UOL Esporte - Copa 2006UOL Esporte - Copa 2006
UOL BUSCA

ZIDANE

Crédito

Com gol, expulsão e derrota, Zidane abandona gramados

Da Redação

Em São Paulo

Zidane terminou sua carreira nos vestiários do estádio Olímpico de Berlim, vendo a decisão nos pênaltis por um monitor de TV. Tudo estava perfeito para sua consagração total antes da aposentadoria, com direito a gol marcado no início da partida. O meia francês, porém, acabou expulso após cabeçada gratuita em Materazzi na prorrogação. O mundo lembrou que, além de dribles, gols e passes excepcionais, a carreira desse mito do futebol também foi marcada pelas expulsões, incluindo uma na Copa de 1998. De lá, viu a derrota diante da Itália e experimentou o vice-campeonato mundial que aplicou ao Brasil oito anos antes.

O roteiro começou épico: logo aos 6min de jogo, ele foi colocado na posição em que está acostumado: a de decidir as partidas. Um pênalti e o italiano Buffon pela frente. Na cobrança, tirou do goleiro, que pulou para esquerda, mas quase tirou do gol também. A bola bateu no travessão e pingou dentro. Zidane entra no seleto hall de jogadores que marcaram em duas finais de Copa (junto com Vavá, Pelé e Breitner). O gol também o deixa na quarta colocação entre os artilheiros franceses, com 32 gols, ficando atrás apenas de Platini, Henry e Trezeguet. Nesta Copa, marcou gols importantes sobre Espanha (nas oitavas-de-final) e Portugal (na semifinal) -sem esquecer as assistências como a do gol sobre o Brasil (nas quarta-de-final).

CENAS DA VIDA

Arquivo

Campeão em 98 e com a Bola de Ouro

Arquivo

Melhor do Mundo em 2000, na Juventus

Arquivo

No Real Madrid e lançando sua biografia

Arquivo

Fiasco francês na Copa de 2002, na Ásia

Arquivo

O melhor em 2003 e a despedida de Madri

EFE

Na final de 2006, festeja seu gol com o time

Reuters

Cai e pede atendimento após choque

Reuters

Observado por rival Gattuso, leva o vermelho

Reuters

Expulso, ele sai e passa por Taça Fifa

O jogo é de despedida, mas Zidane em seus últimos minutos de profissão continua a ser o maestro. Cercado por três, acha Ribery na lateral. Pressiona a saída de bola da Itália. Reúne Vieira e Makelele e passa instruções. Dribla Perrota e Pirlo e recebe falta. O segundo tempo começa empatado, mas Zidane tem mais liberdade para fazer o que sabe: controlar a bola, distribuir os passes.

O jogo ganhou tons dramáticos aos 34min quando ele cai no gramado após encontrão com Cannavaro, zagueiro italiano que já tinha nocauteado Henry no início da partida. Ele senta, aponta o ombro e faz um sinal que parece pedir substituição. A torcida francesa prende a respiração. Os médicos o levam para fora do campo, jogam um pouco de água e logo se vê que era nada grave.

Zidane volta ao gramado. Encarna o herói ferido, mas o tempo normal acaba sem desfecho e vem a prorrogação. No descanso, conversa com o técnico Raymond Domenech, dá a mão para Makelele e volta para mais 30 minutos. Trota em campo, mas dita o ritmo francês. Ribery perde chance de gol e Zidane coloca a mão. Minutos depois e ele que quase marca: após cruzamento de Sagnol, ele cabeceou para a defesa magistral de Buffon. Agora, ele reclama dele mesmo.

No segundo tempo de prorrogação, a cena triste: fora do lance de bola, Zidane bate boca com Materazzi e, de surpresa, dá uma cabeçada no peito do italiano. O auxiliar vê e denuncia ao árbitro. O maestro sai enxotado de campo (o quarto expulso na decisão na história das Copas). Abandona a faixa de capitão (que passa para o goleiro Barthez) e o campo também. O herói ferido vira o vilão dentro de campo, justo quando a França pressionava uma Itália cansada e acuada. Passa sem olhar a Taça Fifa para fora do palco. Nem voltou a campo para receber a medalha de prata das mãos de Franz Beckenbauer. O que estava escrito para ser épico virou trágico. "Estávamos pressionando quando ele foi expulso. Não acredito que ele provocou o vermelho porque estava cansado. Foi um momento-chave, afinal, os italianos estavam obviamente esperando os pênaltis", afirmou Domenech ao final da partida, preferindo não dar detalhes do que falara com o meia após o jogo. O único a falar sobre isso foi o presidente da federação francesa, Jean-Pierre Escalettes: "Eu o vi nos vestiários. Ele estava afundado."

Corta para o início de sua biografia. Descendente de argelinos, Zinedine Yazid Zidane nasceu em Marselha, no dia 23 de junho de 1972. O garoto do subúrbio, que jogava peladas nas ruas, iniciou a carreira no Cannes, da primeira divisão do Campeonato Francês. Contratado em 1986, se desenvolveu tecnicamente no clube e, dois anos depois, já estreava como profissional, com 16 anos de idade.

Em 1992, se transferiu para o Bordeaux, uma das equipes mais expressivas da França. Com seu bom desempenho no clube, despertou olhares e acabou estreando pelos "Bleus" em 17 de agosto de 1994, num amistoso em que a França empatou com a República Tcheca em 2 a 2. Entrou aos 34 minutos e marcou os dois gols franceses. A partir de então, virou titular absoluto.

Neste mesmo ano, Zidane foi contratado pela Juventus e mudou-se para a Itália. Começa a guinada para o sucesso. Com o clube, Zizou conquistou a Super Copa da Europa (1996), Mundial de Clubes (1996), Campeonato Italiano (1997 e 1998) e a Super Copa da Itália (1997).

Zidane foi campeão da Copa do Mundo de 1998, disputada na França, jogando pela seleção anfitriã. Na partida final, marcou dois gols contra o Brasil. Também defendendo a seleção francesa, Zidane conquistou a Eurocopa em 2000, quando a França derrotou a Itália na final por 2 a 1.

Já no Real Madrid, venceu a Copa da Uefa (2001/2002), Mundial de Clubes (2002), Liga dos Campeões (2002) e Campeonato Espanhol (2002/2003). Apesar dos títulos no clube, o ano foi ruim para Zidane. A França acabou eliminada na primeira fase da Copa.

Devido a uma lesão muscular, o meia jogou só a terceira partida, contra a Dinamarca. Mesmo no sacrifício, foi considerado o melhor em campo na derrota por 2 a 0 que mandou a França mais cedo de volta para casa.

Como reflexo de uma carreira vitoriosa, Zidane foi eleito três vezes o melhor do mundo pela Fifa (1998, 2000 e 2003), se igualando a Ronaldo, seu companheiro no Real Madrid. Também ganhou a Bola de Ouro da revista France Football em 1998.

Tornou-se um dos mais talentosos jogadores de futebol de todos os tempos, além de sucessor natural de Michel Platini, outro grande ídolo francês. Driblador nato, sua fantástica visão de jogo e sua habilidade de passe lhe valeram os adjetivos de "gênio" e "mágico", atribuídos pela mídia esportiva.

Em 2004, foi considerando o melhor jogador europeu dos últimos 50 anos em uma votação da Uefa, superando o alemão Franz Beckenbauer e o holandês Johan Cruyff.

O craque abandonou a seleção francesa após a eliminação na Eurocopa. Porém, vendo a França com dificuldades para se classificar para a Copa de 2006, mudou de idéia e garantiu a vaga na Alemanha.

Em 25 de abril de 2006, anunciou oficialmente sua decisão de encerrar a carreira após a Copa do Mundo da Alemanha. Em 8 de maio, fez sua despedida no Estádio Santigo Bernabéu com um empate em 3 a 3 com o Villareal, marcando um gol de cabeça. O adeus à seleção demorou mais dois meses e aconteceu no domingo, dia 9 de julho.

Mesmo com tanta polêmica em seu dia de despedida, Zidane recebeu um último prêmio: recebeu a Bola de Ouro na eleição da imprensa para o melhor jogador da Copa do Mundo de 2006. Apesar de a Fifa ter insistido na possibilidade de negar o prêmio como punição disciplinar, no fim a cabeçada em Materazzi rendeu apenas uma multa de 6 mil dólares a um dos jogadores mais inesquecíveis da história do futebol.

SELEÇÕES