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Copa 2018

Mais madura, "ótima geração" belga chega à Copa como sensação e sob pressão

Seleção da Bélgica posa para foto antes de jogo contra o Egito - Jimmy Bolcina/Divulgação
Seleção da Bélgica posa para foto antes de jogo contra o Egito Imagem: Jimmy Bolcina/Divulgação

Vanderson Pimentel

Do UOL, em São Paulo

13/06/2018 20h11

A Copa do Mundo de 2018 não é apenas mais uma competição em que a Bélgica chega com a expectativa de ser a sensação do torneio. O Mundial da Rússia também marca os 10 anos em que sua "ótima geração" começou a se formar e hoje está prestes a fechar um ciclo de muito talento, mas que ainda não apresentou o futebol que se espera dela na prática.

Em 2008, a Bélgica chegou à disputa das Olimpíadas de 2008 sem grandes expectativas. Entretanto, o time estrelado por Vincent Kompany, Thomas Vermaelen, Jan Vertonghen, Marouane Fellaini e Mousa Dembélé chegou às semifinais ao bater a favorita nas quartas de final. No fim, a equipe ficou na quarta posição ao perder por 3 a 0 para o Brasil de Thiago Silva e Marcelo, únicos jogadores da geração de bronze que participarão do Mundial na Rússia pela Canarinho.

As constantes trocas de técnico, aliadas ao time mediano e o distanciamento incendiado pelo sentimento de separatismo entre jogadores da Valônia (parte francesa do país, ao sul) e Flandres (parte holandesa, ao norte) impediram que a Bélgica tivesse um time coeso a ponto de se classificar à Copa de 2010 e à Eurocopa de 2012. A sorte começou a mudar depois do torneio continental, quando Marc Wilmots assumiu o comando da seleção.

O ex-meia do Schalke 04 compensou sua falta de experiência como técnico usando sua credibilidade como ídolo da seleção para unir os jogadores que falavam francês com os que só se comunicavam em holandês.

Convocado para a seleção entre 2009 e 2012, o atacante brasileiro Igor de Camargo conta que a rivalidade no país dividia a própria equipe. "Quando cheguei na seleção e fui ao refeitório, me perguntei: 'Onde vou sentar?'. Eu falei para o Steven Defour (meia do Burnley), meu ex-companheiro de Standard Liege, para sentar comigo e ficamos no meio da mesa. Realmente eram conversas em francês de um lado e em holandês do outro. Mas não vejo mais essa rivalidade entre as partes", contou ao UOL Esporte.

Igor de Camargo - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Igor de Camargo foi companheiro de Lukaku na seleção
Imagem: Reprodução/Instagram

A união, junto ao acréscimo dos talentos individuais de Eden Hazard, Kevin De Bruyne, Romelu Lukaku e Thibaut Courtois fez com que a equipe voltasse a disputar uma Copa do Mundo depois de 12 anos, e já tendo os olhos do mundo voltados para si pela formação de jogadores jovens e talentosos.

Sobrou talento, faltou coletivo

Por mais que a eliminação nas quartas de final para a vice-campeã Argentina na Copa do Mundo não fosse algo fora do comum, a campanha na fase de grupos ficou abaixo do esperado, mesmo vencendo Argélia, Rússia e Coreia do Sul. Se fora do campo os jogadores já mostravam entrosamento, dentro dele a Bélgica praticava um futebol previsível sob o comando de Wilmots e que dependia muito das jogadas individuais de seus protagonistas.

A maior queda até aqui da geração foi em 2016. Após perder para a Itália na estreia da Eurocopa, a equipe se recuperou e chegou às quartas de final novamente. Entretanto, a derrota acachapante por 3 a 1 contra a zebra País de Gales fez com que o clima explodisse no vestiário logo após a partida.

"Cometemos os mesmos erros da partida contra a Itália, na fase de grupos. Utilizamos a mesma tática e tivemos os mesmos problemas. Tenho que medir as palavras porque estou bem nervoso e não quero jogar tudo no ventilador", disse Courtois logo depois da eliminação. Segundo o jornal Mundo Deportivo, o goleiro do Chelsea teria trocado agressões com Wilmots.

A federação demitiu o treinador após a queda na Eurocopa, pediu que treinadores enviassem seus currículos para serem avaliados e fechou com Roberto Martínez. Apesar de só ter vencido a terceirona inglesa em 2008, pelo Swansea, e uma Copa da Inglaterra pelo Wigan em 2013, o espanhol possui mais experiência no cargo e chegou ao comando do Diables Rouges após levar o Everton à Liga Europa e desenvolver o futebol de atletas como Lukaku, maior artilheiro da história da seleção belga.

Depois de sofrer uma derrota para a Espanha em amistoso, a Bélgica está invicta desde o início das Eliminatórias para a Copa, em setembro de 2016. Primeira colocada do Grupo H com nove vitórias e um empate, a seleção ganhou quatro amistosos e empatou em outros quatro sob o comando de Martínez. Ofensivo, o técnico armou uma equipe com três zagueiros, e compensou a falta de primeiro volante e lateral esquerdo fazendo De Bruyne distribuir o jogo mais atrás para deixar Hazard e Mertens livres nas construções de jogadas individuais.

Grandes expectativas e mais responsabilidades

O 3-4-3 deu certo e a Bélgica foi a seleção que mais fez gols nas Eliminatórias Europeias. Assim como a Alemanha, os Diables Rouges foram às redes em 43 ocasiões, em apenas 10 jogos. Mas a falta de tradição da Bélgica e o peso no ombro dos jogadores pelo que se espera da equipe é um problema tão grande para Martínez como a forma que a equipe atuará contra Inglaterra, Tunísia e Panamá, pelo Grupo G da Copa de 2018.

"Precisamos aprender a ser um time vencedor. Temos excepcionais talentos, mas só talento não é suficiente para vencer um campeonato", disse Martínez no livro Football 2.0: How The World's Best Play The Modern Game.

Para o próprio técnico, a mentalidade é o ponto fraco da equipe. "Precisamos trabalhar na psicologia e no aspecto mental de ser uma equipe. Precisamos da mentalidade certa para superar os momentos difíceis de um jogo. Quando a França e a Espanha fizeram isso e venceram, houve um efeito colateral onde eles conquistaram mais troféus".

Assim como o treinador espanhol, Igor, que atuou com os grandes astros da equipe, crê que em 2018 a Bélgica terá a chance de fazer a sua "grande Copa". "Isso eu afirmo com a autoridade de quem conhece os jogadores. O futebol é uma caixinha de surpresas, mas eu acho que eles podem chegar em uma final", explicou. "É claro que é uma experiência que falta, é uma camisa que pesa menos e vai enfrentar seleções de tradição que nos momentos de pressão sabem disputar esses torneios e são campeãs do mundo. Acho que esse é o grande desafio para a Bélgica."

Talento sobra, entrosamento está sendo trabalhado há mais de 10 anos inclusive no idioma, mas o peso de uma seleção que nunca conquistou grandes títulos e o excesso de responsabilidade de cada jogador carrega pode dificultar o desempenho da "ótima geração" da Bélgica na Rússia.

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