Tânia Maranhão teme que a CBF tire o incentivo ao futebol feminino
Pouca gente no território brasileiro possui o conhecimento que ela tem do que acontece dentro e fora de um campo de futebol. Ela disputou quatro Olimpíadas, dois Mundiais, defendeu a seleção por 23 anos. E hoje, aos 46 anos, ainda atua profissionalmente, defendendo o Lusaca Nacional, de Camaçari, equipe que disputa o Campeonato Baiano. Seu nome é Tânia Maranhão e a zagueira sofreu como ninguém com a eliminação de Marta e companhia na disputa de pênaltis contra as canadenses nas quartas de final dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
"Já é de noite, já se passaram várias horas desde a disputa do jogo e eu ainda não me conformei, não acreditei no que aconteceu", comentava inconformada a jogadora que foi capitã da seleção brasileira em vários torneios internacionais. "Desta vez, eu tinha certeza de que o sonho da medalha de ouro seria realizado".
Por defender a seleção nacional desde os tempos em que jogava no Radar, Tânia Maranhão sempre sofreu com o pesadelo coletivo que se abate sobre o futebol feminino em nosso país: "Comecei na seleção aos 15 anos e o comentário era sempre o mesmo: se o Brasil não for bem na competição, pode ser que os clubes terminem com os times e os campeonatos acabem".
Um verdadeiro martírio, em que só o título olímpico ou o mundial poderiam por fim.
"Tenho todas as medalhas dos Pan-Americanos que participei: todas de ouro, com exceção de uma prata no México, quando perdemos pro Canadá. No Mundial, tenho uma prata e um bronze. E na Olimpíada, duas pratas. Joguei quatro Olimpíadas e só não fiz a quinta porque já estava com 41 anos e não aceitei o convite do técnico Vadão."
Para Tânia e suas companheiras da época da seleção falta o ouro consagrador. Aquele resultado que não deixará nunca mais a CBF pensar em recuar no apoio ao futebol das mulheres.
"Por isso, quando acordei hoje cedo, foi como se eu fosse jogar também. Quando a Debinha perdeu aquele gol, eu chutei junto. Tentei evitar aquela bola canadense que bateu na trave. Não me controlo!"
Tânia Maranhão, a líder de sua época, ainda entra mentalmente no campo. Ainda pensa como se estivesse em Tóquio suando a camisa com Marta e Formiga.
"Sabe que aquela vitória na estreia contra a China, aqueles 5 a 0 me animaram, e ao mesmo tempo me preocuparam. Se eu estivesse no grupo, eu diria a elas para não se iludirem. Na Olimpíada, é jogo a jogo. Eu diria: não esperem que vai ser fácil. Nunca achem que haverá jogo fácil. Foco!"
Ela sabia que cada jogo era uma decisão de campeonato.
"A caminhada até o ouro é difícil. Mas quando a Bárbara pegou o pênalti contra as canadenses, eu pensei: agora vai. Mas fomos desclassificadas, a decepção é grande. Sinto como se eu estivesse junto com as meninas."
E agora as dúvidas rondam a cabeça de Tânia.
"Não se pode dizer mais, como na minha época, que não houve apoio dos dirigentes. Que não houve tempo para treino. O trabalho da Pia Sundhage também é bom, embora eu só ache que numa partida como a de hoje, uma jogadora como a Cristiane poderia decidir a nosso favor. Eu teria levado a nossa artilheira. Mas não é hora de meter o pau. Se eu estou assim triste, imagine o que as meninas que estão lá em Tóquio estão sentindo."
"E eu agora, além de triste, só tenho medo que a CBF pare com os investimentos, com o apoio, com o trabalho de base que está sendo muito bem feito. Será que eles vão parar?"
Se a CBF vai parar é difícil responder, mas uma coisa é certa: Tânia Maranhão, 46 anos, não vai sair de cena tão cedo.
"Vou agora disputar o campeonato baiano. Depois volto para Manaus para jogar pelo Iranduba ou por outra equipe amazonense. Depois..."
Depois ela tem uma proposta para jogar mais uma temporada e iniciar um grande projeto de futebol feminino em Juiz de Fora.
O segredo da juventude?
"Eu sou apaixonada por futebol."
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