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Irmão conta angústia de Tite após derrota para Bélgica na Copa e papo com Mano Menezes

A história de um jogo de Copa do Mundo sempre vai ficar marcada pelo resultado final. No caso da seleção brasileira, a derrota por dois a um contra a Bélgica em 2018 foi o capítulo marcante que pôs fim ao sonho do Hexa. Mas foi também a disputa que serviria para calejar o comandante do time brasileiro.

Ao término do jogo, Tite teve um encontro com Roberto Martínez, treinador da Bélgica, que levou a equipe a uma inédita semifinal de Copa do Mundo. Martínez elogiou o trabalho do brasileiro, reforçou então que ao Brasil tinha faltado sorte, porque chances de gol surgiram diversas vezes. Serviu apenas para amenizar a tristeza, não para apagar o sentimento amargo depois daquela derrota. Não significou penas um resultado negativo, mas a necessidade de reavaliar questões emocionais.

Foi preciso deixar o tempo passar para Tite digerir o que aconteceu na Rússia. Tempo também para que enfim pudesse analisar a partida detalhadamente, rever o jogo minuto a minuto. O que só aconteceu quando o técnico foi “provocado” por colegas de profissão: “Você seria capaz de analisar aquele jogo lance a lance, Tite?”, perguntavam os treinadores Mano Menezes e Milton Cruz durante um curso da CBF em dezembro de 2018. Então Tite e o filho Matheus Bachi, auxiliar técnico e analista de desempenho da seleção, que estava fazendo um outro módulo do curso, dedicaram-se aos minutos mais angustiantes de suas carreiras.

“Apesar de doloroso, os dois dissecaram os detalhes daquele jogo. O Brasil teve muitas oportunidades. Mas outros pontos aconteceram também. Por exemplo, o jogador belga que bateu aquele escanteio do gol, nunca tinha batido. É o tipo de elemento ‘diferente’ que acontece no futebol. Um gol contra abala também. Conforme o jogo foi acontecendo, o emocional foi pesando. Quando o emocional vai lá embaixo, ele me disse, e disse para os colegas do curso da CBF, ‘eu só queria que o jogo terminasse, foi uma avalanche, o Miranda mesmo disse que acreditava que ia virar, mas isso não aconteceu’. São coisas do futebol, mas sentimos muito, ficamos muito frustrados sim com a eliminação na Copa, Copa é o ápice na carreira de um treinador ou jogador”, contou Ademir Bachi, irmão do Tite.

Ademir, o Miro como é conhecido, conta também que o irmão, um apaixonado por futebol desde sempre, vive intensamente cada momento relacionado com o esporte. “O Ade sempre foi assim. Assiste tudo, ele não desliga”. Apesar disso, encontra também tempo para jogar partidas de tênis. “Nós gostamos de todos os esportes, sempre foi assim”, confessa Ademir olhando para a quadra de tênis que integra o CELTE, Centro Esportivo e de Lazer Tite, localizado em Ana Rech, Caxias do Sul.

Nas conversas, que hoje são muito mais à distância por conta da agenda, as opiniões e decisões que são compartilhadas: “A convocação da Seleção nunca vai ser uma unanimidade. Eu mesmo questionei ele sobre os 23, o Matheus também, é normal, respeitando claro que ele sabe o que faz. Ele quem vai escolher! O Fernandinho é um exemplo. Ele sabia das críticas que receberia depois da Copa de 2018. Mas quantas pessoas realmente sabem quem é esse Fernando no vestiário? Ele é um líder! Um cara que o Tite confia e admira. Antes dele treinar a seleção, nós adorávamos assistir aos jogos do City, o Fernandinho sempre teve atuações gigantescas. Inclusive o Matheus (filho do Tite) fala sobre o ‘cabeceio’ do Fernandinho. São escolhas que todo treinador precisa fazer”.

Nem a fama, o tempo ou o cargo que hoje ocupa fizeram com que Tite se distanciasse dos amigos e das origens da serra gaúcha. É o porto seguro do treinador que é sempre celebrado pelos amigos. Entre eles, Álvaro Mentta, com quem tem longos anos de amizade e de lembranças.

“Ele sabe do trabalho que faz. Ele tem os melhores jogadores, na Copa América, o time está mais coeso. Acontece que a cobrança por resultados ela é gigantesca para seleção. Mas ele me mandou um áudio falando sobre a estreia. Disse “todos jogadores tem muita qualidade, eles parecem que têm rodinhas nos pés!” (Tite se referia a David Neres).

Com 37 jogos como treinador da Seleção, Tite contabiliza 30 vitórias, 5 empates e 2 derrotas. Embora um desempenho que em números é excelente, a eliminação na Copa do Mundo criou desconfianças. As escolhas do comandante passaram a ser questionadas, assim como os discursos de Tite. A Copa América é, sem dúvidas, um teste de fogo.

“A gente sabe que a cobrança é natural, a Copa do Mundo foi um ensinamento muito grande, foi um aprendizado para todos, para ele também e a gente nota ele mais calejado, mais experiente, mais cascudo. A gente espera que agora dê tudo certo, que o trabalho dele mereça essa conquista, a gente está esperançoso”, finaliza Ademir Bachi.