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Joanna Maranhão ressignifica carreira após passado doloroso e se aposenta: 'Estou em paz'

Depois de engravidar e sofrer um aborto espontâneo, nadadora concluiu que estava na hora de reestruturar prioridades e dar início a novos projetos

postado em 27/07/2018 18:07 / atualizado em 27/07/2018 19:50

Bernardo Dantas/ DP/D.A Press
Quase 30 anos na água. É o ciclo de uma carreira longeva que está se fechando para que novos ciclos de abram. É o adeus às competições como nadadora, mas jamais um adeus à modalidade. Esse é só o começo, ou melhor, mais um recomeço na história da pernambucana Joanna Maranhão, que tomou a decisão de aposentar das piscinas, aos 31 anos de idade.

Consolidada como a maior recordista da natação brasileira, marcada por grandes conquistas sul-americanas e sendo a atleta com o maior número de participações olímpicas da natação feminina, ela sentiu que chegou a hora de parar de nadar em alto nível para priorizar outros projetos. Confira a entrevista da atleta à reportagem do Superesportes.
 

O que te levou à decisão de fechar o seu ciclo como nadadora?

“Não existe um motivo específico definido, as coisas simplesmente foram acontecendo. Eu estava treinando forte quando minha ideia era ir para Tóquio disputando os 200 metros medley como prova principal. Eu realmente planejava estar ali, nadando forte. Neste período de treinamento, porém, eu engravidei e acabei sofrendo um aborto espontâneo sete semanas depois. Foi um processo muito sofrido, mas apesar da perda, eu me tornei mãe ali, ainda que eu não tenha colocado o meu filho no colo. Esses acontecimentos me fizeram ter uma outra ideia das minhas prioridades e, de repente, não enxerguei mais Tóquio como uma realidade. A partir daí, tomei a decisão de parar de competir. A página chegou ao fim.”
 

Diante da notícia de sua aposentadoria, muitas pessoas cogitaram a possibilidade você se candidatar para assumir algum cargo político, devido ao seu engajamento com temáticas deste cunho. Os boatos se confirmam?

“Deixo claro que estou aberta a tudo, menos a me candidatar no ramo político. Não se faz política só pleiteando cargo. Gosto da política que eu faço, e do discurso que eu construo. Isso pra mim também é fazer política, não importa a grandeza pública disso.” 
Bernardo Dantas/ DP/D.A Press
 

Hoje você se sente satisfeita com tudo o que cumpriu na sua carreira ou você se aposenta com o pensamento de que queria ter conquistado mais?

“Eu não deixei nada pra trás. Vivenciei várias fases, desde a aborrecência, de não querer nadar, até o amadurecimento de superar meus traumas. Sei que, pelo meu talento, eu poderia ter conquistado Mundiais, mas vivi uma experiência de abuso sexual aos 9 anos de idade. Enquanto todos os atletas buscavam medalhas e recordes, eu me vi com depressão, focando em sobreviver. Considerando todas as barreiras que enfrentei, estou muito satisfeita. É uma relação linda que eu tenho com a natação de ressignificação de experiências, de resiliência, de superação. Hoje estou em paz comigo mesma” 
 

Qual foi o dia mais difícil da sua carreira?

“O dia mais difícil, surpreendentemente, começou mal, mas terminou sendo maravilhoso. Eu estava no balizamento do Pan-americano de 2011 quando tive uma crise de pânico. Eu só conseguia me se sentir em perigo. Eu queria sair dali. No final de tudo, eu me equilibrei emocionalmente e conquistei a medalha de prata, um feito que não acontecia desde 2003. Eu quase ganhei a prova. Me emocionei muito no pódio porque consegui driblar uma crise” 
 

Qual é o título/classificação/recorde que você considera mais importante/difícil de conquistar em sua carreira? 

“Um dos mais especiais para mim, devido às dificuldades de conquistar, foi a vaga de Pequim, em 2008, porque voltei a bater recorde sul-americano. Eu não estava no meu melhor ano, tecnicamente falando, mas foi ali que voltei a acreditar que era possível dar a volta por cima. Aquele foi o ano que eu trouxe minha história à tona. Tive que ralar bastante e superar muitas coisas, em todos os sentidos, mas faço um parêntesis: tenho um carinho muito grande pelas minhas derrotas, porque elas são aprendizado pra mim. Sempre falei delas com muita naturalidade. A vida é plural, é cíclica.” 
 

Ao longo de seus quase 30 anos de natação, quem foi o seu maior incentivador?

“Certamente, foi a minha mãe. Quando ela se separou do meu pai, eu já era campeã brasileira e, a partir daquele momento, ela tomou a frente de tudo na minha vida. Nas vezes em que pensei em parar de nadar, minha mãe sempre dizia ‘você não vai fugir’. Se não fosse por ela, acho que eu teria desistido da natação em meio às minhas crises”
Joanna Maranhão/Instagram
 

Você tem uma presença forte nas redes sociais e recebe um carinho muito grande das pessoas. Como você construiu todo esse carisma e como reage à admiração dos seus fãs?

“Optei por criar proximidade com as pessoas abrindo a minha vida para além da natação. Eu também tenho competições internas na minha vida, que não dizem respeito ao esporte, e eu falo sobre elas com quem interage comigo. As pessoas me contam seus traumas, querem abraço, quero afago. Gosto de ajudá-las e ter isso como missão de vida. Tento humanizar a figura pública que me tornei, interagir e aprender com todos.”
 

Você apenas se aposentou das piscinas ou, de fato, concluiu a sua carreira na natação, de um modo geral? Quais são os planos para o futuro? 

“Não tem como tirar a natação de mim. Essa decisão de me aposentar já está sendo maturada a meses, mas não vou encerrar minhas atividades na piscina. Hoje eu nado e quero continuar nadando como uma terapia. Além disso, sou formada na área, dou aula pra crianças da rede pública e quero alavancar meus projetos sociais. Minha missão é com a infância e com o esporte. Ainda não defini como será a minha presença na natação, mas meus planos são seguir na modalidade. O meu papel apenas mudou de lugar. Estou aberta para novidades.
Karina Morais/Esp.DP
 


Abaixo, você confere algumas das conquistas de Joanna ao longo de sua carreira:


- Maior número de participações olímpicas da natação feminina do Brasil (4x)

- Melhor resultado da natação feminina do Brasil em Olimpíadas

- 5º lugar na prova dos 400 metros medley - Atenas 2004
* Igualada com Piedade Coutinho 5º lugar 400 metros nado livre Berlim 1932

- Maior recordista brasileira da história (27 recordes)

- Nadadora com maior número de recordes brasileiros em vigor (40 recordes)

- Nadadora sul-americana com maior número de recordes continentais em vigor (7 recordes)

- Única nadadora da história campeã brasileira absoluta nos 4 estilos e medley