Para celebrar os 20 anos da medalha de ouro de Fernando Meligeni no Pan-Americano de Santo Domingo, eis o relato, em primeira pessoa, da final contra o chileno Marcelo Rios. O texto é um dos capítulos do livro "Aqui Tem! Vitórias e Memórias de Fernando Meligeni", que escrevemos juntos.
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Marcelo Rios era o problema.
Cheguei à final dos Jogos Pan-Americanos, em Santo Domingo, tendo passado pouco mais de três horas na quadra, em quatro jogos. Não perdi nenhum set para o argentino Carlos Berloqc (6/2, 6/3), para o americano Jeffrey Morrisson (6/3, 6/4), ou para o venezuelano Jose De Armas (6/4, 6/2). O jogo mais complicado foi contra Morrisson, porque ele tem um estilo de saque e voleio. O Maurão (Mauro Menezes, técnico) tinha visto um jogo dele e me aconselhou a me preparar para enfrentar um cara que botaria pressão, subindo à rede o tempo todo, insistindo em bolas na minha esquerda. Consegui executar nosso plano de fazê-lo se mexer para os dois lados, tirando a bola da altura da cintura para incomodá-lo. E deu certo. O calor também ajudou, porque ele ficou bem vermelho...
Não posso esquecer que, na segunda rodada, tive a vitória mais fácil da minha carreira, contra o porto-riquenho Gabriel Montilla. Por W.O. (sigla para Walk Over).Ele não apareceu. Foi a primeira vez que eu vi isso acontecer no tênis profissional. Cheguei ao clube bem cedo para me aquecer. O jogo era o primeiro do dia, às dez da manhã. Exatamente no horário, eu já estava dentro da quadra, esperando por um cara sobre quem eu não tinha nenhuma informação. O tempo ia passando enquanto eu pensava em como analisaria o jogo dele nos primeiros games... e nada do rapaz. O juiz virou para mim e disse que iria marcar 15 minutos. Cinco, dez... e continuamos esperando. Não seria nada mal ganhar sem um pingo de suor, além de uma chance de me livrar de uma surpresa desagradável, se ele fosse aquele moleque que ninguém conhece e joga muito tênis. Quinze minutos. Concluímos que meu adversário definitivamente não vinha.
O árbitro me explica a regra, que eu nem conhecia: “A partir do momento em que eu te informar que o tempo acabou, você tem de sair da quadra. Quando você pisar fora da quadra, acabou, você venceu por W.O. e não tem mais volta.” A coisa parece um ritual medieval, mas é assim mesmo. Iniciei a curta caminhada para fora da quadra, pensando no que faria se o visse correndo desesperado, como um aluno atrasado para uma aula que não poderia perder. Se saio, posso parecer meio cagão. Se fico, e perco, jamais me perdoaria. Olhei pra baixo e esperei o grito “NÃO SAIA DA QUADRA!!”, que não veio.
Gabriel Montilla havia sido traído por um erro de sua técnica, a ex-tenista porto-riquenha Gigi Fernandez, que disse que ele só tinha um jogo de duplas naquele dia, às 2:30 da tarde... Portanto, não é exagero dizer que o sol de quarenta graus e as rajadas de vento no Parque Del Este, local dos jogos, me atrapalharam mais, no caminho para a final, do que meus próprios adversários.
Mas faltava o último. E, desde que chegamos à República Dominicana, eu sabia que encontraria o chileno, conhecido no circuito como “El Chino”, mais cedo ou mais tarde. Apesar de suas famosas alterações de humor, ele estava lá para ganhar uma medalha de ouro inédita para o Chile, turbinado por um prêmio de 50 mil dólares oferecido pelo Comitê Olímpico de seu país. E tinha certeza absoluta de que a medalha já estava em seu pescoço. E o dinheiro, no bolso.
Não o culpo. Da mesma forma que eu analisei minhas chances, ele fez o mesmo. E da mesma forma que o identifiquei como meu principal adversário, ele pensou o mesmo a meu respeito. Deve ter se animado, já que o histórico de nossos confrontos era TOTALMENTE favorável a ele: cinco vitórias em cinco jogos. Nos primeiros dias, enquanto ainda experimentávamos a quadra, o Maurão marcou um treino entre nós dois. Tomei um 6/1 categórico, e lembro do comentário do meu técnico logo depois.
"Pô Fino, não tem nenhum furo no jogo dele!"
Dois dias depois, marcamos outro treino. Eu tinha dado uma entrevista para o jornal da cidade, falando sobre a minha decisão de encerrar a carreira no Pan. Não sei se Rios leu ou alguém comentou, o fato é que ele veio falar comigo.
Disse que também estava pensando em parar, mas ainda não sabia quando. E fez uma brincadeira que não me caiu bem no estômago: "Que lastima, en tu despedida, veniste por la medalla de plata...". Ele me venceu, de novo, por 6/2, o que me incomodou bem menos do que a provocação em tom de brincadeira, que me lembrou de um episódio que aconteceu no torneio de Washington (EUA), no ano anterior.
Eu tinha vencido Andy Roddick na terceira rodada, e estava muito confiante para enfrentar Rios, pelas quartas-de-final. Ganhei o primeiro set por 6/3, perdi o segundo por 6/4 e, no terceiro, tinha 5/3 e saque para fechar o jogo. Saquei com match-point e, depois de uma longa troca de bolas, ele subiu à rede. Tentei uma passada e, num lance em que mostrou toda sua habilidade, Rios fez um voleio botando tamanho efeito na bolinha, que ela quicou na minha quadra e voltou para o lado dele. Eu corri como um louco tentando chegar, acabei me desequilibrando e me enroscando na rede, só para vê-lo pegar a bola com a mão e me olhar com aquela cara de veja-só-como-eu-sou-foda...
Perdi o jogo e uma aposta. Antes do torneio começar, tinha dito ao (tenista brasileiro) Flávio Saretta, ao (técnico de Saretta, na época), João Zwetsch, e ao (meu técnico) Enrique Perez que, se eu chegasse à semifinal, iríamos todos para Long Island (torneio seguinte) de limusine, por minha conta. Como perdi, alugamos um carro qualquer. Eles me xingaram a viagem toda: "Carro de merda..."
O fato é que eu teria uma lembrança muito mais agradável de Marcelo Rios se conseguisse vencê-lo em meu último jogo como profissional. E a teoria não era complicada. Eu sabia que ele jogaria 80% das bolas na minha esquerda, portanto uma parte do meu plano de jogo era me movimentar muito, chegar nas bolas a tempo de fugir da esquerda e usar minha direita (uma explicação: no tênis, o golpe de direita é chamado de forehand - imaginando que a raquete não existe, é o golpe dado com a palma da mão na bolinha. O golpe de esquerda recebe o nome de backhand - imagine "as costas" da mão em contato com a bolinha. Portanto, um tenista canhoto, como eu, bate a direita do lado esquerdo do corpo, e vice-versa.). Eu também teria de ser muito agressivo, surpreendê-lo ao tomar a iniciativa de atacar. E o mais importante: teria de "ficar com ele", não deixá-lo se distanciar, mostrar que iríamos caminhar juntos até o final.
Da teoria à prática, as coisas não poderiam ter começado de forma melhor para mim, naquele domingo de dia dos pais. Meu plano de jogo estava funcionando à perfeição, fugindo da esquerda e disparando bolas vencedoras com a ajuda da quadra rápida. O chileno ficou surpreso. No esporte, quando isso acontece, geralmente o reflexo aparece no placar. Fiz 3 games a zero, quebrando o primeiro serviço dele. E depois tive vantagem de 4 a 1.
Mesmo perdendo o jogo, a cara de Rios era de deboche. Ele me olhava (é um dos jogadores que mais encararam o adversário durante uma partida) como se quisesse me perguntar: onde estava essa vontade toda quando treinamos? Sacando com 4 a 2 e 40/30, desconcentrei-me numa bola que desviou na fita da rede e foi para fora, e perdi um pouco do foco. Erro fatal que levou à quebra do meu serviço. Um game mais tarde, jogo empatado: 4 a 4.
Aqui vamos nós de novo, pensei. Bastou um momento de desconcentração para que eu desperdiçasse uma vantagem considerável.
No 5/5, não consegui confirmar meu serviço. E quando Rios sacou para fechar o primeiro set, com tudo a seu favor, mostrou um problema que iria acompanhá-lo por toda a tarde: falta de confiança. Cometeu duas duplas-faltas em momentos importantes do game, não sacou bem. Quando um tenista como ele, que já foi número 1 do mundo, está confiante em seu jogo, raramente falha em pontos-chave do jogo. Fecha o game com autoridade, sem correr riscos.
Ele ganhou o game e o primeiro set. Mas quando estava sentado na cadeira, lamentando as chances que perdi, lembrei que, pelo menos, ele não parecia tão forte.
Senti o apoio da galera que estava sentada logo atrás de mim, no meu "corner": O Maurão, o (tenista brasileiro) Márcio Carlsson, o (fisioterapeuta) Alexandre, as meninas (Bruna Colósio, Joana Cortez e Maria Fernanda Alvez, tenistas brasileiras) e o Alemão (Robert Scheidt, iatista brasileiro). Todos gritando o que eu já repetia há dias na minha cabeça: fica com ele! É seu último jogo! Vamos virar essa merda!
A partir daquele momento, eles teriam uma participação importante no jogo e uma influência decisiva no meu estado de espírito dentro da quadra.
O segundo set começou muito equilibrado, sem quebras, até que joguei mal no 4 a 4 e vi a medalha me escapando. Marcelo Rios ia sacar para o jogo. Honestamente, pensei que acabaria ali. Ele não iria bobear de novo. Bastava que fizesse o be-a-bá, e eu não teria chances. Mas eu já tinha saído de tantos buracos parecidos na minha carreira, que minha atitude nesses momentos era quase automática:
Fica com ele. Ele pode te abrir uma porta. E se abrir, mete o pé.
Assim foi o game:
0/0: Devolvi bem, trocamos algumas bolas e eu arrisquei uma direita vencedora. Bola dentro.
0/15: Bom saque, Rios subiu à rede e fez o voleio. Depois, me encarou.
15/15 (1 hora e meia de jogo): Ele errou o primeiro saque. Fui agressivo na devolução e pro risco de novo: direita na linha!
15/30: Errou o primeiro saque. E mandou uma esquerda pra fora. (o ponto anterior o fez ter pressa para empatar, minha agressividade deu resultado)
Ali estava a chance, a porta aberta. Rios mostrou ansiedade na hora de vencer o jogo. Eu não podia deixar passar a oportunidade de sobreviver. Dois pontos para quebrar o saque dele:
15/40: Ace no meio. (Que hora...)
30/40: Um dos pontos mais disputados do jogo. Ele sacou bem, ficou me jogando de um lado para o outro. Cheguei em duas bolas quase impossíveis, arrisquei uma direita suicida e ele bateu a esquerda pra fora. 5 a 5!!
AQUI TEM!! AQUI TEM, CARALHO!!!
Gritei, apontando para o pessoal do Brasil, num momento de explosão que não consegui controlar. Olhei também para o chileno, pra ele ver que eu ainda tinha gás para mais algumas horas de luta. Confirmei meu serviço, para fazer 6/5. No caminho para nossas cadeiras, nos cruzamos na rede, e fiz questão de dar uma risadinha sarcástica. Agora quem estava sentado, lamentando, era ele.
Mesmo assim, Rios confirmou seu saque.
Com 6 a 6, ia começar o tie-break mais incrível que já joguei. Saí perdendo, Rios logo fez 2 a 0. Quando uma esquerda pegou um pouco da linha e o juiz cantou fora, 3 a 0. Fiz uma cena com o árbitro de cadeira, tentativa clara de parar o jogo um pouco, senão eu não duraria muito mais. Não funcionou. O placar chegou a 5 a 1, e eu estava no buraco de novo. A dois pontos da derrota, eu precisava de alguma coisa para acreditar. Qualquer coisa para me ajudar a sair.
Rios me estendeu a mão, outra vez. Fez uma dupla-falta (5/2) e me deu a oportunidade de, com dois pontos com meu saque, voltar para o jogo. Pedi a toalha, sequei os braços molhados de suor, pensando: será que ele está sentindo a pressão?
E fui sacar:
5/2: saquei bem, ponto disputado, que venci numa esquerda vencedora (deve ter sido a terceira ou quarta em toda a minha carreira...).
5/3: Ótimo saque, Rios errou a devolução.
5/4: Rios sacou bem, devolvi pra fora. Match-point pra ele.
6/4: Dupla-falta! (e a resposta para a pergunta acima: sim, está.) Mas ele ainda tinha outro match-point.
6/5: Saquei fraco, com um medo tremendo. Mas ele deveria estar com mais medo ainda: devolução na rede.
6/6: Saquei na linha, devolução errada. SET POINT pra mim!!
7/6: Bom saque aberto de Rios, subindo à rede. Mas o voleio foi pra fora.
JOGO EMPATADO!
No momento em que sentei na minha cadeira, uma coisa ficou clara: ele estava com muita dificuldade para se impor nos momentos decisivos, o que não é comum para jogadores desse nível. Eu estava longe de pensar que ganharia o jogo, mas, pô, tinha superado duas situações difíceis e o terceiro set seria de quem quisesse mais. Nós dois estávamos muito cansados, um ótimo teste para meus 30 dias dedicados à preparação física para jogar o Pan.
Nesse momento a quadra virou um caldeirão. De um lado, o Dartagnan e sua turma. Do outro, um chato que ficava puxando aquele grito “Chi-chi-chi-le-le-le, viva Chile!!”. O jogo ganhou clima de Copa Davis, ficou uma guerra, do jeito que eu gosto. Barulho do lado de fora, tensão no lado de dentro e muita provocação nas viradas de quadra. Consegui uma quebra no terceiro game, para fazer 2 a 1. Pela primeira vez em todo o dia, Rios abaixou a cabeça. E pela primeira vez, pensei que a coisa estava ficando boa para mim.
As viradas de quadra eram um jogo à parte. Nessa hora olhei pra ele e disse “Vamos Chino, tenemos muchas horas por jugar...”. A cada descanso, ouvia o tradicional “VAMOS FINO, FORÇA!!”, do pessoal atrás de mim. E as orientações (“vai pra cima dele, é hora de fechar a porta!”) do Maurão. Só que o esporte é engraçado, pelo número de vezes em que te engana pelas aparências. Justamente quando achei que ele estava entregando os pontos (afinal, já o tinha visto fazer isso tantas vezes), disputamos um game duríssimo no 3 a 2. Ele venceu, quebrando o meu saque, e empatou o set. E foi a vez dele me provocar: “Dale viejo, estás cansado?” Já não era um jogo de alto nível técnico, pelas condições. Passou a ser uma luta.
Com 3 a 3, ele sacou e fez 40/0, mas não fechou. Quando ganhei o game, Rios atirou a raquete no chão, cena simbólica que mostrou que aquilo que ele acreditava estar em suas mãos, não estava mais. Fiz 5 a 3, tive um match-point no saque dele, mas errei a devolução. Com 5 a 4, era a minha oportunidade de servir para o set, o jogo, a medalha de ouro, e a despedida perfeita.
Tenho de ganhar os dois primeiros pontos.
Foi o que me passou pela cabeça naquela hora. Eu precisava comandar o placar do game. Duas porradas bem colocadas de Rios rasgaram meu planinho: 0/30. Eu esperava que ele se arriscasse, mas nem tanto. Para piorar, fiz uma dupla-falta que levou o placar para 0/40, e me senti cavando outro buraco na quadra de cimento do Parque Del Este. Perdi o game sem fazer nenhum ponto. Dessa vez, a raquete atirada ao chão foi a minha.
“Pra cima dele de novo, Fino! Ele não tem confiança pra ganhar, você tem que acreditar e ser agressivo...”, ouvi o Maurão, tentando me trazer de volta para a realidade, sabendo que as coisas estavam por um fio. As pessoas sempre querem saber o que a gente pensa durante um jogo, o que usamos para nos estimular nas horas mais difíceis. Eu só posso falar por mim, mas garanto que, muitas vezes, não dá pra pensar em nada. Outras vezes, minha cabeça é invadida por tantas coisas, que não lembro o que eram. O mais importante é que simplesmente não dá tempo para ficar conjecturando sobre a importância daquela situação e o que fazer a respeito dela.
Tudo isso para dizer que... sim, eu pensei em um monte de coisas. Enquanto Marcelo Rios se preparava para sacar, com 5 a 5, no terceiro set do meu último jogo de tênis. Pensei nas duas vezes em que estive muito perto de conquistas importantíssimas, em que tive a chance de fazer história, e essa chance me escapou. Pensei na Olimpíada de Atlanta, em 1996, e no torneio de Roland Garros, em 1999. Em Atlanta, perdi uma medalha olímpica. Em Paris, perdi na semifinal. Perder é do jogo e da vida, eu sei. Mas algumas derrotas são mais difíceis de ser digeridas. O gosto ruim fica, como se só uma grande alegria fosse capaz de eliminá-lo. Eu não queria viver aquilo de novo, mesmo porque não teria como fazer nada. Minha carreira terminaria naquela tarde...
Rios me atropelou para fazer 6/5. De repente, ou eu levava a decisão para mais um tie-break, ou tudo (e eu quero dizer, TUDO) acabaria ali mesmo. Já passávamos de 2 horas e 40 minutos de jogo, quando cometi erros não-forçados nos dois primeiros pontos do game. Àquela altura, Rios tinha ganhado dez pontos seguidos. Calor, cansaço, pressão, chances perdidas. Meu humor não estava dos melhores. Acertei um saque que ele não devolveu, mas joguei uma bola na rede no ponto seguinte: 15/40.
Sacando com dois match-points contra, não havia muita margem para erro:
15/40: Grande saque, ele quase não tocou na bola.
30/40: Outro bom saque, devolução na rede.
40/40: Subi à rede, voei numa passada na paralela muito difícil, mas deixei a quadra aberta para ele vencer o ponto. Na rede, Rios vibrou na minha cara. Match-point. Momento de raiva quase insuportável, odeio perder esses pontos suados.
Vantagem-contra: Ponto disputadíssimo. Mandei uma bola na fita e outra na linha, e fechei o ponto com uma paralela arriscadíssima. Fechei o punho e gritei com o que me restava de força: VAMOOOOOOOOOOOOOOSSSSSS!!
Iguais: devolução na rede.
Vantagem-a-favor: outra devolução na rede! 6 a 6.
E no tie-break decisivo, eu abri 5 a 1.
Exatamente o mesmo placar que Rios teve no segundo set.
Se fizer 6 a 1, eu ganho, pensei, e mandei uma direita na linha, que até hoje eu tenho certeza de que pegou mesmo um pedaço da linha e foi o meu sexto ponto.
Mas o juiz cantou bola fora.
Ajoelhei no meio da quadra, mas obviamente não adiantou, 5 a 2.
No 5 a 3, Rios mandou uma bola para fora, e me deu três match-points, os dois primeiros com meu serviço:
6/3: Primeiro saque na rede. No segundo, boa devolução de Rios, erro não-forçado.
6/4: Primeiro saque pra fora. No segundo, devolução funda, erro não forçado. Minhas pernas já estavam na ambulância...
O que está acontecendo aqui?! Como posso querer ganhar, se nem consigo fazer ele jogar?
Apenas um pensamento para o ponto seguinte: manter a bola na quadra, passar a pressão para o outro lado.
6/5: Bom saque de Rios, devolvi na linha de fundo, e ELE BATEU UMA ESQUERDA CURTA, QUE NÃO PASSOU!!!
5/7, 7/6 (8/6) e 7/6 (7/5), em 2 horas e 53 minutos de jogo.
Minha raquete foi pelos ares, não parei de pular até a quadra ser invadida por atletas, torcedores e jornalistas. A sensação é a melhor que um esportista pode experimentar: a mistura da alegria com o cansaço. É como se as dores de cada parte do seu corpo fossem lembretes de que, naquele dia, ninguém foi melhor do que você. Que você está sozinho, no topo. Os pensamentos foram muitos, desconexos, sem fim. Tentei responder as perguntas que me pediam para descrever o que estava sentindo. Tarefa impossível. E até hoje me faltam explicações para entender como o último jogo da minha carreira foi um filme do que vivi em quatorze anos nas quadras. Um roteiro que, se eu tivesse escrito, não seria tão fiel ao tenista que fui.
Só sei de uma coisa: todo jogador deveria ter a despedida que eu tive.
Fernando Meligeni após a conquista do ouro pan-americano em 2003
Getty
No Instagram @kfouriandre
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