Honduras põe política de lado para sonhar com Copa do Mundo

  • Bruno Garcez
  • Enviado especial da BBC Brasil a Tegucigalpa
Jonathan, vendedor de camisetas da Seleção hondurenha (foto: Bruno Garcez)
Legenda da foto, Jonathan está lucrando com o jogo da Seleção hondurenha

Neste fim de semana, Honduras poderá unir as suas diferentes facções e brilhar no exterior - ou se isolar da comunidade internacional.

Em meio à maior crise política do país nos últimos anos, a seleção de Honduras enfrenta no sábado, na cidade de San Pedro Sula, a equipe dos Estados Unidos.

Uma vitória sobre os americanos irá carimbar o passaporte rumo à África do Sul, sede da Copa do Mundo de 2010. Caso se classifique, será a primeira vez que o país disputa o torneio desde 1982.

Os hondurenhos são fanáticos por futebol e por 'la H', o apelido da esquadra nacional. A disputa entre as principais equipes do país, Olimpia e Motagua, costuma parar as ruas da movimentada Tegucigalpa.

O clássico foi disputado na semana passada e, ao longo daqueles 90 minutos, a nação pareceu esquecer o conflito que teve início em 28 de junho, data da deposição do presidente eleito, Manuel Zelaya.

A paixão pelo futebol é tão grande que até mesmo os soldados e policiais que bloqueiam a Embaixada do Brasil, onde Zelaya está abrigado, dizem que irão instalar um telão para permiti-los assistir à partida da seleção. "O país inteiro vai parar entre hoje e amanhã", afirma um deles.

A rivalidade entre as duas principais equipes hondurenhas também rende brincadeiras e provocações entre os guardas na Embaixada. "Não entreviste ele, ele não entende de futebol, é torcedor do Motagua", afirma o inspetor Molina, seguidor do Olimpia, sobre seu colega, o motaguense inspetor Valladares.

Sem privilégios

Mas o líder deposto não contará com os mesmos privilégios dos agentes de segurança do lado de fora da Embaixada. "Não há televisores lá dentro. O jeito vai ser ele acompanhar a partida pelo radio", disse à BBC Brasil a filha de Zelaya, Xiomara Hortensia.

Manuel Zelaya lê Bíblia na Embaixada brasileira em Tegucigalpa
Legenda da foto, Zelaya não tem aparelho de TV na Embaixada brasileira
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Fim do WhatsApp

Para os hondurenhos, a vitória da Seleção, que atualmente ocupa o 42º lugar no ranking da Fifa, fala mais alto do que a crise política.

"Os problemas políticos atuais não afetam em nada. Porque as pessoas vão apoiar o futebol, não estão pensando em política. Estão concentradas em apoiar a Seleção, porque seria fenomenal se ela ganhasse. Estaríamos no Mundial", comenta o vendedor Hector Castro.

"A situação atual é bem difícil. Mas quando joga 'la H' todos se esquecem de tudo. É a etapa final. E todos vão com toda a gana do mundo. Há confiança e qualidade. Creio na força de 'la H', sempre", afirma o contador Herson Soto, que enfrentará nove horas de viagem, somando ida e volta, entre Tegucigalpa e San Pedro Sula para assistir à partida ao vivo.

A tese de que futebol e política não se misturam pode ser forte entre os torcedores, mas os atletas do time nacional chegaram a ensaiar uma manifestação de caráter político, que acabou sendo abortada.

A Confederação das Américas do Norte e Central e Caribe de Futebol (Concacaf) rejeitou o pedido que havia sido feito há alguns meses pela Seleção de entrar em campo com um símbolo da paz na camisa, em referência à situação política no país.

Desde a deposição de Zelaya, o governo interino de Honduras tem imposto sucessivos toques de recolher e após o regresso ao país do presidente deposto, chegou a ampliar as restrições a que seus cidadãos andassem pelas ruas do país, em até mais de 24 horas.

Tais medidas, naturalmente, afetaram fortemente o comércio do país. Mas agora alguns vendedores ambulantes estão indo à forra.

Aos gritos de "Bon precio, la H", diversos deles fazem ponto nos sinais de trânsito vendendo camisetas da Selação.

"Ontem vendi só cinco, mas hoje (quinta-feira), já foram 15. Se conseguir vender todas, vou faturar US$ 100", disse o vendedor Noel.

Segurança

Apesar do clima de euforia, há também preocupações. A Fifa decidiu manter a partida em solo hondurenho, mesmo em meio a temores sobre a segurança no país.

Mas para garantir o bem estar de atletas e torcedores, foram impostas rígidas medidas de segurança no Estádio Olímpico Metropolitano, com capacidade para 40 mil espectadores.

Haverá um efetivo de 1,2 mil pessoas atuando no local entre policiais, soldados, bombeiros e peritos do esquadrão antibomba.

Os hondurenhos parecem unidos em torno de sua equipe, mas se o pior acontecer, não seria a primeira vez na história de Honduras que o futebol leva à violência.

Em 1969, quando as duas seleções disputavam partidas que garantiriam uma vaga para o Mundial de 1970, Honduras e El Salvador chegaram a entrar em um conflito armado que durou quatro dias e no qual 2 mil pessoas foram mortas.

Conhecido como a Guerra do Futebol, o conflito teve início após torcedores e imigrantes das duas nações terem sido perseguidos e assassinados no curto espaço entre as três partidas jogadas entre as duas seleções.

Agora, não há um inimigo externo. E os hondurenhos estão dispostos a colocar as suas diferenças políticas de lado para se unir em torno da Seleção do país.as poderá ou unir as suas diferentes facções e brilhar no exterior ou se isolar da comunidade internacional.