“Se não for campeão da Copa América, ele sai”. Você já deve ter escutado algumas versões desta frase, que embora possam ser diferentes na forma não o são na mensagem final: Tite precisa levantar o torneio que será disputada aqui no Brasil entre os dias 14 de junho e 7 de julho, caso contrário não aguentará a pressão e será demitido.
Tanto o histórico extremamente resultadista do futebol brasileiro, quanto o fato de a Seleção ter vencido as quatro edições (1919, 1922, 1949 e 1989) em que recebeu a competição atestam isso. A pressão em cima de Tite é grande, mas talvez o carimbo que esteja nas costas de Fernandinho seja algo ainda mais delicado para se lidar durante a Copa América.
O meio-campista, um dos maiores destaques no badalado Manchester City treinado por Guardiola, é o único da lista divulgada nesta sexta-feira (17) que atuou na derrota por 7 a 1 para a Alemanha, na semifinal da Copa do Mundo de 2014 – Dani Alves ficou no banco e de lá não saiu. Como se não bastasse estar presente na partida mais vexatória da história do nosso futebol, Fernandinho deixou o Mundial de 2018 crucificado como responsável maior pela eliminação nas quartas de final: foi titular no lugar do suspenso Casemiro e fez um gol contra nos 2 a 1 a favor dos belgas.
De fato, na Seleção principal Fernandinho acumula algumas exibições que não são condizentes com a sua carreira por clubes – foi revelado pelo Athletico e ainda teve sete anos vitoriosos no Shakhtar, da Ucrânia. O problema não foram as críticas, justificáveis, pela exibição contra a Bélgica. Foram os xingamentos criminosos, pelo preconceito, que inundaram suas redes sociais. É comum que tenha demorado um tempo para se recuperar psicologicamente de um baque duplo: a queda na Copa do Mundo e o discurso de ódio que tinha nele o alvo.
Próxima partida
“Após a Copa do Mundo foi um período bem complicado pessoalmente. Por tudo que a eliminação envolveu, as ofensas e abusos vindos de pessoas, de parte da imprensa, tudo me deixou muito triste, chateado mesmo”, afirmou em entrevista ao Globoesporte.com, em fevereiro deste ano, onde também confirmou o pedido para ter ficado de fora de uma das convocações realizadas por Tite na época.
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“Em novembro, quando eu soube que seria convocado, liguei para o Edu e o Tite, e disse que naquele momento eu não estava pronto, devido a um problema pessoal. Na minha cabeça eu pensava: e agora, o que faço? Volto ou não volto? Vou ou não vou? Estava passando por uma situação delicada, que nunca havia me acontecido, então pedi mais um tempo para pensar se voltaria ou não no futuro. Minha vontade sempre foi poder servir à Seleção”.
Getty ImagesGuardiola já destacou inúmeras vezes o papel vital de Fernandinho em seu vitorioso City (Foto: Getty Images)
Vestindo a camisa do Manchester City, Fernandinho mostrou o futebol que os torcedores do clube conhecem desde 2013. Na campanha rumo ao bicampeonato inglês desta temporada, considerado por muitos o mais emocionante da história por causa da competição com o Liverpool, o brasileiro foi um dos grandes personagens. É um dos principais eixos do time, atuando à frente da zaga no 4-1-4-1. Além dos 87.7% de aproveitamento no passe, de ser líder em roubadas de bola do time na campanha (43), as três assistências e um gol, ficam na memória exibições seguras e decisivas. Contra o próprio Liverpool, inclusive.
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Fernandinho mostra nos clubes a qualidade para estar na Seleção, mas o seu histórico vestindo a amarelinha não condiz com isso. Para aumentar ainda mais esta pressão, a ausência de Fabinho – destaque do Liverpool finalista da Champions League – na lista de Tite dá um peso a mais. Esta é a primeira convocação de Fernandinho para a Seleção desde a fatídica derrota para a Bélgica. O fator pessoal, de admirar o homem e querer vê-lo dar a volta por cima, pesou para Tite incluir o jogador do Manchester City.
Aos 34 anos, também é provavelmente a última chance de Fernandinho colocar um ponto final positivo em sua história na Seleção. E com tantos traumas vividos em derrotas marcantes, o fator psicológico talvez seja até mais importante para o meio-campista nesta Copa América. Por tudo o que viveu com a amarelinha, não é absurdo pensar que ele deva estar sentindo uma pressão (e apreensão) maior até mesmo à de Tite.
