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Mundial 2006: Iarley revela revela como 'quebrou coluna' de Puyol em lance do gol Inter sobre o Barcelona

Nesta quinta-feira, o Internacional comemora o aniversário de 14 anos de sua épica vitória por 1 a 0 sobre o Barcelona, no Japão, pelo Mundial de Clubes da Fifa de 2006.

Daquela partida, todos se lembram do inesperado gol de Adriano Gabiru, já nos minutos finais da partida, e da incrível marcação feita pelo lateral-direito Ceará em cima de Ronaldinho Gaúcho, à época o melhor jogador do mundo por dois anos seguidos (2004 e 2005).

Mas quem realmente "comeu a bola" naquela partida em Yokohama, no Japão, foi o meia Iarley, que foi justamente quem deu a assistência para Gabiru marcar um dos mais importantes tentos da história colorada.

Em entrevista à ESPN, ele lembrou o momento em que chegou ao Inter, após passagens por Boca Juniors e Dorados de Sinaloa, e a trajetória até chegar ao Mundial.

"Na época, o Inter queria alguém com as minhas características dentro de campo, e também me procurou por eu ser um cara de grupo. Eu estava no México e queria voltar a um time grande para conquistar títulos. Não demorou muito e dois dias depois estava em Porto Alegre treinando", contou.

"No final de semana, já fiz a estreia contra o São Paulo e meti gol no Morumbi [vitória por 3 a 1, pelo Brasileirão, em 25 de junho de 2005]. Nosso time era muito bom, e quase vencemos o Campeonato Brasileiro. Em 2006, fomos campões da Libertadores e do Mundial, além de novamente vices do Brasileiro. A equipe vinha com uma base montada desde 2004 e foi colhendo os frutos", salientou.

Antes do Mundial, o Inter teve que suar sangue para conquistar sua 1ª Libertadores, principalmente nos confrontos das oitavas (contra Nacional, do Uruguai) e quartas (contra LDU, do Equador), além da disputadíssima final contra o São Paulo, que era o atual campeão.

"Fizemos uma fase de grupos bem disputada e fomos ganhando cancha na competição com jogos difíceis. Nas oitavas, jogamos contra o Nacional, que era bastante 'cancheiro', o típico time de Libertadores. Foi um confronto muito duro. Depois, pegamos a LDU e perdemos fora de casa. Por sorte, tivemos a parada para a Copa do Mundo (de 2006), que foi fundamental. A gente se fechou, fizemos a intertemporada visando o jogo de volta para reverter a vantagem deles. Passamos pela LDU em casa, depois pelo Libertad (na semi) e aí sim fomos para o jogo contra o São Paulo muito fortes", recordou.

"Na final, surpreendemos, arriscamos tudo fora de casa e deu certo: vencemos no Morumbi. A estratégia do Abel (Braga) era essa mesma, e aí conseguimos administrar o jogo de volta", relatou.

A ENTORTADA EM PUYOL

Após a conquista da Libertadores, veio o esperado Mundial de Clubes. E, antes do esperado encontro com o Barcelona campeão europeu, o Inter ainda teria uma parada duríssima na semi: o tradicionalíssimo Al-Ahly, do Egito, que é considerado um dos mais importantes times do mundo, com 9 títulos das Liga dos Campeões da África e 42 campeonatos nacionais.

A equipe de Abelão ganhou por 2 a 1, com gols de Alexandre Pato e Luiz Adriano.

"Minha passagem pelo Boca me deu a experiência de jogar Mundial e enfrentar um europeu [Iarley foi campeão sobre o Milan, em 2003]. E, no Inter, tivemos a chance de enfrentar o Barcelona. Mas temos que lembrar que o 1º jogo do Mundial, contra o Al-Ahly, foi muito difícil. Eles tinham o Aboutrika [meia-atacante da seleção egípcia] e um atacante chamado Flávio [da seleção angolana] que nos deram muito trabalho", rememorou.

"Mas essa vitória difícil fortaleceu a gente. Na outra semifinal, Barcelona passeou contra o América do México, goleou por 4 a 0 e todo mundo dava como certa a vitória deles em cima da gente", contou.

Em seguida, veio o duelo contra o Barça, em que o Colorado entrou como um enorme azarão.

No entanto, a marcação perfeita armada pelo treinador da equipe gaúcha travou totalmente os blaugranas, e o Internacional encaixou um contra-ataque preciso no final para bater o "invencível" campeão da Champions League.

"Nosso estilo de jogo era bem diferente do América. A gente marcava muito e não íamos deixar o Barça ter vida fácil. Fomos muito confiantes, jogamos de igual para igual", ressaltou.

"Quando terminou 1º tempo, a gente se olhou e disse que o jogo estava bom. Iríamos nos divertir e vimos que dava para vencer. Em momento algum achamos que não dava para vencer. Não fomos apenas nos defender ou perdermos de pouco. O Abel falou para jogarmos para frente e bonito", bradou.

O lance do gol da vitória gaúcha todo torcedor do Inter lembra: Índio dá o chutão para frente e Luiz Adriano ganha na "casquinha". A bola cai nos pés de Iarley, que aplica um drible de cinema em Puyol, deixando o zagueiro da seleção espanhola na saudade. Em seguida, o camisa 10 aciona Gabiru, que finaliza - a bola ainda resvala na mão de Valdés antes de morrer no fundo das redes.

14 anos depois, Iarley ainda lembra de cada detalhe do lance, e destaca como sua "entortada de coluna" em cima de Puyol foi essencial para o gol.

"Foi um lance bastante marcante. O Puyol foi para me dar um tranco e parar a jogada. Eu esperei, ele bateu e tive a felicidade em dar por baixo das pernas dele para mudar de direção, porque estava correndo para outro lado. O lance clareou muito e sai correndo com Luiz Adriano de um lado e o Gabiru do outro contra dois defensores do Barcelona", narrou.

"Quando você está em um três contra dois, precisa escolher certo e passar par quem está em melhor posição, porque é um momento único no jogo e precisa sair o gol. Eu escolhi o Gabiru pela posição que estava mais distante do Belletti e a maneira que dei o passe forte foi correta", explicou.

"O domínio do Gabiru foi muito bom e a execução dele, muitas pessoas acham que ele errou, mas foi de uma inteligência enorme, porque chutou com parte de fora antes que o Valdés pudesse se preparar. Quando ele viu, a bola já tinha passado por ele. Depois, foi uma explosão de alegria", sorriu.

Ficha técnica

Internacional 1 x 0 Barcelona

GOLS: Internacional: Adriano Gabiru

INTERNACIONAL: Clemer; Ceará, Índio, Fabiano Eller e Rubens Cardoso; Wellington Monteiro, Edinho, Alex (Vargas) e Iarley; Fernandão (Adriano Gabiru) e Alexandre Pato (Luiz Adriano) Técnico: Abel Braga

BARCELONA: Victor Valdés; Zambrotta (Belletti), Rafa Márquez, Puyol e Van Bronckhorst; Thiago Motta (Xavi), Iniesta, Deco e Ronaldinho Gaúcho; Giuly e Gudjohnsen (Ezquerro) Técnico: Frank Rijkaard

O PÓS-CARREIRA

Hoje com 46 anos, Iarley trabalha como coordenador das categorias de base do Inter e segue estudando futebol.

"Quando eu parei de jogar, fui muito consciente, porque eu tinha quase 40 anos. Fui aos poucos me condicionando para parar. Durante a carreira, sempre tive condicionamento muito bom e me dedicava muito nos treinos. Mas, com o passar dos anos, a força ia diminuindo... Quando vi que ia perder na corrida para os garotos, percebi que era hora de parar", ressaltou.

O meia pendurou as chuteiras em 2014, pelo mesmo Ferroviário-CE que o revelou.

"Depois, comecei a fazer cursos e veio o convite do Inter para trabalhar no Internacional. Fiquei muito feliz, e fui para a base para dar início a um projeto e passar um pouco de conhecimento. São três anos de muito aprendizado, com vários treinadores que me ajudaram muito", exaltou.

"Quando você é jogador, tem experiências práticas. Mas, quando precisa saber, precisa ter também o lado acadêmico. Por isso, faço faculdade de educação física e cursos da CBF e da Universidade do Futebol", salientou.

Iarley encerra aconselhando os jovens atletas que querem ter uma carreira longa e vitoriosa como a dele.

"Eu sempre falo que os jogadores que eles devem viver o momento com a intensidade que pede e se entregar ao máximo! Sempre tem alguém vendo. Eu fui um jogador que fui evoluindo e aprendendo ao longo da carreira. Fui 'estourar' depois dos 26 anos e aprendi a chutar de esquerda aos 30! E depois que aprendi, fiz mais gols de canhota do que com a direita (risos). É treinamento e dedicação. O importante é trabalhar", finalizou.