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ENTREVISTA

"Outro jogador", meia Júlio Baptista volta a São Paulo como líder e sem mágoas

Armador do Cruzeiro começou a carreira no São Paulo e deixou o Tricolor em 2003

postado em 21/09/2013 15:01

Alexandre Guzanshe/EM/D.APress

Dez anos depois de ter deixado o São Paulo, Júlio Baptista volta à capital paulista neste domingo, para enfrentar o Corinthians, no Pacaembu. O jogador chega ao estádio em uma posição tática diferente e, mesmo sem ter a garantia de vaga como titular, aparece como um dos destaques do líder Cruzeiro, principalmente depois de ter marcado dois gols na 'final antecipada' contra o Botafogo, na rodada passada do Campeonato Brasileiro.

Com quatro gols em cinco jogos pela Raposa, o meia explica que atravessa um momento bem diferente na carreira em comparação com 2003 e se diz pronto para assumir a responsabilidade no clube que tem mais chances de se sagrar campeão nacional. “Eu realmente sou outro jogador, estou diferente. Antes, eu era volante, mas agora faço as jogadas. Na Europa, consegui evoluir”, comenta.

O atleta também descarta qualquer mágoa pelo passado no futebol paulista, negando a existência de uma rivalidade a mais contra o Corinthians, apesar de o ex-alvinegro Vampeta ter propagado a alcunha de ‘bambis’ ao alegar ter visto Júlio Baptista e Kaká em uma sorveteria. “Não tem nem tem sentido eu me lembrar de coisas que não têm importância”, minimiza.

O cruzeirense também não se diz chateado por nunca ter sido procurado para voltar ao clube que o revelou. Com isso, ele assegura que seu único pensamento neste domingo é aumentar ainda mais a distância do Cruzeiro na liderança do Nacional (a vantagem é de sete pontos sobre o segundo colocado Botafogo).

Repatriado pela Raposa depois de passagens por Sevilla, Real Madrid, Arsenal, Roma e Málaga, Júlio Baptista não descarta um retorno ao futebol do exterior e, aos 31 anos, mantém a esperança de receber uma nova chance na Seleção Brasileira, guardando no currículo a disputa da Copa do Mundo de 2010.

Nelson Almeida/Lancepress!;


Depois de dez anos na Europa, como está seu período de readaptação?


Lógico que muda a maneira de jogar. Querendo ou não, o pessoal segura mais a bola aqui, enquanto lá fora isso não acontece muito. Há algumas coisas que têm de ir se adaptando, mas, para mim, está supertranquilo. Claro que eu vinha de pré-temporada, e no Brasil já estamos na metade da competição. Ficou complicado para chegar jogando, porque venho de um calendário diferente, mas tenho certeza de que vou jogar e ajudar, sendo muito produtivo.

Diante do Botafogo, a impressão que deu é de que você ganhou mais confiança depois de ter feito o gol de pênalti (marcou mais um em seguida, na vitória por 3 a 0).

Jogador tem de sentir a confiança. Tenho personalidade e assumo mesmo a responsabilidade por onde eu passo. Isso ajuda muito também, para poder jogar. Nós estávamos em um jogo muito importante, em um momento complicado, depois que o Botafogo perdeu um pênalti. A gente tinha de sacramentar mesmo.

Você acha que a vitória garantiu o título antecipado?

Não acredito nisso. Acredito no trabalho do dia a dia, e pouco a pouco podemos conseguir nos sagrar campeões, mas, faltando todo o segundo turno, é muito complicado falar isso agora.

O que mudou em seu futebol de dez anos até hoje?

Tudo. Eu realmente sou outro jogador, estou diferente. Antes, eu era volante, mas agora faço as jogadas. Na Europa, consegui evoluir.

Você fará seu primeiro jogo em São Paulo neste retorno ao Brasil. Fica uma expectativa maior?

Não, nenhuma, é uma coisa normal para mim. Como fiquei muito tempo fora, jogar em São Paulo ou no Rio é tudo igual. A única coisa que temos em mente é nos manter focados para conseguir mais pontos e manter a regularidade.

Por ter sido formado no São Paulo, existe uma rivalidade maior para o jogo contra o Corinthians?

Não, nenhuma. A única motivação que tenho é de continuar deixando o Cruzeiro mais longe dos nossos rivais. Espero que o Cruzeiro siga líder, independentemente do momento do Corinthians.

Ficou alguma mágoa pelas provocações que o Vampeta fazia ao São Paulo em sua época, fazendo piadas sobre ‘bambi’?

Acho que o futebol é momento e eu vivo o hoje, depois de dez anos fora. O que passou ficou para trás, e estou no Cruzeiro, vivendo uma fase diferente na minha carreira, com meu time líder e só me preocupando com o campeonato. Não tem nem tem sentido eu me lembrar de coisas que não têm importância.

Com sua boa fase no Cruzeiro, o torcedor do São Paulo pode sentir saudades. O clube o procurou em algum momento durante sua passagem pela Europa?
Não, nunca teve (contato).

Você acha normal nunca ter existido uma proposta?


É uma opção. Fui formado no São Paulo, mas o clube pode preferir jogadores diferentes. Acho que eu não me encaixava no que o São Paulo queria e quem abriu as portas para mim foi o Cruzeiro. Sou muito grato por isso e agradeço pela oportunidade que recebi para voltar. E claro que tenho também um respeito muito grande pelo São Paulo.

Seu pensamento é de encerrar a carreira no Brasil ou ainda pode voltar ao exterior?


Penso sempre em viver o dia a dia, não sei o que vou fazer depois de dois anos, porque futebol muda rápido e não dá para fazer grandes projetos de longo prazo. O que tenho hoje é de ficar focado em meu trabalho, com o objetivo de ganhar títulos pelo Cruzeiro.

Depois de ter disputado a Copa do Mundo de 2010, você ainda projeta voltar à Seleção Brasileira?
Se seguir no ritmo em que estou, espero pelo menos concorrer a uma vaga. Vou brigar e, se estiver em bom nível e com bom futebol, por que não?

Durante a Copa, seu contato era tranquilo com o Dunga?


Todos os jogadores que trabalharam com o Dunga não têm uma palavra má sobre ele. É grande treinador e pessoa, mas, infelizmente, quando não se ganha, a carga é muito pesada, ainda mais no Brasil, porque sabemos da cobrança para vencer sempre. Não sofremos muitas derrotas, mas perdemos quando não podíamos.

Para voltar à Seleção, você precisa de destaque pelo Cruzeiro. Esperava um início tão bom no clube?

O princípio sempre é importante, mas tenho de frisar que ajuda muito quando o time está muito bem, para as coisas acontecerem naturalmente. Tudo flui, sem você precisar fazer um esforço sobrenatural. Todo mundo entendeu o que o treinador quis passar e isso me ajuda bastante.

Como está sendo seu contato com o Marcelo Oliveira?

Estou há pouco tempo aqui, não deu nem dois meses ainda. É um grande treinador, mas realmente temos muito pouco tempo para trabalhar, pelo fato de os jogos serem próximos uns dos outros. A conduta dele mostra que vai fazer um grande trabalho no Cruzeiro.

Você acha natural ainda não ser titular absoluto neste início?


A sequência vai acontecer naturalmente. Não aconteceu também porque sofri uma pancada contra o Vasco, senti dor e, para não agravar, preferi até não atuar durante uma semana, porque tinha feito quase dois jogos completos. Tive mais uma precaução para não ter lesões, já que vim de pré-temporada. Mas tenho certeza de que pouco a pouco vou conseguir entrar e me fixar como titular, para ajudar o Cruzeiro.

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