Allan Simon

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5 efeitos que o novo Mundial de Clubes da Fifa vai causar na TV brasileira

A Fifa oficializou hoje a realização do novo Mundial de Clubes com 32 participantes entre os dias 15 de junho e 13 de julho de 2025 nos Estados Unidos. Palmeiras, Flamengo e Fluminense, campeões da Libertadores entre 2021 e 2023, já têm vaga garantida no novo formato do torneio.

O Brasil só pode ter mais um representante se o campeão da próxima edição da competição continental for um time brasileiro diferente (São Paulo, Grêmio, Atlético-MG, Botafogo ou Red Bull Bragantino).

A nova competição será disputada a cada quatro anos, assim como a Copa do Mundo de seleções. Para preencher o espaço deixado pelo atual modelo, a Fifa confirmou a criação de um torneio que resgatará o nome "Copa Intercontinental" e contará com representantes de todas as confederações, mas com regulamento diferente e sem sede fixa durante toda a sua disputa.

A coluna analisa agora os efeitos que essas mudanças provocarão na TV brasileira. O novo Mundial de Clubes não tem ainda os direitos de transmissão negociados com o mercado nacional. Mas já é possível imaginar o que causará a partir de agora.

1 - Mundial de Clubes vira "Copa do Mundo" de fato

Com 32 participantes, quase um mês de duração, e formato idêntico ao usado pela Fifa nas Copas do Mundo de seleções masculinas entre 1998 e 2022 (e desde 2023 na edição feminina), o novo Mundial de Clubes passará a ser de fato uma Copa do Mundo de Clubes. Deveria ser chamada assim de agora em diante por padrão, inclusive.

Ainda não dá para imaginar totalmente se o "clima" de Copa com o qual o Brasil se acostumou ao longo das últimas décadas será replicado na versão de clubes, mas o país já tem três representantes de peso na competição. Palmeiras, Flamengo e Fluminense já vão garantir pelo menos nove jogos muito interessantes para a TV brasileira.

Sem falar no interesse natural em ver clubes como Real Madrid, Manchester City, PSG, Bayern de Munique, entre outros europeus que poderão fazer peso na audiência dessa competição.

É impossível não se pegar pensando em como seria um dia de Copa do Mundo de Clubes no qual a gente acordaria pronto para ver uma rodada de futebol envolvendo jogos como Palmeiras x Al Hilal, Flamengo x Al Ahly, Fluminense x Monterrey, Real Madrid x River Plate, PSG x Boca Juniors, etc.

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Quem comprar a nova Copa do Mundo de Clubes para transmitir no Brasil precisará fazer um grande trabalho de divulgação para criar o chamado "hype" e fazer com que o torcedor brasileiro abrace a ideia, já que o "clubismo" muitas vezes afasta uma parcela do público que torce para times que não estarão na competição. Mas o ato de "secar" rivais, outro patrimônio nacional, poderá ser uma outra chave para ligar todos os fãs de futebol ao torneio.

A mídia precisa bater na tecla: esta é uma Copa do Mundo.

2 - TV e o risco de queda precoce dos brasileiros

Por outro lado, as emissoras de televisão e serviços de streaming que se interessarem pelo novo formato da Copa do Mundo de Clubes precisará colocar na conta a possibilidade de desclassificação precoce dos times brasileiros diante do favoritismo dos europeus. A Europa contará com 12 representantes, algumas chaves terão dois times da Uefa. Pelo menos a Fifa confirmou que vão passar de fase os dois melhores de cada grupo.

Mesmo assim, os times brasileiros precisarão de um ótimo planejamento já pensando no meio de 2025 para fazer bonito na competição. Não se deve exigir a disputa pelo título como obrigação - nem a seleção brasileira consegue mais isso há duas décadas. Mas chegar com representantes nacionais nas quartas de final, pelo menos, já deve fazer o campeonato valer muito a pena para a TV.

É claro que ainda entrará nessa conta o valor que a Fifa pedirá pelos direitos. No Mundial de Clubes atual, que não é tão caro, a TV já enfrentou situações complicadas com quedas de brasileiros nas semifinais, mais recentemente com Palmeiras e Flamengo nas edições referentes a 2020 e 2022, ambas transmitidas pela Globo.

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Pagar alto pelos direitos e correr o risco de ver os brasileiros parando nas oitavas ou antes seria um problemão. Essa conta certamente estará na mesa dos executivos das emissoras e streamings.

3 - 1º ano dos novos contratos do Brasileirão será afetado

Logo no primeiro ano do novo contrato de transmissão do Brasileirão (ou dos contratos, caso não tenhamos mesmo uma centralização dos direitos), a competição precisará ser paralisada para a disputa da Copa do Mundo de Clubes. Com três times já garantidos no evento da Fifa, e ainda tendo a possibilidade da inclusão de mais um pela Libertadores 2024, é imperativo que a competição nacional seja paralisada para que as atenções possam ficar totalmente voltadas ao Mundial.

A coluna do jornalista Rodrigo Mattos já mostrou que a Libra tem entendimentos avançados com a Globo para vender os direitos de seus clubes no Brasileirão a partir de 2025 nos jogos como mandantes. A LFU (Liga Forte União) ainda não negociou com nenhuma emissora.

Seja como for, haverá o risco de que a competição fique parada por dias sem que um brasileiro ainda esteja disputando a Copa do Mundo de Clubes. Isso acontecerá caso a CBF preveja um calendário com o Campeonato Brasileiro parado no período todo de disputa do Mundial.

Assim como já acontece quando o evento é de seleções e o Brasil cai fora nas quartas de final, mas com efeito ainda mais marcante por serem apenas os próprios clubes disputando, sem serem desfalcados por outros participantes do evento da Fifa. Ficariam parados olhando os times de outros países jogando o Mundial. Isso, é bom dizer, seria o correto, pois as atenções devem ficar com a Copa do Mundo. Mas inegavelmente seria ruim para a TV brasileira.

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4 - Nova "Copa Intercontinental" desafiará logística das TVs

Com a substituição do atual modelo do Mundial de Clubes da Fifa por uma Copa do Mundo a cada quatro anos e uma Copa Intercontinental anual, a TV brasileira vai continuar com o problema de só saber de uma competição será atrativa dias antes de sua realização, quando for definido o campeão da Libertadores.

Diferentemente da Copa do Mundo de Clubes, na qual já sabemos que Palmeiras, Flamengo e Fluminense justificarão pelo menos a elaboração de uma boa proposta pelos direitos de transmissão ainda faltando um ano e meio para o torneio, a Copa Intercontinental terá o drama que já é vivido pelo atual Mundial.

A Conmebol prevê a disputa da final única da Libertadores 2024 para o dia 30 de novembro. A Fifa definiu que a Copa Intercontinental terá uma fase prévia entre os campeões da Libertadores e da Copa dos Campeões da Concacaf. O vencedor desse jogo enfrenta o time que vier do outro lado da chave, uma disputa entre os campeões continentais da África, Ásia e Oceania. Essa partida em questão será no dia 14 de dezembro do ano que vem em uma sede fixa a ser divulgada.

Quem passar dessa partida é que vai enfrentar o campeão da próxima Champions League em jogo único no dia 18 de dezembro, no mesmo país que já terá sediado o duelo do dia 14. É um desafio, porque além de só saber poucos dias antes se haverá um brasileiro na disputa com a definição da Libertadores, ainda será preciso saber se esse time vai passar pelo campeão da Concacaf em um jogo que terá mando de campo definido por sorteio entre os dois times.

Sim, é uma bagunça. Então tentemos resumir: no dia 30/11, a TV que tiver os direitos da Copa Intercontinental saberá se um brasileiro ganhou a Libertadores. Mas não poderá fazer o esquema de cobertura para estar no país-sede da reta final em 14/12 ainda, pois no meio desse caminho o nosso representante poderá simplesmente perder para um time da Concacaf e não chegar a disputar as finais do torneio.

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Há uma lembrança do Mundial de Clubes de 2020, realizado em fevereiro de 2021 por causa da pandemia, e que teve apenas oito dias entre a final da Libertadores e a estreia do Palmeiras na semifinal (com derrota) para o Tigres-MEX. Naquela vez, pelo menos, a Globo, detentora dos direitos, sabia com antecedência de um mês que o representante sul-americano seria um time brasileiro, já que o Santos era o outro finalista da competição continental.

5 - Disputa por direitos de transmissão da Copa do Mundo de Clubes

Vai ser muito interessante acompanhar daqui em diante os movimentos das emissoras de TV e serviços de streaming na disputa pelos direitos de transmissão da nova Copa do Mundo de Clubes.

Os formatos de campeonatos de tiro curto, com um mês de duração, foram repensados recentemente pela Globo, que abriu mão de metade da Copa do Mundo de seleções para 2026, só comprou metade da Eurocopa de 2024, e verá a CazéTV transmitindo a outra parte do torneio europeu.

Mas colocar rivalidades de clubes no meio pode fazer com que a mídia brasileira entre com tudo na disputa pelos direitos da nova competição. Haverá na mesa os cenários com brasileiros indo longe ou caindo cedo, os ganhos e prejuízos com cada um deles, mas certamente haverá nove jogos de times do Brasil com camisas pesadas acontecendo ao longo da fase de grupos, a mais numerosa em termos de partidas e a maior em datas ocupadas no calendário.

Com a oficialização do formato, a Fifa já pode começar a sentir quanto o mercado brasileiro estará disposto a pagar por um evento que tem envolvidas paixões por clubes brasileiros, interesses por clubes europeus, e tem tudo para ganhar peso de Copa do Mundo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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