre os europeus dos séculos XV
e XVI. Dessa maneira no fundo o fenômeno da "atenuação
'
'
plausível" nos remete à plasticidade característica dos portugueses que e ncontramos em Raízes do Brasil, "semeadores"
antes que "ladrilhadores".
Mas aqui é imprescindível abrir um parêntese e voltar a
Raízes do Brasil, tecendo alguns comentários acerca de como 0
português aparece nesse trabalho de 1936, o que nos obrigará
ª revisitar algumas interpretações já lançadas anteriormente
por mim. Dizendo rapidamente, o português que já encontram~s
em Raízes do Brasil não é muito diferente do descrito em Visao
do Paraíso - e ressalte-se desde a primeira edição daquela
~ r~ - , pois c~mo pode~os ler em s_eu segundo capí~ulo,
ssim foram nossos primeiros colonos: instrumentos passivos,
125
sob retudo , acli mavam-se facilmente, aceita ndo o que lhes
sugeria O ambi ente , sem cuidar d e impor-lhe s normas fixas e
indel éveis".22
É isso que configura a "extraordinári a plasticidad e social"
do po rtu guês, qu e segundo Sé rgio Bu a rqu e, "mais do que
ne nhum outro povo da Europa, [... ] cedi a com docilidade ao
prestígio comunicativo dos cos tumes, d a lingu age m e das
seitas dos indíge nas e negros. Ame ri ca niz ava-se ou africanizava-se , conforme fosse preciso" .23 Esta su a obse rvação nos
obriga a perguntar se não estaria presente , d e sde o começo,
em Raízes do Brasil, uma dinâmica de an1e ricanização por mim
negada inicialmente no presente trabalho. Ainda mais levando-se
em co nta que aparece no ensaio de Sérgio Buarque, mesmo
qu e não explorados em detalhes, exe n1p los d e adaptação ao
nativo em grande parte semelhantes aos que e ncontraremos
no livro Caminhos e Fronteiras, pois o autor escreve naquela
obra qu e os adventícios ,
onde lhes faltasse o pão de cada dia, aprendiam a comer e a
prezar o pão da terra , e com tal requinte, que - . afirr1:ava
Gabriel Soares - a gente de tratamento só consumia fannha
de mandioca fresca , feita no di a. Habitu aram-se a dormir em
redes, algumas vezes ao ar livre , como os índios. Outros, como
Vasco Coutinho, o donatário do Espírito Santo , iam ao ponto
de beber e mascar fumo , segundo nos referem os cronistas do
tempo . Dos índios tomaram ainda muitos de seus instrumentos
de caça e pesca, as leves embarcações que singravam os rios e
as águ as do litoral, o modo de cultivar a terra e os sistemas de
defesa rudimentar, em volta dos grupos de habitações. 24
Em suma , como veremos com vagar especialmente no
primeiro item do Capítulo VI, quase todos esses exemplos
encontram-se desenvolvidos em detalhes em Monções e Caminhos
e Fronteiras, obras nas qu ais, queremos crer, esses casos funcionam como um fator de dinamização do legado europeu
em direção à americanização_ quase que nos dois sentidos
em que temos utilizado este termo. Mas, voltando à pergunta,
essa dinamização já não acontece em Raízes do Brasil?
Acredito que podemos começar a vislumbrar uma respoS ta
na leitura da abertura do mesmo parágrafo citado acima, pois
antes de se referir aos casos de adaptação dos portugueses
126
r
costumes , recursos e métodos indígena s Sérgio Buarque
'
.
- f . .
que . demonst rar que aqueles
que nao azian1 mais
va
.
.
avisa
homens, "procura ndo recriar aqui o ineio d e sua orige m ,
fize ram-no coin un1a destre za qu e ainda n ã o e n c ontrou
25
segundo exemplo na história ". Ou seja, toda a plasticidade do
português , neste _rn~n1ent o, não aponta para utn mundo novo ,
mas para a recnaça o do Velho Mundo. Ne sse se ntido é qu e
a pl asticidad e não se contradi z com a idé ia aprese ntada no
primeiro capítulo de Raíz es do Brasil segundo a qual "podemo s
dizer que de lá [de Portugal ] nos veio a forma atual de nossa
cultura", pois , con1plet ava Sérgio Buarque , "o resto foi matéria
plástica" - e acredito que esse "resto" compree nde todos aqueles
casos de adaptaçã o ao índio que citamos há pouco -, "que
26
se sujeitou n1al ou bem a essa forma" . Com isso sou levado
a continua r afirman do que, de fato, os casos de america nizaçã o quase não têm efeito sobre o legado transatlâ ntico e,
conseqüe ntement e, a concepç ão de que "somos ainda uns
desterrados em nossa terra " é um dos argumen tos-chav e de
Raízes do Brasil, mesmo que a lgumas passagen s pareçam , à
primeira vista, contradi zê-lo . Em outras palavras , conform e
salientei no segundo item do Capítulo I, um pilar de Raízes
do Brasil é constitu ído através de uma explicaç ão genética
que resulta em nosso tradicio nalismo , o qual, quase congelado, só será transfor mado no século XIX com o processo de
american ização.
Assim , somente em Monções e Caminh os e Fronteiras a
adaptação ao nativo torna-se produtiv a e passível de apontar
para novas direções à nossa "forma" cultural. Para reforçar
esse argumen to , convém chamar a atenção para que, se, já
em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque aponta para esses casos ·
de adaptaçã o, ele ainda não está pensand o numa sociedad e
fundada de modo especial e intensam ente nesse processo ,
ou seja , uma sociedad e de fronteira , tal como fará nos livros
seguintes. Perceba- se, por sinal, que os casos citados pelo
autor agregam tanto exemplo s relativos especific amente aos
rnamelucos de serra acima como o uso das redes e das embar'
~ações indígena s - as quais, conform e exponho no segu nd0
'.tem do Capítulo VI, foram utilizada s pelos monçoei ros que
iam em direção ao extremo ocidente do Brasil - , quanto um
· que f oi· con:um
exe mp 1O de adequaç ão a um produto nativo
ªPenas no litoral e no nordeste - o uso da farinha de ma nd10 ca
aos
127
Jl f'~
-- - ·----.. . __
. ta coin o vere mos no terc eiro\ tem d
\ que no Plan alto pau 11s
,
'lh
o
. Cap,ítulo VI, foi subs tituí da pela de tn1 o.
.
Em sum a, reafi rman do a difer ença entr~ os d~1s mo° :ento
s
da obra de Sérgio Buarque desd e outr o pont o de vista, creio
que
·zer
que
en1
an1bos está pres ente a perc epçã o do
se po d e dl
.
ona l'd
i a d e de adeport ugue"s con10 o port ador de uma raci
,
.
~
es
do
Bras
quaç ao
il
ela não
ao 1nu1i,..,do
- • , 111 as enqu anto em Raiz
., .
é capa z de n1odificar o exte rior e o prop no self, n1esmo
que
gradualn1ente, através de refor mas_, na obra sobr e a c?~~
uista
do Oeste Sérgio Buar que pare ce v1slu ~brar_ esta poss1b1lidade
e, ao seu lado , certo can1inho de apro x1m açao de um proc
esso
de de1nocra tizaç ão e igua lizaç ão.
Con vém conc luir a disc ussã o dess e pon to sobr e o legad
o
port uguês fech ando o parê ntes e em torn o de Raíz es do Brasi
l:
desd e a sua pritn eira vers ão já apar ecia um port uguê s
que,
graças à sua extra ordin ária plas ticid ade, é, diga mos , basta
nte
adeq uado à dinâ mica da fronteira; no enta nto, esta lógica
não
estava presente no livro. Já nos que abor dam a conq uista do Oeste
,
as n1esn1as cara cterí stica s do port uguê s vão se enco ntra r
com
a lógica da fron teira e, aí, duas obse rvaç ões são necessári
as.
Em prim eiro luga r, seu maio r grau de plas ticid ade em
relaç ão ao angl o-sa xão cond uzir á a uma fron teira mais fluid
a
do que no caso nort e-am eric ano. Mas , com o já disse
mos
ante riorm ente ao analisar a com para ção que o próp rio Sérgi
o
Buarque de Hola nda realiza entr e a fron teira nos dois paíse
s,
esse fato não rom pe com a lógic a da fron teira - de certa
form a a radic aliza , espe cialm ente seu prim eiro mom ento
,
0 da adap
taçã o. Con seqü ente men te, gost aria de ressaltar, a
plas ticid ade do lega do port uguê s e suas dife renç as com 0
angl o-sa xão não impl icam que ele deix e de ser acio nado
pela
dinâ mica da fronteira. Este pont o é cruc ial para todo o argu~t
q~e venh o dese nvol vend o e, para reto mar meu s termos
iniciais, impo rta dize r que a fron teira ame rica niza - no
sentido cont inen tal - o lega do ibéri co, poss ibili tand o que st
e e
apon te em d'
•
.1zaç
·
ireça- o a, ame ncan
ão relat iva à democracia,
de uma
·
man eira no enta nto part icula r o que nos remete ª,
segu nda obse rvaç ão.
'
Com análises um p
.
., .
lorar
.f
ouco mais
exte nsas e., nece ssan
o
e:x:p
as d i eren ças entr e
1 d
'
.
que
angl o-sa
xão e ibe., nco
apar ecem sob nov 1os ega os
. ~
.
nte
ª uz em Visao do Paraíso, espec1al
me
Q
quando este livro é ~o nfro~ tado _com os ele outro s autor es
que tl·a balha. n1 com. a 1nan1
.
,festaç ao .d,, e temas si'mi' la res nos
Esta dos Unido s, pot n1 e10,, d aque le v1es propo rcion ado pelos
tópicos em torno do para1 so te rreal.
Neste ponto , cabe con1e ça r cham ando a atenç ão para fato
O
de que um deste s autor es, Geor ge Willia ms, chega a suge rir
a substi tuição da tese da front eira pe lo estud o de motivos
edênicos , que teria confi gurad o a co ncepç ão de wilde rness
entre os coloni za dores norte -a1ne rican os. Nesse ca minh o
0
autor está na realid ade dialo gand o com a obra de Turne~ e
ao mesm o ten1po n1ati za ndo e d e talha ndo sua tese. Para
0
Professor de Histó ria Ecles iástic a da Unive rsidad e de Harva rd
"o wilde rness niotif, pode ria ser dito, exced e em impo rtânc ia
a fronteira como uma categ oria na interp retaç ão não apena s
da história amer icana mas da histó ria da Igreja em geral ".
Creio que se ja possí vel trans por a argum entaç ão elo autor em
prol de sua afirm ação dizen do que, ao mesm o temp o que
recon hece a impo rtânc ia e a força trans form adora da vida
na fronteira, consi dera neces sário que se escla reça qual a
conce pção que o home m envo lvido neste proce sso possu i
desta natur eza tão avass alado ra que se apres enta do outro
lado. Assim, enqu anto a tese da front eira pode consi stir numa
expli caçã o de cunh o pred omin antem ente ambi ental , o
wilderness moti f "pod e ser um estad o d a ment e tanto quan to
um estad o da natur eza". 27
Sem entra r propr iame nte no mérit o da quest ão se a tese de
Willia ms é uma espéc ie de subst ituta d aquel a de Turne r, con10
ele chega a su gerir , va le subli nhar que suas obser vaçõe s
alerta m para a impo rtânc ia de se verifi car, por mais avass aladora que seja a natur eza na fronte ira, a visão que dela possu en1
os atores. É como se nos lemb rasse que uma expli cação situacional , como a hipót ese d e Turn er, dinam iza, n1as não substitui o legad o transa tlânti co, para o que, aliás, tenho apon tado
e que procu rei opera ciona lizar ao ressa ltar que no Brasil temo s
urna "outr a front eira ". Ness e se ntido mesm o é possí vel ler
Visão do Paraíso como um texto passí vel de ser comp reend ido,
na obra de Sérgi o Buar que, dentr o do mesm o proje to que
envolve Monç ões e Cam inhos e Fronteiras, como se ª tes~ ~e
1958 comp leme ntass e os livros anter
iores abord ando ª tradiç ao
transatlântica que foi dinam izada pela fronteira. Vale, porta nto,
aborda r esse 1·tvro sob este pont d
· ta.
o e vis
129
....
.
f ômen o da "atenu ação plausí vel"
A despe ito daque 1e e11
"
. ,. . d
lastici dade do portu gues
- , não
e reforça a 1de1a e P
"
_
se
qu
.
do Sérgio Buarq ue, que a se d uçao
do
tern
ode
dizer
segun
P
. ,, ' .
.do menor para os portu guese s, durant a
arad1s
iaco
tivesse
si
,. .
e
P
a Idade Me"d'ia e a ei·a dos desco britne ntos mant1 mos, do qu e
vos cristão s de toda a Europ a ou mesrn
0 fora para outros PO
.
o
. d
muçul
manos
".
2a A n1ane1ra pela qual se deu
para JU eus e
. ~
,.
- poi· assim dizer a v1sao d o para1s
o predorni·
esta se d uçao,
'
nante entre oS Portug ueses _ n1esn10 que ela se fosse desvanecendo à medida que a conquista da terra avanç ava-, parece ser
uma indicação preciosa da marca que acom panha o processo
de dinamização da fronteira e sua direção. Neste sentid o, Visão
do Paraíso pode ser lido como fazend o parte do mesm o conjunto
dos textos que aborda m a conqu ista do Oeste brasileiro, oferecendo - uma vez que não se perca de vista o camin ho explicativo sugerido pela lógica da fronteira - uma chave de leitura
em torno do legado especí fico que está comp ondo o processo
e, na mesma medid a, sua espec ificida de. Em suma, é como se
a forma como o paraís o e as novas terras eram concebidas
pelos colonizadores fosse uma espéc ie de ponto zero da tese de
Turner - o que, na verda de, só vern reforç ar que uma explicação situacional dificil mente pode se concr etizar sem laços
com enfoques mais relacio nados com uma explic ação genética.
As descri ções das novas terras feitas por viajan tes e religiosos espan hóis e portug ueses eram marca das por motivos
edênic os e de terras marav ilhosa s onde se mistur avam as
' funcio navam
tradições cristã e pagã. Esses motiv os
como uma
espéci e de lente para enxer gar as novas terras e, ainda que
pudessem ser revistas ou atenua das com as novas experiências,
não ~eixar am de ter grand e longe vidad e. Sérgio Buarque
mapeia um ,. · d
.
ª sene esses tópico s que se espalh am pelos textos,
se1a
nos
que
vis avam
· ana s
.
a penas descr ever as terras americ
se1a
. nos
. que pro curava m d emon strar que nelas se encon tra va
o Jardim b"'bl' d O
t,. .
~ ico
qual Adão e Eva havia m sido expul sos ..O
o pico mais const
.
ante nestas descr ições e apolo gias con s•·sua
no e lima equili b d "
..
trabalh d
ra o, nem frio ne1m quent e", que des d e os
ciad os e ,.Santo Isidor o de Sevilh a (560-636) estava assoo ao paraisa bíbl · 29
•
da perman"' .
ico. Assim, podem os tomar como exe rnplos
enc1a dess
,. .
.arn
terras brasi'l .
ª
topica nos textos que descre vi b ara
e1ras um 1
o
censurado em se .
reato publi cado em 1663 - e rn elos
guida - no qual o Padre Simão de Vasconc
1
130
.
de acordo con1 a tradição escrita , a possibilidade da
,
t
.
a1oca1Izaça
. _0 do para1so em erras americanas. A certa altura
escrevia:
naI1sa,
S. Boaventura [. ..] afirma claramente que si tuou Deus O Paraíso
1·unto à Equinocial: Quia secus Equinoctia est ibi magna temperies
,emporaris: porque junto à Eq uin ocial há grande temperança
dos tempos. [.. .] Podemos acrescentar, que aq uele lugar na
Equinocial é temperado, de copias de águas, e freqüente de
ventos que purificam os ares porque tem a experiência mostrado
ue as regiões que estão debaixo d a Zona tórrida, tidas dos
qntigos por inabitáveis, são temperadas e se habitam com grande
ª
comodidade
dos homens. 30
Dessa maneira, ancorado às tradições religiosa e pagã da
Idade Média em associação com os relatos sobre os novos
mundos, Vasconcelos argun1enta em defesa da idéia de que 0
pa raíso bíblico se localizaria em terras brasileiras. Nelas se
acharia um lugar ameno qu e teria ficado imune às maldições
advindas do primeiro pecado e onde, por conseguinte, não
existiriam a dor, o envelhe cimento e a morte, e novamente o
homem não necessitaria derra1nar o suor do seu rosto para
obter o pão. Sendo assim, é de se notar que até mesmo o
paraíso almejado pelos colonizadores da América portuguesa
acabava por se assemelhar à "terra sem mal" que os etnógrafos
como Metraux e Curt Nimuendajú detectaram em alguns grupos
indígenas brasileiros. As características mais constantes desta
terra, o paraíso indígena, são, escreve Sérgio Buarque,
ª imortali dade,
a ausência de dor e fadiga, o eterno ócio, pois
que ali as enxadas saem a cavar sozinhas e os panicuns vão à
roça buscar mantimento, segundo presunção já recolhida por
Manue l da Nóbrega e Fernão Ca rdim, a abastança extraordinária de bens terrenos, principalmente de opíparos e deliciosos
manjares [. .. l.31
.
dosPara
p os co 1on1zadores,
diante dessa imagem do paraíso
o Êdeovos nativ
· os, "'impunh a-se naturalme nte o con f orto com
árvoren das Escrituras onde, num horto de delícias cheio de
- sós .apraz'iveis
· e boas para comida, o homem se achana
•
nao
·
· d a de
qualqu isento d a d or e da morte mas desobrigado
a1n
32
er esfo rço f'1s1co
.
' o pão', .
para ganhar
131
A vi sã o do pa t.a1,, s0 pr ed o m in an te e nt re os co lo ni za i
. ..
'
ie
das terra's brastle
co n f un d ir
11 as, ql ch eg av. a a se S,,
co m a e"ores
. B
sem rnal " guara ni, un1a ve z
ter ra
de sc rit a po_r . e rg io _ua rq ue
ga
,,
nh ou
uffia sin
te se p1.·111101.o sa de G eo rg e W ill ia m s. D ia nt e da le it
.
.
.
Ura
do liv
ro d e S,e1, .g1.0 Bu ar qu e , o es tu d io so n or te -a m e ric
an
.
.
'
do qu e nas pa rte s do sul do
o 0
co nc entl ou d1z
en
Co
nt
in
e
nt
e
pr
ed
on1.mou a "v1. sa- o de u n1 pa ra íso te rres tre m e ra m en te
à
es
pe
.
d e se r ga n1
l 0 ,, .·-,,3 Este é O po nt o q ue pr ec isa se r d es tacad o ra
•
Po r ou tro lad o , no se u es tu
do p ub li ca do po uc os an os
após
Visão do Para íso, 0 111 es1no au
to r ex plor ou os n1ot iv os ed
ênicos
qu e orquestraran1 a co lo ni za
çã o an g~o- sa xã.' Ne sta: um
a visão
quase qu e antagônica àq ue la
pr ed om in a, po is se ex ist e
também
un1a bu sc a do pa ra íso ele
nã o se e nc on tra p ro nt o na
s terras
do Novo Mundo. Ao co ntrá
rio, a se lv a e d e se rto cons
titui-se
nun1 lugar de refú gio prep ar
ad o para a ve rd ad eira Igre
ja perse guida pe lo mu ndo desd e os
te m po s de M oi sé s. Es ta ter
ra pode
vir a to rnar -se o Ja rdin1 do Se
nh or at ra vé s da su bj ug aç ão
moral
e es piritual n1a is do qu e pe
la m er a co nq ui st a física. 34
Assim
a selva e de se rto ga nh a ta nt
o u m se nt id o po si tiv o de
lugar de
proteção e de mi ssã o do s cri
stã os, co m o um ne ga tiv o,
de terra
devasta da e se m re de nção
, e, en1 to do ca so , si gn ifi ca
o local
on de de ve rá se r co ns tru
íd o o Éd en - a in da qu
e poss a
ser provisório - , m as qu as
e nu nc a é on de e le es tá
à espera
de se r ga nh o. 35
Creio qu e um ex en1p lo escl
arec e do r po de se r ex tra ído
se
obse rvarmos como um a da s
tó pi ca s m ais co ns ta nt es do
paraíso
terreal de te ct ad a po r Sé rg
io Bu ar qu e - o cl im a an
1e no po de
tra ns m ut ar nas pr eg aç õe s do
s pi on e iro s em m etá for a
~:daç~o transfo:madora do
cri stã o, de ixa nd o d e se r un
1a qu alie 1~ere ~te as no va s te rras.
Já
no
d a Uni ve rsidade
sé cu lo XIX o fu nd ador
de y l ::, T'
. _
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a m1ssao das inst'1t · - e,d 1m ot hy Dw ig ht di sc or' re nd o so b ie
uiçoes e en sin o em 18 12' ,
pr eg av a di ze nclo:
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O Evan ge lho é a eh
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a e O bn.lh o d o so l d o
u n o mo ral . On de uv
p a raíso so bi.e o
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e rn e ss d es ab r h ra ios se d e rr a m a m e su as go tas ca en1 '
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oc ª co m o a ro sa e o
d es e rto co mo o
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Egito on deSenhor·
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ge taç ão ílo resc e' e
me sm o en fr ,
aq ue ce , en la n g ue sc e e ex . 36
pir a.
parti.r d es se po nt d
.
a sin gu la rid ad e q
e
vi
sta é po ss ív el qu alifica r rn li1 or
ue a 1óg i
e
.
ca e1,.a fro nt e ira
.
va i as su m ir
ern eac1ti
132
°
,
tes d e tudo é preciso le mbrar que d
esc1e Raizes d
, l .
•
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o
.
e, . Sérgio Bua1 que a et tava que os povo
s conq uistador
•
.
Bras1 1
es
érica devenan1 possuir, e n1 menor ou maior
1
ê
qu
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~
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37
.
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ventureiro. . ortanto, nao se pode assocjar
ª conquista
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o-saxa
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1
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opos1çao à
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da J\ 11
.
, ·i·ca portuguesa. Antes , con1 a aJuda da discuss~
ao antenor,
•
(
• •
At11e 1
de (]!:!e tipo de aventureirof stam os f a 1ando
e-se qua lificar,
_
"-- ~- --· dev
•r
nUl11
e no utro caso.
ao aventure iro de Simme l , qu e age
D e forma semelhante
.
.
como se as obscuridades do destino fossem transparentes 38
bomem, da fronteira possui a audácia de caminhar em direç~o
0
à névoa , mas, enqu a nto no caso norte-an1erica no predominou
a concepção segundo a qual o desconhecido a ser conquistado
deveria ser transformado , e ntre os portugueses O que estava
além da fronteira poderia vir a ser desfrutado. Isto .deixa rá
marcas nos resultados da dinâmica da fronteira brasileira de
maneira que, se graças a ela se poderá falar num tradicionalismo
menos congelado do que a parece en1 Raízes do Brasil e não tão
incongruente com a racionalidade capitalista burguesa - como
exploraremos com mais vag a r no Capítulo VII - , não significa que Sérgio Buarque passe agora a conceber a experiência
brasileira con10 semelhante à norte-ame ricana - como se ao
tentar superar o "abismo insondável entre os Estados Unidos
e nossa América ", conforme suas palavras no artigo de 1941,
tivesse acabado por identificar Caliba n a Ariel.
FRONTEIRA MAL CONTROLA DA
Prosseguindo, uma segunda questão a ser estudada é o
problema da fronteira controlada. Uma boa entrada p ara o
assunto e,. o tra tamento que em contexto bastante d'1verso
daquele em qu e Sérgio Bu ar~ue escreveu a maiori a dos seus
t
textos sobre as bandeiras - a d éca d a de 1970, em contraS e
o tem a recebeu no trabalho d e
com as de 1940 e 1950 '
· Velho, Capitalismo Autoritário
Otá vio
e Campesinato. Recor" . . so b re
rendo ª T urner e ao caso norte-americ ano p a ra re fl ew
..
.
as co ct· ~
d - n içoes de existência de uma front e ira livre e, ª partir
va1l, construir um modelo analítjco generalizável, o autor desen·1 · nos
0 ve u
qu • ma comparaçã o entre os casos russo e brasi eiro ,
em que a
• ,. ·
ais o ca · .
pita 1ismo e struturalment e autontano esf
se vincula
l" ·
era eco "' .
nom1ca é subordinada à da po itica ,1 33 -~
a,I I
º .,,. I ~
J
nteira pelo Estado. Embora dedique-se 0
'ª
,, · d
ao contro 1e d a fro
.1 principalmente à analise e casos de nos
so
.
.
. ,, . ,,
tratar d o Bras1 ,
Ota'v•
Ricardo
Cassiano
autontano
"Turner
,,
10
'
secu 1o e ao noss 0
Velho procura o traço que pern1anece no decorrer da história
do país. Para ele,
fato principal [. .. ) para o país como um todo, é que embora
houvesse casos em que a repressão da força d e trabalho não
fosse evidente , era estruturalmente o traço dominante. Para os
indivíduos, em termos gerais, o preço de não estar ligado a ela era
a marginalidade. Certas áreas para além da fronteira econômica
efetiva tornaram-se, a não ser por fugazes momentos de expansão
bandeirante que gradativamente desapareceram, um locus para
esses marginais, e em o sendo constituíam um aspecto paradoxal
mas complementar (tal como na Rússia) do sistema de repressão
da força de trabalho.
Deve-se notar - consistentemente com a hipótese de Domar
- que nos tempos coloniais expedições não autorizadas ao
interior eram proibidas e era explicitamente afirmado que isso
era necessário a fim de evitar o perigo de desorganizar a agricultura e ~ comércio com a dispersão da mão-de-obra já
escassa. 39 (Enfases no original)
0
Pensando nos textos de Sérgio Buarque e indo direto ao
ponto , acredito que seja possível dizer que eles se coadunam
com essas observações. No texto intitulado "Piratininga", de 1954,
o historiador aborda exatamente o problema que a escassez
de mão-de-obra representava para a Coroa portuguesa ao
dificultar o controle da Colônia, afirmando que,
as
precisamente no Brasil,
• , · [qu e manda queado
. aquele prmc1p10
regiões de terra adentro não se povoem antes d e assegur Ias
o povoamento a defesa e a posse da mann
pe ha
· h a ], d'tado
1
- d'is pun
'
. ,c,·a
de sua metrópole européia, que nao
condições especiais
de gente numerosa e nem, por isso mesmo, de po d eros·a dm111apa·'
para ensaiar em seu longo império uma empresa de 11; 0 ~ s de
ratoso, comparável à que se vinha realizando n as Io<lt a ·as
é manifesto já nas canas de doa çã o das capt·ra n1 tas
Castela,
, '
d
. . em tan
.
·veis,
que aos donatários será lícito engtr
on e se estipula
vilas quantas queiram junto ao mar ou aos rios navega se
,
.déi•
que pe 1a terra ade ntro as não poderão f a zer, sa lvo
porem
e outra corra espaço mínimo de seis légu as . A 1 - es
entre uma
1
era, caramente, conterem-se os povoadores nas ,m
• ed1açoois
dos portos de embarque e pontos vulneráveis da coSra, p
134
..........-não seriam os colon os em taman ho núme ro que pudes sem ser
e ncami nhado s ao sertão sem se despo voare m aquele s sítios .
Em result ado de uma tal provid ência, o Brasil quinh enti sta não
abriria exceç ão à regra então domin ante no mund o portug uês,
que um h istoria dor dos nosso s dias defini u suges tivam ente
di zendo que consta va de 'uma linha de fortale zas e feitori as
40
de dez mil milha s de comp rido' (Tawn ey).
Em p o ucas palav ras , tamb ém para Sérgi o Buar que o
contr ole da fronte ira foi a soluç ão enco ntrad a pelo gove rno
portu guês para tirar melh or prove ito da escas sa mão- de-ob ra
na manu tençã o da colôn ia. Em "A Instituição do Gove rno Geral ",
texto publi cado em 1960 comp ondo o prime iro volum e da
HGCB ( Histó ria Gera l da Civili zaçã o Bras ileira ), o autor
reforça que essa saída se deve, de fato, a uma neces sidad e
qu e as circu nstân cias criav am e não a um desej o inarre dável
da Coroa , pois,
tais medid as, que ao tempo de Tomé de Sousa e ainda antes,
embor a com meno s ênfase , queria m limita r o povoa mento , tanto
quanto possív el, à faixa costei ra , não devem ser interp retada s
como uma espéc ie de veto, defini tivo ou provis ório, às entrad as
pelas terras dentro . De outra forma , como concil iá-las com
o empe nho , tão freqü entem ente manif estado pelo prime iro
gover nador -geral e por certos conte mporâ neos seus, de ver
conve rtido o Brasil num outro Peru?
O que efetiv ament e denu nciam interd itos dessa nature za é, em
geral, a vonta de firme da Coroa de te r sempr e mão, direta mente ou por interm édio de seus agente s, em quem entend esse
de ir a d escob rir segred os e riquez as da terra visand o apena s
ao seu inte resse pesso al, sem que deles resulta sse prove ito maior
para a Real Fazen da:u
Numa expre ssão, o que apare ce no texto de Sérgi o Buarq ue
é o tema da fronte ira contr olada . Ou, seria melh or dizer, referindo-se ao sécul o XVI, a front eira é totalm ente reprim ida,
não tanto , como Sérgi o Buar que escre veu, por não ser desejada, mas pela consc iênci a da absol uta falta de cond ições de
mante r seu avan ço sob o contr ole de um gove rno centr alizado, repre senta nte da Coro a portu guesa . Tudo isso vem ao
encon tro das obser vaçõ es de Otáv io Velho .
Assim, numa situaç ão de repre ssão à entra da para o interi or,
·
·
- E e,, JUSta
• ocorr er como exceç ao.
esta só p o d ena
mente isto
135
~
que parece ter fascinado Sérgio Buarque.
Já no seu textO
1954, logo após ter chama d o a atençao para o controle de
cido pelo governo, o autor escreve:
exer.
Mas a exceção
existe. Existe, paradoxaln:1.ente
.
. , no ponto exato 0
a barreira das montanhas, que no Brasil acompanham
ncte
costeira, parece oferecer maior estorvo ao acesso e
ª Orla
. / . A' d
.
h d
o terntono. m a mais: o empen o e triunfar penetraç'
5 Ob
ao
d
natural obstáculo e de se instalar serra acima parece re esse
os colonizadores logo depois de familia rizados cont~rs~guir
vicentino."
litoral
No século XVII, a "exceção" passa a transforn1ar-s e num
fluxo continuado de colonos demandando o sertão, mesmo que
apesar do governo central, constit~ind~ assim º. movimento
qu e ficou conhecido como bandeirantism o . Assim, para ser
mais exato, com base nos textos de Sérgio Buarque que ficaram
ausentes de Caminhos e Fronteiras e de Mo nções, deve-se
considerar as comunicações entre castelhanos e paulistas através,
especialtnente, do caminho que ligava São Vicente a Assunção
na primeira metade do século XVI, como "u ma pré-história
das bandeiras paulistas" .43
Sérgio Buarque dedicou uma série de textos sobre essa
pré-história das bandeiras, relatando, basicamente , suas
deduções a partir dos documentos sobre os primeiros viajantes
e expedições. 44 Com um tom que beira, algumas vezes, o
trabalho de um detetive, o autor tenta desvendar os nomes,
as datas, o tempo levado em cada uma das expedições. Quando
o .caminho entre São Vicente e Assunção, que fora interrompido en1 1554 por ordem do Governador-G eral Tomé de Sousa,
foi reaberto no início do século XVII finalmente deu-se 0
início do movimento das bandeiras p,,ois como escreveu 0
'
' , "[...] já agora não
~ut~r nu~ desses textos sobre a "pré-história"
a~ia °;eios humanos que detivessen1, como tinham detido
meto seculo ante·s
•
.
' um movimento
in1posto
pelas neces sidades mais imperi osas e ru d'
~
1mentares de uma populaçao
q ue
1utava contra a solidão
e a penúria". 4s
As bandeiras s · · ·
nã 0 d f
e iniciam quando a fronteira mesmo q ue
e orma avassal d
f
;
no
século XVI t· ,
ª
ora, oge ao controle. E como se d
1vessemos u
f
.
seguinte u
ma ronteira controlada e a par t'1r do
ma mal contrO l d
ten e
control
ou
seja
que
se
pre
ar, mas sem eficiência.
'
ª ª-
136
b
Em suma, de uina forma bastante simplificada
a
sem
e
.
,
Ca usas é possivel dizer que enquanto na A , . ordar
menca espa. ,. .
'
as Ola
1
.l
Pouco houve un1a expenencia de fro ntei·i·a
no sentico
.
n1
curneriano - , devido ein boa p arte a form ações de cidad
es
b.
e .
adentrando o ?~tinente e a nga_ndo o núcleo de poder e
controle, na Amenca portuguesa e inglesa foi possível ocorrer
aquela experiê~cia._No_últin1~ caso, tendo havido um controle
efeti vo nos dois pnn1e1ros seculos de colonização _ ou seja,
0 Àryn e o XVIII - , no seguinte, já livre do jugo britânico,
pôde ocorrer a experiência n1ais acabada de fronteira aberta
_ 0 que não quer dizer ausência de participação estatal, mas
46
incentivo. No caso brasileiro, há a colonização do litoral e o
controle das entradas , mas, por uma deficiência deste controle,
pôde ocorrer uma experiência de fronteira desde o segundo
século de colonização, o XVII, ainda que apesar do governo
de pessoas. 47
.
d'1m1nuto
,
ce ntral e n1esmo com um numero
QUANDO AS ARMAS NEGAiv1 FOGO
Este argumento da fronteira mal controlada, que nos leva
dirigir o foco aos primeiros séculos de colonização, traz à tona
a última questão qu e ficamos de desenvolver: a da div.ersidade da época da conqui sta do Oeste no Brasil e nos Estados
Unidos com suas conseqüentes diferenças tecnológicas. 48
Quando falava, no terceiro item do Capítulo III, de como os
autores engajados no estudo da história das Américas buscaram
o que há de comum entre elas, comentei a postura de Víctor
Belaúnde e de Sílvio Zavala diante da aplicação da tese de
Turner fora dos Estados Unidos. Disse, então, que se poderia
inferir das razões indicadas pelos autores quanto à impossibilidade daquela aplicação a idéia segundo a qual O momento
da conquista do Oeste norte-americano - século XIX .- e
seu ritmo intenso - 1820 a 1890 - não pode~ ser desvmcule envolve tecno.
.
1ad os de seu resultado 1nclus1ve
porque e
, · ocorresse antes.
d
'
.
lagias
.
mais avançadas do que se o ominio
,, cas e tecnologias
T d
0 as essas diferenças que envo 1vem epo
_
,, 1 uma comparaçao
- ,,
'
d'
, . 'd
tversas, poderiam sugerir que nao e passive
"l recoce e t1m1 a, e
,, b
entre a experiência da fronteira no Brasii ' P
. Esta postura e em
d
a
•
, . Ro d ngues
madura e avassa 1a ora., Honono
r norte-americana '
a qu al
.
epresentada por certa argumentação de Jose
n
Rtco,
Porto
m
56
em
uma conferência proferida em 19 e
0 historiador afirma:
·
137
~
Enquanto em 1776 os colonos anglo-saxões não se ti h
belecido numa superfície da América do Norte ma 1or
· n do
arn esta França, os portugueses desbravaram o Brasil cedo dern _que a
Foi a dispersão precoce do povoamento do Brasil no ais
s, l.. .].
XVII (nos Estados Unidos começou em 1830 com as esteculo
de ferro) que fez predominar a cultura básica brasil . ractas
. l
d' .
.
. d h
eira co
traços part1cu ares e tra 1c10na1s, arn a oje existent es
' rn
ap
das variações provocadas pelas mudanças técnicas'
esar
ur banas.19
Acredito que seja possível uma respost~ di~ersa, e esta
aparece na obra de Sérgio Buarque, que nao ficou alheio a
essas diferenças, chegando a estabelecer comparações entre
os casos brasileiro e norte-america no em diferentes momentos
de seu trabalho.
De fato, quando se quer estudar a expansão dos europeus em
terras americanas, o tempo em que ela ocorre e suas condições
tecnológicas constituem-se em variáveis significativas e, quanto
a essas últimas, um olhar para as arn1as européias utilizadas
pelos colonos nos dois casos - brasileiro e norte-america no
- pode ser esclarecedor. Conforme observa Sérgio Buarque,
"[. ..] a simples posse de armas européias não conferia aos
primeiros povoadores brancos, nas suas guerras e caçadas,
tão manifesta vantagem sobre os naturais da terra quanto o
sugerem certas observações superficiais" .50
Em certos aspectos, as armas nativas mostravam vantagens
em relação às adventícias, especialment e se considerarmo s a
u~idade das florestas do ~l~.!1ª~!º paulista e a conseqüente
dificul<Jade de ma_mefa pólvora' seca[ou a mecha daquelas
arr:nas_ anteriores a fins do século XVII, quando aparecem 0
pnm~ir?s arcabuzes de roldete - que dispensavam a mecha
s~bs~ituida pela roda metálica que produz faísca. Como resume
Sergio Buarque, "as frechas dos índios não tinham muitas
vezes menor alcance do que um bom arcabuz ou uma escopeta.
As alterações atmosféricas, as chuvas, a umidade, não chegavarn
a causar-lhes estorv s d'
,,
º· eu 1sparo não produz ruido,
ou fogo '
ou fumaça, com que se denuncie o atirador" .s1
Um exemplo de e f
,,
s no
.
on ronto entre europeus e ind1gena
Brasll parece suf ·
ictente para ilustrar as dificuldades:
/
.,,,,.-·
( 138 )
~
1
/
·----
listas
Os Guaicurú, que tanto trabalho deram às expe d iço
. - es pau
,n (l áb ·1
1
nos caminhos fluviais para O Cuiabá, inventaram u
.....
estratagem a para destr uir os comb oios com
.
.
Assim enqu anto uns desp ediam
ança.
suas flechasmaior segur
.
'
.
e
out1o
botes de azaga1a, os que rema vam tinha m a ast, ., ds davam
.
água sobre os fecho s das arma s, com que se esuc1.a e atirar
O
.
.
vam aos
efeito s dos tiros e fazia
m a abord agem sem maioqu1va
r embaraço.si
A rigor, som ente no sécu lo XIX com as pistolas com cilindro
rotativo de seis cân1 aras, todo s esse s prob lema s em torno
do
uso das prim eiras arn1as de fogo - que fazia com que elas,
se
ossuíssem algu n1as vant agen s, tives sem nítidas desv antag ens
~iant e do arco e flech a , com o, aind a, o temp o levado entre
ato de carre gá-la e o tiro - foram defin itiva men te supe rado 0
s.
Aí sim, com o six-shooter, o instr ume nto civilizado demonstro
u
_ conf orme escr eveu Sérg io Bua rque em Extremo Oeste
incon testá vel supe riori dade dian te das arma s nativas, e é deste
momento a expa nsão nort e-am erica na para Oeste:
O resul tado é que os pione iros obtêm, assim, um instru
mento
que os capa cita para triun far, ao cabo, sobre grupo s indíg
enas
armad os de suas rústicas armas, rústicas como as mesmas planíc
ies
onde vagu eavam e, por isso, natur alme nte feitas para defen
dê-las
dos intrusos. Foi a lição dos const antes reveses padecidos naque
le
mund o hostil o que os levou a apare lhar-se para poder subju
gá-lo.
É a parti r desse mom ento que vai princ ipiar a rápid
a conquista
do Oeste. 53 (Ênfa ses acres centa das)
Assim , a mesm a evolução tecno lógic a do século XIX contribui
para o ritm o da conq uista d o O este nos Esta dos Unidos, além
do fato de que arma s de fogo mais dese nvol vida s - sem conta
r
as cons eqüê ncia s trági cas para os indíg enas , não difíceis
de
imaginar - poss ibili tam um dom ínio que man tém um gran
de
diS tanci ame nto dos colo nos em relaç ão aos povo s subjugado
s
e, cons eqüe ntem ente , um baix o índic e de adap taçã o
aos
mesmos - ao men os se com para do com os band eiran tes.
Os band eiran tes e mon çoei ros não pude ram cont ar com
armas de fogo que efeti va e inco ntest avel men te significas
sem
uma supe riori dade bélic a dian te dos nativ os. Assim, para
ª
conquista do noss o Oes te escr eve Sérgio Buar que::);
,
l. .. ] come ça d a mais de duze ntos anos antes , se ac h anam
os
·
senan ·ISlas de São Pa ulo ai nda mais desam parad os d o que
esses pio ne1ro
. s d as selva s e prado s do Hem1.s f,eno
. Norte, se a
0?v
~
comunicação ancestral e também a larga míscigena _
índios da te1·ra não os preparassem singularmentep ara
Çao
t coni os
11
empresa.54 ( Ênfases acrescentadas)
ªnia ha
Se, por um lado , a diferença da é:,~ca em que s_e processa
. a expansão ang lo-an1e 11 ca na no Conttnente .
,
. .
.
faz co m qu e
seia
ranscenda
os
lin11tes
naturais,
no
espaç
t
"um assun to que
,, .
oe
téria"
do estudo de .Se rg10
Buarque ' poi·s "a
no te mpo , da 111a
.
data da patente de Colt - 1835 - c_o1nc1de com a das nossas
últimas e já muito diminuídas 1nonçoes de povoado", pode-se
lembrar que , desde o ponto de vista do núcleo da tese de
Turner, esta diferença não leva a um profundo distanciamento
entre as duas experi ê ncias . Da mesma maneira que a plasticidade do português - ao contrário de se contradizer com aquela
tese - é um reforço do caráter adaptativo do primeiro momento
da lógica da fronteira, este desencontro no tempo aponta para
o mesmo reforço . Desse modo, postas as desvantagens das
armas de fogo dos séculos XVI e XVII, "[. .. ] entre portugueses
e mamalucos, sobretudo nas terras vicentinas, o arco e a frecha
entraram bem cedo no arsenal dos conquistadores, substituindo
em alguns casos as próprias armas de procedência européia"_s;
As entradas e bandeiras, que começam de forma tão miúda
no Quinhentos, são levadas a sério nos textos de Sérgio Buarque
não porque acabam por desembocar na conquista de um imenso
território para o Brasil - ato considerado heróico por muitos
autores - , mas porque desde o início já representam uma
experiência de extrema adaptação ao nativo e começam ª
c?nstituir uma experiência nova no Brasil que, do ponto de
viSra de um enfoque que procure a dinâmica transformativa
da co Iomzaçao,
·
~
pode ganhar, por assin1 dizer, produtivida d e.
Em suma, as três problemáticas 1·á abordadas e o modo
pelo qu 1 S,, ·
. ª ergi o Bu arqu e as enfrentou confluen1 para a parti-·
cul andade da fronteira no Brasil. Para concluir, é possível
nos remeter às pr'
·
, .
· te. imeiras p aginas de Monções - que, e,, tn
ressa nte lembrar f 01· d'1 .
rso
'
re g1do para participar de un1 concu
nos Estados Unid
,, gio
B
os poucos anos após o retorno de 5er
uarque ao Brasil e f 01·
b .
1945
_ ,
.
pu Itcado logo em seguida , em
nas quai s o hi stor· d
ciedad
ia or aborda a especificidade d a 50
e que nasce a p · d
ufll
argument
artir O Planalto paulista com base n_ .
o que e nvolv:, l ' .
f
ce1ra,
e ª og1ca transformadora da ron
140
.
- impor
paulista , se vao
com que , no
Mas a len tidão
. _ Planalto
, .
.:
costu mes, tecnrcas.. ~ou .tradrçoe s vindos da metróp o 1e [ ... l te1<L
. l'b
nse qu e nc1 as. Desen vo lv e ndo-se corn mais
I e rProfundas co
dade e aba nd o no do que e m o utras capitanhe s • ea aça~o co 1o n1.za dora 1:e~liza-s e a_q_u i por um p~·ocesso de con tínua ·adaptaç ão a
cond1çoes -~specif1cas do amb_ien te america no. Por isso mes mo,
não se enrqa logo em formas mfl exíveis. Retrocede, ao contrário
a padrões rude~ e p riniitivos: espécie d e tributo ex igido para u~
melhor conheci mento e para a posse final da terra. Só muito
aos p oucos, embora com extraord iná ria consistência, consegue 0
europeu únplant~1: num país estranho, algu1;:asjormas de vida, que
56
já lhe eram Ja nuhares no Velho Mundo. (Enfases acresce ntadas)
Creio_~e esse trecho sinaliza _que pode ser frutífero (~pro-r
ximar_ o desenv olvime nto do argume nto de Sérgio ~uarqu e / '.'. _
do nucleo da tese de Turner e, ao mesmo tempo 1a forma r')
específica pela qual , dada as condiç ões brasileiras, ~; desen- //.,'
volveu a fronteir a no Brasil. Concen tram-se em duas palavras, · '1/
por um lado, a adequa ção ao esquem a de Turner - adap- {
tação - e , por outro, a p articula ridade do ritmo da conquis ta / r
do Oeste brasilei ro - lentidã o. 57 E para descrev er o process o J / ,:
pelo qual essa socieda de da fronteir a veio a se formar, Sérgio
Buarque encontr ou uma fórmula lapidar: "Com a consistê ncia
do couro, não a do fe rro ou do bronze , dobran do-se, ajus58
tando-se, amolda ndo-se a todas as asperez as do meio."
A imagem do couro ilustra de forma excepci onal o process o
que temos procura do descrev er. Process o não representável, por
exemplo , pela água, a qual adota a forma exata do recipien te
onde se encontr a , e ' uma vez transfer ida para novo receptá culo, novame nte modific a seu contorn o sem guardar resquícios do anterior. Também não se trata do "ferro" ou do "bronze",
que não se amolda m àquilo que os contém . Só o fazem através
do radical process o de fundiçã o, de onde resulta urna nova
forma também sem resquíc ios da anterior, a não ser a dureza. O
couro é que ilustra a transfo rmação por meio de um process o
que envolv e adapta ção, recuo ao primiti vo, mas também
retomada do legado transatlântico e transformação das condições
oferecidas pelo meio. Dobra- se, amolda -se, quase nunca totalmente e com a facilidade da água, mas nunca com a dificuldade
do ferro. E mais, ajusta-s e aos novos ambien tes, mas sempre
guardan do as marcas das dobras anterio res.
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1949, em se gu id a à apresentação
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indí·
, é um asp ect o da influência
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ge na qu e ins ist e em so bre viv
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co mu nic aç ão e a me sti ça ge
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ssí ve is as gra nd es empresas ba
viria animar, sen ão tor na r po
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ma nif est a ne sse s con
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, 1 qu e dev a sei
m a rca do ch am ad o sel va ge
he ran ça desprez1v.e e que cumpre
ca so ela nã o rep res en ta um a
·,i·uo
é um traço negativo edo epost ,
dis sip ad a ou oc ult ad a, nã o
.,iova
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um elemento fi . asorea ,,
superar; constitui, ao contrário,
s vín cu los entre o inv
ca pa z de estabelecer po de ro so
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terra. 1 (Ê nfa ses ac res ce nta da
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bilidad e..
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novo conta to com a selva e com O habit ante d
,
, .
.
1va, e uma
e tapa neces sana nesse feliz proce sso de acl· a se
- ,, 2
1maça
o.
Este capítu lo visa ilustra r o que na obra de s, • B
,
.
ergio uarqu e,
é pass1vel de ser lido, guard ando' sua espec ifici'd
d
.
.
a
e,
a
partir
da te_se da_ fronte :ra de Turn~ r, espec ialme nte a partir do que
considere~ seu nucle o.
p~1meiro item deste capítu lo, baseado espec ialme nte na Pnme 1ra Parte do livro Cami nhos e Fronteiras, tem por tema a adapt ação do adven tício aos métod os
e recur sos nativ os, o que, como vimos , pode- se consi derar
0
prime iro mom ento da fronte ira. O segun do item já config ura
tanto a retom ada do legad o europ eu quant o amálg ama de
O
tecno logias - esses dois aspec tos corre spode m, respec tivamente , ao segun do e terce iro mom entos da fronte ira.
O objet ivo geral do capít ulo é realça r como na obra de
Sérgio Buarq ue é possí vel encon trar uma dinâm ica da fronteira em ação que vem dar moviment o aos valor es e crenç as
de seus atores , aquel es relaci onado s à tradiç ão ibérica. Neste
caso, porta nto, a ênfas e recai sobre o que temos cham ado de
enfoq ue situac ional , no se ntido de que, mais do que o legad o
transa tlânti co espec ífico e nvolv ido no proce sso, o que receb e
luz neste mom ento é a dinâm ica transf orma dora em si. Como
já foi dito, aqui as muda nças valor ativas ocorr em de forma
orgân ica com as mater iais e tecno lógic as, logo, estas última s
merec em atenç ão basta nte espec ial.
?
BAN DEIR ANT ES TÉC NICA S INDÍ GEN AS
'
E ADA PTA ÇÃO
É no sécul o XVII, já foi dito, que come çam as ~an?e iras, ,e
para esse sécul o somo s trans porta d os 1ogo no pnme 1ro paragrafo de Cami nhos e Front eiras :
,
xvn a resentam-nos a vila de
Alguns mapas e textos do seculo
. p de estradas expan sistem a
Sao Paulo como centro _d e ª mplo
_ ta Os toscos desen hos e
dindo -se rumo ao sertao e a cos · _
quem preten da
• tam nao raro,
os nomes estrop iados d esone
n
'
'd a~o de algum ponto
.
servir-se desses docum entos pa ra a e. 1uci Raç rdam- nos entre. h. ,
eco
,
obscu ro de nossa geogr afia i sto r ica · das
para a região de
tanto, a singul ar 1mportanc1a dessas estra
•
A
•
143
cujos destinos aparecem assim represe
. ..
ntactos
. b , 1· 3
Pirat1 n1nga,
Con1
anorama s1111 o ico.
a
etn um P
.· . d í Sérgio Buarque desenvolve um text
o que t
d d
A partll a ,
em
central a descrição a a aptação do ad
.
ventí .
. l
co mo eixo
cio
.~ s nativos espec1a 1nente aos tecnológi
cos. Es
.
.
.
'
aos pa d ioe
. se
deslocando para os n1a1s variados aspect
.
.
os, tlurn·
d .
.
eixo vai se
1desde as maneiras de an ai na selva e de ca ,
Çar, até
S
d l. .
nan do
' b 'tos alimentares e e 1ig1ene. e um certo tom deteti
aos 11a i
, .ue encontramos naqueles textos sobre a pré-h·istona
.
/
vesco q
das bandeiras permanece, agora ele esta a serviço não d
nomes e datas , mas das descrições do cotidiano dessa sacie~
4
dade que ve m se constituindo na fronteir~. • S!rgio Buarque
utiliza diversos recursos para essa reconst1tu1çao, recorrendo
a documentos históricos de outras regiões ou a métodos indígenas e sertanejos contemporâneos que possam dar sentido
às pequenas pistas que encontra nos documentos e relatos
concernentes ao Planalto paulista e à Cuiabá do século XVII,
o que já levou a que se observasse o caráter, além de historiográfico, etnográfico desses estudos. 5
Assim, com todos esses recu rsos de inquirição propriamente histórica e de pesquisas etnográficas, Sérgio Buarque
passa a reconstituir diversos aspectos do cotidiano na fronteira. Para ilustrar este processo de intensa adaptação vale a
pena o estudo mais atento de ao 1nenos dois daqueles aspectos
particularmente esclarecedores: os caminhos e as técnicas para
melhor percorrê-los e, também, a caça praticada entre os
conqu istadores. Começo pelo primeiro deles.
No primeiro capítulo de Caminhos e Fronteiras, intitulado
"Veredas de Pé Posto", são descritos os métodos e técnicas para
d
percorrer as trilhas indígenas geralmente estreitas, exigio º
qu~ os caminhantes seguisse~ em fila simples. O processo
mais. generalizado, "não só no Brasil como em quase rodo o
ão de
·
Con ttnen t
e amencano", é a quebra dos galhos com ª m
t'liza-se
espaço em
s
uI
árvores,
grandes
entre
trilhas
Nas
.
espaço
0
carnPº
E
d
recurso de gol
pes e machado em certos troncos. m
exte
1 ns cas 0 5
nsos anota S, .
rcas
_ergio Buarque, chegavam em a gu
a extrem' d
d ssas rna
os e sut1lez "K h
d umª
a: oc -Grünberg viu uma e
de caminh 0
ente eterra,
I
.
na serra d e T unu1:,, constava s1mp
esm
vareta queb d
e a outra ra ,.ª em partes desiguais a maior metida na 0·0. 6
do O
'
' em angul 0 reto com a primeira,
mostran
1
'
144
Essa última co nv en ção , qu e "só a
um olh ar mui'to
, ,, ,
. d
ex ercita
seria percept1vel , e um ex em pl~
ma rca nte qu e ajuda a lembraor
que não :st ~m os tra tan do de s11
nples co leç ão de mé tod os de
sobrev ivenc1a, ma s de alg o qu e
en vo lve um ap ren diz ad o e
um tre ina me nto ap ur ad o do s sen
tid os . De sd e log o
.
_
, va 1e a
pena lem bra r ne ssa d 1sc uss ao a
no çã o de Ma rcel Mauss de
técnica co rporal , co nfo rm e a qu al
até me sm o um de ter mi na do
"giro de mã o é len tam en te ap ren
did o" .7 Ne sse sen tid o diz
ant rop ólo go fra nc ês, "é pre cis o ve
r téc nic as e a ob ra d~ razão0
prática coletiva e ind ivi du al, ali
on de de ord iná rio vê em -se
ape nas a alm a e su as fac uld ad es
de rep eti çã o" .ª
Ressaltando-se ess e asp ect o de len
to ap ren diz ad o de técnicas
corporais é po ssí ve l de lin ea r co
m tra ço s for tes a pro fun didade da ad ap taç ão do ad ve ntí cio
às téc nic as nativas po is
segun do Sérgio Bu arq ue ,
'
,
um sist em a de sin ali zaç ão con ven
cio nal nad a seria [...] sem o
socorro de um esp írit o de obs erv
açã o per ma nen tem ent e desperto
e como só se des env olv e ao con
tat o pro lon gad o com a vida
nas selvas. Essa esp éci e de rús
tico alf abe to, uni cam ent e acessível a ind iví duo s edu cad os na
exi stê nci a and eja do sertanista,
req uer qua lid ade s pes soa is qu e
dif icil me nte se improvisam.9
Se o calçad o po ssu ía um pre stí gio
"qu ase mágico" nas terras
portugue sas, inc lus ive no Pla na
lto pa ulista, é no tór io o fato
segundo o qu al os ba nd eir an tes
a nd ass em , ao mo do índio,
fre qü en tem en te de sca lço s. 10 Os
sa pa tos era m va lor iza do s
também en tre os pa uli sta s, ma s
só era m úte is pa ra en tra r na s
cidades ou vilas, po rq ue , na ma
ta, o co mu m e aco nse lhá ve l
era o pé de sca lço . Se gu nd o Sé rgi
o Bu arq ue , os inv en tários e
testamentos do s ser tan ist as nã o
lev am a cre r na ab un dâ nc ia
de calçados en tre eles. Há sim, po
r ex em plo , o sap ato "no vo " de
couro de ve ad o pe rte nc en te a um
tal An ton io Olive ira. Mas,
pergunta o his tor iad or "es se 'no
vo ' nã o ser vir ia pa ra ind ica r
,
que so se de sti na va ao' u so na s
,
oc asi õe s ma is
sol en es.?" 11
A ad eq ua çã o do s ba nd eir an tes
às téc nic as ind íge na s pa ra
pe rco rre r os ca mi nh os nã o se
res um iu ao ab an do no do s
calçados, envo lve u até me sm o
um rea pre nd iza do na forma
de ªnd ar, po is en qu an to os e uro
pe us , po r dis po siç ão na tural
~u edu caç ão , ten de m a vo lta r as
po nta s do s pé s pa ra fora, os
1nd ios
american os, em ge ral , ca mi nh am
co m os pé s ap on tad os
145
. te com os pole
gare s volt ados mais para d
a fien '
.
d' .
Para
12
.
. dos pés perm ite
uma 1stn buiç ào rn entro
.
•
tssdispos1ça 0
,,
ais u 'f a
do corp o sobr e eles , alem
de ofer ecer rn
ni or
do peso
" .
,,
en 05 s 01e
,, . de resis tenc 1a aos galh os e obst acul
os dos ca . Uper,
.
m1nh 0
tanc ial econ omi a de
111ane1•ra a perm itir uma subs
. ..
esfor sl de
eqüe
ntem
ente
,
poss
1b1l
tta r and anç as mais di t Ços e,
co n S
s antes 13
Não se pod e sube stim ar esse trein atne nto dos s
. ·
~
,,
.
.
•
enttdos
lanç ar mao de tecn 1cas indi,, ge n as para
o apro veit am
eo
cam inho s já ab e rtos pelo s nati.vos. Na verd ade, nãoento d0
s
" .
,, .
se
deve
deix ar de dar i1np ortan
c1a aos pro pno s cam inho s ai d
, .
' n a que
estre itos , para as entr adas e o dom irno
das terra s americ
.
.
não só no caso do Bras il - pois , segu ndo Sérgio anas _
Bu
arque
" [...) 0 que suce deu em outr ~s luga
res da América, onde a~
Picad as aber tas pelo s natu rais da. terra serv iram mais ta d
re
aos euro peus , perm itind o sua exp ansã o atra vés do
Continente
ocor reu igua lmen te , e em mai or esca la , entr e nós" .14
E, em not~
de pé de pági na, com plet a com uma obse rvaç ão espe
cífica da
histó ria nort e-am eric ana, pois lá tam bém "[ ... ] foi
graças às
trilhas indí gena s, obse rva um hist oria dor [R. P. Bolto
n], que
euro peu s de vári as nac iona lida des pud eram expa
ndir-se
na Amé rica do Nor te" .15 Des se mod o, o apro veita
men to das
estre itas trilh as indí gena s, e das técn icas para as
percorrer)
mos trou -se fund ame ntal para a inco rpor ação das
terras do
Nov o Con tine nte pelo euro peu , e, cons eqüe ntem
ente , para
o iníci o do proc esso de sua ame rica niza ção.
Um segu ndo aspe cto expr essi vo da adap taçã o do adven
tíci~
ao nativ o no Brasil do sécu lo XVII enco ntra -se no quin
to capi·
tulo de Caminhos e Fronteiras e é relat ivo à caça, cujo
grau de
0
adap taçã o está com o que dem onst rand o que na
fronteira .
.
horne m ou acei ta suas cond içõe
s, ou pere ce. Segu n d Sérgio
Bua rque ,
f1e1e
°
.
,
se )Unto as para gens povo adas o euro peu, graças sobre tu do à
xadas,
importação de instr ume ntos metá licos - machados,.
e~ -elati·
i
cun has, anzóis de ferro - ao conh ecim ento de me10s
. de cercos
.
'
vamente simples de obter fogo
e finalmente ao P\anuo r entre
.
.
'
d
vegetais onun dos de outro s climas, consegut.ra vence
plian
nos muitas das limitações impo stas pelo am b'ien te.' darn
de con5•
com ·
isso a b ase econ ômic a onde desc ansava ª soc1e aeria01 as
tituíd
ª pe Ios seus descende ntes nestas terras, outra.s 5 rat1O5 ;e
conct
· ig 110
.
içoes
dura nte long as viag ens por /ug ares
· . ·rarnence ~
incul to A •
.
· s. qu1, o adventício tinha de ficar
qua se mtet
°
146
mercê dos expedie ntes inventa dos pelo selva
.
.
, ·
'd
pois o equ ipamento tec111co traz1 o do Velho Mundo er gem,
.
.
ª muitas vezes inútil
em terras que nao estives sem prepara das
para rece b ê -l o 16
(Enfases acresce ntadas)
·
A
E, então, o histori ador passa a tratar, em minúci as, desses
expedie ntes inv~nta dos pelos ~elvag ens para a caça e a pesca.
Talvez valha n1a1s a pena focaliz ar a n1odali dade de caça im erante entre os índios e sertane jos, à qual Sérgio Buar;u e
contrap õe o estatut o que a caça possui entre europe us, pois
através desse jogo de espelh os o foco da minha apresen tação
fecha-se sobre o tema em apreço - a nativiza ção do portugu ês
no interior do Contin ente americ ano.
As desvan tagens do uso de arn1as europé ias nesses lugares
ignorad os e inculto s - ainda mais, como vimos no segund o
item do Capítul o V, em se tratand o dos arcabuz es e escope tas
anterio res ao século XIX - envolv iam, entre outras coisas ,
a dificuld ade de mantê- las, junto com a pólvora , livres da
umidad e, a denúnc ia que seu estrond o causav a e o tempo
consum ido para carregá -las e fazê-la s funcion ar, e, por tudo
isso, segund o Sérgio Buarqu e, entre portugu eses e mamelu cos
o arco e a flecha entrara m bem cedo no arsenal dos conqui stadores , substit uindo, em alguns casos, as própria s armas de
procedê ncia europé ia. 17
Mas a situaçã o não se resolvi a apenas com a troca do instrumento de comba te aos perigo s da mata e as vantag ens dos
meios indígen as não se limitav am ao arco e à flecha, pois na
realidade estas armas envolv iam, novam ente, um treinam ento
que só a proxim idade e o conhec imento da naturez a permitiam.
Para o próprio nativo,
a posse de a rmamen to mais apropria do ao seu mei_o e ~o seu
ritmo de vida não conferia , por si só, [. .. ] uma situa7~ 0 em
- dos advent1c1os. A
muitos pontos vantajos a se compar a d a as
_ d
çao a
verdade é que sua espanto sa capaci•d a de de observa
.
.· .
natureza e das circunst âncias da vida animal sugeria ao~ P'. imi.
, . d
cursos inacess1ve1s ao
tlvos morado res da terra uma sene
e re
europeu _ 10
p
. d O s a se adequa r e
ortanto , os mamel ucos foram o b nga
.
tamb d
.
d
não
da
tentativ
a
em aprend er esses recurso s a v1n os,
de d 0 .
mi.nar a nature za, mas da busca d e ªJ,iustar-se a ela. Em
147
conse qüênc ia desse treina mento , Sérgio Buarq ue cons·ct
.
l
ue "entre nosso s indíge nas e sertan eJos,
os aços que I era
q
- b
. .
homen1 ao mund o am b'1ente sao
em mais
intens os dounern
0
·
· naçao
- ,,
que
tudo quant o pode alcanç ar nossa 1mag1
:
A própria arte com que sabem copiar os movim entos, os g
_ . .f'
as vozes dos animai s d a se l va, nao
s1gn1 1ca, ne 1es, uma si estos ,
111 P1es
,
mímica· é antes o fruto d e uma comun h ao
ass1dua
com
a
.
'
vida
íntima da naturez a.
Dessa harmon ia entre o homem e seu meio selvagem n
uma inventi va fértil e pronta , uma imagin ação sempre al:;;e
uma atençã o quase divinat ória, que para o civilizado parec:
atingir os limites do miracu loso. 19
Só é possív el perce ber a dimen são dessa quase completa
adapta ção ao ritmo e artima nhas sugeri das pelos seres da
selva se compa rada à relaçã o com a nature za estabelecida
de manei ra geral, pela civilização europ éia, calcada, sobretudo
no objeti vo de ·subor diná-l a. Este tipo de relaçã o tem seu
espíri to mais acaba do, exatam ente, na modal idade de caça
cultiv ada em socied ades do Velho Mund o, nas quais constitui-se não em fonte de subsis tência , mas em um nobre passatempo . Nesta conce pção, escrev e Sérgio Buarq ue,
1
1
a arte de caçar passa a ser conside rada, não raro, como exercício
aventu roso e galante , recreio de gente ociosa e sujeito por isso
mesmo a um rigoros o código de decoro . [. .. ] A caça [tem], entre
outros, o fito de [segun do Varnha gen] dar ao homem 'melhor
idéia de sua superio ridade sobre todos os vivente s'. Superioridade que se afirmav a na tranqü ila consci ência do poder, raramente na astúcia . 20
E, prosse gue Sérgio Buarq ue, comp letand o o quadro de
contra posiçã o:
~ú:·
Como concili ar essa idéia dignifi cante com certos métodos
.
t icos,
· hos e ate as
on de o caçado r procur a nivelar -se aos b1c
,arvore s d f1
a aresta, a fim de engana r e melhor de st ru ir sua
5
U
- remoto
,
presa.1 m de Ies, o do mbayá, até hoje usado em sertoes
d
.
.
l
.
ver
es,
consist e, com efeito, em cobrir- se o caçado r de pa mas
ro·
tomand o a feição de um coquei ro e por meio de pios ap as
· d
·
'
·, cus, n
pna os, atrau macuc os inhamb us ' J'aós
mutuns ou Jª d·zeS
1
'
'
matas espess as, e excepc ionalm ente' - nos
campos - per
148
codorn as ou mesm o bichos de pelo, em p articul ar ca pivara s e
~iacac os. O pró prio se ntim e nto de ~omun idade e até de parentesco co m o resto d os se res n aturai s , a p e rfe ita integr ação no
mund o traiçoe iro e agre ste que admir ave lme nte re trata em suas
lend as , suge re ao índio e tamb é m ao m a maluc o , na caça na
guerra, a vantag em desses exped ientes fraudu l e ntos. o certo ,
porém , é que , long~ de desap arecer em com O tempo , suas
práti cas preval ecem mtatas , ou quase , ainda em nosso s dias .21
Creio que seja possí vel dizer que com essa recon struç ão
dos métod os de caça apren didos con1 o nativ o da terra, dos
meios fraud ulento s ao ponto de o caçad or se fazer passa r por
um coqueiro para n1elhor engan ar os anima is, Sérgi o Buarq ue
tocou num dos n1ais vívid os e escla reced ores exem plos chegando a alcan çar as vanta gens que possu i uma caric atura
_ que se pode imag inar quan do pensa mos na idéia de adaptação à natur eza e aos mora dores origin ais da Amér ica, adaptação exigida, segun do Turn er e, como temo s visto, Sérgi o
Buarque de Holan da, pelo ambi ente de fronte ira.
Contudo, se é lícito traça r este paral elo com Turne r, não
se pode esque cer, como o própr io Sérgi o Buar que alerta em
outra passa gem, que aqu i, qu an do se fala em adapt ação,
trata-se de algo muito mais radic al d o que nos texto s do historiador norte -amer icano . E isto se deve, segun do argum entei
no segun do item do Capít ulo V, tanto às carac teríst icas do
legado ibéric o e à plasti cidad e do portu guês, quan to ao fato
de a empr esa band eiran te se realiz ar antes , por mais de
duzentos anos, da conq uista dos pione ers.
Na prátic a venat ória, aliás, estas difere nças se ressa ltam,
pois já foi dito que some nte no sécul o XIX as desva ntage ns
das armas europ éias diant e das indíg enas foram defin itivamente super adas, avanç o do qual o conq uista dor norte -an1e ricano já pôde lança r mão; assim , confo rme obser va Sérgi o
Buarque, "conh ece-s e bem [. .. ] o alcan ce revol ucion ário que
vai ter o síx-sh ooter na expa nsão anglo -ame rican a entre uma
costa e outra do Conti nente ". 22 Pode r-se-i a até inferi r que,
graças ao mom ento de expan são, o home m da fronte ira norte ~mericano já pode ter na caça - inclu sive ao índio - "n1elhor
idéia de sua super iorid ade sobre todos os viven tes", depo sitancto assim, sua confi ança na tranq üila consc iênci a do poder ,
e não na astúc ia.
149
""'111111111
além disso, pensando novamente em termos de trr ct· . .
d .
.
a iça
-ea"'ni·ca dificilmente se po e 1mag1nar, no caso
o
transoc
,
.
nort
uma adaptação tão intensa a ponto de , . t .
ame n cano,
.
acena
recursos
fraudulentos
que
envolvem
taman
ha
l r
a que les
..
. . .
ac. ªP- ao 11 atívo e a natureza a ponto de se 1m1ta1 brami·ct
taçao
.
os de
• ais ou os pios d e algun1a ave. Como vimos, ao com
anu11
entar
·a
balho
de
George
Willia1ns
sobre
a
Norte
América
co
o t1 .
,.
,.
.
ntraposto à Visão do Para1so de Serg10 Buarque, e nquanto entr
os ibéricos predominava a crença de que o paraíso terre ~
estava etn algun1 lugar à espera de ser encontrado, e ntre ª
anglo-saxões ele dernandaria un1a s ubjugação física e es.plfl·~s
tu al. Neste ponto, p ara artic ul ar o leg~do anglo-saxão_ como
sintetizado por Willian1s - com o tipo de adaptação pred _
111 inante na fronteira norte-americana, é útil a referência : 0
livro de Richard Slotkin, Regeneration through Violence. Publicado em 1973 e com argumentos bastante compatíveis com os
explorados en1 .Wilderness and Paradise in Christian Thought,
o livro trata da literatura em torno da "mitologia da fronteira
americana" entre 1600 e 1860. Dois momentos desta literatura
podem ser elucidativos daquela articulação.
Mas,
r
No capítulo sobre a origem das narrativas de guerras indígenas no século XVII, sugestivamente intitulado "A Home in the
Heart of Darkness", Slotkin ressalta sua marca puritana, que vê
-no Novo Mundo uma "imagem de espelho invertida e obscura
de sua própria cultura e de sua própria mente". A partir desse
ponto de vista, o wilderness (selva e deserto) era percebido
como o universo Calvinista em microcosmo e também era uma
analogia da mente humana. Ambos eram escuros, com possibilidades ocultas para o bem e para o mal. Assim, nas estórias
de guerras do anglo-saxão contra os índios, estes
• · d e Cristo. ou
·te
[. .. ] se agitavam nas trevas como o secreto In1m1go
1
te
no
1rn1
como os maus pensamentos que atormentam a men
de as
da consciência. Como o mal, os índios golpeavam on,. ado
. enfraqueci'd as e, ten do rea. ,zeles
d efesas do bem estavam mais
sua obra, retiravam-se ao ocultamento. Com f reqL_•iêncta
. fernal
·
eiro
tn
tomavam homens bons e virgens puras p ara o cativ
., um
1 tevan ..
e a tentaçao sexual como um pensamento ma
'
23
homem bom eternamente para a distância da luz.
,
_
r
1
,. disput~
Dessa forma, a analogia entre a guerra indígena e ª re oa
entre o b em e o mal pela alma do homem era marcan
150
,,..
, uritana e, por co nseqü ência , a conq uista d as te rras e.lo
psrava impre gnad a de significado s religi osos e acaba va
tc
e
. ~ J
Oc~
,.
•
• ~
-i•stir numa m1ssa
o oe carat
er acirn
a d e tu c.l o mora 1 e
r Lo ns
Pº . . ,, 1 Conf onne as obse rvaçõ e s de Slotk in, a base e.la
·p1!'ltll ,• ·
e~., io Novo Mund o predo tnina ntc entre os purit anos era a
·1S c10 (
' · . _ pçào de qu e o 1nais terrív el pode r sobre o Conti nente não
pci cc
selva e deser to físico s n1as, a ntes , estav a confi n ado
eSI 3 \ " 113' "
.
_
•
seus própr ios coraç oes e 1nent es. Jn1pe ltdos
a se estab elece r
111
e u111 mund o novo e inform e, e les tinh atn a respo nsab ilidad e
em
de cri ar nele estab ilidad e e orden 1 . Se su as próp ri as ment e s
hesitassem ou se e les fa lh asse n1 en1 n1ant er n a co nsciê ncia o
ideal de orde1n, e ntão qu alqu e r mínil no orden amen to no
Continente poder ia de fato deixa r de existi r. 24
É certo que ten1os que lemb rar que, neste caso, está-s e a
fa lar do sécul o Ã'VII e , geog rafica ment e, os Mont es Apala ches
ainda não fo ram ultrap assad os pelos pione iros; estam os, assim ,
antes da efetiv a conq uista da front eira das terras do norte do
Continente pelos anglo -saxõ es. Assim , é hora de passa rmos
para um segun do mom ento da histó ria da litera tura da conquista da fro nteira , salta ndo p ara os anos 20 e 30 do sécul o
XIX, quand o emer gem os weste rn writers, que coinc idem "com
a emergência do Oeste como pode r políti co e econ ômic o na
nação". 25 Neste mom ento, desco lando -se um pouc o do quad ro
construído pela litera tura purit ana de décad as anter iores , onde
o bem e o mal eram nitid amen te separ ados, os
n1c~1l~-
, '1
Westerners admir avam home ns de ação e corag em, home ns que
soubessem vive r como indíge nas, lutar como indíge nas, pensa r
como eles, e tirar escalp os. Um herói real era alguém que pudes se
bater os índios em seu própri o jogo, viver com pouco manti mento ,
matar mais anima is e, da mesm a form a, tirar ma is escalp os. 26
Assim, somo s de volta reme tidos à idé ia de inten sa adap tação . Contu do, e é isto que impo rta ressa ltar neste n1om ento,
aquela missão de trans form ar um mund o sem forma , o qual
con81st1
· ·
a mais em uma prom essa que numa realid ade, perm a~~ce ao lado desta adapt ação, pois esta, alerta Slotk in, não quer
. izer que os Westerners viam a si mesm os como bárba ros,
isent
·
est· os de t o d o inter
. ·1·1zaça- o
esse em esta b e 1ecer uma c1v1
aveJ 27 N
urn · a verda de, Slotk in suge re que há para o purit. ano
ª dupla missã o, a de torna r-se um índio para venc ê-lo no
151
~
.· can1po de batal ha e, ao mesm o temp o a d .
seu pi.6 p110
.
.,... '
da consc1encia de int't 1na1nente se difer encia r dele por meio
. . . 28
e se
. .
.
taura
r
no
n1un
do
a
lei
d1v1na.
u
obJet
1vo: 1ns
.
Dest a rnane ira, aque la tnarc a purit ana de uma Viol
. d"
~
difer encia ção entre o euro peu e o tn
igen a nao se deenta
f
.
s az
coinpletainente. D1fe
rente1nente d os caso s d escri.tos por Sérg·
Buar que, en1 nenh um mo1nento a~ d~1as hum anid ~des chega~
a ser iden tifica das e, pode -se ate dizer , aque la idéia que
disse n1ina no itnag inári o angl o-sa xão dos prim eiros anos ~:
conq uista - segu ndo a qual as nova s terra s have riam sim d
ser O paraí so terreal, n1as por n1eio da cons truçã o de um jardi e
fecha do que den1 anda uma subj ugaç ão espir itual e moral m ~
.
.. .
,
ais
aind a do que a conq uista fisica 29 - em mom ento nenh um
se
desv anec e com pleta men te - mesm o que em form a de conseqüên cias n1uito difus as e de difícil map eam ento .
Em suma , vale lemb rar, com Sérg io Buar que de Holanda
a obse rvaç ão de Turn er, segu ndo a qual na front eira norte~
amer ican a a mest içag em e uma mist ura cultu ral a pont o do
bran co se conf undi r com o indíg ena é o lado excepcional,
enqu anto aqui , segu ndo o auto r bras ileir o, cons titui- se como
regra . Este fato pare ce mesm o se conf irma r nas narrativas
purit anas de fins do sécu lo XVII que abor dam o tema do cativeiro de bran cos pelo s indíg enas , nas quai s, segu ndo Slotkin,
os ex-c ativo s - tend o expe rime ntad o a Blac k Eucharist do
wilderness e dos índio s - torn avam -se, e1n algu ma extensão,
amál gam as simb ólico s de cara cterí stica s indíg enas e brancas
e , por esse moti vo, se asse melh avam à mais terrív el figura da
hagi ogra fia purit ana, o mest iço espir itual . 30
Port anto , se a influ ênci a indíg ena, a adap taçã o do adventício , é a cara cterí stica marc ante da fron teira no seu primeiro
mom ento , ela ocor re, toda via, de man eira parti cular de acor~o
com o legad o euro peu envo lvido no proc esso . Por isso é preciso
anal isar com o as nova s assim ilaçõ es, espe cialm ente nu~a
ex pene
. ,. nc1a
. ra d'1ca1 com
o a do prim eiro mom ento da fronteira,
se enqu adra m no imag inári o do adve ntíci o e com o são mo du-,
lad
as por e 1e. Ness e pass o é prec iso que estej a envo lvi·da urna•deter min d
.
a a conc epça~ o de soci. edad e e de cu 1tur a que ass1
ern
m1le de ma .
1
,,
d
danç
a. e,
ne1ra p a us1vel esse proc esso e mu
deS
certa altu d
.
ra e Cam inho s e Fron teira s falan do d as 50 c1eda
'
152
Sérgio Buarque acaba por prestar contas de forma
l'cita
sobre
a
concepçao
com que trabalha . Segundo
1
. d'genas,
1
111 .
(113.1·5
exP
alavras,
suas P
. 3. análise histórica das influências que podem transfo rmar
pa1a
modos de vida de urna sociedade é preciso nunca perder
o5
.
. d
de vista a presença, no mtenor o corpo social, de fatores que
aj udam a adm_iti1~ ~u a rejeitar a, intrusão de hábitos, condutas,
técnicas e inst1tu1çoes estranhos a sua herança de cultura. Longe
de representarem aglomerados inânimes e aluviais, sem defesa
contra sugestões ou imposições externas, as sociedades, inclusive e sobretudo entre povos naturais, dispõem normalmente de
forças seletivas que agem em benefício de sua unidade orgânica,
preservando-as tanto quanto possível .de tudo o que possa transformar essa unidade. Ou modificando as novas aquisições até
ao ponto em que se integrem na estrutura tradicional.31
Realmente não é exagero dizer que, mesmo levando-se em
consideração toda a obra de Sérgio Buarque, esta é uma das
poucas passagens em que algun1a teoria acerca da sociedade
e da cultura aparece de forn1a explícita e não, por assim dizer,
incrustada no trabalho mais especificamente de historiador,
como é o costun1e do autor. 32 E, se não podemos rastrear as
origens dessas idéias expostas nesse raro n1omento - seja
porque são passíveis de serem relacionadas a mais de poucos
autores, seja pela infinidade de leituras, em diversas disciplinas,
levadas a cabo por Sérgio Buarque - , também, creio, não
podemos deixar de anotar sua afinidade com a concepção dos
filósofos pragmatistas norte-americanos,. Dewey e Willian1
James, acerca do estoque de crenças, já exposta no terceiro iten1
do Capítulo IV. Convém citar novamente a passagem de Jan1es:
O processo observável que Schiller e Dewey isolaram particu-
larmente para generalização é o bem familiar, pelo qual qualquer
indivíduo estabelece novas opiniões. O processo é sempre o
mesmo. O indivíduo já tem um estoque de velhas opiniões,
mas depara com uma nova experiência que as põe em processo
de triagem. Alguém as contradiz; ou então, em um momento
de reflexão, descobre que elas é que se contradizem umas
c?m as outras; ou toma conhecimento de fatos com os quais
;ao incompatíveis; ou surgem desejos que elas deixam de satisazer. O resultado é uma perturbação íntima, à qual até então o
seu e , .
spmto tinha sido estranho, e da qual procura escapar
153
~
modific ando a sua massa prévia de opiniõe s S
ass unto de crenç
· alva O ,
q ue pode, pois ne sse
.
.
a
somo
l'ita~i
conserv adores. Assim, tenta primeir o troe
s
ao
ex
inci
.
.
,
ar
essa
trelh
(
deJJois aque la pois resistem a mud ança e
. ºPin·- ·110
, .
.
. om rnunia.o
até que, por ultimo, alguma s idé ias nova
ª
Vari ect ' e
s surge
ªele)
pode e nxertar no estoque velho , com O míni
rn, as qu .'
.
l
,.
para esse u, l timo,
a gumas 1'd e1as
que medeia mo de ct·tstúrb·ais
. ,. .
entre 0
to
e a nova expene ncia e que as condu zem umm
-as ,
estoq
as
ue
facilida de e expedit amente .33
outras, coin
Apesar do fa to de Sérgio Buarqu e estar se referind
,
0
dades e, Jan1es, as mudan ças de cre nças do indi 'da soe·1e. 'd a d e d e 'd "'
un1a certa a f 1n1
1 e ias. p ara o primeir o a VI UdO, há
mu ança
cultural se dá a partir do mon1e nto em que os' hom
ens de
un1a socied ade se defron tam com hábitos conduta s te'c .
'
, nicas
e institui ções exógen os, os quais passam por uma triagema
partir de critério s próprio s da estrutu ra tradicional daquela
socieda de. De maneir a similar , para James - e Dewey _
0
indivíd uo adquire novas crença s a partir de novas experiências,
mas a mudan ça ocorre agencia da pelo estoque de velhas crenças
que , a partir daí, sofre m um reo rdenam ento .
Se lembra rmos que, quand o falamo s de James e Dewey
pela primei ra vez, foi para ate ntarmo s para a afinidade entre
a tese de Turner e o pragma tismo, sugerid a por Ray Allen
Billing ton, é lícito que consid eremos certa afinidade entre.º
trabalh o do histori ador norte-a merica no e a obra de Sérgio
•
Podemos
Buarqu e desde esse ponto de vista pragma tista.
.
1
se
ef
e
uva
pensar que, para os dois autores , a mudan ça cu 1tura
.
,,
.
.
,,
, rio deles d e maneir
a semelh ante. Alem disso, e isso
e prop .
apon t",1
e não dos dois filósofo s a situaçã o de fronteir a
is
'
d
cultural,
P
º
para um modo particu lar e intenso de mu ança
d urna
ela signific a uma nova experiê ncia radical, obrigan
daÍi
~
a
part11
revisão avassal adora das velhas crenças . Entao,
- 5 dos
d.
~
os
padroe
isso que acaba signifi cando uma adapta çao ª , . pass,1rD
morado res origina is do novo ambien te, os advent1c10 5 dut,1S,
ª, ter .um desenv olvime nto orgânic o de seus ha'b1'toS ' considade5
neces
t ecn1cas e ·
• .çoes,
"
· c om as
nto
1nstttu1
em congru encia
0 me
adv· d
,,, "urnrn
1a
in as de sua labuta cotidia na. Mas esse Jª e
a cr~1t~1c'
seguint e
·
até agor
res,
, que sucede a adapta ção ao nativo
.
ce. fJ1 ..
e, por iss 0
. eir º
mesmo, deve ser enfrent ado pos teriorrnene prtf11
contud0 d
e ness
, e passarm os a ele cabe enfatiza r qu '
° ~-
l
154
1110 n1e1l to
da fronteira, as experiências ocorre m mui'tas .
.
.
,
vezes,
co!ll tal grau de novidade , _que ex1ge1:1 u1na quase _ e a compa- co m os Esta dos .Unidos
nos
raçao
,
.·, a1uda a sublinhar O quase e
. dicar que seu g1 au, e. vai tado - . completa revisão do
a ,n
estoQ U e de crenças e habitos. do c olonizador' o que significa ,
em o Utros tern1os, a necessidade de se adaptar às cre nças e
hábitos do nativo. Essa é a n1arc~ mais intensa na quase totalidade da primeira parte de Canunhos e Fronteiras, até mesmo
• fo i·te do que a idé ia de "amálgama" entre as culturas
mais
nati vas e a d ventícia , e é interessante, nesse sentido, que,
.á erto de seu fin a l, no Capítulo 7, Sérgio Buarque volte a
linsistir
p
na idé ia de a d aptaça~ o a f·irn1an d o:
Mas a co ntínu a prática da selva não estimula somente essa
espécie de ad a p tação qu ase fisiológica às situações mais perigosas, co mpa rável, em sum a, à arte do acrobata ou do pelotiqu eiro. Representa, em primeiro plano, uma verdadeira educação
moral, cujas conse qü ê ncias não podem ser apreciadas de modo
abstrato e independe nte mente das condições particulares que
a suscitaram. 34 (Ênfase acrescentada)
Ao se referir à educação moral ocorrida nas condições
particulares da fronteira , essa passagem nos permite uma
rápida reflex ão sobre a apresentação que Sérgio Buarque
elaborou para o livro Caminhos e Fronteiras, no qual, a certa
altura, alerta que "a acentuação maior dos aspectos da vida
material não se funda, aqui, em preferências particulares do
autor p o r esses aspe ctos , mas em sua convicção de que neles
0 colono e seu descendente imedia to se mostraram muito mais
acessíveis a manifestações divergentes da tradição e uropé ia
d
· · ~ s e
0 qu e, por exemplo, no que se refere às inStttuiçoe
sobretudo à vida social e familiar em que procuraram reter,
tanto
,
l" 3s Se isso é verda. quanto poss1vel seu legado ancestra ·
deiro
d
'
d
7ao aos recursos
' pu emos ver também que a a aptaç
e '
'
'
·
··at"
tecnicas nativos ou seja os "aspectos d a vida mate i i ,
envolv
'
'
.
. , ões uma reedu~ e, em grande medida, e em muitas situaç
'
caçao
.
. , vimos no caso
d
' por assim dizer, espiritual, tal como Jª
, .
a prát'
<l 0 ção de tecn1cas
· _ ica venatória que mais do qu e a ª
lnd1ge
'
dica! na connas de caça envolveu uma mudança ra
Cep Çao
, d
'
ª relação entre o homem e a n a tur eza ·
155
RECURSOS NATIVOS , TÉC NIC AS ADVE ,
DESENVOLVIMENTO
Ntr crAs E
,
DAS CANOAS
""'
Segu indo no ssa 111a rc h a pa ra o O es te bras ilc i .
to segu 1
Sérai o Bua rque , pod e n1os d a r n1a1.s un1 p asso
nlo
v
110 t
.
~
.
,
emp
o
e
espa ço e de dica r a ate n çao
b as1c an1e nte a o sec ulo XVI no
. e n1 d '
~
avanço da fro nte ira
ire çao
a o atua 1 Esta do do Mato GII e ao
_
d
.
sã o as mon çoe s e pov oa d o . p a1.a isso
, van1 os nos d rosso·.
~
fund ame ntal men te sob re o livro Mo n çoes, pub lica do e6ruçar
em
1945
na verd ade o prim eiro text o sist emá tico de Sérg
io
Bua
e,
,. ' .
rque
vind o a pub lico trat and o do tem a das entr ada s e
bandeiras .36
Con tu do, isso não nos dev e ilud ir e con side rá-l
o como um
livro abso luta men te inde pen den te d e outr os textos.
Aliás, é de
se lem brar que o próp rio auto r che gou a afir mar que
a obra de
1945 foi "não só pen sad a mas re dig ida, em sua vers ão
inicial
e aind a sumá ria , junt ame nte com o s cap ítul os que
formam a
p rime ira seçã o do atua l volu me [Ca min hos e Fron
teira s] ".37
Num a prim eira apro xim açã o , as mon çõe s e as band
eiras se
dife renc iam , ante s de tudo , pelo mei o de tran spor
te empregad o , po is, com o obs ervo u Sérg io Bua rqu e em
uma conferênc ia sobr e o tem a, ao con trár io do que oco rre entr
e os sertanistas - qua ndo "os rios con stitu em efet ivam ente
obstáculos
à mar cha e as emb arca çõe s, em gera l sim ples cano
as de ~~sca
ou tosc as J·ang adas são ape nas re curs o ocas iona l [
...1, utiltzavel
'
- "a
ond e a mar cha a p é se torn ou imp ossí vel" - , nas
mon
çoes
'.
.
,.
nave gaça~ o , d'1sc1
e
se
torn,1
plin ador a dos mov ime ntos , e qu
regr a com um, e a mar cha a p é , ou a cav alo, ou e m rruagem
ca
, a
( na f azen d a
· · exceçao '
de Cam apõ a, por exe n1p lo), con stitu
i
essa regr a" _3s
- .gnifi Cíl
Mas esta dife renç a nos mei os de loco moç ã o nao
si
ois
uma ind
dA
.
5
.
·men
to
,
P
epe n enc1a abs olut a entr e os dois mov t
d umª
na real1'd d
·
iida
ª e os dois pod em ser vist os em conttnL / e,·· a J ~1s
ve z que
~
" hi
' escr eve o hist oria dor em Monçoes
, ª sto!l to d11
mon ções d 0 e· . , ,.
en
. , .
uiab a e, de ce rta form a , um pro lO ngam
h iston
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ar~1
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.
. ·r
Br .
as and eira s pau lista s, em sua exP,,ª .nsao] pj11s1s
tt
asil Central " 39 T
✓
~
,. · 11 uul [...
rer
no fat d
·
anto e assi m que ' nao e i _ paulo,
o ea t' .
.
ecn1ca da nav ega ção fluv ial,
em sao
°
•
156
,
·do sua fase de maior desenv olvime nto
b.
u
, .
;<Vlll, com o decl1n10 das bandei ras" _4o , so I etudo no séc u l0
Dessa maneir a, justific a-se nossa esqu
.. _
.
e
matizaç
ao na qual
associam os o n1ovm1ento bandei rante pro .·
.
1 tame nte dito
.
_
ao
século À'VII e, ago ra, as rnonço es ao séc P
ul
o
.
~
..
. .
.
significa d1ze1 que n1u1tos bandei.rantes não t· segutnt e. Nao
•
e
ivesse m andado
em terras boie mato-g rossens es, mas ma rchava in b. d
so 1etu o a
Pé ' apenas eve ntualn1 ente com barcos , e , ac 1·1113 d e tu d o, nao
ch egaram a estabele cer uma rota sistemá tica de p
- .
.
ene traçao
Dessa maneir a , quando a travess ia de um rio era inevitável
na tra jetória_dos bandei ra ntes, estes, como era de se esperar
rend o em vista os exemp los expost os no tópico anterio r se
adequ avam às técnica s indígen as de navega ção e acaba;a m
por aprend er a constru ir canoas a p artir das cascas do tronco
das árvores . Essas canoas de confec ção rápida, mas também
de pouca durabil idade, vinham ao encontr o das necessidades
daquele s que poderi am abando ná-las a qualqu er momen to
para prosseg uir sua n1archa por terra, pois "os gêneros que
transportava uma dessa s embarc ações [. . .] limitavam-se ao
estrito necessá rio, já que os n1atos e rios constitu íam, nesses
casos, as princip ais estalag ens do viajante, habituado a restringir
sua dieta a frutos, raízes silvestr es, répteis e ao que alcançasse
com suas esping ardas e anzóis" .41
Mas , para os monço eiros, essas canoas feitas de casca de
árvore não se mostra vam adeq uadas a prosseg uir por via
fluv ial em lo ngos percur sos e levar uma carga que não se
limitava às suas própria s necessi dades , posto que conduz iam
também mantim entos para comerc iar com as novas cidades
e arraiais que nasciam no extre mo O este do Brasil em torno
da extra ção de ouro e diaman te. Isso não signific a dizer que
os monço eiros já a qui romp e ram com as téc nicas indígen as
e as subs tituíram p o r métod os advent ícios. Na ve rd ªde,
, na r·iv 0 ma is adequa do
eles e Iegeram outro recurso , ta m b em
, e
•
,as suas
.
1
ão
contin
uaram
neces sidade s. Assim, se e es n
a proven
• ando as ca
noa s de casca, passara m a utilizar as. de
t
ronco , també m constru ídas da mesma manei·ra que os _nativos
an1encano
·
~
s costum avam fazer. E nao
so,, na constru çao, ,. mas
.
n
- .
.
os
advent1
c1os
ª propna
maneir a de conduz ir
as canoas ,
se d
• d" nas Isso leva
ª aptaram às técnic as e re cursos tn
ige
·
s-ergio
. Buarqu
e a afirn1ar:
157
Um fa
to pos itiv o, em tod o o cas o, é
que , rec
.
.
orrenct
eir
os col ono s e s
pru. ,,a ind íge na, os pnm
,
.
eus d o à 111 atér'1
nbém ma ntiv era m a tec111ca de con stru
ca1
ção
,
_
enct a.
•
naval esc:
d
a terra. Nao se pod e af1r
ente
ma1
que
,
dur
ant
d
os nat lira- s
e
a
era
imigrante eur ope u ten ha acr esc ent
1
ado gra nde
. Colonial s
·
·
1
·,
nav ega ção mte nor , ta com o ia a
a à
,o
enc ont rar a cois
.
arte
,
f
b
.
d
b
gentio. Nao so no a nco as em arc açõ es , co prat1cact a entr ede
mo na
o
os uso s est abe lec ido s, ant es do
adv
ent
o
do
h
l11areagen
·
b
·
·
pud era m, ass im, so rev ive r 1ong
am e nte à ome. 111 bran co1,
6
ant igos mo rad ore s. 42
su Jug ação do~
Co nst ruí das a pa rti r de um ún ico
tro nc o as p·
,
eram mais pes ada s e den 1o rad as pa
!rogas
ra
faz
er
do
que
as
e
~
de cas ca n1as em co n1 pe nsa çao
, du rav am ma is eramanoa.s
'
,,
.
.
'
res iste nte s e pass1ve1s de co nd uz ir
mais
um pe so ma ior e, assi
m
ade qu ara m- se me lho r às ne ces sid ad
es de um a rota comercial
qu e vin ha se co ns oli da nd o à me did
a qu e se estabeleciam
po vo a do s no ext ren 10 Oe ste .
Se as pir oga s ind íge na s de mo nst rar
am um desempenho
satisfatório par a o tra nsp ort e das me
rca do rias, suportando seu
pes o e sup era nd o os mu ito s ob stá cu
los das viagens, também
apr ese nto u def ici ênc ias , o qu e exi giu
um seg un do passo para
a rotinização do trá feg o com erc ial .
Fo i nec ess ári a a adaptação
das em bar caç ões ind íge nas par a est e
obj eti vo e "os progressos
nes se sen tid o ter iam de ser , po r for
ça, mo ros os e orientados
pel a con tín ua exp eri ênc ia" .43
Essa con tín ua exp eri ênc ia ne m sem pre
foi fácil e sem c~ns~quenc1as d o 1orosas. Os cas os ma is rep
res ent ati vos e 1ame ntav
' e1s
~
que a ilustram oco rre ram no s pri me
iro s an os de regularizaçao
da rota. Co nta Sér gio Bu arq ue:
..
A
•
Ho uve , por exe mp lo, com boi o, saí
1
,
do de Sao Pau O emos1120
que
em que tod os os pas sag eiro s e trip
ula nte s per ece ram .
v·
cio
.
iera m d epo1s
enc ont rar am ma nti me nto s po d res ao longo
. correu
ca · h
mm o e, nas can oas , cor pos mo
· · ntes.
rto s de viaJ
a
ao arrai ~d
tod o ess e ano de 1720, sem que che
gas
se
viv
a
alm
a . , do no
do e · ,
. oxi po, em bor a num ero sas pes soa
emba 1c,t
s
tive
sse m
Tietê
apand 0
,
com ess e des tino . Do s que che gar
172
1
esc
am em
' b g~1gen 5·
a morte, alg uns tinh am per did o
am
igo
s,
esc
rav os e a chegou
Conta 5 d
- e e um , o ca pit ão Jos é Pir es
de Alm et•da ' que por ui'fl
a dar um
1
.
.
simples peimu atin ha ' tido por ele em con ta de filho , ·rn Pº•de
eh
Só ass1
xe pac
ue
ega r com .d u, com que eng ana sse a fom e.
inais q
cons ·
vi ª• poi s per der a tod a a esc rav atu a e o
1go
r
lev ara .44
,-~
1
iss l
I
~
,,.
Ili..._
nas
Esses c aso s den 1on stra 1n qu.e ape
urs o à tra diç ão
f' . o rec
d'
11 ão se n1o stra va 1na
. díg ena
e ian te das nec es· d1s su 1ci ent
·
1
1n1·da des e dif icu lda des a dv1n
. ,, as
. co1n a 1mp ant açã o de um a
s comei·ci'al · As sim ' e aqu i e 1n1portan
te not ar que com eça a
rota
rum no vo pas so do hon1en1 da fro nte
ira , foi pre cis o
desponta_ de rec urs os adv ent íci os e ade
lançar ma o
quá -lo s aos tomados
. d
.
."
. . Ne sse cas o, d epo1s
do nativo
e tris tes exp ene nc1.as,
trat ou- se de rem edi ar a falta, faz end o
told ar as can oas , a exe mp lo
do que aco nte cia nas em bar caç ões
fluviais do Velho Mundo.
Usaram-se, com ess e fim , cob erta s de
lon a, brim ou bae ta, sustentadas sob re um a arm açã o de mad eira
, con stit uíd a de um a barra,
que des can sav a sob re dua s forq uilh as,
disp osta s de um lad o e
out ro da par te cen tral da can oa, des
tina da à carg a. Sob re a
bar ra hor izo nta l , a que cha ma vam
cum ieir a, col oca vam -se
per pen dic ula rme nte , de pal mo a pal
mo , bar ras men ore s, forman do com o um telh ado , cuj as ext rem
ida des ultr apa ssa vam as
bor das da can oa. 45
Portanto, foi nec ess ári o un1 rec urs o do
Velho Mundo para se
poder sup era r pro ble ma s qu e as nov as
exp eri ênc ias traziam e,
aqui , o leg ado eur op eu con 1eç a a ser ret
om ado , ade qua ndo -se ,
por assim diz er, à bas e for ma da ini cia
lme nte pel a com ple ta
adaptação ao nat ivo . Ne sse cas o esp ecí
fic o, o tol do, des conhecido ent re os índ ios bra sile iro s, pas
sa a ser util iza do nas
pirogas tom ada s de em pré sti mo del
es pel o adv ent ício . E,
nunca é dem ais enf atiz ar, tod os ess es
pas sos são ori ent ado s
pela con tínu a exp eri ênc ia. Gr aça s a ess
e rec urs o adv ent ício a
rota comercial tev e con diç ões de se rot
ini zar e sup rir as minas
mato-grossenses de sup rim ent os. Seg
und o Sér gio Bu arq ue,
ª
inv enç ão , ou pel o me nos , a difu são
des se eng enh oso sistema
de abr igo , com o o das can oas told
ada s, que pre ser vam os
man tim ent os, per mit iu , com o dec urs
o do séc ulo XV11l, que 0
com érci o ent re São Pau lo e Cui abá se
fize sse, aos pou cos , sem
gr~nde par te das imp ortu naç ões e pre
juíz os qu e per seg uia m as
Pnm eira s can oas . 46
seuAg
s ora ' e s t am os dia
. nte de um cas
o on de os eur ope us e
técnicnet os m O b 1·1·1zam tam bém os con hec
im ent os, rec urs os e
Prosseas do
. lega d o do Ve lho Mu ndo , o qu e nos
per mit e, par a
forrnaçg?ir ª me sm a lin ha de com par açã
o, ass oci ar est as tran soes ao seg un do mo me
nto da hip óte se da fro nte ira.
.
159
~
and o ao tex to de Sér gio Bua rqu e d
, efr 0
is
ent ício
ntalrto
co m ma u 111 cas o _de un1 rec urs.o adv
.
ªPro
. -n .
.,
s
das
mo
nço
es:
o
mo
squ itei ro . Con fo
v1 age 11
Venac.1 G~
.
0 n,
s
am inh os e Fronte1.ras, em tod o o séc ulo rrne
1
C
XV
e
Poc.!e
em
ls
_
.
II O
e"
. ntes não alca nça ram un1 a sol uça o sattsfat
óri·
ra
s
banc
t
,.
a Para Se \:1.
'
,, '
oere m dos inse tos, p o is
o
un1
co
rec
urs
o
que
.
Prote.
º , .
tinh a111
rop na rou pa do cor po , e, dur ant e a noi.te, as
cob
P
era a
, l
de bae ta. Son1en te ago ra, no sec
erta
s
e
u o XV III , com
capas
. .
ue
sur
ge
o mo squ itei ro. Da 1nes1na n1a ne ira qas rnon ~
q
Çoe~é
.
.
ue
o
tolJ
ani age m sur ge a par tir
das n1a 1s nov as d ern and as .·
ola
.
.
e, tadas
reg ular izaç ão do can1 1nh o fluv ial
e ntre os núc leos
. Pela
mais p
loso s do Pl an alto p au list a e os pov oad os
minerad ºPuores d0
extren10 Oes te, un1a vez que , nas pal avr as
de Sérgio B
uarq ue
"de sde o n1o men to en1 que as exp edi çõe s
ao sertão O 'd
.
e, ental
se tran sfo rma ram de ent rad as mai s ou me
nos aventuros
as em
viag ens reg ular es, met odi can 1en te org aniz
ada s, essa prote ção
aos tri pul ant es e pas sag eiro s de 'can oas de
comércio passava
a con stit uir nec ess ida de imp erio sa" .47
Alé m diss o, o mo squ itei ro tam bém par ece
constituir-se em
un1a con trib uiç ão adv ent ícia e seu uso par
a a proteção dos
pas sag eiro s das can oas con tra as pic ada s
de insetos ocorreu
ent re os ano s de 172 0 e 172 5, 48 just ame nte
no momento em
que a rota com erc ial com eça a ser reg ula riza
da . A mesma data
par ece ind icar que , de fato , ess e não foi
um melhoramento
resu ltan te da infl uên cia ind íge na , poi s, na
verdade}
Vo lt
1
1
. mos quit
o pro, pno
eiro não pare ce ter s1'd o ut1·1·1za do ou sequer
•
co nhec1 do [nos ) prim eiro s tem pos . Tud o
· · dicar que,
ten d ena
am
,.
dvenuc10,
ao surg ir mai s tard e com as mon çõe s, foi
elem ento ª _ ,
tra nsp lant ação , talv ez do trad icio nal mos . • da Europ .t,
quit eiro
. 1 de
'
.
so b retu do dos país es ban
1 0 nunco
had os pelo Med1terr
aneo, OL
. • chts
. . às ex1geri
uma adap taçã o dos p av ilhõ es e cort inad os
case uos
da vida sert a ne ja. 49
1
1
A
.
dventíci OSi
As s im, com a intr odu ção des ses elem ent
os ª
porre
e
orn o o told o e a ani age m com ple ta-s e o me · de trans
w
eoder
trad· ·
,, · para at
icio nalm ente usa do nas ' mo nçõ es de comerc
w. , · os
as
nov as nec ess ida des sur gid as com ess e omerct0 '
e
destH
mon ç ·
•
oei ros aca bar an1 por cria r um a nov a can o a fruto
'
sintetl'
vez de
,,
um ama lga ma de infl uên cia s e tra d'iço~es · ou,
zan do e
om as pró pria s pal avr as de Sér gio B ua rqu e:
160
r
a .n avegação
. dos rios do planalto , co m o
.
1
Jnte ns1·f·cando-se
111
- 0 que só oco rre ,a
cu1abanas
das pz1das
,
~ .
desco b n. ento
se transformam
. do segu ndo decerno do seculo XVIII - , não
.
h d d
_, .
Partlí
er a as da piroga indígena . A
.
.1st1cas
.
110 ess encial as caractet
. ao sertão longínquo ,
ass1.d u i·dade nas vias fluv1a1s , que conduzem
e de resguard á- las
.
a nec e ssidade de tra_nsporta r mercadorias
J' da canoa·
_ vao, aos poucos, fixando o perfil
dura nte as viagens,
alterar
sem no entanto
da nas monçoes,
b profundamente aquelas
,
.
, .
e que, em ora pouco superiores às
.
mesn1as caracteristicas. Assim
prinútivas pirogas, sem. quilba, sem leme, s_e m velas, essas canoas
.á comportam comodidades que denun~iani algum progresso:
-~-emas à man eira de choupos de espanta, varas com juntas de
Jen-o para subir os rios, cumieiras e cobertas de lona para proteger
das chuvas. so (Ênfases acrescentadas)
tiSa
Mesmo com todo o risco de simplificação, vale a pena visualizar a imagem desta canoa descrita por Sérgio Buarque quase
como um emb lema da dinâmica da fronteira. Num primeiro
momento, o sertanista se adapta totalmente ao nativo e lança
mão de suas técnicas e dos recursos da terra para, cortando
um gran de tronco d e peroba e tirando-lhe o miolo, construir
uma piroga sem quilh a, sem leme, nem velas. Posteriormente ,
graças a novas experiências e necessidades, evoca conhecimentos e tradições de seus antecedentes europeus para elaborar
toldos e mosquiteiros , protegendo os estoques de alimentos
e tecidos da chuva e a pele dos insetos . Daí resulta uma canoa
indígena , coberta com toldo europeu, que, nesse raciocínio,
não posso deixar de dizer, é um produto novo, tipicamente
americano. Com o risco do exagero, mas a vantagem da força
de uma imagem, pode-se dizer que nessa canoa estão sintetizados os três momentos da fronteira: adaptação ao nativo,
recuperação do legado europeu e amálgama de tradições que
resulta em algo novo .
Lembrando da conexão entre as mudanças materiais e as
dos indivíduos envolvidos no processo, vale arriscar di~er
que esta canoa serve também como metáfora das transformaçoes
n~s mentalidades e valores. É como se, desde as andanças a
• ,. · até ao uso .de
pe e
quase restritas à luta pel a sobrev1vencia
rota comercial,
d
ld
canoa
.
. .
. s to adas e ao estab e lecimento e uma
estivesse indicado o disciplinamen to de um ind1v1dualisdmo
d 'a começa ce er
.
quase a ,
.
narqu1co, em cujo desenrolar a ousa 1
1
ócio Aplicando
, .
ugar ta b, ,
·
m em a previd ê nci a e o oc10 ao neg
_ no qual as
Para ess
e momento da obra d e Sérgio Buarque
161
_
rec urs o a tip os ide ais são evitad
grandes caracten·zaçoes e om e1n Ra
ízes do Brasil, poder-se-·os
qu e ap are ce
- os termos
. .
1a
·d ' 11.da de len ta1 ne nte se d1s
c1plina e s
ora
a
cor
1a
g
dizer que, ª
e
'
·viliza sem, co ntu d o , um rom pi1 ne nto rad ica l co m suas
ci
'
. . . . Mas an tes de ac om pa n h
car act erí sti cas m1
ar est e discic1a1s .
.
. .
de
forma mais de tid a, va le a pe na, a
ind a po r mais
Plmamento
,,
.
foc
o no s rec urs os e tec n1c as e mpreg
um tempo, ma nter o
adas
,
.
. d res pois atraves
entre os conquista
do
est ud o de um a imporo '
..
,, .
.
·m
ent
açã
o adqu1nda do s 1nd1os
tante fonte de al1
,
o
mi
lho, tem os
. ,. .
.
rec
ed
or
so bre a d1nam1ca de mi stu ra ent
um exemp 1o e Scla
re
o legado nativo e o eu rop eu .
ENTRE A FARINHA DE MILHO
E O FUBÁ
Embora abandonemos po r um ins
tan te as pir og as indígenas
toldadas e a rota para as minas do
ex tre mo oc ide nte do Brasil,
permanecemos, de certa ma ne ira ,
tra tan do do me sm o assunto:
a recuperação do leg ad o eu rop eu
e o am álg am a for ma do ao
lado de rec urs os e téc nic as ind
íge na s . A pa rti r do estudo
da adoção do mi lho na die ta ali
me nta r do s ma me luc os pro du to mais ad eq ua do , ad ian tese , pa ra aq ue las longas
viagens tratadas há po uc o - e da
s téc nic as ad ota da s para o
seu beneficiamento, pre ten do lan
ça r mã o de ma is um caso
ilustrativo das combinações variáve
is en tre rec urs os e técnicas
indígenas e eu rop éia s qu e, em tod
o ca so , ap on tam pa ra um
desenvolvimento org ân ico , co lad
o às sit ua çõ es vividas na
fronteira Voltamos
t·
, en ao, ao s tex tos qu e co nst 1tu
· ira
,, m a b
o ra
Ca mi nh os e Fronte,;
· esp · ·
~ras, mais
ec ifi ca me nte a su a seg un da
parte. No prefáci 0
b
,
•
sob a qual orga · ª esta o ra, Serg10 Bu arq ue ex po- e a c have
.
niz
s du as últ im as pa rte s do livro,
artigos publicados ou, na
os
.
.
.
.
an ter ior me nte em Jor
na is ou revistas:
O lento processo d
sua dilui - d
, a
e rec upe raç ão des se leg ado [eu
rop
eu]
,
çao
apo
s'
ura
nte
os
· •
ração
.
pri me iro
1pe
s
tem
po
s
que con stit
dil
uiç
ão e reCl ,uem
tratado n
.
_ e
' em sum a, a ma tér ia des te livr
as
o
..
'
rurais há partes sub seg uen
, ·cas
tes
.
Na
seg
und
a,
ded
ica
,
da
natura Imente
às tecni '
.
na última
d
1uga r par a a her anç
d
ma
is
a ind íge na 0 que
, on e se abo d
.
.
aos me ios
b
r am at1v1dades qu e ten dem a aco dar-se
ur
mo
.
dóc e is aos infl ano s e se tor nam
, nes te cas o , cad a vez 01 a1s
uxo s ext ern os. si
162
~
·ir·i nossos term os, po<l críai nos e omp 1eta r
b ., l ·-- .
'
P·
do
1
. ··1..: 1, ~lrtcs (1a o 1 ª. ( e d1carn -sc rlo seg un d o e
' ..i• ,n~11º'tC e~:,,
l
)S da front ettd . As va11a çoes acerc a <.l os graus
• 1dtJ qL
,_,
{11L' l1 1C '
i"l'
11
" ., .0
do legad o a<lv ent1c1
çao
pera
recu
. Hgc n8 e de
•. • ·it't1 111°.
1t •
, ,c 1~1 ,nc
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1
1
e O exem p l
dos caso a, caso
,nl lUL 1 . , 1,te se r trata
o qu e
'
•
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'-'
proc
deste
, ,coui r C uma 1lu s lt clÇclO pc1rt1cular
, ,,·t'lll,)
esso.
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']]
l
'
· •il \ l)
prod uto n a t·lVO
., ,ão para o caso e o m1 10 . Este
11L'~l
11
-q~tn OS L
.
J\L"" . ,, discuss8o da 11 Pa rte de Ca 1ninhos e Fronteiras
1
~
l'cnt r:1 n.1
irem tmporta" nc·1a
adqu
tt1 go e a11 o z , ,ios t'l)
•
'tLh·cn 11L
.
11
asso ciam - 0 moin ho e 0
l . ~ • ~s técnicas que a e les se
J•,·i~ll~~ · rcspectiYamen te. O cent ro d esse tópi co fo caliz a-se
· e seu trata1111
t11 . lº '·t5ncia do m1·1110 p a t·a a soc·e
a d e pau 1ista
t dr
01
1.,
d
· •
11·1 1t11P
or técnicas ongm a as no a en1-n1ar.
·
inctl lO p
Como tivemos opor tunid ade de ver no item dois do CapíBuar que afiançava que
. desde Raíze s do Bras il Sé rgio
\
[li()
1
da terra", feito de farin ha de mandioca, foi um alimento
"pão
0
,
que. cedo, os portu gues es pass aram a cons umir . No entan to
-nesmo na Capitania de São Vice nte, sua prod ução conc entrara-se na costa , pois se temo s visto que a colon izaçã o do
Pi:malto pauli sta vai se carac teriz ar pela extre ma adap tação
a recurso s da terra, eis aí, ao men os à prim eira vista, uma
exceção. Em parte por caus a dessa exce ção - a fraca presença
Jo pão da terra - , ocor re nesta s terra s um caso de introdução
Je produ to adventício, o trigo. Sérg io Buar que explica que
"as condições certa ment e men os prop ícias , no planalto, ao
cullivo da mandioca em esca la sufic iente para se abast ecer
u~ centro de povo amen to mais estáv el do que os primitivos
nucleos indíge nas, terão sido um dos incen tivos para o desen0
i~lvime nto adq uirid o ali pela lavo ura do trigo dura nte
a da
d
secu lo XVII" s2 E
·
· sta lavo ura troux e cons igo a mu· anç · SL1a'
.
"
rn
Paisage
vez . econo mica da regi ão que "[. .. ] acarr eta na, pot
e urop éia , como 0
.' ª introdução de utens ílios da técni ca
1
noinho d',
53
agua, a azen ha ou a atafo na".
Estarn os, portanto diant e da adoç ão de um recurso a d ven tír1·
º
'
- u ac
a su ornpanhado das técni cas do Velho Mun do usad as para
corre sem
~
~
.
. ª Proct uç~
ªº· Cont udo ' essa 1ntro duça od naos., 0 · Milliet
(j 1ficu 1ct
ades · e0 ntrap ondo -se aos estud os e ergio
e· '
:itrgi 0 B
marntnte ua rque cons idera que o trigo teve prese nça extre
XVII.
l
~
.
O
A. Pequ
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í11p 0 rt ~ena no Planalto pauli sta até inícios Edo secu
01
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seu pode r germ i nativ o. No segu ndo d ecên io d o sécl.t
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com cç~n ; indic ar um a urne nt o s1gn1 1célt1•vo
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O foto é que a part ir do segu ndo decê nio do S
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pJss a a se dese nvo lver a prod ução d a farin ha dee
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para isso - esse e o pon to que nos inte
res sa_ sã .
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d
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e: o tntro d
z1
n1eto os e tecn
1cas a ven llcta s para o trata
º"'
me
LLprod u to ta rn bén1 de origc1n exte rn a. 54 O prin cipal . nto d
esse
.
.
tn
de n1oa gen1 , e a qui entra1nos prop rtan 1ent e nos m e s trurn
lh .
e nto
tecn ológ icos, era o 1noi nho d'ág ua . Nele,
oiarnento s
grão é desp ejado num vaso e m form a de pirâm ide i
.
.
d
. l
tida exist
ente em cima
o mom
10 a tama nha _ e nver.
'
,
,
.
vai cair
diret amen te sobre a mo . A rotaç ao da mo e, obtid
a por inte , .
do eixo verti cal, que por sua vez rece b e mov ime nto d rmed1 o
o e·1xo da
roda d 'água , graça s a um rode te de ntad o. 55
[ ... ] 0
Sérg io Bua rque proc ura a orig em do moi nho d'água no
Con tine nte eu rope u, espe cial men te na Pen ínsu la Ibéri
ca, e
desc obre que "[... ] o mod elo é indi cado , com freq üênc ia
, na
pení nsul a hisp ânic a, em part icul ar na part e noro este
. Sua
pres ença em Port ugal - Trás -os- Mon tes, Min ho, serra
da
Estrela, Alga rve, ilha da Mad eira - e não só em Portu
gal,
pôd e ser assi nala da por vári os estu dios os" .56 Sua construçã
o
bast ante rúst ica, só exig indo mad eira e ped ra , facilitou
sua
"pro nta difu são na área bras ileir a ond e prim eira men te se
introduzi u a lavo ura do trigo ". Esse s moi nho s, no deco rrer
do
século XVII , não exis tiam em gran de quan tida de e, gera
lmente
loca lizad os nas v ilas, ben efic iava m o trigo de te rceiros.
Mas, emb ora tam bém já exis tent e nest e m esn10 século~
n?
segu inte diss en1i nam -se os moi nho s de sítio , "[. .. 1 isto
e, P
quas e na fase de decl ínio da lavo u ra do trigo , que deve
ter
sofr ido rude golp e com o esco ame n to de 1não -de- obra
p:r~
as lavr as de ouro , a part ir do ú ltim o dec ê nio do Seiscent
os ·
Ap esar do dec línio da lavo ura de trigo , a pro du ção de
l30 _
f ann
· h a Ja
· -- havi·a sido
sufi cien te para cola bo rar cotn ª imP..
ta - d
·
çao e uma infr a-es trut ura de equ ipa m e nto s es t r.ange ll O5'
5as
q ue pod ·
. ada
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·
Assi
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es
ena ser apro veit
com o u tro p ro uto.
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inas pass aram a ser utili zada s p ara o be ne fic iame.nto
'trias:
OUtr o "
ge nero , e dess a vez orig iná rio das ter ras ame rtCt
164
,.
.
Tanto os equipan1entos , explica O hi storiador "[ ]
.
• 1·
.·
.
' ...
o
as técnicas e os usos 01 e 1na11a111ente relacionados conl
cot~~:du.ção do trigo, i~clusive o pró~rio pagame nto d a 111 aquia
3
~ moleiros, transfenran1-se quase inte gralmente para O trata:io, to do milho " .58 Assin1, t e n1os un1a inte re ssante c ombi1nen
d d. ,. . d f
.
dentro a 1nan11c-1
a ronteira . Nas palavras de Sé rg io
naç a0
.
Buarque, "ten1os, n e ste, rn a 1s un1 do s casos , ali ás pou co fre üentes, da assin1ilaç ã o de un1 a t é cnica adve ntíc ia a um
~roduto nativo durante o período colonial" .s9
}111 /bO ,
o milho, o dito produto nativo, g a nhou tal centralidad e
na sociedade do Planalto paulista - e na verdade não só
nela, mas desde o sul de Minas Gerais até ao sul do país que sugeriu a Sérgio Buarque, para se referir à sociedade do
além-serra , a expressão civilização do milho. Embora essa
civilização tenha incorporado as n1á quinas e técnicas adventícias - que originaln1ente foram constituídas para a moagem
do trigo - para o tratamento d o p ro duto nativo, essa transfe rência de máquinas e técnicas "não afetou, tanto quanto se
poderia esperar, os hábitos alimentícios da população", pois
"[... ) a preferência geral [entre índios, mestiços, brancos aclimados) continuou a dirigir-se, não para o milho moído ou
fu bá , que se destinava, em geral, aos escravos, mas para o
grão pilado ou apenas pelado ao pilão, de acordo com os
métodos usuais entre os índios". 60
O fato é que o milho moído, o milho de moinho, ficou
associado à comida de escravos negros e dos anin1ais don1ésticos. Um documento anônimo de 1747, depositado na Biblioteca Municipal de São Paulo, indica que os produtos do milho
preferidos nas minas gerais e, possiveln1ente, no Planalto
paulista , segundo conta Sérgio Buarque, "em sua totalidade,
prescindiam de moagem, por conseguinte de uma técnica sensivelmente estranha aos usos tradicionais e indígenas de tratamento do cereal" .61 Ou seja, os produtos dependian1 apenas
de pilagem e outras técnicas como o cozimento, e não da
moagem. Sem contar os alimentos que dispensavam qualquer
tritura ção prévia do grão, "con10 era o caso do n1ilho verde,
que se come assado e ainda em espiga". O milho verde, dessa
~ez triturado, dava ainda, "(. .. ] o curau que se fazia com auxílio
0
pilão , socando o s grãos ainda en1 leite e cozendo-os. Do
b~gaço, amassado e posto embaixo das cinzas do fogão, faziam-se
ainda as pamonhas" .62
165
·•ncipal co nt rib ui çã o do mi
lh o pa
,
~
.
vi
nh
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no
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ct·
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.
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mi lh o "p ro pr iam en te ct· reqclo \\{.)
rinc1pa 111
(\ s
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P~
,da Nas ininas era o ve r da de1.ro ~
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o da terra" e, , G\.l s~·\) ~ ,
nao mo1 .
,.
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lto su bs tit ut a ge ra tn en t e a i
e e ma nd io ca " ' e en1 tac1la,
0 plana
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.
.
.
. .
vimos, teria sid o um ,. .os pn nc 1p a1 s pr od ut os na,t·que , c:0111()
.
s
s · C)
pora d o pe los advent1c1os no 11tora 1 e no No rd es t lVo
b 1ncar.
e ras 1·\ .
0 milho, po rta nt o, foi o P~ ?d ut o na tiv o qu e entro
u na e'.ra.
dos ma me lu co s e, en 1b or a
Jª p~ de ss e se r beneficiado
dieta
' quinas adventícias, co m o o
1no1nho d'á gu a, contin
mª
carn
,. .
referido sob o tratan1ento ap
uou se
en
as
de
tec
n1
cas indígena
p
n.do
·
d e m1·11
ara fabricar a fa rin
~
f
,,
ha
s.
A
10 , e na o o ub a,
ss1
rn
P
"pilav
,
.
grãos , de po is de po sto s po
am
-se
r al gu ns di as de molho, a fim
~s
se tor na rem n1enos re sis ten tes
. A ma ss a res ult an te era t
e
.
nu m gr an de tac ho de co br e d
orrada
e epo1s pa ss ad a po r uma pen
.
de largas ma lha s, a su ru ru ca ,, 63
eira
.
Mas a P11
i:
ll
Po uc os re cu rso s do Ve lh o M
un do fo ra m introduzidos pe\ o
ad ventício pa ra o m el ho ra m
en to de ss as téc ni ca s, devend
o-se
ao eu ro pe u, qu an do mu ito ,
"a in tro du çã o do forno ou tac
ho
de co br e, us ad o na fa br ica
çã o de fa rin ha " .64 Somente
mais
tarde , já no sé cu lo XVIII, fo
i in tro du zi da um a melhoria
significativa, um a ve z qu e "o sim
pl es pi lã o de madeira, herdad
o
dos ind íge na s, ap er fe iç oo use no s vá rio s tip os de monjo
lo,
originários, to do s, do ex tre
m o or ie nt e" .65
Ainda qu e um a téc ni ca ad ve
nt íci a, o monjolo, dado às sua
s
se me lh an ça s co m o pi lão m
an ua l, ve m qu as e que, com
o diz
Sérgio Bu ar qu e, ap en as ap er
fe iç oa r o re cu rso indígena.
Mas,
antes de pr os se gu ir, co nv ém
ex pl ici tar em qu e exatament
e
consiste es se m aq ui ni sm o em
se us do is tip os básicos, 0 de
pé e o de ág ua .
O monjolo de pé consiste em
um to co (''virgem ou pasmado'
')
firmemente en ter ra do , co m
um a fo rq ui lh a es cu lp id a no
topo,
na qua1 gira o eixo («tranqueta
,
·
ou
ca
vil
ha
") em qu e se apoia umda
"b
ta ua co mp rid a (« ha ste "). Na
a
ex tre m id ad e da ha st e ~0 lta
para o « 1·1- ,,
,, '
0
P ao , es tá en cr av ad o um ce
· ("mao ).
po cil índ ric
mon1· ol ·
o
ra
.
eiro, qu an do o eq ui pa m en to
f'ici· nte Pª '
é
pe
cair com f
sa
do
o
su
e
. do
.
orça, po de fic
,
~ 0 5ubtn
ar
na
ex
tre
mi
da de op os ta a ma '
na h aste
e\~1
.
pa ra 1ev an tá- la e de sc en do
.
·r
qu
e
caia sobre
pa
ra permiti
o
'
senane·
'\ão. OLI,
~ ce re al de po sit' ad o no in'
1
ter io r do P . a qu e ~1
10 po e- se
de pé , em cim a da ha ste , de
maneira
166
l
.,,
ique entre os dois pés.. Quand o se inclina para um
queta f
rran f força sobre a. ponta livre da haste ' a mão levanta .'
.
do e az
la . quando se 1ncltna para o outro, a n1ão desce e bate
,.
. lo d e agua,
depois, No caso d o n1onJo
como o próprio Sérgio
1
.
cerea •
e esclare ce, o 1nesn10 movim ento
no
1warqu
é proporc ionado L•.1 pela queda da água sobre a extremi dade da
haste oposta à da mão . Para isso ela traz uma cavidad e apro-
priada, o 'cocho ', que , ao encher- se de água, desce, forçand o
a mão a subir. Mas ao descer, com o peso da água, despeja -se
esta, e a mão, por sua vez, irá cair com fragor sobre O cereal
66
deposita do no bojo do pilão .
Após desenv olver erudita s consid eraçõe s sobre os trabalh os
do estudioso portug uês Jorge Dias acerca das condiç ões e
épocas do apareci mento e dissen1inação do monjol o na Europa,
Sérgio Buarqu e, opond o-se a seu interlo cutor, lança a hipótese de associa ção, no Velho Contin ente, entre a difusão do
monjolo d'água e do arroz, produt o que, no oriente asiático,
67
se acha estreita mente vincul ado àquele mecani smo. Dessa
maneira, o uso do monjol o para pilar o milho seria uma transferência de maquin ismo de um produt o para outro, tanto na
Europa como no Novo Mundo . Aliás, no caso brasile iro, "[. .. ]
a existência [. .. ] de arrozai s, desde os tempos da colônia , terá
facilitado ainda mais do que em Portug al a fixação e dissem inação desse maquin ismo asiático , a ponto de se ter ele integrado, cabalm ente, em alguma s das nossas paisag ens rurais
mais características". 68
Portanto, é prováv el que - e aqui voltam os mais diretamente ao nosso assunt o - , com o cultivo do arroz, também
tenham sido introdu zidos "os maquin ismos que, no Oriente ,
se associavam corren tement e à sua produç ão e benefíc io".
Mantendo, então, a associa ção entre o monjol o e o arroz,
Sérgio Buarqu e susten ta a hipóte se confor me a qual o uso
"~o menos do monjol o de pé" pode ser fixado em fins do
seculo XVII. 69 Desse modo, podem os dizer que, por mais uma
v:z, foi associa da a um produt o advent ício que uma nova
tecnica foi introdu zida no Brasil por essa época, seja se considerarmos o monjol o de pé, que pode ter vindo diretam ente
d_e Portugal, seja o de água o qual origina l da Ásia, pode -ter
'
'
.
.
sido introdu
zido na Europa "em resulta do das navega çoes
167
nça en1 rel açã o ao n1o inh o é qu
por tug ues_as ,, .70 A dif ere
~
. .
.
e, ag0 r,
. t ·ui nen to e for ten 1en te
1nc
o1p
ora
0 nov o 1ns 1
do
no
trat
,
a,
.
ªrnent
do mil ho, o pro du to nat ivo .
o
Se lern bra rn1 os tna is un1a vez do n1o
inh o d'á gua , já intr a
du zid o e 1n ter ras pau list as en1 co111e
ços ~ do ~éc ulo XVII, ~
let nb ran no s tan1bén1 qu e sua co nst
ruç ao na o pre cis a c.l
mu ito tna is qu e O exi gid o pel os n1a is
con 1pl exo s mo njo los :
de se cha n1ar a ate nçã o a pt~ efe rên cia
po r ess es últi mo s. s'ua
dis sen 1in açà o foi ráp ida , poi s
(... ] já em fins de Set ece nto s, fala -se
na pre sen ça [do monjolo]
em sítios mu ito dife ren te~ e apa1:tad?s
uns dos out ros . Sempre,
e, cer to , den tro da vas ta are a pri me iram ent e des bra
vad a e e
' m
gra nde escala, pov oad a por gen te de
São Pau lo. Isso sugere a
rapide z com que se teri a dis sem ina do
ent re nós um instrumento
que não req uer mã o-d e-o bra num ero sa
e é cap az de tornar mais
eficazes, sem alterá-las sub sta nci alm ent
e, as técn ica s indígenas de
elab ora ção de um pro dut o ind íge na. 71
(Ên fas es acrescentadas)
Esse par ece ser, poi s, um cas o ma rca
nte de sel eçã o de técnic as adv e ntíc ias a par tir das nec ess
ida des e do s rec urs os e
cos tum es pré vio s. Ca be um a rem iss ão,
nov am ent e, à dinâmica
da fro nte ira, a qua l, po r sua vez , ass
oci am os ao "es toq ue de
cre nça s" de De we y. Po dem os diz er, a
par tir daí , qu e a incorporaç ão do mil ho e do pil ão equ iva lem
a um pri me iro mo me nto
da exp eri ênc ia de fronteira, ond e, pel a
sua rad ica lid ade , predomin a a com ple ta ada pta ção do adv ent
íci o ao nat ivo . Apenas
num seg und o mo me nto há a rec up era
ção do leg ado eur ope u ,
nes se cas o, atr avé s da inc orp ora ção
do mo njo lo. A eleição
de ste, e não do mo inh o d 'ág ua, oco rre
po rqu e ele é igualmente
cap az de tor nar mais efic az as téc nic as
ind íge nas de preparação
do n1ilho, sem , con tud o, e ao con trá rio
da mo age n1, alterá-las
sub stanc ial me nte . O mo njo lo foi, po
r assin1 diz er, ma is adequa do par a O seg und o mo me nto da fro
nte ira . No limite, quase
se pod e par afr ase ar W. Jam es, qu and
o fala do fun cio nam ent o
da me nte , diz end o que a mo dif ica ção
do est oq ue de técnicas
e rec urs os oco r
,
,
.~
.
re, e e ate um a exi gên cia dia nte de nov expeas
n enc1as e nec e 'd d
ssi a es, ma s nes sas mo dif ica çõe s
pro cu ra-se
pre ser var ao má ·
xim o os rec urs os pré vio s.
Gra ças a ess a r
.
.
pça~ o sel eti va e org âni ca a, v1c
1a n a froW
teir a, o mon1·olo ece
b
,, .
, nao o sta nte sua ori gem as1. at1
ca,
168
.
li·mar-se tão admiravelmente em nosso rne10
.
rural e
..
. _
da te11 a, que pareceu logo pi aus1,ve 1 a
[...l dar-se às cond1çoes
.
10
_
aco11 ._ de que já tena entrado com os primeiros colo nos.. E nao
in1ao
. 1,
esmo quem , como John Luccock chegasse ,a JU
oP
ga- 1o
. JtoU 111
,
:f.1 . les procedenc1a md1gena. Essa acl imação e adapt açao
esta
, .
de s1111P
ada sem duvida , ao fato de . se ter reve lado aux 1.11.ar
.
. ,
relac1011 • .
.
. 1 qu ase msubst1tu1ve l,. em muttos lu gares , no p rocesso
serv1ça ,
de elaboração de_produtos altmen~ares qu e constituíam a verdadeira base da dieta de uma pa1te bastante considerável da
vi ri a ac
A
-
•
•
,
'
72
populaçao .
como as pirogas ind~genas toldadas, qu e vimos anteriorutilização no pilar
creio que o monJolo e sua extensa
. ,. .
.
f
representa de orn1a viva a d1nam1ca evolutiva na
.
o !111 1110
fro nteira. Pudemos ver como uma população que se adequou
à dieta nativa , tendo preferência por um de seus produtos,
pelo milho - preferência esta que, pela rápida germinação e
fácil conservação do produto , esteve associada, não esqueçamos, a sua adequ ação à vida andeja dos mamelucos -,
adquiriu também, com esse produto, o uso do pilão manual
- um instrumento indígena. Posteriormente, no que temos
chamado, um tanto esque maticamente, de segundo momento
da fronteira , implantou u1na técnica adve ntícia que aperfeiçoasse a original da terra. E, neste último ponto, a preferência do monjolo ao moinho pinta, com cores vivas, esse
aperfeiçoamento qu e recorre a conhecimentos e técnicas
do legado europeu sem romper de forma absoluta com os
co 5t umes e técnicas adquiridos dos nativos no primeiro
momento da fronteira.
111 ente,
1
MONÇÕES E DISCIPLINAMENTO
Já
é possível focalizarmos o mesmo tema, o que temos
· a par t·ir
chan1ad
O de segundo e terceiro momentos da frontetra,
d
, e um ponto de vista diverso mas absolutamente imbricado à
a
enfase d d ,
ª ª as transformações tecnológicas. E, ch ega d a ª h or
d
e anali sarmos a formaç ão dos homens envolvi'd os na con qu·
1st
· d e u m novo
olh a, do o este, o que é possível fazer a partir
ate ar aquelas frotas de comércio de que falávamos há pouco ,
onduziam
. .
ntando ag
ora para as pessoas que viapvam e e
as ca
f l mos da
noas
d ind'igenas toldadas e protegidas. Ao a ar
escolha
faz-se e uma rota fixa e das modificações operadas nos barcos,
. a referência aos novos persona gens qu e
necessá na
169
expe diçõe s de fund o emin entem ente e
•am nessas
.
ornerc:·1
segui
.
con1 o não pode d eixa
r de ser c·t
al,
sendo assim,
,
1 arnos
e,
.
Se em gran de parte , os prog resso s implo
,
.
0111 erc1ante.
.
ªntad o
c
f ·am respo stas às ex1g,..encia
s de nova s
s
nas canoas o1
. .
cialm ente O acon dicio nain ento dos mantinecessi dades, espe
.
rnentos
_ para co nsumo dura nte as long as viag ens e para vend a nas
.
ram a esses novo s perso nage n .
mmas -, tamb ém se deve
,. .
s via.
las
trans
form
a
,
iantes. Como afirma Serg io Buar que,. aque
.
Çoes
ser
opera das n a cano a deve riam
. ,. . sufic iente s. "[ ... ] para qu e se
possam tornar O veículo ?rdi~ ano de come rcian tes, mais cautelosos , sem dúvid a, e mais exig ente s do que seus precursores
·
os band eiran
'
tes )) .73
Esse perso nage m, caus a e cons eqüê ncia de todo esse
grande empr eend imen to que foram as mon ções de comércio,
repre senta , na verd ade, o iníci o de uma nova mentalidade
em um meio hosti l a ela, pois
o arbítrio e prepo tência dos gover nos, as leis fiscais opressivas,
a vida econô mica embr ionár ia e m muito s dos seus aspectos,
não são os único s emba raços que, n o Brasi l colon ial, se opõem
ao tráfico regul ar e metó dico. Costu mes e preconceitos de uma
população ainda mal afeita a consi derar o comé rcio como atividade respeitável const ituem uma barre ira, por vezes intransponível, à expan são dessa ativid ade. 74 (Ênfa ses acrescentadas)
Com outras palavras, volta mos a enco ntrar o noss o mote lançado desd e o iníci o do traba lho - do amo r ao ócio antes
que ao negócio. Num meio onde o com ércio é mal visto, nosso
perso nage m - diant e, por exem plo, de com prad ores que nào
pagam - se deba te para inver ter o dito e se dedi car ao negócio.
E.m meio ª uma série de dific ulda des "os mais habilidosos
~nd
ª conseguem venc er e acum ular cabe' dais" . É certo, contudo,
que .essa trans fo
- a inve
.
~
rmaç ao,
rsão do n1ote, nao
e,. somente
movi
da
pelo
r't
1 mo d a fronte ira até porq
.
ue nem todo s os c0 rnerciantes têm orige m na soci edad e que se vinh a constituindo
no Planalto
1·
.
pau 1sta, pois,
na reali dade ,
[... ) sobre tud 0
.
0 já
est·
.
ª
partir de mead os do sécul o XVIII, q uand. dos
a mais regul • d
da met anza O o tráfeg o fluvial algun s são rece- 01. -vin câl·
ropol e e t
- .
e
cuJ 0 aind
razem habtt o de previ'denc1 a, parc 1010~ n1a
. ..,,,e11 re
a mal acl.1 , d
ma os naqu ele sertã o remo to. Efeova11•
A
170
•
•
-o numerosos , e ntre essa gente, os ape lidos de fa míli a
sa .. ein São Paulo. 75
11 :10
d·cioníi lS
[fil I
co m a a ju da d esses p o rta dores d 'd .
.
e 1 ea1s
,,
,,
. 1da :iss1111 ,
Ali d Velho Mundo, e poss1vel qu e se fa le e m mud
anças
f .
•dos o
rr:1z1, . geradas , e e t1va111e nte, p e las novas atividad
es e
. 'd
'b 'l' d
]1ab1toS
de reend'1111 entos poss1 1 1ta . o s, ex 1g1 os mesmo , p e la v1·ct-a
emPfrontell. ·a· por isso , ao ab ord a r o s resultad os das mo nçoes,
~ . Buarque pode fa la r de "u111 a raça nova , portadora d e
.
d' ~
~era10
, " ·deais novas tra 1ço es, nova m e ntalidade _ mental'1•
_
,
novos 1
de de retalhistas , n ao de ave ntureiros ou conquistadores.
d . ,, d
~
da
fato é que as monçoes e povoa o Jª n ao pe rtence m à
r
o
d . ,, 76
história das ban eiras .
Esta raça nova já não se ide ntifica completamente com 0
natirn , como no caso dos b a nde ira ntes, quando "o próprio
primitivismo do seu viver protegia-os do primitivismo do adversário".n Agora sim , conforme obse rva Sérgio Buarque em seu
Extremo Oeste, "é o confro nto de duas humanidades tão
diversas, tão heterogênea s , tão verdad e iramente ignorantes
[... ] uma da outra, que nã o d e ixa de impor-se entre elas uma
intolerância mortal" .78 Tendo-se em conta os argumentos resgatados da obra de Richa rd Slotkin , no primeiro item deste
capítulo, e mesmo as observações de Sérgio Buarque sobre a
diferença de intensidade na adaptação do adventício ao nativo
no caso norte-americano, é interessante notar que, se neste caso,
mesmo no momento de m a is forte adaptação no encontro
entre duas civilizações mantém-se constantemente a idéia de
confronto entre duas humanidades distintas - conforme su st entavam os pu rita nos - , na conquista de terras brasileiras eS tª
profu nda diferenciação só se d ará mais tarde, no que podemos
. .
considera
r como segundo momento d a f ronte1ra
·
Ressalte-se que a nova me ntalidade surge de uma contínu~
· , d e adequaçõe s às lentas mu d a nças das necess1experiên
eia
d
e rgentes de
. . . d
ades e t'
ganho N irando partido das poss1b1lida es e m
· as palavras de Sé rgio Buarque:
te os qu e p artid .
.
Sern r
b 'ções
enuncia r à ex istê n cia m óve l do ban e!fa n ' A
.
tem am i
G .
c1parn d 0
. e ne rgi a
rosso .
comé rc io d e Cui abá e Ma to
rn .
1
d a s1mp es
., - ,
ais dis . 1·
inct· . cip ina d as. Um ritmo qu e ,a n ao e O . 'd d A própria
a auv1 a e.
d
lV1dua11·
. opressões.
ivre d e expa nd ir-se re gula to a su
Vict, h·
vo s , a novas
.
. r-se n e les a limites
a a de su1.e 1ta
no
171
. . d.
, os ú n ico s e,n .
. freios t \ ,jnos . e na tur ais
,
. .
. .
Aos
d' 11 mu ito s do s set
\j d
ta nis tas de , o u tr t ea
ree n ia1
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ªde
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sa s, as t1r
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normas
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pri ch osa s do s go ve rn an tes .
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Ap en as su a oe s fr eqGent
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ua a pa ren te 111 1 ere nç a as
corage
e.
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q utla e s
as
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res ca tas tto fes., ind
mu iras v eze s ' às m.,aio
ica
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.
sepat aç ão mu i to ni ttd a en. tte o an im o qu e ge rou e nao h:a um.e,
a
. ba nd eir as e o q u e 111 . .
sp11 a as na ve ga ço, es do tnovi
d as
. n1ento
dec urs o do séc ulo XVIII. 79
o Cuiabá
no
Essa co rag ein tra nq üi la do ba nd ei ra nt e, q ue pe
. .
anece
no 1n on ço eir o , ven1 no s le1nb1 a1 qu e a n1 ud a n ça de rm
menta\i
.
da de é pr om ov i da sen1 um
.
co rte ra di ca l. O av e nt ur eir
o
e
.
.,
.
ind ivi du ali sn 10 an ar qu ic
o - d'ig a- se d e p a ss ag en
seu
. ., h .,
1, aqu
me sm o av en tu re iro qu e Jª
av ia m os en co nt ra do em Ra e1e
ízes
do Br as il- tra ns fo rm a-s e em
re tal hi sta , o ó cio co me ça a
ceder
lug ar ao ne gó cio , no pr óp rio
rit m o do de se nv olv im en to
da
so cie da de de fro nte ira .
Mas, e os ou tro s p er so na ge ns
fu nd am en tai s de ss e empreendimento? É ce rto q u e ne m
to do s os qu e se a rri sca va
m nas
via ge ns pe lo s rio s er am co
m er ci an te s pr op ria me nt e
ditos na ve rd ad e, a mi no ria - qu
e vi nh an 1 de fe nd e r se us pró
prios
int ere sse s. De m od o ge ra l,
ca da ba rc o tin ha um a trip
ulação
co mp os ta pe lo p ilo to, pe lo pr
oe iro e po r cin co ou seis rem
eiros
qu e se gu iam , to do s, de p é
- a fo rm a pr ed om in an te
entre os
índ ios de to do o Co nt in e n te
- , na p ro a do ba rc o, tom
and?
em tor no de do is me tro s e me
io d o ba rc o qu e co stu mava
medir
13, 14 me tro
s, ou até 17. Al ém de ss es
, a tri pu laç ão contava
co m um gu ia ou pr át ic o, às
ve z es do i s, qu e, en tã o , tra
~alha va m alt er na da me nt e. Al
ém da ca rg a qu e fi ca va ac nd
o iciona da no ce nt ro da ca no a, es
sa tri pu laç ão d e 8 a 10 ho
co nd uz ia
me~s
.,
um nu me ro nã o mu ito m ai
·
os
or d e p as sa ge iro s , qu. ais
"a
mo nto av am -se " na p op a. Po
sto qu e es sa s ca n oa s seg unm
em fro tas ·
, 1
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.
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, iss o sig n ifi ca qu e as m o n
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de
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s n e ce ss ita va
nu me ro l ·
re ati va me nt e gr an de d e t
ra b a lh a do re s .
No br ev e e ,, 1 "
traça u .
" ., .o Bu arque
ap nu O Se rta nis tas e M ar ea
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, Se rgt b ando,
e~ P _m 1:1Pressionante ret rat
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recrutam' em m ais d e u m po
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n
ª/lebres
nt o d e se m e lh a n ça e
en tos milita re s d a me sm a er
a tã o tri ste me nte ce
'
172
1
•stória de São Paulo".ªº Como nos recrutamentos militares
na l11
ão paulo, que, nos tempos em que o general Antônio
em S Franca Horta f01. governador, chegaram a ser verda-
/ da
caçadas de hornens, os tripulantes eram ' muitas vezes ,
_djo~~'ls
ell c•
81
forçados a partirem em viagens. Cabe, no entanto, chamar a
atenção para o fato de o autor escrever que assim se dava
~' especia lmente em expedições reiúnas", ou seja, nas oficiais.
Embora casos assim não deviam deixar de existir nas monções
comerciais e de povoado, com a lembrança que esses homens
eram aventureiros e que , con10 tais - para usar os termos de
Simmel -, tinham u1na visão espaçosa do mundo, é bom
observar que, muito provavelmente, não desagradava de todo
a esses remeiros partirem para terras distantes que, aliás,
diga-se de passagem, poderiam guardar tesouros fáceis quase
à superfície da terra. Mas, de qualquer maneira, com essa observação não se deve perder de vista os recrutamentos forçados
e as viagens indesejadas, mesmo nas monções não oficiais,
nas quais os tripulantes podian1 ter seus interesses, ainda
que não tão claros e certos como o comerciante.
Assim, com homens engajados, muitas vezes, por vias arbitrárias e violentas, não é difícil imaginar a dificuldade de
mantê-los ao trabalho, inclusive
[... ] conta-se de muitos remadores que, trabalhando ordinariamente nus da cintura para cima, costumavam untar-se de gordura,
a fim de não poderem ser facilmente agarrados quando tentassem
fugir. Junto aos pousos, onde os navegantes passavam as noites
e mesmo parte dos dias, colocavam-se freqüentemente sentinelas de ronda, para impedir as deserções. 82
É bom enfatizar que esses homens encontrados aqui são,
em certo sentido, os mesmos que acompanhávamos há pouco,
no item anterior, numa vida andeja, adaptando-se ao modo
de vida indígena, pois "as prim e iras monçõ es do Cuiabá
deveriam recrutar a mesma gente fragueira e turbulenta qu e
constituíra as bandeiras do século XVII" .83 Por isso, Sérgio
Buarque pode afirmar que "não parecerão excessivas tamanhas precauções, quando se saiba que a escolha dos tripulantes recaía, geralmente, sobre indivíduos pouco afeitos a
qualquer ocupação útil". 84
Logo a seguir, abrindo quase um parêntese no texto e recorrend0 a um enfoque que, a bem da verdade, não é muito
173
~
qui sta do Oes t
com um nes sa S sua s obr as sob re a con
.
.
e, Sé .
ão
da obr a de Cai o Pt.a d o Jun ior
Fo
Bu arq ue 1an Ça' m
rg10
.
do Brasil Contemporâneo, pu~ li~a da P?u cos ~no, r,na "'
s ante/ªº
esc
rev
e
que
"os
pro
pno
s
v1c1os do sist ema
Mon çoes, e
de
.
d
econ "
. de pro duç ão tinh am cria
do, em to o o Brasil col .o.
mic o
onia.\
uma ime nsa pop ula ção fl~t uan te, sem pos_. _
1ç~o social nítida.,
v1.ven do par asit aria me nte a m a rge m das at1v1dades reg
u1ares,
e rem une ra d 01.as " .85
Cre io que esse enf oqu e a par tir do s_istem
a eco nôm ico d
rodu ção evo cad o pelo auto r não con trar ia sua
próp ria inter e
P
,, .
pretaçã o e pod e, de fato, a e 1a ser arti.cu 1a do: o
pro_pno movimento
de exp ans ão par a Oes te trat ado com o exc
eça o, as andanças
ban deir ante s que se orig inam de um a fron teir
a mal controlad
_ con form e vist o no seg und o item do Cap
ítul o V- , é exata~
men te uma con firm açã o da exi stên cia de
um a população
exc luíd a do sist ema eco nôm ico. Con tud o,
o raciocínio que
Sérgio Bua rqu e des env olve sob re os mar ean
tes, que temos lido
apr oxi man do de asp ecto s da tese de Tur ner
, não é comportad o pelo qua dro arm ado por Cai o Pra do,
aca ban do por
tran sbo rdá- lo. Vej amo s esse pon to dan do
pros segu ime nto
ao estu do da narr ativ a do auto r.
Sér gio Bua rqu e per man ece des cre ven do
esse s homens
"po uco s afei tos a qua lqu er ocu paç ão útil
recr utad os para o
serviço das can oas, e, na des criç ão, pod emo
s enx erga r aqueles
ban deir ante s do séc ulo XVII sen do obr iga
dos a modificar
gra dua lme nte seu mo do de vid a par a se
ada pta r ao novo
trab alho - um serv iço irre leva nte se obs erv
ado com os olhos
que vêe m o sist ema eco nôm ico vol tad o par
a fora. No ponto
de part ida enc ont ram os mui tos trip ula nte
s que , criados na
ocio sida de e inad aptá veis à disc ipli na rígi
da que requerem
tais trab alho s ,
11
L.. ] parecem fazer jus às acusações frequent
.. es que ontra eles se
c _ presen-
levantam em doc ume ntos sete cent istas
.
, on d e nos
. sao
d aourante
tados como criminosos, amotinadores e insubord
ina osde escala
as viagens, era prin cipa lme nte em terra, nos
pontos rdadeira
. ona,
, . que esses home
o bngat
. . am sua s horas. de ve
ns v1v1
de carta s,
animação e alegria, entr eten do-s e às noites nos
Jogos f lguedos,
nas músicas, nas danças nos desa fios e em
outros ºansar. AS
de modo que era pou co ' o tem po para dormlf
• e desc
, go tumu.Iexpansões alentadas pelo álcool tinham, não raro
, ~pi 1Ovigilânc 1ª
t
uoso, e enta- o tratariam
.
. ous ado s d e iludlf a
os mais
da guarda, esca pan do para os matos. 86
174
,,..
.
ent ant o, é ape nas o pon to de par tida d o rac10este, . ele pro sse gue com o que inc orp ora nd
µ
o as novas
.
. po1 5
. ,
dos
nos ao _
',,, ct·as pro por cio nad as pel a nav ega ção
cín'ºnen
d
0 ~pe
do a term ino log ia de. Wil liam Jam es _ est oque e
rren
env olv ido s. Ou seja , os trip ul ante s,
reco ~ s dos hom ens
.
.
. ,i<,a
1ent a ou a par tir de seu s difusos
v10
eira
man
de
c,e a··ados
.
er nov as exp eri'e"' neta
ntu reir o, pas sam a viv
s
eng J sse 5 de ave
.
,,
_
. itere
que
s
ncia
eriê
exp
o,
barc aço es ada pta das
11
. ao com.erci
as em
lado da resig. tn 0 trab alho en1 con Jun to e arti cula do ao
nx1oe
cea me nto de mov ime nto s e ' tud o
e ~ pro voc ada pel o cerl'd
d
1açao
mar ean tes. De dete rta i a e des ses
vem alterar a men
'.
.
f
d
.
1sso,
a em açã o ' mai s
teir
ron
a
o
sen
a
tinu
con
,
.111ada maneira
111
segundo momento ,
mad. o de seu
ente o que tem os cha
cam
·
'fi
~
,,
espe c1
tran sfor maç ões
is na verd ade , o que esta em Jogo sao as
a de
~s ~renças dos ato res que resu ltam da pró pria dinâmic
ado ra de um
conquista do Oes te, no que ela tem de pro pici
nec essi dad es
ambiente de cria ção de solu çõe s par a as nov as
ada ptat ivo ao
e novos interesses, cria ção que tem algo de
u. E, nisso, é
nativo e também de reto mad a do leg ado eur ope
melhor passar a pala vra par a Sér gio Bua rqu e:
00
õe o serta nista para
Todavia, os elem ento s de que ago ra disp
men or mar gem ao
alcançar sua terra de prom issã o vão deix ar
itáv el pens ar que o
capricho e à inic iativ a indi vidu ais. É inev
uma ação disc iplirio, que as long as jorn adas fluv iais tive ram
e o ânim o tradicionadora e de algu m mod o amo rtec edo ra sobr
próp ria exig üida de
nalmente aven turo so daq uele s hom ens. A
niza r o tum ulto , de
das cano as das mon ções é um mod o de orga
entâ nea conf orestimular, senã o a harm onia , ao men os a mom
ncia dos espa ços
midade das aspi raçõ es em cont rast e. A ausê
o espe tácu lo ince silimitados, que con vida m ao mov ime nto,
rcep tam à vista o
sante das dens as flore stas cilia res, que inte
tade s part icul ares ,
hori zont e, a abd icaç ão nece ssár ia das von
cos ou de um só,
onde a vida de todo s está nas mão s de pou
na men talid ade dos
tudo isso terá de influ ir pod eros ame nte
Se o qua dro dess a
aventureiros, que dem and am o sert ão rem oto.
em sua apar ênci a,
gente aglo mer ada à pop a de um barc o tem,
rdem das paix ões
qualquer coisa de deso rden ado não será a deso
7
issa s e resig nada s.ª
em alvoroço, mas ante s a de a~b içõe s subm
e1as d os
diz er que as mu dan ças no esto que d e 1'd,,.
e-se
Pod
sena .
,, .a d e
. luta d.1an
s vão se o per an d o a par tir da pro,, pna
nista
·
.
u
conq
1sta do Oeste, ade qua ndo técnicas e recursos par a sup rir
175
i
. i des 30 1nes n10 te mp o e m qu e es
_ . ccess 1c a
,
..
sas l1'l
n
·sos
J
Joss
ibtl1t
110,·:1s
am, e1e s u a p a rte e
esin
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e recUl
.
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, Xper' ., a~
récn10 1s
,, qu e oe rmite tn e exig e m a mud a nça d 1en('ia
bétn novas
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rntn
.
. be m di reto sob re o caso e m qu esc e '11 enta.~
·J k Pata se i
.
1t aL ·
) iroga s ind íge nas told ad as, p e rco rre ndao ' bastaria
d'12 er que as I
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lado do orde na1ne nto d as paixõ es dos o un1ª l'Clta
30
·ixa
cfao-s
e•
l '
· 11a l11po
· ,, tese fund senan1·Stas
. , ciissc e essa e,, 111111
am
·.
Como J3 - '
,
.
enta] ,
. ,. . a cfa fron teira q u e esta e n1 Jogo aqui e em últ·
d,na1111c,
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1n1a, 1ta
,. . ,, ela que pern1ite essas n1ud an ças no estoq
ue d "
n).
tancia, e
,
e
cren
.d , •as Posto isso co nve n1 re to1na r o brev e come nt' . Ças
e 1 e1 .
·
'
."
.
,, .
C[ue
fize mos há pouc o sob re a re fe t e n c1a d e Se rg10 Bu arquano
e à obra
de Caio Prado , obra que, no e ntan to, segu ndo d isse mos ,
.
d
. , .
, nao
oderia abarc a r o n1esn10 tipo e ra c1oc1
ni
o
d
e
quem
.
P
O
,, .
b
ci
ta
Para concl uir esse con1 entan o, va 1e 1en1 ra r qu e O autor d~
Formação do Brasil Conte1nporâneo, no texto de abert ura d
seu livro, "Sen tido da Colo niza ção" , a bord a de passage~
0 trabalho de Fred erick Jack son Turn er. Aind a que breves
suas palavras pode m deix ar m a is cla ro e m que medida ess~
fo rmação do hom em da front ei ra não é, e talve z nem pudesse
ser, conte mpla da pelo autor .
Ao tratar da colo nizaç ã o da Amé rica pelo s europ eus no fun do a cons tante de tod a no ssa discu ss ão - , Caio
Prado cons idera que nas re giõ es tro pica is e subtr opicais
do Cont inent e
[... ] são trópic os bruto s e inde vassa dos qu e se apres e ntam, um_n
natureza hostil e ames quinh adora do Homem, semea da de obs~tculos impre visíve is sem conta para que o colo no europ eu nao
estava prepa rad o e contr a que n ã o con tav a com n enhum a
.
de fesa. Ali ás a dificu 1d ad e do es tab e le cime n to de europe us
. ·1·1za d os
. da ao livre
civi
nes tas te rras a m e rica nas , e ntre gu es am
s
·J~go d
a n atur e za, é comu m t a mb é m à z ona temp en' da .8
(Enfases ac resce ntada s)
Essa afirm - ,, f' .
açao e su 1cien te para a con1 parar mos e001 a tese
da front ·
•
0
eira , ainda mais po rq u e Cai o Pra d o inclu i. no 01 esm
.,
caso as
,is
n0
parte s temp e radas do Co n tine n te - como as ren
.
de
rte-americ
1a
co m 0
anas - , e de imed i ato p e rcebe -se a el'15parte
.
eiro
Pe nsam e
.
prirn
aspec to h"
nto turne n a n o. Ou me lhor, nu m, orrne
a
urna
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t
.
.
força da
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respe i·to a. en
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natur eza
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t
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no ovo Mun do natu reza
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176
r
ido tambén1 para Turner - ou o civilizado se adapta
erto Sent
'
e erece - , mas, por outro lado, enquanto para Prado Junior
ou pé "amesqum
· h a d ora d o H ornem " , para o h'1stona
. d or ameri1
ea
d
~
cano é transforma ora e, ate mesmo, segundo a interpretação
de Noble por exemplo, purificadora. Para ambos autores, e
também para Sérgio Bua rque, o "colono europeu não estava
prepa rado" para a co~ot;ização das "te:ras ame~ic~nas", n~
entanto , segundo a h1potese d a fronteira, a propna convivê ncia, mesmo violenta, com o nativo destas terras propiciava
0 ap rendizado necessá rio.
Mas para não atribuir a Ca io Prado palavras que não redigiu, va mos continuar seguindo suas observações. Prossegue
dizendo:
Respondendo a teorias apressadas e muito em voga (são as
contidas no livro famoso de Turner, Th e Frontier in American
History), um recente escritor norte-americano analisa este fato
com grande atenção, e mostra que a colonização inglesa na
América, realizando-se embora numa zona temperada, só progrediu à custa de um processo de seleção de que resultou um
tipo de pioneiro, o característico yankee, que dotado de aptidão
e téc nica particulares foi marchando na vanguarda e abrindo
caminho para as levas mais recentes de colonos que afluíam
da Europ a. 89
Bastante próximo da chave de raciocínio calcada na luta
entre barbárie e civilizaçã o ,9° vê-se que o ponto do autor tanto do norte-americano, Lee Hansen, como do brasileiro
que o cita - é que o homem deve dominar a natureza, a
adaptação significa sua derrota. A idéia de que a fronteira
possa ter um caráter transformador - e positivo - sobre o
legado europeu não é contemplada no seu raciocínio e deve
ser considerada uma "teoria apressada". Em suma, no trecho
discutido, Caio Prado concebe a discussão sobre a colonização do Novo Continente pelos europeus de forma diversa,
para não dizer oposta, à maneira desenvolvida por Sérgio
Buarque em sua obra sobre as entradas e bandeiras, nas
quais, como temos visto, este autor explora a conquista do
Oeste como um elemento dinamizador e transformador do
legado europeu. E esta diferença, acredito, guarda relação
com a escolha mesma do programa de pesquisa assumido
pelos historiadores, levando Sérgio Buarque de Holanda a
177
duas década s de seus esforço s àq ueles qu e
dedica r ao menos
.
.
.
Oeste e Caio Prado a, por ass im d'1zer, retroseguiram pai a o
d "
.
"
_
•
,
quando
chega
diante
o
setor
1norgan
ico"
ceder sua pesquisa '
,, .
,
.
~
deixar
de
escreve
r
algum
as
pagina
s
notáve
is
amd a que sem
.
.
plo
a
pecuár
ia
e
as
v
ias
de transpo rte e
sob re, po1 exet11 , ,
.
,. io
. 111
• tei·no 110 período colonia l.
comerc
Apenas para encerra r essa parte, con~ém ref~rça r ql~e, após
termos aco mpa nh ado no ite n1 ante rior - . Bandei rantes,
,. • s 111
· d"genas
e ada·ptação" - o sertani sta se adap tar
tec111ca
1
quase comple tamente às técnicas e re~urso s dos nativo~ :m~ricanos, seguim os agora , de perto, mais um passo da dmam1ca
da fron teira, no qual o adve ntício recorre também ao seu
legado para atender às novas necessi dades e interess es surgidos
no process o de conquista da terra. Provav elment e, o melhor
exempl o desses passos seja a embarc ação de tronco adquiri da
dos indígen as, ada ptada, no entanto , com toldos e mosqui teiros europe us. Mas não paramo s aí, e vimos que, lado a
lado com essas mudanç as materiais, transfo rmaçõe s nas mentalidades dos sertanis tas se operav am.
E, nesse ponto, bem podería mos ter recorri do às noções
elabora das por Sim mel em The Ph ilosophy of lvloney em torno
do conceit o de cultura . Para o sociólo go alemão há que se
falar em cultura objetiva e cultura subjetiva, esta última para
se refe rir à formaç ão dos indivíd uos e aquela relacio nada às
"coisas que envolve m e preenc hem objetiv amente nossa vida"
- como aparelh os, meios de transpo rte, produt os da ciência ,
da técnica e da arte. Deixa ndo de lado a problem ática da
socieda de modern a - na qual há uma crescen te dispari dade
entre uma cultura objetiv a altame nte cultiva da e a cultura
subjetiva cada vez mais limitada compar ativam ente àquela -,
vale ressaltar a organicidade prévia entre as duas noções , posto
qu,.e na medida em que cultivam os as coisas, elevand o-as para
alem de seus mecani smos natu rais , cultiva mos a nós n1esmos,
ou, dito de forma rápida, "nos formamos ao formarmos as coisas".91
Voltand o ao texto de Sérgio Buarqu e é import ante reter
ess_a organic idade das transfarmaçõ es m~teria is e espiritu ais,
P?1s, ne ste caso, "não é só o empreg o de meios de locomo ção
diversos é tamb,,
. .
'
em, e prmcip alment e, o comple xo de atitudes
e compor tament os d
· a d os por
, eterm1n
esses meios o que fara.,
compre ender a d' t' '
.
is mçao essenci.al entre a primiti va
bandeir a
178
r
,-...,.__
-ão de po vo ad o" .92 As sim
um a fo rm aç ão do s su je ito s
·
.
.·c_ios
.
,1 ,11011<;
e·
na co nq uis ta do Oe ste oc or
ria de um a ma ne ira
1,,o h i
1
c . , , ve zes ím pe rce pt1,, ve l , as
.
~
pa 1x oe s se or ga ni za va m e os
,11u1ta:;
. , -se s se fo nn av atn , con1 a "
. "'
co ns 1s
ten c1. a d o co ur o" , e na~ o
. 11 c 1cs~
,
'. ' do ferro ou do br on ze . En1
"'
.
su a co nf er en
cia
1
no Cu rso d e
'
i .,· • \ogia ao le1 nb rar da p as
B·111l L 11 O
sa
ge
m
de
.
M on çõ es on de se
,
. ~kri a ~s de so rd en s pr ov oc
ad
as p e los ma re an tes e m Po rto
1
~eli z, 0 po nto de pa rti da da s via
ge ns às mi na s, Sé rgi o Bu arq ue
Ft ·ei·va qu e "e ntr eta nt o es sa
ag ita çã o d e su pe rfí cie nã o de
0 1s
ve
esc onder-nos a fu nd a tra ns fo rn
1a çã o qu e se ia op er an do ao
s
poucos na me nta lid ad e de ss es
no vo s se rta nis tas " .93
179
e
A
T
p
u
L
o
DO Ot~Tt t AfO~MA~~~
DA MtNTAllDADt CMlrAll~i~
A CONQUl~TA
à análise do resufrt·a este capítulo é dedicado
. .
Numa pa la\ ,
acompanham
nquista do Oeste brasile1ro
os
,, que
ta do d a Co
em alguns de seus n10111entos no Capitulo VI. Agora, aquele
diálogo de Sérgio Buarque c~m a obra d_e Weber iniciado já
uando discorríamos sobre Raizes do Brasil pode ser reativado.
~esmo que em Monções e Caminhos e Fronteiras este diálogo
nunca ocorra de modo explícito como no ensaio de estréia
'
sua retomada neste momento pode esclarecer um pouco melhor
as "reavaliações" do autor sobre a obra do sociólogo alemão_
reavaliações estas que, quando analisava a segunda edição
de Raízes, só foi possível indicar a direção , sem contudo uma
percepção razoavelmente clara de seu significado. Mais do
que isso, no entanto, colocar novamente a obra de Sérgio
Buarque em diálogo com a de Weber, mais especificamente
com A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo e com The
Religion of China, é uma boa maneira de elucidar o tipo de
formação proporcionado pela fronteira e seus resultados.
Um pouco artificialmente, subdivido esta elucidação em três
partes. No primeiro item deste capítulo, realizo um contraponto do processo de f armação ocorrido na fronteira com os
que aparecem naquelas duas obras de Weber e enfatizo se~i
e ,inalt..
. pos1t1vo
resultado no q ue e le tem de mais
ao 111enos s '
. 1·is ta' · Neste.
' capita
d e uma mentalidade
.
sado do pont 0 d e vista
mentaltcaso, até O q h,, d .
d
. ue ª e incompleto na forn1ação de uma
d d
• olha 0
d
, 1
ª e mais compative
,
com critérios n1odernos po e sei
mpletcl
••
com olhos
. positivos , como, por exemplo a ausência da co . ·
im
1erc1~us.
'
~
pessoalidade
No item d . nas relaçoes humanas, mesn10 nas con d sen·
volviment o1ds , sublinho que, para se compreender o ceessi·
O
. Buarque a ponta para a nencerto
dade de se o Br ªs1·1 , s,,erg10
perceber a es pecificidade da América no co
cidente.
do O
Em con1p ensaç ào, no tercei ro item d este capitu
lo
. .
l 'd d
'
. .
sma ment a 1 a de capit alista abord ada nos d ois
itens
•
a me
lados mais o b scuro s e até
·iores é enfat iza a nos seus
'
~
anter
d
fato
para
ao
atenç
a
-se
O
ando
, ·cos chan1
e que a extre 1na
'
cragr
.
teriza
eza que carac
a natur
. xim idade con1
a co nqui sta do
~
. . .
. _
pio ·
l nao signi ficou un1 1naior c u 1'dra do co m e la
Oe ste no Brasi , .
'
antes pelo contr a rio.
A FRO NTE IRA E O ESP ÍRIT O DO CAPITALISMO
As Monç ões repres entam , e m realid ade, uma das expres sões
nítidas daque l a força expan siva que parec e ser uma consta nte
histórica da gente paulis ta e que se revela ra, mais remota mente ,
nas bande iras. Força que depoi s impeli ria pelos camin hos do
sul os tropeiros de gado, e que, já em nossos dias, iria determ inar
o avanç o progr essivo da civiliz ação do café. Toma das no seu
conjun to, o histor iador de hoje poder ia talvez reconhecer, nessas
1
formas, uma só const elação . (Ê nfases acresc entada s)
É possível esque matiz ar os estud os de Sérgio Buarque através
da corre spond ê ncia de certa s figur as embl emáti cas a cada
século de conq uista do Oeste . Dess a mane ira, pode- se dizer
que no sécul o XVII predo mina o band eiran te, no XVIII o
monçoeiro, e ao segui nte corre spon de o tropeiro e o fazen deiro. Ressa lte-se que Sérgi o Buar que enxer gava uma linha de
continuidad e entre essas figuras, vendo -as formar "uma só constelação" carac teriza da p e la "forç a expan siva" , a qual, pode -se
0
afirma r levan do-se em cons idera ção o que vimo s em todo
decorrer do Capít ulo VI, diz respe ito ao avanç o da fronte ira.
um
Antes de pross eguir , no entan to, é bom que se abra que
Buar
·
s,. •
~
"
tese ressa ltand o a impo rtanc ta que ergio
paren
atribui aos trope iros no sécul o XIX, os quais , em gran~ e p~rte
do século, form avam o grup o mais ativo das terras do mten ?r,
transb ordan do inclu sive aque la "forç a expan siva" para muito
'
'
ai em do Plana lto pauli sta. 2
. ar um es tudo detal hado
- tenha cheg ado a realiz
Emb ora nao
do mu n d o trope iro, assim como o f ez_ d O band eiran te. e do
· , parec e que Sérgi o Buar que atn'b ui· extre ma impo ro eiro
Thonç
~
do a ponto de,
tancia
'
ga
ao
as
ionad
ª essas ativid ades re"lac
181
livro de suely Robles Reis de Qu eiroz, sobre a
,. .
.
19
. d
no pre faCto ao
arnscar
'
77
em
o
publica
Paulo,
São
em
re'ª""ª
11.
d
.
,.
Escravt ao iV ' o',
dizer que até a primeira metade do seculo XIX
[. .. ] é muito provável que, como ativ.idade ~con~mica, a Ia.vo ura,
, car co 1110 do café ' a ind a nao tivesse m e ios de
tanto d o açu
desafiar a im portância, como fonte de lucr.os, do comé rcio de
• • qu e os ti·opeiros iam buscar no Rio. , Gra nd e e mesmo
animais,
entre os 'castelhanos ' do Prata, para negocia-los n as feiras de
Sorocaba. 3
Em outro prefácio, desta vez ao livro de Maria Thereza
Schoerer Petrone sobre o Barão de Iguape , publicado em 1976,
Sérgio Buarque chega a reclamar que a "tributação e comércio
de gado, [. .. ] não obstante sua importância para a vida econômica de São Paulo e do Brasil, [é um tema que] ainda continua
mal conhecido". 4
Posta esta importância atribuída por Sérgio Buarque à atividade trapeira - e fechando o parêntese - , podemos retomar
a "constelação" formada pelo bandeirante, monçoeiro, tropeiro
e pelo fazendeiro enfatizando , por meio de Caminhos e Fronteiras, o resultado da gradual mudança ocorrida nesses personagens no desenrolar do processo de ocupação do Oeste brasileiro, no qual "o tropeiro é o sucessor direto do sertanista e o
precursor, em muitos pontos, do grande fazendeiro. A transição
faz-se assim sem violência" .5 Nesta transição, em meados do
século XIX, "com as feiras de animais de Sorocaba, assinala-se, distintamente, uma significativa etapa na evolução
da economia e também da sociedade paulista. Os grossos
cabedais que nelas se apuram, tendem a suscitar uma nova
mentalidade na população. "6
Cabe acompanhar, assim, o surgimento desta "nova mentalidade" resultante de um processo de transformação gradu al
"sem violência" que culmina com a atividade trapeira e através
,. · d e aventura, que admite e quase exige ª
d 0 qua 1 " O espinto
agressividad: ou mesmo a fraude, encaminha-se, aos poucos,
~ara_ ~ma açao mais disciplinadora". 7 Ou seja, aquele mesmo
es~mto de ave~tura" que, de certo modo, já era encontrado em
~aizes do Brasil reaparece aqui em transformação - proporci?nada, pode-se afirmar com base no Capítulo VI, pela dinâmica da fronteira - rumo a uma "nova me ntalidade" mais
182
disciplinada. Com. isso,
;-- dos . ,
. "[.. .] à fasci· naçao
tu rbulenta su bst1tu1-se O ainor à . . . . nscos e da ousadia
s tni c1attvas
.
.
cora1osas mas
q ue ne m sen1pre d ao in1ediato pt.ove no
o
sucede ao gosto da rapina ".s
·
a mo r da pecúni a
r
'
Essas tra nsforn1ações faz e n1 e
. ,. l .
on1 qu e e ntre
co mo Jª 1av1 a con1eç ado a acont :, .
trope iros
e ce1 n as monçõos
,
es,
[. .. ] um a ambição menos impaciente d O
e nsina a me d ir, a ca lcul ar o po ·t .d
que ª do bandeirante
1 uni ades a c
e perdas . Em um e mp reendimento
. '
ontar com danos
, ·
muitas vezes ai
- ·
necess a n a certa d ose de previ'dA .
.
eatono, faz -se
encia Virtude
·
burguesa e p o pular. Tudo isso va· f ' d '
eminenteme
nte
1 a etar 1retament
.
dade ain da su jeita a hábitos de 'd
.
. e uma soc1e, .
,
vi a patnarca1s e a
intimo a me rc anci a , tanto quanto ,
A.
vessa no
as a1.tes mecanicas.9
O disciplina mento do sertanista modifica os "h 'b·
d
·d
·
· "
,. b
a 1tos e
v1,. ~ p atn arca1s - e om lembrar mais uma vez, os mesmos
habttos. encontrados
em Raízes do Brasil· Portanto, nas monçoes
.
e, mais ainda, entre os trop e iros, começamos a encontrar 0
cálculo , o planejame nto e a té mesmo "certa dose de previdên cia, virtude eminenteme nte burguesa". Contudo, o próprio
autor alerta:
Não convém , e m todo o caso, acentuar com demasiada ênfase a
transformaçã o que a influência das novas ambições promete
realizar. Há na figura do tropeiro paulista, como na do curitibano,
do rio-grandense , do correntino, uma dignidade sobranceira e
senhoril, aquela mesma dignidade que os antigos costumavam
atribuir ao ócio mais do que ao negócio. Muitos dos seus traços
revelam nele a herança, ainda bem viva, de tempos passados,
inconciliável com a moral capitalista. A dispensa muito freqüente
de outra garantia nas transações, além da palavra empenhada, ~ue
stn
se atesta no gesto simbólico de trocar um fio de barba em
ªl
de assentimento casa-se antes com a noção feudal de lealdade10
'
h
• 'd d comerci al
do que com o conceito moderno de onesti a e
·
(Ênfases acrescentadas)
- moral capitalista
D essa forma qualidades adequa d as a
'
e
,.
'
,.. .
em solapar de todo
orno o calculo e a previdenc1a, surgem s
.
~
xcluindo 1nclucaracterísticas de um mundo patriarca 1, nao e
.. '
s·
- comerc1a1s e uma
ive, certo grau de personalismo nas transaçoes
"ct· ·
. l" S gora começamos a
ign1dade
sobranceira
e
senhona
• e ª ,. · antes que o
·1
0
vis umbrar um mundo que valoriza o negoci
183
aracterísticas qu e o acompa nham não estão
d
. ,.
.
este e as C
absoluta. Com isto Ja po e mos supor urn
f .
'
. l
ause ntes de o1ma
'eito oculto ao texto , espec1a me nte com A
'
•
.
diálogo com um SUJ
Eshíríto do Capitalismo de,. . Weber,, este
t
.
,
O
.
'F
Etica Protestan e e
rido no li v ro de estreia de Sergio
refe
:>s
auto r ta ntas veze
alguma dúvida .,.quanto a possibilidade
.. t'ndo
i
Buarque . Pe1s1s
desse dialogo, vale prosseguir
. a anutenção
. a
·
de se perce b et 111
,. . d o tex to no qual Sérgio Buarque compleme nta sua idéia··
analise
0,. cio
r. !ta,, aqui, esse ascetisnio racionalizan te, que parece
, Ja
Tam b em
, e! do 1·deal burguês, ao menos em su as origens · o
.mse parav
amor ao luxo e aos prazeres domina, em pouco tempo, esses
indivíduos rústicos, qu e ajaezam suas cavalgaduras com ri cos
arre ios de metal precioso ou qu e timbr__am em gastar fortuna s
11
nos caba rés, nos jogos, nos te atros. (E nfases acrescentadas)
É de fato difícil que, ao ler essa passagem, não nos venha
a mente, como contraponto, o estudo de Weber segundo o
qual o espírito do capitalismo, nas suas origens - para falar
como Sérgio Buarque - , envolveu u1n rompimento radical
com o hedonismo e com o tradicionalismo, seu "oponente
mais importante" 12 - em suma , com as forças que poderiam
conduzir a um capitalismo aventureiro ou político, mas não a
um do tipo burguês. Nesta chave clássica, o rompimento com
aquelas forças foi proporcionado pelo protestantismo, por
este exigir o exercício de um ascetismo racional não apenas dos
monges mas também dos leigos, trazendo a ascese dos monastérios para "dentro do mundo". Assim, o espírito do capitalismo
clássico ficou marcado, mesmo após perder sua motivação
religiosa, por diversos traços daquele ascetismo racional que
0
~~r:ou em seu nascedouro e, por isso, não incentiva a
exi~ 1çao com adereços "de metal precioso" ou outras atitudes
equivalentes. Em oposição ao brilho e ostentação da pompa
. . • frouxa, pre fere-se
feudal - na qual , sob re uma b ase econom1ca
um~ : legâocia sórdida a uma simplicidade sóbria -, o portador
, 1
l
da ettca descrita por w, b
we er e ege o conforto asseado e estave
do lar de classe média como um ideal.13
.
Assim ao inv ' d d
es e espender seu tempo e su a fortun a
'
nos "ca barés n ·
' os Jogos, nos teatros" esse mesmo homem os
.
,
evita, pois, para ele
)
184
.
impulsi vo gozo d a v ida, o qual d esv1a
tanto d
o em
urn a vo ca çao , como d a religi ão e , como tal o trabalh
•
·
' ra
·
.
, 0 inirnigo do
'
ascett smo rac1ona l, quer se a present asse
d
na fo
.
rm a o sa lão de
al qu e r n a f
senhori
baile
e
d
ou
·ogos
J
orma do g- 1 - de dança
'
ª pao
e d a ta berna do homem comum .11
0
Porta rito, 111uito ao contrá rio d e cultiva ._ "amor ao lux
tem
0
"
os qu
e aos prazere s - con10 os tropeir
rgio
Sé
o
segund
e,
.
. .
~
Bu arque , po1tan1 un1a nova n1ental idade em re 1açao
ao ga nho
.
.
meram ente aventu reiro. - , os,, ascéti cos pu n•t anos evitava
m
.
.
f
l
o
lificad
"o uso 1rrac1onal da riquez a ' exemp
pe as armas
feudal _
mente
uma
para
exterio res do luxo que - naturai s
eram conden adas p e lo seu código como idolatria da carne.is
Em su ma , podem os dizer então que por meio da dinâmi ca
de conqui sta do Oeste forma- se uma mental idade compatível
com o modern o capitalisn10, sem, contud o, um completo rompimento con1 valore s e costum es associa dos normal mente a um
mundo pré-bu rguês. De te cta-se uma mental idade capitalista
sem ascetis mo racion aliza n te - o qual "parece inseparável
do ideal burguê s , ao me nos em suas origens " -, e que, por
isso mesmo , possib ilita a vazão dos sentim entos e prazere s .
Ressalt e-se que es te re sultado descrit o por Sérgio Buarqu e
16
também envolv eu um "longo e árduo process o de educação",
conform e se refere Weber ao surgim ento do espírito associado
à vocaçã o , mas ao contrár io deste, aqui o process o de educação
não signific ou um corte absolu to com o passad o.
Ao chama r a atençã o para essa diferen ça entre o espíri_to
burguê s clássic o , ascétic o, e a mental idade burgue sa descnta
o
ento absolut
~ h,,.
,. . Buarqu e , na qua 1 nao
,,
a um rompim
por Serg10
tes que se
h,,.a " mo t'1v os constan
~
.
·
cal e nao
com o mundo patriar
s diante de uma
,,
contrap onham a os "sentim entos , nos vemo
t s veeme ntemen te
d
.
pon
situaçã o delica da já que um . os
s de seus mter 1o_
'
.
.
.
defend idos por Weber em opos1ç ao a. a 1gunenvolv ia
o 1omp 1. 1
,.
.
ismo
cutores era que o espírit o do captta
e
assim,
Sendo
mo
.
. .
1is
·s
·
me nta com o hedon ismo e o trad1et.ona
d d 0 a esse ponto, ma1
.
,.
necessa rio que devote mos mais ,.cutd ª al We b er con cebe a
.
..
,. .· do ca pitaespec1f1camente à manetr a atraves ª qu
o
esp111t
d
.
O
~
f
ormaça o desse homem afina O com rrer como foi feito no
1·
Goldm an
'
ismo. Para isso vale a pena voltar a reco
'
Harvey
de
Ih
,
,.
'
. . .
0
of
g
shapin
the
nd
.
traba
ao
I,
lo
Capitu
do
Primeiro Item
Max Weber and Thoma s Mann: Calling a
°
.
185
~
the Self, na parte d e dic ad a à concepção de personalidad e
1nobilizada por Web e r.
Segundo argumenta Goldman, ao mesmo tempo que ajuda
a fo rn1ar O en1presário n1oderno e o trabalhador especializado,
0 puritanistno é a fonte do qu e Weber _chamou personalidad e.
Ou, para ser 111 ais exato, o que caracteriza aqueles personagens
é, justan1ente, 0 fato de terem se torn a do uma personalidade no sentido forte do tern10, que para Weber significa,
nas p alavras de Gold1nan, "un1a subjugação do self natural e
sua u nificação a partir da interioridade por meio da devoção,
111 odelado por uma vida no serviço 'vigilante ' e sistemático
.
D eus " .17
para seu 1'd ea 1 u"l t1n10,
Assin1, a forn1ação da personalidad e e aquele ascetismo
puritano de que falávamos há pouco, enquanto um controle
racio nal, andam juntos, pois este ascetismo, escreve Weber,
envolve a tentativa de "habilitar um homem a sustentar e agir
sob seus 'motivos constantes' , especialmen te aqueles que
foram por eles adquiridos em contraposiçã o às emoções". 18
Uma conseqüência dessa busca de controle absoluto do self
natural através do serviço sistemático a Deus em uma vocação,
ilustra de maneira eloqüente esse controle em direção à
fo rmação da personalidade . A conseqüênci a é o fato da moral
puritana aceitar o ponto de vista judaico segundo o qual o
preenchimen to sem amor do dever é eticamente mais valioso
do que a filantropia sentimental. Não deixa de ser significativo
o fato de Weber chamar a atenção para a conexão da filosofia
kantiana com essa ênfase no dever. Aliás, Weber chega a
afirmar que muitas das formulações de Kant estão intin1amente
relacionadas a idéias do protestantism o ascético. 19
No mesmo caminho, mas na direção inversa, Harvey Goldman
alerta para a forte inspiração kantiana da interpretação formulada por Weber para compreende r os efeitos do puritanismo
nos seu s segui'd ores. Em primeiro lugar,
,
chatna a atençao
~
~ t'.!.ID~ nte para a conexão entre dever e personalidad e no
.· •.tra -lho"
- que, en1
1 oso f O alemao
.... \d 0 fl,.
sua Crítica da Razao
Prãti.ca, de 1788, escrevia:
O .que não pod e ser nada menos senão o que eleva O horne_rn
acima
de si n1 esmo
•
( como parte do mundo do
_
senti·ct O ) [... ] nao
e outr
·
~
. ª coisa
que a personalidade, i.e., a liberdade e in d ep endenc1a em rela ~
çao ao mecanismo da natureza, ao mesmo rernPº
186
considerado como uma capacidade de
[
ser Wesen]
.
.
laridade é, a saber, puras le is práti cas d d·
cuia part1cu..
·
razão; a pessoa, consequentemente,
como ª as por sua pro' pna
,
.
.
d
pertencente ao m 1
do senti do , e su1e1to e su a própria perso , l'd d
une o
, a e na m d'd
em que pe rte nce ao mesmo tempo ao n1 n,t
d . '
e I a
un o inteligível. 20
e
Encontran1os aqui, con1 o utras palav ras
.
, o mesmo tema
dos motivos co nstantes en1 contraposição às em ,
oçoes. A1em
disso ' avança ndo outro as p ecto do puritanism
o segun d o
Webe r, pode-se detectar na passagen1 uma tensão ent d .
.
. '
re OIS
mundos , o 1ntehg1vel e o dos sentidos, nos termos de Ka
É quando o in divídüõ continúa a pertencer ao mundo dnt. \
os .
sentidos, mas age nele guiado pelo inteligível que pode vir a \
tornar-se uma personalidade. Não é muito diferente O caso
do puritanismo que propaga um ascetismo intramundano _
ao contrário dos monges da Idadê M-é dia - · mãi com v aloies
em tensão com esse mesmo mundo. Pode-se dizer qüe õ s
puritanos - tanto os sacerdotes quanto os leigos, importante
frisa r - põen1 em prática ce rta passagem bíblica, onde o apóstolo Paulo roga aos romanos: "E não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente,
para que experimenteis qual seja a boa agradável perfeita ~
vontade de Deus. "21
Graças a essa tensão, no caso dos protestantes, entre o
mundo e a vontade de Deus, queda-se fechado o caminho
para que o indivíduo se forme a partir do intercâmbio com
este mundo. Ao contrário, ele necessita de um princípio
extramundano que se imponha ao século. E isso nos conduz
a mais um ponto , o segundo, sobre o qual o trabalho de ~~_nt
lança luzes. Ao discutir o bem moral em seu texto "A Rehgiao
. .
.
les Razao
- " , de 1793 ' afirma ' em
Dentro d os L1m1tes
da S1mp
outra passagem citada por Gol d man, que Para alguém se
tornar um homem de bem não apenas legalmente, mas
moralmente, a n1udança
1
radual [. . .] mas dev e
a convicção
. d
revoluçao
n
se r 1evado a efeito por meto
e uma
. gem para a
.
ou d is posição [Gesinnung] d o h orne m (uma _passade tornar-se
m- ·
• - ) e ele nao po
ax1ma d a santidade d a conv1cçao
i
. •mento como
u
, ·e de renasc i
,
m novo homem senão por uma espect
- do coração.
qu
]
t ·ansformaçao
e por uma nova criação [... e uma 1
.d
i] do homem não
[...] Disso se segue que a educação moral [Btl ung
l. ..] não será efetivada por uma reforma g
187
--l
.
me lh oramen to das práticas [Sitten], mas pe!
deve começa t pe 1o
· _ de seu caminho de pen same nto lDen kungsarta]
transfor maçao
, . 22
fundação
de
um
carate
r.
la
e pe
.
.
o utras bases u ma idé ia ca ra ao puritaKa nt reto m a e t11
.
. 23
l
.
,, do renasci me n to inte ri or, a q u a re m e te, por
rnsmo que e a
lh
,
alavras d e Jesus relatad as n o Eva nge o segundo
1
exemp o , as P
d'
1 ,,
~ . "En ve rdade em ve rdade te
1go q ue se a g ue m não
1
Joao .
'
24
·
nascer de novo, não
pode ve r o re 1no d e D e us. " E , nesse
ponto , chegam os a u ma caracter ísti~da ,,~ end
t ra l da pe:son(ablidade
q u e se mo lda fundam e ntada na 1 e ia e vocaça_o
eruj).
Como transp a rece no texto d e Ka nt , a person alidade não
re sulta d e u ma refornia g_radu~ l d o seif n at ura l, m as, ao contrário de u ma revoluç ão radicàb qu e implica u m rompim e nto
,
~
,, .
com ele a pa rtir "n ão do melhor a mento d as pratica
s , mas da
transfor mação de seu caminh o d e pe nsamen to", o qu e no
protesta ntismo corresp onde à conver sã o , que signific a um
"renasc imento ".
Seguind o esses come ntários , podem os afirmar com Goldma n
que o modelo kantian o é forma lmente similar ao que Weber
acre d ita encont rar entre os se guidor e s d a s ·religiõ es purita n as , de onde vê surgir o que conside rou como uma efetiva
estrutur a de persona lidade. Contud o, confor me apontei de
p assagem no primeir o item do Capítul o I, existe uma diferenç a
crucial entre os dois autores . No caso de Kant, a fonte da
p e rsonalid ade deriva de seu pertenc imento ao mundo inteligível, o qu e possibil ita, por meio da afirmaç ão da vontade ,
cons iderar leis raciona is como impera tivos categór icos - "Age
como se a máxima da tua ação se devess e tornar, pela tu a
vontade , e m le i univers al da naturez a " .25 Em suma a ra zão
. .
'
cn an a os valo res u" lt1·m
~
os. p ara ,v,
we b er, no enta nto, a razao
nao
pode prove r esse guia , e o self d eve encont rar uma outra fonte
p ara o estabe le cime nto d
. ,, .
"
.
e seu s pnnc1p
1os - ou, p a ra se us
motivos constan tes"
f
·
• .
d f"
. - , como 01, por e x emplo, a do mode lo
o n gm a 1 a ·e puritan a 26 In
.
d .
.
·
c 1us1ve, ness e ponto n ão podemo s
b e1xar de citar o texto de We b e r onde trat; a motiva ção
urguesa para a acumul aç~ d .
ao e nqu e za - e m oposiçã o à qu e
re mo nta a Antigü id ad e _
"'
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como um 11npe rat1vo c ategon.co ,, ·
Seg un d o o a utor "o
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m o to e asce ti s mo e En tsagen sollst du,
sagen,
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se n ti o ca p1ta ltst1 c o pos1t1v
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irracion a l1' dsoa dst ,, u, sollst erwerb en . Em s u a pura e simples
e e uma es ,, · d
p e Cte e imp e rativo ca tegóric o"· 2. 1
r
+
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188
i .,
, o estudo de Weber
Nesse sentido .
ser e ons1'd e rado
1ógica qu e poc
. e
um a pesqui sa arqueo
,
visa enc
,, .
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ontrar a base
, • na do es p1nto do n1oder no capital is
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mo, seu "'1
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mperat 1vo
, re górico' , que, co ntudo, para e le , nà o e,, - nem
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_ . _ ;ust1fic av e apenas pela ra zão . A ss1m
, seguind
"
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afirmar q "a motiva
. squisa, o soctolo go alen1ao,, pode
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uritano s e ap enas a g lori a de Deu s e s e u eIever pes
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ente, num m d
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ao exercíc io da su a vocaçã o ". 28
Podem os extra ir e ntão dessa .di sc ussão qu e , para Weber,
_.
. a Deus
conduz iram O crente a s erv1r
os que
pu11tan
dogmas
05
. ..
_
em uma vocaça o poss1b1lttara n1 a formaç ão da perso nalidade
no senti do forte do termo, uma unidad e sistemá tica qu e
domestica o self natural a partir, ressalte -se, de uma revoluç ão
interior. Segund o o autor, son1en te o protest antism o ascético
foi capaz disso, o que in1plic a dizer - voltand o ao nosso
tema - que foi também a única religião cujos dogmas incen2
tivavam uma ação aj ustada a o espírito do capitali smo. 9
Voltand o agora aos trabalh os de Sérgio Buarqu e, já temos
elementos suficie ntes para ilun1inar o sentido de sua afirmação
segundo a qual, quand o fala em uma n1entalidade capitalista ,
ele não se refere ao espírito do capitali smo clássico . Isto ocorre
fundam entalm ente porqu e a mental idade apresen tada por ele
em Caminh os e Fronte iras não implica um rompim ento absoluto com o hedoni smo e nem mesmo com o tradicio nalismo .
Mesmo assim ' em seus textos , como 1·á vimos, encontr amos
co nsid e ráve is transfo rmaçõ es das pessoa s envolv idas no
processo de conqu ista da frontei ra, a tal ponto qu e a _me nta5
lidade descrit a por Sérgio Buarqu e ao falar dos,, t.rop ~~ro:, :
não corresp onde ao espírit o do capital ismo ascettco , P ~ao e
eiro, o
nte aventur
.
• ,ame
ta mb,,em a de um ca pitalism o exc 1us1v
. ,, .
d B ai;il e no m1. c10 do
~
. ,,
qua 1, altas
, já encont ramos em Raizes . O r s~ outros ltvros,
e
•Processo de conqui sta do Oeste descnt o no
te" 3o co nst1
.
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'
par
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d in o-se, p a ra este a utor, quase numa an d' ,. ica da fronda ina~ ·calismo e
~ capitali smo . Na realida de, o resulta do,, ··to
do capt ~
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analida des
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Portado res não são como Ja teouhe doni.'stas ou rradicio'
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. ampou co indivíd uos puram ente
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, posto que também aqui
°
189
e!'
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·
,
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.
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. . ~. da personalidade . E nao resultou de princípios
constttu1çao
.
. ,,
se qu isern1os, advindos. do in undo 1nte hg1vel - qu e s~ impusera n1 ao inundo exterior - o u , ~o mundo ~os ~e nt1dos 111as, ao contrário , de um a inte nsa 1nterc~mu n 1caçao com este
mund o. Todavia, se esse p rocesso a d v indo d a luta front eiriça de conquista do Oeste está mu ito dista nte d e p oder ser
aprox iin ado de u n1a forn1ação o rie ntada pe la vocação, a que
poderíatnos con1pará-lo?
Creio qu e, n1 antendo-nos no mesmo universo intelectual que
transitávan1 os ao fa lar d a tese webe ria na, pode mos e ncontrar
u n1 1narco compa rativo no ideal de Bildung, o qual, segundo
as rá pidas palavras de Goldman, do mesmo modo que o ideal
de vocação, era uma dis_c iplina que moldava o selj, mas era
orientada para o seu desenvolvimento sem envolver sua dominação por me io do serviço. 31 No caso , não há "motivos constantes " qu e se sobreponham às "emoções" e estas são discip linadas no próprio intercâmbio co m o mundo exterior e, por
isto , ao co ntrário do seif formar-se em tensão com o mundo,
vem a constituir-se numa totalidade m inimamente coerente
que incorpora a variedade deste mes mo mundo. 32
Entre 1904 e 1905, com a pri meira publicação de A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber diagnostica as
novas condições de um mundo especializado que obrigava à
"limitação d o trabalho especializado, com a renúncia à Faustiana universalidade do homem", o que significava a falência
da bildung, conforme aliás, indicava o autor já havia percebido 1m:~·u m--sé culo' Goethêfc"; mais ilustre rep~esentante desta
tradi ção .33'' Enquanto isso, poucos anos mais tarde, a certa
altura da v ida, Simmel procurou reler este ide a l de forma
conseqüente às novas condições de um mundo especializado,
_ como demonstra seu te x to Subjective Culture, de 1908 .34
" Certamente não é o caso~ ntrar no mérito do debate, cabe
apenas indicar que lançar mão da tradição da bildung pode
ser útil a penas e Justamente
·
,, ern
porque esta concorrente e,
certos
.
. aspe e t os, o oposto do ideal
de beruf e, na mes rna
me dida ' pod 1
, . . desse
e ançar a 1gumas luzes para a analise
processo de f
~
,
ormaçao
que detectamos na obra de 5er gio
Buarque tão d·
1stante d o processo descrito por Weber. 35
'
190
Alétn de recorr er ao ideal de bildun g, para 1nante r o diálog o
Weber vale a pena lembr ar que este autor, e1nbo ra não
com
.
,. .
redigi do estu d os s1ste1
nattco s exata mente sobre O tema
ren 11 a
.
,
·derou
u1na
de
suas
n1ono
graf1a
s
sobre
religiã
o
estud
o
O
conLSl
.
.
,. .
.
'
i confu cion1sn10, con10 1nu1to prox1
mo do ideal de bildu ng
c. l~mão. Vin1os no prin1eiro item do Capítu lo I que, confo rme
conta
;chluc hter, na prime ira versã o deste seu estud o, publi cado
em 1915 no Archi v für Sozia liviss ensch aft und Sozial politik ,
\Xleber chega a intitul ar un1 dos seus capítu los como "The 'Spirit'
of Confu cian Bildu ng and the Econo 1ny". 36 E, co1no detec ta
Goldn1an a partir da descr ição webe riana do ideal confu ciano
como "a n1odelagen1 do self rumo a uma perso nalida de harmo niosa1nente balan ceada ", a religi ão chine sa "não é distin ta do
ideal de Bildu ng do sécul o XVIII na Alem anha" .37 Porta nto,
vale a pena que nossa rápida incurs ão sobre o tema seja realizada, cotn certos cuida dos, atravé s do estud o de Webe r sobre
38
Mais tarde isto será impor tante porqu e o
0 confu cionis mo.
autor discut e as afinid ades - ou falta de - do confu cionis mo
com o espíri to do capita lismo , dond e podem os ampli ar as
mesmas obser vaçõe s para o ideal de bildun g, o que pode
facilitar a interp retaçã o dos trabal hos de Sérgio Buarq ue e
sua comp araçã o com as formu laçõe s webe rianas .
Portan to, prete ndo nesse mome nto extrai r algum as características da forma ção do self envol vidas no confu cionis mo
que tenha m simila ridade s com o ideal de bildu ng e, por sua
vez, possa m ajuda r a enten der o proce sso descr ito por Sérgio
Buarque. Em segui da, é possív el segui r o racioc ínio de Webe r
quanto as afinid ades dessa "bild ung confu ciana ", confo rme
ele escrev eu certa vez, com o espíri to do capita lismo , o que nos
permi tirá um passo adian te na comp reens ão do trabal ho do
histor iador brasil eiro. Conv ém come çar com a contr aposi ção
traçada por Webe r entre o confu cionis mo e o Purita nisn10 , na
qual ressal ta as carac terísti cas cosm ológi cas das doutr inas. 39
Escreve o soció logo:
Em marca do contra ste com a atitude ingênu a do confuc ionism o
perant e as coisas desse mundo , a ética purita na as explic ou
como uma extrao rdinár ia e grandi osa tensão em relaçã o ao
'mundo '. [. .. ] Em toda religiã o que opõe o mundo com o raciona l,
impera tivos éticos se acham na mesm a medid a em um estado
de tensão com as irracio nalida des do mundo . [. .. ] Confu cionis mo
191
11111
[. . .} era (e m in tenção) wna ética que reduz a tensão com O mund
a um m ínimo absoluto. l. ..] O mund o e ra o me lho r de todos 0
os
mun d o s poss1,ve1.s ; a n atureza h um an a e ra ct 1·sp osta ao eti came nte bom. f. .. ] O caminh o correto para a salvação consistiu
em u m ajusta m ento às ordens eternas e supradivinas do m.undo
Tao, e co11seq i'i.entenie nte à d em a n~da da vida social, a qua't
segu iu-se da harmonia. cósmica.'10 (Enfase s ac resce ntadas)
A esta cosn1ologia confuciana corre s ponde , para seu
seguidor - e é isto que nos interessa - , o ideal de elaboração
do self con10 un1a personalidade universal e harmoniosamente
b alanceada - un1 "n1icrocos1no", como afirma Weber. Para 0
ideal de hon1en1 confuciano, o gentleman, "elegância e dignidade"
era n1 expressas no desempenho de obrigações tradicionais.
Por isso, a virtude e objetivo cardinal no aperfeiçoamento do self
corresponde à propriedade ritualística e cerimonial em todas
as circunstâncias da vida. Os meios apropriados para esse
objetivo consistian1 no autocontrole racional e atento e na
repressão de quaisquer paixões irracionais que pud~ssem
quebrar o equilíbrio. 41 Este ideal confuciano que possui como
conceito central a "adequação", pode , justamente por isso,
ser conectado com a tradição alemã d a bildung, pois implica
no ideal de "homem cultivado", que é aquele que tanto interiormente quanto na sua relação com a sociedade corresponde
e se equilibra harmoniosamente em todas as situações sociais,
seja nas altas seja nas baixas; comporta-se de acordo e sem
comprometer sua dignidade. 42
Se o cumprimento das "obrigações", o controle das paixões,
o autocontrole racional pode, eventualmente, nos lembrar o
que vínhamos afirmando sobre o ideal de vocação, o homem
cultivado confuciano se distancia do puritano e do profissional
do mundo moderno Ocidental num ponto extre1namente
crucial, pois sua educação para o cumpri1nento de suas funções
envolve um conhecimento da universalidade e não uma
ênfase na especialização. Nesse sentido,
. . , racional
essa visão se caracteriza pela ausência de espec1altzaçao
.rante
nas funções oficiais do Estado patrimonial. [... ) O. ~s~~ente
confuciano ao ofício, formado pela tradição antiga, ~ 1f'.ct do do
poderia ver em um treinamento profissional, especializa mais
·
º ·
menta
tipo
europeu a 1go mais do que um con d 1c1ona
, no
homem
impuro espírito filisteu . [...] A asserção fundamental, um
192
ultivado não é um a fe rra me nta ' si gnifica qu e e le e ra um fim e m
~i próprio e não ape nas um meio para um propós ito útil específico .13
Mui to d ífere nte, p o rta nto, d a direç ão apont ada p e lo puriideal
.
0 homen 1 c ultiva do confu cia no portav a um
.
.
ran1s1110 ' de edu caça o que, n1es1110 sendo so~1aln1ente orie ntado, e ra ,
seaundo Weber, totalm ente oposto ao ideal platôn ico, 0 qual "era
es~abelecido sobre o te rreno d a pólis e proce di a d a convic ção
segund o a qu al o home 111 pode alca n çar a re alizaç ão se ndo
" 44
bom em apena s uma t are f a .
Ao lado disso , o confu ci a no n ã o estava em tens ão com 0
mundo pois n ão h avia profet as leva ntand o den1a ndas é ticas
em nome de um d e us supra mund ano, ou seja, que estive sse
até mesmo acima do cosmo s, de modo que "a 'alma' chines a
45
nunca foi revolu cionad a por um profet a" . Como afirma Weber,
é uma verdad eira profe cia qu e cria e orient a de forma sistemática a condu ta e m torno de uma medid a intern a de valor,
em face da qual o mund o é visto como um materi al a ser
moldad o eticam ente d e acord o com a norma . Nada disso acontece no confuc ionism o que signifi ca "ajusta mento ao exterio r,
46
às condi ções do 'mu n d o "' - e se u racion alismo resulta daí.
Tanto o confu cionis mo, com se u ideal de gentleman, como o
Taoísmo e sua busca da unio my stica atravé s do treina mento
na atarax ia, não origin am, c o mo a é tic a ascéti ca do leigo
no puritan ismo , uma tensão e ntre as orden s do mund o e a
47
vontade de Deus ou de uma força e xtram undan a.
Assim, nesta cosmo logia, um home m de bem racion aliza
sua condu ta somen te no grau requis itado para o ajusta mento
ao mundo e, conse qüente mente , não consti tui, como na personalidade constr uída dentro do purita nismo , uma unida de
sistematizada a partir de uma norma , e sim "un1 con1p lexo
de traços úteis e partic ulares " . Chega mos, então, na exata
contraposição da person alidad e purita na analis ada há pouco
- _que, para Weber, é associ ada ao espírit o do capitalisn10 - ,
pois na menta lidade chines a
L.. ] uma forma de vida não pode ri a permit ir ao home m uma
aspiraç ão inte rior em direção a uma 'person alidade unifica da ',
um esfor ço que associa mos à idéia de person alidade . A vida
Perman ece uma série de ocorrê ncias. El a não se torna um todo
st0 metodicamente sob um objetiv o transce nde ntal. 48 (Ênfase s
Po
acresce ntadas)
193
form ado por
Assim, par a com ple tar ess e qua dro de um self
pel a vocação, é
um cam inh o div ers o daq uel e apo nta do
nês com o ideal
nec essá rio fazer mais um a apr oxi maç ão do chi
não con sist em
de bild ung alem ão no sen tido de que am bos
o obs erv a Harvey
num a fon naç ão bas ead a em uma norma. Com
ra des te ideal
Gol dm an ao com ent ar a já cita da gra nde figu
'
da pela
dita
t,
Kan
de
al
ent
dam
fun
ima
máx
à
re
ade
Goe the não
um qua dro de
razã o, com o a fon te de dev er. Ant es , abr aça
no inte rior do self
aut ode sen vol vim ent o en1 que o din ami sn1 0
ajus ta aos obstácon fron ta, dom ina ou, da mes ma form a, se
49
culo s e situ açõ es de fora.
lev ada a cab o
Com o na des criç ão da Religion of Chi na
self natu ral em
por Weber, Goe the pen sa num a form açã o do
, que nes te caso,
con stan te inte rcâ mb io com o mu ndo exte rior
nfrontos", "domileva a um "dinamismo" que pod e env olv er "co
do selj, mas, em
naç ão" do mu ndo ou mes mo "aju stam ent o"
mu ndo a par tir
tod o cas o, não um a dom ina ção do self e do
o em Kant, seja
de um a nor ma , seja dita da pel a razã o, com
s equ iva len tes
dita da pel a cre nça na pre des tina ção ou cre nça
rela ção a Kant
no pur itan ism o. É bom mar car a dife ren ça em
um a vez que , com ple ta Gol dm an,
s Leh rjhr e é de fato
Geo rg Lukács afirm a que Wilh elm Meister
o um desp rezo para
uma gran de polê mic a con tra Kant, reve land
os por mei o de 'um
cód igos mor ais imp osto s sob re os indi vídu
pod e dele derivar.
siste ma unit ário de regr as', e tudo qua nto
se saci ávei s 'pela
[. .. ] Para Goe the, os sere s hum ano s torn amnica e traz end o o
virtu de da libe rdad e, pela espo ntan eida de orgâ
ade em conc órdi a
dese nvo lvim ento múl tiplo de sua indi vidu alid
imo s'. 50
com a felic idad e e inte ress es de seus próx
", no dize r de
Fal and o em Kant - este "an típo da de Goe the
51
em sua cita da há
Nie tzsc he - , é bom lem bra r um a pas sag
lica um a revopou co na qua l afir mav a que o bem mo ral imp
ema uni tári o
luç ão inte rior - vale dizer, a ade são a "um sist
gór ico . Agora,
de regras", uni tári o gra ças ao imp era tivo cate
s dian te, pod e-se
per ant e Goe the e a religião da China, esta mo
um ren asc ime nto ,
afirmar, de um a form açã o que não env olv e
, ao con trár io,
um a rev olu ção em rela ção ao self nat ura l, n1as
dec orre de refarm as gra dua is des te.
e, de que vale
Mas reto rna ndo aos tex tos de Sér gio Bua rqu
já está clar o que
este per cur so de raci ocín io se a esta altu ra
194
no Planalt o paulista dos primeir os sécul , d
.
há a busca de equilíb rio, 0 cultivo e ~sd e coloniz ação não
· d
envolv idos na bildun g dos homen o . 1 eal de p ropne
· ade
_
·
s t 1ustrado s do
tismo alem ao ou dos funcion ários d E
roman,.
.
chinê ? A
das a parenc1 as, o resgate pode ser o,, t 'lstado
r
•
s. pesar
1 na medida
u
e
apresen ta un1 1nodelo de formaç ão d
lf
m que
~
o se quase que o 0st0
ao de vocaça o e, na mesma medida
.
P
,, .
, possui determ inadr
caracte nst1cas que ajudam a refletir
b.
. ,, . as
5o
. d
1
I e a traJetor ia do
sertane Jo o P analto paulist a descrita p . s,, . .
1
Buarqu e
Destaq ue-se o fato de ser um modelo que 0 - e1g10
. ·
,, .
_
nao supoe um principio geral de açao, portant o não implica nem
l .
. .
~
uma revo uçao
111teno1, nen1 uma tensao com o mundo ext ·
_
enor. A construçao da pessoa ocorre num contínu o intei·ca" mb·
10 com este
mundo e a mudan ça ~m ambos se dá de maneir a gradual
e com boa dose de aJustam ento. Tudo isso fica quase que
consub stancia do na fórn1ul a de Weber segund o a qual
enquan to o raciona lismo advind o do puritan ismo signific~
domínio raciona l do mundo , o raciona lismo confuc iano- e do
ideal de bildung - corresp onde a um ajustamento racional
ao mundo . 52 Assim, embora adaptaç ão signifiq ue coisas muito
diferen tes para um burocra ta chinês e para um homem da
fronteir a, não parece implaus ível interpre tar a raciona lidade
daquele longo proces so de aclimat ação do bandeir ante que acomp anham os em alguns momen tos cruciais no Capítulo VI - como um ajustam ento racional ao mundo - e não
uma domina ção raciona l do mundo .
Contud o, perman ece a pergun ta relativa à formaçã o de uma
mental idade capitalista, dado que Weber aponta justame nte
a afinida de entre a raciona lidade puritan a e o surgime nto do
espírito do capitali smo, e, contrar iamente , procura descobr ir
por que , a despeit o de alguma s semelh anças exterior es entre
o confuc iano e o puritan o, a raciona lidade de ajustam ento
ao mundo não levou a caminh os que indicass em uma mentalidade capitali sta. E a argume ntação de Weber remete ~xat~mente ao ponto que temos abordad o, dizendo respeito as
diferen tes formaç ões da persona lidade, pois
o utilitaris mo severa e religiosa mente sistemati zado peculiar ao
ascetism o racional, viver 'no' mundo sem ser 'do' mundo, contribuiu para produzir atitudes racionais superior es e, por meio
delas, o espírito do homem vocacion ado que, em última análise,
195
'1111
e ra negado ao confuci on ismo. Quer dizer, a forma de .
· d 'a, d 1'fe re nte n1 e Vida
1 mas d e te1·mina
·
·
e ra raciona
confuc1ana
nte do
Puritanis mo, de fora antes que de dentro. O contraste
~odde
nos ensinar que a me ra sobriedade e. frug alid ade combi na
as
com o impul so pa ra o ganho e a estim a pela riqu eza estav
am
, . d
,
..
lon ge d e representar e d e permitir o espmto o capitalismo'
no sentido que este é enco ntrado no home m vocacionado d~
eco nomi a mode m a .53
Estamos diante de uma si tu ação na qual temos, de um lado
Sérgio Buarque descrevendo um longo processo de desenvol-'
vimento material e de formação dos atores envolvidos em que
não há asce tisn10, 1nas u1na série de reformas graduais sem
rompimento radical con1 o passado e que, ao cabo, resulta
em uma mentalidade capitalista. De outro lado, encontramos
Weber discorrendo acerca de um processo, digan1os, estruturalmente semelhante - ou melhor, também comparável
ao ideal de bildung - e que, justamente por não impiicar
em revolução no self e tensão com o mundo, está longe de
conduzir ao "espírito do capitalismo ". Para uma melhor
percepção dessa diferença, até porque, co1no vimos no início,
a mentalidade descrita por Sérgio Buarque não corresponde
exatamente à descrita por Weber como "espírito do capitalismo", é preciso analisar alguns pontos mais sobre estas
descrições para perceber em que medida elas têm algo em
comum e, por outro lado , em que medida se pode dizer que
na obra de Sérgio Buarque está presente algo que podemos
conside rar uma mentalidade capitalista.
Lembremos, antes de tudo, que uma das características
fundamentais do espírito do capitalismo é relativa ao seu significado social, ausente da ação de indivíduos puramente hedonistas. Para Weber, dentro do universo puritano, aprovaram-se
os usos racionais e utilitários da riqueza que era desejada por
Deus para as necessidades do indivíduo e da comunidade. Os
puritanos não desejavam impor a mortificação do homem para
ª riqueza, mas o uso de suas possibilidades para coisas necessárias e práticas.54
Voltando para Caminhos e Fronteiras é interessante res~a ltar que Sér~io Buarque, ao falar do a~arecimento de urna
nova mentalidade " n as terras da fronteira, faz questão de
chamar ª atenção para a forma particular com que os tropeiros,
apesar da aparência, eram socialmente úteis:
196
Ning ué m du v ida q u e a o cupaç ã o a qu e se e ntre g a vam tais
ho me ns fosse, e m todos o s se ntidos, produtiva e ú til à coletividade. Mas o espírito eni que a condu z iam tendia a mascarar de
qualqu er.form a essa f eição utilitária, e e m rea lidade e ra me n os
de bu fa rinh e iros do qu e de b arões. A oste ntação de ca p ac idade
fin ance ira vale aq ui qu ase p o r um a d e mon stração d e fo rça
físi ca.~' (Ê nfases ac resce ntad as)
Po rta nto , ta nto nun1 cas o qu a nto n o outro , a riqu e za
indivi du al n ào ge rav a a pena s o betn-es ta r p a rtic ul a r, 1nas,
também, de modos difere ntes, o b e m público . Assim pode-se
dize r que, ta111bé n1 na "nova menta lidad e" anunci a d a por
Sérgio Bu arqu e, a atividade de seus portadore s g e ra va a o
mesmo ten1po un1a nova sociedade que deixava de ser puramente tradicionalista e patriarcal, apresentando na verdade ,
ao lado dessas características, traços modernos e utilitari sta s, ai nd a que disfarçados.
Outra característica fundan1ental do "espírito do capitalismo ", que 1narca justan1ente a diferença com o capitalismo
aventureiro , a qual Weber insistia sempre en1 ressaltar, diz
respe ito ao cálculo. Este é um itnportante n1arco da transi çã o
do tradicionalismo para o "novo espírito" , a qu al, escreve o
autor no segundo capítulo de A Ética Protestante e o Espírito
do Capitalismo, não foi levada a cabo por ousados e inescrupu losos especuladores, aventureiros econômicos como encontramos em todos os períodos da história econômica, nen1
simplesmente por "grandes financistas". 56 Para ocorrer a
muda nça foi necessário, ao contrário, homens que não ap e n as
estivessem desejosos de lucros e dispostos a arriscar, n1a s
que ta mbém "[... ] cresceram na dura escola da vida, ao n1esn10
te mpo calculando e arriscando, de forma acin1a de tudo sóbria
e confi áve l, p e rspicazes e completamente devotados aos seus
negócios , com opiniões e princípios estritan1ente burgueses" .57
Já vimos no início do capítulo que Sérgio Buarque falava
de uma ''nova mentalidade" que se vinha delineando con1 os
monçoeiros e com os trope iros que, con1 todas as diferenças,
apontava nessa mesma direção, pois eram. hon1ens que, "na
dura escola da vida " - poderia-se dizer lançando mão das
P~lavras de Weber-, aprenderam "a medir, a calcular oportunidade
s, a contar com danos e perdas" .58 Talvez de fato neste
noss 0
'
'
ca so, d eva-se falar nun1a proporção maior de risco que
197
j
t
.
~
,,
ainda assi1n, o suficiente para dizer
de ca/cu1,o,
"
que an b
"ao mesmo te1npo .
1 os
arecem ·
ap ,, . . Buarque não explora, contudo, a ma .
sei g1O
,,
,, .
ne1ra
, d pelos quais esse calcu 1o e incorporado à .. e o
meto o
.
.
at1v1dact
"' ni· ca dessas nossas figuras paradigmátic as
e
eco not
.
.
com 0
· . e tropeiro. Creio que, neste caso não d .
o
monç Oei 10 O.
,,
'
e1xa de
. pei·tinente 1nvocar um texto de outra epoca e out
sei
,, .
. .
ro estilo
do próprio autor, 0 prefacio do livro de 1976 de Maria Thereza
Schoerer Petrone, onde apresenta um personagem particul
"comerciante paulista" Antônio da Silva Prado feito b :r,
O
'
ara 0
em 1848. Segundo Sérgio Buarque, o barão de Iguape "começou
em São Paulo como começaram alguns dos homens mais ab
astados do lugar, ou seja, como arrematante de contratos de
cobrança de impostos, continuou como negociante de açúcar
animais e variados gêneros, foi momentanea mente senhor d~
engenho em Jundiaí e, finalmente, banqueiro". E, apresentando o livro alheio, complementa o historiador o perfil do
barão de Iguape:
À custa de um esforço continu ado, de um raciocm10 sempre
alerta, da intuição certeira - um desce ndente dele fala em sua
'esperteza e vivacidade' - e não menos do conhecimento da
boa regra mercantil, especialmente da escrituração em partidas
dobradas, que desde a era pombalina passava por ser a pedra
de toque por onde se distingue o negociante de grosso trato do
simples 'mercador', que vende a varejo de mão a mão e usa
c~vado ou a vara, pode-se dizer que foi filho do próprio trabalho?
(Enfases acrescentadas)
"' . feita
. por. Sérgio
Não deixa de ser instrutiva a referencia
ais
·
stenor
m
Buarque - ainda que num texto bem postenor,
po
,, rio
de 20 anos, ao que estamos tratando - a um empresa
. da a
paulista que, segundo ele, é um personagem q ue XIX
aJU não
'
desmontar o mito segundo o qual o Brasil, no sec~
,, 110 do_
'
o
vinha diversificando sua economia e se modernizan , ·a a
0
"mito
· o b stinado da avassaladora preeminenc
· "' ia agrart ssa
f ormaçao
- brasileira",
.
nas palavras do autor. E • P.ara n0vale
com paraçao
- com o "espírito do capitalismo ,, w ebenan
0' d
.
aten e
O
a pe na b servar este personagem
·
dizer,
que por assim
seus
- " aos ai, se
uma observação de Weber em sua , "lntroduçao
trabalhos s 0 b
. .. .
ndo a qu ·d a
" ,,
re as reltg1oes mund1a1s segu
~
esi e t
no calcul 0 d 0
• " nao r
capital em termos de dinheiro
198
mais fundamental entre O capital'
ismo de todas as
dt·ferença
d
,, •
, pocas e o com esp1nto, nao eixa de ser uma t d" .
~n denci~ neste
: ]timo qu e o cálculo seja realizado "[... ] por
meio e metodos
.
1·
u
dernos de 1vro comercial ou através d
e qua 1quer outro
.· . .
.
n10
. .
meio, por mais p1m11t1vo e tosco que ele se,·a" N
· o capitalismo
próprio do n1un d o mo d erno, nas palavras de Weber "tud 0 ,
e
'd.
feito em termos de balanço: no começo do em
preen 1mento
· - · · · 1
. d'1v1'd ual
uma prev1sa o 1n1cia , antes de qualquer deci·s~ao 111
um cálculo para apurar sua provável lucratividade , e, ao f'1m,
_
'f'
.
,, 60
um ba 1anço f 1na 1 para ven 1caçao do lucro obtid o.
_ Numa comparação vale ressa~ta_r que O barão de Iguape
nao ap enas era, segundo a descnçao de Sérgio Buarqu e, um
comerciante que calculava seu capital em dinheiro, como 0
faz ia através do mais moderno instrumento contabilístico na
época, as "partidas dobradas" - o cálculo e controle dos
lucros e investimento s estabelecidos sob o princípio de que
a todo registro de débito deve corresponder um de crédito.
A figura do barão de Iguape, ao lado do tropeirismo,
completa o quadro que apresenta uma "nova mentalidade"
no Planalto paulista no século XIX, mentalidade esta resultante em grande parte da lenta conquista do Oeste descrita
no Capítulo VI e das transformaçõ es que ela proporcionou . É
possível concluir que essa formação paulista possibilitou uma
mentalidade compatível com o capitalismo, querendo isso
dizer que , bem ou mal, os homens da fronteira controlaram
minimamente seu hedonismo natural e, de certa forma, colocaram em movimento seu tradicionalism o. Aqui, diferentemente do que encontramos na Sociologia da Religião de Weber,
um processo que lembra ·em alguns aspectos específicos mas significativos - o ideal de bildung pôde resultar numa
mentalidade capitalista moderna particular.
No entanto para que ao desenrolar deste constante contra· · t' com sua
'
não se acabe por cometer 1n1us iça
ponto com Weber
- . Trata-se de lembrar
,. . duas observaçoes
- necessanas
0 b ra, sao
.
espec1almas
parte
d
.
.
que, em pnmeiro lugar em mais e uma
. .
'
, · d O Cahttalismo
'
'
r . ,,
mente no fim de A Ética Protestante e o Espirita
h1potese
a
defende
·,
o
d
soc10 1ogo alemão deixa claro que nao
o
h 51·d0 a causadora
s
.
. fl , .
egundo a qual a ética protestante ten a
como a m uencia
. h
es ,, .
.
pinto do capitalismo pois outros camm os,
podenam ser
~
,
'
d0
. . 0
econômico sobre as idéias, tambem nao
11sm ,
capita
do
.
d
O
escartados. 61 Além disso, uma vez 1mp1anta '
199
desenvolvimento, torna-se um "imenso cosmos"
com seu
·egi·as aos indivíduos independe ntemente d _que
1
.
õe sua s 1
1111 P 'd
r eles .62 Isto nos leva à segunda observ a _er ca
assumi a po
..
h' "
açao ,
. ·espe ito espec1f1camente ao caso e 1nes. Web
'_a
qua I d12 1
. . .
,
f
~ ,
er nao
. ele a impossibilidade de con ormaçao a ordem capi't 1.
via n
a 1sta
mod ern a. Ao contrário, segundo su as palavras,
chinês com toda probabilidade
poderi a ser co mp 1eta..
me nte capa z, provave lm e nte m a is cap a z que o japonês
assi milação do capitalismo que tem s ido, té cnica e econo '. de
'd
,
micamente completamente d esenvo 1vt o n a are a de cultura mod
~
,
.
erna.
Isto na~ e ~~vian;ente uma questao de supo.r º. chinês 'naturalmente mab1htado para as dema ndas do capitalismo. Mas e
parado ao Ocidente , as variadas condições que externa'm om.
d
. .
ente
1
avoreceram
a
origem
o
capita
ismo
na
China
não
foi·
f·!su
f
63
cie nte para criá-lo.
[ .. .] O
A partir do ponto de vista dessas observações, podemos
evitar a afirmação segundo a qual a lógica da fronteira pura e
simplesmente levou ao nascimento da mentalidade capitalista
no interior do Brasil. Na verdade, quando nos voltamos para
a obra de Sérgio Buarque não estamos lidando, é certo, com
uma hipótese que defende o surgimento da mentalidade capitalista num lugar do Brasil de forma absolutamente independente da expansão do capitalismo mundial. Para ser mais
correto é necessário recordar que quando Sérgio Buarque está
fa lando dos grandes fazendeiros e dos tropeiros no interior
do Brasil , estamos às portas do século XIX, do qual o autor,
nesses estudos acerca da conquista do Oeste, não chegou a
desenvolver um estudo mais sistematizado; 64 apenas aponta,
como temos visto, para um certo resultado daquele processo
que ele vinha seguindo tão de perto desde séculos antes.
Creio que para clarificar o ponto vale a pena começar
ª ~et~mar O ponto de partida deste trabalho e lembrar da
primeira obra de Sérgio Buarque, Raízes do Brasil. Como vimos
no terceiro item d 0 e ,
. ap1tu 1o I, uma das bases de argumen
taçao deste livro
d
,,
- • · ·
se
era a e que no seculo
em questao m1c1avaurna revoluçã O I
.
·•
d
enta e silenciosa que na ocasião a parttl
os estudos de Wi
.
'
'
o
de d
.
erneck Ytanna, comparamos a um process
emocrat1zaçã 0 t
. .
· nização _
ocquev1l11ano nomeando-o amenca
no caso ~
'
,,
· ao
continente t
' nao no sentido de uma dinâmica propna '
1
a como s .
· nal.
Argumentam
upoe uma explicação do tipo s1tuac 10
osemsegu·ct
.
,, lO I que
1
a, no item quatro do Cap1tu
'
200
este processo, ao se defrontar co 1n
o nosso t d·1 •
ra c1onalismo ,
. .
resultava numa espécie de cui·to -circuito
b
na circunstância do homem cordial , . ' . em representado
b
, ao inseri r-s
,, .
e na urocracia
da maquina estatal, acaba por se to . .
. l
t na1 pura
e simp esmente,
'
um funcionário patrimonial 6s E 11
o Ponto a q L d 1. ,
·
_
.
ie ec. icctmos
mais atençao, no relativo ao trotios d ,, .
•
o oc10/negó ·
Y
cio, vimos
.
que não encontrávamos homens que
, .
cu 1t1vassem O
negocio
antes que o ócio e, desta maneira que s d
e a equassem àquele
'
.
p1ocesso que apontava para a moderniz açao e para o mai s
,,
d
. .
efetivo ingresso o pais no Ocidente Parec
e ser extremamente
·
,, .
.
util e esclarecedor se nos perguntarmos sob
re a maneira pela
digamos , encontram os no f'ma 1 do
qual os hon1ens que,
.
processo de ,, conquista do Oeste se comportari·a m neste novo
mundo do seculo XIX anunciado em Raízes do Brasil.
É possível dizer que, ao contrário do que ocorre em Raízes
do Brasil, os homens que resultam da fronteira não têm um
completo desencontro com o processo de americanização
que toma curso naquele século, parecendo ser mais plausível
dizer aqui que há a possibilidade de as dinâmicas interna e
externa se compatibilizarem. Ou, em outras palavras, a americanização tocquevilliana - que se reforça no Brasil desde a
vinda da família imperial - e a herança colonial - no que
tem de ligada à conquista do Oeste - apontam, de certa
maneira , para a n1esma direção, e isto parece indicar um
caminho particular de modernização, no qual não há um rompimento com o legado ibérico, mas sim sua dinamização.
É nesse sentido que podemos interpretar a pergunta de
Sérgio Buarque em certa altura de Caminhos e Fronteira~,
pergunta esta formulada antes de descrever a nova mentalt. 1·ismo e logo após ter quase,,
,,
com o capita
d ade compativel
. t do Oeste·· "Não havera
completado sua narrativa d a conquis a
- es possíveis para o
.
aqui entre parêntese uma das exp 1icaço
d t do antes de outras
'
'
,,66
. .
fato de justamente São Paulo se ter a ap ª '
_ d O oderno capita 1ismo.1
m
regiões brasileiras, a certos pa d roes
O CULTIVO DA TRADIÇÃO
~érgio Buarque deixa essa sua pergunta sobre a modernizaçao de São Paulo sem uma resposta; no entanto, como num
201
.
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De certa maneira, esta observação nos devolve àquela
ergu nta fo rmulada e1n Caniinbos e Fronteiras e, d e algum
podo constitui u1na resposta n1ais explícita à questão da
'
111
adaptabilidade de São Paulo ao n1oderno capitalismo. No
entanto, mais do que isto, toda esta linha d e raciocín io, na
qual se admite a dificuldade n1aior d a A1né rica ibé rica - em
comparação aos Estados Unidos - para aquela adequação
ao moderno capitalismo, remete-nos novamente ao debate
sobre a validade explicativa de enfoques genéticos - a partir
do legado europeu - e situacionais - procurando uma
dinâmica continental - e os resultados destes desenvolvimentos iniciados con1 o transplante de uma cultura de um
Continente a outro.
Sérgio Buarque dá indícios da forma pela qual compreende
a singularidade da inserção d a América Latina no mundo
moderno - indícios esses que se coadunam com aquela "nova
mentalidade " que ele descrevia no seu texto historiográfic o
que abordáva mos há pouco no primeiro item deste capítulo
- afirmando que ele "entre os povos da América Latina, esse
tipo de dinamismo [encontrado em São Paulo] pode ser encontrado, é verdade, lado a lado com uma economia e uma estrutura social primitiva e em certos casos semicolonial".70 Mesn10
assim, esse dinamismo é suficiente para levar em direção
àquela "civilização capitalista" que, observava Sérgio no começo,
muitos vêem como incompatível com os povos ibéricos, e para
permiti r também o "progresso tecnológico", ainda que este
siga "[. .. ] linhas inesperadas entre eles, visto que parece
ser O resultado do puro acaso e desconectado d e qualquer
processo lógico de evolução" .71
De qualquer ma neira,
í.. .] deveria se r notado [. .. ] que muitos desse s avanços [tecnoló-
gicos], que estão crescentemente sendo feitos sem qualquer
assistência imediata de fora, indicam uma determinação para
203
get tbing dane, o que é uma negaçã o da image m mais ou menos
conve nciona l que tem cresci do dos povos da Améri ca Latina. 72
E, enLào, ao insistir na partic ularid ade e não anorm alidad e
desse progr esso tecno lógico , Sérgio Buarq ue avanç a uma argumenta ção apena s suben tendi da quan do fa lava, em Cami nhos
e Fronteiras, da forma ção da menta lidad e cap italist a na fronteira - aqui é neces sário frisar que os trech os deste livro
sobre os quais temos reflet ido nas últim as págin as, foram'
origin almen te escrit os em 1949, tendo const ituído o texto
"Índio s e Mame lucos na Expa nsão Paulis ta". Agora , em 1954
'
reflet e o auto r:
De mais a mais, quand o dizem os que não tem havido um desenvo lvimen to norma l no progre sso tecnol ógico desses povos,
poderí amos muito bem pergun tar a nós mesm os se o que é
conceb ido como 'normal' pode não ser, em essência, o que é normal
para os povos cujas tradiçõ es cresce ram atravé s dos século s
por meio de um proces so de evoluç ão contín uo e orgâni co. 73
Por conse qüênc ia, torna ndo a olhar para a Amér ica ibérica,
pode- se enxer gar não simpl esn1e nte o atraso ou desen volvimento anorm al, mas um proce sso partic ular de evolu ção, onde
"a apare nte falta de seqüê ncia lógica na assim ilação , seja de
técnic as, seja de institu ições e forma s de vida comu nitári a
[. .. ] pode ser parci alme nte expli cada por sua histór ia " .74
Embo ra o Novo Mund o comp onha a mesn1 a civili zação que
a Europ a, como insist e Sérgi o Buar que na abert ura e na
concl usão de sua confe rência , não se dever ia esper ar dele os
mesm os passo s deste Conti nente , pois
entre os a merica nos - e aqui tenho em mente não apenas os
latino- americ anos - os hábito s e institu ições ago ra estabe lecidos não são todo s o fruto de um d ese nvolv iment o natura l
e ininte rrupto ; e m muito s casos, tem sido necess á rio saltar
alguns dos estág ios interm edi ários pelos quais eles p:issaram
no Ve lh o Mundo . 75
Aqui Sérgio Buarq ue reflete propr iamen te sobre a temática
do Novo Mund o, o fato de a Amér ica ser colon izada pelos
europ eus e confi gurar em uma exper iência de transp lante _d e
uma cultura adven tícia . Um pouco na linha do fim do primeiro
20 4
.
,
, o po nt o é sa. lie nta r qu e ni"o 11a um a rncom ·cem de ste ca pít ulo
.
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Ou , ma
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res qu íci os do atraso, ao co ntr ári
mode rno ca pit ali sm o e qu e os
es so , po de m diz er res pe ito
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p elo p aís , se nd o qu e ao contrári
o
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de criticá-l
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m ais ad ian tad os , nã o se estari
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m su as tra jet óri as históricas.
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es ta trilha de de sen vo lvi me nto
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na mi za do r do leg ad o :..
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mo str av a de sfa vo ráv el pa ra
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a pr ed om inâ nc ia de va lo re s
za çã o ca pit ali sta - , qu e
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or do pa ís, co ntr ibu i pa ra qu e,
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o leg ad o co lon ial nã o r~sul~
ao me no s em pa rte do pa ís,
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TERRA DEVASTADA
me lh or o res ult ad o
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d ess e pr oc es' so hi stó ric o e ao me sm o e
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d 0 tra ba lho . Se a co nq ui sta
, .
ne ce ss an o
.
.
•~ eia qu e a prox ima o Brasil dos Estado s lJ n1ct
ma experi en
Sérgio Bua rque a le rta na confer ên . os,
u
·r·
a
como
.
cta d
ão signt 1c ,
. ess a d e d e s e nvo 1v 1men
to e 111 d
a
n
ue o pt oc
,, .
.
o
u nesco, q
sinas ca racte n st1cas nos dois casos perni ,
suma as n1e
1
zaçâo as
.
entrad a p a ra esc arece r e ste Pont. ossi,
a me11101
... .
o
velmen te, .
- dos legado s transa tlantic os confro nt sei·,ª
ar a d1scussao
resgat
t ras e le mbra r qu e, se tanto para O anadas
s novas er
d
g1o,
com ª
ibéric o O Novo Mun o e ra uma prome
0
ão como para
'
.
ssa,
sax . ·r·
a algo difere nte e n1 cad a caso, pois, con10 vim
esta s1g111 icav
.
d
.
os,
so norte- a n1en cano pre omino u a conce pça
~
Ca
enqua nto no
.
.
ual O desco nhec ido a ser conqu istado deveriao
q
segun d o a
ser trans1.r.0, r1nado , e ntre os portu guese s o que estava além da
fro nteira poderi a vir a ser desfru tado.
Nessa altura, em prime iro lugar, vale abrir um parênt ese
para esclare cer O fato de que a re~a ção entre moder nizaçã o e
tradiçã o cultura l, nos Estado s Unido s , nem sempr e tem sido
tranqüila, como divers as vezes somos tentad os a pensar. Se
lembrarmos das discus sões em to rno d os dilem as apontados
por Henry Nash Smith e David No ble na o bra de Turner, dilemas
aborda dos no terceir o item do Capítu lo IV, devem os admitir
que , por aquele viés, o desen volvim e nto norte- americ ano
també m seria proble mático , p o is os auto res apont am para o
fato de Turne r ter prepa rado uma armad ilha a si própri o ao
esposar eleme ntos do evoluc ion ismo a o mesm o tempo em
que realizava uma apolog ia do ag rarism o e da rusticidade.
Esta armad ilha desem bocari a na antino mia entre o primitivism~ e o indust rialism o. Confo rme a formu lação de Smith, a
convicção básica de Turne r
L.. 1 era de que os valores sociais mais
. e 1eva dos e ram encondentro
trados na socieda de relativ amente pnmtti
. . .va exatam ente
. . punha
da fronteir a agrícol a. Mas a teoria dos e s
~ t· a
sg
sociais
i a i•ai na
os valores mais altos na outra ponta d o proc essa soe anufa'
socieda de urbano -indust rial, entre o desenv o 1vim
· ento m óricos
. e a vida
. na cidade que Jeffers on e,
. tar de ' .os teTurner
tureiro
mais
,
.
. raram perigos os para a pure za soet a1.
agranos conside
oscilou entre as duas visões. 76
Naq uele mome
curei
nto em que expun ha a tese de Turn er pro
·d
por
traçar um l
·.
srn1th,
. argum ternat1va a esta interp retaçã o d esen volvi a Juento ev
1
c · 0 nista
.
o, através da anális e do pensa m ·f·ca 0urn
qu entand
~
·gnt 1
'
e nao necess ariame nte esta corren te si
ªª
206
. . . E' h
ezo em rela ção •aos destá.gios iniciais de evol uçao
ora
.
r
desP
,,
.
por
o
taçã
1
rpre
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e
tipo
alisar aqu e e Ih
outr o v1es o
.,, .
b
de an
'
wde Geo rge t 11 .tams e pelo
·do pelo tra da o Jª cita do
.
sugen
s San for . Este s dois. estu dios os arg ume ntam em
1 arle
Cl
. d d
de
ss1d. a. e e se anal isar , se não a ob ra d e Turne r
nece
da
11ro l
e cu 1tura l , . nort e-am eric an as, d o pon to'
adiç ões relig iosa
r
. ~ d
as tr
t pon to
es e para iso e de natu reza • Ese
v1so
,ista das suas
\
.
de
apo nde vista pod e aJud ar a repe nsa r as opo siçõ es e dile mas
th ,,qua ndo abo rda o que ele cha ma d e "agra por Smi
s
do
.
.
ta
rist110 a1n enca no
em
sanf ord, por exe mpl o, con side ra que sua abo rdag
do primienvolve un1a tradiç~o. que . eng loba tant o os "filósofos
lização
tivismo" q~a n:o os pione~ros do prog ress o"' pois a idea
natu reza
edênica nao e nem uma ima gem agrá ria está tica de
plex o
cultivada, nem uma opo siçã o ao wilderness, mas um com
ca em
imaginativo que , ao incl uir amb as as ima gen s, as colo
77
dire ção,
uma relação dinâ mic a com outr os valores. Na mesma
a qual 0
é bom lem brar da obs erva ção de Williams segu ndo
o para
wilderness pos sui tant o sen tido posi tivo com o neg ativ
even tos
a tradição juda ico- cris tã - form ulad a a part ir dos
do do
que giram em torn o do aco ntec ime nto bíbl ico do Êxo
ado s no
povo de Isra el do Egit o e de seus qua rent a ano s pass
tano s da
deserto. Nes ta trad ição que é reto mad a pelo s puri
luga r de
América, o dese rto pos sui tant o a idéi a de abri go e
devasmeditação e arre pen dim ento qua nto significa uma terra
a terra.
tada e, enq uan to tal, ape nas a prom essa de uma nov
também
Desse mod o o wild erne ss mer ece ser con serv ado mas
'
s. Nesse
transformado de aco rdo com os desí gnio s de Deu
ford, os
sentido, da mes ma man eira que na con cep ção de San
tar algu ma
motivos bíbl icos par ece m con greg ar e poss ibili
78
assim,
resolução entr e o prim itiv ism o e o prog ress o. Sen do
mas das
ainda que Wil liam s e San ford reco nhe çam cert os dile
nto ao
tradições inte lect ual e cult ural nort e-am eric anas qua
st
zação,
tema do des env olvi men to eco nôm ico e da indut' riali
s a pon
·f·
•
~
•
,
. .to.
--os con side ram intr ansp oniv e1s e tao signi ica ivo
nao
1t1resultar em um jogo de opo siçã o abso luta entr e o pn1n
· o.
. d ustn.a 1ism
v1smo e o 1n
nsta ntem ente a
Est e prob lem a pare ce ter desp erta d O co
ner
tigos de Tur
d
~
ate nçao
d
de Sérg io Bua rqu e ao estu ar os. ar
e ser
ou h'isto riog rafia ame rica na. Este seu 111 tere sse po
ª
grif ado s em seu
h
.
depr een dido
os
trec
dos
o,
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, por
d:
207
~
. i }'vro de Turner, The Frontier in American 1_1.
, ·ct11pla1 e o 1
d.
0
h.
ex
, " alguns livros que 1scuten1 o tstoriad · ist ,,,.,,
·y,
, u1mbe tn e m
,, .
. .
or non "
e • . ., . como por exemplo, o propno Virgin Land d e 1-r e.1111encano,
,
.
h
'
i1enr
'
•tI e Do the A mericas ave a Common H·
Y
Nash 51111 i,
.
,,
.
"
istory?
·ga nizado pot Hanke. Alem d1sto , no Pref" . ,
vo lum e 01
·
,,
ac10 à
.J
Edt'çào" de Visão do Paraisa, de 1968, onde ct 1• 1
Scgu noa
.
.
_
.
a oga
co m autores norte-america nos qu,,e tratam do mesmo tema do
.,.
a concepção do Para1so Terreal corrente ent
10 se u 11,
.
re os
eu rope us na época das D ~sc_o b e rtas, aplicad~, no entanto,
aos Estados Un idos - , Serg10 Bu a rqu e a nalisa a obra d
Charles L. Sanford , The Questfo~'° ~~radíse, focalizando a apro~
ximaçào entre o selvagen1 e o civilizado. Escreve que Sanford
persegue O ten1a do Paraíso Terreal n a história dos Estados
Unidos na sua dinân1ica, percebendo sua adequação a cada novo
contexto. Assin1, a idéia segundo a qual a regeneração moral
era uma n1issão coletiva se impôs ao povo dos EUA desde
que seus antepassados identificaram a nova terra com o Éden
restaurado e pôde permanecer nos diferentes momentos da
história norte-an1ericana. Dessa maneira, escreve Sérgio Buarque,
Embora optando conscientemente, na prática, por uma posição
de meio termo entre o primitivismo da 'fronteira móvel ' e os
requintes da civilização européia , tendessem a formar um conceito
de natureza predominantemente silvático e rural, não deixaram
os norte-americanos de associar ao progresso material a elevação
moral. Isso lhes permitiu adaptarem-se sem maiores atritos ou
artifícios a toda a complexidade da civilização industrial. 79
Nesse mesmo plano de problen1atização da relação entre
modern iza çã o e legado cultural, pode-se retornar à Visão do
Paraíso para a análise do caso brasileiro em con1paração com
o debate norte-americano. Assim, incorporando a discussão
de Visão do Paraíso em nosso argumento, temos dois legados
tran satlânti cos diferentes - cujas visões do paraíso parecem
e
. .·
· d a deles.
ons t1tu1r-se
e m uma chave de leitura priv1.1eg1a
mesmos - que são dinamizados e até certo ponto aproxtd
. .d'l'
ma os, no caso do Brasil e dos Estados Unidos, por meto
d·tnamica
" · da fronteira. Em nosso país se a tradição 'b,e nca
1
podes ]'d
'
gosto
1
er a como associada à ação aventureira, com O
, .
da pecún•
.
~
ana1.
ta, mas sem esforço continuado, a af1rmaçao
,
qui ca do se!f, 0
~
,, .
sum,1,
,
amor ao ocio antes que ao negoc1o, en1
d
0
qu e rer peg
tista 0
ar pronto, acompanhamos que a conqL
208
~ .
ste possibilita u1na relação mais O rganica
com
Oe
. .
,, . a terra, um
to disc1phna n1ento do se!f e O amo
r ao negocio 0
len
, que não
.
. sulta, no entanto, no exato contrár'10 d
as virtudes inicia.15
1e
·
Nesse se ntido, a dinân1ica da front . .
d .
eua aponta n
, os 01s
d
~asos para uma 1nesn1a direção qu e
po emas relac 1·
'
,,
'
e
onar ao
.
aumento do vinculo da cultura com a
·
s necessidad es
1
mais
b'
nov
uin
em
vida
pela
uta
da
rementes
0 am 1e nte le vando
P
,.
.
a uma evo 1uçao 1na1s organica e autêntic D , d '
ª· a1 ecorre um
disciplinan1ento co 1ado con1 as necessidad es
e com as mudanças
. . d . d
materiais a v1n as no decorrer da conquista do 0 este, a qu al
.
,
.
. .
,,
· d'1v1·c1 ual. De
a energia e à iniciati'v a 111
1ncent1vo
é tam ben1 un1
,,
.
se a fronteira ' que podem os cons1'd erar
e como
certa maneira,
_
.
.
uma amencan1 zaçao no sentido continenta l , ap on t asse em
algum grau para os valores relacionad os ao processo de
americaniz ação e democrati zação que Sérgio Buarque detectava
já em Raízes do Brasil.
Em todo caso, sendo direto, o objeto que passa por este
processo de dinamizaç ão é diferente em um e em outro caso
e seus resultados da mesma forma. Neste sentido, como já
apontamos em outras oportunid ades, a rigor uma explicação
situacional dificilme nte p o de se propor a eliminar completamente a abordage m do legado transatlânt ico. No "Prefácio à
Segunda Edição" de Visão do Paraíso, Sérgio Buarque faz justamente um balanço deste tipo de estudo, realizado, no caso,
desde o ponto de vista da concepção de paraíso e de natureza
predomina nte em cada tradição, apontando para as possibilidades interpretat ivas que seu próprio trabalho sugere ao lado de
obras como de Williams e Sanford, o que leva o autor a observar:
O resultado mais fecundo do exame que se tentou aqui de
algumas pesquisas ultimament e realizadas acerca do qu adr~
ideal que do Novo Mundo forjaram os europeus - ou melh~ot,
castelhanos e portuguese s de um lado, do outro anglo-saxoe s
está em que , obedet
•
- na era dos grandes desco b nmen os,
mum fornecido pelos
.
.
cendo geralmente a um para d 1gma co
duas variantes
tanto
.
.
.
.
,
motivos edênicos esse quadro ad mtt1a, no en
,., · s se proJetanam
'
.
consideráve is que, segundo todas as aparencia , . ,, .
d te hem1sfeno. Assim,
'd s
no ulterior desenvolvi mento dos povos es
, . , I lesa vinham movi o
a uma
se os primeiros colonos da Amenca ng
e se Iv '
deserto
do
.
O
. . sas e civis
_
ngor
pelo afã de construir, vencen d
d · O pressoes re 1igto
.
d enfim se
.
comunidad e abençoada, isenta as
ongem e on e
d
'
Por eles padecidas em sua terra e
°
209
~
realizaria O puro idea l evangé lico, os da Améri ca 1 atina
.
de ixavam atrair pela espera nça d e achar em suas con . se
5
um paraíso feito de riquez a munda nal e beatitu de celes~ º' las
a eles se ofere ceria sem reclam ar labor maior, mas sim ' que
um dom gratuito. Não há, neste último caso, contrad ição como
, .
d
sária entre o gosto da pecuni a e a evoçao cristã. Um e neces ·
f
..
em ver d ad e, se lfm anam requen temen te e se confun deoutra
..1~
Cristóvão Colom bo exp rimira isto
ao
dizer
O
que com ou ro m.
.
tudoª
se pode fazer neste mundo , e ainda se m andam almas a o C,eu. 80
Cabe acresc entar apena s que, nas leitur as de Sanfo rd e
\X'illia ms, també m no caso norte- ameri cano não há un1a incongruênc ia profun da entre o espiri tual e a riquez a, pois dentro
da tradiç ão relativ a à conqu ista moral e transformaç ão do
desert o e selva é possív el a identi ficaçã o do ava nço n1oral e
espirit ual com o progr esso mate ri al. 81 Nes te ponto , a referência à estrut uração do mito do Jardim d o Éden elabor ada
por Sanfor d pode abrir uma brech a que nos p e rmi ta ilumin ar
a difere nciaçã o dos dois casos e suas conse qü ê ncias. Para o
autor, neste mito funde m-s e co nti nua mente d o is pólos, o da
auto-a firmaç ão e o da sub1ni ssão. 82 As irnage ns do paraís o
associ am-se aos dois pólos . Pode, p o r e xe mplo, significar,
ao mesm o tempo , afirma ção do self e su a a nulaç ão , aventu ra
e novas experi ências ao lado de rotina e desejo de segura nça.
Nesta chave poder- se-ia talvez associ ar o imagi nário norteameric ano a uma ênfase maior no pólo da auto-a firmaç ão,
enqua nto o ibero- ameri cano ao da submi ssão.
Naque le caso, uma nature za avara, signif icand o ameaç a e
ao mesm.o tempo p
·
romes sa, exige
do anglo -saxão , segun d o
sua matnz cultura l t b lh •
, .
,,
, ra a o s1stemat1co
para transf ormala 0 que nos remete
à d·
iscuss ao desen volvid a anteri ormen te em
torno de Weber e à
.
l'd
raciona 1 ade de domin ação do mundo , ao
mesmo tempo que
d
..
.
.
nos
evolve
a
espec ificid ade da fronte ira
norte- americ ana nà 0 . . .
seu
,
'
signif icando com isto a invali dação de
carate r transfo rmat'
demonstrand
ivo e de adapt ação do pione iro, mas
0 a penas seu b ·
.
·
se compa rad
1,nd1ce
aixo
de mistur a com o nauvo
0 com o caso
p l'1st
. ,, ·
portug uês
.
au a . Por outro lado o imagin
ano
..
, se analis ado d O
.
'
.
edenic as na ép
d
ponto de vista de suas image ns
oca
a
colo
·
~
e
mesm o apo's t
erem perd. d nizaça o - que , como deuse s qu
exerce ndo seu
d
I o seu lastro de crenç a contin uam
P 0 er nas a çoes
~
d os home ns , parece in d'ica r
210
numa direção que envolve a idéia de natureza dadivosa à
espera de ser desfrutada. Nesta matriz, não a crença dos homens,
11135 a bondade da terra os transformará moralmente. É como
se O dever-ser estivesse nas novas terras. Nesse viés, na fronteira das terra s paulistas a formação e o disciplinamento do
conquistador se dá de maneira colada às novas necessidades
mais chãs e resoluções e ncontradas para a conquista do Oeste,
em suma de forn1a orgânica co1n o ambiente - o que é exatamente sugerido por Turner na su a tese da fronteira mas no
'
'
caso em questão, nun1 grau inusitado .
Nesse contexto, se no item a nterior ressaltamos o que
poderíamos ver, do ponto de vista da integração ao capitalismo , quase con10 o lado positivo do processo de conquista
da fronteira no Brasil, não podemos deixar de enfatizar agora
tambétn o que poderíamos tomar como os aspectos mais
negativos e mesmo trágicos desse tipo de desenvolvimento
aliado co1n o iberismo. Para isso, é preciso alertar que aquela
maior proximidade com a natureza vinculada a esta tradição,
que está à procura do paraíso pronto e conduz, na fronteira ,
a uma forte adaptação à vida na selva e ao modo nativo, não
significa um cuidado extremo com a mesma natureza. Escreve
Sérgio Buarque en1 Visão do Paraíso que seria engano cuidar
que nisso se denuncia, quer entre espanhóis, quer entre
portugueses , um gosto acendrado pelas formas naturais e
concretas que ofereciam as terras descobertas. Aquela extren1a
adaptação que acompanhamos especialtnente no primeiro item
do Capítulo VI, "[ ... ] a facilidade extrema com que, desde o
início, assimilaram eles, muitas vezes, os métodos predatórios
dos índios no trato do mundo vegetal, agravando-os ainda
mais graças às suas ferran1entas civilizadas, mostra precisamente o contrário" .83
Mesmo entre os ibéricos eruditos, cronistas e religiosos,
que com suas descrições acuradas deratn uma grande contribuição para o conhecimento da natureza do Novo M~mdo,
não havia, no grau que se tenderia supor, o gosto e o CU1d_a do
com as novas plantas e animais que tinham diante da ~1sta,
posto que, na realidade, "o que d e preferência os atra ia na
natureza , além do préstimo que dela podiam tirar, _e ran:1 os
.
aspectos vistosos,
e raros, que so b ressai"a m , por assim dizer,
.
.
l"
Dessa
maneira
e ltbertavam-se da própria ordem natura · ·
~
'
211
não admira [... ] que vicejas se fa cilm ~nte , e ntre e les , um mo do
apa rente d e ver a n atu reza q u e co n siste antes e m ve r através
,
.
.
e
apesa r d a naturez a. A su a o ri ge m esta ri a noçao,
a rra iga d a e i
vel has trad ições, de q u e o esp iritu a l h á de prevalece r sob re n
, .
ca rn al e o co ncreto . O m un d o e m p m co , e m s u a baixez a s,o
) o
vale na medida em que nos descob re os d egra us necessá rios para
asce ndermo s, d e ntro dos lim ites hum a n os, até o co nhe cime nto
d as co isas invi síve is e, po rqu e invisív e is, isto é , in co rpó reas o u
espiritu ais, ce rtame nte mais di gnas d e estima d o qu e as riqu ezas
as com od idades, as ho n ra ri as e to d os os bens da Te rra.ª4
'
Cabe ressaltar que o acentu ament o d a prox imida d e com a
nature za e da adapta ção a ela, propo rciona do p e la lógica da
fronte ira , não signif icou altera ção - talvez tenh a até agrava do - ne1n do descré dito para com os seres vivent es, nem da
relaçã o muitas vezes preda tória estab elecid a com e les. Neste
sentid o , é quase desne cessár io d izer que a maior proxim idade
dos europ eus com os nativo s da terra, en1 comp a ração com
o que ocorre u nos Estado s Unido s , não signif icou menos
violên cia e crueld ade - basta le1nbr ar que a proxim idade
envolv ia a caça às "peças " e escrav ização .85
Outro exemp lo da relaçã o pred atória com a nature za pode
ser encon trado nas monçõ es do século XVIII .- mome nto
no qual , ressalt e-se , confo rme notam os no segun do item do
Capítulo VI, há um significativo discip linam ento das energi as
individ uais e uma certa rotiniz ação e organ ização das rotas
co merciais . Já dissem os, nas viagen s fluvia is eram utiliza das
ca noas de tronco , sendo neces sária uma árvore de mais de
l S metros de altura para cada embar cação constr uída . Isto
l~vou a uma "destr uição sistem ática e progr essiva desses
gig~ntes florestai s, em extens as áreas" , o que só não chego u
ª. c~t ar um proble ma para o comér cio de Cuiab á porqu e coinc1d1u por um lado com
.
'
,
o esgota mento tambe, m progre ssivo,
das minas de ouro do B1• ·1 e
'
l' ·
.
,.,
asi
d a 1mpor tancia ec ,., · d entral e conse qüent e dec 1n10
.
onom1 ca essa região e, por outro , com
o mcrem ento das v·a
1 gens terres tres atravé
s de Goiás. 86 Mas,
segun do Sérgio Bua
"
.
rque, a escass ez dos paus de canoa e
ma d eiras de constr uç~ [ ]
escass ez e ncontr a e ao ··· e a preoc upaçã o causa da por essa
tem ,, E
,
co em nume rosos docum entos oficia is d 0
po · , a 1en1 do corte d
,
"[ ] o
sistem d
.
as
arvore
ª as qu eimad as e roças para s por si n1esmo, . ••
a lavou ra vinha agrava r
212
. da inais a situação, transfonna ndo e 1n campos ge . ,,
..
1eguas
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de
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87
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.
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a combinaça o ope1 ada ~otn esta nossa tradição predatória
de vista,
re.s·ulta
· , desse ponto
.
. num desenvolvi ·n1ento p erverso,
quase como se Juntasse o pior de dois mundos numa equação
de imediatisrn o e grande escala.
a1n
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•
•
,,
•
Assim , dentro desta nossa dinâmica hi stórica que não
resulta en1 a lgo con1 pletan1en te a ntagô nico com O moderno
capita lisn10 , con10 muitas vezes parece estar s uge rido em
Raízes do Brasil, este desenvolv imento por dentro da matriz
ibérica significa, para o bem ou para o n1al, algo muitas vezes
surpreende nte e avassalado r. Para provar isto, temos em nosso
sécu lo, por exemplo, dizia Sérgio Buarque na Conferênc ia de
1954 na Unesco, "o desenvolv imento surpreend ente do transporte aéreo en1 países cuja malha ferroviária é completam ente
inadequada para arcar con1 suas necessida des mais elementaresJ' ,88 ou mesmo o já referido crescimen to "em poucos anos"
da cidade de São Paulo "com uma taxa se1n paralelo". De toda
forma, então, parece que este surpreend ente desenvolv imento
brasileiro está vinculado , sim, a um certo disciplina mento e
a avanços singulare s mas também nunca perdeu totalmente
seu caráter predatório e quase de milagre.
Nesse sentido, para concluir, vale lembrar a maneira pela
qual Sérgio Buarque encerra seu livro Visão do Paraíso:
Teremos também os nossos eldorados. Os das minas, certamente, mas ainda o do açúcar, o do tabaco, de tantos outros
gêneros agrícolas, que se tiram da terra fértil, enquanto fértil,
como o ouro se extrai, até esgotar-se, do cascalho, sem retribuição de benefícios. A procissão dos milagres há de continuar
assim através de todo O período colonial, e não a interromper á
89
a Independên cia, sequer, ou a República.
Outros milagres haviam de se seguir. E outras devastaçõe s.
213
p
o
e
e
N
L
u
s
Ã
a
. do en 1985 com o Intr odu ção
1
ao volume
N0 texto pu bl ICa
1
~
G
d
. tistas
,, . .
Bu'l rque na Co eçao ran es Cien
d.1 d O a Sei g10
de c_a
d servir de guia ao leito r de sua obra , Maria
Sociais e que po e
~
C
. h
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'
•
' . d 1 Dias com enta Monçoes e
Odila Leite a s·1
va
.
bsei·v
a
que O histo riad or
teu-as e o
ami n os e Fron-
sugere um proce sso dialé tico na expe nenc ia do pione
irism o
paulista: os valor es ibéri cos neg~ dos e ª1:1ea_çad~s ~elo
meio
hostil ; a adoç ão da cultu ra mate rial e de tecn1 cas md1g
enas de
sobrevivência; a supe ração paul atina deste impa sse inicia
l na
lenta recup eraçã o e reafi rmaç ão das form as de conv ívio
trazidas
da Península Ibéri ca, no sécu lo XVIII. 1
Mais rece ntem ente , em um text o de 1997 sobr e a vida cotidiana no interior do Brasil colô nia, insp irad a na obra de Sérgi
o
Buarque, Laura de Mello e Souz a escr eve:
Como deco rrênc ia do cami nho do mov imen to const
ituiu -se
ª ci:ilização paulista. Para ent~ nder -se os prin~ órdio s de um
sentim
· · i'd a d e no
,
. ento, d e mtim
Cent ro-Su l da Amé rica portu guesa,
e obng atorio repo t
· s cotid iano
r ar-se aos h,ab1to
s dese nvo Iv1'd os
pelos sertanistas d p · • .
.
.
e tratm rnga: num prim eiro momento, distan
ciam-se dos trazid d
,
.
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e adota m os propi
as popu laçoe s 1. d'
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ª
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adve ntíc' no proce sso ana log1c
que selec iona , na cu Icur,' t
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cu ltura origin al N
os que se harm oniz am melh or corn. a
é sem pre Sé ·. um terceiro mom ento - e o pont
o de referência
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a itos europ eus [ ] z Ae e Hola nda - ocor re a adoç - de
ao
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Não ,
Por
e exagero ct·
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ª Odila D'ias
e L JUSlamente este proc esso desc n. ·a
aura de Mel lo e Sou za - a primell
ara apontar sua importância na obra de Sérgio Buarque e a
~egunda para, ao anotar a mesma importância, apropriar-se
dele como chave para seu estudo sobre "a vida cotidiana nos
caminhos, nas fronteiras e nas fortificações" _ constitui 0
tema em torno do qual o livro que ora concluo foi dese nvolvido. Procurei explorar a possibilidade de desvendar O referido processo a partir do trabalho de Frederick Jackson Turner,
apontando para a proximidade do tipo de dinâmica encontrado nos dois autores, proximidade esta que se concentra
110 que denominei núcleo da tese da fronteira - num primeiro
momento, diante de um ambiente hostil, o adventício se adapta
ao nativo, para só depois , num segundo momento, retomar
elementos da sua tradição que passam a se amalgamar com
os de origem nativa para, daí, no terceiro momento, haver a
retomada do legado europeu sobre novas bases . Contudo , o
objetivo não se esgota num exercício detetivesco de busca de
influências e de afinidades entre trabalhos de autores só
'
podendo ser compreendido de modo mais amplo caso se leve
em consideração a reconstituição do contexto das discussões
sobre a América - que procurei apresentar no decorrer do
Capítulo III - e as questões mapeadas por Sérgio Buarque já
em seu ensaio de estréia.
Na Parte 1, a partir de uma leitura de Raízes do Brasil,
detectamos a presença, neste livro, de um dilema entre a
tradição ibérica e a modernização. Concluí que a tensão do
livro está calcada na incongruênci a radical entre aquela
tradição e o que pudemos chamar de americanizaçã o. Em
mais de um momento do livro fiz o exercício de transportar
termos que Sérgio Buarque utilizou apenas em Raízes do Brasil
para o momento seguinte de sua obra. Num caminho inverso,
aplicando naquele ensaio as reflexões desenvolvidas a partir
dos textos que abordam a conquista do Oeste, poderia chegar
a dizer que naquela tensão entre os dois eixos de argumentos
está depositada a necessidade de uma revolução que inserisse
em nosso tradicionalism o uma racionalidade de dominação
do mundo. Parece que só através de uma racionalidade deste
tipo seria possível a conciliação entre tradição e nosso processo
civilizador, que, neste caso, quase implicaria a anulação do
primeiro termo. 3
Na Parte 2 do livro focalizei em linhas gerais o debate da
hi st0 riografia do No;o Continente no período da Gra nd e
215
.
ein torno de novas possibilid ad
,, .
es ex 1.
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. tória das Amencas que enfatizass
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e
1 s
à 111oder1112
e da problen1á tica levantada em Ra -- e rno
roxuna-s
izes d 0
dizer, ap
que a tese de Turner tenha sido cont
. 1 uma vez
.
.
extua.
B1ast.,,
, ca de seu surgimen to, no fim do século XI
112
· ada na epo
.
.
f.
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enfatizava na h1stonogr a 1a norte-ame rican X
- qu an o se
,,
,,
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lo-saxã do p ais - , e, ta1nbem, posta em diál
trad1çao ang
,, d d
ogo
de bate de fins da dec a a e 1930 , ve m à tona
1
com aque e
. . 'd d d
ern
que me d 1·da ela abre un1a poss1bili a e e abrandam ento da
dicotomia entre a An1érica do No~t: e a do Sul e_, também, de
refletir sobre O dilema entre trad1 çao e moderniza ção.
Com este quadro em mente, realizan1o s, na Parte 3, a
aná lise das obras de Sérgio Buarque que tratam da conquista do Oeste brasileiro enfatizan do a relação presente aí
entre tradição ibérica e moderniza ção, relação agora propiciada
pela lógica da fronteira. Aproxima do este processo da tese
da fronteira de Turner e caracteriz ado por sua vez como uma
relação com a natureza e co1n o na tivo da terra representável
por uma racionalid ade do tipo de "ajustan1e nto ao mundo",
pudemos iluminar uma relação entre tradição e moderno na
qual aquela não chega a se romper para o surgiment o deste,
chegando até ao que considera mos como uma mentalidade
capitalista - sui generis e, de certo ponto de vista, contraditória,
pois apartada da "racionali dade de dominaçã o do mundo"
da qual parece depender na versão clássica de Weber. Assim,
se já em Raízes do Brasil detectamo s uma colonizaçã o que
pod~ ser caracteriza da por aquela noção de "racionalidade
de ªJ~ stamento ao mundo", apesar de sua importânc ia paraª
colonização de terras tropicais ela não parece possibilitar, ne stª
obra ' o. de senre d
'
amento da rotina
e a adaptação ao mo dern o·
Postenorm ent d
e, entro da chave da dinâmica da frontell. ·a ' a
mesma racional 1·d d
d
d. _
ª
e, por assim dizer rege un1 constante ren ovar
a tra içao d
.
'
e maneira orgânica com as demandas do tem po ·
Contudo pro
. • ando
o trab lh '
curei nao esquecer que mesmo aproxirn
a o de s , •
'
· ta 1
como a
ergio Buarque da dinâmica da fronteira
parece na b
..
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compara d
o ra de Turner - e, conseque nte
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reproduz O
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ais
outro N 0
·mos
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·
segundo item do Capítulo V vi
e girava
ª?ªº
°
216
um motivo para a diferença. Gostaria d
de
lusão a espec1'f'1c1'd a d e do legado ibe'r• e ressa 1tar nesta
co nC
ico - que para 0
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ou
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0
pronto na nova terra. - ?e a~ordo com Visão do Paraíso -,
deixam 1narca no, po1 as. .s1_n1 dize r, resultado da fronteira. Ainda
que de forma proble~at1ca, d~sta tradição dinamizada pela
fronteira nasce um pais, por s1, compatível com um mund
0
em processo de americanizaç ão.
Numa divisão um tanto simplória, diríamos que chegamos
num campo no qual o erudito historiador encontra O homem com
esperanças e projetos para o país e revela, nesse momento
boa dose de otimismo . Para esclarecer melhor este ponto'.
mais prudente do que tentar, agora, uma contextualiza ção do
otimismo de Sérgio Buarque no Pensamento Social brasileiro
pode ser a retomada do paralelo que traçávar.nos no terceiro'
item do Capítulo VI, comparando o trabalho de Sérgio Buarque
com um livro escrito por um contemporân eo seu na mesma
época de Monções: Formação do Brasil Contemporâneo, de
Caio Prado Júnior. Já falamos da crítica deste autor à tese de
Turner, crítica esta fundamenta da, vimos, na descrença em \ 11,..,
relação a uma colonização adaptativa em prol da dominação de ) r:
uma natureza hostil , característica da América Tropical. Vimos /
também, de passagem, que o quadro armado pelo autor aponta
os vícios do sistema econômico de produção instalado no Brasil
colonial, calcado no latifúndio e na mão-de-obra escrava e,
acima de tudo, voltado para o exterior. Em famosa passagem
de seu Formação do Brasil Contemporâneo, observa:
- ve 1·emos que na realise vamos à essência da nossa formaçao,
dade nos constituímos para fornecer açúcar, tab~co, alg~ns
outros generos; mais tarde ouro e d'1ªmantes·, depois ' algodao,
.
,.
·
i·opeu
Nada
mais
e em seguida café, para o comerc10 eu
·
_ que
.
,
.
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para
Fora
do
pais
e sem
isto. E com tal objetivo extenor, vo a O
J'
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- r.
m O interesse aque 1e
A
•
atenção a considerações que nao J osse
. brasi·
dade
e
a
economia
comércio, que se organizarao a sacie
leiras. 4 (Ênfases acrescentadas)
e
C0
1
rtunidade, Sérgio
mo também já vimos naque ª opod
. 1·nciusive
Bua
d e 10
· Pra o pois,
'
rque não era alheio à tese e
ª
'
considerações partindo da referên .
.
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faz a esse autor em Monçoes, quando f 1 Lle
in1c1a111<
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. Bu 'Hque e
colonial Lembremos agora que ale"'n d i os
' ·
Sé rgio
1
'
.
· ·
, . . Jo siste1na
tece os comentários finais de Visão do p sso,
vicios e
araís
.
s , ·g io Buarque
... c1 . . . desta n1es1na passagem que ora cito. Neste se nt ·d o
1 o
~
·et,trc os autores nao
a pa.1t11
c h egam exatamente a . ,
s1gni.
as d tfere nças
luta.
abso
ância
rd
·sco
fica r u1na dl
reforçar O sig n1·r·1tanto nesse ponto é necessário
d' , . .
.
,
No en
cado qu e a interiorização _do Bras11 e a 1na1;11c_a da fronteira
Planalto paulista adqu1re1n na obra de Serg10 Buarque. É
11 0
lembrar que O historiador costumava chamar a aten çã
b o 111
o
l . l
pa ra O descontrole que o governo co on1a teve, especialmente
nos prilneiros séculos, sobre essas terras do além-serra o
que permitiu un1 desenvolvimento rel ativamente contínuo e
pecu li ar. Assitn sendo, a colonização que se dá desde 0
Pla nalto paulista é como uma brecha dentro daquele país
"voltado para fora" e, para explicar o desenvolvimento dessa
fraçã o do país que nascia a partir de entradas para o interior
com un1a sociedade e uma econornia que se organiza voltada
para dentro, a tese de Turner, aliada à noção de "racionalidade
de ajustamento ao mundo", pode ser sugestiva.
A partir da arquitetura do seu quadro relativo à história
colonia l, Caio Prado pode ser quase taxativo e afirmar:
..,
)S
•
J
J
Es te início , cujo caráter se manterá dominante através dos três
séculos que vão até o momento em que ora abordamos a históri1
brasileira , se gravará profunda e totalmente nas feições e na
vid a do país. Haverá resultantes secundárias que tendem para
algo de mais elevado; mas elas ainda mal se fazem notar. O
'se ntido' da evolução brasileira que é o que estamos aqui indagando, ainda se afirma por aquele caráter inicial da colonizaç 1o
[voltado para fora).5
. o
ttp
d es m entir esse
•
~
observar
visa
De seu lado, Sérgio Buarque nao
de afi rma ção de se u colega Caio Prado, n1as pode-seª'quele
.
, que, dentro disso, busca caminhos
secun.
que e scapen1
tambem
"sentido" e apontem para "resultantes" que, mais qo~ alterdárias , indiquem um desenvolvimento e orna formaçao cesso
Este pro
~
•
~ homens envolvidos na colonizaçao.
·
sernpre
c,os
nativa
se caracteriza por uma transformação contínua mas que ' rn os
e n1ante
,. .
, d- ,
·ih rnas
guar
0 10 a vinc ulas com o passado. Serg10 Buarqu
11 s atentos para os problemas e dilen1as dessa trt a,
218
,. no que de certo ponto de vista
é uma justaposição e ntre
ve , nentos do atraso e do moderno, uma característica da
.
d
. tória da conquista O 0 este e uma possibilidade do desen/JtS ·mento d o Bras1·1 contemporaneo.
"
1 l
eJe1
VO V
Retornamos assin1 ao início de no ssa discussão, pois as
tentativas de explicar a Atnérica são, na verdade, o tema em
foco. Neste caso, a tese da fronteira ofereceu um instrumento
lausível para o historiador estudar o Brasil através da chave
~o transplante de uma cultura européia para o além-mar, chave
esta que o fascinava desde seu primeiro livro, Raízes do Brasil,
até os seguintes, sobre a conquista do Oeste , poi s na nota da
primeira edição a Monções registrava seu interesse no estudo dos
aspec tos significativos da implantação e expansão, em terra
brasileira, de uma civilização adventícia. Aqueles aspectos precisamente, em que tal civilização, colocada perante contingências
do meio, pôde aceitar, assimilar e produzir novas formas de vida ,
revelando-se até certo ponto criadora e não somente conservadora de um legado tradicional nascido em clima estranho. 6
Como discu timos, agora neste seu segundo livro já manifestava, no estudo do mes1no tema do livro anterior, a ênfase no
enfoque situacional, no lugar do genético. Mas o importante
neste momento é atentar para o relevo dado por Sérgio Buarque
ao tema do transplante e a conseqüente busca, pelo autor, de
explicações para a peculiaridade do desenvolvimento brasileiro. Esta vinha do fato de o Brasil, visto sob a perspectiva
daquele enfoque, possuir a característica de pertencer a um
novo Continente, que trazia, por exemplo, a circunstância
que obrigava a encontrar alguma solução acerca da incorporação à cultura européia de muitos milhares de seres humanos
com uma cultura diversa, sem contar a própria dificuldade de
ocupar terras desconhecidas. E, do ponto de vista genético, a
peculiaridade se relacionava à característica brasileira de ter
recebido seu legado europeu através da Península Ibérica - a
qual Sérgio Buarque em certo momento chamou de "fronteira
da Europa"-, via aparentemente incongruente ao progresso
tecnológico e à civilização capitalista.
Com esses elementos, não se pode negar que, por um lado,
conforme afirma Sérgio Buarque na Conferência da Unesco,
de 1954 ,
219
~
s povos do Novo Mundo pode vangloria
nen 11u111 do
- ' . .
,
.
r-se de
. a uma civilizaçao ongrnal , no sent ido en"
pertencei
·
.
,
.
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.
'original' pode ser aplicado as contnbuições d a Ch ·
teimo
,
. .
1na
po1. e xeiiip lo , ou d a India - . e, .estou mclmado a acresc entar,
da Rússia, apesar de geograficamente conectada à Europa. 7 '
1
E, por outro lado, não se deve esqu ecer que a face que a
Civilização Ocidental assume n a Arnérica é , g raças às suas
circunstâncias especiais de ser un1 transpla nte, p eculiar, mesmo
naquela América que recebeu um legado qu e, seg undo a noção
corrente, mais se coadunava com os valores modernos. Deste
modo , o desenvolvimento do Novo Mundo segue caminhos
muitas vezes inesperados, posto que, como escreve Sérgio
Buarque em passagem já citada no item dois deste capítulo,
entre os americanos - e aqui tenho em mente não apenas os
latino-americanos - os hábitos e instituições agora estabelecidos não são todos o fruto de um desenvolvimento natural
e ini nterrupto; em muitos casos , tem sido neces sário saltar
alguns dos estágios intermediários pelos quais eles passaram
no Velho Mundo. 8
Na intersecção dessas duas variáveis se configura a peculiaridade da história brasileira, que, em grande medida, é a
problemática do historiador Sérgio Buarque de Holanda e
dela não podemos esquecer para compreender a mentalidade
capitalista singular que este autor vê nascer entre os homens
que conquistaram as fronteiras - mentalidade que conta com
certa "dose de previdência, virtude eminentemente burguesa"
e, ao mesmo tempo, com uma "noção romântica e feudal de
lealdade". E a mesma problemática deve iluminar a nossa
percepção do fato de que, ao lado desta mentalidade, Sérgio
Buarque e nxergava , em seu tempo, em n1eados da década
de 1950, um desenvolvimento econômico no país que era uma
pro~e~sa de "progresso tecnológico" e de un1a "civilização
cap1talis_ta de classe média" ainda que "lado a lado com uma
economia e estrutu
· l · •
· l"
ra sacia pnm1tiva e às vezes semicoloma ·
E nisto a tese da fronteira possibilitou uma maneira de
pensar uma d" - · d
mam1ca
contínua e sem grandes
sa 1tos , em que
a trad.e modernização
,
moderno e este nã O içao esta em transformação run10 ao
tanto q ' d O
rompe com aquela. Un1 processo, por' ue
ponto de vista da formação do self se assemel h a,
220
os menos ao ideal de vocaçã o que ao de bildung .
'
co __ "' sentido , pode-s e dizer que, para Sérgio Buarqu e, o
Nesse
·
,, · d "
O 'd
l
- .1constitui u1na espec1e e outro c1 ente" - para vo tar
13 1·-1s1
'
• um termo já en1pre gado e1n outra ocasiã o-, que não se
•1 usai
•
, cia de forma absolu ta dos valores ociden tais clássic os
dista 1
.
.
,,
·opeus
mas
que,
dito
de
um
a
maneir
a um tanto esquem acu1
,
.
_
. a é marcad o pelo signo da reforma, e não da revolu çao.
uc '
Utilizan do os mesn1o s tern1os que mobili zei para discuti r
Raízes do Brasil, é con10 se a relação entre o tradici onalism o
e O modern o fosse n1arcad a por transfo rmaçõe s gradua is que
não costum an1 envolv er utn corte drástic o com o passad o. E
é justame nte nesse viés que poderi a ser compr eendid a a
convivê ncia do dinan1 isino econôn 1ico e social com uma
estrutur a social prin1iti va, e de virtude s como a previd ência
com uma certa sobran ceria, pois na ausênc ia de revolu ções
interiores há un1a sobrev ivência do que, compa rado a padrõe s
clássicos, são consid erados traços do atraso.
No primeir o item do Capítu lo VII chegam os a dizer que
alguns aspecto s de un1a mental idade capital ista como a que
resultou da frontei ra no Brasil, sua articula ção com o personalismo, por exemp lo, que se manter ia presen te mesmo nas
relações comerc iais, poderi am ser tomado s como positiv os.
Mas, se nesse ponto entram os no plano da avaliaç ão, caberia
a pergunt a sobre a determ inação da tábua de valores em jogo.
A bem da verdad e, a idéia de otimism o de Sérgio Buarqu e
ganharia contorn os mais nítidos se explorá ssemos a trajetór ia
modernista do historia dor. Nessa linha, parecer ia necessá rio ,
então, resgata r a crítica modern ista da profun da impess oalidade reinant e no moder no capital ismo europe u, o que ficou
por ser feito neste livro. Talvez nem teria sido preciso ir muito
longe para encontr armos uma porta de entrada para o assunto ,
urna vez que Weber, o crítico da jaula de ferro, bastan te
presente no decorre r do livro, pode ser associa do àquela crítica
e relacio nado, no contex to de um certo modern ismo alen1ão ,
ª Thomas Mann, como fez -Harvey Goldm an. 9 Vale lembra r que
ª impess oalidad e está ligada à raciona lidade de domina ção
do mundo , que descart a, por exemp lo, qualqu er relevân cia
da amizad e para a formaç ão da person alidade - o calvinis ta,
ensi nou Weber, é antes de tudo um solitári o, nem mesmo
Deus pode ajudá-l o 1º - e cuja caracte rística revoluç ão interior
e auto-im posição de uma norma teve conseq üência s trágica s
,·
1110\ 1111
221
....
, Thom as Mann um
. iiogra f a d as P or, dentre outros
- .
,
autor
i ac.
"' "ntrev istado por Serg10 Buarq ue em seu
pe - ,
assina le-se, e
nodo
•
nagem de Mort
na Alema n 1,a. 11 Von Asche nbach , perso
.
e em,
.
·ece
ser
exem
plo
mais
acaba do da expl ~
O
Veneza, pa 1
_
os ao
. .
t que ameaç a O self forma do em tensao com O mund
nmen
e
·
11
.
.
o
pode
nos
sugeri
r
a
lembr
ança
de
amda
outro per
e tam b em
soAzul,
filme
de
1930,
não
conseg
u
nagem: o Pt·ofessor de O A rijo
·
.
mante r a coesã o de sua perso nalida de no tnome nto em que ea
paixão por Lola O domin a, c~t:1º _que d_emon strand ~ a impossibilid ade de qualq uer conctl 1açao entre seus motiv os constantes e as emoçõ es. 12 Talvez não seja totalm ente destitu ído de
signifi cado O fato de o filtne dirigid ~ ~o_r Josep ~ von Sternberg
ter tido as legend as, dissen 1os no in1c10 do livro, traduz idas
pelo jovem Sérgio tan1bé m em sua estad a na Alema nha. De
todo modo, a trajetó ria moder nista do histor iador merec e uma
pesqui sa aprofu ndada , que, na realid ade, já tem sido realizada,
como indica m os trabal hos de Maria Célia de Morai s Leonel
'
Georg e Avelin o Filho e Antôn io Arnon i Prado . 13
Gosta ria de encerr ar lembr ando a obser vação de Paulo
Arantes, segun do a qual a "meto dolog ia dos contrá rios" envolvida na dialéti ca de Anton io Candi do foi inspir ada na obra
prime ira de Sérgio Buarq ue, confo nne é possív el deduzir,
seguin do Arante s, pelo prefác io a Raíze s do Brasi l escrito por
Candi do em 1967. 14 Neste prefác io, o autor apont a para a particularid ade com que Sérgio Buarq ue utiliza o recurs o típico
ideal de corte weber iano: modif ica-o "na medid a en1 que focaliza pares, não plural idades de tipos, o que lhe permi te deixar
de lado o modo descri tivo, para tratá-l os de manei ra dinâmica,
ressalt ando princi palme nte a sua intera ção no proce sso histórico" .15 Desse modo ,
Raízes do Brasil é constr uído sobre uma admirá vel meto d ologia dos contrár ios, que a larga e aprofu nda a ve lha dicotomia
d a re fl exao
- 1atmo-a
·
· na. Em vanos
menca
- ·
- · e t1'pos do real ,
rnve1s
nós vemos o pensam ento do autor se consti tuir pela exploração de concei tos polares . O esclare ciment o não decorre da
opção prática ou teórica por um deles como em Sarmie nto ou
'
Euclide s da Cunha; mas pelo jogo dialéti
co entre ambos. 16
Assim, 0 livro de Sérgio Buarq ue de 1936 era conS truído
c_om uma série de pares em n1ovi mento dialét ico tais corno,
st
li ª Anton io Candi do, trabal ho/av entura , métod o/capr icho,
222
. l/ urbano, norma pessoal/impulso afetivo. Poderíamos
ru 1a entar outros pares, par t·1cu 1armente importantes
·
para
acresc
e
.
tese, que, de certa 1orma, pern1eiam todos os outros citados
e5tª candido: c1v1
· 'l'd
i a d e / cor d'ia l'd
1 ade cujo estudo foi marpelos trabalhos de Luiz Costa Lima e George Avelino
ca
.
/
.
.
. 0 _ e ibensmo a1nencan1sino - tema desenvolvido sobreA111
'
rudo, pela reflexão de Luiz Werneck Vianna. 17 Se pensarmos,
seguindo os passo~ de Antonio. Can~ido, numa dialética desses
elementos en1 Raizes do Brasil, creio que se pode falar mais
numa dialética negativa, un1a dialética sem síntese, na qual 0
pólo da cordial!dade d~saparece e reapare~e sem se encontrar
com a sua antitese. Diferentemente, se lessemos Monções e
caminhos e Fronteiras coin as chaves fornecidas pelo livro
de estréia de Sérgio Buarque e procurássemos detectar neles,
00 espírito de aventura, nas ações impulsivas, a cordialidade
e, de outro lado, no trabalho, nas ações minimamente planejadas, encontrássemos a civilidade, poderíamos falar numa
dialética com síntese, processo em cujo fim não nos defrontamos com nenhum dos pólos puros mas, por assim dizer,
com uma civilidade sem rompimento com a cordialidade.
Encontramos agora o negócio valorizado antes que o ócio, mas
sem a dispensa absoluta do prazer e do luxo, a conquista do
Oeste levada adiante por meio do ajustamento da tradição ao
mundo moderno, sem, porém, que isso implique total rendição
aos valores ocidentais, ou, nos termos de Luiz Werneck Vianna,
o americanismo se realizando por intermédio do iberisn10.
Pº;0
223
T
o
N
A
s
INTRODUÇÃO
DIAS. Sérgio Buarqu e de Holand a, historia dor, p.56.
2 Publicad o pela primeir a vez em 1974, o texto de
HOLANDA (O atual e 0
inatu al na ob ra de Leopold von Ranke, p.162-2 18) é estratég ico para um
estudo deste tipo, pois constitu i-se num extenso mapeam ento e numa espécie
de acerto de contas com a tradição historio gráfica dos séculos XIX e XX. Por
sua vez, 0 texto já citado de Maria Odila é o mais abrang ente na tentativa de
mapear influências e diálogo s nos diverso s momen tos da trajetór ia intelectual
de Sérgio Buarque (DIAS. Sérgio Buarqu e de Holand a, historia dor). Especificamente sobre Visão do paraíso , vale a pena a leitura de uma comuni cação
recente de Ronaldo Vainfas, na qual o autor procura evitar a tentação de
estabelecer urna conexão demasia dament e imediat a e enfática entre o trabalho
de Sérgio Buarque e a Escola dos Annale s (VAINFAS. Sérgio Buarqu e de
Holanda: historiador das represe ntações mentais , p.49-57 ).
3
Penso em SKINNER. Meanin g and underst anding in the history of ideas,
especialmente p .63 e 64. Vale também transcr ever uma observa ção de outro
texto deste autor: "Minha principal razão [... ] para propor que nos concentremos
no estudo das ideolog ias [matriz mais ampla, social e intelect ual, de que
nasceram os textos clássicos] é que isso nos dará as condiçõ es de retornar
aos clássicos com urna melhor perspec tiva de compre endê-lo s ." O autor
prossegue, esclarec endo mais adiante , "podem os começa r assim a ver não
apenas que argume ntos eles apresen tavam mas também as questõe s que
fo rmula vam e tent
'
•
avarn respond er, e em que
medida aceitav
am e en d sst
sav~m'. ou conte avarn e repeliam ou às vezes até ignorav am (de forma
polem1ca) as 1'd ,.
'
·
N'
'
eias e conven ções então
predom inantes no debate po I'ittco.
ao podemo s espe
·
•
tã
rar atinglf
esse nível de compr eensão estu d an do
o-somente os própri t
[
]
texto e
os extos. .. • Quando tentam os situar desse mo d O um,
rn seu contexto ad
d
histórico pa
.
equa 0 , nao nos limitam os a fornece r um ,qu adro,,
- • .
·
pretar
SK INNER pra nossa
f' . interpreta çao:
ingressa mos já no próprio ato de inter
·
• re ac10 ) p • 13 •
4
1
°
HOLANDA. O Estado d
VerBLAJ S' .
eS.Paul o, 13 de janeiro de 1948. p.5 .
. erg10 Buarque d H 1
6
·, 1 p 34.
HOLAND A
,
e O anda: historia dor da cultura rnatena
' ·
7
• O Estado de S p
l
GOLDMAN Oh
· au o, 13 de janeiro de 1948. p.5.
5
histori
.·
Umilde e
agra fi a pau1·
lSla, p .70.
bl .
· ante na
su ime: a represe ntação do ban d eir
O .
Sérgio Buarque de Holanda, historiador, p . l l.
s l)JAS .,,
.
"''ERNECK VIANNA. A 1evoluçao passiva: iberismo
~ .•
.
9 ver w
e am e , ican1smo
13r:1sil.
11 0
NDJDO. Introdução, p .9-10.
'º CA . de observaçao
- ., f . f .
Jª 01 e ito e m MORSE. Introductio
d'
- f .
n, p .3 e 30-31
,1 cs1e llP 0
i.;,, ·
,,temente esta 1scussao 01 re tomada em LIMA Um se t - h
·
rece
.
r ao e amado
·s
11
~1: • ·t · intelectuais e representaçao geográfica d a identidade nacional
li l -lili
J3r(l,SI ·
.
,
.
, p. 1. l 1.
·ealidade, ao optar por manter o te rmo conquista ao me f .
1J Na 1
.
.
.
re e nr aos
. ntos para Oeste tanto nos Estados Unidos como Lambe'
B
.
.
.
.
m
no ras d,
v1111e
110
~.
a prática de out1?s a uto_,_
e s, como a ~s tud1o sa do tema Janaína Amado.
0
•ig AMADO . Construindo mitos : a conquista do Oeste no Brasil eEUA
\
ver
.
.
nos
. J,.,..
comparaçao da povoaçao do interior do Brasil a um arqui·p , 1
l'lr
, i 50 bre a
.
,
.~
e ago ver:
, fronteira movei. a margem do p e nsamento do Presidente G t , 1. ,.v
sOD RE ·
.
e u 10
·
s· MORSE. Introductton , p .4; LIMA . Um sertão chamado Brasil· int 1 _
varga ,
_
d 'd
.d
. e ec
. representaçao geogra 1ca a 1 entr ade nacional p 43
ua
1s
e
'
·
·
1
-r·
.·..
CAPÍTULO I
LEGADO I~ÉRICO E A~~fICANI?MO
~
lb.Lá<.t • "'¼ur.
/1, Para suposições do que pod:r~a ~
i~1 c·
(l,
,;. ,
1
.r, , ..
J
/Jc,,_.J..,,A,<.
r<'c', , •"
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-~ ~
1 ,.
,
,
0
rf ·~~
rv'
0r ~)
,Y
Y 01,JI 1'
Vlf ~ ser o proje~o da "Teoria da América "/~
ver CABRAL DE MELLO. Posfac10. Ratzes do Brasil e depois, p .190.
e
2
.
•
CANDIDO. O significado de "Raízes do Brasil", p.xi.
3 LEITE.
4 Ver
r
, .
}-v ,
O caráter nacional brasileiro: história de uma ideologia, p.291.
RICARDO. O homem cordial, p. 17.
,
- • · J#
..
e,.?·
; Além da crítica manifestada em seu Ideo logia da cultura brasileira (MOTA . ;
Ideologia da cultura brasileira 1933-1974: pontos de partida para uma revisão .,,.f;w
histórica, p .31) - e sem contar a avaliação elaborada por Alfredo Bosi na 1vr
Apresentação do mesmo livro (BOSJ. Um testemunho do presente, p.II) - ,
Carlos Guilherme Mota retoma a polêmica e m novas ocasiões, sempre ressai- v-tando que Raízes do Brasil consiste em uma "obra ideológica sobre o caráter 1
nacional brasileiro" (MOTA. O escrito1~ p.11). A polêmica entre os historiadores .i..-·
inicia-se com um artigo de Sérgio Buarque publicado em 1973 (HOLANDA . ~
OEstado de S.Paulo. Suplemento lite rário, n.829, p.6; O Estado de 5.Paulo. ~
Suplemento literário, n.830, p.6) e prossegue até 1980, com MOTA . O escritor, J,,)
p. ll. Para um resgate da discussão ver MONTEIRO. Lua Nova, n,4.8.-~;,.l.,.· fs
~u..rtw..L '>'
6
0 crescente interesse acadêmico por Raízes do Brasil na ,.decada
êle \
1990 pode ser percebido começando pelos artigos de George Avelino Filho
(AVELINO FILHO. Revista Brasileira de Ciências Sociais, p.5-14; Novos Estudos 7 . .
~;brap, p-33-41). Seguem-se as dissertações de Mestrado: CARVALHO. Raízes ,
d· BraSil, 1936: tradição cultura e vida · EUGENIO. O outro Ocidente; e a ~
issenação defendida em 1996 no Departa~ento de Ciências Sociais da Unicamp
que result
•
·
cor . . ou no livro de MONTEIRO. A queda do aventureiro: aventura,
trabdilalictade e os novos tempos em "Raízes do Brasil". Vale citar ainda O
a pr0ªdho ,de Cªst ro Rocha, originalmente uma tese de doutora d o, que ana l'isa'
· d "h e n
uçao lit - ·
cordial" (RO erana ~o Brasil a partir de uma relei_tur~ do conc_e,to o om 1
bras 1·1 ·
CHA. Literatura e cordialidade· o publico e o pnvado na cultura
eira).
·
·
~
cJ..
"
(\.
\\J
J.>
~.i
225
. ·r·1ca d O
o sign1
de "Ra ízes do Brasil''. AVELINO FlLHo
.
. Nov
"
0s
TEIRO. A queda do aventure iro: aventura , cordial·
J;,s mdos Cebrap; MON "Raízes do Brasil"; MACHA DO. Estudos Bra ·1'd_ade
em
si ezros,
e os novos tempos
.
169-193· d
P·
,
d ' 1tarque T avv"ney aJ)arece somente a partir a segunda ect·, Çaocte
s rode-se a tat .
significa
do
disso
no segundo item do Capít
, do Brnstl. Retomo 0
u 1o II.
Raiz es
.
d 1a
·- l'd
d e e os n
do
aventur
eiro:
aventur
a
,
cor
I
a
d
9 11.AONTEIRO . A que a
ovos
,,,,
"Raízes do Bras1'l" , P· 23 4 ·
tempos em
.. ,r
. 1·
TI
protestan.t ethic an d tI'Je spint
oJ capita ism, p.58.
10 Ver WEBER . , ne
.
. _
?aíz
es
do
Brasil,
p.4.
A
grafia
}
das
c1taçoes
da primeira
NDA
11 cf. HOLA
·
·
.
· d
_
,
do
Brasil
(1936)
foi
atualiza
a.
ediçao de Raizes ·
12 HOLANDA. Raízes do Brasil, p.12.
; cANDlD O ·
13
14
1s
16
11
Ibidem. p.21.
Ver SIMMEL. A aventura , p.176-17 7.
Ver HOLANDA. Raízes do Brasil, p.26-27.
Citado por HOLANDA. Raízes do Brasil. 2.ed., p .168.
HOLANDA. Raízes do Brasil, p.62.
Ibidem . p.79.
19 Ver HOLANDA.
Raízes do Brasil. 2.ed., p.46.
20 WEBER. The
protesta nt ethic and the spirit o/ capilali sm, p. 57.
21
HOLANDA. Raízes do Brasil, p.87.
18
22
Ibidem. 2.ed ., p.214.
23
AVELINO FILHO. Revista Brasilei ra de Ciênc ias Sociais, p.8 original.
24
25
26
ênfases no
Ver TOCQUEVILLE. A democra cia na América , p.32 et seq.
HOLANDA. Raízes do Brasil, p.11.
MACHADO. Estudos Brasileiros, p.179.
27
Ver HOLANDA. Raízes do Brasil, p.11. Mesmo levando -se em conta queª
reação à doutrina da predesti nação tenha um papel importa nte na configuração
da doutrina católica da Contra-R eforma e possa represe ntar uma direção
0 ~ 0st a à adotada
pela ética protesta nte, pode parecer apressa do, à primeira
vi sta, abordar o Catolici smo e, principa lmente, a Compan hia de Jesus no
mesmo quadro do tradicion alismo brasileir o - ainda que se diga que esse
quadro não con st itui um todo coerent e - , o qual, além de associar mos ~
cultura da pers
.
I a d e,
. ·ct de E
.
ona l'd
temos vincula
do à aventur a e à plastici
ª ·
sabido no entanto
s,
·
. '.
, que erg10 Buarque , em Raízes do Brasil, apresen ta um
catolic1smo extrem
.
HO
amente transige nte até mesmo cordial pode-se d',zer (ver
LANDA. Raízes do B
·t
'
,
·f· mente
Sérg 10
· n
rasi, p.82, 107-110
). E aos jesu1tas
espec 1 ica
nuarque não d d '
uso p
e ica um tratame nto tão diferent e como ao apon taro
' or e Ies da língu
'
d
m alto
grau de 1 '. .
ª gera,. 1 no trato com os índios demons
tran
u
,
p ast1c1dade ( V 1-J
'
,
da
parti
o tema dos i·e ,
er OLANDA . Raízes do Brasil p.38-39) . Atn
oa
suitas alé d H
'
l
a
pe
ver o artigo de HOLAN m e OLAND A. Raízes do Brasil,
_p.6 6 , va e _ _ .
28
HOLAND
. _
DA. S.I., em Cobra de vidro, especia lmente P 97 98
A. Raizes do Brasil, p.13.
°
226
do Brasil, p.12.
f . .
.
f Ch ma:
· .
1
z9 I-f O
co n u c1o ni srn and tao i .s rn 1 21.18
rEI3ER. Tbe re 1g w 11 q
•
' 1•
. .'
~
3o ver ~
,;propíci o para unn conip·a r,,l Ç<.Lo
d ,1 ix ut i r da re!tg1ao -. -"te rre no
co m
'
- .1 ) "nsa o ,
LANDA - Ra ízes
-' 1e
. 0 ncepç
•;-- d
ões de \Xlebe r - , esse pon to f i ca claro no tex to "A re i"1g1
ao entro
. ,' ,, (
.
.·
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m,·te
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dos
ntro
de
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da sunp les I az.10 K ANT. A , e !tg
s ela s11np
1es
:is l. jjt11 1. re:,• '
cJo:i- esp ecialme nte p.368) .
r:-i zJO,
· GO LJ)MAN · Max Weber and
12
•
•e.,
· ;-
• g o f th e
Tboma s Mann: ca ll ing a nd th- e slla P111
~ lf, p.120-125.
.
· e . scHLUC HTER. Ra tionali sm, religion and domina tion·. a we b e nan
5.i ve1 ,
erspec rive , p .360 .
dd
1· .
;·
·
P
·'" sCJ-fLUC HTER. Rat1011a 1s111, re ig10 11 an ominalion: a weberia n pe rspective,
p 87.
.WEBER. Tb e religion of Ch ina: co nfu cio nism a nd tao ism, p .162, em o p os ição
55
a WEBER. Tbe p rotestan t etbíc and tbe sp írít of cap italism, p.10 7 .
re to m ad a, co m ma is
_, 6 Esta d iscussã o so bre ti p os d e ra ci o n a lid ad e se rá
eleme ntos , n o ite m um do Capítul o VII .
r SOUZA. o malan d ro e o protest a nte. Tra ba lho aprese ntado no XIX Encontr o
An ual da Anpocs . Caxa mbu - MG , 1996. p.9.
3S WTE I3ER . Tbe religion of Ch ina: confuc ionism and taoism, p.152-1 5 3 .
39
HOLANDA. Raízes do B rasil, p .11 4 .
40
SIMM EL. A av entura, p.1 7 1-172.
um tex to de 1965 , a In tro du çã o à coletân ea de textos The bandei rantes, Richard Morse fazia e ssa mesma diferen ciação de tipos de explica ção.
Todavia, denomi nava o enfoqu e situaci onal de funcion al (MORSE. Introdu ction ,
Já em
41
p.28).
MORSE . O espelh o de Próspero: cultura e idé ias nas Améric as, p.13.
43 HOLANDA . Raízes do B rasil, p.55 .
42
44
45
Ibidem. p.166.
As ligações de
Raízes do B rasil com as teses de Oliveir a Vianna merece ria m
J•
uma análise detida. Angel a de Ca stro Gomes ~ a utor-a--Ei~ um texto campa - 1
;
rando Raízes com o livro póstum o d e Olive ira Vianna , História social da
economia capitalista no Brasil, no qu a l justam ente procur a mais a finid a des
que divergên cia s. Encont ra-as entre a idéia de "cordia lidade " e de "e sp írito
~e pré-capi talismo " e no fato de que na obra de ambos a percep çã o de um
processo de transfo rmaçã o social real (no Brasil] tem sempre sólidos pontos
de apoi o numa dial é tica da tradiçã o '' ( GOMES . Revista Brasile ira de Ciência s
Sociais, p .26). Deve-s e fazer referên cia tamb é m a texto do ano se g uinte,
l ' ··
1 t
Ih
·
·
· · Vianna
sobre o1 ive1ra
, de autoria de Jose,, Munia de Ca rva o, o qu a , e nc o
· " ·a d e
;
· fl uenc1a do escrito r flumin en se sobre o 11·v ro d e esttei
ªPontad
. 0 ªm
s·
"
d'
Bu arque de Holand a observ a a semelh an ça no 1a gnost 1co qu e o s
. 0
derg1
' ade brasile ira e por outro la d o, a d;r.
Ots aut ores f azem d a socied
t.J erença
d
A
'
º1
as
entre
so uçoes de um autor moder no e ihs propos tps d e um d e fen sor o ., ,
rn
r
Undo rur 1 (C
a ARVALHO. Estudo s Históri cos, p.96) .
46 V
,,
er HüLA
47 liOL
NDA. Ratzes do Brasil, p.45.
ANDA J? ,,
48
· aizes do Brasil, p.135 .
lbicte
rn. P-138-1 40.
A
•
•
í;~
......
49
HOLA N 1)A ·
Ra ízes do Brasil, p .137.
so 1det11.
1bidet11. p.l OZ.
_ Ml\AEL La moda p ./45 . To da s as traduções de p assage n
.
sz S1 ' I
.
'.
)'
•
s ret1rac[,
. _ ço· es estra nge ll'aS (ou em ingua esp,inh o la, ou inglesa) ;as de
pu bl 1ca _
sao de n11.
nha
responsa b 1•J'd
1 a d e.
~1
r
,
•
COSTA LIMA . Literatura e s ocieda d e na Am é rica hispâ ni ca ( , .
seculo XIX
começos do sécu lo XX), p.69-185; AVELINO FILHO . Revista Br ·t . e
53
. .
as1 eira d
Ciências Soc1ais.
e
s4 Ver ELIAS. o processo civilizado r: uma históri a d os costumes
, p. 51-55,
Sobre O q ue poderíamos considerar os dil e mas do individualismo rn
·d d
·
ld ade
e as dificuldades d e se conC1·1·1a r l'b
é e lucidat·Ivooderno
. . 1 e1 a e e 1gua
.
.
outro
texto de Simme l (S IMMEL. Ind1v1du a l a nd soc1ety m Eighteenth a nd N'
teenth -Century views of life, p.58-84) .
ine55
56
AVELINO FILHO . Revista Brasileira de Ciências Sociais, p.10.
LAFER. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com
mento de Hanna h Arendt, p.151.
57
58
O
pensa-
Ibidem. p .152.
59 HOLANDA .
Raízes do Brasil, p.89 .
60
Ibidem. p .100. Raimundo Faoro faz qu estão de fazer um reparo conceituai
na afirmação de Sérgio Buarque. Segundo Faoro , este a utor, "supostamente
apoiado numa citação de Max Weber, afirma que o funcionário patrimonial faz
da gestão pública assunto de seu interesse particular. Ocorre que Max Weber
não disse o que a citação faz aparentemente supor: o que e le disse é que o
funcionário patrimonial faz d a sua gestão 'puro assu nto pessoal do senhor'."
"Na ve rdade, Sérgio Buarque n ão quis dizer que a ordem político-social era
'patrimon ialista' [. .. ], mas exatamente o contrário: que o patrimonialismo seria
impossível, como orde m política, impe dido pela ambiênci a patriarcal, incapaz
de sair da o rdem privada" (FAORO . Sérgio Bua rque de H o la nda : analista das
instituições b rasileiras, p .61).
61
LAFER. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo co m
mento de Ha nna h Arendt, p.270-271 .
,
"
62
e
O
pensa-
d
na O por HOLANDA. Raízes do Brasil, p.1 56.
63
, Talve : a te- ~ p ossa~ afirmar que, de fato, se to rn a um a bsurdo se ap ricada
as relaçoes d e intimidad e .
64
Ye HOL
Gs
r
ANDA . Raízes do Brasil. 2.ed., p. 2 14.
HOLANDA R ,
66
•
aizes do Brasil, p.94, 150.
WERNECK YIA NNA o
ueville,
p. 89-124.
·
proble m a do a m e ri ca ni s mo e m Tocq
Va le lembrar també m
.
. açflo de
Raízes co
que Bolivar Lamounie r su gere um a aprox im . p r't
rn pro bl e m t
• .
ele, o pont 0 d
. ª ocq ue vdli a no d e prese rvaçã o ela d e m ocrac1a. ªxis'
e partida d s , •
d
de AIe
d. e Tocquevi ll . d
e e rg io Buarque "p ode ser compa ra O ao
'stica
- , racten
d a sociedade e· bo e que
.
ª crescente ' ig u a lda d e de condiçoes
ca
d rno·
·
·, 1
•
ce em e
crac1a poJít· ., ur ano-mdust na
mode rna só resultará efet1vamen
,
de
ica caso se v"' 'f'
.
de arte
e
n
iqu
e o conco mita nte d ese n volv ime n to
,- ~
°
1,:2~
• 1 d e d'1ca d O
( LAMOUNI ER. Revista do Brasil' p.57 . Número espe Cla
·ação"'
.
a).
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de
e
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Bu
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, .
3 seig
A interpretação qu_e ~e sl· edg u ~'Ce tn ~p l1ra a nda su gestão de Wernec k Vianna .
amin 10s e escamin h os d a rev o I uçao
do e m texto mtitu a o
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Ratzes,
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~o nseqü ê ncias que escapam rnte}rame nte à previsão do ato r" (WERNECK
VJANNA. D~dos, v ._39 , n.3 , p .383 - e nfase no _original)-, na refe rida passage m
de 1,amoun1er e, a inda, em CO STA LIMA. Literatura e soc iedade na Amé ri ca
hisp ânica (séc ulo XIX e começos do sécul o XX), p.1 22- l ZS.
;.!SSOCl
67
rocQUEVILLE. A democracia na América, p.13 .
Ver TOCQUEVILLE. A democracia na América, p. 8, 13 , 18-20, 30 _
69 WERNECK VJANNA. O problema do ame ricanismo em Tocqueville, p .90 _9 1.
68
oHOLANDA. Atra vés d a Alemanha, p .134.
7
Em outras palavras, pode-se dizer qu e nos Estados Unidos há a manutenção
de uma esfera pública na qu al os indivíduos podem exercer a sua igualdade, não
oco rrendo , ao contrário, a privatizaçã o dos indivíduos ou, ai nda, a abolição
completa das diferenças e da liberdade, resultados que constituem, aliás, o s
perigos que rondam as sociedades democráticas segundo Tocqueville. Sobre
JASMIN. Alexis de Tocqueville: a historiografia como
0 tema pode-se consultar
ciência da política, capítulo IV.
71
12 WERNECK
73
VIANNA. O problema do americanismo em Tocqueville , p.93 .
CANDIDO . A visão política de Sérgio Buarque de Holanda, p.84.
Ressalte-se, nesse se ntido , que, para Sérgio Buarque, a República não
significou a superação do d escompasso: "O s velhos senhores rurais tornados
impotentes pelo golpe fatal da Abolição e por outros fatores decisivos, não
tinham como intervir nas novas instituições. A República, que não criou
nenhum patriciado mas apenas uma plutocracia, ignorou-os por completo .
Daí o melancólico silêncio a que ficou reduzida a casta de homens que no
tempo do Império dirigia e animava as instituições, assegurando ao conjunto
nacional uma certa solidez orgânica, que nunca mais foi restaurada. Essas
condições não foram mais virtudes do regime monárquico do que da estrutura em que assentava o que desapareceu irremediavelmente. A urbanização
14
contínua, progressiva, avassaladora, f enômen o social de que as instituições
republicanas deviam representar a forma exterior complementar, destruiu
esse poderoso esteio rural, que Jazia a força do regime decaído, sem lograr
substituí-lo por nada de novo" (HOLANDA. Raízes do Brasil, p.1 41 - ênfases
acrescentadas).
75
V,
er HOLANDA. Raízes do Brasil, p .144-145.
76
MILLIET. Revista do Brasil, p.98 (número especial dedicado a Sé rgio Bua rque
de Holanda) .
77
AVELINO FILHO. Revista Brasileira de Ciências Sociais, p.9, nota 4 .
78 \/;
er LEITE. O caráter nacional brasileiro: história de uma ideologia, P-291 - 293 ·
79
80
81
Ho
LANDA . Raízes do Brasil, p.117, 100 .
CANDIDO. A visão política de Sérgio Buarque de Hola o d a , 84 ·
,
liOLAND
A. Razzes do Brasil, p.135.
229
.........-
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cAPll . R RELÊ SEU LIVRO
UM AlJ 10
. __ . r"tn -,ublicadas pela edito ra José Olyrn
pio
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ras em 1995 .
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, -~ . do Brasil. 2.e d ., p .11.
2 HOLAN DA . Ra u.C5
.
,..
, - ". . "
.
para Oeste: a 111flu enc1.a da, " band
eira na formaçà
.
·' RICARDO. Mai c1.Ja
o social
)olítica do Bras il, p.XX ll.
e1
o incit ou, da parte de Ricardo a inte
. Pode-se d'1ze1. qlie esta vi nculaçã
·
,
.
,
.
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rpre.d
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cord
ialida
de
de
uma mane ira ate mais prox
taçao da 1 eia e
ima
ao
,
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Serg1
0 13 uarqu e consi
dade
e , ne
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,
sse
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senti
o, nao
assoei
,
•
ea
cor d1.a11.dade ao 1·aponês enqu anto Serg10 Buar que lemb ra do oriental
e
de sua polidez que beira a rever encia relig iosa - ~o
discorrer sobre a
ci\"ilid ade (ver RICARDO. Variações sobre o hom em cordial,
p.310; HOLA NDA.
Raízes do Brasil, p.101-102). Sobre os prob lema s impl
icado s na associação
da ciYilidade ao oriental ver SOUZA, Jessé , 1996.
s HOLANDA. Raíze s do Brasil. 2.ed ., p.21 4.
6 HOLANDA. Carta
a Cassiano Ricardo, p.314 .
- Handler, segui ndo lições de Heid egge r, expli ca que
"de acordo com o
senso comum Ocidental uma coisa é concebida como algo
limitado e contínuo
no espaço e no tempo, e caracterizável verd adeir amen
te em termos das
propriedades que ela 'porta' (cf. Heidegger). Os ocide ntais
acreditam que uma
coisa, objetivamente existente no mund o real ou natural, se
apresenta de forma
não-am bígua aos sujeitos humanos que pode m (ao meno s
no melhor dos casos,
que é, além disso , rotineiramente alcançável) apre ende r
a coisa como verdadeiramente é. Acreditamos que pode mos sabe r onde
e quan do as coisas
co~eçam e terminam e o que lhes 'perte nce' como uma parte
ou propriedade
- 1st0 é, que nós podemos conhecer os fatos objetivos que
distinguem uma coisa
das outras " (HANDLER. Nationalism and the polit ics of cultu
re in Quebec, p.1 4).
8
HANDLER N t ·
t
·
.
.
.
tona ism and lhe polit tcs of cultu re m Queb ec, p.16·
9
Ver HERZFELD r'h
~
· l
.
1
.
. the
rrerence: explonng
roots of west, • b' e sacia ·prod uctio n of mdi.1.1•
sym b0 lic
ern ureaucracy p.22-25
10
As
obse
rvaçõ
es de o . M .
au . "
'd p, ra este
tor, os estudos co tante ,.ore1ra Leite vão no mesm o senti o. d (
tudo 0
.
n empora neos do carát er nacio nal revelam, ape sar de
que dizem os se
substitu ir 1•ct
ele
.
us au tores , um nacio nalis mo exac e rb a d o, ca p ~'lZ d
1
0
pelo n · eo og1ca ment e O raci•smo pois este já tinha
sido d esmou-,iJ1za _
az1srno. Em outras l
,
. o 1·á nao
pode ser a · , •r· .
, no mom ento em que o racism
.
' ,._
1ust1 1cat1va dO ·pa avras
.
.
,
, ncterts
ti cas psico ló ica
impenaltsmo, este se justifica atraves
O
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ee
' . de
dtterrn inada sg . ls, suposta mente criad as pelos proc esso
s
educa
ciona
1~. ·t't
\ l.
cu luras
.
.
.
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... sua s co nseq ü" .· . E~ bora a teona
seia
apare
ntem
ente mais prog . ncil'
brus·1·t .
enc1a
s
nao
<•7
•
eiro:
·,
"ªº muito diversas" (LEITE. O cara- 1e r nactO
Go , . • histo' na
. stana de act 1·, ,·d e um ai·ct eologia, p.124-125) .
CCJ ffi r)
. <1 e
antar que ,
_
srocklílo
veremos n
a
noça
o
de
rara
como
demo
nstro
u
o terce· .
d' de
:r- ,
1 a
no item do Capí tulo IV, pode ser (e foi) utlTza
1
L
1
,
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·ª
1
230
•
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.
•
•
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~
111
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e xa do que é suposto n essas observa ções d e H e rzfe ld e
:ine11 a · . co mpl
.
•
~ Moreira Lei te.
o~nte
1
li
12
1.,
)-10 LA
_
.
NDA . Ra1zes do Brast./, p .10 1.
Ibidem . 2.ed., p. 213 -21 4 .
RICARDO . O homem cordial, p.17 .
seguind o a primeir a e a terceira edição _de Raízes do Brasil, res pe ctivaas J)assage ns se e ncontra m n as segumt es p ág inas : HOLAN DA Raízes
_
111ente ,
do Brasil, p.101 e HOLAN DA . Ratz es do Brasil. 2.cd., p.213; p.1 42 e· p .Z6 ;
3
e p.264-2 65; p.144 e p .265 .
P·143
ií RICARDO . Va ri ações sobre o h omem cord
ia l, p.295 . Gostari a d e ap o nta r
em
gra
nd
e
medida
,
tanto
a
obra
literár ia quanto a e nsa ística d e Cassian o
que,
.
Ri ca rdo se volta m de forma muito vee m ente para a formu lação do caráte r
acio nal brasilei ro. Ma rcha pa ra Oeste, publica do pe la prim e ira ve z em 1940
: Jogo amp liado, con_stit~i .um f~rte exem plo di sto. Para o autor, bras ile iro
0
é caracter izado pelo tndivtd ualtsnio contrab alançad o p e la bondad e que, por
sua vez , tem seus exce ssos restring idos p e la desconf ian ça. A estas ca racterísticas associa- se o que Cassian o Ricardo denomi nou d e dem ocracia hierárquica, constitu íd_a fund~m ~nta~m ente no movim ento b a ndeiran te, no
qual
ocorre a integraç ao - h1era rqu1ca - dos e lemento s raciais nele envolvi dos:
·o índio entra com a mobilid ade social, o negro com a abundâ ncia d e sentimento e d e calor human o , o branco com o seu espírito de aventur a e de
comando " (RICAR DO . Marcha para Oeste, v.2, p.50). A importâ ncia deste
processo repousa no fato de que, para Ricardo , "não é possíve l pensar em
democra cia sem a orga nização hierárq uica da socieda de, que possibil ita a
utilizaçã o de todos os valores humano s pela capacid ade viva de cada um e
não pela igualda de abstrata , irracion al ou estanda rtizada" (RICARDO. Marcha
para Oeste, v.2, p .50). Ressa lte-se que o autor insiste na formaçã o
de um
caráter naciona l esp ecífico sobre o qual deve se r constitu ída a nação, como
pode-se percebe r, por exempl o , na seguint e passage m: "Só quem não v iajou
pelo interior, onde há mais Brasil d o que nas cidades , não terá observa d o
esse costume [de ho sp edagem ] que faz parte do sangue e que é uma forma
viva de solidari eda de social ou de individ ualis mo corrigid o pela bondad e
própria do bras ileiro que nasceu assim e que n ão muda mesmo " (RICAR DO.
Marcha para Oeste, v.2 , p.XXIV ). Note-se que a rgumen tos como este rela
tivo
ao "nasceu ass im e que não muda mesmo " e às metáfor as de sangue - "faz
parte do sangue" - são típicas da idéia de caráter n a cional (ver HERZFE LD .
The social produc tion o/ indifference, especia lmente o capítulo 1).
16
AVELINO FILHO. Revista Brasile ira de Ciências Sociais, p.8 - ênfases n o
original.
i1 H
OLANDA . Raízes do Brasil. 2. ed., p.21 4.
1s H
OLANDA. Raízes do Brasil, p .114.
19 Ibidem . p.114 , nota 35.
20 y
er HOLANDA . Raízes do Brasil, p .13 .
21 V
er MACHADO . Estudos Brasileiros, p.171.
22
O volume de Religion and the rise o/ capista lism pertenc ente a Sérgio
~~a~que é uma edição de 1936 _ conform e pude verifica r na Col eção
ergio Buarque de Holand a da Bibliote ca Central da Unicam p - , a mesma que
consta na ·
- d e Ratz
- es·
s citaçõe s feitas pelo autor a partir da segun d a ect·içao
14
231
~
_ do Brasil. 2.ed . , p. 228 -229 .
NDA. Ra1zes ·
. .
1-101.A
.. _ , 0 surg imen to do capi talis
mo, p .202
rY A re/igiao e
.
.
zq TA\X! N ~ ·
-· t e,
faz uma relei tura de s
f.' -· eS CII O 11 1936 ' Taw ncy
, ,
2, No Pre a cio
.- .
as Não é ne cess ano
para meu argu men to Uas
1
t _ ci llicas
1
·d
·a
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·
1
recon s e,
s que , porv entu ra se ratar d essa'
. 1. ou mesm o de outra s ate nu açoe
.
_
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Poss a f·
rele1t u a
, e ntos eIo ,.aLitor · Mesm o ass im nao poss o d eixa r d e tran .
azer
scre v
aos arg.u i:
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., "ney
· 1 çoes
e 1 .:J_\,v . sobr e o tópic o• resg atad o por• Sérg io l3u er as
arque, "
obse l\ ª - , . ]
• 11· - [ ·nt1 ca - ele qLJe ,0 d ese n vo lv im e nto do Capi talis mo na H
· A
pnmc ª e
sécu los XVI e XV II era d ev id o não ao fato de se_o 1anct
ªe
rra nos
1,a ln glate
.
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. ) I_ t st-int es mas aos g rand es mov im
e
nto
s econ om icos em
Potê nnas 1 o e '
.
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Partibe
cul ar as
11esco rtas e aos resu ltado s <11 eco n ente s - fot desd e
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_
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_ 11 certa amp litud e por Robe rtson ; mas n ao
clese
nvo 1v,.d a co1
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ra
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b e . tet·ia rep licad o sem duvi da, qu e ta l obse rvaç _ '
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1
.
'
Orta
_ ve1·da de,·,·a era no toca nte aos seus es tudo s
quao
, um igno ralio elen h .
,,
,
,
.
e 1.
Diria que se algue m prete ndes se cont esta- lo hon:
stam ente , deve ria conte stá-lo e m seu próp rio camp o, que no mom ento nao
era o da histó ria econô. gera l , mas O pens ame nto relig io so sobr e ques
mica
tõe s socia is" (TAW NEY
.
A religião e o surg inien lo do capi talis mo, p .1 6).
26 TA\XINEY. A relig ião e o surg
imen to do capi talis mo, p.20 1.
21 Ver TA\XINEY. A relig ião e o
surg imen to do capi talis mo, p.202 .
2s Se Sérgi o Buar que não se refer
e diret ame nte a essa terce ira critica em
Raízes do Brasil, em artig o publ icad o em 1951 , nos jorna
is Diár io Carioca e
Folha da Man hã, ele traça cons idera ções b e m próx imas
de algu mas observaçõ es de Tawn ey sobre a comp lexid ade do pu ritan
is mo e a postu ra, segundo
uma leitur a retro spec tiva, amb ígua de Calv ino. No
artig o "Vá ria história" cita
uma passa gem do capít ulo "Les idée s éco nom ique
s de Calv in", de Les débuts
du capilalisme, do profe ssor Henr i Haus e r de quem Sérg io Buar que foi
assistente na UDF, em 1936 . A inter essa nte citaç
ão guar da uma enorme
prox imid ade com as idéia s expo stas por Taw ney em
seu capít ulo "Calvino"
(terc eiro item do Capí tulo II): "Pod e-se dize r[. .. ] que
até àque la data (1545 )
os inter esses são inter ditos em prin cípio , post o
que sejam admi tidos em
um sem- núme ro de caso s espe ciais . Com Calv ino
eles se torna m lícitos em
princ ípio, embo ra cont inue m inter ditos cada vez que
pare çam contr ariar as
regras da eqüi dade e da carid ade. São estas regra
s, não é a inter dição da
usura, 0 que se faz obrig atóri o" (cita do por HOL AND
A. Vária histó ria , p.20S ).
29
TAWNEY · A re 1· · ·
igiao e o surg imen to do capi talis mo, p .2 15.
30
Ve rTAWNEY · A 1· ·re igiao e o surg imen to do capi talis mo p.217 -2 27 ·
31
'
HOLANDA . Raíz es do Bras il. 2.ed. , p.22 9 . Na ediç
ão
brasi
leira cio livro de
Tawn ey as obse
·
rva
çoes
extra
1das
por
Sérg
io
Buar
que
se e n cont ram en tre as
p.228 e 230 .
32 D
eve
"N , se r citad o a·tn d ª um segu ndo artig o de Sérg
io Buar que. Trata - se de
a ta s sobre o rom
,,
postura d
ance , publ icad o n o iníci o de 1941. Nele é reve 1· da a
ª ' _
oau
torac
e
rca d . 1-· d
HOLA NDA
ª
te eia e voca ção a qual é chav e para We ber(ve1
.
· Nota s sob re O
.'
intere sse que
, , pesar e10
roma nce , es p ec ia
lmen te p . 59-6 0). Mas
0 argu ment o
a
co
d es
.
de questõe
• ·
atamen
perta
,
deix
o-o
de
lado
por
ex
igir
o
tr,
s
que
nos de · •
33
.
sv ianam do foco de discu ssão .
0
artigo foi publi ca d
.- .
em deze mbro d
no
Diar
io Cari oca (RJ) e na Folha da Ma 11 hã (SP)
. ·
• de
e 1951 e ·
.
m1t ologi a (liO LAN
rr tativas
•-n~o rpora do post erior men te no livro
.1 en
DA . Vana histó ria, p.20 5-20 9).
1
2.
A
°
232
•
34
•
HOLANDA . Vária hi stó ri a, p.206.
Jbidel11 - p.207.
.is
1deJ11~rGUES Capita li smo e protestantismo, p .35
)Dl'
.1· RC
.
.
DA . Elementos básicos da nacionalidade: o hom e m p 4
' . .
.'~ H OLA N
_ir,
.19
1de111 .
40
Jd cm .
41
A passage m a que Sérgio Bu arqu e se refere e ncontra -se em HOLANDA.
43
Ibid em. p .11 .
Raízes do Bmsil. 2.ed ., p.24 -26.
-12 HOLANDA . Raízes do Brasil. 2.ed ., p.25 .
CAPÍTULO III
UJ\1 OUTRO AMERICANISMO
Na realidade o Handbook teve um atraso de mais de cinco anos. Resultou
em: Ru bens Borba d e Moraes & William Berrien (Dir.). Manual bibliográfico
de estudos brasileiros. Rio de Janeiro: Souza, 1949. 895 páginas . No prefácio,
escrito por Berrien, toma-se conhecimen to de que "[. .. ] circuns tâncias de
vária natureza e de todo imprevistas retardaram o aparecimento do livro ,
cuja publicação fora calculada para 1943, quando os seus diretores pla nejaram
uma bibliografia crítica e seletiva , que pudesse servir de guia introdutório
aos estudos brasileiros [... ]" (p.V). A decisão para a criação do Manual foi
tomada numa conferência bibliográfica realizada em julho e agosto de 1939
na Universidade de Michigan, p elo Institu to de Estudos Latino-America n os.
Em 1941, William Berri e n (professor da Universidade de Harvard) veio ao
Rio de Janeiro e a São Paulo para entrar em contato com os colaboradores
escolhidos. Agradeço a Vera Neumann pelas informações.
1
2
Ver HIRST. O processo de alinhamento nas relações Brasil-Estados Unidos,
1942/45, p.35; MOURA. Autonomia na dependência: a política externa brasileira de 1935 a 1942, p.58.
3
Ver McCANN. A aliança Brasil-Estados Unidos, 193 7-1945, p .125 -1 45.
4
MOURA. Autonomia na dependência: a política externa brasilei ra de 1935
a 1942, p .130-131.
5
6
McCANN. A aliança Brasil-Estados Unidos, p.126.
Ver MOURA. Autonomia na dependência: a política ex tern a brasileira d e
1935 a 1942, p.132.
7 Ibidem. p .136.
ªH
ALPERJ N DONGHI. Estudos Históricos, p.167-168 .
Ver O d
.
.
.
M
epoimento do historiador norte-americano em MORSE. Richard M.
orse , p .141-150
9
10
'
MORSE R·
11
,.
ichard M. Morse, p.141.
liOLAND
.
A. Brazil in american life, p .2 17-2 18 .
233
.
ie,·ic a n stud ies com eçou a s er publ icad o
,.
(
/att11
a n -.
.
, /Ja11d boo/(. « ·
e 1111936
'
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•
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do com i d e Es tudo s . Lat1 no-A m e ncan os _ e .
nact 0
b 3 inic1 a u va
la do Soci al Sc1e 11ce Rese arch Cou nci/ (SSR
.so
no
b a ch a nce
_
a nte rior, so _
.,·ca na· re laçõ es a ca d~em1. cas entr e Bras il e EC) (ver
.11 10
-, sao ame1 •
·
· .
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MICE LI- A dest u
(194 7) foi e ditad o pela Un1v
ers1d a de d e
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1
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12) Don .lao 13
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'd d d Fl' .
Unid os , P· ·
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ct
ublic ado pel a Urnv
e rs1 a e a
ond a ( Gain esvil !e) ·
A parti r de 19 4 8' p .
'd a d e do T e xas (Aus tin).
e,
. J111 e nte, pel a Un1v e rs1
atu a
.
de Char l e s '\f/ . Wag ley e de Stan ley J. Stein a Sebe
dep 01 men to
1
13 om
.
3 Ver os
Cl
N . Stan 1e y J. Stein
. (WAGLEY. 1ar le s W . Wag ley '· STEl
p
70
Sl)
.
.' . '
; ver
Me ihy
SEN Lewis /--/anke: histo nan and prop agan d1s
t, p.80 .
tat11b é m BERTEL
·
' rgio Bua rque de Hola nda. São Paul o, 24 de junh
14 MORAES . Carta a Se
o de 1940
_
•
0
·t a Sérgi o Bua rque de Hola nda. Sao Paul
1s Ver MORAES. ea1 a
o, 1 de deze mbro d
.
e
40· NOGUEIRA. Sérgi o Buar que de ~olan da,_ o hon:
em,_p.6, G1:AHAM . Revista
19
'. .
do Bms1 1., p. 109 ,. GUTHRIE. 17:JeHis panicAm erica nHis toricalRe view, p.678.
.
16 De po une
n to de Alfre d How er a Sebe Bom Meih y ( HOW ER. Alfre d How er
,
p.
_131 ); NOG UEIR A. Sérg io Buar que de Hola nda
, o hom em, p.7.
130
17 So bre sua parti cipaç ão, Sérg
io Bu a rque cont aria m a is tarde um caso em
tom aned ótico . Com o na époc a "não falav a muit
o bem inglê s" e com o "não
sabia nada de econ omia mod erna ", estav a preo cupa
do c om sua parti cipaç ão:
"No entan to , na sessã o da man hã , um parti cipa nte
fa la ndo sobr e o prov ável
pape l da Amé rica Latin a na guer ra qu e e stava p
or vi r, a bord ou o terna da
borra cha , que, com o ele disse , o Bras il já hav ia
ex p o rtad o gran des quan tid ades do prod uto, e não o fazia mais . E a cres cen
to u que, com o have ria um
brasi leiro parti cipan do do pain el da ta rde, ele
iria esp e rar até entã o, para
retom ar o assun to. Sent ado ao m e u lado estav a Fran
klin Fra zie r, um soció logo
amer icano negr o , e eu lhe perg unte i o q ue o orad
or hav ia falad o sobr e o
Brasil - eu só sabia que ele havi a se re fe r ido a
m inha pres ença no paine l.
Frazi er respo ndeu , 'Borr acha '. Assim , na hora do
almo ço , e u corri para o
Cons ulado brasi leiro e copi ei tudo que eles tinha
m s o bre a prod ução brasi leira de borra cha. Naqu ela tarde , com algu ma dific
ulda de , e u ench i os ouvid os
da platé ia com aque les dado s. Dest a form a, não prec
isei re spon der a nenh uma
pergu nta sobr e o assu nto" (GRA HAM . Revi sta do
Bra sil, p.10 9).
18
HOLANDA. Erud ição e imag inaçã o, p .236 .
19
HOLANDA. Raíz es do Bras il. 2 .ed. , p.79 .
20
HOL~NDA. Carta a Paul o Duar te. New York , 18
de julho [de 1941]. Na
carta nao cons ta o ano de 1941 , mas foi desc ober
to por Vera Neum ann, com
ba_s_e nas carta s subs eqüe ntes troca das entre Paul
o Dua rte e Sérg io Buar que.
Altas esta s ..
:
_equ encia d e carta s refor çam a hipó tese da inten
·
sa troca de mfor
·
mf açoes_ e impr essõe s entre Sérg io Buar que
e
Lew
is
Han
ke
e,
mesm
o, a
orma çao de um g
.
, d
.
rupo com .mter esse s intel
1
ectu
ais
próx
imos
com
post o por,
ª ·emd os dois pes · d
quisa
Rube ns Borb a de Mor aes e aind a, Bern•en,
cita o na mesm a cart d ores,
- .
21 ª e Sergio
Buar que refer ida no texto'.
E bom lemb rar aind d
Sérgio Bu
.
ª e uma outr a conv ersa com Han ke refer i' d a P0 r
arqu
e
rnun
os
an
·
.
estive em
.
tarde , em entre vista
a Rich ard Gra 11am.• "Eu
conta to com h'1stos mais
.
d
Em 1941
.
.
ona ores nort e-am erica nos dura nte muit
o temp o.
' rece 6 I um conv ·t
d
1
Unid os . Naq
O Dep artam
_
e
ento
de
Esta do e visit ei os Estªdos
1a epoc a L ·
.
ue
1ivro
'
sobre
' um
,
.
este pa s?"' ' ewis Han ke me perg unto u 'Voc ê escre vera
sena exag ero ct· 1 · (GRAHAM . Revi sta do Bras
il p .109 ). Crei o que 0 ª-o
izer que a
perg unta de Han ke tem ' muit o a ver com esse
A
234
•
~
exto da é poca de e nfocar os países do Contin ente de
_ ,
.
con t
. .
pontos e.1e vista
. 1 1-sos e em busca de afm1d
ades
.
li l \ e
-, 1 ,Sobre a conexã o entre o d ebate polític o e o inte lectual vei·a-se
, , por exe m p o
a afirn:aç ~o ~e Eug~n e Bolto~ en: 19~2: "~ tempo para uma mudan 1
ça. A
importanc1a c_1 esce nte das relaçoe s mteram encana s torna impera tivo que
cada
[p 3 ís d~ c~~tm :1:te] c~mpr ee~da melho r a histó ria e a cultura
de todos. Uma
\'isào 5111 1e~1c~ e m11~,01 tante nao apenas por suas atuais impli cações polític
as
e co merciais; e des~ia vel o bastan te do ponto ele vista ela própria hi
storiografi a"
(I3OLTON. The ep1c of greate r Amenc a, p .68) .
Silvio Zavala é um dos re ~p~1'.sáveis pe la criação de um proj eto que
foi
denom inado de Progra ma Histo ria da Améric a, criado no Prime iro Encon
tro
da comiss ão sobre Históri a do Institu to Panam ericano de Geogra fia e Históri
a
realizado na Cidade do México , em 1947 (ver HANKE . Introdu ction,
p .3 7)'.
24 ZAVALA. La.filosofía polít ica en la conqu ista
de Améric a, p .15 .
2s HANKE . La !ucha por la justici a en la conqu ista de Améric
a, p .19.
23
Em texto public ado origin almen te em 1951, a observ ação d e Arthur
Whitaker sobre os estudo s recent es em torno do Estado nas Améric as aponta
para a mesma direçã o: "Parec e agora que o regime coloni al da Améric
a
espanhola foi menos central izado e absolu tista, enquan to nas colônia s inglesa
s
foi menos liberal e popula r do que geralm ente era supost o há meio século
ou mais" (WHITAKER. The Ameri cas in the Atlanti c Triang le, p.149).
Ou
ainda: "Apesa r de diferen ças de detalh e, há uma similar idade básica entre
as
medidas pelas quais o govern o britâni co de George III provoc ou a Revolu
ção
Americana e as celebr adas reform as coloni ais de Carlos III da Espanh a
e do
Ma rquês de Pomba l de Portug al. Todos os três buscav am resolve r proble
mas
imperiais mundi ais por meio de ma ior centra lização de poder, pelo cumpri
mento mais efetivo d a lei e pelo increm ento dos rendim entos públic
os"
(WHITAKER. The Ameri cas in the Atlanti c Triang le, p.150- 151). Chamo
a
atenção para o fato de Whita ker ser, ao lado de Zavala , respon sável
pela
criação do Progra ma Histór ia da Améri ca citado na nota 23, deste capítul
o
(Ver HANKE. Introd uction , p.37).
27
Ver OLIVEIRA. A Améri ca e a frontei ra : Turner e Roosev elt, p.11-16.
26
28
Morse já observ ou que a tese da frontei ra é uma explica ção situaci onal,
ou, como denom ina em seu texto de 1965, funcio nal - em oposiç ão
ao
enfoque genéti co (ver MORSE. Introd uction , p.28).
29
TURNER . The signifi cance of the frontie r in americ an hi st ory, p.3- 4-
Ver HOFSTADTER . Los histori adores progresistas: Turner , Beard, Parring
ton,
p,13 .
Ray-Allen Billing ton estudi oso da obra do histori ador americ ano, confirm
a
que, passan do por ~m boom que perma nece até fins da d~cada de
l9~0, ª
F1·o 1·
, • d
.
'ti'cas
no
penad
o
n ter Thesis passa a recebe r uma sene
que
vai
e cn
. dos
anos de 1930 até início da década de 1950 (BILLINGTON. The geneSis th
of e
f;ro 11 1 .
.
3
4)
De
forma
semelh
ante,
ter thesis: a study in histori cal creativ ity, P· - ·
,.
,
da
Gerson Moura localiz a na década de 1930 as primei ras cnt1cas a tese
fro •
•, 1 ia sido "discre tament e
. ~teira, mas não esquec e de lembra r que e 1ª lª
rnv
. - . . .
s da
c~1t1cada" por Charle s 13eard (MOURA. História de uma historia. i un10
hist .
.
,
33) Segund o George Rogers
1' onograf1a norte-a merica na no seculo
XX, P·
· .
eu ápice
ª Ylor "pode- se dizer que a voga da doutrin a da fronte iraª 1cançou s
30
235
~
ano em q ue .John C. Alm ack pub lico u. o que par
torno de 19 25 ' 0 " d ..
ece ter
e t11
1 à tese " (TAYLOR . Tntr oc1u c t1on, p .Vl!J)
.
·- 'ttaq ue 11 eo
. 1
JJ
ri 111 e II o ,
s1c o o
. on .
. ele críti ca e, um text o e1e Georg e Wils
dest
e
Pie
upo
1
O
,1 f
.11 um exer np
.
rson
e m 1942 ( PlER SON . 11e
ront
ter
.
and
rigin
ame
alme
.
nte
·
.
)
publ icad o O
rtcan
. . .
f th e Turn er theo 1y,
p.70 -97 .
. titutions : a cnttc1st11 o
.
.
ins
TH \lirg in /and: th e ame nca n wes t as
sym bol and myth
.~2 Cit ado por SMl
.
,
p.29 8.
.
. 1. ·a ,1 Turn er é n e cess á ri o lem bra r qu
e, ao cont rário d
ue se fa ça JUS IÇ , '
.
.
•· '
Para q
d f nde r a espe c1·r·1c1·d ade da fron te ira nort e-am e i 1can a, e le acom panh av e
ee .
.
. tativ as de apli caçã o de sua tese em
com s1mp atta as_ ten
outr os cont exto s. Ema
,
.
d
.
·) C t' _ um a luno de seus u, 1t11no
s ano s e enst no - data da de
carta a Met e ur t
.
"
~
~
,
.
.
Turn er resp ond ia: Nao , eu nao te ntei. ap
.
agosto d e 19 28 ,
li car mtn ha idéia
~
b
.
de fro nte1ra , e 111 nenh um aspe cto ' a outr as naço es, em ora eu tenh a visto
que e 1a se ap ll·ca , e tenh a dito isso em sala de aula . [Car l Russ el] Fish p ossui
um trabal ho sobr e O assu nto e Ua_mes WesAtf~ll]
Tho _mp son da U[n_iversidade]
de Chicago a utili zou à exp ansa o germ antc
a ; [Vic tor A.] Bela und e (AHA
[Ass ocia ção Ame rica na de Hist ória ]) à Am
éric a do Su l e algu ns alun os
de história Clássica diss eram -me que ela se
apli ca tam bém nest e caso . Acho
que em gera l a idéia deve ria ser testa da" (BIL
LIN GTO N. The gene sis of the
Jron tier thesis, p.27 6).
33 HANKE
. lntro duct ion, p.3.
Conforme as info rmaç ões obti das por Alla n Bog
ue, "He rber t E. Bolt on curs ou o
bach arela do em Mad ison na met ade da déc
ada de 1890 e lá matr iculo u-se
para um ano de trab alho de pós- grad ua ção
ante s d e segu ir para a Universidade da Pensilvânia para o dou tora do, mas ele
busc ou a orie ntaç ão de Turn er
recorren teme nte nos anos em que eme rgiu
com o a auto rida de reco nhec ida
em terras fronteiriças do Sud oest e" (BO GUE .
Fre deri ckja ckso n Turn er: strange
roads goin g dow n, p.23 0).
34
Ver BOLTON. The epic of grea ter Ame rica
, p.97 .
BOLTON . The epic of grea ter Ame rica , p.69
.
36
HANKE. Intro duct ion, p .21.
37
BOLTO
N. The epic of grea ter Ame rica p 100
38
'
'
'
Prov avel men te o
,
,
.
'
pe
.
ruan
o
Vict
or
A.
Bela
únd
e
tenh
a ava 11a r expl i ·r
a s ido o prim eiro
autor
. ..
Am' . ' b' . cia men te, a poss 1bd1
dacl e de apli caçã o ela tese ele Turn er. a,
en ca I enca Co
citada h,
·
.
mo se pod e dep reen de r de sua cart a
a Mer le Curti,
Bela úndea poucfo . na n ~ tª 32 , d este capí tulo
, Tur ner con h ece u o text o de
que o1 pub lica do em 1923
35
39
40
BELAúNDE The
.
.
Jb ·
.
Rrce lnst itute Pam phlet p.21 1 213.
idem . p .2 03 _
'
'
41 V
er BELAÚNDE. Th
. "
.
42 BELA,
~
e Rrce lnst itut e Pam phle t, p .206 .
UNDE. The Ri , /
·
43 ll) 'd
ce nsti tute Pam phle t p 210
i em. p.20 3
' .
.
44
lb'd
i em. p .212 .
•S ZAVALA . Th
.·
.
Mais rce fr o nt1 e rs of lf' .
.
.
ecen tem tnte
(erra
ispa n1c Ame rica p 57
' · ·
ta rn Js: manifesto u-s'e ob ens aista
d das.
urug uaio Ang el
Ram
a,
em
se
u
A
cida
"' )em
e -es
.
reve men t
b
letra s mun o próx imas
racaç
o
d
e
so
re
a
mes
ma
disc ussã o com cons
'P -34 ).
as de Víct or l3el aúnd e (ver RAMA. A cida d das
e ·
236
ii6
47
K VIANNA. O problem a do american i s mo e 1·
ver "''ERNEC
w
111 ocquev1.11 e.
·
HOLANDA. Consider ações sobre o american ismo, p. 24 .
rdem.
,
É ínteressa_n te no~~r que,_ tom_a~las ao ~e ~a letra, _as afirmaçõ es de Sé rg io
apenas. um recurso de retori ca mas ,
13u:11·que n:.:io co nstituem
.
, e• corres. pon d e m
a
um
novo
JUigamen
to sobre a opinião antes comparti· 11 , 1 f .
de fa lo '
•.
1ac. a e e t1 va.
·
·
oelo :rntor de que os Estados Unidos e o Brasil formam
11 ,en te r
<
e10 1•s po, 1os
"
e
antago11
1cos.
Melhor
sina
11105
l
di
sto
consiste
num ,·irt,·go d •
e:-:tre
.
. .
·
e iu ve ntu d e
., Sérgio Buarque, publicad o o n g1na lm ente n a Revista d o Brasil
,.
de
• ·
1 d " · l"
f
, em m a ,o
de 1920 , e in~1tu a o ~n e . ·. N~ uror el e seus 18 anos in co mpletos,
Sé rgio
Buarque sublinha que o util1tans mo ya nkee não se coa dun a abso luta me nte
com a índole do povo bras}1eiro , que não tem semelh ança alguma co m a do
norte -america no , da qual e o ex tremo oposto" (HOLAND A. Arie l, p .44).
49 HOLANDA. Cons id e ra ções sobre o american ismo, p.26.
;o Ibid em . p .25.
48
A
;i
•
•
•
•
•
Idem .
sz Ibidem. p.25-26.
;~ Ibidem. p.26.
Vale a pena ob servar que, no texto de juventud e publicad o em 1920 e
citado na nota 4~ deste capítulo, era a esta mesma imagem que Sérgio
Buarque recorria em defesa do nosso caráter nacional contra o utilitarism o
norte-ame ricano: "O nosso desidera tum é o caminho que nos traçou a natureza , só ele nos far á próspero s e felizes, só ele nos dará um caráter nacional
de que tanto carecemo s . E o caminho que nos traçou a natureza é o que nos
conduzirá a Ariel, sempre ma is nobre e mais digno do que Caliban. Ariel , o
gênio do ar, em A tempesta de de Shakesp ea re, represen ta a espiritua lidade
em contrapos ição a Cali ban, símbolo do utilitarism o, e que além do mais é
um savage and deforme d slave" (HOLAN DA. Ariel, p.46) .
4
; HOLANDA. Consider ações sobre o american ismo, p.24 .
s; Para urna crítica recente às dualidad es abordada s aqui ver WERNEC
K
VIANNA. Dados, v.34, n.2, es pecialme nte p.174-182 ; WERNECK VIANNA.
Apresentação , especialm e nte p.9; SOUZA. O malandro e o protestan te. Deve-se
lembrar também do volume organiza do por este último autor: SOUZA (Org.).
O malandro e o protestan te: a tese weberian a e a singulari dade cultural
brasileira.
.
56
57
HOLA NDA . Consider ações sobre o american ismo, p.26-27 •
Ibidem . p.27.
58
TURNER. The problem of the west, p.205.
Um constataç ão semel hante é sugerida em MORSE. Introduct ion , p .30.
Ressalte-se, todavia, que Sérgio Buarque não procura, como s~u~ colegas,
elementos comuns a todo o Continen te, incluindo a hispano- Amenca. BaS tªlhe ª aproxima ção entre Brasil e Estados Unidos.
6o WJRTH. Entrevist a a John D . Wirth, para The Hispanic America n HiSforica
l
Review, p.265.
A importânc ia de Capistra no de Abreu para a historiog rafia brasileira , com
manifesta ênfase para o estudo do sertão, foi abordada por Sérgi~ Buarque
. m t_exto publicad o originalm ente em 1951 e republica do, traduzido para o
:~gles, em Perspectives on Brazilia n history (HOLAN DA. Hi 5t0 rical th ºught
twentieth -century Brazil, especial mente p .18l-lB3) .
59
:ua
...._
237
. d · /2 em Raízes do Brasil, Sérg
io 13. ua rq u e n o ta.va a imp ortâ n .
N::.i rea 1K 1ª e, )'' deir as e com o este .
.
1mp llcav
,t, u m cert o d escolam ento c1
da
do tema
e1as b ane's· "A obra gra ndio sa
.
d
.
das b a n e iras
.
pa
ulis
tas
n
ão p o de o
proJClO portugu ·
_
bem com
_
pree ndid a em toda a sua exte nsso
ser
, se nao a dest acar mos um po uco
do esforço português, com o um emp reen d ime
nto qu e enc ontr a e m si mes mo
, sua explicação, emb ora aind a não ouse desí
azer-se de seu s vínc ulos com a
metrópole euro pé ia, e q ue, desa fi and o toda
s as le is e todo s os p e rigo s, va i
daí ao Brasil a sua atual silh ueta geog ráfic a
. l .. ._l ~º. p lan~ lto de Pira tin inga
nasce em verd ade um mom ento nov o de noss
a h1 ston a n acio nal" (HO LANDA
Raízes do Brasil, p .72) . É lícit o grifar aq ui a imp
ortâ ncia de p rime i ra hora d ;
Capistra no de Abre u pa ra Sérg io Bua rqu e d e
Ho la nda .
MORAES. Carta a Sérgio Bua rque de Hola nda. São
Pau lo, 28 de março de 194 3_
62
3 ANDRADE. Carta a Sérgio Buarque
de Holanda. São Paulo, 15 de setem bro de 194Z
6
.
1,1
CAPÍT ULO IV
FR ED ER ICK JAC KS ON TU RN ER E O O ES
TE
BILLINGTON. The genesis of the Jron tier thesis:
a stud y in h istorical crea tivity ,
p.89-90.
2 Cita do por HO FSTADTE
R. Los hist oria dores prog resi stas : Tur ne r,
Bea rd ,
Parri ngto n, p.73.
3 OLIVEIRA. A Amé rica e a
fron teira : Tur ner e Roo se velt , p .12.
4 Ver BILLINGTON. The
genesis of the Jron tier thesis: a study in histo
rical
crea tivity, p. 161- 162.
5 Ibid
em. p .166.
6 Ver TUR
NER. The signifi cance of the fro n tier in ame
ri can hi sto ry, p .3.
7
Nesse sentido, vale obse rvar qu e, em o utro
con text o, o próp rio Sérg io
Bua rque aten ta para esse dup lo sent ido da pala
vra wild erne ss, trad uzin do-a ,
em seu "Pre fácio à segu nda ed ição " d e Visã
o do para íso, com o "selva e
dese rto" e obse rvan do, e ntre p arê ntes es, q u
e "a pala v ra tem em inglês esse
dupl o significado" (HO LAN DA. Visão do para
íso: os m o tivo s edê nico s no
desc obri men to e colo niza ção d o Bras il, p.Xl
ll) .
8
TURNER. Contribu ti o ns of the wes t to a me rica
n d emo crac y, p.25 9 .
9 M .
. ais tar d e, e m um d iscu rso de fo rma tu ra (Co
mm e n ce m e nt Add ress ) p rofe ndo .na Univ ersid ade d I d '
• ava ,rurn e r:
e n 1a na em 1910, afirm
"Ma s no 1o ng o
cam inho .a fo rça efet'
, d a d e moc
iva por tras
raci
a
a
m
e rica n a fo i a pres en ça d'a
terra. praticam ente l'
1os h
ivre
na
q
ua
ome ns pod iam esca par d a o pres são ou d as
des1gualdades que p
b
'b•i·
.
esav
am
so
re
e les n os p ovo ame n tos ma is
poss1 1 idad e com pel•
a nti. gos . Essa
d
.
f
st
iu os e a os cost e iros a a mpl ia r o di reito de
.
ru strou a form ação de
voto · e 1sto
.
se ·a
.
'
,
uma
se dom ina nte se1·a base ada n a pro prie dad
l no cost ume " (TURNER clas
e,
.
.
'
E mom ent d
.
·
Pio
neer
1dea
ls
a
n
d
the
Stat
e U nive rs ity, p .274 ) .
- aind a qos epo1s ' na mes ma pa 1estra, usav
a
o
te
rmo
válv
ula de segu ra nça
ue para se ref ·
desenvolvime
t , .
d
en r ao seu esgo tam ento : "Um n ovo mo me
n to o
d e segu ranç a nd naci onal está ct·iante d
,
·
' l la
e
.,
e
rsos abL1 d . . nos ago ra sem m a is a anti ga va vu
ª1canç
ar" (TU RNErecu
R .
_n an tes abe rta p a ra aqu e les que p u dess em 0 s
- · Pion eer idea l , d h
s an t e Stat e U nive rs ity, p .280 ) .
1
°
238
q ualque r for ma este é um dos aspect os do traba lh o d •r
diferen
tes autore s tem demon strado mais tive ram ant . e, urn er que '
co fllO
' .
.
ecipac1ores . He nry
mith por exemp 1o, apo nta• como Benp1m
111 Frank lin m, •. d
)'Jas l1 S
, ul
'
.
,
ais e um sec
o
.; 1.:í formul ara de forma bastan te clara o qu e veio a se r co
h
'd
,
an te.,
ITJ--J
\/
'
.
.
d
.
r. 11 , va/ve (Ver SM
. 11 gm 1.an : the Amenc
an \Vest as sy n1 ec1 od como
sa,e.
•
·
m )o 1 an myt h
-6 B) Ri chard Hofsta dte r nos lembra que fora da trad
ição
ele
'
P· • ·
.
"· 'd,. d
_.
'.
.
pe nsa me nto
norte-a me ri ca no , a t e,a e qu e,, a f1o
nte1ra constit uía um a saída para a
c]asse trabalh adora teve rep erc ussão inte rnaci o nal, e dese mp e nh o u
urn a
arce la impo rtante na r~s.p osta à p~rgun t a que obceca va We rn e r So mbart
e
~ra rão vital para os teonco s marxi stas , W'a1·um gibt es in den Vereiní
ten
Staaten 'kein en' Sozial ismus? (Por que não ex iste nenhum tipo de sociali~
mo
nos Estados Uni dos?) " (HOFS_TADTER. ~os histori adores progresístas, p.l
SO) .
Diga-se de passag em q ue Smith , no cap itul o XX de se u livro, formu la críti
cas
violent as à idéia de safety valve.
Em capita lismo auto 1·itário e campe sinato, Otávio Velho rea liza
um estu do
sobre a disc ussão agrária e ntre os pensad ores russos e nfocan do-a atra vés
da
reflexão de Turn e r. Não é exager o dizer que o ponto fund amenta l d e
sua
análise seja a terra livre como "válvu la de segura n ça" - qu e segund o algun
s
deve ser contro lada e segun do outros não . O autor não dis cute apena
s 0
pensamento dos, m~rxist~s, ma~ ta,mb_é m, por exemp lo, o d e Stolipin , Ministr
o
do Interio r da Russ1a apos os d1sturb1os campo neses de 1905. Mas que
vale
O
ressaltar desse estudo é qu e a conce pção da válvul a de segura nça
está
presente , com diferen tes conota ções, no debate russo (VELHO. Capita
lismo
autoritário e campe sinato : um estudo compa rativo a partir da fr o nt eira
em movim ento, parte I - e specia lm e nte Capítu lo V, no tópico rel ati
vo a
"O capital ismo autorit ário e a Esque rda", em que o autor desenv olve
uma
compar ação entre os progra mas de Stolipi n e de Lênin) .
11 Em
todos os casos optei por traduz ir a palavr a "wilde rness" como "selva
e
deserto" - ver nota 7, deste capítu lo.
12TURNER. The signifi cance
c;f the frontie r in americ an history , p. 4.
1,1
oc
_ A
13
Os argum entos a seguir e o própri o recurs o ao texto de Stocki ng
se
baseiam em ARAÚJ O . Guerra e paz: casa-g rande & senzal a e a obra
de
Gilberto Freyre nos anos 30, p.38-4 1.
14
Este argum ento lamarc ki a no da heredi taried ade das caracte_rísticas adq
uiridas , estraté gico para a argum entaçã o de Stocki ng, é explic ado pelo biólog
o
François Jacob a p artir da obra d e Lama rck, Philosophie zoolog ique:
"Se a
heredita riedad e cria, ela n ão ada pta. Suas novas produ ções, seus aperfe
içoamentos são regula res, sem fantasi a, sem desvio . Elas não estão e m condiç
ões
de enfrent ar o imprev isto das circ un stâ nci as esp ecífi cas. Daí a necess
idade
de fazer com que o m e io aja sob re a h e redita ri ed ad e atravé s d e desejo
s,
n:cessidades, hábito s e atos. Modif icada ass im a organi zação d e certos
indiv1du os, ' a geraçã
o entre os indi víduo s em ques tão conser va as mo d I'f'ica çoes
adq uirida s'. A pla sti ci dade d as estrutu ras do vivo, a fl ex ibilida de d
e se us
mecanismos permi tem então não que o organ ismo se insira no mu nd0
que
0
cerca' mas inserir pouco
· dade"
a pouco este mu ndo em sua here d I·1 ane
~ACOB . A lógica da vida: uma hi s tória da heredi ta riedad e, p .156 - ê nfases
crescentadas)
1
5
•
Yerl-JOFST
16
. .
ADTER. Social darwi nism in ameri
can thoug h l.
STocKI NG JR . Lamar ckiani sm in americ an social sc ience: lB90-l 9 lS, P·243
·
239
. ·kian ism in ame rica n soci a l scie nce
. NG1 JR . Larna1c
, 11 •238
sTOC Kl
•
I"lNL~1 JR I ·rnia rckia nism in arne rican social se· .
. sTOC "
•
• J,
1~ Cit:~do pot
- 1ence
.
.
.· , - ·, 1 . ,·
L , rcki anis
• P-245
m
tn ame i 1cM1 soc1c
t
sc1
e n ce p 2 1,
i q sTOCKJNG JR. ama
f
5
.·
.
.
.
.
,
.
i
.
·
,
. . •nca nce of the ront1 e 1 tn ame ncan ht story
io TURNER . 1 be s1grn
1,
.
' p. 1, 22.
21 Ibi de m. p.4 ·
22 lbick rn. P-11.
1
-
23
Idem.
~-1
ldem .
Ver l31LLlNG TON · T/Je ge11esis of
· th e.fro n lier th esis: a stud y in hist Ort.ca]
crea tidty , p .1 08-109 .
26 I31 LL1NGTON . Th e gene sis o.f the fro11tier thesi
s: a stud y in hi stori cal creati,·ity , p. 113.
2- Ibide m. p. 115.
28 Citado por STOCKING JR. Lam arck
ianis m in ame rica n soci al scien ce, p.
248 _
29 Ibide m. p.24
9.
30 STOCKING JR. Lam arck ianis
m in ame rica n so cial scie nce, p .249.
31 TURNER. The sign ifica nce of
the fro ntie r in ame rica n histo ry, p.2-3 .
32 Ibide
m. p.9.
33 BILLING TON . The gen.esis of
the Jro n.tie r th esis: a stud y in histo rical creat ivity, p.10 2.
Por via dive rsa, Hofs tadte r tamb ém obse rva uma
afin idad e entr e Turn er e o
Prag mati smo. "A histo riog rafia prog ress ista (Tur
ner, Bea rd, Parr ingto n) fez
pela história o que o prag mati smo fez pela filos
ofia, a juris prud ênci a sociológica pelo direito, o espí rito de inqu iriçã o pelo jo
rnal ismo , e o que Parringto n
cham ou de 'real ismo críti co' p ela liter atur a . Se
o prag mat ismo [... ] prop orcion ou ao liber alism o nort e-am eric ano sua veia
filos ófic a , a histo riogr afia
prog ressi sta lhe deu a mem ória e o mito , e o
natu raliz ou na tram a glob al
da expe riênc ia histó rica norte -ame rica na" (HO
FST ADT ER. Los histo riad ores
progresistas, p.12 ). Se Billi ngto n ilum ina uma
afin idad e, por assim dizer,
inter na entre as duas corr ente s de pens ame nto,
Hof stad ter obse rva o pape l
exer cido por elas no pens ame nto nort e-am eric
ano.
34
Ver STOCKING JR. Lam arck ianis m in ame rica n
soci al scie nce , p.251.
35
JAMES . Prag mati smo e outr os texto s, p.22 -23.
36
ESle pont o da inco ngru ênci a pres ente na trad ição
n orte -a meri cana e ntre ª
apologia da simpli cida de e agra rism o e da evol
u ção e indu stria lism o apon tado s por Smith e Nob le será reto mad o repi to
atra vés de uma crítica de
Williams e Sanf ord cons truíd a a part ir de um
;on to d e vista difer ente do
avan çado aqui .
i,
37
. m
. ame n.ca n h1sto
e s 1·gn1·r·1ca nce of the fron t1er
· ry , P· li1.
'~ Ibidem . p .3-4 .
E interessa nte O b
. l3 arque
de Hola nda an t serv ar qu e, logo em segu ida a essa fras e , Se, rg,o
LI
,
0
a
. .
mencan1zação ." o u ª marg em de se u exem plar : "Fro ntei ra com o fª ror de
39 C'
ttado por
·
A conf ~ .SMITH · v·irgm
land : the ame rican wes t as sym bol and myt h p 253erenc1a profe 'd
' · de
1914 en
'
n ª na Univ ersid ade d e Was hing ton em 17 d ·unh o
• contra-se
e l ·d
pu bl'ica d a em TURNER. T h e wes t a n' d ame n- n I ea Is ,
ca
TURNER Th
·
240
r
_ 210 _ A passagem cit;.icla encontra-se na p ág in a 293 e foi mo difi cada.
l
)
2
JO
:J
bl.
- 1·
. .
,'. .
1 · , , . 0 texto para pu 1caçao, ume r om1t1u os auiettvos "ple na e forte e
\1 re, et
. .
.
º,·,11 de vida'' (ver SMil H. Vtrg tn land: the amcncan west as symbol a nc.l
6). C;.ibe obse rvar ainda que o referid o trecho é um dos p o u cos
chl'. '
nwr h, p.29
.f I
S , . 1>
·
.
)
que
fo i gn ac o por erg10. >Uarque e m seu exemplar. Nesse a rti go ,
do arllg(
:ipenas S eis· f)assag e ns foram e nfati zadas p o r e le.
40
WERNECK VJANNA. O proble ma e.lo ame ri ca nism o em Tocqu ev ille .
•, Citado por 13OGUE. FrederickJackso11 Turn er: strange roac.ls go ing down ,
p.1 5 l.
0 principal fo rmul ador ~essa críti~a é , possi_ve lmente , Carlto n J. H. Hayes ,
com •Sel·1 artigo "The amen can front1 e r - frontJ e r o f what?" ' publi cado o ri g inalme nre e m 1946, na Tbe A 111e1•íca11 Historical Review (HAYES. The a me ri can
frontier - fro ntie r o f what?, p.106-107) .
42
A pará frase sobre o título do artigo de Merquior (ve r MERQUIOH . Presença,
).69-91) não sign ifica dizer que suas idéia s estejam próximas e.las qu e dese n!,olvo neste li vro. Aliás, suas críticas a O espelh o de próspero, de Mo rse, s ão
bastante afinadas com as desenvolvidas por Hayes ao trabalho de Turn e r_
no texto citado na nota anterior.
Com o perdão do exagero de usos de paráfrases, ao construir a frase p e nsava
no título do livro de Stanley Cavei! , Esta América Nova, ainda inabordável.
4.1
CAPÍTULO V
O EUROPEU, O NATIVO E O AMERICANO
1
DIAS. Estudos Avançados, p .270.
2
HOLANDA. Revista do IEB, p.103-1 05.
3
Ibidem. p.103 .
4
Ibidem. p.55.
5
Ibidem. p.104.
6
Idem .
7
Ibidem. p .105.
8
MORSE. Carta a Sérgio Buarque de Holanda, New Haven, 14 de julho de 1966.
No "Prefácio à segunda edição" de Visão do parafso, redigido em n ovembro
de 1968, Sérgio Buarque dá conta das s uas atividades de pesquisa nestas
estadias: "Três visitas que posteriormente fiz aos E. U.A., uma das quais se
prolongou por perto de um ano, deram-me a ocasião ele a ume ntar muito e
~rualiza r meu cabedal de co nheciment os sob re o tema aqui estudado. Para
isso foram de inestimável valia as pesquisas que pude efet ua r, sucessivamente,
n_a Lil!y Library, especialme nte na su a opulenta coleção 13. Meneie !, ela Universidade de Indiana, onde me levo u co n vite recebido por intermédio cio
Professor James Scobie para dar curso sobre matéria de minha espec ia lidade
naquela casa ; na biblioteca ela Universidade de Yale, facilitada esta por um
Co ·
M nv1te semelhante, partido de velho e caro am igo, o Professor Ric h a rd
(I orse; p o r fim , mas n ot least n a Livraria Públi ca da cidade de New Yo rk "
íOLANDA. Visão do paraíso: p.X:XIV) .
241
? ·vers & Empire, foi defendida em 1970 e ,
'd Davidson, } i
'd
dA .
se
se de oav1
abandonou a v1 a aca em1ca em 197 3 nao
a
9 A t e.
1· da Seu autor
. 1 13
·1·
,
os
32
ontra pub 1ca · .
' onível é "How t 1e raz1 1a n West Was ,,.,,
enc
, . 0 arugo d 1sp
.
,,
won•
anos, e seu un!C
Mato Grosso Frontter, 1737-1752 , publicado ·
I
Freelance & State on t 11~ . organizado por Oauril Alden, Colonial Root no
de 1973 no iv10
, 1
s oJ
mesmo ano
_ 'd . , de ser cu rioso observar que o t1tu o de seu arr
~ •t Nao e1xa
tgo
6
Modem Era.d ··
,
1 do épico dirigido em 19 2 por Jo hn Ford
é uma paráfrase do tttu o George Marshall-, How the West Was Won-quªº
H 11. , Hathaway e
, e,
lado de e'. _) a ão de John Wayne e James Stewart, conta a saga de quatro
cotn a particip ç f ' J'a pioneira de Janners da Nova Inglaterra na su
, es de uma am1 t,
d
, 1
a
geraço
te americano no decorrer o secu o XIX. No entanto a
·sta do Oeste nor .
.
.
,
conqui.
.
é inspirada em bibltograf1a norte-amencana - Turner
7
tese de Davidson nao
.
b ·1 .
,
onsta na bibliografia - , mas em ras1 e1ros. Conforme
1o, nao c
or
exemp
.
.
.
P
.
t pessoal concedido a Vera Neumann, em 1997, sua inspiração
seu depo11nen o
. _
foi a obra de Sérgio Buarque, especialmente Monçoes e Visao do Paraíso, e
a de Jaime Cortesão, com sua tese sobre a crença na Ilha Brasil. Alé~ de ter
trocado cartas com Sérgio Buarque sobre o andamento d~ su~ pesquisa, nas
suas viagens ao Brasil, Davidson hospedou-se na casa do h1stonador brasileiro,
a quem dedica um carinhoso agradecimento em sua tese: "Aos meus pais
br2.sileiros, Professor e Sra . Sérgio Buarque de Holanda, estendo minha
profunda gratidão por seu vivaz encorajamento e por me acompanhar na
última grande bandeira ao extremo Oeste" (DAVIDSON. Rivers & empire: the
Madeira route and the incorporation of the Brazilian Far West, p.iii). A última
oração diz respeito ao encontro que os dois tiveram em 1967 no arquivo de
Cuiabá, referido por Sérgio Buarque em sua entrevista a Richard Graham (ver
GRAHAM. Revista do Brasil, p.107) e no Prefác io à Segunda Edição de Monções,
de 1976, onde seu autor afirma que foram companheiros "de pesquisa na
minha última estada em Cuiabá, nossa admirável e ntrada de 1967, como
costuma dizer" (HOLANDA. Monções, p.12) . Agradeço a Vera Neumann pelas
informações em torno da trajetória de Davidson .
10
HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.183.
Embora tenha sido publicado em 1957, Caminhos e fronteiras é fruto de uma
reunião de textos publicados entre 1946 e 1952, com o Prefácio datado de
sete_mbro de 1956. Como o próprio autor esclarece neste Prefácio, a Segunda
Seça~ do livro, relativa às Técnicas Rurais, tem origem numa série de artigos
publicad~s na revista Anhembi, entre 1951 e 1952. Estes artigos, por sua
vez, consistem numa ve rsao
~
·
amp 1·1a d a da conferência proferida por S'ergio
Buarque .no Colóq uio
· I nternac1onal
·
· d0
de Estudos Luso-Brasileiros realiza
em Washington no a
d
195
'
e d ,8 .
. '
no e
O, por "iniciativa do historiador Lewis Han k e
'
la epoca
,
p.ª , tspanic
.
_ Foundat'
.
ion ' , aque
sob sua direção" - como lem b ra
0
ropno Serg10 A pa
d'
.
encont
·
ssagem 1scut1da a seguir na sua primeira versao,
ra-se, portanto em HOLAND
'
o
século XVIII
'
A. As técnicas rurais no Brasil durante
' p.26 O.
11 H
OLANDA Cam. h
12
•
in os e fronteiras p 183
Idem.
' ·
·
13 ld
em.
14
Q
caso foi d
.
·
escnto por T
· ' d·os
1
casionais de p •
urner com as seguintes palavras: "Os ep iso
teiriç
untanos regressa d d
.
'd
d
fron- as,
n
. ·n
o cativeiro para visitar as c1 a es
1ingua 1. católicos
1
d'
n igena e, .a re. tg1ao ' p·tnta d os e vestidos como índios e fa 1an do a
) as Crtanças mest'
d
. .
d
velarn
iças e maes puritanas apns1ona
as, re
242
0
°
r
·te exce pcional da hi stória!. .. ]" (TU RNER. The fir st o fficial fronti e r of
4,1)
•Aassac hus etts Bay, p. 'I •
1he i, ' 1
~ TURNER . The first official frontier o f th e Massachus etts
l3a y, p .44-45 .
1
sse p o nto , chamo a a tenção para o interessan te fato de Sérgio íluarque
10 1
~~eito um a t1ni ca anotação na última página de seu exemplar de Tbe
(~·~ntier ín Ameríca n hist_o ,y: qu: f~i a seg u_inte: "Influ ê nc ia _d o fndi o - 2, 44. "
·os números di ze m respeito as pagina s do livro, se nd o qu e a p. 44 localiza-se
passage m sobre os J?uri~anos q_u e sofre m influ ê nci as d~s índi os re fe rida p o r
3
Sérgio Buarque no pnme 1ro c~ p1tulo da li Parte d e Caminhos e.fronteiras, no
trecho por mim comentad o h a pouco.
Além de grifar seus exe m plares e fa ze r anotações à ma rge m, Sé rg io Bua rqu e
anotava os temas que lhe interessav am e suas res p ec ti vas páginas na ú ltim a
fol ha do lino. Agra deço a Vera Neumann por esta observaçã o, infe rid a,
diga-se, nos seus a nos de co~vivênc ia com os livros do autor qu a nd o fun cionária da Bibli o teca SBH (Unicamp ).
1; ver HOLANDA. A instituição do Governo Geral, p.115-117.
11111::I pal
HOLANDA. Visão do paraíso: os motivos edênicos no d escobrime nto e
colonização do Brasil, p.1-2.
18
19
Ibidem. p .5.
20
Ibidem. p.105.
21
Ibidem. p.1 48.
22
HOLANDA. Raízes do Brasil, p.26-27.
23
Ibidem. p.38.
24
Ibidem. p.25.
25
Idem .
26
Ibidem. p.15 .
27
WILLIAMS. Wilderness and paradise in Christian thought: the biblical experience of the desert in the history of Christianit y and the paradise theme in
the theologica l idea of the university , p.4.
28
HOLANDA. Visão do paraíso: os motivos edênicos no descobrim ento e
colonização do Brasil, p.149.
29
Sobre os temas deste parágrafo , além de Visão do paraíso, ver CURTlUS.
European literature and the Lalin Middle Ages, capítulo 10 .
3-0
.
31
H
32
Ibidem . p.1 41- 142.
Citado por HOLANDA . Visão do paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonizaçã o do Brasil, p .363-364.
OLANDA. Visão do paraíso: os motivos edênicos no de scob rim e nto e
coloniza ção do Brasil, p .14 1.
3
~ WILLIAMS .
Wilderness and paradise in Christian thought: the biblical expe-
rhien ce of the desert in the history of Christiani ty and the paraclise theme in
e theo] ogica
· 1·
tdea of the universi ty, p .100.
3
4 Ibidem. p.5 .
35 S, .
v· :rgio Buarque comenta o livro de Williams inclusive a síntese que faz de
v',s~o
do Paraíso, no "Prefácio à segunda edição" deste seu livro (HOLAND A.
15
- os mottvos
.
~
· ento e co
, I001zaçao
· - do
Bra . dopa raiso:
edenicos
no descobnm
t
ªº
s1 1, P-XII e XIII) .
243
AMS \'(l i/de rn ess a nd paradi se in Chrislí an lh
. o ug h1 1
f CI . .
1 1.
,.
wn.LI
r
: t 1e
1nst1a nity and the
o PO .· ce of the dese rt in t 1e 11story o
.16 Ciwc1
Paradise
·ca l idea of th e uni ve rsity, p.124 .
biblica l expeiie n
in the th eo 1og1
d o Brasil, p .2 2-23 .
,
th ern e
DA. Ra1zes
IOLAN
.11 Ve r J.
.
, .
~s SJMMEL. A Ave ntura, p .17~-, .
_
.
. /' 11 0 auto nta n o e ca mpes rn ato. um e studo co m
parat1vo a
11 6- 11 7
. .
39\l ELJ-10 . capita is1
.
. d f nte ira em movim e nto , p . .
parllí a ro
4o HOLANDA . Piratini n ga : 1532-1 560, p .37-38.
•nstitui çào d o Go ve rno Gera l, p .131.
41 HOLAN DA · A 1
'
. ~
4i HOLANDA . Piratini nga : 153 2-1560 , P;,37-_38. .
A institu1 çao do .Go verno Ge ra1,, ,
. tarde , naquele texto sobre
. ,.
Anos mais
mais d e detalhe : "Se
com um pouco
, . Buarqu e volta a explora r a ideia
.
. . . .
b
Serg10
a inic1at1va p. a rti cular em lut as e
ar-se
exacer
esas
portugu
as
'
vemos, e m terr
ações de conquis ta, é justam ente n~s _c_asos em _que ?r~uns tâncias locais
tendem a afrouxa r ou de todo imposs ibilitar uma ingeren c1a eficaz do poder
central. As entrada s e bandeir as paulista s, que acab a rão por mudar a primitiva
silhueta geográf ica do Brasil, amplia ndo-a sertã o adentro , surgem em geral à
revelia das autorid ades. " E conclui o parág rafo c o m uma pergun ta, a mesma
que aparece em outras p a rtes e à qual tra tare mos de forma mais detida no
último capítulo : "Não haveria alguma rela ç ão e ntre e sse fato e a posição
quase extrínse ca, de exce ção, que ocu pa Sã o Pa ul o por longo tempo, e
desde o começo , no conjunt o da Améric a lusita na? " (HOLA NDA. A instituição
do Govern o Geral, p .132).
43
HOLANDA. Piratini nga : 1532-15 60 , p .43.
44
Os textos são os seguint es: HOLAN DA. Pu blicaçõ es do Institut o de Administração, p .3-23; HOLAN DA . Piratin inga: 1532-1 560; HOLAN DA. A instituição do Govern o Geral; e a série de a rtigos public ados ainda em julho de
1948 no jornal O Estado de S.Paulo que corresp onde a uma versão ampliada do
texto publica do pelo Institut o de Admin istraçã o, série intitula da exatame nte
de "A pré-hist ória das Bandei ras".
45
HOLANDA. Publica ções do Institut o de Admin istraçã o, p.20.
46
_E ~ uma série de artigos sobre a obra de Oliveir a Vianna , publica dos
ongmal mente em janeiro de 1950, no Diário de Notícia s, Sérgio Buarque
rte· ·
~
observa
. ·· "Sob re ª suposta geraça o espont ânea das cidade s colonia is no
por
ª °:en_c anas, que é um dos argume ntos utilizad os em mais ele um passo
tema
·
d
f
Oliveira Vianna
em avor e sua antítes e um tanto caprich osa entre O 1sistino e
~
,
d
O ª
anglo-s axonico
- on e a parte das autorid ades seria nula - e
. .
ergias
·
·1
b
principa lmente O
rasi eiro - onde ela seria absorv ente de todas as ,en co do
.
ind · .
1v1dua1s - tudo · 1.
me ina a supor que não passari a de mais um equivo
autor A b
urbanos
. d
•
o
· o servaçã do 111st0
,
na or F. J. Turner relativa aos centros
da Nova 1
. an histon ,
,
.,
nglaterr a em ob Jª
·
e 1assica (The rrontie r ín Amertc · rnento•
ra
'
New y k
J'
or , 1920 p 74) , •
to
ªJuda- nos a verific ar a sem raz ã o do argu
.' ·
A criação d
rno pon
I
tais centro
e
d e panida
s naque as colônia s tinha geralm ente co eava u rna
um requeri rn
veento endere çado à Corte Geral. Esta nom
.
comissã o in
d sua con
.
cumbid a dei
·~ .
nspecio nar o terreno e inform ar acerca Ie s á reas, ern
.
nienc1a . Em s
b . d
era
egu1da
e
aixa a ordem fazend o a conces são •eª distan rede
.
Xten sões var",
1
'
.
d
qu
e
ave1s
.
se·15
·dade
e evenam perfaze r um total não muito
milh as qu, d
d urna c1
~
a radas E
· sse era o proces so 'típico' de fundaç ao e
244
. . uc , Ji -lo expressame nt e Turner. E acresce nta que a dita Corte logo
i:i nq d''t
i·egu· lame ntos acerca das terras comuns , d as condi<'ões pai·a ac.lmi·s .,:,;pe
lt
'.',·
,
sao
~!-e ni oradores, _e tc., asseg ura1~do-se.·de"qua l,,q uer ma ne ira 'pul so firm e sob re
. tura so c ial ci o n ovo estabe le cimento (HOLA NDA. Cu ltura & J) o l' t'
:1 c stJU
1 1ca,
1
;),5 5-56).
.
47 É curioso observa r que , ~o m toda s ;_1s d1fe re nc;as , nos casos e m qu e pôde
h:iver uma lógica de f ro nt e 1ra no Co ntinente ame ri ca no _ casos bra s ile iro e
·te-ame ri ca no - correspo nd eu, paradoxalmente , um pri v il e giam e nto
001
1· ~
1
'
.Jll IL.
·-·:1
J do JJovoame
nt o . 1toraneo
em e e tnm e nto do inte ri o r. Sohre este ponto
I,
,
.
,
"er l3ELAUNDE. Tb e R1 ce lnslitut e Pampblet, p .204 -205 . No caso d a Amé ri ca
hispânica , o nde as cid ~d~s foram e stab_e lec id a_s no inte ri o r, houve um a esp écie
de abo rt ame nto da log1ca da front e ira, p o is as terra s li vres puderam se r
controladas, e controla das de maneira eficie nte. Sob re as cidades_ sobre sua
hipertrofia - n a Amé rica espanhola vide RAMA. A cídade da s letras. Sobre 0
caso da América espa nhola comparada com a p o rtugu esa, ver HOLA NDA.
Raízes do Brasil. 2.ed. ca p ítulo iv; A instituição do Govern o Ge ral, p .130-132.
Sobre os Estados Unidos e a resistência inglesa ao povoame nto do interi o r,
rer SMITH. Virgin land: the american west as symbol and myth , p .4-8 .
o probl em a da
diferença entre os momentos em que a lógica da fr o ntei ra
funcio na em cad a um dos dois países n os isenta de enfrentar outro prob lema
ainda mais complexo, o da fronteira brasileira nos séculos XIX e XX. Contu do ,
não posso deixa r de fazer uma breve referência à emblemática difere nça
entre a Lei de Terras n o Brasil, promulgada em 1850, e o Homestead Act, nos
Estados Unidos, de 1862, estabelecido em pl e na Guerra Civil - justame nte
quando os sulistas são expurgados do governo federal. Enquanto a lei americana estabelecia um plano qu e visava facilita r o acesso à terra, a lei de 1850
ia na direção contrária. Uma comp araçã o entre as duas leis é realizada em
COSTA. Política de Terras no Brasil e nos Estados Unidos, e o Homestead Act
pode ser lido em SYRETT. Docum entos h istóricos dos Estados Unidos. Otávio
Velho também ressa lta a o pos ição' e ntre as duas le is e, contrariando aqueles
que viam na Le i de 1850 "a in a u g uração d a propriedade capitalista no
Brasil", argumenta que se deve procurar as diferenças entre as leis na articulação entre o político e o econômico em cada uma das duas formaçõe s
capitalistas (VELHO. Capitalismo autoritário e campesinato: um estudo
comparativo a partir da fronteira em movimento, p .140-141). Na opinião de
Claude Fohlen a importância da lei norte-a mericana não deve ser supe restimada, pois "n a realid ade, os res ultados ficaram abaixo das ex p ec tati vas:
entre 1862 e 1890, dois milhões de pioneiros instalaram-se, a proveitando a
Lei do Homestea d , enqu a nto sete milhões adquiriam terra ou se estabeleciam
de forma diferente, isso num período em que a popul ação tota l aumentou
em 45 milh ões de habitantes" (FOHLEN . O Faroest e: 1860-1890, p .18-19).
Ai nda assim, lembrando da discussão sobre a te rra livre como vá lvula de
segurança comentada p áginas atrás e na imposs ibilidade de nos determos à
campa raçao
- por mai s te mpo é importante fazer uma re f e re~ nc1a
· a' o b servaçao
de R' h
'
.
. te ard Morse anotada por Emíli a Viotti: "O professo r Morse sugenu com
muna inteligê ncia e pers picácia que os brasileiros procura ram usar a política
de terras
.
, · ,
,
co mo um 'c into de segurança' enquanto a Amenca
usou-a como
urna' ·1
'
.
d
u . va vu la d e escape"' ( COSTA. Política
de Te rras no Bras il e nos ES t a os
n1dos, p.159).
49 R
12 1~DRIGUES. Conhecimento dos países hispano-a mericanos no Brasil, p .ll9,
4s
245
. I
e fron teir as, p.7 1 . A pri me ira e ma ior
par te d
~º ]-{OLAND A• cam.tn'JOS d .!'qua l foi reti. d ·
't .
ra
a
a
c1
aça
·
o
tev
e orig em e e
r
e.,r
on teir
_ as· - una1 tex to pub lica do em 19 49 (
Ca minhos d'f'
' 0 111
HOLAND
A. Índ ios
em
poucas mo , ,c aço es ';o
pau list a, p .17 7-2 90) .
1ame\ucos na exp ans a
.
n
DA Caminhos e fron teiras, p .71 .
51 HOLAN
·
sz Ibid em . p.73 .
;3 HOLANDA . Extremo Oes
te, p.5 4 .
e
Idem.
HOLANDA. Caminhos e fronteiras,
p.7 6.
56 HOLANDA. Monções,
p .16.
.
. .
ent
e flui do e len to da fro nte ira bra
57 o cará ter ext rem am
sde Ha só vem
d
, .
• • da idé ia de cam inh o nos tex
refo rçar a 11. nportan
tos e Serg10 Bua rqu e de
c1a
.,
.
Hol and a. A1ias, 0 mes mo fato faz com que , som ent e com gra nde libe
rda de
.b • term o conquista do O este ,
larg am ent e ut1·1·1za do por mim '
se possa atn u1r o
d
para o pro ces so des crit o pel o a uto r. Est a libe r a d e, tom a d a inc lusi ve '
no
,
utu 1o d o tra b a lho , so' pod e ser 1·ustificada pel a con sta nte re fere nc1
a
ao
cas
o
.
.
norte-a men·can o , refe rên cia esta mo tiva da pel o am bie
nte rem ant e ent re os
hist oria dor es do con tine nte am eric
ano na épo ca da Seg und a Gu erra
.
58 HOLANDA . Monções,
p.1 6.
54
5;
A
•
CAPÍTULO VI
COMO O OESTE BRASILEIRO FO I
CONQUISTADO
1
HOLANDA. Índ ios e ma me luc os na
exp ans ão pau list a , p.1 80.
HOLANDA. Anais do Museu Paulist
a, p.1 80. Acr edi to até que não seria
dem asia do forçado rela cio nar a con
stru ção da fras e de Sér gio Bua rqu
e a um
trecho do livro de Tur ner - por ele
grif ado em seu exe mp lar e ao lad
o do
qua l ano tou "Im por tân cia da fron teir
a na hist [óri a] am eri can a"- , no
qu
al o
hist oriador nor te-a mer ican o afir ma:
"As sim o des env o lvim e nto am eric
ano
~ão exibiu merame nte ava nço s ao lon
go de um a linh a úni ca, ma s um reto
rno
as condiçõ es primitiv as à me did a que
fos se con tinu am ent e ava nça ndo
a
linh
a
d_a f~~nteira, e um des e nvo lvim ent
o nov o p a ra ess a á rea " (TURNER.
The
s1gn1f1cance of the fron tier in Am eric
an his tory , p .2).
3
HOLANDA. Cam inh os e fron teir as,
p .15.
4
Para a i
f
. mp ortancia do cot idia no nos
tex tos de Sér gio Bu arq ue sob re
ª
/ºnt eira ver BLAJ, MALUF. Rev ista
de His tóri a, p.1 7-4 6.
ºf? rdme cha ma ª aten ção , por exe mp
hci·sºtona
lo DIAS Sér gio Bu arq ue d e Hola nd
or
a,
'
Resenhas. 'p. )~ 4-55 ; MELLO E SOU
d
ZA. Fol ha de· S.P aul o, p.1 0-11 . Jo
rna l e
Ou, como sali enta Man I e.
e fron teir a
b.
oe ava lcant1 Pro enç a e m um ens
· hos
aio sob re Camtn
.
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poss1bilidade b . .
.
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na e' e ssa [· .. )
tecn1
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,
ir , ain da ho1 e a prá tica d os nos sos h: bitoS e
,
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o
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ou
irª
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Sor oca ba e d'epo is a Cui abá par
co1on1 al e
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·
' onv ive
'
ndo com as re nde iras , com o po d , mos
en a
'
2
A
246
•
,.,ste momento fazer que os relógios
caminhassem para a esquerda e ass1st1r
. .
_
nc
à bateage m do o_uro, à plant_a çao do milho , à lida do gado, à pesca de arco"
(PROENÇA. Revista do Ernst!, p.68).
6 HOLANDA. Caminbos e fro nteiras, p.16 .
i MAVSS. As téc nicas corporais , p .2 13.
s Ibidem. p. 214 .
9
HOLANDA. Caminbos efron.teiras, p.17 .
10 Se os ca lçados apareciam entre alguns grupos indígenas brasileiros sua
função , na maioria das vezes, não era proteger ou ornamentar os pés'. Em
muitos casos seu papel era en~anar os inimigos . Entre os Caingang, por
exemplo, enrolar a planta do pe em um atado de folhas servia para quem
visse suas pegadas, não soubesse em que sentido estavam indo. Já entre os
Xerente, um calçado provocava, não a dúvida, mas o erro, pois levava 0
observa dor a tomar, pela marca deixada pelo calcanhar, a da ponta do pé ,
fazendo-o acreditar que os donos desses sapatos seguiram justamente o sentido
inverso do efetivamente tomado. Nessa preocupação de dissimular o inimigo,
Sérgio Buarque supõe, pode estar repousada a criação de entidades mitológicas como a do curupira, certa versão de saci que o apresenta com duas
pernas e os calcanhares voltados para a frente, e o upupiara, no Rio Grande
do Sul , um ser que possui dois pés em cada perna, sendo um voltado para
trás, outro para frente. Dessas técnicas de dissimulação indígena pode vir, ainda,
a explicação dos "fabulosos rnatuyu ", os quais, segundo a descrição do Padre
Cristóvão de Acufi.a, são "pessoas que possuem, todas, os pés ao revés, de
modo que quem, não os conhecenào, quiser seguir suas pegadas, caminharia
na direção contrária à tomada por eles" (Citado por HOLANDA. Caminhos e
fronteiras, p.30).
HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.25.
12
A partir de uma observação de Mauss sobre o andar, no texto citado a
pouco, torna-se possível supor a ligação entre o abandono dos calçados e o
reaprendizado na forma de andar, posto que, segundo o autor, "o fato de
andarmos com sapatos transforma a posição de nossos pés; quando andamos
sem sapatos sentimos muito bem isso" (MAUSS. As técnicas corporais, p.216).
13
HOLANDA . Caminhos e fronteiras, p.35-36.
11
14
Ibidem . p.34.
15
Ibidem. p .34 , nota 43.
16
Ibidem. p.68 .
17
Ver HOLANDA . Caminhos e fronteiras, p.76.
lª HO LANDA. Caminhos e fronteiras,
p.77.
19
Ibidem. p .77-78 .
ui
Ibidem. p.79.
21
Ibidem . p.79-80.
22
H
OLANDA. Extremo Oeste, p.52.
SLOTK
f
IN . Regeneration through violence: t h e my tholog· y of the american
rontier, 1600-1860, p .77.
23
24
2s
.
Ibidem. p.77-78.
Ibidem. p .402 .
247
.
eration. through víolence: the mythology of the arn erican
SLOTKIN . Regen · ·
frontier, 1600-1860, p.403.
26
Idem .
Ibidem. p.90-91 .
27
2s
bibl '
thought: the
Wílderness and. paradise ín. Christian
1ca 1
.
. .
··
Ver WILL IAMS .
the
paradise
the
and
Chnst1an1ty
of
story
h1
the
in
desert
e
tl
f
.
me
.
.
expenence o 1
in the theological idea of the urnverstty, p.100.
through violence. the mythology of the american
30 Ver SLOTKlN. Regeneratio n
29
.
..
. .
frontier, 1600-1860, p .114 .
As observações de ZUCKERMAN (Ident1ty in British Ame nca: unease in eden,
p. l4S) apontam para a mesma direção.
31 HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.62.
32 Ver DIAS . Sérgio Buarque de Holanda, historiador, p .18 .
JAMES . Pragmatism o e outros textos, p.22-23.
34 HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.143.
33
Ibidem. p .V.
36 Corno dá a entender em sua afirmação que se refe re a Monções como urna
versão inicial e sumária, Sérgio Buarque perma n eceu trabalhando no seu
livro, chegando a redigir novas versões para três dos se us seis capítulos, das
quais apenas a do primeiro capítulo, "Caminhos do se rtão ", ele publicou em
vida, ainda que em forma de artigo (HOLANDA . Revista de História, p.69-111).
Somente em 1990, quando a Editora Brasiliense editou a terceira edição da
obra, os leitores puderam conhecer os outros d ois capítulos refeitos, graças à
iniciativa da casa de reeditar a versão da pri meira e d ição, seguida dos capítulos reelaborado s, em anexo . Através de ca rta s d e David Davidson pode-se
saber que o Capítulo II, "O transporte fluvial ", fic o u pronto não muito tempo
depois que a nova versão de "Caminhos do sertã o ", pois em missiva de 22
de fevereiro de 1970 este orientando de R. Morse acusava o recebimento
de "chapter on 'transporte fluvial' " (DAVIDSON . Carta a Sérgio Buarque de
Holanda, Ithaca, 22 de fevereiro de 1970).
35
37
HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.III.
HOLANDA. As monções, p .129 .
38
39
HOLANDA. Monções, p.43.
Ibidem. p.73.
40
41
Ibidem. p.59-60 .
42
Ibidem. p.28.
43
Ibidem. p.59.
44
·
HOLAND
, . ,, A. Caminhose fronteiras, p.170. O capítulo intitulado "Frotas de
comercio origina - se d ª con ferencia proferida anos antes há pouco cita da
(HO
'
LANDA. As monções).
45
HOLA NDA. Monções p.60
A
46
47
Ibidem. p.6 3 .
Ibidem . p .60-61.
48 ~
49
'
•
•
.
er HOLANDA C
. aminhos e Fronteiras, p.171.
HOLAN
DA . Monções, p.61.
248
•
,l, HOLANDA . Mon ções,
~
p.31.
51
HOLANDA. Ca minh os e f ronteiras, p.V, Vl.
52
lb ide m. p .205.
,.\ Idem.
;, Prov,n·el rnente , a debu lha e a limpeza eram praticada s nos próprio s sítios
da roça de uma mane ira bastante rudime ntar, sendo que "as espigas e ram
primeiram ente malhadas a va ra, e os grãos que se desprend iam, misturand o-se
à terra e à are ia, limpava m-se, em seguida, co m o au xílio de pene iras"
(HOLAN DA . Caminho s e f ronteiras, p .211) . A partir daí o produto ou era
vendido aos comercia ntes, ou era enviado aos mole iros, os quais, pelo trabalho
de moagem , recebiam o pagamen to e m forma de "maquia" , já tradicion al
entre os portugue ses, que co nsistia em receber uma p orcentag em do produto
que aca bou por se fixar e m uma parte em sete. "No século XVII a moagem
ai nda seria feita mais freqüent emente nas vilas", não sendo muito g ra nde o
número de senhores de moinho. O dispêndi o com o moinho não compens ava
a sua construç ão e manuten ção por parte de quem plantava o trigo, pois a
qua ntidade não seria suficient e para compens ar aq uele dispêndi o.
55 HOLANDA. Caminho s e fronteira s, p .212.
56
Ibidem. p .21 3.
57
Ibidem. p.212 .
58
Idem.
59
ldem.
60
Ibidem. p.215 .
61
lbidem . p.216.
62
Ibidem. p .217.
63
ldem.
64
Ibidem. p.225 .
65
Idem.
66
Ibidem. p.230.
.
Apesar do monjolo do personag em n ão funciona r muito bem, a le itura do
conto "A vi ngança d a peroba", de Monteiro Lobato, é bastante esclarece dora
sobre a con strução, funciona mento e n omes d as peças do m o njolo d 'águ a
(LOBATO . A vingan ça da p eroba).
67
Ver HOLANDA. Caminho s e front eiras, p.234.
68
HOLA NDA. Caminho s e fronteira s, p .236.
Contudo, a hip ótese d a associaçã o da dissemin ação do maquinis mo asiático, 0
monjolo de água, com a do arroz, produto também de origem asiática, traz consigo
uma dificuldad e para o estudo de sua difusão no Brasil, dado que os docume ntos,
após manifesta re m a presença d o produto no litoral vicentino já e m meados do
século XVl, apresent am um "laconism o" no "lo ngo intervalo que vai daque la
data até fins do século XVIll" . Este era um problem a de difíci l resoluçã o que
já ha via merecido a atenção de Sérgio Bua rque e m diferente s ocasiões , com
conclusõ es diversas - o que escapa ao tema do prese nte trabalho .
10 H
OLANDA. Caminh os e front eiras, p .236.
69
71
Ibide m . p.225 .
n lbidem . p .243.
249
7J
HOLANDA . Monções, p .57.
74
Ibidem. p.111-112.
1~
Ibidem. p. l l 3.
Idem.
-, 7 HOL ANDA · Fxtremo
Oeste, p.59 ~
76
78
79
Idem.
HOLANDA. Monções, p .113.
Ibidem. p .67.
.
dº
.
1·
, . 13 ·que de Holanda veio a 1scuttr esses a 1cia.
ente
Serg10
uai
81
d
Postenon11
' Sao
_ P au 1 no período que antecede a ln epe ndência
T
sem
o,
,
mentas mi itare
_ P lo tomo 2, v.2, especialmente p.432-440 .
no texto HOLANDA. 5ao au '
sz HOLANDA. Monções, p.67.
80
83
Ibidem. p.72.
84
Ibidem . p.67 .
Ibidem. p.67-68.
85
86
Ibidem. p.68.
Ibidem . p.72.
88 PRADO JÚNIOR. Formação do Brasil contemporân eo: colônia, p.27.
89 Ibidem. p.27-28. O referido "recente escritor n o rte -a mericano
" é Marcus
Lee Hansen, e o seu livro intitula-se The immigrant in a merican history. Caio
Prado indica o capítulo "Immigration and expa nsion". Não custa observar
que o parêntese constante na citação, que fa z re ferê ncia à obra de Turner, é
do próprio autor, Caio.
87
°Conforme argumenta Werneck Vianna, esta chave d e
9
uma luta nítida entre
barbárie e civilização é, na verdade, mais característica da tradição do pensamento hispano-americano - Sarmiento, por exemplo - do que dos pensadores brasileiros (WERNECK VIANNA. Dados, v.34, n.2, especialmente p .156).
91
SIMMEL. The philosophy of money, p.449.
A historiadora Ilana Blaj reflete sobre essa organicidade presente nos textos
de Sérgio por meio das noções de "cultura material" e "cotidiano" (BLAJ .
Sérgi o Buarque de Holanda: historiador da cultura material especialmente
p .30-31) .
'
92
93
HOLANDA . Monções, p .72.
HOLANDA. Caminhos e fronteiras, p.161.
CAPÍTULO VII
A CONQUISTA DO OESTE E A FORMAÇÃO DA
MENTALIDADE CAPITALISTA
HOLANDA Ca .
·
minhas e front eiras, p.160 .
e-se percebe 1·
dif
.
r ª mportanc1a at ºb 'd
·
erentes textos. Em HOLA
n ui a p e lo histo ria d o r a o s trope iros
em
NDA (Extre mo Sul, p.85-90) pode-se p e rceber
i
2
P0 d
A
250
•
relevânci a que Sérgio Buarque p e rce be no comérci o de muares e nos
tropeiros não apenas para São Paulo, mas també m para o Su l do país. Anos
depois , em texto d~ 19?0, Sérgio l3uarque retoma o assunto da importân cia
do comércio de an1ma 1s, ressaltan do o papel das fe iras de So roca b a e dos
tropeiros para o desenvo lvime nto da Capitania paulista até meados do sécu lo
>-lX. Ve r HOLANDA. Metais e pedras preciosa s, tomo I, v.2, p.310 .
:i
., HOLANDA . Escravid ão negra em São Paulo, p.295-29 6.
• HOLANDA. O barão de lguape, p.238.
s HOLANDA. Caminh os efronleir as, p.158.
Jdem.
6
- Jdem .
s Idem.
Idem.
9
1°
Jbidem. p.158-15 9.
11
Jbidem. p.159.
12
WEBER. The protesta nt ethic and the spirit o/ capitalism, p.58 .
13
Ibidem. p .171.
H
Jbidem. p.167-16 8.
1
;
lbidem . p.171.
16
Ibidem. p .62.
i-
18
19
GOLDMAN. Max Weber and Thomas Mann, p .116.
WEBER. The protesla nl ethic and lhe spirit o/ capilalism, p .1 19.
Ibidem. p.270-27 1 .
° Citado por GOLDMAN.
2
Max Weber and Thomas Mann: ca lling anel th e
shaping of the self, p .121.
21
EPÍSTOLA de Paulo aos romanos , capítulo 12, verso 2.
Citado por GOLDM AN. Max Weber and Thomas Mann: calli ng a nel the
sh aping of the self, p.123 .
23
O rena scimento é uma idé ia cara nã o tanto ao calvinism o - cuja doutrina
de predestin ação em última análise não conduzi a a idé ia de conversã o mas ao metodism o, pietismo , e, mais especial men te, às seitas batistas (ver
WEBER . The protesta nt ethic and lhe spiril of capitalism, capítulo 4).
24 EV
ANGELHO segundo João, capítulo 3, verso 3.
25
Ver KANT. Fundam entação da metafísic a dos costume s, p.224 e 248ss.
22
Ver GOLDMAN. Max Weber and Thomas Mann : calling a nel the shaping of
the self, p .124-125 .
27 w
EI3ER. The protesta nt ethic and lhe spiril of capitalism, p.276. Em uma
tr~dução aproxim ada, Entsagen sol/si du, sollsl entsagen quer dizer "Tu deves
dizer não aos prazeres da vida, sempre dizer n ão aos prazeres da vid a ";
enquanto Erwerben so!lst du sollst erwerbe n significa aproxim adament e "Tu
~eves fazer co nquistas através do trabalho ordenad o, sempre pelo trabalho" •
gradeço a Jennifer Gay os comentá rios sobre essas sente nças.
'8 w
EI3ER. The protesla nt ethic and the spirit o/ capitalis m, p .276 .
:
26
9
;h Ver GOLDMAN. Max Webera nd Th omas Mann: ca lling and the shap in g of
e self, p .149.
251
. . d the spirit o.f capitalism, p.20.
a11t et/Jt Can
.
:R 71Je protest
d Thomas Mann : ca llmg and the shaping of
30 wmHL ·
~ía '>,: \fleber a11 ·
~or oMAN - I '
ver l
1 ]1 6.
tlle se Ir, 1 .
JI
1
J
.
•
12 Jbidetn - p.1 20-121.
ll ic and th e sp irit o.f capilalism, p.180-181
·
'h p ·otestant e .lJ
·
b , d
b
·
·'·' Ver WEBER. Ti. e_ 1_ - o da bildung, in clusive corro oran . o a .º servaçào
, bre Goethe e a u ad1ça -ri ge1·man tradition of self-cultivatton: bildung
so
uroRD 1ne
··
·
de Weber, ve r BR
. Mann capítulo s 2 e 4.
olt to Th omas
'
fro 111 Hum b
S ib ·ective culture .
34 SIMMEL.
L l
e · a citar de passa ge m Goe the , cabe desde
qu e e I1egu 1
_
1
3; A esta altu ra , en
.
te com este p a rale lo , n ao estamos querendo
.
ue Iog1ca men ,
.
Jogo sa li entar q ' . d lanalto oaulista e ram ho me ns ilu strados preocuO
1:
supor que os. ,sertaneJO
f S -P ma s apenas
que os processos de formação do
0,
,
a
auto
·orn1
aça
·
1
pados com SL
_, eis e contrapostos ao ideal de voca çã o .
seif podem ser compa1av
.
.
.
- ,,atism religion and dommatwn: a w ebe nan pe rspec36 SCHLUCHTER. Ra t t 0 1•
,
tive, p.87.
, GOLDMAN. Max Weber and Thomas Mann: calling and the shaping of the
3
self, p.154-155.
3s Os cuidados envolvem não esquecer que na tradição da bildung ainda
se pode falar em personalidade - mesmo que n ã o determinada a partir
de dentro , e, sim, num intercâmbio contínuo entre self e mundo exterior.
Enquanto isso, no confucionismo, torna-se mais d ifícil fal ar em personalidade .
Como não recupero a argumentação de The religion of China de forma
mais completa, não me preocupo em resgatar, por exe mplo, as diferenças
entre o confucionismo, tratado corno a doutrina ortodoxa articulada à buro~racia estatal, e o heterodoxo taoísmo, ligado ao n o me de Lao Tse, mas que
incorpora também crenças mágicas populares.
39
40
WEBER. The religion of China: confucionism and ta oism, p .227-228.
Ibidem. p.228.
41
42
Ibi dem. p.156.
43 rb·
,
idem. p.160. Pode-se e f t'
d
or Webe r faz
b
n
ª
izar
que,
e fato, o confucionismo descrito
P
Iem rar nesse sent'1d
seu auto r escreve
'
o, a passagem de Raízes do Brasil na qual
,
que,
com
o
trabalho
~ b
a propria sati sfa ção el
. , no Bras1·1 , "[ .. .] nao
uscamos sena- o
r·
, e tem o seu f1m
,
Jtnis operantis e na~o
r.· .
em nos mesmos e não na obra, um
um 1 mis ope ·" (HO
44 WEBER T.'h "
t· .
ris
LANDA . RafzesdoBrasil, p.11 4) .
. e re igion of Chi .
. .
""
4s Ibidem . p.142.
na. confuc1on1sm and taoism, p.160-161.
46
WEB ER. Th e religion orch .
Jb·
'J
ma· confu · •
. idem. p.182-183 188
.
c1on1sm anel taoism, p.235.
48 Ibidem. p.235 .
,
.
47
49 ~
er GOLDMAN
the self, p.12 . Max Weber and Tho
9·
50 ldern .
mas Mann: calling and the shaping of
51
Ü
s três últ'
falarn d
imos aforismos d
(N1E e Goethe co
as "Incursõe d
.
_s e um intempestivo" de Nietzsche,
repusc l
gem nao
·
'
u o dos Ídot
muno diferente da explorada
aqUI·
os, p.131-133).
.TzscliE. e
252
1:1 uma aborda
r
p 248 ·
w,EBER . The religion o.f Cbina: confu cionis m and taoism • ·
ver W
5j Tbidem. p .247.
lism , p . 17l .
1.
. ca,Jita
w,E13ER. The protestant ethic and the spirit of
54 \ er w
'
NDA . Cami nhos e.fron teiras, p .159 .
~ HOLA
52
5
56
.
ver WEBER. The prote stant ethic and th e spirit o.f capilalism, p.6 9
si Idem .
HOLANDA . Cami nhos e.fron teiras, p .289.
59 HOLANDA. O barão de Iguap e , p.231 .
5s
, de fato ,
WEBER. The prote stant ethic and lhe spirit o.f capita lism, p.18. Mas
mode rnos de
no argum ento de Webe r, pode- se consi derar que métod os
, no entant o,
contab ilidad e consti tuem uma tendê ncia do capita lismo burgu ês
The prote stant
estão muito longe de serem sinôn imos . Ver també m WEBER.
etbt:c and the spirit of capila lism, p.66-6 7.
the spirit of capita lism, p .182-183 .
61 Ver WEBER . The prote stant ethic and
62 Ibidem . p .54, 180-1 81.
m and taoism , p.248.
63 WEBER. The religi on of China : confu cionis
60
a dedic ar-se
Não se deve deixa r de menc ionar que Sérgio Buarq ue viria
desne cessá rio
ao século XIX no volum e da HGCB , Do Impér io à Repúb lica,
dos livros que
dizer, no entan to, que a p artir d e um enfoq ue difere nte ao
temos tratad o.
faz
65 Confo rme já obser vado à n ota 60 do Capít ulo I, Raim undo Faoro
a incorr ereparos conce ituais a Raízes do Brasi l dizen do que seu autor cham
buroc racia em
tamente de "func ionári o p atrim o nial " o indiví duo que age na
da: analis ta
prol de intere sses própr ios (ver FAORO. Sérgio Buarq ue de Holan
64
das institu ições brasil eiras , p.61).
66
67
HOLANDA. Cami nhos e front e iras, p .158.
HOLANDA. Brazil in ameri can life, p.205 .
68
Idem .
69
Idem .
70
Idem.
71
Idem.
72
Idem.
73
Idem.
74
Idem.
75
HOLANDA. Brazil in ameri can life, p.206 .
6
a nas palav ras de Hofs.ta~t~r:
~ SMITH. Virgin land, p.256 . O mesm o dilem
com a h 1st0 na:
E aqui reside o núcle o da íntim a desav ença norte -amer icana
t
ª dificu ldade de comb inar o sentid o pasto ral, ou pior ainda , 0 primitiviSndª• ela
º: ª
,,,, . . .
co nd ição huma na ideal ' com outro ansei o intele ctual igualm ente profu
que ia m1_c1ou
cre~ça no progr esso. [. .. ] Como pode progr edir um povo
es progreSiSlas,
muno próxi mo da perfei ção?" (HOF STAD TER. Los histor iador
P- 22 - 23). Ver també m p.82.
77
d the ameri can moral
.
Ver. SAN FORD . The quest for parad ise:
an
e
Europ
.
tmagi nation , p.VI.
253
-
d aradise in christia n thought: the biblical
JAMS . W'i/demess an. · p . of c hri st ian ity a n<l the paradis e theme
129 130
l sert in th e h1 sto1y
ver WILL
.
f th e univers ity, p.
. , ri e ncc of the e e~
1, b .
.
"
o
idea
ai
.
c;-;pt::
edenico s n o e esco nm en to e
motivos
.
,
c
log1
eo
th
.
_,
.
11
os
78
111 t e
OLANDA .
-o
H .
,,-
. _
\/1sao
do paraisa:
1 Brasil, p .XlV.
co lon1 za~ :w e o
d h
XVI XVll .
.
r. , paradise: Europ e an t e america n moral
'
~º Jb1dern . P·
Tbe quesl .1º'
SANl::oRD.
Ver
!) .11.
'
' tton,
imagina
si
nativos edê ni cos n o d esco brim e nto e
,
Ibidem . p.l9.
do paraisa : os t
F ~
s_, HOLANDA. \ tsao
colo nização do Brasi l, p .230.
82
84
. d I p a uli sta do sécul o XIX, e vio lê n c ia exe rcida
Idem .
ac e
socie
na
lência
.
8
ns livres na ordem escravocraLa.
H
' Sobre a ,·io
ente iguais , ver FRANCO. ame .
Ve r HOLANDA. Monções, p.33.
s6
Ibidem . p.34.
.
Rs HOLANDA. Brazil in america n life , p .206 .
·· os motivos edênico s no des cobrim ento e
. - d paraíso
·
s9 HOLAN DA. V1sao .o
·
coloniza ção do Brasil, p .334 .
87
CONCLUSÃO
DIAS. Sérgi o Buarque de Holanda , histori ador, p.26.
2 MELLO E SOUZA . Formas provisó ri as de existên cia : a vida cotidian a nos
camin hos, nas fronteira s e nas fortifica ções , p .45-46.
1
Na realidad e, levando -se em conta, por exempl o, o último parágra fo de
Raízes do Brasil - no qual Sérgio Buarqu e observa que "podere mos ensaiar
a organiza ção de nossa desorde m segund o esquem as sábios e de virtude
provada , mas há de restar um mundo de essênci as mais íntimas que , esse,
permane cerá sempre intacto, irredutív el e desdenh oso das invençõ es humana s.
Qu e rer ignora r esse mundo será renunci ar ao nosso próprio ritmo espontâ ne o, à lei do fluxo e do refluxo, por um compas so mecâni co e uma harmon ia
fal sa" (HOLANDA. Raízes do Brasil, p.161) - pode-se pensar o contrári o .
~ontudo , 0 que pretend o apontar é que, mesmo já estando present e neste
3
livro O que podemo s conside rar uma racionalidade de ajustamento ao mundo,
que teve u_m papel importa nte no período de co loniz ação, ela n ão parece
adequad a a resoluçã o d o "contrap onto ,, - para usar um termo do autor entre tradição ibe' n·ca e O mun d o ame ri ca nizad o
4
.
.
- d
PRADO JÚ NIOR Fo
O Brasil contemporâneo: colônia , p.31-32 .
rmaçao
·
.
5
Ibid em . p .32.
6
7
fj
HOL ANDA. Monções, p .13.
HOLANDA 13 .1 .
raz1 in america n life, p .219
•
.
·
Ibidem. p. 206 _
254
N. Max \Yleber and Tho,~as Mann: calling and the _ .
mo derni smo e Ci ê ncias Soc 1.a1.s vshaping of th e
GOLDMA a re laçã o entre
I3en za qu en na "Intr ocIuçào"eraas c.onsld eJí sobi e d'1cações de Ricardo
,
in
~e ·
se u li vro
freyre (ARAUJO. Gu erra e paz· "Casa g
·•ílções e
1
ea
nzala"
se
&
- rance
.
i, IJíC Gilberto . Freyre nos anos 30).
so d Gilberto
.
olJfª e ER Tb e protestan t etb ic an.d tbe spiril of capita/is m, especial
mente
·
10 ver \~Eíl
0
•
°
5
p.1 0 · LANDA. Thoma s Ma nn e o Bras il. Ve r também HOLA NDA. Th omas
11
ver HO
Mann.
A morte em Veneza .
.
.
11MAN N·
.
al - e modernismo· AVELI NO FILH
JEL Estética - Revista trimens
O.
'
. ,,
d
O "R ,
·
1~ 1EON
,
L' •tudos Cebrap; PRAD . . d a1-zes. do ' Brasil , e O moderni smo· De carater
~r0 vosµ~• ·
am a sao m 1dspensaveis para fal ar sobre a tra1.eb' gráfi co dois textos
.
,
'
mais 10
. h'istoeles do punho do próp no
dernista de Serg10 Buarqu e,, um
.
.
tóna mo
e de Holand a: ensai·o so 6 re
Buarqu
de Serg10
. d . BARBOSA . Verdes anos
. ,,
d
, " ,
na or.
sua formaçã o intelectual ate Ra1zes o Brasil , p.27-5 4; HOLANDA . Tudo
em cor-de-ro sa, p .4 12-425.
dialétic a na experiê ncia intelectual brasileira:
14 Ver ARANTES. Sentime nto da
dialética e dualidade segund o Antonio Candido e Roberto Schwarz , p.20-22.
1
•
1s
CANDIDO . O significado de "Raízes do Brasil", p .XLII.
Idem.
O FILHO. Revista
11 COSTA LIMA. Socieda de e discurso ficciona l; AVELIN
Brasileira de Ciência s Socia is; WE RNECK VIANNA. A revolução passiva :
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16
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COELHO J ' ºªº Marcos
Ad
conclusõ
d
·
emocrac1.a é difícil : as obse rvações e as
es e um esp . 1·
✓
Entrevist
ecia ista com base no exame d a histona
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' ' ,~!:~\-···~?fi.l
Este livro discute questões ê~f:í\,:
trais do pensamento de Sérgió}tt~
Buarque de Holanda e inter- .,..
preta inicialmente Raízes do
Brasil para depois estabelecer
vínculos entre este clássico e a
reflexão que Sérgio desenvolve
acerca da noção de fronteira
no Brasil. Tal reflexão é examinada em comparação com o
debate norte-americano sobre
a idéia de expansão para o
Oeste e com as contribuições
de Visão do Paraíso, destacando-se, então, que o conceito de
modernidade, com O qual opera,
jamais exclui o diálogo com as
tradições culturais do país .
,
1
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